INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA ESCOLA PÚBLICA REGULAR: ENTRE O PROCLAMADO E O REAL1 Maria Mônica Leite de Almeida Roseane Rodrigues Aguiar Laêda Bezerra Machado RESUMO Atualmente toda a legislação e discurso no campo educacional preconizam o princípio da inclusão dos portadores de necessidades educativas especiais na escola regular. Este estudo procurou, através de entrevista semi-estruturada, captar os sentidos atribuídos por dez professoras à inclusão, bem como as estratégias utilizadas por essas professoras para efetivação desse princípio. Os dados apontam a inclusão como um avanço em prol da construção da cidadania. Contudo, as professoras reconhecem, que para o desenvolvimento de práticas inclusivas satisfatórias necessitam de recursos materiais, apoio pedagógico e adequadas condições de trabalho na escola. Conclui-se, pois que inclusão não se faz apenas com boa vontade e legislação avançada. 1 Trabalho orientado pela Profa. Dra. Laêda Bezerra Machado. Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional no primeiro semestre de 2006. 1. INTRODUÇÃO A Educação Especial nas últimas décadas vem apresentando um crescente desenvolvimento em relação aos aspectos teóricos-científicometodológicos. O princípio fundamental da Educação Especial é a inclusão. Estes avanços não são observados em relação à sua prática no sistema público de ensino onde o portador de deficiências não tem recebido um atendimento compatível com suas potencialidades e necessidades. O interesse em estudar a prática da inclusão decorre de vivências e atuação como professoras de educação especial na rede municipal de Recife. A experiência em escolas públicas e o conhecimento das políticas educacionais no contexto atual levam a admitir que todos os educandos são dignos de respeito e têm direito à educação de qualidade que propicie o seu desenvolvimento e sua preparação para a vida em sociedade, bem como mobilizam para o estudo das práticas de inclusão na escola pública. A Educação Especial: o proclamado Até a década de sessenta, como na maioria dos outros países, o Brasil seguia a orientação dominante - a segregação educacional dos portadores de deficiência. O atendimento restringia-se a poucas instituições especializadas, onde os poucos que a elas tinham acesso eram educados em espaços restritos ao contato apenas com seus pares e professores. Na Lei 4.024 de 20 de dezembro de 1961, nossa primeira LDB, prevalecia uma orientação muito genérica acerca da educação especial, que embora proclamasse a integração dos excepcionais no sistema regular de ensino, acabava por fortalecer o atendimento educacional em espaços segregados. As referências a essa modalidade de Educação na Lei 4.024/61 estão centradas em dois artigos que afirmam: Art. 88o: A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade. Art. 89o: Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções. Os anos setenta vão se destacar pelo significativo aumento da oferta de educação especial. A maioria das políticas educacional de escolarização dos portadores de deficiências surge nesse período, destacandose a criação em 1973 do Centro Nacional de educação Especial (CENESP) junto ao MEC, que vai ser o órgão definidor das políticas de atendimento educacional e de formação de professores de educação especial. Nessa década são criadas as classes especiais no sistema regular de ensino, que vão se instalar para atender aos alunos portadores de deficiências nas escolas regulares. A implantação das classes especiais encontra respaldo na Lei 5.692/71 que afirma em seu art. 9o: Os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, os que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação. A partir da redemocratização do país seguindo, pois, uma tendência mundial de inclusão, o Brasil vem adotando medidas para transformar em realidade o direito à educação das pessoas com necessidades educativas especiais. A partir dos anos 80, com a abertura política, novos rumos vão sendo definidos para a sociedade brasileira. Em termos legais a Constituição de 1988 garante, em seu artigo 208, inciso III, o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Também o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), como lei complementar, vai indicar o direito do portador de deficiência à educação, à profissionalização e a proteção no trabalho. Além disso, pode-se destacar outros documentos que vão proclamar os direitos dos portadores de necessidades especiais como: a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989); o Plano Decenal de Educação para Todos (MEC – 1993/ 2003), que prevê a integração à escola de crianças e jovens portadores de deficiência; Declaração de Salamanca (1994), resultante da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, ocorrida na Espanha. Este documento reafirma o direito de todos à educação, independentemente de suas diferenças, enfatizando que a educação de pessoas portadoras de deficiências é parte integrante do sistema educativo. No contexto de todas as políticas educacionais do final do milênio destaca-se a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) que apresenta pela primeira vez um capítulo a esse respeito, conforme esta lei, a Educação Especial é uma modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas portadoras de necessidades educacionais especiais. Trata-se de um conjunto de recursos e serviços educacionais de apoio que devem estar à disposição de todos os alunos oferecendo diferentes alternativas de atendimento e perpassando toda a educação básica. A oferta de Educação Especial tem início na faixa etária de 0-6 anos de idade. (Art. 58) e os sistemas de ensino assegurarão: a)currículos, métodos, técnicas e recursos educativos específicos para atender aos portadores de necessidades educacionais especiais;b) terminalidade e aceleração de estudos nos casos específicos; c) professores com formação especializada para esse atendimento;d) educação especial para o trabalho e acesso igualitário a benefícios dos programas sociais suplementares.(Art. 59) Em relação ao financiamento a lei proclama: Os órgãos normativos caracterizarão as instituições de atendimento que não têm fins lucrativos para apoiá-las técnica e financeiramente. Há ainda um compromisso do poder público em ampliar o atendimento aos portadores de necessidades educacionais especiais na rede pública regular de ensino. (Art. 60) Na tentativa de melhor explicitar o que está posto na atual LDB tem-se as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001). Conforme este documento, a Educação Especial passou a ter uma dupla função: atender a todos os alunos com necessidades especiais que requerem atendimento nas modalidades específicas da Educação Especial e apoiar os docentes a cujo cargo este aluno se encontra, pois incluir não significa simplesmente matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum do ensino regular, ignorando suas necessidades específicas, mas oferecer ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica. Para dar suporte a escolarização dos alunos, bem como à prática dos educadores (especialistas ou não), a Educação Especial deverá ser otimizada através de currículos, metodologias e recursos didáticos próprios a considerar a heterogeneidade do alunado e seu fluxo (deste a Educação Infantil ao Ensino Superior). Embora a legislação preconize que o atendimento educacional as pessoas com necessidades educativas especiais deve se dá preferencialmente no sistema regular, as alternativas educacionais para esse grupo vão desde o atendimento em instituições especializadas de caráter educacional até às filantrópicas e assistenciais, que continuam existindo, sendo apoiadas e reconhecidas pelo poder público. O princípio da inclusão ganhou reforço com Convenção da Guatemala, de 2001. Esta proíbe qualquer tipo de diferenciação, exclusão ou restrição baseadas na deficiência das pessoas. Sendo assim, mantê-las fora do ensino regular é considerado exclusão e crime. Conforme as políticas públicas atuais, a Educação Especial é entendida como a modalidade de ensino, que tem como objetivo quebrar as barreiras que impedem a criança de exercer a sua cidadania. A Educação Inclusiva, tendência internacional neste final de século, é uma meta a ser perseguida por todos aqueles comprometidos com a Educação Especial. A viabilidade de sua implementação depende, porém, de um amplo consenso da sociedade a respeito da aceitação dos portadores de necessidades especiais na vida e da compreensão de seu direito à cidadania (MEC/ SEESP, 1995, p.19). Do ponto de vista pedagógico, a construção desse modelo inclusivo implica transformar a escola, no que diz respeito ao currículo, à avaliação e, principalmente, às atitudes". Mantoan (2003,.16), afirma: "não podemos continuar segregando essas crianças em escolas especiais, que oferecem um ensino pouco estimulante”. Quem enfrenta o desafio garante: quando a escola muda de verdade, melhora muito, pois passa a acolher melhor todos os estudantes. A educação inclusiva tem sido, portanto, reafirmada como um processo de educar conjuntamente e de maneira incondicional, nas classes de ensino comum, alunos ditos normais com alunos portadores de deficiências, que apresentam necessidades educacionais especiais. Nesse sentido é notório que toda a legislação para educação especial brasileira atual indica que os direitos dos portadores de necessidades educativas especiais vêm sendo marcados por uma sensível evolução. No âmbito local, a Secretaria de Educação de Recife concentra esforços para adequar sua prática ao que é recomendado nas políticas públicas e legislação vigente que tem a inclusão como princípio orientador educação especial. Assim sendo, a rede municipal oferece suporte aos professores que trabalham em escolas com alunos especiais através do professor itinerante, que representa um auxílio para a construção do movimento de inclusão educacional daqueles excluídos da escola por apresentarem uma diferença, quer seja de aprendizagem, na apreensão e compreensão de códigos diversos ou mesmo pela sua condição psíquica. (Departamento de Educação Especial, 2004). Conforme preconiza a proposta da rede municipal, não só o professor de classe regular deverá ser apoiado no sentido de qualificar a inclusão de todos os alunos, mas também, a escola em sua totalidade. Por esse motivo, a educação especial procura afastar-se das práticas pontuais, isoladas fazendo opção por um projeto global de educação que garanta a todos o acesso e permanência na escola. Assim, devem existir conjuntamente com outros elementos da escola ações a serem propostas para os alunos, contribuindo de forma efetiva para aprendizagem, possibilitando a inserção de todos como protagonistas num projeto de sociedade mais democrática, que tem como princípios a ética, a solidariedade e a justiça social. Acrescenta-se que na rede municipal de ensino de Recife as possibilidades no atendimento aos alunos especiais não se reduzem à classe regular, classe especial e serviço de itinerância, mas inclui também, a sala de apoio pedagógico (SAPE). Trata-se de um ambiente provido de recursos educacionais específicos e adequados para os alunos portadores de necessidades especiais. Esse serviço configura-se como um apoio educacional nas áreas específicas de deficiência (visual, surdez, mental, múltipla, condutas típicas e físicas). Nessa sala o aluno é acompanhado por um professor devidamente qualificado que lhe oferece apoio de modo a facilitar o seu processo de inclusão e aprendizagem contexto sócio-escolar. A filosofia da inclusão defende uma educação eficaz para todos, sustenta que as escolas, enquanto comunidades educativas, devem satisfazer as necessidades de todos os alunos, sejam quais forem suas características pessoais, psicológicas ou sociais. Desse modo, diante do que vem sendo preconizado pelas políticas educacionais como educação inclusiva nosso problema de pesquisa incide sob a seguinte questão: quais as estratégias utilizadas pelos professores para viabilizar o princípio da inclusão? Quais os sentidos e significados a ele atribuídos? 2. OBJETIVOS • Analisar as estratégias utilizadas por professores de escolas públicas para concretizar o princípio da inclusão preconizado pelas políticas públicas atuais propostas pela rede municipal de educação do Recife; • Identificar os sentidos atribuídos à inclusão pelos professores de escolas municipais. 3. METODOLOGIA Para analisar as estratégias utilizadas pelos professores para viabilizar o princípio da inclusão e entender os sentidos que lhe são atribuídos realizou-se um levantamento em diferentes regiões político administrativa do Recife (RPA’s) a fim localizar escolas e professores que vêm recebendo alunos com necessidades especiais. Após esse levantamento procedeu-se o trabalho de campo. 3.1. Participantes Foram entrevistadas dez professoras em escolas de quatro RPA’s, sendo uma docente pertencente a RPA 1, quatro da RPA 2, três da RPA 3 e duas da RPA 6, a escolha das professoras, ateve-se ao critério receber aluno portador de necessidade especial em sua sala. A formação educacional das professoras entrevistadas varia desde o nível normal médio até a pós-graduação em nível de especialização, conforme mostra o quadro I. Quadro I Formação acadêmica das professoras entrevistadas Nível de formação f Médio 1 Graduação 3 Pós-graduação 6 TOTAL 10 O tempo de exercício profissional das docentes, conforme quadro II, varia entre 2 a 20 anos. A experiência em sala de aula inclusiva varia de um a três anos. Quadro II Tempo de exercício profissional das professoras entrevistadas Intervalo (em anos) f 1 ano a 5 anos 4 6 a 10 anos 1 11 a 15 anos 3 16 a 20 anos 2 TOTAL 10 A faixa etária das professoras entrevistadas, conforme quadro III varia de 25 anos a 42 anos. Quadro III Faixa etária das professoras entrevistadas Intervalo (em anos) f 25 a 30 anos 3 31 a 36 anos 4 37 a 42 anos 3 TOTAL 10 Das professoras participantes da pesquisa seis atuam no primeiro ano do primeiro ciclo, duas no segundo ano do primeiro ciclo e duas no primeiro ano do segundo ciclo do ensino fundamental. Neste texto, as professoras são identificadas pela letra P, que significa professora, seguida do número de ordem de aplicação das entrevistas. 3.2. Procedimento de coleta de dados Para responder sa questões de pesquisa: quais os sentidos atribuídos à inclusão dos portadores de necessidades especiais, bem como as estratégias utilizadas pelas professoras para o desenvolvimento de práticas inclusivas foi utilizado o método da entrevista. A entrevista, de caráter semi-estruturado, (roteiro em anexo) foi aplicada a dez professoras de sala de aula regular, que vêm recebendo alunos portadores de necessidades educativas especiais para promover a inclusão. As entrevistas foram agendadas previamente por telefone e realizadas durante o intervalo das aulas dessas professoras. A sessões de entrevistas ocorreram na própria escola em que as professoras lecionam durante cinco dias. Sua aplicação se dava em local reservado, com o mínimo de ruído possível. Todas as entrevistas foram gravadas, após a prévia autorização das professoras. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As entrevistas foram cuidadosamente transcritas e após uma leitura cuidadosa, todos os depoimentos foram organizados em categorias temáticas indicadas por Szymanski (2004), Almeida e Prandini (2000) Para estes autores: a categorização concretiza a imersão do pesquisador nos dados e a sua forma particular de agrupá-los segundo sua compreensão. Podemos chamar este momento de explicitação de significados (p.75). Após essa exaustiva leitura e releitura dos depoimentos coletados nas entrevistas os resultados foram organizados em cinco categorias a saber: a) sentimentos predominantes: desespero, resistência e aceitação em perspectiva; b) significados do princípio de inclusão; c) benefícios da inclusão; d) dificuldades para efetivação da inclusão e) formação especializada: exigência ou necessidade? 4.1. Sentimentos predominantes: Desespero, resistência e aceitação em perspectiva Inicialmente a prática de incluir alunos portadores de necessidades especiais em sala de aula regular para algumas entrevistadas do grupo provocou sentimentos diversos do tipo: revolta, rejeição, angústia, impotência e até desespero. Isso é o que sentem pelo menos num primeiro momento a maioria das professoras. Relatam: Ele caiu de pára-quedas, eu recebi com muita revolta, eu não tenho condição de trabalhar, porque eu não tenho preparo para isso. Ele é a sala inteira; então eu tenho duas salas. (P1) Sentimento de incompetência porque eu nunca trabalhei... uma angústia de nada saber... se estava fazendo um trabalho bom, se tava dando resultado... (P2) Eu fiquei desesperada, não queria ele de jeito nenhum, briguei porque não queria sentar com ele. Eu rejeitava.(P8) Depois com o dia-a-dia, ao lidar forçosamente com esses alunos os sentimentos de revolta, desespero e angústia vão dando lugar a aceitação e respeito, ingredientes indispensáveis para a relação de convivência entre professor, aluno especial e aluno regular. A maioria das professoras começa a acreditar que, apesar das dificuldades, a inclusão é um caminho importante e significativo para todos os envolvidos e que o professor tem um papel a desenvolver junto a esse grupo. Afirmam: ... Depois eu fui vendo que não era bicho de sete cabeças. É difícil, eu não vou dizer que não é, mas estou vivendo esse processo. Esse conflito faz com que eu me modifique, mexe comigo, é uma forma de aprender. (P1) ... Às vezes eu fico com medo será que estou fazendo o que é certo? Eu acredito que o fato dele estar aprendendo, seja muito bom. (P2) ... O que aconteceu comigo foi uma coisa muito importante e bonita, a inclusão dele que só começou a se dar quando eu despertei para ele que precisava de mim. E isso é afeto. (P8) 4.2. O princípio de inclusão: significados para as docentes Mesmo convivendo com sentimentos diversos em relação ao portador de necessidade especial em sua sala de aula, basicamente, todas as professoras entrevistadas mostraram acreditar na inclusão e concordar com a política inclusiva, que vem sendo preconizada pela rede municipal de ensino de Recife, em sintonia com a política nacional e tendência mundial. Eu acredito que de certa forma é um avanço, até por que é injusto deixar uma pessoa à margem... (P2) Eu estou vendo que é um esforço válido por parte da rede fazer isso (inclusão)... acho que é por aí o caminho, acho que é isso que funciona... (P1) Ela (inclusão) na realidade tem deficiências, a gente colocou, matriculou, a gente vê que eles (alunos especiais) estão aparecendo... você sai no teatro você vê, você vai no restaurante, você vê, no ônibus... na rua você observa sempre um, e antigamente você não via, então eles estão saindo... (P5) Ao refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do processo de educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de aprendizes e seu direito à eqüidade, portanto, valorizar a inclusão é um passo importante para o crescimento de todos os envolvidos na questão: alunos, com deficiência ou não, professores, famílias e a sociedade. A educação inclusiva deve ser entendida como uma tentativa a mais de atender as dificuldades de aprendizagem de qualquer aluno no sistema educacional e como um meio de assegurar que os alunos portadores de deficiência tenham os mesmos direitos que os outros, ou seja, os mesmos direitos dos seus colegas escolarizados em uma escola regular. As professoras, em seus depoimentos, parecem em sintonia com o que tem sido preconizado a esse respeito: Inclusão é você apesar de ser diferente conseguir viver no meio dos iguais, assim dos da turma que é regular... (P2) Eu acredito que a inclusão é importante para as pessoas que tem alguma dificuldade quanto para as que são consideradas normais... Eu acredito que a inclusão ela é importante, ela tem que ser feita mesmo.(P1) Eu entendo que é ela (criança especial) participando de tudo na sala como a gente participa, eu dou bronca nela... Não é tratando ela como coitadinha... ela tem isso (deficiência), eu vou deixar ela, não vou olhar o dever porque ela não fez direito... (P7) Eu acho que é uma proposta de incluir o sujeito diante de um contexto social, porque trabalhando com as diferenças, ele não vai se sentir tão diferente diante desse contexto... (P9) 4.3. Os Benefícios da Inclusão Ao se referirem ao princípio de inclusão, praticamente todas as professoras entrevistadas acreditam que o aluno incluído é muito beneficiado, pois a convivência com os alunos normais do ensino regular, possibilita a ambos um crescimento em vários aspectos (mesmo que lento), no psicológico e no social, etc, favorecendo seu processo de cidadania. É o que revelam alguns depoimentos: ... eu acredito que traz benefícios tanto pra o aluno do ensino regular, quanto para o especial... porque a pessoa que tem problema, interage com as outras crianças, ele fica observando o comportamento, as atividades, ele tenta fazer também. (P1) ... favorece por causa do social. Porque ela (aluna especial) tá em contato com o grupo, ela era bastante tímida quando chegou não falava nada. Tinha a mania de se trançar no banheiro. Agora, já vai pro quadro... Quando pinta, já mostra aos coleginhas... (P7) ... está muito mais significativo nas salas de inclusão... eles se sentem mais acolhidos... a vontade de ser igual, de não ser diferente, com essa vontade eles vão muito mais além, eles conseguem ultrapassar desafios que nas salas especiais a gente não consegue. (P3) ... ele (aluno especial) é quem toma conta da sala quando eu desço... como ele é o mais velho (a faixa etária da turma é de 8 anos, o aluno incluído tem 18 anos) ele adora ficar de olho na turma... (P2) Quando se fala em benefícios que a inclusão traz, o primeiro pensamento que surge é o de que as pessoas com deficiência têm mais chances de se desenvolver. Mas, todos ganham ao exercitar a tolerância e o respeito. Conforme Carvalho (1999) a metáfora do caleidoscópio é o que melhor traduz a idéia da inclusão escolar, isto é, um sistema educativo no qual todas as crianças devem estar, necessariamente, matriculadas em escolas regulares e, nelas, freqüentar as classes comuns. No caleidoscópio todos os pedacinhos são importantes e significativos para a composição da imagem. Quanto maior a diversidade, mais complexa e mais rica se torna a figura formada pelo conjunto das partes que a compõem. Levando essa imagem para as classes do ensino regular, a idéia é a de que a presença de alunos com necessidades educacionais especiais, embora torne o conjunto da turma de alunos mais heterogêneo e complexo, também o torna mais rico. Portanto, como mostra a metáfora, essa diversidade na realidade estudada está na mistura de alunos (especiais com os ditos normais) que as professoras relatam, ser de grande importância por gerar ganhos principalmente no aspecto social. A educação inclusiva tem sido conceituada como um processo de educar conjuntamente e de maneira incondicional, nas classes de ensino comum, alunos ditos normais com alunos – portadores ou não de deficiências – que apresentam necessidades educacionais especiais. A inclusão beneficia a todos, uma vez que sadios sentimentos de respeito à diferença, de cooperação e de solidariedade podem se desenvolver (Carvalho, 1999, p. 38). 4. Dificuldades enfrentadas pelas professoras no desenvolvimento de práticas inclusivas. Praticamente todas as professoras reclamam de falta de tempo para acompanhar os alunos portadores de deficiências que foram incluídos em suas salas regulares. Conforme atestam os depoimentos: [...] eu não tenho esse tempo todo pra me dedicar. Eu tenho 32 alunos. Não tem quem assista ele (aluno especial). Ele gosta muito de brincar com blocos de madeira e letras. E também atividades, que eu peço a outras professoras para ele. (P8) Os DM (deficientes mentais), eles não conseguem fazer a tarefa sozinho, a pessoa tem que tá em cima, eles não têm autonomia... (P5) No que se refere às dificuldades na elaboração de atividades insistimos que essas atividades devem ser significativas e apelem para o real desenvolvimento dos alunos incluídos, contextualizadas com os conteúdos que foram planejados a serem trabalhados com o grande grupo, ou seja, essas atividades ao serem elaboradas, têm que ter sentido para aprendizagem do aluno. Não podemos propor tarefas sem nenhum significado de aprendizagem. Contudo, os professores mesmo que de maneira indireta revelam dificuldades em elaborar atividades adequadas às necessidades e interesses e limitações de seus alunos que apresentam algum tipo de deficiência. Como ilustra o depoimento abaixo: As atividades pra ele, porque ele é PC praticamente ele tá colando, fazendo coordenação motora e pintura. Não que eu não tivesse dado outras atividades, mas ele precisa de adaptações, que até agora não vieram. Ele participa oralmente e as atividades para ele têm que ser mais motora, material que tenha peso por causa da ataxia dele. As atividades oral envolve números de 1 até 3; letrinhas por ex. mostrar a letra “a” e perguntar que letra é essa, ai ele diz “a” de xi para dizer abacaxi... Faz pouco tempo que ele tá freqüentando a escola. (P6) Sabemos que se a escola tem o compromisso de difundir o conhecimento, certamente terá de saber lidar com o que há de particular na construção desse conhecimento para alcançar seu objetivo. Mas, ainda assim, terá limitações para tratar com o que há de subjetivo nessa construção com os alunos com deficiência, principalmente a deficiência mental. Nesse sentido, Sassaki (1997), comentando trechos da Declaração de Salamanca (UNESCO,1994), afirma: Todo aluno possui características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que são singulares. Os sistemas educacionais devem ser projetados e os programas educativos implementados de tal forma a considerar a ampla diversidade dessas características e necessidades. As escolas devem acomodar todos os alunos independentemente de suas condições físicas, lingüísticas ou outras. O desafio para uma escola inclusiva é o de educar com sucesso todos os alunos incluindo aqueles com deficiências severas. (p. 6) A Secretaria Municipal de Educação do Recife, a partir da definição dos Princípios e Diretrizes para a Educação no Município, estabelece como uma das suas prioridades na Educação Especial a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais, abrangendo todas as áreas de deficiências como: deficiência mental, deficiência auditiva, deficiência visual baixa visão, condutas típicas, deficiência física (paralisia cerebral, múltiplas deficiências e altas habilidades). O atendimento educacional do município está voltado a todas as áreas. O nosso objetivo ao realizar a pesquisa não se prendeu a nenhuma destas áreas específicas, porém, por coincidência, os entrevistados eram, em sua maioria, professores de alunos com deficiência mental. Segundo a Secretaria de Educação Especial, através do seu documento para a Educação Inclusiva (2005, p. 41), a deficiência mental coloca em xeque a função primordial da escola comum, que é a produção do conhecimento, pois o aluno portador dessa deficiência tem uma maneira própria de lidar com o saber que, invariavelmente, não corresponde ao ideal da escola. Na verdade os alunos com deficiência mental denunciam a impossibilidade da escola atingir esse ideal, de forma tácita. Eles não permitem que a escola dissimule essa verdade. As outras deficiências não abalam tanto a escola regular, pois não tocam no cerne e no motivo da sua urgente transformação: entender a produção do conhecimento acadêmico como uma conquista individual. É comum o professor selecionar uma atividade de leitura, escrita e interpretação de texto para todos os alunos, cabendo aquele com deficiência mental apenas colorir uma folha mimeografada pela professora ou cobrir o traçado de letras. O aluno com deficiência mental tem dificuldade de construir conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador de atuação e gestão autoritária e centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a deficiência e, em conseqüência, aumentam a inibição, reforçam os sintomas existentes e agravam as dificuldades do aluno com deficiência mental. (MANTOAN, 2003). Conforme preceitua a proposta de inclusão do município do Recife, a prática escolar inclusiva deve provocar necessariamente a cooperação entre todos os alunos e o reconhecimento de que ensinar uma turma é, na verdade, trabalhar com um grande grupo e com todas as possibilidades de subdividi-lo. Dessa forma, nas subdivisões de uma turma, os alunos portadores de deficiência podem aderir a qualquer grupo de colegas, sem formar um grupo à parte, segregado. Pudemos observar através do depoimento de uma das professoras, que em suas práticas em sala de aula, ela busca desenvolver os princípios da inclusão quando coloca: Eu separo a nossa aula em dois momentos: Um momento em que ele está inserido no grupo, que é realmente assim uma forma de você trabalhar coletivamente, que dá pra trabalhar. Mas tem momentos assim, que pelas dificuldades que eles se encontram tem que ser um trabalho mais individualizado, embora existam momentos em que eles estão juntos, compartilhando... O paralítico cerebral, por exemplo, tem uma participação ativa em sala de aula de se colocar, em contribuir com suas idéias, opiniões, sugestões... (P4) No grupo das dez professoras entrevistadas seis delas reclamam a ausência de estagiários em sala de aula, bem como a necessidade de estudos específicos na área. Eu não tenho estagiária, a itinerante me ajuda de vez em quando, mas eu preciso de uma pessoa permanente, que ajude, fazendo aquela tarefa diferente, acompanhe mais de perto os alunos. Eu passo a tarefa, mas eles não querem nem saber. Eles ficam me esperando, é difícil ensinar assim. Então, minha maior dificuldade é ter outra de mim. (P5) ... eu acho que a gente deveria ter um maior apoio assim, até uma pessoa dentro de sala pra dividir porque pra que eu pudesse dar mais atenção a ele, eu precisava de mais uma pessoa. Como você viu, eu tenho vinte e cinco meninos, são crianças agitadas tudo mais, eu queria, gostaria muito que tivesse uma pessoa que me ajudasse ... que com isso, tanto ia ajudar nas crianças que tem dificuldade como nele. Eu ia dar muito mais atenção. (P10) No tocante as reclamações pela falta de estagiários na sala de aula, é importante mencionar que, conforme a política do sistema municipal, só são contemplados com esse tipo de apoio os professores que em suas salas de aula têm alunos incluídos com paralisia cerebral, comumente denominado “cadeirantes”. Como afirma uma professora: Eu tenho uma estagiária na minha sala de aula, pois o aluno é cadeirante, que a gente se divide ... porque os outros alunos precisam de muita atenção. (P4) Talvez esse fato gere nas outras professoras essa necessidade de apoio. Ao refletirmos sobre as resistências de alguns professores, que alegam falta de preparo profissional específico para atender aos alunos com deficiência, inferimos que se ressentem de ausência de preparo e estudos sobre inclusão, o que talvez no contexto atual caberia ao professor itinerante juntamente com o coordenador pedagógico estar mobilizando os professores para estudos e discussões acerca dessas dificuldades e demandas da prática. Eu nunca recebi material dessa coisa de inclusão, devia ter um respaldo teórico, eu não tenho material, não li nada. Eu queria material que eu pudesse ler, entender mais... Eu também não sei até que ponto a escola compreende isso... (P1) Eu só sinto muita dificuldade por não dominar a Libras... Mas, tô fazendo um curso oferecido pela prefeitura. (P3) Por outro lado, algumas professoras ressaltam a atuação da itinerante, como alguém que vem propiciando o acesso a artigos em educação especial na escola, algo que favorece o trabalho. Como ilustra o depoimento: Na nossa escola nós temos uma professora itinerante, que nos respalda assim de acordo com nossas necessidades com textos que traga reflexão sobre as deficiências e buscar instrumentos de trabalho para que agente possa realizar um bom trabalho. (P4) As professoras ressentem-se ainda da falta de recursos para os trabalhos pedagógicos com os alunos. Os obstáculos materiais mais citados foram: falta de rampas, mesas inadequadas; salas superlotadas; falta de recursos especializados para atender aos alunos; não domínio da língua Brasileira dos Sinais (LIBRAS). São depoimentos de algumas professoras: ... a gente pra conseguir uma rampa para ele foi uma luta, no estacionamento tinha batente, vivia puxando e empurrando cadeira, minha estagiária é muito magrinha e ele muito grande ... pedi também uma mesa adaptada para as coisas não caírem... quer dizer se tivesse esses ajustes agente caminharia melhor, com certeza. Ele precisa de adaptações, que até agora não vieram. Como ele tem ataxia, ele precisava de objetos de peso pra ele segurar os movimentos, então o lápis não ajuda, o hidrocor não, que é muito fino... aí essas coisas assim ele não tá conseguindo ... outro problema é a cadeira que é pequena para ele e a família não tem recursos. (P6) ... eu só sinto muita dificuldade por não dominar o código de leitura para surdos – que é a LIBRAS – eu não domino LIBRAS, ainda, tô fazendo um curso pela prefeitura, é tô ainda no iniciozinho, do básico.(P3) Essas considerações das professoras a respeito dos obstáculos enfrentados no cotidiano dos seus alunos coincidem com o que está posto na Política Nacional de Educação Especial que prescreve: devem ser criadas no interior das escolas regulares alternativas de procedimentos didáticos específicos e adequados às necessidades educacionais desses alunos e implicam espaços físicos, recursos humanos e materiais diferenciados. (MEC, SEESP, 1994). Algumas professoras alegaram desconhecimento e despreparo em relação à educação inclusiva e que isso gera insegurança no desenvolvimento do trabalho. Apesar de afirmarem que deveriam ser capacitadas antes de iniciar o trabalho de inclusão, algumas professoras acrescentam que para esse trabalho dar certo, além do apoio, o professor e o aluno necessitam de acompanhamento permanente e condições materiais de trabalho adequadas. Acreditar na inclusão e seus benefícios e trabalhar nessa perspectiva são duas alternativas nem sempre correspondentes. É o que afirma uma das professoras:... eu acredito na inclusão. Mas, assim você acreditar e trabalhar são duas é, é... como posso dizer duas instancias assim diferentes... (P4) Outra dificuldade apontada pelas professoras diz respeito aos apoios. Sobretudo os recursos humanos e materiais, nem sempre disponíveis. Indicam: Eu acho positivo, a inclusão quando existe é... recursos humanos e materiais disponíveis, o professor sozinho, realmente numa sala de aula é difícil ele dá conta, eu acho que precisa de apoio tanto de um outro profissional numa sala de aula. (P4) Sabe-se que na rede municipal de Recife, existe o professor itinerante responsável, conjuntamente com o professor e toda a escola, pelo trabalho de inclusão do aluno. No entanto, conforme alguns depoimentos dos professores, tem sido falha a atuação desse profissional. ... o ano passado eu não tive muito problema até por que ela (professora itinerante) era muito presente ... Esse ano eu já tenho um probleminha, durante esse tempo todo, só uma ou duas vezes ela falou comigo, e às vezes eu vou atrás dela e pelo amor de Deus me dê esse suporte pra trabalhar... Ela: “é assim mesmo, vá levando”. É horrível fazer uma coisa que você nunca fez, eu sinto dificuldade. E, ele é uma pessoa... ele não é agressivo, mas ele é altamente é ativo, você tem que está o tempo todo de olho... (P2) 4.5. Formação Específica: exigência ou necessidade? No transcorrer das entrevistas pudemos observar que quando as professoras não tinham especialização, seja em Educação Especial ou em áreas afins, demonstravam certa insegurança para realizar seu trabalho, revelando a necessidade dessa formação para a condução do trabalho. Como ilustram os depoimentos: Eu nunca fiz curso de Educação Especial, pra você vê eu não tenho a idéia do que realmente ele (o aluno) é, eu não tenho condição de trabalhar com essa criança por que eu não tenho preparo para isso... Eu percebo que preciso me preparar, estudar para isso. (P1) Eu não tenho nenhum curso de especialização, tem uma colega aqui na escola que tá fazendo, eu vou e pergunto a ela: Quando eu recebi o aluno eu fiquei cheia de dúvidas sem saber como fazer... Como lidar... Então vou testando. Acho que se eu tivesse uma especialização, me sentiria mais segura para trabalhar... (P7) Por outro lado, enquanto as professoras que não tem especialização lamentam o seu despreparo; para as professoras, já para as especialistas, essa formação específica não vai trazer a segurança reclamada pelas que não a possuem. Pois estas, afirmam que a especialização em si mesma não prepara para esse lidar cotidiano com o aluno com necessidades educativas especiais em sala de aula, a prática, o fazer docente, parece ensinar muito mais. Eu acho que a especialização é uma boa, porque expande seus conhecimentos, aprofunda teoricamente, mas, a prática, o dia-a-dia mesmo, é que você vai buscando formas de ajudá-lo. Eu acredito que o professor mesmo sem especialização possa fazer um bom trabalho, claro com a colaboração de uma equipe, com discussões e reflexões. (P4) Não acho que a especialização é o mais importante para se fazer um bom trabalho de inclusão. O compromisso, o desejo e o afetivo são fundamentais, de repente eu me vi obrigada a parar para compreender a mudança que aquele aluno tava causando na minha vida e como a perspectiva de sala de aula cresceu e foi ampliada, e não é a especialização que gera esta mudança, mas o trabalho que você desenvolve. (P8) Admite-se, contudo, que para se oferecer uma educação de qualidade a todos os educandos, inclusive os alunos com necessidades especiais, a escola precisa capacitar seus professores, preparar-se, organizarse, enfim, adaptar-se: inclusão não significa, simplesmente, matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica (MEC/ SEESP, 1998). No âmbito do município do Recife, a Secretaria de Educação através das gerências: de Serviços e Eventos e Formação e de Educação Especial vêm promovendo ações de formação continuada para os professores, gestores e comunidade da rede regular de ensino, objetivando sensibilizá-los e oferecer melhores condições no desenvolvimento de suas práticas. Conforme dados da SME do município desde 2003 vêm sendo oferecidas capacitações em diferentes áreas com diferentes cursos como: fundamentos teóricos metodológicos da educação especial abordando a deficiência mental, deficiência auditiva, deficiência visual e deficiência motora, curso de tipologia (abordando toda a área visual incluindo o Braille); curso de libras e curso de gestores de educação inclusiva. Mesmo admitindo que a rede municipal ainda precisa avançar muito para atingir o ideal, observamos o esforço que vem sendo empreendido neste processo de sensibilização dos membros da comunidade escolar através de metas e projetos visando melhorar a qualidade de atendimento das necessidades dos alunos incluídos e favorecendo aos professores subsídios para suas práticas pedagógicas. Sabe-se ainda que a formação inicial pouco aborda a educação inclusiva e conhecimentos acerca das necessidades educacionais especiais dos alunos. Contudo, é preciso considerar que a formação do professor deve ser um processo contínuo. Não bastam informações e imperativos, mas verdadeiros processos de reflexão. É fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. A apropriação de alguns conceitos é fundamental, contudo, é necessário articular esses conceitos com as situações vividas em cada realidade escolar e na experiência de cada profissional da educação. Este trabalho de articulação é um processo cotidiano e sistemático. Não acontece de uma vez, mas através da análise do fazer diário. Não se trata apenas de incluir o aluno, trata-se de desencadear um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais esse aluno não consegue encontrar um lugar na escola. Ao reconhecer que faz parte de um sistema regulado por práticas já cristalizadas, o professor terá condições de buscar mecanismos que possibilitem a discussão e análise das questões que envolvem o seu fazer, ressignificando as relações entre sujeitos, saberes e aprendizagens e criando novas práticas inclusivas. É imprescindível, portanto, investir na criação de uma política de formação continuada para os profissionais da educação. A partir dessa política, seria possível a abertura de espaços de reflexão e escuta sistemática entre grupos interdisciplinares e interinstitucionais, para a acompanhar, sustentar e interagir com o corpo docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo como objetivo norteador deste trabalho os sentidos e práticas de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na escola pública, buscamos compreender como vem se dando a inclusão dos portadores de deficiência na escola pública e que estratégias são utilizadas pelos professores para a efetivação desse direito. Com este estudo foi possível constatar que as professoras concordam e acreditam nesta política educacional inclusiva que vem sendo adotada na rede municipal de ensino do Recife. Todavia, apesar das mesmas acreditarem são grandes as dificuldades enfrentadas neste processo de inclusão. Os dados apontam que a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais é um avanço da legislação em prol da construção de sua cidadania. Mas, para que possam desenvolver suas práticas pedagógicas inclusivas de maneira satisfatória os professores necessitam de recursos materiais especializados e principalmente apoio e condições materiais adequadas de trabalho. De certa forma reconhecem que para viabilizar o princípio inclusão faz-se necessário: compatibilizar os programas de ensino especial com os do ensino regular, favorecer o convívio social entre todos os alunos, professores e demais profissionais existentes na escola, propiciar a participação de famílias corresponsabilizando a todos pelo processo de inclusão. Inclusão não se faz apenas com boa vontade e legislação avançada. Deve-se ter a clareza de que promover a inclusão, não significa, apenas permitir que o aluno especial adentre em uma escola regular, mas principalmente, garantir que lhe sejam oferecidas condições de aprendizagem, desenvolvimento social, cognitivo e afetivo, por ser ele um sujeito de direitos e cidadão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição, 1988. Constituição; República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico. BRASIL. Ministério da Educação. Direito a educação, subsidio para a gestão dos sistemas educacionais. Orientações gerais e marco legais. Brasília: MEC/ SEESP, 2004. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: MEC, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes curriculares nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC/ SEESP, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação Inclusiva – atendimento educacional especializado para a deficiência mental. Brasília: MEC/ SEESP, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. PCN – adaptações curriculares - estratégias para a educação de alunos com necessidades educativas especiais. Brasília: MEC/ SEESP, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. O Processo de integração escolar dos alunos portadores de necessidades educativas especiais no sistema educacional brasileiro. Brasília: SEESP, 1995. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Salto para o Futuro: Educação Especial: tendências atuais. Brasília: SEED, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais para formação de professores. Brasília: MEC, 2002. CARVALHO, Rosita Edler. A Nova LDB e a Educação Especial. Rio de Janeiro: WVA, 1999. DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Orientação para utilização das salas de apoio pedagógico especializado. Recife: 2005. DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. O papel do professor itinerante da rede municipal de educação da prefeitura do Recife. Recife: 2004. CAVALCANTE, Meire. A escola que é de todas as crianças. Revista Nova Escola. São Paulo: maio 2005, ano XX, nº 182, 40p GUIMARÃES, Arthur. A Inclusão que funciona. Revista Nova escola. São Paulo: setembro 2003, ano XVIII, nº 165, 43p. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Moderna, 2003. PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças - Fragmentos de uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2000. SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1999. SZYMANSKI, H. (org). A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Líber Livro Editora, 2004. STAINBACK, Susan e William (tradução Magda França Lopes, supervisão Maria Teresa Eglér Mantoan). Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Ministério da Justiça/ CORDE. Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: MJ/ CORDE, 1994. ANEXO Tópicos para relização da entrevista para os professores: • Caracterização da amostra: Faixa etária; formação acadêmica; tempo de profissão; experiência com educação inclusiva; nº de alunos portadores de necessidades especiais atendidos em sala, tipos de deficiências mais comuns recebidas pela escola. • Inclusão na rede municipal: Período em que se começa a defender a filosofia da inclusão; orientações e apoio recebidos para o desenvolvimento da educação inclusiva; serviços e estratégias que utilizam para viabilizar o que a rede de ensino propõe para ensinar alunos com necessidades educativas especiais. • A prática de inclusão na escola pública Conceito de inclusão; modos ou maneiras como pratica a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais (apresentando exemplos); processo de interação em sala de aula (alunos especiais x alunos ditos normais); situações de aprendizagem; envolvimento e participação, aprendizagem e avaliação desses alunos.