O conto literário europeu tem origem hindu;
as primeiras colectâneas de contos que se
conhecem são Pantschatantra (Os cinco livros)
e Hitopadexa (A instrução útil), situadas
provavelmente no séc. VI a. C. e escritas em
sânscrito.
Provindo destas duas colectâneas, surgem,
mais tarde três outros títulos: Calila e Dimna,
Sandebar, Barlaam e Josafat – os contos são
maravilhosos e animais e homens convivem em
perfeita harmonia.
1
As mil e uma Noites - colectânea
árabe de contos orientais de origem
diversa (séc. VIII) foi divulgada na Europa
somente no século XVIII.
2
Le Piacevoli Notti (1554), de
Straparolla, e Lo Cunto degli Cunti
(1634), de Giambattista Basile, são
colectâneas de contos maravilhosos
destinados
a
um
público
adulto,
recheados com uma boa dose de
insolente ironia e cenas pouco edificantes.
3
• 1455 – Gutemberg imprime e publica a Bíblia das 42
linhas.
• 1658 – Comenius publica, em Nuremberga, Orbis
Sensualium Pictus.
• 1744 – São publicados em Inglaterra os primeiros chapbooks.
• 1745 – John Newbury cria a primeira livraria/editora de
livros para crianças.
• 1751 – John Newbury publica o primeiro jornal para
crianças, The Liliputian Magazine.
• 1762 – J.J. Rousseau publica Émile.
• 1850 – Nos E.U.A. passa a ser gratuito o ensino básico.
• 1953 – É criado na Suíça The International Board on
Books for Young People (IBBY).
4
No século XIX assiste-se à consolidação da
sociedade burguesa e descobre-se a criança. O
idealismo romântico criou o mito da infância e
da adolescência (a pureza corrompida pelo
mundo adulto).
É o século de ouro da narrativa com um
visível aumento de autores. Com a estética
romântica vamos ter a fusão do culto com o
popular (o mergulhar nas raízes, na procura de
uma identidade).
É neste século que são publicados os
grandes romances infanto-juvenis que se
tornaram clássicos.
5
1697 – Perrault, Contos da minha mãe gansa
1699 – Fénelon, Aventuras de Telémaco
1719 – De Foe, Robinson Crusoé
1726 – Swift, As Viagens de Gulliver
1757 – Mme. Le Prince de Beaumont, A loja das
crianças
1820 – Grimm, Contos para as crianças e para o lar
1835 – Andersen, Contos
1851 – Stowe, A cabana do Pai Tomás
1857 – Condessa de Ségur, Novos contos de fadas
1862 – Júlio Verne, Cinco semanas em balão
1864 – Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas
1876 – Mark Twain, Tom Sawyer
6
1881 – Spyri, Heidi
1882 – Stevenson, A Ilha do Tesouro
1883 – Collodi, Pinóquio
1886 – De Amicis, Coração
1888 – Oscar Wilde, O Príncipe Feliz
1894 – R. Kipling, O Livro da Selva
1907 – Selma Lagerlöf, A maravilhosa viagem de N.
Hölgersson
1933 – Jean de Brunhoff, Babar
1946 – A. De Saint-Exupéry, O Principezinho
7
Hans Christian Andersen Award for Writing 2008 - 1956
2008 Jürg Schubiger (Switzland)
2006 Margaret Mahy (New Zealand)
2004 Martin Waddell (Ireland)
2002 Aidan Chambers (UK)
2000 Ana Maria Machado (Brazil)
1998 Katherine Paterson (USA)
1996 Uri Orlev (Israel)
1994 Michio Mado (Japan)
1992 Virginia Hamilton (USA)
1990 Tormod Haugen (Norway)
1988 Annie M. G. Schmidt (Netherlands)
1986 Patricia Wrightson (Australia)
1984 Christine Nöstlinger (Austria)
1982 Lygia Bojunga Nunes (Brazil)
1980 Bohumil Riha (Czechoslovakia)
1978 Paula Fox (USA)
1976 Cecil Bødker (Denmark)
1974 Maria Gripe (Sweden)
1972 Scott O'Dell (USA)
1970 Gianni Rodari (Italy)
1968 James Krüss (Germany)
José Maria Sanchez-Silva (Spain)
1966 Tove Jansson (Finland)
1964 René Guillot (France)
1962 Meindert DeJong (USA)
1960 Erich Kästner (Germany)
1958 Astrid Lindgren (Sweden)
1956 Eleanor Farjeon (UK)
8
Hans Christian Andersen Award for Illustration 2008 - 1966
2008 Roberto Innocenti (Italy)
2006 Wolf Erlbruch (Germany)
2004 Max Velthuijs (The Netherlands)
2002 Quentin Blake (UK)
2000 Anthony Browne (UK)
1998 Tomi Ungerer (France)
1996 Klaus Ensikat (Germany)
1994 Jörg Müller (Switzerland)
1992 Kveta Pacovská (Czech Republic)
1990 Lisbeth Zwerger (Austria)
1988 Dusan Kállay (Czechoslovakia)
1986 Robert Ingpen (Australia)
1984 Mitsumasa Anno (Japan)
1982 Zbigniew Rychlicki (Poland)
1980 Suekichi Akaba (Japan)
1978 Svend Otto S. (Denmark)
1976 Tatjana Mawrina (USSR)
1974 Farshid Mesghali (Iran)
1972 Ib Spang Olsen (Denmark)
1970 Maurice Sendak (USA)
1968 Jirí Trnka (Czechoslovakia)
1966 Alois Carigiet (Switzerland)
9
Enquanto Laura B. Pires recua no tempo,
remetendo para os romances de cavalaria Amadis de Gaula (1508), a Crónica do
Imperador Clarimundo (1522) ou a Crónica do
Palmeirim de Inglaterra (1544) que teriam
conquistado as crianças, lado a lado com
cartilhas, abecedários, bestiários e fabulários,
Natércia Rocha admite somente o caso
particular de Contos e Histórias de Proveito e
Exemplo (1575) de Gonçalo Fernandes
Trancoso.
10
A sólida presença da Contra-Reforma
e da Inquisição na sociedade portuguesa
foi responsável pela ausência de
quaisquer textos escritos para crianças;
encontram-se traduções perfeitamente
assépticas, particularmente de fábulas,
tendo em conta o seu pendor moralista.
11
O Romanceiro e Lendas e Narrativas
com textos da tradição oral marcam o
início do século XIX. O aumento do
número de leitores e os níveis de
educação de uma certa camada da
população explicam a natural adesão a
estes contos.
12
A geração de 70 manifesta de forma
muito clara as suas preocupações
pedagógicas; o testemunho de Eça de
Queirós presente em Cartas de Inglaterra
é elucidativo.
13
14
Guerra Junqueiro (Tragédia Infantil e Contos
para a Infância), Maria Amália Vaz de Carvalho
e Gonçalves Crespo (Contos para os nossos
filhos), Gomes Leal (História de Jesus), Antero
de Quental (Tesouro Poético para a Infância),
João de Deus (Campo de Flores) e Adolfo
Coelho (Jogos e Rimas Infantis), assim como
Ana de Castro Osório e Virgínia de Castro e
Almeida, com numerosos livros e colecções, vão
ter um papel decisivo na transição do século.
15
A recolha de contos tradicionais feita por
Adolfo Coelho (Contos populares portugueses)
e Teófilo Braga (Contos tradicionais do Povo
Português) constitui um marco fundamental na
valorização desta parcela do património literário
oral. A colectânea Jogos e Rimas Infantis, de
Adolfo Coelho, preserva o texto poético
tradicional, de cariz popular, dirigido às
crianças.
16
A implantação da República permitiu a
entrada das novas correntes pedagógicas que
dominavam na Europa. Há uma clara abertura,
traduzida na criação de bibliotecas escolares,
no ensino primário obrigatório e gratuito, no
desenvolvimento do ensino pré-escolar, bem
como a aceitação de que a criança é uma forte
consumidora de leitura.
Até aos anos 30, pontificam Virgínia de
Castro e Almeida, Ana de Castro Osório, João
da Motta Prego, Fernanda de Castro, António
Sérgio, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro.
17
Na década 30, há a redução da
escolaridade obrigatória, extinção das
classes infantis do ensino oficial,
encerramento das Escolas Normais.
Apesar de tudo surgem nomes como
Olavo d’Eça Leal, Irene Lisboa, Adolfo
Simões Müller, Maria Lamas, António
Botto; para lá destes autores que não se
confundem
com
a
mediocridade
generalizada, temos, nos anos 40, Salomé
de Almeida, Fernando Bento ou José de
Lemos.
18
Nos anos 50 vamos encontrar títulos
estrangeiros traduzidos (escolhas sujeitas à
Censura, tal como todos os textos portugueses
a editar) e ligeiras alterações na Educação – a
escolaridade passa para 4 anos, adopta-se o
sistema do livro único, é criada a rede de
bibliotecas itinerantes da F. C. Gulbenkian.
Grandes autores publicam para crianças,
ainda que muitos deles não tivessem presença
na Escola – Sophia de Mello Breyner Andresen,
Matilde Rosa Araújo, Ilse Losa, Esther de
Lemos, Alves Redol, Ricardo Alberty, Maria
Isabel Mendonça Soares.
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Os anos 60 trazem-nos a extensão da
escolaridade para seis anos, passando a
ser obrigatória também para as raparigas.
Alice Gomes, Madalena Gomes,
Papiniano Carlos, Mário Castrim, Isabel
da Nóbrega, Luísa Dacosta, Maria Alberta
Menéres, António Torrado são alguns dos
nomes mais significativos nesta década.
28
Em 1974, a reconquista da democracia
altera totalmente o quadro da política
editorial, o que vai gerar uma significativa
torrente na criação de literatura infantil e
consequente edição de livros para um
público infantil e juvenil.
É de sublinhar que nesta década
tivemos o Ano Internacional do Livro
Infantil (1974) e o Ano Internacional da
Criança (1979).
29
Na literatura, o que são os clássicos?
- autor ou obra que se integra na
antiguidade grega ou latina;
- autor ou obra que por mérito próprio
supera o tempo e é ponto de referência
numa demanda histórica que é a nossa;
- o que reenvia para o universal;
- o que promove uma experiência do
inaugural, traduzindo uma nostalgia face
ao actual.
30
Italo Calvino, para responder à questão “Porquê ler
os clássicos”, avança com possíveis definições de
clássico:
1. Os clássicos são os livros de que se costuma ouvir
dizer “Estou a reler…” e nunca “Estou a ler…”;
2. Chamam-se clássicos os livros que constituem uma
riqueza para quem os leu e amou; mas constituem uma
riqueza nada menor para quem se reserva a sorte de lêlos pela primeira vez nas condições melhores para os
saborear.
3. Os clássicos são livros que exercem uma influência
especial, tanto quando se impõem como inesquecíveis,
como quando se ocultam nas pregas da memória
mimetizando-se de inconsciente colectivo ou individual.
31
4. De um clássico toda a releitura é uma leitura de
descoberta igual à primeira.
5. De um clássico toda a primeira leitura é na realidade
uma releitura.
6. Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o
que tem a dizer.
7. Os clássicos são os livros que nos chegam trazendo
em si a marca das leituras que antecederam a nossa e
atrás de si a marca que deixaram na cultura ou nas
culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na
linguagem ou nos costumes).
32
8. Um clássico é uma obra que provoca
incessantemente uma vaga de discursos críticos sobre
si, mas que continuamente se livra deles.
9. Os clássicos são livros que quanto mais se julga
conhecê-los por ouvir falar, mais se descobrem como
novos, inesperados e inéditos ao lê-los de facto.
10. Chama-se clássico um livro que se configura como
equivalente do universo, tal como os antigos talimãs.
11. O nosso clássico é o que não pode ser-nos
indiferente e que serve para nos definirmos a nós
mesmos em relação e se calhar até em contraste com
ele.
12. Um clássico é um livro que vem antes de outros
clássicos; mas quem leu primeiro os outros e depois lê
esse, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
33
13. É clássico o que tiver tendência para relegar a
actualidade para a categoria de ruído de fundo, mas ao
mesmo tempo não puder passar sem esse ruído de
fundo.
14. É clássico o que persistir como ruído de fundo
mesmo onde dominar a actualidade mais incompatível.
34
As Aventuras de Telémaco, Contos da Minha Mãe
Gansa, Contos para as Crianças e para o Lar, Robinson
Crusoé, Viagens de Gulliver, Fábulas de La Fontaine,
Contos (de Andersen), Alice no País das Maravilhas,
Pinóquio, Heidi, Coração, As Aventuras de Tom Sawyer,
O Livro da Selva, A Maravilhosa Viagem de Nils
Holgërsson, Peter Pan e os livros de Júlio Verne e da
Condessa de Ségur serão os clássicos da literatura
infantil e juvenil?
E O Principezinho? E os sete volumes de Harry Potter?
E a trilogia de O Senhor dos Anéis?
E os álbuns de Leo Lionni, Maurice Sendak e Ziraldo?
35
Se analisarmos as grandes obras que
através dos tempos se impuseram como
“literatura infantil”, veremos que pertencem
simultaneamente a essas duas áreas distintas
(embora limítrofes e, as mais das vezes,
interdependentes): a da arte e a da pedagogia.
Sob esse aspecto, podemos dizer que, como
objecto que provoca emoções, dá prazer ou
diverte e, acima de tudo, modifica a consciência
do mundo de seu leitor, a literatura infantil é
arte. Sob outro aspecto, como instrumento
manipulado por uma intenção educativa, ela se
inscreve na área da pedagogia.
Nelly Novaes Coelho
36
A coerência interna dos textos que se integram no
âmbito da Literatura Infantil permitirá leituras a vários
níveis, consoante os parâmetros definidos pelo próprio
leitor. Por isso esta literatura nunca se poderá confundir
com o discurso utilitário que obedece a motivações que
são alheias ao texto literário; um discurso daquela
natureza cai na estreita óptica do pragmatismo,
tornando-se um mero pretexto para transmitir conteúdos
mais próprios de uma situação escolar que da fruição
estética.
37
A literatura de leitura infantil tem necessariamente
uma vocação pedagógica, já que potencializa e
desenvolve as virtualidades, ainda amalgamadas, da
criança. Nenhum texto é neutro ou inócuo, já que todos
arrastam consigo, com consciência ou não do autor,
ideias, valores, padrões estéticos, em suma, uma
informação que, juntamente com muitas outras, irá
formar a sensibilidade da criança.
38
O livro para crianças e a literatura em particular
deverão proporcionar prazer ao leitor de forma a que
este fique preso a tudo aquilo que está para lá do texto.
Há três planos a considerar no acto de recepção – o
informativo, o formativo e o lúdico – que se interligam
estreitamente com os níveis etários dos destinatários.
39
Há no mercado excelentes exemplos de livros de
literatura em que a sinuosa e inesperada dança entre o
texto literário e o texto icónico vem provocar, no leitor,
um saudável efeito de estranhamento, primeiro, logo
depois de entranhamento. Nestes casos, ao poder
evocatório e convocatório da palavra poética vem juntarse o fascínio da imagem artística insinuadora,
construindo-se universos em que a imagem fantasma,
quer a nível da palavra, quer a nível da ilustração,
sussurra o indizível, muito para além do dito e do
representado. Isto acontece com todo o objecto de Arte.
E um livro de literatura destinado à infância e à
juventude é, inegavelmente, Arte, não arte infantil ou
juvenil, tão só e apenas, Arte, sem necessidade de
quaisquer epítetos e, como tal, é Vida.
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A nossa consciência do mundo formase a partir de múltiplas experiências
vividas que conduzem à elaboração de
representações da realidade que tomam
corpo no nosso espírito. Quem escreve
para crianças tem de ter a plena noção da
fragilidade crítica do jovem leitor e do
modo como este vai estabelecer relações
muito peculiares do universo ficcional com
o seu mundo interior.
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