O TRABALHO, PERCEPÇÕES A PARTIR DA PRÉ-HISTORIA E DA ANTIGUIDADE ALESSANDRA GOMES PORTO MAGALHÃES EMEFEJA ADMARDO SERAFIM DE OLIVEIRA O Ensino da Arte tem passado por muitas modificações ao longo dos anos. No Brasil, uma das ideias que permeiam as aulas de artes é a Abordagem Triangular, antes conhecida como Metodologia Triangular, proposta por Ana Mae Barbosa e utilizada por muitos de nós arte-educadores. Desde meados dos anos 1990 defendia que a metodologia de Ensino da Arte deve ser proposta pelo profissional da Arte/Educação. Por isso acredita que o termo “metodologia triangular” não é mais apropriado, pois induz à compreensão de que esta é a única maneira de se ensinar arte. Para a autora, a Abordagem Triangular não pode ser tratada de forma dogmática. Defende que o Ensino da Arte pode ser desenvolvido com diferentes abordagens, mas que partam da leitura de obras e do campo de sentido da arte, leituras do meio ambiente, leituras de outros meios de comunicação. (SCHUTZ-FOERTE, 2010, P.111-112) Construir conhecimentos a partir das diferentes abordagens é propor sentido ao aprendizado. Diversificar é entender o ensino da arte, como versátil e aberto à adequações de acordo com os sujeitos inseridos no contexto ao qual estaremos construindo conhecimentos. Neste trabalho abordarei algumas práticas produzidas nas aulas com turmas de Educação de Jovens e Adultos de segundo segmento, que se encontram em diferentes espaços. No cenário ao qual refiro-me temos o NEJA (Núcleo de Ensino para Jovens e Adultos – UFES), Escola de Governo e SEMMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente). As duas últimas são compostas por alunos servidores, em sua maioria. Já a turma da UFES abarca estudantes munícipes e alguns trabalhadores da Universidade. Temos em média 20 alunos por turma, com variação nos níveis inicial, intermediário e conclusivo. As aulas acontecem com atuação dos professores em dupla, conforme proposta da modalidade no município. Atualmente, arte está em parceria com geografia, sendo que cada turma tem 1 aula com a atuação dessa dupla por semana, com duração de 2 horas/aula. Para realização do trabalho relatado, foram necessárias, aproximadamente 4 aulas, ou seja, 4 semanas. A proposta do projeto é conectar as áreas de conhecimento e construir conhecimentos que possam trazer significados aos alunos, deixando assim, explícito para o aluno, que o conhecimento não pode ser fragmentado, mas faz parte de um todo em nosso dia a dia. Nesse sentido, utilizamos a Abordagem Triangular como base para o desenvolvimento desse projeto. Sendo assim estaremos abarcando os três pilares: contemplação, a contextualização histórica e social e o fazer artístico no decorrer de nossa prática. Na primeira semana, iniciamos as aulas conforme definido pelo grupo de professores, pedagoga e coordenadores no planejamento, com o tema TRABALHO, já que a maioria dos alunos são trabalhadores . Decidimos partir da música “Guerreiro Menino” de Gonzaguinha, cantada por Fagner. [...] Guerreiros são pessoas São fortes, são frágeis Guerreiros são meninos No fundo do peito Precisam de um descanso, [...] Disponível em <http://letras.terra.com.br/fagner/203645/> Acesso em 22 de abr. 2011. Apreciamos a música, cantamos e levamos a letra para discussão coletiva. A obra trata de questões gerais relacionadas à importância do emprego na vida de um indivíduo, assim como os problemas ocasionados pela falta do mesmo. Tivemos, ainda, elementos para trabalharmos questões de gêneros a partir do verso “Um homem também chora”, o que gerou relatos e posturas bastante interessantes em sala de aula. Fizemos a leitura, o debate e o levantamento de questões a partir de interpretações sobre a letra da música. “[...] Ao identificar-se com o objeto artístico, ao passar a viver outra realidade, ao transitar para um novo plano enunciativo, o sujeito descarrega o peso da realidade cotidiana. [...]” (FIORIN, 2008, p.41). Cada aluno expressou-se de forma singular, apresentando sua interpretação repleta de elementos de suas vivências, partilhados com as turmas. Após as narrativas orais, identificamos o significado de várias palavras nos versos e as diferentes utilizações na linguagem poética. Posteriormente, estudamos o texto “A era da incerteza – Caderno de EJA/Globalização e Trabalho”1, com professor de geografia Sandro José Panciere. O texto aborda aspectos da globalização e o mercado de trabalho mundial após o desenvolvimento tecnológico nos meios de comunicação e transportes e a crescente interligação dos países; a correlação entre o excedente de mão-de-obra e os salários baixos, tomando por base a economia chinesa e sua crescente influência no mercado mundial; os preços baixos dos produtos chineses, o contrabando, a pirataria, as atividades informais, a baixa qualidade de alguns produtos importados e da expansão das multinacionais. Trabalhamos com os alunos alguns exercícios com abordagens em diversas áreas do conhecimento (leitura e interpretação, questões objetivas, produção de texto a partir de obras de artes, análise de conhecimentos gerais de geografia, e cálculos matemáticos envolvendo números e percentuais citados no texto). Levantamos o debate sobre a diferença entre trabalho, emprego e renda. Apresentamos uma linha do tempo, comumente usada nos livros de história geral, em que aparece a divisão da história em períodos demarcados por grandes eventos históricos e, a partir dessa linha do tempo, iniciamos uma reflexão a cerca de como era o trabalho desde a pré- história, passando pela Antiguidade, Idade Média, Moderna e Contemporânea. Observamos, através de imagens no datashow, obras de arte que retratam o trabalho e o trabalhador em diversas fases. Destacamos que, durante a Pré-História, o trabalho era voltado para a subsistência humana. Através das pinturas rupestres, observamos cenas de caça e outros eventos trabalhistas desse período, bem como os prováveis motivos, meios e materiais usados para produzir aquela arte. Propomos aos alunos que utilizando os aspectos abordados e muita criatividade improvisassem um jogo teatral, assim alguns alunos representaram de forma bem descontraída o trabalho do homem e da mulher, a divisão das tarefas, da caça, da coleta de frutos, da proteção contra os animais e do cuidado com as crianças. Valorizar o repertório pessoal de imagens, gestos, “falas”, sons, personagens, instigar para que os aprendizes persigam idéias, respeitar o ritmo de cada um no despertar de suas imagens internas são aspectos que não podem ser 1 Disponível em <http://eja.sb2.construnet.com.br/cadernosdeeja/globalizacaoetrabalho/gt_txt10.php?acao3_cod0=3c55e7 0d2d4affe357e2fa3008ba6523> Acesso em 19 de abr. 2011. esquecidos pelo ensinante de arte. Essas atitudes poderão abrir espaço para o imaginário. (MARTINS, PICOSQUE E GUERRA,1998, P.118) Os alunos mostraram suas interpretações trazendo fatos que aprenderam sobre o assunto, mesclando com suas experiências no cotidiano. Percebemos que o grupo abordou o tema, de formas diferentes, acrescentando suas vivências. Acreditamos que o trabalho em grupo é uma das formas de valorizar e respeitar a opinião do outro. Sobre a Antiguidade, época em que predominava o trabalho escravo, evidenciamos a partir de um documentário, o trabalho exercido na construção das pirâmides do Egito, que utilizou intensa mão-de-obra escrava no transporte de blocos de rochas e no assentamento das mesmas. Apresentamos um vídeo que, em suas cenas, mostra todas as bases da engenharia moderna com instrumentos técnicos de nivelamento, prumo, esquadro, orientação e corte de rochas. Pudemos analisar com os alunos todo o contexto em que a arte foi aplicada na época através das crenças dos Faraós em se perpetuar com o processo de mumificação e das pinturas. Observamos as condições geográficas da região em que foram construídas as pirâmides de Gizé, no Egito, através de imagens, observadas a partir da internet. A partir do vídeo assistido, levantamos os objetos que, provavelmente, foram usados na construção das pirâmides: esquadro, prumo, nível e outros que são usados até os dias atuais de forma mais aprimorada. Falamos sobre os conhecimentos que cada um já tinha sobre os instrumentos e depois abordamos a questão dos ângulos de inclinação das pirâmides, das formas geométricas da base e das faces e das diferenças entre figuras planas geométricas e sólidos geométricos. Através de alguns instrumentos de desenho: compasso, transferidor, esquadros e réguas, os alunos puderam desenhar a partir de uma base quadrada, triângulos com os quais fizemos uma dobradura de pirâmide. Após a realização da mesma, eles colaram nas faces das pirâmides, figuras pesquisadas em revistas, que retratam trabalhadores e cenas de trabalho. Ainda pudemos observar e conhecer as características principais da pintura egípcia, bem como os ornamentos usados em diversos objetos da época. Ficou evidenciado o grande interesse dos alunos em manusear instrumentos de desenhos, que muitos deles não conheciam, nem sabiam como usá-los. Bem como conhecer de forma mais detalhada a arte produzida por povos que se expressavam, sem sequer saber que hoje aquelas produções seriam vistas como expressões artísticas. Não dispomos de conclusões finais, já que ainda estamos desenvolvendo o projeto, mas percebemos que os estudantes mostram-se muito interessados pelos assuntos e felizes quando têm oportunidade de se expressarem de formas diversas, por meio de jogo teatral, textos, narrativas orais, entre outros. Assim percebemos que as aulas de artes são, “[...] essenciais para a formação de cidadãos contemporâneos, críticos e reflexivos. O ensino da Arte propicia meios de compreender a história da humanidade e estabelecer relações, através dos meios de explorar, construir, interpretar, simbolizar, entre outros.” (VAGO-SOARES, Maria Angélica. Encontros e diálogos com produções artísticas no município de Serra: potencializar o ensino da arte na infância. Disponível em < http://www.gpime.pro.br/grupeci/adm/impressos/trabalhos/tr50.pdf> Acesso em 22 de abr. 2011). Nesse sentido entendemos que um trabalho produzido com diferentes abordagens e técnicas, podem trazer maior significado para os alunos. Eles têm oportunidade de significar os conhecimentos construídos a partir das relações com todo o processo de aprendizagem. Lembramos, ainda, que todos os professores das demais disciplinas, atuam em suas áreas, abordando o mesmo tema: o trabalho. Posteriormente, daremos continuidades às discussões e aprendizados à respeito das representações artísticas que mostram o trabalho na Idade Média, Moderna e Contemporânea. Na ocasião buscaremos mostrar dados geográficos, históricos e artísticos, buscando explorar os assuntos de maneira a também contemplar os três vértices da Abordagem Triangular, a saber: a contemplação, a contextualização histórica e social e o fazer artístico. Referências Bibliográficas FIORIN, José Luiz. Em busca do sentido: estudos discursivos. São Paulo: Contexto, 2008. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. SCHÜTZ-FOERSTE, Gerda Margit. Imagem no Ensino da Arte em novas/ou velhas perguntas. In: BARBOSA, A. M.; CUNHA, F. P.(Orgs). Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010. Currículo Suscinto: Graduada em Educação Artística pela UFES em 2003. Pós-graduada em EJA pelo Instituto Superior de Educação e Cultura “Ulysses Boyd” em 2011. Arte-educadora na PMV desde 2006, em turmas de séries iniciais e turmas de EJA.