RELAÇÃO ENTRE METIONINA + CISTINA DIGESTÍVEIS E LISINA DIGESTÍVEL EM DIETA PARA CODORNAS JAPONESAS NA FASE PRÉINICIAL Heder José D’Avila Lima1, Sergio Luiz de Toledo Barreto2, Débora Lacerda Ribeiro Henriques3, Renato Ferraz3 1 Estudante de Doutorado em Zootecnia – DZO/UFV – Viçosa – MG - Brasil. email: [email protected] 2 Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia – DZO/UFV – Viçosa - MG. 3 Estudante de graduação em Zootecnia – UFV Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO O experimento foi conduzido para avaliar a relação metionina + cistina digestíveis (M+C): lisina digestível na dieta de codornas japonesas na primeira semana de vida. Foram utilizadas 1.000 codornas japonesas fêmeas com 1 dia de idade, peso de 7,59 + 0,15 g. As aves foram distribuídas em delineamento inteiramente ao acaso constituído por 5 dietas (relações metionina + cistina digestíveis : lisina digestível), com 10 repetições e 20 aves por unidade experimental. Para elaboração das rações experimentais foi formulada uma ração basal deficiente em metionina+cistina digestíveis. Esta ração basal foi suplementada com 5 níveis de DL- metionina (99 %), em substituição ao ácido glutâmico constituindo as 5 dietas experimentais que continham as seguintes relações metionina+cistina: lisina digestíveis: 0,54 (conteúdo da dieta basal, nível zero); 0,60; 0,66; 0,72 e de 0,78. Foram avaliados o consumo de ração (CR), a conversão alimentar (CA), o peso final (PF), o ganho de peso (GP) e a viabilidade (VIAB) das aves. Houve efeito das relações metionina + cistina digestível: lisina digestível sobre CR, CA, PF e GP. A VIAB não foi influenciada. A relação metionina + cistina : lisina digestível estimada em 0,75 (0,787 % de M+C / 1,05 % de lisina) proporcionou maior crescimento, desenvolvimento e melhor conversão alimentar das codornas japonesas na primeira semana de vida, suprindo também as outras relação aminoacídicas estimadas. PALAVRAS–CHAVE: aminoácidos sulfurosos, Coturnix coturnix japonica, desempenho, proteína ideal RELATIONS OF METHIONINE PLUS CYSTINE TO DIGESTIBLE LYSINE IN DIETS OF NEWLY HATCHED JAPANESE QUAILS ABSTRACT The experiment was conducted to evaluate relations of methionine plus cystine to digestible lysine in diets of Japanese quails in the first week of life. Were used 1000 Japanese quail females with 1 day old, weighing 7.59 + 0.15 g. The birds were distributed in a completely randomized design consisting of 5 diets (digestible methionine + cystine: digestible lysine), with 10 replicates and 20 birds per experimental unit. The birds received a basal diet deficient in methionine plus cystine, made from corn and soybean meal. This basal diet was supplemented with 5 levels of DL-methionine (99%), replacing glutamic acid in protein ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 926 equivalents corresponding to the methionine + cystine: lysine, 0.54 (content of the basal diet, level zero); of 0.60, 0.66, 0.72 and 0.78. Evaluated the feed intake (CR), feed conversion (CA), the final weight (PF), weight gain (GP) and viability (VIAB) of birds. There was a relations of methionine plus cystine: digestible lysine on CR, CA, PF and GP. The viability was not affected. The methionine plus cystine: digestible lysine ratio of around 0.75 (0.787% M + C / 1.05% lysine) showed higher growth, development and better feed conversion of Japanese quail during the first week of life, also supplying the estimated for other relations amino acids. KEYWORDS: Coturnix coturnix japonica, ideal protein, productive performance, sulfur amino acids INTRODUÇÃO O crescimento da criação de codornas, especialmente para a produção de ovos, tem sido uma constante contemporânea no Brasil. Com o aumento do número de aves alojadas e, por conseguinte da produção de ovos, o Brasil passou a ocupar o 2º lugar como maior produtor mundial de ovos de codorna, atrás apenas da China (Silva, 2009). Mesmo com a produção crescente, há pouca informação sobre a nutrição de codornas japonesas. Para viabilizar a exploração racional é necessária a realização de pesquisas, com vistas à implementação de corretos programas de alimentação, especialmente na fase inicial de criação das codornas, onde o volume de pesquisas é ainda menor, comparativamente à fase de produção. Com a disponibilidade de aminoácidos sintéticos no mercado, uma das alternativas para a redução dos custos e otimização das dietas seria a incorporação destes às rações. Alterações metabólicas, anatômicas e fisiológicas, anteriores à eclosão e na primeira semana de vida podem influenciar no padrão de exigências nutricionais da ave. Essas diferenças já foram referenciadas como bastante significativas na primeira semana de vida dos pintinhos, justificando o fornecimento de um padrão alimentar específico para essa fase. As codornas japonesas, utilizadas para postura, apresentam, ao nascer, peso entre 7,0 a 9,0 g, dobram os seus pesos em apenas quatro dias, triplicam-no aos oito e duplicam-no aos 28 (Murakami & Ariki, 1998). A lisina é considerada aminoácido referência no estabelecimento das exigências de proteína e de outros aminoácidos, quando se utiliza o conceito de proteína ideal na formulação das rações. Dentre os aminoácidos da ração, a metionina e a cistina são considerados fisiologicamente essenciais para mantença, crescimento das aves e para o desenvolvimento das penas, o que denota sua importância na primeira semana de vida das codornas. Neste sentido, objetivou-se com a presente pesquisa avaliar a relação entre metionina + cistina digestível e lisina digestível para codornas japonesas na fase pré-inicial. METODOLOGIA O experimento foi conduzido no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (DZO/UFV), tendo duração de 7 dias. Foram utilizadas 1.000 codornas fêmeas da sub-espécie japonesa com 1 dia de idade, peso de 7,59 + 0,15 g. As aves foram distribuídas em delineamento inteiramente ao acaso constituído por 5 tratamentos (relações metionina + cistina digestíveis : lisina digestível), com 10 repetições e 20 aves por unidade experimental. As aves foram submetidas a uma ração basal, deficiente em metionina + cistina, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 927 formulada a base de milho e farelo de soja, contendo 20,52% de proteína bruta, 2900 kcal de EM/kg, 1,05% de lisina digestível e 0,567% de metionina + cistina digestível (M+C), correspondendo a uma relação de metionina + cisitina: lisina de 0,54 (Tabela 1). TABELA 1 - Composição percentual, química e valor nutricional da ração basal, na matéria natural, para codornas japonesas na fase de recria Ingredientes Porcentagens Milho Moído 63,25 Farelo de Soja (45%) 32,60 Calcário 1,18 Fosfato Bicálcico 1,07 Sal Comum 0,35 1 Mistura Mineral 0,05 2 Mistura Vitaminica 0,10 Cloreto de Colina (60%) 0,04 Antioxidante3 0,01 4 Coccidiostático 0,05 L- Lisina 0,11 DL- Metionina 0,0 L- Treonina 0,18 L- Isoleucina 0,01 L-Glutâmico 0,50 Amido 0,50 Total 100,00 Composição Calculada Energia Metabolizável (kcal/kg) 2.900 Proteína Bruta (%) 20,52 Cálcio (%) 0,80 Fósforo disponível (%) 0,30 Sódio (%) 0,15 Fibra bruta (%) 2,85 Aminoácidos digestíveis (%) Lisina 1,050 Metionina +Cistina 0,567 Triptofano 0,209 Treonina 0,855 Arginina 1,039 Isoleucina 0,823 Valina 0,798 1 Composição/kg de produto: Manganês: 160g, Ferro: 100g, Zinco: 100g, Cobre: 20g, Cobalto: 2g, Iodo: 2g, Excipiente q.s.p.: 1000 g. 2 Composição/kg de produto: Vit. A:12.000.000 U.I., Vit D3:3.600.000 U.I., Vit. E: 3.500 U.I., Vit B1 :2.500 mg, Vit B2: 8.000 mg, Vit B6:5.000 mg, Ácido pantotênico: 12.000 mg, Biotina: 200 mg, Vit. K: 3.000 mg, Ácido fólico: 1.500mg, Ácido nicotínico: 40.000 mg, Vit. B12: 20.000mg, Selênio: 150 mg, Veículo q.s.p.: 1.000g. 3 Butil-hidróxi-tolueno. 4 Coxistac 12% ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 928 Esta ração basal foi suplementada com 5 níveis de DL- metionina (99%), em substituição ao ácido glutâmico em equivalente protéico correspondente à relação metionina + cistina: lisina de 0,54 (conteúdo da dieta basal, 0,567% de metionina mais cistina digestíveis, nível zero de suplementação de DL-metionina); relação de 0,60 (0,630% de metionina + cistina digestíveis, 0,06% de DL-metionina); de 0,66 (0,693% de metionina + cistina digestíveis, 0,12% de DL-metionina); de 0,72 (0,756% de metionina + cistina digestíveis, 0,18% de DL-metionina) e de 0,78 (0,819% de metionina + cistina digestíveis, 0,24% de DL-metionina), de modo que as dietas permaneceram isoprotéicas, isocalóricas e isonitrogênicas. As aves receberam ração e água à vontade. Foram mantidas as relações aminoacídicas com a lisina, propostas pelo NRC (1994), exceto para metionina + cistina digestíveis: lisina digestível as quais variaram em função da relação proposta por Pinto et al. (2003). Os valores nutricionais dos ingredientes utilizados para a formulação da dieta estão apresentados em Rostagno et al. (2011). Foram avaliados o consumo de ração (CR), a conversão alimentar (CA), o peso final (PF), o ganho de peso (GP) e a viabilidade (VIAB) das aves. Os efeitos dos tratamentos foram estimados por meio de análise das variáveis pelos modelos de regressão linear e quadrática, conforme o melhor ajustamento obtido para cada variável. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve aumento (P<0,01) do consumo de ração até a relação entre metionina + cistina digestíveis e lisina digestível de 0,72 (Tabela 2), conforme demonstrado na equação: CR - Ŷ = 12,4180 + 47,6762X – 32,9365X2 ; R2 = 0,99. Segundo Silva (2009) as codornas japonesas consomem cerca de 1,76 g de ração no primeiro dia de vida e, logo, atingem 6,6 g aos sete dias. Codornas alimentadas com níveis adequados de metionina + cistina e melhor relação destes com a lisina, apresentaram maior desenvolvimento corporal e desta forma um maior consumo de ração acumulado. A viabilidade das aves não foi influenciada (P>0,05) pelas relações entre metionina + cistina digestíveis e lisina digestível. Dietas inadequadas com as características genéticas, de crescimento e precocidade das codornas, poderiam piorar a viabilidade das aves, proporcionando menos aves aptas à fase de produção. Foi constatado efeito (P<0,01) sobre a conversão alimentar, o peso final e o ganho de peso até as relações de 0,75; 0,74 e 0,74 entre metionina + cistina digestíveis e lisina digestível, respectivamente, em conformidade com as equações: CA - Ŷ= 6,28400 – 11,6643X + 7,73810X2; R2 = 0,95; PF - Ŷ: 56,2140 + 219,233X – 147,222 X2 R2 =0,99; GP - Ŷ= 65,7580 + 222,276X - 149,603X2 ;R2= 0,99. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 929 TABELA 2 – Consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA), peso final (PF), ganho de peso (GP) e viabilidade (VIAB) de codornas japonesas em função das relações M+C : lisina digestível na ração. Relações Metionina + Cistina digestível : lisina digestível Parâmetros CV (%) 0,54 0,60 0,66 0,72 0,78 CR1 (g) 3,72 4,35 4,66 4,87 4,72 6,7 1 CA (g/g) 2,26 2,04 1,94 1,95 1,87 7,5 PF1 (g) 19,17 22,46 24,42 25,12 25,32 4,0 GP1 (g) 11,56 14,91 16,82 17,51 17,71 5,7 ns VIAB (%) 98,50 98,02 98,50 98,00 98,50 2,7 1 Efeito Quadrático (P<0,01); ns Efeito não significativo (P>0,05). Oliveira (2007) avaliando plantéis de 262.500 codornas verificou 22,1 g de peso médio das aves aos 7 dias de idade. Na presente pesquisa, à exceção de 0,54, as demais relações entre metionina + cistina digestível e lisina digestível proporcionaram peso aos 7 dias (PF) superior ao encontrado por Oliveira (2007). Ainda que para o consumo de ração tenha sido estimada a relação de 0,72 e 0,74 para peso final e ganho de peso; considerando também a exigência mais elevada de proteína na fase inicial de vida das aves, o nível de 0,787% de metionina + cistina, relação com a lisina de 0,75; foi mais eficiente para conversão alimentar. De acordo com Corzo (2005), de todos os aminoácidos, a cistina é a que mais contribui para a síntese de queratina e para a manutenção das penas, enquanto que as propriedades da metionina, como a de principal doadora de grupos metil, a torna essencial para o crescimento. Silva (2009) recomenda uma relação entre metionina + cistina digestível e lisina digestível de 0,67 para o período de 1 a 21 dias de idade das codornas, já Rostagno et al. (2011) recomenda uma relação de 0,68 para a fase total de cria e recria. Entretanto, não se encontra na literatura estudos exclusivos à primeira semana de vida destas aves. Para uma dieta pré-inicial a relação entre metionina + cistina digestíveis e lisina digestível de 0,75; correspondente ao nível de 0,787 % de metionina + cistina na ração e 1,05 % de lisina possibilitou melhor conversão alimentar, suprindo também as outras relação aminoacídicas estimadas. A utilização de aminoácidos sintéticos e do conceito de proteína ideal na ração de codornas japonesas na fase de recria, pode possibilitar a diminuição do teor de proteína bruta da dieta, como neste estudo, e possivelmente, a conseqüente redução da excreção de nitrogênio e menor impacto negativo de poluição ambiental. CONCLUSÕES A relação entre metionina + cistina digestíveis e lisina digestível de 0,75 (0,787 % de metionina + cistina / 1,05 % de lisina) proporciona maior crescimento, desenvolvimento e melhor conversão alimentar da codorna japonesa na primeira semana de vida, possivelmente possibilitando às aves melhores condições corporais para a maturidade sexual e produção de ovos. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 930 AGRADECIMENTOS À Granja Fujikura de Suzano – SP e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG - pelo apoio na condução desta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORZO, A.; KIDD, M.T.; THAXTON, J.P. et al. Dietary tryptophan effects on growth and stress responses of male broiler chicks. British Poultry Science, v.46, p.478-484, 2005. MURAKAMI, A.E., ARIKI, J. Produção de Codornas Japonesas. Jaboticabal. FUNEP. 1998. 79p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL- NRC. Nutrient requirements of poultry. National Academy Press, Washington, D. C., p. 44-45, 1994. OLIVEIRA, B. L. Manejo em granjas automatizadas de codornas de postura comercial. In: III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COTURNICULTURA, 2007. Lavras, Anais... Lavras, Minas Gerais: Núcleo de Estudos em Ciência e Tecnologia Avícolas, 2007. p.11-16. PINTO, R.; FERREIRA, A.S.; DONZELE, J.L. et al. 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