FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA RASTREAMENTO DE ALELOS DO GENE CFTR EM RONDÔNIA, AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA MARLENE GUIMARÃES SANTOS Porto Velho – Rondônia 2013 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA MARLENE GUIMARÃES SANTOS RASTREAMENTO DE ALELOS DO GENE CFTR EM RONDÔNIA, AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia – UNIR como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Biologia Experimental. Área de Concentração: Genética Humana Orientadora: Profª Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira Porto Velho – Rondônia 2013 FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA CENTRAL PROF. ROBERTO DUARTE PIRES Santos, Marlene Guimarães. S237r Rastreamento de alelos do gene CFTR em Rondônia, Amazônia Ocidental Brasileira. / Marlene Guimarães Santos. Porto Velho, Rondônia, 2013. 76f.: il. Tese (Doutorado em Biologia Experimental) – Núcleo de Saúde (NUSAU), Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2013. Orientadora: Profa. Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira. 1. CFTR. 2. Fibrose Cística. 3. ∆F508. 4. R334W. 5. N1303K. I. Título. CDU: 575(811) Bibliotecária Responsável: Eliane Gemaque / CRB 11-549 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA Programa de Pós Graduação em Biologia Experimental (PGBioExp) Candidata: MARLENE GUIMARÃES SANTOS Titulo da Tese: Rastreamento de Alelos do Gene CFTR em Porto Velho, Amazônia Ocidental Brasileira. Orientadora: Profa. Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira A Comissão julgadora dos trabalhos de Defesa de tese de Doutorado, em sessão publica, realizada a 25/ 04/ 2013, considerou-o: ( X ) Aprovado ( ) Reprovado Profa. Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira – Orientadora (Presidente da Banca) Instituição: UNIR/PGBIOEXP Assinatura:______________________________ Dr. Ricardo de Godoi Mattos Ferreira Instituição: FIOCRUZ/RO/PGBIOEXP Assinatura:______________________________ Dra. Maria Manuela da Fonseca Moura Instituição: UNIR/PGBIOEXP Assinatura:_______________________________ Dr. Horácio Tamada Instituição: UNIR/RO Assinatura:________________________________ Dr. Gilson Medeiros e Silva Instituição: UNIR/RO Assinatura:_______________________________ AGRADECIMENTOS A Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira, Docente/ Pesquisadora da Universidade Federal de Rondônia, minha Orientadora, pela confiança que sempre depositou em mim, por todas as oportunidades que me ofereceu e por sempre me incentivar em todos os aspectos. Suas contribuições como Geneticista sempre foram muito valiosas e imprescindíveis para a realização deste trabalho e para minha formação profissional. Ao Dr. Aguinaldo Luís Simões, do Laboratório de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, que me recebeu em seu laboratório e esteve presente em várias fases de minha trajetória Acadêmica, no Mestrado e Doutorado, obrigada. À Dra. Giselda Kalil de Cabello, da FIOCRUZ-RJ, Dr. Ricardo Godoi, da FIOCRUZRO, Dr. Gilson Medeiros-UNIR por todas contribuições que resultaram no trabalho de Tese. Ao Dr. Mauro Shugiro Tada, Diretor Geral do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical/CEPEM/RO, que além de facilitar nosso acesso a Hospitais e lugares de colega, discutiu conosco nossos primeiros resultados, na qualificação da Tese. Aos Drs. Ricardo Godoi, Maria Manuela, Gilson Medeiros e Horácio Tamada, membros da Banca do Doutorado, por terem aceito participar da Defesa da Tese, pela contribuição e atenção. Aos membros suplentes Dra. Ana Escobar, Dra.Rosely Rodrigues e Dr. Aguinaldo Luis obrigada pela contribuição. Aos colegas do laboratório de Genética Humana/UNIR, pela convivência, pelo respeito e atenção, Dr. Almeida Casseb, MSc Andonai Krauze , Dra. Josileide Farias, Daniel Delani, Leslee André meus agradecimentos. Aos estudantes Paulo Henrique Alves, Lilian Catanhede e Milena Jano, pela ajuda em coletas e bancada. Aos funcionários do IPEPATRO, hoje FIOCRUZ, Giovani, Rosineide e Marlene Donato, pelo apoio. A direção do Hospital Infantil Cosme e Damião e do Hospital de Base com suas equipes de enfermagem, técnicos e aos demais funcionários do onde foram coletadas as amostras. As crianças, pais ou responsáveis e a todos os sujeitos que participaram sem os quais este trabalho não se realizaria. As Instituições UNIR/IPEPATRO, pela concessão de parte do suporte financeiro para a realização deste trabalho e pela oportunidade, incentivo e apoio institucional. Ao Programa de Pós Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia pela oportunidade que este curso propiciou à minha formação Acadêmica e Cientifica. As agencias de fomento, especialmente CAPES e CNPq, o agradecimento pelo fomento direto e indireto que contribuiu para minha formação Acadêmica e Científica. A minha família especialmente por suportar minha ausência durante esses anos. E a todos os que, de certa forma, contribuíram para realização deste trabalho, principalmente aos participantes, obrigada. A meu querido pai in memoriam Francisco Beleza Guimarães Pelo homem de caráter, exemplo de honestidade e simplicidade. E por me ensinar “O que é certo e o que é errado”. “A diferença entre o vencedor e o perdedor não é a força nem o conhecimento, mas sim, a vontade de vencer.” Vincent T. Lombardi SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................. i LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................... ......ii. LITA DE SIGLAS E ABEVIATURA.........................................................................................................iv RESUMO..............................................................................................................................vi ABSTRACT............................................................................................................................................viii INTRODUÇÃO E ESTADO DA ARTE .............................................................................................19 1.1 O GENE CFTR .............................................................................................................................20 1.2.ESTRUTURA DA PROTEÍNA CFTR .........................................................................................22 1.3 MUTAÇÕES NO GENE CFTR. ................................................................................................23 1.4.CORRELAÇÃO ENTRE GENÓTIPO E FENÓTIPO ............................................................25 1.5.DIAGNÓSTICO ...........................................................................................................................26 2.JUSTIFICATIVA ..............................................................................................................................29 3.OBJETIVOS ......................................................................................................................................33 3.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................................33 3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................................33 4.MATERIAL E MÉTODOS ...............................................................................................................34 4.1.POPULAÇÃO E ÁREA DE ESTUDO .....................................................................................34 4.1.1. MICRO REGIÃO DE PORTO VELHO (“63°54’14” W; 08°45’43” S) ..........................34 4.1.2. MICRO REGIÃO DE CACOAL (CAO; 11° 26′ 19″ S, 61° 26′ 50″ W) .........................36 4.1.3. MICRO REGIÃO DO VALE DO GUAPORÉ (62°54’ O; 12°51’ S) ..............................37 4.2.COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO .................................................................................38 4.3.MÉTODOS LABORATORIAIS ................................................................................................38 4.3.1. EXTRAÇÃO DE DNA DE LEUCÓCITOS DO SANGUE PERIFÉRICO .....................39 4.3.2. REAÇÃO DA POLIMERASE EM CADEIA (PCR) ..........................................................39 4.3.3. IDENTIFICAÇÃO DOS ALELOS DO GENE CFTR ..................................................................40 4.3.3.1. O ALELO ΔF508..........................................................................................................40 4.3.3.2. OS ALELOS R334W, G85E, G551D, R553X, W1282X, N1303K, R1162X DIGESTÃO ENZIMÁTICA (RFLPS)...............................................................................................................42 4.4.ANÁLISES ESTATÍSTICAS .....................................................................................................47 5.RESULTADOS ..................................................................................................................................48 5.1.CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS SEGUNDO DADOS ANTROPOGENÉTICOS .........49 5.2 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS SEGUNDO AS FREQUÊNCIAS ALELICAS .....48 5.3 INCIDÊNCIA DA FIBROSE CISTICA.............................................................................................50 6.DISCUSSÃO.........................................................................................................................51 7.CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ..............................................................................................59 8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................61 Anexo I – ...............................................................................................................................................73 Anexo II –..............................................................................................................................................74 Anexo III – ............................................................................................................................................75 |i LISTA DE TABELAS Tabela01. Distribuição da mutação ∆F508 em pacientes fibrocísticos de alguns países europeus, e américa Latina, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS,2004) e Bobadilla e cols., (2002)........................................................... 28 Tabela 02. Amostras (total de indivíduos/localidade) analisadas.................................. 37 Tabela 03. Concentração dos reagentes utilizados na reação de PCR e temperaturas de 39 pareamento (Tp) usadas para a amplificação por PCR..................................... Descrição da sequência dos iniciadores utilizados na PCR dos exons 3, 7,11, Tabela 04. 19 , 20 e 21, tamanho dos fragmentos resultantes desta reação e enzimas de restrição específicas.......................................................................................... 40 Tabela 05. Descrição da sequência dos iniciadores utilizados na PCR do exon 10 e tamanho do fragmento resultante desta reação................................................ 40 Tabela 06 Distribuição dos indivíduos das amostras do Hospital Infantil (HICD), das Mães da maternidade do Hospital de Base (Mães-HB), seus respectivos filhos (RN-HB), Engenho Velho, Cacoal e Vale do Guaporé de acordo com a etnia, determinada pela cor da pele e por traços físicos........................... 48 Tabela 07. Frequências do alelo ∆F508 nas amostras estudadas........................................ 49 Tabela 08. Frequências dos alelos DF508, R334W e N1303K na Amostra do hospital 49 Infantil Cosme e Damião, Porto Velho-RO............................................. Tabela 09. Mostra as frequências de dois alelos em duas amostras do Hospital de Base de Porto Velho.......................................................................................... 50 Tabela 10. Frequência da mutação ∆F508 em diferentes populações do Brasil................ 54 Tabela 11. Frequências de alelos do gene CFTR em alguns estados brasileiros................ 57 |ii LISTA DE FIGURAS Figura 01. Representação esquemática do segmento de 27 exons do gene CFTR............... 21 Figura 02. Estrutura da proteína CFTR ................................................................................ 22 Figura 03. Representação das classes de mutações do gene CFTR .................................... 25 Figura 04. Mapa do Brasil e de Rondônia mostrando a localização da área de estudo........ 34 Figura 05. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10%: Marcador de peso molecular de 100 pb.Produto de PCR, nas colunas 1 a 22 indivíduos homozigotos normais 41 para a mutação e na ultima coluna o controle negativo.............................. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10%: Marcador de peso molecular de Figura 06. 50 pb. Produto de PCR, detecção do alelo ∆F508. Nas colunas 1 a 5 indivíduos 41 heterozigoto para mutação ∆F508............................................................... Figura 07. Figura 08. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutação R334W. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR, Nas colunas 42 1 a 21 digestão do produto da PCR. Presença do alelo R334W nas colunas 16 e 21 indivíduos heterozigotos para mutação R334W........................................ Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para detecção da mutação G85E. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 9 produtos de PCR 42 resulta em fragmento de 309 e ultima coluna controle negativo........................ Figura 09. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação G85E Marcador de peso molecular de 100 pb. Produto de PCR, Nas colunas 1 a 19 43 digestão do produto da PCR – indivíduos normais............................................. Figura 10. Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para a detecção da mutação G551D. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 7 produtos de PCR 43 resulta em fragmento de 425 e ultima coluna controle negativo........................ Figura 11. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutação G551D. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR, Nas colunas 1 a 13 digestão do produto da PCR. Todos os indivíduos normais para a mutação................................................................................................................. 43 |iii Figura 12. Figura 13. Figura 14. Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para a detecção da mutação R553X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 9 produtos de PCR 44 resulta em fragmento de 425 e ultima coluna controle negativo............... Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutação R553X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 7 digestão 44 do produto da PCR. Todos os indivíduos normais para a mutação............. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação W1282X. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR. – 473 pb. Nas colunas 1 a 19 digestão do produto da PCR – indivíduos normais – 45 178,172 e 123 pb. E na ultima coluna controle negativo......................... Figura 15. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação N1303K. Marcador de peso molecular de 50 pb. Controle negativo. Nas 45 colunas 1 a 18 digestão do produto da PCR.......................................... Figura 16. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação R1162X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Produto de PCR. 454 pb. Nas colunas 1 a 19 digestão do produto da PCR – indivíduos normais - 275 e 179 pb para mutação......................................................................................... 46 |iv LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Sigla ou Significado Abreviatura A Adenina AM Amazonas ARMS-PCR Sistema de mutação refratário à amplificação ASO Hibridização de oligonucleotídeos alelo – específicos. ATP Adenina Tri-fosfato CBAVD Aplasia congênita bilateral dos vasos deferentes CEPEM Centro de Pesquisa em Medicina Tropical CFTR Gene Regulador da Condutância Transmembrânica CFGAC Cystic Fibrosis Genetic Analysis Consortium Cols Colaboradores CONEP Comissão Nacional de Ética e Pesquisa Cl Cloro C Citosina CEPEM Centro de Pesquisas em Medicina Tropical CONEP Comissão de Ética e Pesquisa Da Daltons DNA Ácido nucléico Dntp Desoxinucleotídeo DGGE Eletroforese em gel com gradiente de desnaturação dHPLC Cromatografia líquida desnaturante de alta performace EDTA Ácido etileno diaminotetraacético FC Fibrose Cística FIOCRUZ Fundação Instituto Oswaldo Cruz G Guanina HB Hospital de Base HBM Parturientes HBRN Recém -nascidos |v HICD Hospital Infantil Cosme e Damião IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IRT Teste da tripsina imunoreativa IPEPATRO Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais kb Kilobase mRNA RNA mensageiro MSD Transmembrane domain of CFTR protein NBD Domain Nucleotide- Binding Na Sódio Gel de Poliacrilamida PCR Reação da Polimerase em Cadeia pb Pares de bases PN Pedras Negras R -domain regulatory domain of CFTR protein SSCP Polimorfismo conformacional de fita simples SESAU Secretaria de Estado da Saúde de Rondônia SPSS Software Statistical Package for Social Sciences T Timina TBE Tris-Ácido Bórico-EDTA TEMED N, N, N’, N’ – tetrametilenodiamina 2 Teste do Qui-quadrado |vi RESUMO Guimarães, M. Rastreamento de alelos do Gene CFTR em Rondônia, Amazônia Ocidental Brasileira 2013. Tese. Programa de Pós Graduação em Biologia Experimental, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho-Rondônia, Brasil. Fibrose Cística é uma doença genética de herança autossômica recessiva, crônica, com manifestações sistêmicas, altos níveis de eletrólitos no suor, comprometendo os sistemas respiratório, digestivo e reprodutor. O gene de Fibrose Cística está localizado no braço longo do cromossomo 7, na posição 7q. 31. Estão atualmente descritas 1932 mutações no gene CFTR, classificadas de acordo com o tipo de alterações que acarretam na proteína CFTR. Apesar da heterogeneidade que se verifica nas manifestações e evolução da doença, o diagnóstico de Fibrose Cística é clínico e na maioria das vezes apresenta-se com fenótipo clínico diverso, com intensidade diferente, em diferentes indivíduos. Propusemo-nos a rastrear oito alelos do gene CFTR (∆F508, N1303K, W1282X, G551D, R553X, R1162X, G85E e R334W) no intuito de começarmos uma competência local em Genética no estudo de Fibrose Cística, partindo da hipótese de que o processo de colonização desta região Amazônica propiciou a fixação de genes europeus, o que determina a presença de indivíduos fibrocisticos na região. Foram analisadas seis amostras de três regiões do estado de Rondônia: quatro na cidade de Porto Velho, uma na Região Central de Rondônia e uma no Vale do Guaporé, situado na região Leste de Rondônia. As amostras coletadas em Porto Velho foram três hospitalares (uma de Recém-nascidos e outra, suas respectivas Mães do Hospital estatal Ari Pinheiro, e a terceira constituída por crianças, de 0 a 10 anos, do Hospital estatal infantil Cosme e Damião) e uma populacional, peri- urbana, de características ribeirinhas, Engenho Velho. A amostra da região Central de Rondônia era hospitalar e foi coletada na cidade de Cacoal. A sexta amostra foi coletada no vilarejo de Pedras Negras, localizado na região centro-leste de Rondônia e era constituída de indivíduos remanescentes de Quilombolas. O DNA foi extraído seguindo a metodologia que emprega digestão com Proteinase K. Após amplificação por PCR, das regiões alvo para cada alelo, as amostras foram fenotipadas segundo protocolos já descritos na literatura. A visualização ocorreu em gel de PAGE a 10% corado com nitrato de prata. As análises estatísticas foram realizadas com os programas GENEPOP (versão 3.4) e o nível de significância adotado foi de 5%. O alelo |vii ΔF508 foi observado apenas em heterozigose com o alelo Normal do gene CFTR, na frequência de 0,0065 ± 0,006; p= 0,1639 na amostra de crianças do Hospital Infantil Cosme e Damião. Na amostra de Recém-nascidos a frequencia alélica foi quase polimórfica (0,0098 ± 0,008; p= 0,1377) e não satisfez as condições de equilíbrio de Hardy-Weinberg. Na amostra de Cacoal, apenas um indivíduo foi heterozigoto para ΔF508, sendo a frequência de 0.0060 ± 0.000; p= 0.0435. Apenas outros dois alelos, em todas os 1.840 indivíduos analisados nesta Tese, os genes R334W e N1303K, foram detectados, em heterozigose com o alelo normal, em duas crianças cada um, na amostra do Hospital Infantil, ambos com frequências de 0.001. Não foram observadas diferenças significantes na distribuição das frequências dos alelos analisados quando comparados com outras populações brasileiras, com exceção de uma amostra, descrita na literatura, a do povoado Santa Flora/MA, de origem portuguesa, e reflexo de efeito do fundador. As várias ondas migratórias, responsáveis pelo povoamento de Rondônia, introduziram alelos fibrocísticos, de origem européia, observados na população atual do estado. A ausência de indivíduos homozigotos, mesmo sob suspeita clínica de apresentarem Fibrose Cística (caso de crianças do Hospital Infantil) indica a necessidade de se ampliar o rastreamento ora iniciado, introduzindo-se alelos já descritos em populações Ameríndias e Negróides, além de se colocar em atividade o rastreamento neonatal de genes fibrocísticos nos hospitais públicos de Rondônia. Palavras- chave: CFTR, Fibrose Cística, ∆F508, R334W, N1303K |viii ABSTRACT Guimarães, M. Tracking alleles of the gene CFTR in Rondonia, Western Brazilian Amazon 2013. Thesis. Postgraduate Program in Experimental Biology, Federal University of Rondonia, Porto Velho, Rondonia, Brazil. Cystic Fibrosis is a genetic disease of inheritance autosomal recessive, chronic, with systemic manifestations, high levels of electrolytes in sweat, affecting the respiratory, digestive and reproductive systems. The gene of the cystic fibrosis is located on the long arm of the chromosome 7, in the position 7q. 31. Currently are described 1932 mutations in the CFTR gene, classified according to the type of changes that result in the CFTR protein. Despite the heterogeneity that exists in the manifestations and evolution of the disease, the diagnostic of the cystic fibrosis is clinical and in the most of time presents with a diverse clinical phenotype, with different intensity in different individuals. We proposed to track down eight alleles of the CFTR gene (∆F508, N1303K, W1282X, G551D, R553X, R1162X, G85E and R334W) in order to begin a local competence in Genetics on the study of Cystic Fibrosis, based on the hypothesis that the process of colonization of this amazonic region propitiated the fixation of european genes, which determines the presence of fibrocystic individuals in the area. We analyzed six samples from three regions of the state of Rondonia: four in the city of Porto Velho, one in the Central Region of Rondonia and one in the Vale do Guapore, located in the eastern region of Rondonia. Samples collected in Porto Velho were from three hospitals (one of newborns and their respective mothers from the Ari Pinheiro Hospital, and the third made up of children from 0 to 10 years, from the State Children's Hospital Cosme and Damiao) And a population, peri-urban with riverside characteristics, Engenho Velho. The sample from the Central Region of Rondonia was hospital and was collected in the city of Cacoal. The sixth sample was collected in the Pedras Negras, located in the central-east of Rondônia and consisted by individuals remaining of Quilombola. The DNA was extracted following the method it employs digestion with Proteinase K. Following PCR amplification, target regions for each allele, samples were phenotyped second protocols described in the literature. A visualization occurred on PAGE gel stained with 10% silver nitrate. The statistical analysis was performed with the programs GENEPOP (version 3.4) |ix and the significance level adopted was 5%. The ΔF508 allele was observed only in heterozygous with the normal allele to the gene CFTR, at frequency of 0,0065 ± 0,006; p= 0,1639 sample of children in the State Children's Hospital Cosme and Damiao. In the sample of newborns the allelic frequency was almost polymorphic (0,0098 ± 0,008; p= 0,1377) and does not satisfy the conditions of Hardy-Weinberg equilibrium. In Cacoal sample, only one individual was heterozygous for ΔF508, with a frequency of 0.0060 ± 0.000; p= 0.0435. Only two other alleles, in all 1840 individuals analyzed in this thesis, R334W and N1303K genes were detected in heterozygous with the normal allele, in two children each of them, on the sample Children's Hospital, both with frequencies 0.001. There were no significant differences in the distribution of frequencies of the alleles analyzed when compared with other Brazilian populations, except for one sample, described in the literature, the town of Santa Flora-MA, of Portuguese origin, and reflects the founder's effect. The various migratory waves, responsible for the populating Rondonia, introduced fibrocystic alleles, of european origin, observed in the current population of the state. The absence of homozygous individuals, even under clinical suspicion of submitting Cystic Fibrosis (cases of children at Children's Hospital) indicates the need to expand the tracking started now, introducing alleles already described in amerindian and negroid populations, in addition to putting in activity the neonatal screening of genes fibrocystic in public hospitals of Rondonia. Keywords: CFTR, Cystic Fibrosis, ∆F508, R334W, N1303K | 19 INTRODUÇÃO E ESTADO DA ARTE Fibrose Cística, também conhecida como Mucoviscidose, é uma doença genética de herança autossômica recessiva, crônica, com manifestações sistêmicas, altos níveis de eletrólitos no suor, comprometendo os sistemas respiratório, digestivo e reprodutor. Apresenta uma das principais causas de doença pulmonar crônica na faixa etária pediátrica afetando cerca de 1/2.000 nascidos vivos na população caucasiana de pacientes com fibrose cística (Lemos e cols., 2004; Cimmino e cols., 2003). É uma condição que resulta em secreções mucosas muito espessas e viscosas, havendo obstrução nos ductos e canalículos glandulares. A doença tem uma tríade clínica característica: (a) doença pulmonar obstrutiva supurativa crônica, com evolução progressiva para cor pulmonale; (b) insuficiência pancreática com má digestão e má absorção e desnutrição secundária e (c) níveis anormalmente elevados de Cl- no suor (Rosov e cols., 1999). Em 1953 Di Sant 'Agnese e colaboradores evidenciaram o teor extremamente elevado do íon cloreto no suor de pacientes fibrocisticos. A comprovação de que a doença resultava de defeito na permeabilidade do cloro surgiram de estudos em células epiteliais das vias aéreas de pacientes. Esta característica foi observada, posteriormente, em todos os indivíduos com Fibrose Cística, tornando um fator decisivo para o diagnóstico da doença (Welsh e Liedtke, 1986). Das doenças genéticas que, na maioria dos casos, levam a óbito ainda na infância, Fibrose Cística é a mais comum entre os indivíduos caucasianos (Rosenstein e cols., 1998; Zielenski e cols., 1995), sendo rara em populações Africanas (1: 30.000) e asiáticos (1:90. 000) (htt//www.cfww.org, 2009; Ratjen e cols., 2003; Ribeiro e cols., 2002). A prevalência da doença varia de acordo com o local geográfico (Welsh e cols., 2001). Estima-se que ao redor de 70.000 a 100.000 pessoas são acometidas por Fibrose Cística no mundo (htt//www.cfww.org, 2009), sendo mais frequente no norte da Europa, região em que a ocorrência é de 1 para cada 3.500 nascimentos vivos. Entre os latino-americanos e afroamericanos a incidência varia de 1/15.000 a 1/20.000 nascimentos vivos, respectivamente (O´Sullivan e cols., 2009). O quadro epidemiológico da doença tem variado nas últimas três décadas, quando se avaliam os dados dos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos havia, em 1969, cerca de 8.000 indivíduos oficialmente registrados com Fibrose Cística. Em 1991 eram 18.926, sendo que em 2004 esse número já alcançava 22.714 pacientes (Davies, 2006). A incidência de fibrose cística no Brasil varia entre as diferentes regiões, sendo de 1:10.000 nascimentos vivos em Minas Gerais, 1:9.500 no Paraná, 1:8.700 em Santa Catarina e 1:1.600 no Rio Grande do Sul (Raskin e cols., 2008; Honório e cols., 2006; Reis e cols., 2006; Santos e cols., 2005). I n t r o d u ç ã o | 2120 Diversas áreas do território brasileiro (Suarez-Kurtz, 2005). Outro fator da disparidade na observação de Fibrose Cística é a ausência de diagnóstico clínico e/ou molecular. A dificuldade no diagnóstico decorre muitas vezes devido à superposição de sintomas da Fibrose Cística com os de outras doenças mais comuns, como diarreia crônica, desnutrição e as infecções respiratórias (Reis e Cerqueira, 1991). A necessidade de realização de exames laboratoriais específicos também dificulta o diagnóstico, que muitas vezes é feito tardiamente, acarretando um prejuízo irreparável ao prognóstico e à determinação correta da incidência (Raskin e cols., 2008). As investigações envolvendo a incidência da doença no Brasil são realizadas principalmente nas regiões Sul e Sudeste e podem não refletir a realidade de todo o País (Raskim e cols., 2008). GENE CFTR As primeiras hipóteses sobre o caráter genético da fibrose cística foram formuladas por Lowe, May e Reed (1949), que postularam ser a doença a consequência de defeito em um único gene, que gerava uma proteína anormal, sendo a herança autossômica recessiva. Em 1985, Tsui e colaboradores forneceram as primeiras evidências de um gene candidato para Fibrose Cística no cromossomo 7. A detecção do loco responsável foi feita por Estivill e cols., (1987). Identificado pela técnica de clonagem posicional (mapeamento gênico; Riordan e cols., 1989; Collins e Weissman, 1984), o gene de Fibrose Cística foi localizado no braço longo do cromossomo 7, na posição 7q. 31. Este gene possui 250 Kb, 27 éxons, com tamanhos que variam de 38 a 724 pares de bases (Zielenski e cols., 1991). O gene codifica um mRNA de 6.5 Kb e massa molecular de 168.138 Da, dando origem a uma glicoproteína com 1.480 aminoácidos (Welsh e cols., 2001). Os exons estão numerados de 1 a 24, sendo incluídos os éxons 6a, 6b, 14a, 14b, 17a e 17b. Este gene, localizado na membrana citoplasmática das células epiteliais, foi denominado “Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator – CFTR”, desde que o produto proteico atua como canal de íons de cloreto (Tsui e Durie, 1997; Zielenski e cols., 1991; figura 1). I n t r o d u ç ã o | 22211 7q31.3 Figura 1. Representação esquemática do segmento de 27 exons do gene CFTR (Zielenski e cols., 1991). I n t r o d u ç ã o | 22 ESTRUTURA DA PROTEÍNA CFTR Estruturalmente, a proteína CFTR possui 5 domínios (figura 2) e dois grandes domínios transmembranários (Membrane Spanning Domain ou MSD), que são duas unidades repetidas que atravessam a membrana de lado a lado 6 vezes. As subunidades dos domínios MSD contribuem para a formação do poro do canal de Cl-, uma vez que mutações em sítios específicos dentro dos MSD alteram sua seletividade a ânions (Wesh e cols., 1993). Adicionalmente, existem dois domínios de ligação a nucleotídeos, ou NBDs (Nucleotídeo Binding Domain; Lyzac e cols., 2002). Os domínios NBD são responsáveis pela ligação e pela hidrólise de ATP e fornecem a energia necessária para a atividade do canal. A proteína possui ainda um domínio de regulação (R), em posição intracitoplasmática (Kerem e cols., 1989; Riordan e cols., 1989; Rommens e cols., 1989). O domínio R tem o papel de bloquear ou não o canal de cloro, dependendo do seu estado de fosforilação e do AMP cíclico ( Smith e Welsh, 1995; Welsh, 1993; Riordan e cols., 1989). O domínio regulatório modula também a atividade de CFTR e pode ter efeito inibitório ou estimulatório (Welsh e cols., 2001). Figura 2. Estrutura da proteína CFTR (adaptado por Smith &Welsh, 1995). A proteína CFTR faz parte da membrana citoplasmática das células epiteliais de diversos órgãos, como nos ductos pancreáticos, epitélios intestinais, no trato respiratório, ductos das glândulas sudoríparas e sistema reprodutor, onde atua como regulador de fluxo de cloretos (Welsh e cols., 1993). I n t r o d u ç ã o | 243 23 MUTAÇÕES NO GENE CFTR Estão atualmente descritas 1932 mutações no gene CFTR, classificadas de acordo com o tipo de alterações que acarretam na proteína CFTR (The Cystic fibrosis mutation database, CFMDB, 2013). Em geral as mutações ocorrem na primeira metade do gene CFTR, a maioria na primeira região NBD, nos exons 10 e 11. A segunda região NBD, notadamente nos éxons 19 e 20, apresenta também numerosas mutações. A primeira região MSD (exons 4 e 7) apresenta um conjunto de mutações, sendo estas quase inexistentes na segunda região MSD. Estas mutações em exons são devidas, na maioria das vezes, a transições G → A (24.1%) e C → T (14.7%), e a transversões G → T (11.9%); ao contrário do que ocorre em outros genes humanos, observam-se poucas mutações em sítios CG (Morral e cols., 1994; Cooper e Krawczak, 1990). Estas mutações, de modo geral, estão agrupadas em seis diferentes classes (Vankeerberghen e cols., 2002; Welsh e cols., 2001): Classe I: caracteriza-se por mutações que conduzem a um sinal de término de transcrição, originando proteínas truncadas ou instáveis, alterando assim a quantidade de proteína produzida. Como exemplos temos a mutação G542X, em que ocorre a substituição de uma glicina por um códon STOP na posição 542 (Mishra e cols., 2005; Rowntree and Harris, 2003; Welsh e cols., 2001); a mutação R1162X, que consiste na troca de C → T no nucleotídeo 3616 do exon 19, levando à substituição de arginina por código de parada no códon 1162 (Gasparini e cols., 1991), sendo a décima quinta mutação mais frequente em CFTR na população mundial. A mutação W1282X, que consiste na transcrição de G → A no nucleotídeo 3978 do exon 20, leva à substituição de triptofano por um código de parada, no códon 1282 (CFGAC, 1990); é a quinta mutação mais frequente no mundo (Estivill e cols., 1997). A mutação R553X consiste na transcrição de C → T no nucleotídeo 1789 do exon 11, havendo substituição de arginina por um código de parada no códon 553. Classe II: corresponde a mutações em sítios responsáveis pelo processamento e transporte anômalo da proteína até a membrana. Incluem-se nesta classe as mutações ∆F508, N1303K e G85E (Mishra e cols., 2005; Welsh e cols., 2001). A mutação ∆F508, ou deleção Phe508, consiste em uma deleção de 3pb, adenina-timina-timina (ATT) entre os nucleotídeos 1652 e 1655 do éxon 10, tendo como consequência perda do aminoácido fenilalanina no códon 508 da proteína resultante (Zielenski e cols., 1997). É a mutação mais frequente nas I n t r o d u ç ã o | 2254 24 populações caucasoides (Welsh e cols., 1993). Outra mutação, o alelo N1303K, consiste na transversão de C→ G no nucleotídeo 4041 do exon 21, levando à substituição de Asparagina por Lisina no códon 1303 (Osborne e cols., 1992). A mutação G85E, resulta da transcrição de G → A na posição do nucleotídeo 386 do éxon 3, havendo substituição de glicina por ácido Glutâmico no códon 85, no primeiro domínio da membrana (Zielenski e cols., 1991). Classe III: mutações desta classe interferem na regulação do canal de cloreto, por afetarem os domínios TDMs, levando ao bloqueio deste canal. São exemplos desta categoria o alelo G551D (Mishra e cols., 2005; Mckone e cols., 2003; Salvatore e cols., 2002; Welsh e cols., 2001), e ele resulta da transcrição de G → A no nucleotídeo 1784 do exon 11, com substituição de Glicina por ácido Aspártico, no códon 551 (CFGAC, 1996). É a terceira mutação mais frequente do gene CFTR na população mundial. Classe IV: representada por mutações que alteram a condução de íons através dos poros. O alelo R334W (Mishra e cols., 2005 ; Mckone e cols., 2003; Welsh e cols., 2001) está nesta classe de mutações, que ocorre devido à troca do aminoácido Arginina pelo Triptofano no códon 334 do éxon 7 do gene CFTR. É a décima sétima mutação mais frequente na população mundial (Streit e cols., 2003; Kerem e cols., 1989). Classe V: são mutações que alteram o nível de transcrito, e consequentemente de proteína necessária para uma função adequada. O alelo A455E (Mishra e cols., 2005; Rowntree e cols., 2003; Welsh e cols., 2001) situa-se nesta classe; resulta da troca de C → A no nucleotídeo 1496 do exon 9, causando a substituição de alanina por glutamina no códon 455. Foi relatada pela primeira vez em 9 de fevereiro de 1990 por Karem e cols. (apud CFGAC, 1994). Na Europa é a 16ª mutação mais frequente, presente em média em 0.20% dos cromossomos (Estivill e cols., 1997). Classe VI promove alterações que afetam as propriedades de regulação da proteína CFTR. Exemplo desta mutação é o alelo Q1412X (Vankeerberghen e col., 2002), resultante da substituição de uma glutamina por um codão Stop na posição 1412, havendo perda de 70 aminoácidos na proteína (Rowntree e Harris., 2003). I n t r o d u ç ã o | 25 R1162X, G542X, R553X, W1282X ∆F508, N1303K e G85E G551D, R553G, R560T R334W, R117H, R117C A455E Q1412X Figura 3. Representação das classes de mutações do gene CFTR (O´Sullivan BP e cols., 2009). CORRELAÇÃO ENTRE GENÓTIPO E FENÓTIPO A heterogeneidade alélica é uma das causas da variabilidade de expressão clínica da Fibrose Cística. Dependendo de como a proteína funcional é afetada, o transporte de cloreto não ocorre, ou fica diminuído. Geralmente, mutações severas resultam na falha da síntese proteica ou no bloqueio do processo e mutações brandas causam alteração na condutância ou na síntese (reduzida) da proteína. As manifestações clínicas da doença estão também relacionadas ao estado nutricional do paciente, à frequência e gravidade das infecções das vias respiratórias e aos fatores ambientais (Faucs e cols., 2010). As manifestações clínicas envolvendo insuficiência pancreática, alta incidência de íleo meconial e altos níveis de cloro no suor e comprometimento pulmonar, são encontradas nos indivíduos que apresentam o gene ∆F508 (Keller e cols., 2003). O fenótipo clínico dos indivíduos portadores desta mutação varia muito, mas está sempre associado ao fenótipo grave da doença (Morales e cols., 1999). A correlação de diversas mutações com o comprometimento pulmonar não está totalmente estabelecida. As mutações ∆F508, N1303K, G542X estão relacionadas a doenças pancreáticas e pulmonares severas enquanto a mutação R1162X caracteriza-se por expressar fenótipos suaves de Fibrose Cística, causando insuficiências pancreática e pulmonar moderadas (Gasparini e cols., 1991). I n t r o d u ç ã o | 2276 26 Mutações no gene CFTR podem resultar em fenótipo parcial da doença. Os pacientes apresentam ausência congênita bilateral do canal deferente (CBAVD), azoospermia obstrutiva, bronquiectasia, aspergilose broncopulmonar alérgica, hipertripsinémia e pancreatite crônica. Estas doenças foram designadas como “doenças relacionadas com CFTR” e muitas vezes são associadas a mutações consideradas mais suaves como: R117H, R347P, A455E, 3849 + 10kb C→ T, R334W (Vankeerberghen e cols., 2002). DIAGNÓSTICO Apesar da heterogeneidade que se verifica nas manifestações e evolução da doença, o diagnóstico de Fibrose Cística é clínico, na maioria das vezes se apresentam de maneira e intensidade diferentes em cada individuo. Essa variedade clinica entre os indivíduos provavelmente está relacionada com o polimorfismo em outros genes (O’Sullivan e cols., 2009; Ribeiro e cols., 2002). Embora o diagnóstico de fibrose cística seja usualmente realizado na infância (70% dos casos no primeiro ano de vida), a frequência do diagnóstico na vida adulta vem aumentando. A doença tornou-se também uma doença de adulto, exigindo o envolvimento de pneumologista e de outros especialistas de adultos para o seu tratamento (Yankaskas e cols., 2004). Em geral, os pacientes diagnosticados na vida adulta possuem formas não- clássicas de fibrose cística. Eles se apresentam com doença respiratória crônica, sendo de menor, gravidade, com menor frequência de infecção por Pseudomonas aeruginosa com menor frequência de insuficiência pancreática do que os pacientes com fibrose cística diagnosticados na infância. Além disso, um outro fator que contribui para a dificuldade diagnóstica é que uma considerável parcela desses pacientes apresenta teste do suor normal ou no limittrofe (Gilljan e cols., 2004; Widerman e cols., 2000). O teste diagnóstico para a fibrose cística é o Teste do Suor mais sensível considerado o padrão-ouro. A tríade diagnóstica, doença sinopulmonar crônica, insuficiência pancreática e teores elevados de cloreto no suor, constitui a sintomatologia (Sotto-Mayor e cols., 2003). O teste que mede teores de Cloro no suor, denominado Teste do Suor, foi padronizado em 1959 por Gibson e Cooke sendo utilizado até os dias atuais. A dosagem de eletrólitos é realizada através de estímulos no suor pela Iontoforese com policarpina (Alvarez e cols., 2004; Lemos e cols., 2004). Com os respectivos valores: < 40mml/L = negativo; entre 40 e 60 mml/L = no limítrofe e > 60 mml/L = compatível com a Fibrose Cística (Mishra e cols., 2005). É um exame de baixo custo, com elevada sensibilidade e especificidade e não invasivo (Ribeiro e col., 2002). I n t r o d u ç ã o | 27 27 As mutações descritas no gene CFTR através da análise molecular podem ser rastreadas por várias técnicas, como a análise de polimorfismo conformacional de fita simples (SSCP), a análise de polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição (RFLPs), sistema refratário a amplificação (ARMS – PCR), eletroforese em gel de gradiente de desnaturação (DGGE). Hibridização de alelo-específicos (ASO), cromatografia liquida desnaturante de alta performance (dHPLC), e, com mais eficácia, em alguns casos, por sequenciamento, sistemas de PCR em tempo real (Dempsey e cols., 2004). Também a análise através de associações entre haplótipos marcadores e mutações que causam Fibrose Cística pode facilitar a detecção da causa da doença ou de portadores potenciais (Morral e cols., 1996). Um crescente desenvolvimento nas técnicas moleculares nos últimos anos tem contribuído para diagnóstico mais preciso das mutações relacionadas à Fibrose Cística nos pacientes e na investigação de portadores. A triagem neonatal para Fibrose Cística é realizada através da avaliação da tripsina imunorreativa (IRT), com o objetivo de auxiliar no diagnóstico precoce (Welsh e cols., 2001). A IRT é avaliada no sangue para identificação precoce de manifestações bioquímicas da disfunção pancreática. A medição é feita em amostras de sangue seco (teste do pezinho) usando radioimunoensaio (Audrezet e cols., 2008). Existe uma grande variabilidade na frequência da doença e das principais mutações causadoras da Fibrose Cística, de acordo com a ancestralidade dos indivíduos. A distribuição das mutações CFTR em várias regiões do mundo foi realizada com o intuito de entender a evolução da doença em cada região (Bobadilla e cols., 2002). A mutação mais caracterizada atualmente é a ΔF508, cuja frequência mundial, entre os pacientes, é, em média, de 66%, variando de acordo com a população estudada, sendo a Dinamarca o país que apresenta a maior frequência (87%) e a Tunísia, apenas 18% (Bobadilla e cols., 2002). Está presente em cerca de 70% dos países da região norte da Europa, e 55% nos situados no sul europeu (Tabela 1). I n t r o d u ç ã o | 2828 Tabela 1. Distribuição da mutação ∆F508 em pacientes fibrocísticos de alguns países europeus, e américa Latina, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS,2004) e Bobadilla e cols., (2002). Europa América Latina País Dinamarca Bélgica Inglaterra Holanda Alemanha Irlanda França Suíça Áustria Noruega Suécia Rússia Grécia Espanha Itália Polônia Escócia Rússia México Brasil Chile Incidência 1:4700 1:3700 1:2400 1:3650 1:3300 1:1800 1:2900 1:1700 1:2500 1:4.500 1:8000 1:2500 1:3500 1:3500 1:2500 1:6000 1:9840 1:4900 1:8500 1:6902 1:4000 % 87 71 70 74 72 70 68 67 77 60 57 54 53 53 51 57 71 54 41 48 29 | 2929 JUSTIFICATIVA A contribuição dos diferentes grupos humanos varia de uma região para outra no Brasil, levando a um perfil indefinido de distribuição de determinados polimorfismos, alguns deles envolvidos na resposta genética de resistência/suscetibilidade a doenças. A avaliação da história genética destas regiões é, portanto relevante para otimizar desígnios de estudos centrados na identificação de determinantes genéticos de doenças. Existem poucos estudos sobre a distribuição de polimorfismos de DNA na Amazônia Brasileira, o que, por si só, justifica o estudo da estrutura desta população, principalmente porque se trata de uma região em que o processo de miscigenação é recente, e estudos familiares ou populacionais podem ser usados para identificar genes que refletem as diferenças entre as populações. Apesar de que a maioria (ao redor de 98%) dos indivíduos com mutações em homozigose no gene CFTR pode ser diagnosticada como indivíduos fibrocísticos através do teste de suor, devido às altas concentrações de cloro e/ou sódio no suor (Legrys, 1996), existem mutações que não alteram o teor de cloro e/ou sódio no suor e o teste apresenta níveis normais destes íons. Para estes indivíduos a identificação da mutação no gene CFTR é um dos testes de diagnóstico necessário (Wallis, 1997). Em Rondônia, estado brasileiro situado na região da Amazônia Ocidental, a Secretaria do Estado de Saúde (SESAU, 2010) identificou, 30 casos de Fibrose Cística, havendo entre eles o óbito de uma criança, sem que a mutação responsável tenha sido identificada. A falta de um Centro de Referência, ou mesmo um setor especializado da doença, em Rondônia, ou regiões próximas, impede um acompanhamento mais cuidadoso dos casos diagnosticados, ou a serem diagnosticados. Propusemo-nos a rastrear oito alelos do gene CFTR no intuito de começarmos uma competência local em Genética no estudo de Fibrose Cística. Estes alelos (∆F508, N1303K, W1282X, G551D, R553X, R1162X, G85E e R334W) apresentam as características que se seguem: ΔF508 - Localiza-se no exon 10 do gene CFTR, trata-se de uma deleção das bases CTT (Karem e cols., 1989) que leva a perda do aminoácido fenilalanina na posição 508 da proteína CFTR, impedindo o seu empacotamento correto e conformação normal e Mickle e Cutting (2000) definem os pacientes homozigotos para a mutação ΔF508, como os que possuem fenótipo clássico da doença, o que inclui elevadas concentrações de eletrólitos no suor, insuficiência pancreática e doença pulmonar obstrutiva. Tal alteração está presente em 70 a J u s t i f i c a t i v a | 31 30 95% dos alelos responsáveis pela Fibrose Cística em países do leste europeu. No Brasil essa alteração contribui com cerca de 50% dos alelos responsáveis pela doença nas regiões sul e sudeste (Correia e cols. 2005). Trabalhos realizados por Raskin e cols. (2001) em cinco estados brasileiro como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e São Paulo detectaram as respectivas frequências (49,1%), (55,2%), (39%), (32,6%) e (52,7%). Sendo que Streit e cols. (2003) detectou no Rio Grande do Sul uma frequência de 48,7% similar à encontrada por Raskin e cols. (2001). Trabalhos realizados por Araujo e cols. (2005) no estado do Pará detectaram a frequência da mutação de 22.7%. Em outros estudos realizados no Rio de Janeiro, Cabello e cols. (2005), efetuaram a triagem das mutações ao longo do exon 23 e das regiões flanqueadoras nos introns do gene CFTR utilizando a técnica SSCP e por sequenciamento automático em 95 pacientes com fibrose cística. Foi concluída em apenas 34.7% dos pacientes. G551D - A terceira mutação mundialmente mais frequente, apresentando 2.1% de indivíduos fibrocisticos (CFGAC, 2004). As regiões com alta frequência correspondem às áreas com grandes populações da descendência Celta. Localizada no exon 11 sendo associado ao fenótipo grave da fibrose cística causando insuficiência pancreática severa. De acordo com trabalhos realizados por Bobadilla e cols. (2002), a mutação G551D. Trabalhos realizados no Brasil no estado de São Paulo por Raskin e cols. (2001) encontraram uma frequência da mutação G551D de 0.9%. N1303K: A quarta mutação mundialmente mais frequente com frequência de 1.3% (Dawson & Frossard, 2000). Localizada no exon 21 está relacionada ao comprometimento pancreático. R553X: A sexta mutação mundialmente mais frequente na população mundial com frequência de 0.59% (CFGAC, 2004). Localizada no exon 11, associado com a doença pancreática grave e doença pulmonar leve. No Brasil, trabalhos realizados por Cabello e cols., 1999 na cidade do Rio de Janeiro a frequencia foi nula. Em São Paulo Bernardino e cols. (2000) detectaram uma frequencia de 0.6%. Em outras populações do Brasil, Raskin e cols. (2001) detectaram a frequencia de 2.7% em São Paulo, Paraná 2% e no Rio Grande do Sul foi 0.7%. W1282X: Localizado no exon 20, está associado com severa insuficiência pancreática. É comum na maioria dos países mediterrânicos, atingindo maior frequência em Israel (36.2%), 31 J u s t i f i c a t i v a | 321 sendo comum em judeus Ashkenazi. Essas variações são provavelmente devido ao efeito fundador durante a migração e estabelecimento de alguns grupos em diferentes áreas (Rowntree e Harris., 2003; Bobadilla e cols., 2002). É a mutação mais comum em população judaica (Ashkenazi em Israel). Na população mundial a mutação W1282X tem uma frequência de 1.2% (Bombadilha e cols., 2002). Pesquisas com grupos populacionais brasileiros relatam que não foi encontrada no estado do Rio de Janeiro, segundo Fernandes e cols. (1994), que estudaram esta mutação em 26 cromossomos de afetados com fibrose cística. Trabalhos realizados por Cabello e cols. (1999), em seu estudo com 88 cromossomos de afetados não detectaram presença da mutação. Em São Paulo, Bernardino e cols. (2000) encontraram 1 cromossomo com a mutação (1.3%) em uma amostra de 160 indivíduos. R1162X: Localizada no exon 19. É a décima quinta mutação mais frequente no gene CFTR na população mundial, apontando uma frequência de 0.03 (CFGAC, 2004). No Nordeste da Itália a frequência da mutação R1162X é de 0.01, sendo mais rara em outras regiões do mundo (Bobadilla e cols., 2002). A mutação R1162X caracteriza-se por expressar fenótipos suaves da fibrose cística, causando insuficiência pancreática e insuficiência pulmonar moderada (CFGAC, 2004). Trabalhos realizados por Bernardino e cols. (2000) em São Paulo apontou uma frequência de 2.5% com valores inferior as pesquisas de Raskin e cols. (2001) em afetados nascidos em Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais detectando frequência de 4.8% para a mutação. R334W: É a décima sétima mutação mais frequente em CFTR na população mundial apresenta uma frequência de 0.16% (CFGAC, 2004). Localizada no exon 7. A mutação R334W expressa um fenótipo grave de insuficiência pancreática. Trabalhos realizados no Rio de Janeiro por Cabello e cols. (2001) indentificaram a mutação R334W em 2.6% de indivíduos com fibrose cística. Outros trabalhos realizados no Brasil por Bernardino e cols. (2000) em São Paulo encontraram uma frequência similar (2.5%) aos trabalhos realizados no Rio de Janeiro. Streit e cols. (2003) detectaram no Rio Grande do Sul a frequência de (1.3%). Pesquisadores sugerem que a mutação R334W foi introduzida no Brasil pelos espanhóis. G85E: É a décima quarta mutação mais frequente em CFTR na população mundial (CFGAC, 2004), apresentando uma frequência de 0.38%. Localizada no exon 3, apresenta fenótipo clinico moderado para insuficiência pancreática. Trabalhos realizados por Bernardino e cols. J u s t i f i c a t i v a | 32 (2000), na cidade de São Paulo encontraram uma frequência de 1,2%. Pesquisas em outras populações brasileiras feitas por Raskin e cols. (2001) apontam frequência para a mutação G85E de (3,5%) no estado de Minas Gerais. Vários estudos utilizando diferentes métodos de biologia molecular têm sido publicados no Brasil mostrando o perfil de mutação no gene CFTR em alguns estados ou regiões com algumas características especiais deste país são a sua dimensão geográfica e a variabilidade étnica de diferentes regiões. A frequência baixa dessas mutações encontradas em populações brasileiras quando comparada aos países europeus que colonizaram o Brasil e que contribuíram de forma importante na composição genética dessas regiões brasileiras, reflete o alto índice de miscigenação, característico de nosso país (Suarez-Kurtz, 2005). A pergunta que fizemos foi: qual seria o mecanismo que propiciou a fixação de indivíduos portadores de alelos fibrocísticos nesta região, através dos diversos ciclos de povoamento? Numa primeira abordagem, partimos da hipótese de que o processo de colonização desta região Amazônica propiciou a fixação de genes europeus, que justificam a incidência, ainda que baixa, de indivíduos fibrocísticos na região e analisamos o problema através de objetivos direcionados para a implantação de uma competência local em estudos de Doenças Genéticas como um primeiro passo para a resolução de problemas de Saúde Humana. | 33 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Caracterizar mutações no gene CFTR através da determinação de suas frequências gênicas e genotípicas em amostras da população de Rondônia. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Montando métodos de diagnóstico molecular para identificação de mutações fibrocísticas b) Determinando a frequência das mutações ∆F508, R1162X, G551D, R553X, N1303K, G85E, W1282X e R334W em algumas amostras de Rondônia, Amazônia Ocidental Brasileira. c) Comparando nossos resultados aos da literatura. d) Implantando uma competência local em Genética Humana no estudo de Fibrose Cística. | 34 MATERIAL E MÉTODOS POPULAÇÃO E ÁREA DE ESTUDO Foram coletadas amostras de três regiões de Rondônia, compreendendo a cidade de Porto Velho, capital do estado, a região Centro - Leste do estado (cidade de Cacoal) e vilarejo de Pedras Negras, situado no vale do rio Guaporé, também a Leste do estado de Rondônia. No total analisamos seis amostras. A figura 4 mostras estas áreas geográficas da coleta: Cacoal Pedras Negras Figura 4. Mapa do Brasil e de Rondônia mostrando a localização da área de estudo a. PORTO VELHO (“63°54’14” W; 08°45’43” S) A vila de Porto Velho foi criada em 1913 e em 2 de outubro de 1914 transformou-se em município. De 1971 a 1989 o garimpo foi a maior fonte econômica de Porto Velho e desde 4 de janeiro de 1982 é a capital do Estado de Rondônia. No começo do século XX Porto Velho era um povoado com cerca de 300 habitantes, quase todos homens, brancos, e algumas mulheres negras, havendo apenas uma mulher branca (Ferreira, 1987). Situava-se a cerca de sete quilômetros de Santo Antônio, vilarejo pertencente, na época, ao estado de Mato Grosso e cujo ponto foi escolhido para ser o início da ferrovia Madeira-Mamoré. Era uma região povoada por índios Torá, Mura, Caripuras, Pamas e outras nações indígenas que foram sendo M a t e r i a l e M é t o d o | 35 35 exterminadas tanto por missões jesuítas como pelos portugueses, que partiram para a conquista da região do rio Madeira, no final da primeira metade do século XVIII (Silva,1991). Em 1873, devido ao fluxo de migrantes para coleta de Latex, foi elevada à categoria de coletoria, passando a município em 1912. Hoje, Santo Antônio é um bairro de Porto Velho, e segundo alguns historiadores constitui uma relíquia histórica. Em 1907, por ocasião da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, a companhia ferroviária levantou, entre Porto Velho e Santo Antônio, um hospital ao qual foi dado o nome de Candelária, e cuja região constitui atualmente o bairro mais antigo de Porto Velho, no que se refere a sua população, constituída em grande parte por descendentes de antigos operários da estrada Madeira - Mamoré. Em seis anos (de 1907 a 1912) a companhia construtora contratou 21 783 homens, de diversas nacionalidades, sendo a maioria brasileiros vindo das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Entre os estrangeiros destacam-se antilhanos e barbadianos, espanhóis e portugueses, encontrando - se também, em números significantes, italianos, colombianos, alemães, franceses, russos, venezuelanos, bolivianos, norte-americanos (Ferreira, 1987). Localiza-se à margem direita do rio Madeira, o maior afluente do rio Amazonas, possuindo uma área de 58.310 km². Limita-se ao Norte com Humaitá (AM), ao Sul com Candeias do Jamari (RO), a Oeste com Guajará Mirim (RO) e a Leste com o estado do Acre. Possui uma estimativa populacional de 426.558 habitantes (IBGE, 2010). A população do município de Porto Velho é miscigenada, oriunda de várias ondas migratórias, principalmente a partir da segunda metade do século XX. A população urbana atual descende de imigrantes que vieram principalmente do Nordeste e Sul do Brasil. A partir dos anos 1970, através de programas patrocinados pelo Governo brasileiro, a zona urbana recebeu grande contingente humano proveniente do Sul e Sudeste brasileiros, assim como de indivíduos provenientes de outros estados da região Norte. Muitos dos atuais habitantes nasceram em Rondônia. Nesta região foram coletadas quatro amostras: 1) a. em Engenho Velho, localidade de características ribeirinha, situada na margem direita do rio Madeira, a 5 Km do centro da cidade, cuja atividade econômica baseava-se principalmente na pesca e na agricultura. Este bairro foi desocupado em 2010 para obedecer a normas de segurança, desde que estava na área das Usinas Hidroelétricas no rio Madeira, ainda em construção. A amostra populacional foi coletada em 2006 por pesquisadores do Laboratório M a t e r i a l e M é t o d o s | 376 36 de Genética Humana do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais (IPEPATRO, FIOCRUZ-RO), em colaboração com um grupo de médicos e paramédicos do Centro de Pesquisas em Medicina Tropical (CEPEM), ligado à Secretaria de Saúde (SESAU) do Governo do Estado de Rondônia, sob Coordenação do Dr. Mauro S. Tada. É constituída de 111 indivíduos adultos, sendo 55 não aparentados, de ambos os sexos. 2 e 3) Hospital de Base Dr Ari Pinheiro, situado na região central de Porto Velho, hospital estadual, local em que foram coletadas duas amostras: b. HBM, constituída de 305 mulheres que tiveram seus filhos no período de março a abril de 2005 e c. HBRN, constituída de 305 recém-nascidos, sendo 148 do sexo masculino e 157 do sexo feminino. As mães eram provenientes de várias localidades de Porto Velho, sendo que algumas moravam em cidades vizinhas. A coleta foi realizada com a cooperação de profissionais do Centro Obstétrico e do laboratório de Análises Clínicas do Hospital, em acordo firmado com o Dr. Amado Ahamad Rahhal, na época Diretor do Hospital. 4) d. HICD, amostra coletada no período de setembro de 2007 a dezembro de 2008 no ambulatório do Hospital Estadual Infantil Cosme e Damião, situado em bairro periférico de Porto Velho. É constituída de 1.000 crianças de ambos os sexos, com idades de 0 a 10 anos, sendo 496 do sexo masculino e 504 do sexo feminino. Algumas com sinais clínicos compatíveis com Fibrose Cística (diarréia e / ou infecções respiratórias) e recebiam prévia recomendação médica de rastreamento de mutações. Nesta amostragem, além de sangue também foi coletado 1 ml de swab bucal, sendo que o material foi mantido em recipiente refrigerado e as amostras foram conduzidas em recipientes apropriados até o laboratório de Genética Humana do IPEPATRO. b. CACOAL (CAO; 11° 26′ 19″ S, 61° 26′ 50″ W) De acordo com o censo de 2010, a população de Cacoal era de 77.982 habitantes. Possui uma área de 3792.64 Km2. A amostra, coletada no ano de 2008, é composta por 84 indivíduos, sendo 39 do sexo masculino e 45 do sexo feminino, que procuraram atendimentos clínicos para várias condições patológicas, dentre elas pneumonia e diarréia, na Unidade Mista do Hospital Estadual da cidade. M a t e r i a l e M é t o d o s | 37 c. VALE DO GUAPORÉ (62°54’ O; 12°51’ S) Representada por Pedras Negras (PN), vilarejo situado no vale do rio Guaporé. Pertence ao município de São Francisco do Guaporé, em uma zona de transição entre o Pantanal Matogrossense e a Amazônia. Esta localidade é composta em grande parte por remanescentes de Quilombolas do Vale do Guaporé, descendentes de escravos que trabalharam nas minas de ouro, entre 1734 e 1835, da antiga capital do Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade. Foram analisados 35 indivíduos adultos, não aparentados, sendo 18 homens e 17 mulheres. A primeira coleta foi realizada em 2002, por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Genética Humana do IPEPATRO e médicos da cidade de Costa Marques, cidade localizada próximo a Pedras Negras. Nova visita foi feita em 2007, para coleta de novas informações antropogenéticas e de material biológico. No total, foram coletas amostras de 1840 indivíduos, sendo 146 de amostra populacional e 1.694 de amostra hospitalar (tabela 2). Tabela 2. Amostras (total de indivíduos/localidade) analisadas Total Sexo Porto Velho Masculino Feminino 1.HICD 496 504 1000 2.HB (Mães) - 305 305 3.HB (RNs) 148 157 305 4.Engenho Velho 72 39 111 39 45 84 6. Pedras Negras 18 17 35 Total 773 1067 1840 Região Central de Rondônia 5.Cacoal Região Vale do Guaporé M a t e r i a l e M é t o d o s | 38 COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO Em todas as amostras o procedimento de coleta de material biológico e de dados antropogenéticos foi o mesmo. Na coleta de dados antropogenéticos (anexo I) foram obtidas informações sobre etnia, baseada na cor da pele e características morfológicas dos sujeitos das amostras, que foram classificados em Branco, Negro, Mulato e Amarelo. Foram coletados 5 ml de sangue periférico em tubos contendo EDTA, após consentimento escrito (anexo II). Nos recém-nascidos da amostra do Hospital de Base o sangue foi coletado no cordão umbilical e nas amostras das crianças do Hospital Infantil Cosme e Damião. Além de sangue foram também coletadas células da mucosa bucal (swab), armazenadas em 1 ml de cloreto de sódio a 0.9%. O sangue coletado foi transportado em recipientes refrigerados até o laboratório de Genética Humana do IPEPATRO, processado até 10h após a coleta para separação de hemácias e de leucócitos, armazenado a -20°C, até o momento de uso, em alíquotas, para melhor conservação das amostras. PROCEDIMENTOS DE ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS: Tanto a coleta das amostras, como o processamento, armazenamento e formação de banco de dados, seguiram as normas do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP, resolução 196/96; Projeto aprovado sob número CONEP 3349/ 2001 e renovado sob o número 13. 356/ 2007. MÉTODOS LABORATORIAIS 1. Extração de DNA de leucócitos do sangue periférico O DNA foi extraído segundo protocolo descrito por Higuchi (1989), a partir de 500 μl de sangue total, logo após a coleta, sendo em seguida armazenado a – 20°C até o momento da análise (anexo III). O sangue remanescente foi centrifugado e armazenado, sendo a fase leucocitária (Buffer Coat) tratada com glicerol tamponado (Citrato de potássio tribásico 0.1 M; fosfato de sódio monobásico dihidratado 0.345 M; fosfato de sódio bibásico anidro 0.0344 M; glicerol 60 % e água destilada 40 %) e armazenada a – 20°C para futuras análises. M a t e r i a l e M é t o d o s | 39 2. Reação da Polimerase em Cadeia (PCR) Os alelos analisados (ΔF508, N1303K, G551D, R553X, R1162X , W1282X, R334W e G85E) foram detectados através da técnica do PCR (Saiki e cols., 1988), em gel de poliacrilamida a 10%, por aparelho termociclador Eppendorf modelo Mastercicler, utilizandose primers descritos na tabela 4 e 5 seguindo-se protocolos descritos na tabela 3. Os reagentes utilizados na PCR compreenderam dNTPs 100mM, Taq DNA Polimerase 5U/μl, tampão 10X da Enzima Taq, MgC2 50mM, primers específicos (Tabela 03) e 4µL de DNA genômico para um volume final de reação de 25µL. A análise dos resultados deu-se em gel de agarose 1.5% com corrida eletroforética a 100 V em tampão TBE 10X (Tris-HCl 0.89 M; Ácido Bórico 0,89 M e EDTA 10 mM) corado com brometo de etídio e visualização em luz UV. Também foi utilizado gel de Poliacrilamida a 10% (PAGE) com corrida eletroforética a 100 V corado com nitrato de prata 10% (AgNO 3). O tempo de corrida variou entre 1 hora a 3 h, conforme o sistema a ser analisado. Tabela 3. Concentração dos reagentes utilizados na reação de PCR e temperaturas de pareamento (Tp) usadas para a amplificação por PCR. Éxon 11 Éxon 3 Éxon 7 Éxon 10 Éxon 19 Éxon 20 Éxon 21 Reagentes G551D e G85E R334W ∆F508 R1162X W1282X N1303K R5532X DNA (µL) 4,0 µL 4,0 µL 4,0 µL 4,0 µL 4,0 µL 4,0 µL 4,0 µL Iniciadores 2,0 µL 2,0 µL 1,0 µL 2,0 µL 1,5 µL 1,5 µL 1,5 µL Tris-HCl, pH 8,4 (10.0 Mm) 2,5 µL 2,5 µL 2,5 µL 2,0 µL 2,0 µL 2,5 µL 2,5 µL dNTP 2,0 µL 0,3 µL 0,3 µL 0,2 µL 0,2 µL 0,3 µL 0,1 µL MgCl2 1,2 µL 0,6 µL 0,3 µL 0,6 µL 0,6 0,6 0,3 µL Taq polimerase (5 U) 0,1 µL 0,3 µL 0,3 µL 0,1 µL 0,1µL 0,3 µL 0,1 µL Água qsp(µL) 11,2 µL 13,3 µL 15,6 µL 14,1 µL 15,1 µL 14,3 µL 15 µL 94°C/3’ 94°C/5’ 94°C/1’ 94°C/5’ 94°C/1’ 94°C/5’ 94°C/6’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/30’ ’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 54°/1’ 55°C/1’ 55°C/1’ 58°C/1’ 62°C/1’ 58°C/1’ 58°C/1’ 72°C/3’ 72°C/3’ 72°C/2’ 72°C/1’ 72°C/3 ‘ 72°C/1’ 72°C/2’ 72°C/5’ 72°C/5’ 72°C/7’ 72°C/1’ 72°C/7’ 72°C/5’ 72°C/7’ 30 30 30 35 35 35 30 Programa Nº. de ciclos M a t e r i a l e M é t o d o | 40 A concentração dos reagentes utilizados na reação de PCR, ciclos de desnaturação térmicas do DNA, pareamento dos iniciadores em temperaturas adequadas, extensão dos iniciadores promovida pela enzima Taq DNA polimerase. As sequencias dos iniciadores (oligos) e as enzimas de restrição estão descritos nas tabelas 4. Tabela 4. Descrição da sequência dos iniciadores utilizados na PCR dos exons 3, 7,11, 19 , 20 e 21, tamanho dos fragmentos resultantes desta reação e enzimas de restrição específicas. Mutação Sequência 5’ 3’ Tamanho do fragmento Enzima de Restrição Referencia Éxon 3 G85E 5’-CTTgggTTAATCTCCTTggA-3’ 5’-ATTCACCAgATTTCGTAgTC-3’ 309 pb Hinf I 1 7 R334W 5’-gATCTTCCATTCCAAgATCCC-3’ 5’-ATCATAgTATATATAATgCAgC-3’ 358 pb Msp I 2 11 G551D 5’-CAACTgTggTTAAAgCAATAgTgT-3’ 5’-gCACAgATTCTgAgTAACCATAAT-3’ 425 pb Mbo I 3 11 R553X 5’-CAACTgTggTTAAAgCAATAgTgT-3’ 5’-gCACAgATTCTgAgTAACCATAAT-3’ 425 pb Hinc II 4 19 R1162X 5’ gCCCgACAAATAACCAAgTg 3’ 5’ gCTAACACATTGCTTCAggCT 3’ 454 pb Dde I 5 20 W1282X 5’-ggTCAggATTgAAAgTgTgCA-3’ 5’-CTATgAgAAAACTgCACTggA-3’ 473 pb Mnl I 6 21 N1303K 5’-CAATACAATAAgggAAAAAT-3’ 5’-AATgATGTCAgCTATACAg-3’ 59 pb Bstn I 7 1. Zielenski e cols, 1991; 2. Streit e cols, 1999; 3. Cutting e cols,1990a; 4. Cutting e cols, 1990a; 5. Gasparini e cols, 1991; 6. Vidaud e cols 1990; 7. Osborne e cols, 1991 Tabela 5. Descrição da sequência dos iniciadores utilizados na PCR do exon 10 e tamanho do fragmento resultante desta reação. Éxon Mutação 10 ∆F508 Sequência 5’ 3’ 5’ – gTTTTCCTggATTATgCCTggCAC -3’ 5’- gTT GGCAgCTTTgATgA CgC TTC- 3’ Tamanho do fragmento Tamanho do Fragmento Mutante 98 pb 95pb Referencia 1 1.Kerem e cols, 1989 3. Identificação dos Alelos do gene CFTR 3.1. O Alelo ΔF508 A identificação da mutação ΔF508 foi realizada em gel de agarose e poliacrilamida, com primer descrito na Tabela 6. O indivíduo normal gera um fragmento de 98pb e o portador de ΔF508, um de 95pb. Os indivíduos heterozigotos, portanto, apresentam fragmentos de 98 e 95pb (Kerem e cols 1989; figuras 5 e 6). M a t e r i a l e M é t o d o | 41 F i g u ra 5. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10%: Marcador de peso molecular de 100 pb. Produto de PCR, nas colunas 1 a 22 indivíduos homozigotos normais para a mutação e na ultima coluna o controle negativo. M PCR 1 nnN 2 3 4 5 N Figura 6. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10%: Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR, detecção do alelo ∆F508. Nas colunas 1 a 5 indivíduos heterozigoto para mutação ∆F508. Os alelos R334W, G85E, G551D, R553X, W1282X, N1303K, R1162X: Digestão enzimática (RFLPs). A identificação de sete alelos analisados nesta Tese foi realizada através de PCR seguida de digestão enzimática com enzimas especificas (Tabelas 4). O produto da PCR dos marcadores RFLPs foi digerido após a confirmação da amplificação do produto da PCR, sendo posteriormente visualizados em gel de Poliacrilamida e corados com Nitrato de Prata a 10%. Cada mix de reação teve um volume final de 25 µl. As condições de digestão foram desenvolvidas de acordo com o seguinte protocolo: M a t e r i a l e M é t o d o s |42 O alelo R334W Análise do alelo R334W utilizou-se a enzima Msp I, sendo que a ausência da mutação cria um sítio de reconhecimento da enzima que cliva o produto da PCR em dois fragmentos de 206, 152 pb . A presença da mutação reconhece um fragmento do tamanho de 358 pb (figura 7). M PCR N 1 2 358 pb 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 206pb 50 pb 152 pb Figura 7. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutação R334W. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR, Nas colunas 1 a 21 digestão do produto da PCR. Presença do alelo R334W nas colunas 16 e 21 indivíduos heterozigotos para mutação R334W. O alelo G85E Para análise do alelo G85E localizado no éxon 3 utilizou-se a enzima HinfI. A ausência da mutação cria um sitio de reconhecimento da enzima que cliva o produto da PCR em três fragmentos de 172,105 e 32 pb . Já a presença da mutação reconhece apenas um fragmento de 277 pb (figuras 8 e 9). M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 N 309 pb 100 pb Figura 8. Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para detecção da mutação G85E. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 9 produtos de PCR resulta em fragmento de 309 e ultima coluna controle negativo. M a t e r i a l e M é t o d o s |43 M PCR 1 2 309 pb 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 N 172 pb 100 pb 105 pb Figura 9. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação G85E. Marcador de peso molecular de 100 pb. Produto de PCR, Nas colunas 1 a 19 digestão do produto da PCR – indivíduos normais. O alelo G551D Para análise da mutação G551D utilizou-se a enzima Mbo I quando a mutação está presente são gerado dois fragmentos de 242 pb e de 183 pb . E quando a mutação está ausente gera apenas um fragmento de 425 pb ( figura 10 e 11). M 1 2 3 4 5 6 7 N 425 pb 100 pb Figura 10. Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para a detecção da mutação G551D. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 7 produtos de PCR resulta em fragmento de 425 e ultima coluna controle negativo. M N 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 425 pb 50 pb Figura 11. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutaçãoG551D. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR, Nas colunas 1 a 13 digestão do produto da PCR. Todos os indivíduos normais para a mutação. M a t e r i a l e M é t o d o s |44 O alelo R553X Enquanto para análise da mutação R553X utilizou-se a enzima Hinc II. E quando não possui sítio de reconhecimento que corta o produto de PCR permanece com o tamanho do produto de PCR 425 pb. É gerando dois fragmentos normais de 239 e 186 (figuras 12 e13). M M 1 2 1 3 2 4 425 100 5 3 6 4 7 5 N 6 7 8 9 pb pb Figura 12. Eletroforese em gel de agarose a 1.5% para a detecção da mutação R553X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 9 produtos de PCR resulta em fragmento de 425 e ultima coluna controle negativo M PCR 425 pb 1 2 3 4 5 6 239 7 100 pb 186 Figura 13. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para a detecção da mutação R553X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Nas colunas 1 a 7 digestão do produto da PCR. Todos os indivíduos normais para a mutação. N M a t e r i a l e M é t o d o s |45 O alelo W1282X Para detecção da mutação W1282X localizada no éxon 20, utilizou-se a enzima Mnl I, que identifica três fragmentos de 178, 172 e 123 pb para indivíduos normais e para indivíduos com a mutação revela dois fragmentos de 301 e 172 pb (figura14). M PCR 1 2 3 4 5 6 7 8 M N PCR 1 2 3 4 5 N 473 pb 18 N18 178 pb 172 pb 50 pb 96 107 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 N 8 9 1 0 11 12 13 14 15 16 17 18 123 pb Figura 14. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação W1282X. Marcador de peso molecular de 50 pb. Produto de PCR. – 473 pb. Nas colunas 1 a 19 digestão do produto da PCR indivíduos normais – 178,172 e 123 pb. E na ultima coluna controle negativo. O alelo N1303K Para análise da mutação N1303K, localizada no éxon 21, utilizou-se a enzima Bstn I. Reconhece um fragmento de 59 pb nos indivíduos que possuem a mutação e nos indivíduos normais cliva o fragmento em 30 e 19 pb. No caso de indivíduos heterozigotos aparece um pequeno fragmento de 10 pb (figura 15). M N PCR 1 18 N18 59 pb 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 30 pb 50 pb 19 pb 10 pb Figura 15. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação N1303K. Marcador de peso molecular de 50 pb. Controle negativo. Nas colunas 1 a 18 digestão do produto da PCR. M a t e r i a l e M é t o d o s |46 O alelo R1162X Para a análise da mutação R1162X, no éxon 19, utilizou-se a enzima Dde I . A ausência da mutação cria um sítio de reconhecimento da enzima que corta o produto da PCR em dois fragmentos de 275 e 179pb. A mutação reconhece mais um sítio de restrição, que cliva o fragmento de 179 pb em dois fragmentos, um de 143 e outro de 132pb. Assim, os indivíduos que possuem a mutação apresentam os fragmentos de 179, 143 e 132pb (figura 16). M PCR 1 2 100p 454 pb b 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 N 275 pb 179 pb 100pb Figura 16. Eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% para detecção da mutação R1162X. Marcador de peso molecular de 100 pb. Produto de PCR. 454 pb. Nas colunas 1 a 19 digestão do produto da PCR – indivíduos normais - 275 e 179 pb para mutação. M a t e r i a l e M é t o d o s |47 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Todos os dados obtidos nesta Tese foram armazenados em planilha eletrônica (Microsoft Excel, versão 2007). As estimativas de frequência gênica e genotípica e respectivos desvios foram obtidos por verossimilhança máxima, através do programa BioEstat , versão 5.3. Foram utilizados testes não- paramétricos, que são apropriados em análises em que o tamanho amostral é reduzido e os valores não apresentam distribuição normal, como o caso dos dados utilizados nessa pesquisa. O nível de significância adotado foi de 5%, nesta e em todas as análises estatísticas efetuadas. A aderência das frequências genotípicas, observadas às proporções de HardyWeinberg, foi calculada pelo teste do qui-quadrado, com intervalo de confiança de 95% (p= 0.05), através do programa GENEPOP, versão 3.4 (Raymond e Rousset, 1995). A precisão das estimativas pontuais foi determinada pelo Intervalo de Confiança de 95% (IC95%). Este parâmetro estatístico foi utilizado para podermos comparar, com controle sobre as divergências observadas, as diferentes populações analisadas . Foi calculado segundo método descrito por Wilson, 2008. |48 RESULTADOS CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS SEGUNDO DADOS ANTROPOGENÉTICOS Os parâmetros utilizados na caracterização das amostras de Rondônia foram: etnia, gênero masculino/feminino, cor da pele. As tabelas 6,7, 8 e 9 resumem os dados obtidos. Tabela 6. Distribuição dos indivíduos das amostras do Hospital Infantil (HICD), das Mães da maternidade do Hospital de Base (Mães-HB), seus respectivos filhos (RN-HB), Engenho Velho, Cacoal e Vale do Guaporé de acordo com a etnia, determinada pela cor da pele e por traços físicos. População Branco % Mulato % Negro % Ameríndio % HICD 17 77,5 4,9 0,6 Mães (HB) 19,4 75,1 5,2 0,3 RNs (HB) 17,6 82,2 0,1 0,1 Engenho Velho 15,3 75,7 9 - Cacoal 84,5 13,5 2,4 - Pedras Negras 16 62 22 - CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS SEGUNDO AS FREQUÊNCIAS ALELICAS Dos 2000 alelos analisados no HICD, foram encontrados 13 alelos mutantes ∆F508 Prevalência aproximada de 1/154. (p = 0,0065). Na amotras RN, dos 610 alelos analisados, 6 são alelos mutantes para ∆F508 Prev ≅ 1/102 (p = 0,0098) (tabela 7). M a t e r i a l e M é t o d o |49 Tabela 7. Frequências do alelo ∆F508 nas amostras estudadas. Alelos (ΔF508) Frequência ΔF508 Χ2 p 1. Crianças (HICD) 1974 (13) 0,0065 ± 0,006 0,0428 0,1639 2. Mães (HB) 3. Recem Nascidos (HB) 4. Engenho Velho 610 (0) 598 (6) 222 (0) Nulo 0,0098 ± 0,008 Nulo 0,0301 - 0,1377 0,0060 ± 0.000 0,0030 0,0435 Nulo - Amostras Micro-região: Porto Velho Micro-região: Central de Rondônia 5. Cacoal 166 (1) Micro-região: Vale do Guaporé 6. Pedras Negras 70 (0) Total: Normal 3640 Normal + 20 ΔF508 = 3660 Alelos Tabela 8. Frequências dos alelos DF508, R334W e N1303K na Amostra do hospital Infantil Cosme e Damião, Porto Velho-RO. Genótipo Frequência genotípica N/N N/A Total ∆F508 987 13 1000 R334W 998 2 1000 Frequência alélica N1303K 998 2 1000 N 0,9935 0,999 0,999 A 0,0065 0,001 0,001 N= normal A= variante M a t e r i a l e M é t o d o |50 A tabela 9 mostra as frequências de dois alelos em duas amostras do Hospital de Base de Porto Velho: Frequência Alelos HB (Mães) 305 (0) Nulo 3050,00 E+09 0,0000 305 (0) Nulo HB (RNs) 299 (6) 0,019 0,0300 0,1376 305 (0) Nulo Χ2 3050,00 E+09 0,0300 P 0,0000 0,0000 ∆F508 Χ2 P R1162X Tabela 9. Mostra as frequências de dois alelos em duas amostras do Hospital de Base de Porto Velho. Incidência da fibrose cística Para estimar o número real de heterozigotos em uma população, é necessário saber qual a proporção de alelos mutantes está sendo detectada. O índice de detecção deverá ser derivado do conhecimento das proporções alélicas das mutações entre pacientes com FC. Também não podemos descartar o fato de que para se efetuar cálculo de incidência de doença pela triagem de heterozigotos, é necessário que a população esteja em equilíbrio de Hardy-Weinberg, ou seja, ausência de migração ou seleção preferencial. Já é consenso que eventos mutacionais novos são raros, entretanto a seleção preferencial de heterozigotos ainda não está totalmente estabelecida. Uma outra estimativa a incidência da FC seria utilizar valores bem estabelecidos de outras amostras com os dados populacionais de cada cidade estudada. Para tanto, no caso dos caucasóides utilizaremos a incidência da FC em Portugal 1:3.500, para os negros e pardos utilizaremos a incidência de 1:17.000 e no caso de indígenas ou orientais, esta incidência poderá ser negligenciada devido a sua raridade. Desta forma, o cálculo da incidência da FC foi estimado de acordo com a distribuição étnica dessas cidades. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )≅ |51 DISCUSSÃO Nesta tese iniciamos um procedimento de rastreamento de mutações do gene CFTR, que é o loco gênico responsável pela doença Fibrose Cística. As mutações são responsáveis por alterações estruturais da cadeia proteica, ocasionando a doença, cuja gravidade é variável, dependente da natureza das mutações. Foram analisadas seis amostras coletadas em três regiões de Rondônia, que se localiza na região Noroeste do Brasil, a Amazônia Ocidental: as cidades de Cacoal (uma amostra), Porto Velho (Recém-nascidos e respectivas Mães do Hospital de Base; Hospital Infantil e o vilarejo ribeirinho, Engenho Velho, num total de quatro amostras), e uma amostra de quilombolas da região centro-sul de Rondônia, o vilarejo de Pedras Negras. Em Rondônia, a colonização européia começou aproximadamente em 1650 em uma região pouco habitada por povos indígenas, que se instalaram no Vale do rio Guaporé (Pinto, 1993). Os colonizadores portugueses e posteriormente as populações africanas, provenientes do sistema escravista, povoaram o território, no que foram seguidos pela imigração de italianos, alemães, espanhóis, japoneses, até o final do período de Império no século XIX (Martins e cols, 1993). Segundo historiadores, no início do povoamento, houve uma tendência de casamento entre o homem europeu, que para o Brasil se deslocava, e a mulher indígena, na formação da população da região norte do Brasil (Hugo, 1959). Na história de povoamento de Rondônia, as décadas de 70 e 80 foram um período auge da colonização, sendo o processo de ocupação linear, ao longo da BR 364 (Martine, 1978), tendo os imigrantes vindos, em sua maioria, das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, principalmente dos estados do Paraná, Minas Gerais , Espírito Santo e Rio Grande do Sul (Oliveira, 2000). Houve concentração principalmente nas áreas de Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno, Ariquemes, cidades situadas na região centro-Leste de Rondônia. Neste trabalho de Tese, observamos uma concentração, ainda que de baixa frequência, de mutações fibrocísticas, na região que acompanha a BR 364, por onde vieram os imigrantes do S e SE, no Programa Governamental de Assentamento Agrário da segunda metade do século XX. A tabela 8 mostra as frequências dos oito alelos investigados. Apenas três alelos foram detectados: o ΔF508, o NI303K e R334W. As amostras de Recém-nascidos do Hospital de Base e Crianças do Hospital Infantil Cosme e Damião, ambos da cidade de Porto Velho, apresentaram a mutação ΔF508 em úmero estatisticamente mensurável (0.98% e 0.65%, respectivamente, tabela 7). O valor de requência da amostra de RN (0,0098 ± 0,008 com o valor de p = 0,1377) evidencia que este grupo não D i s c u s s ã o |52 adere às condições de equilíbrio de Hardy- Weinberg. De acordo com Kitzis e cols. (1988), a herança do alelo ∆F508 é preferencial sobre o alelo normal pelos filhos de pai portador da mutação sugerindo a interação dos alelos do gene CFTR e do cromossomo Y (Pritchard 1991). Observamos que nos RN, o alelo mutante não veio de nenhuma mãe da amostra, em que a frequência deste alelo foi nula. Portanto, os RN herdaram o gene através de seus respectivos progenitores masculinos. Também, numa análise de mtDNA realizada nas duas amostras do Hospital de Base (Cantanhede e cols., 2010) foi obtida uma frequência de 64% de haplótipos Ameríndios (em ambas as amostras), havendo coerência entre estes resultados e a história de povoamente sumariamente discutida acima. Apenas um indivíduo de Cacoal apresentou o alelo ΔF508, mesmo se a amostra, pela cor da pele, era constituída por 84,5% de indivíduos caucasóides. Esta determinação de mistura étnica foi obtida pela análise de cor da pele, realizada por enfermeiros no momento da internação do indivíduo. Com exceção desta amostra de Cacoal, as outras populações estudadas nesta Tese apresentaram o padrão de mistura característico das populações brasileiras. Estes dados já foram descritos, nesta região, em trabalhos anteriores envolvendo estes indivíduos (Farias e cols., 2012; Casseb e cols., 2008; Heckmann e cols., 2005). A detecção de seis alelos ΔF508 em 305 recém nascidos do hospital de Base mostra que esta mutação, que é a mais frequente em população cacausoides, foi observada em 1: 101 cromossomos. Esta frequência observada está de acordo com a historia de povoamento da região norte do Brasil, em que houve uma tendência de casamentos entre mulheres Ameríndias com homens descendentes de imigrantes europeus (CarvalhoSilva e cols, 2001). Nenhuma mãe do HB apresentou a mutação no gene CFTR, sendo esta uma evidencia de herança de que o alelo ΔF508 encontrado nos RNs veio de origem paterna. A análise do DNA mitocondrial (mtDNA) nestas amostras de mães e recém nascidos mostrou a presença de haplótipos Ameríndios com frequência de 64% em ambas as amostra. No Hospital Infantil também foram observadas as mutações NI303K e R334W, duas vezes cada. Não houve casos de homozigotos, mesmo se alguns indivíduos apresentassem sinais clínicos de Fibrose Cística. Nas análises realizadas nas amostras do HICD, observamos uma frequência de heterozigotos igual a 0,0065. Sabendo-se que a mutação ΔF508 corresponde a aproximadamente 50% dos alelos de indivíduos com FC no Brasil, obtêm-se a frequência dos alelos causadores de FC utilizando a proporção: (0,0065/0,5)=0,013. Essas informações nos leva a estimar qual seria a incidência de fibrocísticos nessa amostra como aproximadamente de 1/5917 indivíduos. D i s c u s s ã o |53 Esses resultados divergem de encontrados em outras populações, como a do Rio Grande do Sul, cuja contribuição caucasóide à constituição étnica da população é maior que a observada na região Norte, local da Pesquisa da Tese, levando a uma maior incidência de fibrocísticos na população (1:1.587; Raskin e cols,2007). Gontijo (2008), trabalhando com amostras do Vale do Guaporé, analisada por marcadores informativos de ancestralidade (AIM), encontrou uma composição étnica igual a 42% de Ameríndios, seguido por Africanos (37%) e Europeus (21%). Esta região, povoada primeiramente por Amerindios, posteriormente ocupada por escravos Africanos (quilombolas) foi envolvida por ondas migratórias do século XX e embora o percentual de genes caucasóides seja significativo (21%) não foi possível detectar nenhuma das mutações analisadas. No Brasil a incidência de Fibrose Cística em afro-brasileiros é desconhecida, uma vez que não há estudos epidemiológicos abrangentes que permitam avaliar integralmente as variações étnicas regionais. Na população desse estudo, pelas características étnicas próprias, além dos fatores descritos acima, a ausência de alelos mutantes pode reforçar a hipótese de que esta população negra teria uma mutação própria, como já sugerida por Padoa e cols. (1999). A amostra ribeirinha de Porto Velho foi representada neste trabalho pelos indivíduos de Engenho Velho, oriundos do Amazonas e de Rondônia. Não foi observado nenhum alelo mutante nesta amostra. Trabalho realizado por Leal-Mesquita, 2001 no estado do Maranhão (Tabela 10) confirma o fator “povoamento” como causa da alta/baixa prevalência da mutação ∆F508 em seus estudos, que chegou ao alto nível de 5,4% na amostra de Santa Flora, de origem portuguesa. Esta frequência polimorfica é bem próxima à encontrada em países europeus, e pode ser explicada como o resultado de um efeito do fundador, que deriva dos Portugueses que povoaram a região. Na região Sul, a baixa frequência do alelo ΔF508, detectada nos trabalhos de Marostica (1995) e Raskim e cols., (2008), refletiu a origem geográfica deste alelo. Estes resultados são uma comprovação da influencia da miscigenação na frequência da mutação ΔF508 em populações povoadas por individuos oriundos de diversas regiãoes geográficas e etnias diferentes. Estes resultados estão descritos na tabela 10, em que podemos observar que os resultados não diferem significantemente dos observados em outras regiões brasileiras. D i s c u s s ã o |54 Tabela 10. Frequência da mutação ∆F508 em diferentes populações do Brasil. Regiões Estados/Cidade N Brasileiras N % Alelo Bahia*** 1002(4) 1006 0,40 IC IC 95% 95% 0,13 0,0109 Referência Moura-Costa e cols. (2007) Maranhão Nordeste Pontal ** 108 (0) 108 Zero Zero 0,0428 Cajual** 78 (0) 78 Zero Zero 0,0585 Santa Flora* 70 (4) 74 5,41 1,75 0,1399 Rio Grande do Sul* 1043 (13) 1056 1,23 0,69 0,0215 Raskin e cols. (2008) RN Rio Grande do 334 (4) 338 1,18 0,38 0,0321 Maróstica e cols. Sul* Sul (1995) Santa Catarina* 995 (5) 1000 0,50 0,18 0,0123 Paraná* 1051 (5) 1056 0,47 0,17 0,0116 Guarani 160 (0) 160 Zero Zero 0,0292 (Amerindia) Kaingang Leal Mesquita. (2001) Raskin e cols. (2008) Faucz e cols (2007) 166 (0) 166 Zero Zero 0,0282 Minas Gerais* 1228 (4) 1232 0,32 0,10 0,0088 Raskin e cols. (2008) Rio de Janeiro*** 589 (3) 592 0,51 0,13 0,0161 Cabello e cols. (1999) RN Rio de Janeiro 223 (1) 224 0,45 0,02 0,0285 Cabello e cols . (2003) São Paulo* 1019 (3) 1022 0,29 0,07 0,0093 Raskin e cols. (2008) HICD *** 1987(13) 2000 0,65 0,36 0,0114 Este trabalho 305 (6) 610 0,98 0,40 0,0224 Este trabalho (Amerindia) Sudeste *** Norte HB *** *Caucasoide ); ** (Afro-Brasileiro); *** (Tri- hibrida); RN (Recém Nascido) Comparando os resultados obtidos neste rastreamento da mutação ΔF508 em Rondônia com os observados em outras regiões brasileiras observamos diferenças de frequências que seguramente refletem a incidência maior ou menor de genes caucasoides na composição étnica das populações. A distribuição heterogênea, ao longo do território brasileiro, das três etnias que compõem sua população, explicam o alto grau de diversidade genética observado em nas diferentes regiões do Brasil, resultado desta mistura em variadas proporções das etnias caucasóide, negróide e ameríndia (Salzano e Freire-Maia, 1967). D i s c u s s ã o |55 No caso de genes fibrocísticos não se descarta uma possível alta taxa de mortalidade infantil (cujas causas primárias seriam doença pulmonar e gastrointestinal) levando a não sobrevivência dos afetados e/ou o retardo no reconhecimento da doença. Outros fatores seriam as dificuldades de acesso aos serviços de saúde e aos exames diagnósticos (Raskin e cols., 2003). A mutação ∆F508, na forma homozigótica, é responsável por um fenótipo grave da Fibrose Cística, como insuficiência pancreática, doença pulmonar muito grave que a observada em Fibrose Cística causada por outras mutações (Mickle e Cutting 2000). A ausência do genótipo ∆F508/∆F508 neste trabalho pode ser explicada tanto pelo tamanho amostral, pela grande diversidade na composição étnica entre as amostras e também pela ausência de diagnósticos precoces, que levariam a atendimentos médicos mais eficazes, e pela morte precoce dos indivíduos afetados. Segundo Rowntree e Harris (2003) fenótipos fibrocísticos não Δ F508 em geralo não apresentam problemas graves no sistema digestivo e respiratório e têm uma qualidade de vida que se aproxima da normalidade. No Brasil, as primeiras investigações de rastreamento de mutações em indivíduos fibrocísticos indicaram que o ΔF508 encontrava-se em 47% dos pacientes, contra 66% de pacientes norte-americanos. A alta miscigenação da população brasileira foi evidente em pacientes fibrocísticos de Minas Gerais, em que este alelo foi o responsável pela doença em 53% dos indivíduos caucasóides e em 24% dos negróides. As outras mutações encontradas foram G542X (5,5%), G551D (0.2%), N1303K (2.6%) e R533X (0.8%) (Reis e Damasceno, 1998). A dificuldade na descrição da identidade molecular da Fibrose Cística persiste até hoje, mesmo se a metodologia molecular para detecção da mutação responsável esteja atualmente com uma sofisticação que facilita e acelera o processo. A dificuldade reside ainda na escolha do alelo a ser investigado. Escolhemos os alelos ∆F508, N1303K, W1282X, G551D, R553X, R1162X, G85E e R334W devido às características clínicas da doença resultante, compatíveis com o fenótipo observado em alguns pacientes da Secretaria de Saúde de Rondônia, e pelas informações obtidas das frequências delas em pacientes fibrocísticos brasileiros. Além do ΔF508 encontramos os alelos R334W e N1303K na amostra de crianças do Hospital Infantil, entre os indivíduos classificados como caucasoides, pela cor da pele. Foram dois indivíduos, para cada alelo, e a frequência de cada um deles foi bem baixa (0,001), em heterozigose com o alelo normal (tabela 8). Numa investigação realizada em fibrocísticos na cidade do Rio de Janeiro, Cabello e cols. (2001) identificaram a mutação R334W como a responsável pela doença em 2.6% dos D i s c u s s ã o |56 indivíduos analisados, cujos resultados foram similares ao de Bernardino e cols. (2000) em amostra de São Paulo. No Rio Grande do Sul, esta mutação foi detectada em 1.3% de indivíduos analisados. O alelo N1303K não foi encontrado em amostras do Rio de Janeiro (Fernandes e cols., 1994; Cabello e cols., 1999) mas foi detectado em pacientes de São Paulo (2.5%; Bernardino e cols., 2000). Os alelos R1162X, G85E, W1282X, G551D, R553X não foram detectados nas amostras de Rondônia, mas entre os fibrocísticos de São Paulo (Bernardino e cols., 2000), R1162X foi a terceira mais frequente (2,5%) e valores mais altos foram observado entre pacientes de Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais (4,8%; Raskin e cols, 2001). Entre Ameríndios de isolado americano e em Italianos do Sul do país, Mercier e cols. (1994) observaram-na em baixa frequência (0,02%). Esta mutação é uma das poucas mutações fibrocísticas descritas em populações Ameríndias. Os outros alelos não encontrados neste trabalho já foram detectados em pacientes fibrocísticos de outros estados brasileiro, em baixas frequências, com exceção de alguns trabalhos referentes ao Rio de Janeiro e Minas Gerais (tabela 11). Discute-se o problema de diagnóstico tardio de Fibrose Cístico e apesar de o problema já ter sido levantado há algum tempo (discutido em Reis e Damasceno, 1998) não existe, até o momento, a rotina de realização de teste neonatal em hospitais públicos e particulares de várias regiões do Brasil. Os testes diagnósticos, quando realizados, muitas vezes já encontra o paciente desnutrido e acometido de doenças graves, pulmonares, principalmente (Sih e cols., 2012). Apesar da especificidade proporcionada pelos testes genéticos, estes se tornam não apropriados quando alguns parâmetros não são levados em consideração, como a estrutura genética da população, origem étnica e geográfica dos indivíduos que a compõem, etc. D i s c u s s ã o |57 Tabela 11: Frequências de alelos do gene CFTR em alguns estados brasileiros Alelo G551D R553X G85E W1282X Frequência (%) Referência 1,1 Rio de Janeiro Cabello e cols., 1999 0,9 São Paulo Raskim e cols.,2001 1,04 São Paulo Alvarez e cols., 2004 0 Sta Catarina Raskin e cols., 2003 0 Paraná Raskin e cols., 2003 0 São Paulo Correia e cols.,2005 0,2 Rio Grande do Sul Raskin e cols., 2001 0,76 Sta Catarina Raskin e cols., 2001 1,6 Paraná Raskin e cols., 2001 0,8 Rio Grande do Sul Raskin e cols., 2001 1,6 Minas Gerais Raskin e cols., 2001 0,6 São Paulo Bernardino e cols., 2000 0,52 São Paulo Alvarez e cols., 2004) 2,6 Santa Catarina Raskin e cols., 2003 2,6 Paraná Raskin e cols., 2003 3.5 Minas Gerais Raskin e cols., 2003 1.8 São Paulo Bernardino e cols., 2000 0 Rio de Janeiro Fernandes e cols., 1994 0 Rio de Janeiro Cabello e cols., 1999 1,3% São Paulo Bernardino e cols., 2000 4,73 Rio de Janeiro Cabello e cols., 2001 São Paulo Alvarez e cols., 2004) 4,8 Santa Catarina Raskin e cols., 2003 2% Paraná Raskin e cols., 2003 São Paulo Bernardino e cols., 2000 0,52% R1162X Estado 2,5% Nesta amostra de Rondônia fomos incapazes de determinar se quatro crianças, de 2 a 4 anos apresentavam mutação fibrocística. Estas crianças, devido aos sintomas característicos que apresentavam, estavam sob avaliação clínica para Fibrose Cística. Será necessário rever principalmente estes casos, determinar a ancestralidade destas crianças e analisar com mais acurácia as condições clínicas, a atividade pancreática, o desenvolvimento físico em busca das condições genéticas e fisiológicas da alteração da proteína CFTR. Muitas vezes alguns fibrocísticos apresentam níveis normais ou limítrofes de concentração de eletrólitos no suor, o que cria uma situação atípica de diagnóstico. Além disso, uma das dificuldades de diagnóstico, D i s c u s s ã o |58 no Brasil e vários países, mesmo os que apresentam uma população étnica predominantemente caucasóide, indígena ou negróide, é que muitas crianças afetadas, e mesmo adultos, não são diagnosticadas em virtude da superposição de sintomas da fibrose cística com os de outras doenças mais comuns, como a diarreia crônica, a desnutrição e as infecções respiratórias, comuns em países em desenvolvimento (Mishra e cols., 2005; Silva Filho e cols., 2003). O diagnóstico molecular muitas vezes tem de ser realizado com métodos complexos (como os observados em Hadj Fredj e cols., 2013; Cabello e cols., 2005) e a presença de médicos pneumologistas, pediatras, microbiologistas, na detecção da flora bacteriana coletada por métodos endoscópicos (Franche e cols., 2007) auxiliará na obtenção do diagnóstico. |59 CONCLUSÃO e PERSPECTIVA 1. Neste trabalho, realizou-se a análise molecular do gene CFTR em indivíduos com e sem características sugestivas de Fibrose Cística, em diferentes amostras do estado de Rondônia, com o objetivo de se determinarem as frequências das mutações ΔF508, R334W, N1303K, G551D, G551D, W1282X, G85E e R1162X, consideradas as mais comuns na população mundial e descritas em amostras de fibrocísticos brasileiros em estudos abrangendo amostras de várias regiões geográficas. 2. A presença da deleção ΔF508, dos alelos R334W e N1303K nas amostras de Recém nascidos do Hospital de Base, em crianças do Hospital Infantil “Cosme e Damião” e em apenas um indivíduo da cidade de Cacoal, região Centro-Leste de Rondônia, confirma a influência da colonização desta região por descendentes de europeus e está de acordo com a História de povoamento da região. 3. A ausência de alelos no estado homozigoto reflete o alto grau de mistura, sobretudo da etnia Ameríndia, neste região da Amazônia Ocidental Brasileira e à baixa frequência dos alelos analisados em populações não caucasóides. 4. Faz-se necessário melhor conhecimento sobre a estrutura genética da população desta região da Amazônia Ocidental, para identificação da ancestralidade étnica e geográfica dos indivíduos que povoaram a Amazônia. Os resultados obtidos nesta Tese contribuíram para a caracterização genética da população do estado de Rondônia, cujo povoamento foi realizado, desde o século XIX, por fluxos migratórios intensos, e continua atualmente pela construção das usinas Hidrelétricas do rio Madeira. 5. Esta Tese poderá contribuir para o conhecimento de metodologias usadas na detecção da mutação fibrocística de indivíduos já diagnosticados clinicamente como Fibrocísticos, ou sob suspeita. 6. Sugere ainda a necessidade de obediência, pelas Secretarias de Saúde, à Portaria GM / MS n. 822/GM de 2001/06/06 do Ministério da Saúde, que versa sobre a obrigação das Instituições de Saúde realizar a triagem neonatal para FC, adotar métodos de uma rápida e C o n c l u s ã o e P e r s p e c t i v a |60 confiável de confirmação que permitam o diagnóstico precoce e melhora o prognóstico, itens essenciais para um desenvolvimento saudável em indivíduos homozigotos para mutações fibrocísticos. 7. Sugere que aspectos relevantes são fundamentais na compreensão das questões atuais da Fibrose Cística, isto é, indivíduos com características sugestivas a doença estariam sendo subdiagnosticados ou diagnosticados incorretamente. 8. A ausência de indivíduos homozigotos, mesmo os que se encontravam sob suspeita clínica de apresentarem Fibrose Cística (caso de crianças do Hospital Infantil) indica a necessidade de continuidade da Pesquisa, introduzindo-se a análise de outros alelos já descritos em populações Ameríndias e Negróides, tanto nestas amostras estudas nesta Tese como também nos indivíduos já diagnosticados clinicamente como fibrocísticos e sob tratamento. |61 REFERENCIAS Alvarez AE.; Ribeiro AF.; Henssel G.; Bertuzzo CS and Ribeiro JD. Fibrose Cística em um centro de referencia no Brasil: caraterísticas clínicas e laboratoriais de 104 pacientes e sua associação com o genótipo e a gravidade da doença. J Pediatr 80 (5): 371-379, 2004. Andrade-Casseb A, Krauze A, Lafontaine RM, Tada MS, Silva WA, Simões AL, Engracia V. Distribution of hemoglobina phenotypes in four diferente districts of Porto Velho, Rondônia, Brazil. Hum Biol 80: 573-579, 2008. Araújo, F. G.; Novaes, F. C.; dos Santos, N. P. C.; Martns, V. 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Telefone: Bairro: Estado Civil: Escolaridade: Etnia: B ( ) N ( ) Entrevistador Idade: Ocupação principal: M( ) I ( Tabagismo: Sim ( ) Não ( ) ) Etilismo: Sim ( ) Não ( ) Endocruzamento: Sim ( ) Não ( ) Sistema ABO e Rh Filhos: Sim ( ) Renda familiar: Não ( ) Nº. ( ) 1 sal Estatura: Sexo: ( ) Masculino Aborto: ( ) 2 sal Sim ( ) ( ) 3 sal Não ( ) >4 sal ( ) Peso ao nascer: ( ) Feminino Nome da criança: Data de nascimento: Nome da criança: Local de nascimento: Data de nascimento: Idade: Histórico de ascendência dos Pais Pai: Mãe Avô paterno: Avó materna: Nº A n e x o |74 Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, ________________________________________________________morador da localidade___________________________________________declaro ter sido plenamente esclarecido sobre o conteúdo do presente termo e que: a) Concordo em participar da pesquisa “Caracterização de Populações Humanas em Rondônia através de Análise de Polimorfismos de DNA” e da liberdade de recusar a participar ou retirar meu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem penalização nem prejuízo ao meu cuidado. b) Minha participação se resume em autorizar o uso de amostras coletadas sobresponsabilidade da Dra. Vera Engracia Gama. Não terei que realizar nenhum outro exame além da coleta desta autorização, não terei qualquer tipo de gasto ou ganho e poderei me retirar a qualquer momento desta pesquisa, sem que isto me cause qualquer prejuízo, bastando para isso entrar em contato com o pesquisador(a) citado abaixo. c) O sangue ficará guardado no laboratório de Genética do Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais – IPEPATRO. Porto Velho, _______de______________ de 200______. Assinatura: _______________________________________________ Pesquisador (nome e assinatura)_______________________________ Dra. Vera Engracia Gama de Oliveira Laboratório Instituto de de Genética Pesquisa Tropical – IPEPATRO BR. 364, KM 3,5 – PORTO VELHO, RO CEP: 78.900.970 Telefone: (69) 2196008 em Humana, Patologia A n e x o |75 Anexo III – Protocolo de Extração de DNA – Método Proteinase K I - Material e Equipamentos Microcentrífuga Micropipeta (c/ 1 ponteira/amostra) Microtubos de polipropileno tipo "Eppendorf" de 1,5 ml II - Reagentes e Soluções TAMPÃO PARA LISE DE ERITRÓCITOS Tris/HCl 0,5 M pH 7,6; Sacarose 0,32 M; MgCl2 1M; Triton X-100 1% TAMPÃO PARA LISE DE LEUCÓCITOS Tris/HCl 0,5 M pH 8,5; KCl 2M; MgCl2 0,5 mM; NP-40 0,45%;Tween 20 (ou 80) 0,45% PROTEINASE K: 10 mg/ml III – Procedimentos 1. As amostras de sangue devem ser colhidas em tubos Vacutainer com EDTA Volume de 3 a 5 ml (nunca menos do que 2 ml). 2. Proceder alternativamente de acordo com o tipo de amostra: a) sangue total: colocar 500 l de sangue total em microtubo; b) sangue total glicerolizado: transferir 50 l de hemácias p/ um microtubo de 1,5 ml; c) Buffy Coat (BC): transferir 50l de buffy coat para um microtubo de 1,5 ml; d) Sangue total hemolisado: transferir 300 l para microtubo e centrifugar. Separar o sobrenadante, se sobrar sedimento, proceder com ele a partir do item 3; caso contrário, usar o sobrenadante a partir do item 7. 3. Acrescentar 1 ml do tampão de lise de eritrócitos (lise 1). 4. Centrifugar a 6000G por 1 minuto e descartar o sobrenadante. A n e x o |76 5. Os procedimentos 3 e 4 devem ser repetidos até que o precipitado fique límpido, indicando ausência de contaminação com a hemoglobina. Normalmente 3 vezes são suficientes. 6. Ressuspender o precipitado em 300 l de tampão de lise de leucócitos, adicionar 5 l de Proteinase K(10 mg/ml) e deixar pelo menos 1 hora a 65ºC e mais 3 horas a 37ºC (preferencialmente à noite). 7. Aquecer a 94ºC por 10 minutos para inativar a proteinase K, estocar a –20ºC. Este DNA tem se demonstrado de ótima qualidade para PCR. a) Acrescentar 75 l de NaCl 5,6 M autoclavado aos 300 l de tampão de leucócitos; b) Inverter cuidosamente várias vezes; c) Centrifugar durante 5 minutos a 6000 rpm; d) Transferir o sobrenadante para outro eppendorf de 1,5 ml; e) Adicionar a este sobrenadante transferido 900 l de etanol 95% gelado (de preferência a –20ºC); f) Agitar cuidadosamente o tubo e deixar por no mínimo 2 horas em freezer a –20ºC; g) Centrifugar durante 5 minutos a 6000 rpm; h) Descartar o sobrenadante, deixando aproximadamente 30 l no tubo e cuidando para não ressuspender o pellet; i) Adicionar 1ml de etanol 70% e inverter cuidadosamente; j) Centrifugar durante 5 minutos a 6000 rpm; k) Descartar o sobrenadante, deixando aproximadamente 30 l no tubo cuidando para não ressuspender o pellet; l) Secar a 37ºC na estufa a vácuo; m) Ressuspender o pellet em 200 l de Tris-HCl pH 7,6 0,01 M; n) Estocar a –20ºC até o momento do uso. Existe indicação, de que o DNA em tampão, mantém-se por bastante tempo (1 ano ou mais) em geladeira; em freezer, mantém-se por tempo indetermina