“LICOPENO EM AMOSTRAS COMERCIAIS DE “CATCHUP” 1 FOGAÇA, Aline2; PREDIGER, Karoline3; LAGO, Regiane3; SANTIAGO, Alessandra3. 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Acadêmicos do Curso de Farmácia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]. 2 RESUMO O licopeno é um carotenóide sem a atividade pró-vitamina A, lipossolúvel, composto por onze ligações conjugadas e duas ligações duplas não conjugadas, possuindo ótima capacidade sequestradora do oxigênio singlet. Estudos clínicos e epidemiológicos tem confirmado que dietas ricas em licopeno estão associadas com a redução do risco de desenvolvimento de câncer de próstata e ovário bem como a uma menor incidência de doenças degenerativas crônicas e cardiovasculares. O tomate e seus derivados são a mais rica fonte de licopeno entre os alimentos consumidos pela população mundial. Esta pesquisa teve como objetivo determinar o teor de licopeno em 4 amostras de catchup, além de determinar o pH e a acidez destes produtos. Realizou-se a determinação do pH, acidez e extração do licopeno de acordo com Instituto Adolfo Lutz (1995). Os resultados médios obtidos foram de 48,29 µg/g de licopeno, pH de 4,10 e acidez de 2,17 g% de ácido cítrico. Palavras-chave: Licopeno; catchup; acidez; pH. 1. INTRODUÇÃO Os radicais livres são átomos ou moléculas produzidas continuamente durante os processos metabólicos, desempenhando funções relevantes no metabolismo. Sua produção excessiva, conhecida como estresse oxidativo, pode conduzir a diversas formas de dano celular e sua cronicidade pode estar envolvida com a etiogênese ou com o desenvolvimento de numerosas doenças (SHAMI e MOREIRA, 2004). As lesões causadas pelos radicais livres nas células podem ser prevenidas ou reduzidas por meio da atividade de antioxidantes, sendo estes encontrados em muitos alimentos. Os antioxidantes podem agir diretamente na neutralização da ação dos radicais livres ou participar indiretamente de sistemas enzimáticos com essa função. Dentre os antioxidantes estão a vitamina C, a glutationa, o ácido úrico, a vitamina E e os carotenóides (SHAMI e MOREIRA, 2004). 1 Os carotenóides formam um dos grupos de pigmentos mais difundidos na natureza, juntamente com as vitaminas são as substâncias mais investigadas como agentes quimiopreventivos, funcionando como antioxidantes em sistemas biológicos (SHAMI e MOREIRA, 2004; SILVA, SCHNEIDER e PEREIRA, 2009). A importância dos carotenóides não é somente atribuída à cor que eles conferem a algumas frutas e vegetais, mas também aos benefícios à saúde, tanto pela atividade pró-vitamínica A que alguns destes compostos apresentam, como pelas suas ações antioxidante e imunomoduladora (RODRIGUEZAMAYA, 1999). A propriedade antioxidante dos carotenóides está relacionada à desativação de radicais livres e ao sequestro do oxigênio singlete (forma mais reativa do oxigênio), capacidade esta ligada ao sistema de duplas ligações conjugadas (SILVA, SCHNEIDER e PEREIRA, 2009). Eles removem os radicais peróxidos, modulam o metabolismo carcinogênico, inibem a proliferação celular, estimulam a comunicação entre células e elevam a resposta imune (SHAMI e MOREIRA, 2004). Os carotenóides geralmente são compostos de 40 átomos de carbono, tendo uma série de duplas ligações conjugadas, que constituem o cromóforo responsável pela absorção de luz na região do visível. Podem ser acíclicos ou ciclizados em uma ou ambas as extremidades. Sua estrutura é tetraterpenóide, constituída por oito unidades isoprenóides de cinco carbonos, ligadas de tal forma que a molécula é linear e simétrica, com a ordem invertida no centro. De acordo com o tipo e teor de carotenóides, surgem as várias cores características de muitos alimentos (RODRIGUEZ-AMAYA, 1999). Existem, aproximadamente, 600 carotenóides encontrados na natureza, os quais são constituídos por dois grandes grupos, denominados: Carotenos, que consistem em hidrocarbonetos puros e Xantofilas, hidrocarbonetos que possuem grupos funcionais oxigenados. Desses, 40 podem ser encontrados nos alimentos e, como resultado de uma absorção seletiva do trato gastrintestinal, apenas 14 carotenóides são biodisponíveis, biodisponibilidade que se apresenta de forma quase ilimitada. Entre esses se encontram o beta-caroteno, o alfacaroteno, a luteína, a zeaxantina e o licopeno (GOMES, 2007). O licopeno (figura 1) é um carotenóide sem a atividade pró-vitamina A, que possui ação antioxidante, pois mesmo que em baixas concentrações é capaz de combater radicais livres que alteram o DNA das células que desencadeiam o processo cancerígeno (CHOUDHARI e ANANTHANARAYAN, 2006; LEÃO, PEIXOTO e VIEIRA, 2006; SILVA, SCHNEIDER e PEREIRA, 2009). A grande capacidade do licopeno em sequestrar oxigênio 2 deve-se, possivelmente, à presença das duas ligações duplas não conjugadas (SHAMI e MOREIRA, 2004). Figura 1. Estrutura do licopeno (PENNATHUR et al., 2010) Este é caracterizado por uma estrutura simétrica e acíclica, é constituído somente por átomos de carbono e hidrogênio, contendo 11 ligações duplas conjugadas e 2 ligações não conjugadas 1,2. Sua estrutura é responsável pela coloração vermelho-alaranjada de frutas e vegetais nas quais está presente (MORITZ e TRAMONTE, 2006; WANG e LEUNG, 2010). Entre uma série de carotenóides avaliados, o licopeno mostrou-se como um dos mais eficientes antioxidantes, podendo doar elétrons para neutralizar as moléculas de oxigênio singleto e outras moléculas oxidantes antes que elas prejudiquem as células. Estudos clínicos e epidemiológicos tem confirmado que dietas ricas em licopeno estão associadas com a redução do risco de desenvolvimento de câncer de próstata e ovário bem como a uma menor incidência de doenças degenerativas crônicas e cardiovasculares (CARVALHO et al., 2005). O licopeno é o carotenóide predominante no plasma e nos tecidos humanos, mas o organismo humano não é capaz de sintetizá-lo, dessa forma, é obtido exclusivamente por meio da dieta alimentar. sendo encontrado em um número limitado de alimentos de cor vermelha, como goiaba, melancia, mamão, pitanga, tomates e seus produtos (BRAMLEY, 2000; MORITZ e TRAMONTE, 2006; SHAMI e MOREIRA, 2004). O tomate (Lycopersicum esculentum) e seus derivados, são a principal fonte de licopeno na dieta humana. O tomate cru apresenta, em média, 30mg de licopeno/kg do fruto; o suco de tomate cerca de 150mg de licopeno/litro; e o catchup contém em média 100 mg/kg (CHOUDHARI e ANANTHANARAYAN, 2006; SILVA, SCHNEIDER e PEREIRA, 3 2009). Ocorre variações na concentração de licopeno conforme o tipo e o grau de amadurecimento do tomate, assim, o tomate vermelho maduro contém maior quantidade de licopeno que de beta-caroteno (CARVALHO et al., 2005; SHAMI e MOREIRA, 2004). Devido a importância do licopeno na prevenção de doenças e sua elevada presença em catchups, objetivou-se, nesse trabalho, quantificar o licopeno presente, além de determinar a acidez e pH em amostras disponíveis atualmente no mercado. 2. METODOLOGIA As amostras constituíram-se de quatro marcas de catchup adquiridas aleatoriamente no comércio de Santa Maria-RS. Os testes foram realizadas no laboratório de Bromatologia do Centro Universitário Franciscano. A acidez e o pH foram analisados segundo a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (1995). A análise da acidez foi realizada em duplicata, onde pesou-se 5 g da amostra, dissolveu-se em 50 ml de água destilada em erlenmeyer e adicionou-se 3 gotas de fenolftaleína; após titulou-se com NaOH 0,1 N (Nuclar®) sob agitação. O conteúdo de acidez titulável foi expresso em porcentagem de ácido cítrico através da seguinte equação: % ácido cítrico = V x N x Meq P Em que: V= Volume, em mL de NaOH gasto na titulação; N= Normalidade do NaOH (0,1 N); Meq= Miliequivalente do ácido – 0,064 para o ácido cítrico; P= Peso da amostra, em g. Já para a determinação do pH utilizou-se 5 g da amostra que foram diluídas em 50 ml de água destilada a cada 5 minutos a amostra era homogeneizada com o auxílio de bastão de vidro, por 30 minutos, após foi realizada a leitura em pHmetro (Digimed®). A extração do licopeno consistiu na pesagem de 5 g da amostra em béquer, após adicionou-se 40 ml de acetona (FMaia®) e submeteu-se a agitação durante uma hora. Em seguida, procedeu-se a filtração a vácuo com auxilio de Kitassato envolto de papel alumínio para evitar foto-oxidação dos pigmentos. Cada amostra foi lavada com acetona por mais três vezes e transferiu-se para funil de separação que continha 45 ml de éter de petróleo 4 (Nuclear®). Realizou-se lavagem com água por quatro vezes para a remoção da acetona, descartando-se a fase inferior. A solução de pigmentos foi transferida para balão volumétrico de 100 ml completando-se o volume com éter de petróleo. A leitura foi realizada em espectrofotômetro (UV-1000 Pro Analise®) com o comprimento de onda de 470 nm. Realizou-se em duplicata. O teor de licopeno foi obtido pela fórmula a seguir: µg/g= (A x V x 1000000) (A1cm1% x M x 100) Onde: A= absorbância da solução no comprimento de onda de 470 nm. V= volume final da solução. A1cm1%= coeficiente de extinção ou coeficiente de absortividade molar de um pigmento em determinado solvente específico. Para licopeno em éter de petróleo o valor do coeficiente de extinção é de 3450. M= massa da amostra tomada para análise. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos para teor de licopeno, análise de acidez e pH nos catchups estão descrito na tabela 1. Tabela 1: Teor de licopeno, acidez e pH de amostras de catchup comercializados em Santa Maria – RS. Amostra Licopeno Acidez (µg.g-1) (g% de ácido cítrico) 1 48,31 2,43 ± 0,07 2 42,34 1,66 ± 0,00 3 41,79 2,51 ± 0,07 4 60,72 2,08 ± 0,01 Média 48,29 2,17 pH 4,25 3,85 4,48 3,80 4,10 Através dos resultados obtidos é possível observar que o teor de licopeno varia em função da marca do produto, porém os teores de todas as amostras são superiores aos encontrados por Anibal e colaboradores (2008), que utilizaram a mesma metodologia de extração e encontraram teores 8,47; 17,23 e 22,69 µg/g em três diferentes marcas de catchups. A acidez e o pH são fatores de reconhecida importância quando se analisa a aceitação de um produto (BORGUINI e SILVA, 2005). O pH é um parâmetro que mede de uma forma geral a acidez de alimentos, sendo este o indicador do tipo de tratamento 5 necessário para se conservar alimentos. O aumento do pH está diretamente relacionado com o decréscimo da acidez ocorrida com o avanço da maturação dos frutos e influencia o sabor dos produtos (PEREIRA, QUEIROZ e FIGUEIRÊDO, 2006; SILVA et al., 2008). Através da análise de pH obteve-se valores compreendidos entre 3,80 a 4,48 e de acordo com Pereira e colaboradores (2006) é desejável se ter, em geral, um pH inferior a 4,5 para impedir a proliferação de microrganismos no produto final. Além disso, os carotenóides são estáveis na faixa de pH 3,0 a 7,0 (MORAIS, 2006). Observa-se que o maior teor de licopeno foi encontrado na amostra com menor valor de pH (amostra 4), sugere-se que este fato pode estar ligado a maturação dos tomates utilizados. 4. CONCLUSÃO Os dados obtidos nesse estudo permitem observar que as marcas comerciais de catchup analisadas apresentam teores de acidez e pH diferentes, fato responsável pelo diferenciação destas em relação ao sabor. Em relação ao licopeno, todas apresentam quantidades significativas, podendo apresentar variações. REFERÊNCIAS ANIBAL, L.J.; FONSECA, B.G. e DIAMANTINO, M.T.R.S. Determinação do teor de licopeno em tomates e derivados encontrados no mercado. Unifeb, 2008. BRAMLEY, P.M. Is lycopene beneficial to human health? Phytochemistry, v. 54, p. 233-236, 2000. BORGUINI, R.G. e SILVA, M.V. Características físico-químicas e sensorias do tomate (Lycopersicon esculentum) produzido por cultivo orgânico em comparação ao convencional. Alim. Nutr. v.16, n.4, p. 355-361, 2005. CARVALHO, W.; FONSECA, M.E.N.; SILVA, H.R.; BOITEUX, L.S. e GIORDANO, L.B. Estimativa indireta de teores de licopeno em frutos de genótipos de tomateiro via análise colorimétrica. Horticultura Brasileira. v.232 , n.3, p.819-825, 2005. CHOUDHARI, S.M. e ANANTHANARAYAN, L.. Enzyme aided extraction of lycopene from tomato tissues. Food Chemistry, v. 102, p. 77–81, 2007. GOMES, F.S. Carotenóides: uma possível proteção contra o desenvolvimento de câncer. Rev. Nutr. v. 20, n.5, p. 537-548, 2007. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos químicos e físicos para análise de alimentos. v. 1, 3. ed. São Paulo, 1985. LEÃO, D.S.; PEIXOTO, J.R. e VIEIRA, J.V. Teor de licopeno e de sólidos solúveis totais em oito cultivares de melancia. Biosci. J., v. 22, n. 3, p. 7-15, 2006. 6 MORAIS, F.L. Carotenóides: características biológicas e químicas. 2006. 70 f. Monografia (Pós Graduação latu sensu em Qualidade de Alimentos) – Universidade de Brasília, BrasíliaDF, 2006. MORITZ, B. e TRAMONTE, V.L.C. Biodisponibilidade do licopeno. Rev. Nutr. , v.19, n.2, p. 265-273, 2006. PENNATHUR, S.; MAITRA. D.; BYUN, J.; SLISKOVIC, I.; ABDULHAMID, I.; SAED, G.M.; DIAMOND, M.P. e ABU-SOUD, H.M. Potent antioxidative activity of lycopene: A potential role in scavenging hypochlorous acid. Free Radical Biology & Medicine. v. 49 p. 205–213, 2010. PEREIRA, I.E.; QUEIROZ, A.J.M. e FIGUEIRÊDO, R.M.F. Características físico-químicas do tomate em pó durante o armazenamento. Revista de Biologia e Ciências da Terra. v. 6, n. 1, p. 83-90, 2006. RODRIGUEZ-AMAYA D.B. Latin American food sources of carotenoids. Archivos Latinoamericanos de Nutrición, v.49, n.1, p.74-84, 1999. SHAMI, N.J.I.E. e MOREIRA, E.A.M. Licopeno como agente antioxidante. Rev. Nutr. v. 17, n. 2, p. 227-236, 2004. SILVA, J.E.B.; DANTAS NETO, J.; GOMES, J.P.; MACIEL, J.L.; SILVA, M.M. e LACERDA, R.D. Avaliação do ºBrix e pH de frutos da goiabeira em função de lâminas de água e adubação nitrogenada. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais. v.10, n.1, p.43-52, 2008. SILVA, A.M.; SCHNEIDER, V.C. e PEREIRA, C.A.M. Propriedades Químicas e Farmacológicas do Licopeno. Revista Eletrônica de Farmácia. v. VI, n. 2, p. 36-61, 2009. WANG, H. E Leung, L.K. 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