RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE AMBIENTE, INFLUÊNCIA E GERAÇÃO. Marília Daher Marques 1 Osmar Mendes Ferreira 2 Universidade Católica de Goiás – Departamento de Engenharia – Engenharia Ambiental Av. Universitária, Nº 1440 – Setor Universitário – Fone (62)3946-1351. CEP: 74605-010 – Goiânia - GO. RESUMO O presente estudo buscou identificar, através da caracterização e quantificação dos Resíduos de Serviço de Saúde – RSS gerados no ambiente do Hospital Infantil de Campinas - Goiânia, os fatores que influenciam na geração desses resíduos. Para o desenvolvimento desse trabalho contamos com a parceria e colaboração dos funcionários para obter as informações do ambiente estudado, realizar a identificação dos resíduos, segregação e pesagem do lixo hospitalar. Com a finalização das pesagens verificou-se que os RSS contaminados representam uma pequena parcela do montante de lixo gerado pelo hospital, fato que evidencia a correta segregação dos RSS na fonte geradora. Por outro lado, podemos dizer que a quantidade destes resíduos pode passar por uma redução ainda maior através do treinamento dos colaboradores do hospital, como exige a resolução 306 da Diretoria Colegiada – RDC 306 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, bem como a busca pela conscientização dos pacientes e de seus acompanhantes diante da periculosidade dos RSS. Palavras-chave: Resíduos de Serviços de Saúde, Geração, Influência, Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, Ambiente. ABSTRACT The present study looked for to identify, through the characterization and quantification of the Residues of the Service of Health - RSS generated in the ambiance of the Infantile Hospital of Campinas - Goiânia, the factors that influence in the generation of those residues. For the development of that work we counted with the employees' partnership and collaboration to obtain the information of the studied atmosphere, to accomplish the identification of the residues, segregation and weighting of the garbage hospitable. With the finalization of the weightings it was verified that polluted RSS represent a small portion of the garbage amount generated by the hospital, fact that evidences the correct segregation of RSS in the generating source. On the other hand, we can say that the amount of these residues can go by a reduction still larger through the collaborators' of the hospital training, as it demands Directory Colegiada's resolution 306 - RDC 306 of the National Agency of Sanitary Surveillance ANVISA, as well as the search for the patients' understanding and of their companions due to the danger of RSSS. Word-key: Residues of Services of Health, Generation, Influence, Plan of Administration of Residues of Services of Health, Ambient. Goiânia, 2006/2 1 2 Acadêmica do curso de Engª Ambiental da Universidade Católica de Goiás. ([email protected]) Profº do Dep. de Engª da Universidade Católica de Goiás - UCG ([email protected]) 2 1 INTRODUÇÃO A geração de resíduos é própria à condição humana. O sistema capitalista gera consumidores natos que acabam por descartar grande parte do que consomem, sendo que esses resíduos trarão conseqüências ao meio ambiente. Como o aumento da população tem-se, conseqüentemente, o aumento na geração de resíduos, verificando-se assim a necessidade de medidas que amenizem os impactos ambientais causados pela geração, segregação, transporte e disposição final destes. Os Resíduos de Serviços de Saúde - RSS fazem parte do montante de resíduos sólidos gerados nos municípios e, embora representem uma pequena parcela destes, os RSS devem ser estudados com atenção devido ao grau de periculosidade a eles atribuídos. Como os RSSS são constituídos por materiais biológicos, químicos, radioativos e perfurocortantes, representam fonte potencial de contaminação e disseminação de doenças. Com o intuito de minimizar os riscos e impactos ambientais gerados pelos RSS a legislação atual exige que todo estabelecimento de saúde elabore e execute um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, através do qual tem-se a quantificação e a caracterização dos resíduos gerados no estabelecimento, assim como a descrição de todo o percurso destes – da geração à destinação final. Considerando-se, no entanto, a complexidade e a polêmica da geração de RSS, a definição de um sistema de gerenciamento depende, principalmente, do comprometimento e da devida importância dada à questão pelos gestores dos serviços de saúde e pelos profissionais da área. Isto implica, não só no regramento por instrumentos legais e normativos, mas num posicionamento consciente, sobretudo, disponibilidade para colaborar na busca de soluções para esta problemática por parte de todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente com a questão.(SCHNEIDER, 2004). Ao definir suas políticas de gerenciamento, a instituição precisa analisar não apenas as variáveis internas que determinam a geração dos RSS, mas o conjunto de relações das variáveis externas que acaba por interferir nos resultados que podem ser obtidos. Isto, aliado a programas educativos que envolvam a instituição como um todo, constitui fator fundamental para a efetivação de programas de gerenciamento (SCHNEIDER, 2004). Através da elaboração e aplicação dos PGRSS’s obtemos o controle e a diminuição dos riscos ambientais, bem como a minimização da geração destes resíduos. Mas, por ser uma área de estudo considerada recente os profissionais e as instituições responsáveis 3 pela elaboração deste plano têm encontrado diversos fatores que dificultam a elaboração de um bom PGRSS, como: - conhecimento da legislação vigente sobre o assunto (leis, regulamentações, resoluções); - falta de conhecimento sobre o assunto pelos órgãos ambientais regulamentadores; - falta de informações sobre as tecnologias existentes para o tratamento dos RSS; - falta de bibliografia sobre o assunto; - outros. Diante da importância na redução e segregação dos RSS, essa pesquisa visa contribuir com resultados que levam a redução dos impactos e riscos atribuídos às unidades prestadoras de serviços à saúde. Esta pesquisa teve como cenário de estudo Hospital Infantil de Campinas, que é uma unidade prestadora de serviço de saúde no município de Goiânia. Seu principal objetivo foi identificar os fatores que influenciam a geração dos resíduos de serviços de saúde e através dos resultados propor medidas que aperfeiçoem o plano de gerenciamento. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A geração de resíduos e seu posterior abandono no meio ambiente pode originar sérios problemas ambientais, favorecendo a incorporação de agentes contaminantes na cadeia trófica, interagindo em processos físico-químicos naturais e dando lugar à sua dispersão. O aumento na geração de resíduos implica, por sua vez, em um consumo paralelo de matériasprimas, as quais se encontram na natureza em quantidades limitadas. Tal processo pode vir a gerar um desequilíbrio nos sistemas biológicos limitando a capacidade da natureza em renovar-se. (SCHNEIDER, 2004). De acordo com a Norma Brasileira Registrada - NBR 10004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2004), o resíduo sólido e semi-sólido pode ser definido como “produto resultante de atividades da comunidade, de origem industrial, domiciliar, hospitalar, radioativa, comercial, agrícola e de varrição”. Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) são componentes consideráveis dos 4 resíduos sólidos, pois representam alto potencial de risco à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com Schneider et al. (2004), os RSS constituem um desafio com diversas interfaces já que, além das questões ambientais inerentes a qualquer tipo de resíduo, incorporam uma preocupação maior no que tange ao controle de infecções em ambientes prestadores de serviços, nos aspectos da saúde individual/ocupacional, pública/ambiental. Os RSS são definidos pela Resolução 358 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2005) como todos os resíduos resultantes de atividades relacionadas com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizam atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final. Esses resíduos são divididos em cinco grupos: A, B, C, D, e E. Para o manejo seguro destes, a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 306 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA – 2004) os separa da seguinte forma: - GRUPO A: constituído por resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Este grupo é subdividido em mais cinco grupos: A1, A2, A3, A4 e A5. - GRUPO B: constituído por resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. - GRUPO C: constituído por quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista. - GRUPO D: constituído por resíduos que não apresentem riscos biológicos, químicos ou radiológicos à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos 5 domiciliares. - GRUPO E: constituído por materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares. Os riscos e as dificuldades especiais quanto ao manuseio dos RSS devem-se ao caráter infectante de alguns de seus componentes, pois além de apresentarem uma grande heterogeneidade, características como a presença freqüente de objetos perfurantes e cortantes, presença de substâncias tóxicas, inflamáveis e radioativas de baixa intensidade atribuem a estes resíduos o caráter de periculosidade. (SCHNEIDER, 2004). A Tabela 1 traz um panorama dos RSS no Brasil com dados obtidos a partir de pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais – ABRELPE entre os anos 2004 e 2005. Tabela 01: Geração e Tratamento de Resíduos de Serviços de Saúde no Brasil (t/dia) MACROREGIÃO TOTAL GERADO TRATADO TRATAMENTO (%) Norte 56,33 0,00 0,00 Nordeste 261,40 40,07 15,33 Centro-Oeste 110,03 38,33 34,84 Sudeste 435,13 176,83 40,64 Sul 161,94 32,00 19,76 Brasil 1.024,84 287,23 28,03 Fonte: Pesquisa ABRELPE, 2004. A Tabela 01 mostra que apenas 34,84% dos RSS coletados no Centro-Oeste são tratados. Podemos atribuir este fato à falta de parâmetros municipais, à falta de fiscalização nos estabelecimentos de saúde e à falta de conhecimento da população do grau de periculosidade destes resíduos. O gerenciamento dos resíduos gerados pela sociedade moderna é uma necessidade que se apresenta como incontestável e requer não apenas a organização e a sistematização das fontes geradoras, mas, fundamentalmente, o despertar de uma consciência coletiva quanto às responsabilidades individuais no trato desta questão. Os resíduos sólidos de serviços de saúde, 6 dentro desta dimensão maior, constituem um desafio com múltiplas interfaces, uma vez que, além das questões ambientais inerentes a qualquer tipo de resíduo, os RSS incorporam uma preocupação maior no que tange ao controle de infecções nos ambientes prestadores de assistência à saúde, no cuidado com a saúde individual / ocupacional, coletiva e ambiental. (SCHNEIDER, 2004). Com o intuito de regulamentar o gerenciamento destes resíduos, foi elaborada a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 306 (ANVISA, 2004), que passou a vigorar na data de sua publicação em 07 de Dezembro de 2004. O gerenciamento dos RSS constitui-se por um conjunto de procedimentos de gestão, planejado e implementado a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, visando à preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente. (BRASIL, 2004). Segundo Schneider et al. (2004), o não entendimento de critérios mínimos para o gerenciamento dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde pode levar a situações de risco, decorrentes de manejo inadequado, podendo causar danos à saúde pública e ao meio ambiente. Todo estabelecimento gerador de RSS deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). Este plano é um documento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas características, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final, bem como a proteção à saúde pública. (BRASIL, 2004). A elaboração do PGRSS tem influência direta na geração dos RSS. Como o plano traz um levantamento geral dos resíduos sólidos gerados no estabelecimento de saúde, fornecerá um suporte para o estudo de métodos que irão reduzir a geração de RSS, o que, conseqüentemente, reduzirá os custos do empreendimento com transporte e tratamento destes resíduos. O Quadro 01 mostra que a geração de RSS é determinada pela complexidade e pela freqüência dos serviços prestados no estabelecimento de saúde e pela eficiência que alcançam os responsáveis pelos serviços no desenvolvimento de suas tarefas, assim como pela tecnologia utilizada.(CENTRO PAN-AMERICANO, 1997). 7 Quadro 01: Serviços de um estabelecimento de saúde e tipos de resíduos que podem gerar. Serviços Prestados Pelo Hospital Tipo de Resíduos - Serviços de Internação Hospitalar: 1. Salas de internação; 2. Salas de cirurgia; 3. Salas de partos; Resíduos Infecciosos 4. Central de Equipamentos; 5. Admissão; 6. Serviços de Emergência; 7. Outros. - Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento: 8. Anatomia patológica; 9. Laboratório; 10. Radiodiagnóstico; 11. Gabinetes; 12. Audiometria; 13. Isótopos radioativos; Resíduos Infecciosos Especiais 14. Endoscopia; 15. Citoscopia; 16. Radioterapia; 17. Banco de sangue; 18. Medicina física; 19. Outros. - Serviços de Consulta Externa: 20. Consulta externa; Resíduos Comuns 21. Outros. - Serviços Diretos Complementares: 22. Enfermaria; 23. Relações públicas e serviço social; 24. Arquivo clínico; Resíduos Especiais e Comuns 25. Nutrição; 26. Farmácia; 27. Outros. - Serviços Gerais 28. Serviços indiretos; 29. Cozinha; 30. Lavanderia; 31. Almoxarifado; Resíduos Comuns e Especiais 32. Engenharia e manutenção; 33. Programa docente; 34. Programa de pesquisa; 35. Outros. Fonte: Centro Pan-Americano de Engenharia Sanitária e Ciências do Ambiente (1997). Existem diversos aspectos que influenciam na geração de RSS. Se tomarmos como exemplo um hospital podemos destacar aspectos como: - quantidade de leitos do hospital; - uso excessivo de material descartável; - procedimentos médico-hospitalares realizados no estabelecimento (consultas, procedimentos cirúrgicos, etc); - tipo de alimentação utilizada no hospital; - treinamento dos colaboradores (conforme exigência da RDC 306/2005); 8 - aumento da expectativa média de vida da população; - concentração da população nas áreas urbanas; - outros. Diante da variedade de fatores que influenciam na geração de RSS, pode-se dizer que não é fácil estabelecer relações que irão estimar a produção destes resíduos no estabelecimento de saúde. Desta forma, a contribuição de alternativas tecnológicas que viabilizem menor impacto ambiental sobre os meios físico, biótico e sócio-econômico que constituem o meio ambiente, é uma necessidade urgente para a melhoria de qualidade de vida das populações sem a perda de qualidade de vida no atendimento prestado pelos serviços de saúde às populações.(NAIME et al., 2004). 3 METODOLOGIA O presente estudo foi desenvolvido junto ao Hospital Infantil de Campinas, localizado na Avenida Pará, Setor Campinas, no município de Goiânia. O diagnóstico e a determinação dos aspectos que têm influência direta ou indireta na geração de resíduos de serviços de saúde nesta unidade hospitalar foram realizados através de visitas e entrevistas com os colaboradores responsáveis pelo setor de limpeza do estabelecimento e da quantificação destes resíduos, nas quais foram solicitadas informações sobre: - quantificação e caracterização dos setores existentes no hospital; - identificação do setor com maior produtividade de resíduos; - taxa média de ocupação dos leitos do estabelecimento; - aspectos qualitativos e quantitativos dos RSS gerados; - os procedimentos de manejo utilizados no local abrangendo os tipos de segregação, acondicionamento, armazenamento interno e externo, transporte, tratamento e disposição final destes resíduos; - o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde do estabelecimento; - presença de medidas de segurança adotadas para a proteção dos colaboradores, 9 dos pacientes e dos visitantes. Após esta primeira fase do diagnóstico, resultante da aplicação desse questionário, foram realizadas quatro visitas no hospital para pesagem dos resíduos gerados no mesmo. Estas pesagens foram realizadas nos dias 26, 27, 28 e 29 de setembro de 2006. Todos os relatos dos colaboradores foram anotados e transcritos para discussão juntamente com os resultados dessa pesquisa. Para a coleta dos dados foram utilizados ainda: - Balança (capacidade); - Sacos plásticos (brancos – para os resíduos contaminados – e azuis – para os resíduos comuns) - Luvas; - Etiquetas – para a identificação do setor de origem dos resíduos; - Máscara. Os resíduos foram coletados pelos próprios funcionários do hospital e cada saco de lixo foi etiquetado, identificando assim seu setor de origem. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa teve alcance no âmbito das instalações de uma unidade hospitalar e objetivou identificar os fatores de influência, neste ambiente, na geração dos RSS. Para a identificação destes fatores realizou-se um levantamento com colaboradores do hospital, bem como quantificação e caracterização dos resíduos gerados no local através da segregação destes resíduos na fonte e pesagens. Os colaboradores desta unidade hospitalar demonstraram interesse no desenvolvimento deste trabalho, pois compreenderam que o correto gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde tende a trazer melhorias ao mesmo e na qualidade dos serviços prestados à comunidade. O hospital já demonstrava sua preocupação com a quantidade de RSS gerados antes do desenvolvimento deste estudo, já que faz a separação (Figura 1) de alguns materiais recicláveis, como caixas de papelão e embalagens de soro fisiológico, e os encaminham para a reciclagem. 10 Figura 1: Armazenamento de materiais recicláveis do hospital. No desenvolvimento da primeira fase deste trabalho, pode-se perceber que os locais de armazenamento dos RSS gerados pelo hospital atendem às exigências das legislações vigentes. Em cada setor hospitalar considerado como ponto gerador de resíduos comuns (CLASSE - D) e contaminados (CLASSE - A e E) pode- se notar a presença de três recipientes distintos para a disposição dos RSS. Cada recipiente possui etiqueta de identificação, cor e saco diferenciado. A separação dos resíduos nos setores é realizada da seguinte forma: o recipiente com saco azul, é utilizado para a disposição de lixo comum, com saco branco para a disposição de lixo contaminado e o recipiente rígido para a disposição de perfurocortantes, como mostra a Figura 2. Figura 2: Recipientes de armazenamento dos resíduos em cada setor do hospital. 11 Após a coleta interna, os resíduos acondicionados são direcionados ao local onde são armazenados para posterior recolhimento nos dias de segunda, quarta e sexta-feira, sendo todos esses resíduos coletados pelo serviço de coleta de RSS municipal. A Figura 3 mostra as instalações do abrigo - coberto e impermeabilizado. Nesse estabelecimento não existe armazenamento interno temporário, as embalagens com resíduos são transportadas até o abrigo externo pelos funcionários do estabelecimento, manualmente e ali permanecem devidamente acondicionados até a coleta. Figura 3: Local de armazenamento dos resíduos para coleta. Concluída a fase de diagnóstico desse estudo, iniciaram-se as pesagens dos diferentes resíduos gerados em cada setor do hospital. Para a análise dos valores obtidos, fezse necessário o levantamento da quantidade de funcionários em serviço bem como da quantidade de atendimentos e procedimentos realizados nos dias em que se realizou a pesagem, mostrados nos (QUADRO, 2 e 3). Quadro 2: Quantidade de funcionários em serviço nos dias de realização das pesagens. Administração Centro Cirúrgico Copa Cozinha Emergência Farmácia Faturamento Lactário Limpeza e Higienização Quantidade de Funcionários 26/set 27/set 06 06 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 03 03 02 02 08 08 28/set 06 02 01 01 01 01 03 02 08 29/set 06 01 01 01 03 02 08 12 Manutenção Médicos Posto I Posto II Recepção UTI Neonatal UTI Pediátrica TOTAL: 02 17 03 04 12 06 04 73 02 18 03 03 12 04 04 70 02 16 03 04 12 04 04 70 02 19 02 03 12 04 04 68 Quadro 03: Quantidade de atendimentos e procedimentos nos dias de realização das pesagens. Quantidade de Atendimentos e Procedimentos 26/set 27/set Centro Cirúrgico 08 04 Consultas 151 173 Posto I 13 20 Posto II 26 11 UTI Neonatal 08 08 UTI Pediátrica 08 08 TOTAL 214 224 28/set 05 133 22 17 08 07 192 29/set 142 16 17 08 09 192 No decorrer das pesagens pode-se perceber que os resíduos “Tipo - D”, são os de maior representatividade na composição do lixo hospitalar, já que são gerados por todos os setores – principalmente cozinha e copa – e são os de maior densidade específica. A pesagem realizada no dia 26 de setembro (Tabela 2) foi a única a apresentar a quantificação dos resíduos “Tipo – B”. Este fato ocorreu porque, no hospital, este tipo de resíduo é composto principalmente por medicamentos vencidos e é proveniente apenas de um setor do hospital – área farmacêutica. Como a quantidade diária gerada é pequena, este resíduo só é encaminhado ao local de coleta quando atinge quantidade representativa. Se compararmos a quantidade total gerada no dia 26/09/2006 – 144,75 Kg – com a quantidade de pessoas presentes no hospital no mesmo dia – 287 pessoas – percebemos que este foi o dia em que houve maior produção de lixo por pessoa – 0,50 Kg/pessoa. Tabela 2: Pesagem dos resíduos do hospital realizada no dia 26 de setembro de 2006. Data da Pesagem: 26/09/2006 Origem dos Resíduos Aerosol Banheiro Central de Material Centro Cirúrgico Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) Tipo B (Kg) Tipo D (Kg) Tipo E (Kg) 2,25 - 0,85 0,30 1,25 1,00 - Porcentagem de lixo produzido por setor (%) 0,59 0,21 0,86 2,25 13 Data da Pesagem: 26/09/2006 Centro de Estudo Consultórios Cozinha Dept. Pessoal e Faturamento Diversos Emergência Esterilização Farmácia Laboratório Lactário Lavanderia Material Reciclável Posto I Posto II Raio-X Recepção Sala de Punção Venosa UTI Neo-Natal UTI Pediátrica Vestiário TOTAL PARCIAL: TOTAL (Kg): PERCENTUAL TOTAL Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) 1,85 1,00 0,75 0,75 0,50 0,50 2,25 3,25 - Tipo B (Kg) 11,00 - Tipo D (Kg) 0,75 3,60 22,50 0,75 21,20 1,00 1,75 0,75 3,00 11,00 40,75 0,30 2,80 1,00 1,90 0,85 0,85 Tipo E (Kg) 1,25 1,25 - 13,1 11 118,15 2,5 9,05 7,60 81,62 1,73 Porcentagem de lixo 0,52 2,49 15,54 0,52 14,65 1,97 0,00 7,60 1,21 0,52 0,69 2,07 8,12 29,53 0,55 1,93 1,04 2,87 3,70 0,59 144,75 100,00 A Tabela 3 mostra os valores obtidos na segunda pesagem realizada. Ao compararmos com as Tabelas 2 e 3 percebe-se que houve uma redução na quantidade gerada de resíduos, apesar do aumento de fluxo de pessoas no hospital do dia 26 para o dia 27 de setembro de 2006. Provavelmente essa redução deve –se à ausência de resíduo “Tipo – B” no segundo dia de pesagem. Tabela 3: Pesagem dos resíduos do hospital realizada no dia 27 de setembro de 2006 Data da Pesagem: 27/09/2006 Origem dos Resíduos Aerosol Banheiro Central de Material Centro Cirúrgico Centro de Estudo Consultórios Cozinha / Copa Dept. Pessoal e Faturamento Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) Tipo B (Kg) Tipo D (Kg) Tipo E (Kg) 1,85 - - 2,00 3,60 26,15 - - Porcentagem de lixo produzido por setor (%) 0,00 0,00 0,00 2,87 0,00 2,69 19,51 0,00 14 Data da Pesagem: 27/09/2006 Diversos Emergência Esterilização Farmácia Laboratório Lactário Lavanderia Material Reciclável Posto I Posto II Raio-X Recepção Sala de Punção Venosa UTI Neo-Natal UTI Pediátrica Vestiário TOTAL PARCIAL: TOTAL: PERCENTUAL TOTAL Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) 0,75 1 1,10 1,25 1,00 2,85 - Tipo B (Kg) - Tipo D (Kg) 6,45 0,50 1,00 0,50 0,75 4,50 18,05 38,50 7,00 0,80 6,85 6,05 - Tipo E (Kg) 1,5 - 9,8 0,00 122,70 1,5 7,31 0,00 91,57 1,12 Porcentagem de lixo 4,81 0,93 0,00 0,00 1,49 0,37 0,56 3,36 14,29 30,78 0,00 5,22 0,60 5,86 6,64 0,00 134 100,00 Os Quadros 2 e 3 também nos mostram que durante o dia 28 de setembro a quantidade de internações no Posto I, foi maior que no Posto II, o primeiro com 22 internações e o segundo com 17. Uma comparação dessa quantidade com a Tabela 4 mostra que a produção de resíduos desses setores foi inversamente proporcional ao fluxo de internações nos mesmos períodos. Tabela 4: Pesagem dos resíduos do hospital realizada no dia 28 de setembro de 2006 Data da Pesagem: 28/09/2006 Origem dos Resíduos Aerosol Banheiro Central de Material Centro Cirúrgico Centro de Estudo Consultórios Cozinha / Copa Dept. Pessoal e Faturamento Diversos Emergência Esterilização Farmácia Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) Tipo B (Kg) Tipo D (Kg) Tipo E (Kg) 0,60 0,60 - - 0,25 2,15 0,75 0,75 30,35 1,35 12,80 0,25 - - Porcentagem de lixo produzido por setor (%) 0,20 0,00 0,00 2,23 0,61 0,61 24,64 1,10 10,39 0,20 0,49 0,00 15 Data da Pesagem: 28/09/2006 Laboratório Lactário Lavanderia Material Reciclável Posto I Posto II Raio-X Recepção Sala de Punção Venosa UTI Neo-Natal UTI Pediátrica Vestiário TOTAL PARCIAL: TOTAL: PERCENTUAL TOTAL: Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) 0,75 1,00 0,60 0,75 2,00 - Tipo B (Kg) - Tipo D (Kg) 0,75 4,00 29,00 16,00 4,45 0,30 5,10 8,60 0,75 Tipo E (Kg) - 6,3 0,00 116,85 0,00 5,12 0,00 94,88 0,00 Porcentagem de lixo 1,22 0,00 0,00 3,25 23,55 13,80 0,00 3,61 0,73 4,75 8,61 0,61 123,15 100,00 A Tabela 5 mostra que dentre os quatro dias de pesagens o dia 28/09/2006 foi o que apresentou o menor peso total de lixo – 118,60 Kg.Comparando o percentual total de cada tabela, nota-se que na Tabela 5 aparece o maior percentual de lixo contaminado em relação ao total gerado nesses dias. Tabela 05: Pesagem dos resíduos do hospital realizada no dia 29 de setembro de 2006 Data da Pesagem: 28/09/2006 Origem dos Resíduos Aerosol Banheiro Central de Material Centro Cirúrgico Centro de Estudo Consultórios Cozinha / Copa Dept. Pessoal e Faturamento Diversos Emergência Farmácia Laboratório Lactário Lavanderia Material Reciclável Posto I Posto II Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) Tipo B (Kg) Tipo D (Kg) Tipo E (Kg) 1,00 0,90 0,50 4,50 - - 1,00 1,70 3,00 19,00 2,00 0,30 0,50 1,25 0,65 4,20 24,35 26,45 1,25 - Porcentagem de Lixo Produzido por Setor (%) 0,00 0,00 0,84 3,33 0,00 2,53 16,02 1,69 0,25 0,42 0,00 1,81 0,00 0,97 3,54 24,33 22,30 16 Data da Pesagem: 28/09/2006 Raio-X Recepção Sala de Punção Venosa UTI Neo-Natal UTI Pediátrica Vestiário TOTAL PARCIAL: TOTAL: PERCENTUAL TOTAL: Horário da Pesagem: 16:00 Tipo A (Kg) 1,00 1,00 2,25 - Tipo B (Kg) - Tipo D (Kg) 6,05 7,75 5,25 - Tipo E (Kg) 1,25 1,50 - 11,15 0,00 103,45 4,00 9,40 0,00 87,23 3,37 Porcentagem de Lixo 0,00 5,10 0,84 8,43 7,59 0,00 118,6 100,00 A Figura 4 mostra que o resíduo mais produzido em uma unidade hospitalar, como já se esperava, é o comum - Tipo D. Os resíduos contaminados representam 12% do lixo pesado durante o desenvolvimento deste estudo, é um valor aparentemente baixo se comparado aos 88% de lixo comum, mas devemos ressaltar que são 62,46 Kg de lixo contaminado, gerados em apenas quatro dias. 2% 8% 2% Classe A Classe B Classe D Classe E 88% Figura 4: Percentual de cada tipo de resíduo gerado durante as pesagens 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As visitas no hospital mostraram e ressaltaram a importância da implantação do PGRSS nos estabelecimentos de saúde. A conscientização dos colaboradores diante da necessidade de se gerenciar corretamente os RSS inicia-se desde a elaboração do plano, 17 geralmente realizada por uma equipe do próprio hospital. A implantação do PGRSS é gradativa e tende a trazer cada vez mais benefícios ao estabelecimento e a seus colaboradores. Após as pesagens realizadas no decorrer deste estudo pode-se verificar que os resíduos contaminados representam uma parte mínima do total de resíduos gerados pela unidade hospitalar, mas este montante pode vir a aumentar caso não ocorra o correto gerenciamento dos resíduos. O desconhecimento por parte de pacientes e de seus acompanhantes da periculosidade inerente aos RSS, por exemplo, é um fator de influência na contaminação de resíduos comuns. Por não terem conhecimento da necessidade de segregação dos resíduos, estas pessoas acabam por descartar um resíduo contaminado juntamente com um resíduo comum. Este aspecto aumenta a quantidade final de resíduos contaminados onerando custos com transporte e tratamento dos mesmos e, caso não haja o correto tratamento destes resíduos, ao meio ambiente. A contaminação dos resíduos comuns, através da mistura destes com os contaminados, também pode ser resultado da falta de atenção, ou mesmo de preocupação, no momento da segregação dos resíduos. Devemos ressaltar, desta forma, a importância da conscientização e o treinamento dos colaboradores responsáveis pela coleta interna dos resíduos, já previstos no PGRSS. Seria recomendável, portanto, a continuidade deste estudo através da elaboração e aplicação de um projeto que abrangesse a conscientização e o treinamento de todos os colaboradores desta unidade hospitalar, bem como a busca pela conscientização de pacientes e de seus acompanhantes. Feito este treinamento, e após realização de nova pesagem, tornar-seia possível a verificação do diferencial na produção de RSS. A redução dos RSS é benéfica tanto para o meio ambiente, já que haveria redução na potencial incidência de contaminação, quanto para a unidade hospitalar, que reduziria os gastos com estes resíduos e os riscos de contaminação nas dependências do hospital. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 306, de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviço de saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2004. 18 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10.004:2004: Resíduos Sólidos - Classificação, Rio de Janeiro, 2004. 71p. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Saneamento. 1. ed. rev. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2004. 408p. ______ Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 120p. CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n° 283, de outubro de 2001. Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos do serviço de saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2001. ______ Resolução n° 358, de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos do serviço de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2005. CENTRO PAN-AMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E CIÊNCIAS DO AMBIENTE. Guia para o manejo interno de resíduos sólidos em estabelecimentos de saúde. Tradução de Carol Castillo Argüelo. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 1997. 64p. HAMADA, Jorge, DA SILVA, Celso Luiz. Incineração de resíduos sólidos de serviço de saúde: análise térmica. Bauru, Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru – UNESP. Disponível em: < www.resol.com.br >. Acesso em 15 de ago. 2005. NAIME R., SARTOR, I., GARCIA, A. C., Uma Abordagem Sobre a Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde. Londrina, 2004. Disponível em: <http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v5n2/artigo2.pdf>. Acesso em 17 de março de 2006, às 08:10. SCHNEIDER, V. E. [et al.]. Manual de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde. Caxias do Sul: Educs. 2. ed. rev. e ampl. 2004. 319p.