O USO DA TI COMO FERRAMENTA PARA COLETA DE
DADOS: UM ESTUDO SOBRE A COLETA DE DADOS
DA FIPE PARA FORMULAÇÃO DO ÍNDICE IPC
Renato de Moraes Fukuyama (FACEQ)*
Teodoro Malta Campos (UNINOVE)**
Resumo
Este artigo tem a finalidade de estudar como a FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas de São Paulo - faz a coleta de dados para formulação do Índice IPC-FIPE, bem
como a utilização de ferramentas de Tecnologia da Informação para obter dados mais
consistentes e rápidos para divulgação, além de estabelecer um pequeno comparativo entre
décadas passadas quando não havia tecnologias de automação de alguns processos utilizados,
e assim comparar o desempenho desses períodos. Na metodologia, foi adotada a pesquisa
exploratória, em que se utilizou questionário e cruzamento de dados provenientes do site da
FIPE. Os dados obtidos indicam que a equiparação de tecnologias recentes proporciona um
melhor desempenho em toda estrutura que vai desde a coleta dos dados até o fornecimento
deles para a Fundação.
Palavras-chave: Coleta de Dados. FIPE. IPC-FIPE. Tecnologia da Informação.
Abstract
This work aims to study how the FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas de São
Paulo collected data in order to formulate the index IPC-FIPE. It is also aiming to
†
demonstrate the use of Information Technology tools for data consistency and rapid analysis
and to establish a direct comparison between previous decades when few automation
technology processes were used, and thus compare the performance between these periods.
The methodology that was adopted included exploratory research which used both
questionnaires and comparison data from the FIPE site. The data indicates that the use of
*
Formado em Informática, especialista em Tecnologia educacional pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
MBA em Estratégia Empresarial pela Universidade Nove de Julho, professor da Faculdade Eça de Queirós e
Faculdade Sudoeste Paulistano.
**
É doutorando em administração no PPGA da Uninove. Tem mestrado em administração obtido no PPGA da
Uninove. É professor de cursos de tecnologia voltada para gestão, administração e MBA na Uninove.
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dezembro de 2012. www.faceq.edu.br/regs
recent technologies provides better performance across different structures, in both the supply
and the collection of new data.
Keywords: Data Collection. FIPE. IPC-FIPE. Information Technology.
1 Introdução
Atualmente existem diversas maneiras de se executar uma coleta de dados, com várias
metodologias disponíveis, em todas elas há a necessidade de se fazer o seu devido
armazenamento, podendo ser da maneira tradicional, o papel, em que temos uma série de
desvantagens como deterioração de material, grande volume físico, dificuldade de se
manipular os dados, por exemplo, e os meios digitais, através do uso de ferramentas de
Tecnologia da Informação (TI).
Observa-se que o uso de certas tecnologias, como os sistemas ERP (Enterprise
Resource Planning) proporcionam um aumento na velocidade de execução de tarefas
rotineiras, além de se evitar desperdícios e principalmente minimizar erros operacionais
(SACOLL et al., 2002). McGee e Prusak (1994) afirmam que o uso da TI não deve ser
enxergado como um solucionador de todos os problemas, mas sim uma ferramenta que está
disponível para melhor conduzir a resolução deles. Diante dessa afirmação, podemos enxergar
o uso da TI como uma ferramenta que pode aperfeiçoar alguns processos na condução de uma
pesquisa de campo, a fim de reduzir o tempo gasto do registro à análise dos dados coletados.
Pesquisas de campo para captação de dados de preços no mercado de varejo são
amplamente utilizadas por diversos setores de pesquisas para obtenção de variações de
mercado. A maioria dessas pesquisas implicava em deslocamento de uma região para outra,
transporte de pessoal e equipamentos para a coleta de dados, em seguida havia a necessidade
de concentrar todos esses dados em um único lugar, digitalizá-lo e em seguida fazer a
tabulação e consequente análise. Atualmente existem diversas tecnologias disponíveis capazes
de executar essas tarefas.
O mercado de tecnologia da informação em hardware, com o passar dos anos, vem se
convergindo principalmente em dispositivos móveis (mobile). Podemos observar a evolução
desses dispositivos no que se refere à computação, cronologicamente como: PDA's,
Smartphones, e mais recentemente Tablets (em que se agregam diversos recursos
computacionais e de telefonia). Essa característica de mobilidade é de grande valia quando
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falamos de pesquisa de campo, em que o deslocamento geográfico é constante e a utilização
do recurso de telecomunicação, como redes 3G, é de suma importância para atualização de
dados de forma online e principalmente para consistência de dados.
Nesse contexto surge o interesse por esse estudo, a utilização da Tecnologia da
Informação como ferramenta de coleta de dados, de forma que os principais problemas a
serem abordados são: Como a FIPE articula a coleta de dados para análise com uso de
ferramentas computacionais? E Como a consistência desses dados influencia na geração do
índice IPC-FIPE?
O presente artigo é dividido em: Referencial Teórico em que são apresentados os
temas Tecnologia da Informação, dispositivos móveis, arquitetura cliente/servidor, um breve
histórico sobre a FIPE e como é formulado o índice IPC-FIPE; Método de Pesquisa; Dados;
Comparações de Desempenho nos anos 90 e atual; e seguidas das considerações finais.
2 Referencial Teórico
2.1 A Tecnologia da Informação
A Tecnologia da Informação, aqui identificada pela sigla TI, tem desempenhado uma
tarefa crucial para o alcance dos objetivos das instituições (ALAVI & JOACHIMSTHALER,
1992; BERGERON, BATEU & RAYMOND, 1991). O crescente desenvolvimento
tecnológico tem tido um enorme impacto nos diversos setores da economia. Dessa maneira há
uma crescente necessidade de se buscar alternativas tecnológicas mais adequadas às diversas
rotinas (automatização de processos) a fim de alcançar um melhor desempenho.
Para entendermos melhor como funcionam os mecanismos da TI, temos que observar
que ela é composta por uma série de itens como pessoas, hardware, software, dados e
telecomunicações. Para Rezende (2008), a TI não pode ser entendida como uma parte isolada,
alheia às empresas, ela deve envolver sempre todo o negócio e fazer parte dele, e não ser
simplesmente computadores ou softwares, embora existam empresas que usam um
determinado tipo de tecnologia como motor para os seus negócios como é o caso da
telecomunicação, mais especificamente em dispositivos móveis, que será tratado logo a
seguir.
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2.2 Dispositivos Móveis
Dispositivos Móveis são aparelhos versáteis, que atualmente possuem capacidade de
comunicação sem fio, seu processamento e armazenamentos são menores se comparados a
computadores desktops, por exemplo. Nessa categoria encontramos netbooks, smartphones,
tablets e os já obsoletos PDA’s(Personal digital assistants), mostrados da Figura 1.
Antigamente (início dos anos 2000), os dispositivos móveis mais comuns para coleta
de dados eram os PDA’s (Personal digital assistants). Com o processo natural de evolução
tecnológica, esse tipo de aparelho se tornou obsoleto, tendo como principal substituto os
smartphones e tablets, que são dispositivos que integram o serviço de telefonia celular,
internet e computação móvel, há de se notar também a presença de GPS, câmera digital,
sensores de movimento, bússola, entre outros. Esses dispositivos são utilizados, além de
computador móvel pessoal, como coletores de dados, pois sua facilidade de conexão com a
internet permite que sejam utilizados servidores remotos para sincronização de dados, para
posterior análise, sendo um sistema que reduz o risco de perda de dados por roubo do
dispositivo ou mesmo mau funcionamento.
Em síntese, podemos afirmar que esses dispositivos vêm ocupando um grande espaço
tanto no que se refere a uso profissional quanto doméstico, seus sistemas operacionais na
grande maioria são Android, sistemas de código aberto ou ios de propriedade da gigante de
tecnologia Apple.
FIGURA1 – Tipos de dispositivos móveis
Fonte: Elaborado pelo autor
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2.3 Arquitetura cliente – servidor
A maioria das aplicações existentes na internet utiliza a arquitetura cliente-servidor,
essa arquitetura funciona baseada na idéia de que na rede mundial de computadores existem
dois tipos de equipamentos: aquele que fornece o serviço (servidor) e aquele que faz as
solicitações desse serviço (cliente), como mostrado na FIGURA 2. Nesse caso o cliente é
qualquer software que faz a conexão com um serviço pela internet, como exemplos temos os
browsers Internet Explorer ou Google Chrome do outro lado, temos o serviço propriamente
dito, como os servidores de email, servidores de armazenamento de dados, etc.
As principais vantagens nesse tipo de arquitetura de funcionamento (SALEMI, 1993)
podemos observar a seguir:
- Maior nível de confiabilidade: se um dos dispositivos da rede apresentar algum problema,
parte do sistema continuará em funcionamento;
- Capacidade de processamento: este tipo de arquitetura provê meios para que as tarefas sejam
feitas sem a monopolização dos recursos;
- Usuários finais podem trabalhar localmente;
- O sistema cresce facilmente: na maioria dos casos é possível realizar atualizações no próprio
servidor, com isso é mais fácil fazer um upgrade remoto;
- O Cliente e o Servidor possuem ambientes operacionais, com isso, uma mesma rede de
computadores (o que acontece com a internet) pode se misturar com várias plataformas para
atender às necessidades individuais de diversos usuários.
FIGURA 2 – Arquitetura Cliente/Servidor
Fonte: Elaborado pelo autor
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2.4 Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE)
A FIPE foi fundada em 1973 inicialmente para assessorar o Departamento de
Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA-USP). Suas atribuições sempre foram ligadas ao ensino e atividades acadêmicas
como pesquisa. Atualmente a FIPE tem como objetivo estudar a sociedade brasileira no que
se refere a fenômenos econômicos, e a partir disso, propor soluções econômicas e sociais
sustentáveis, além de avaliar a importância de políticas públicas econômicas para o
fortalecimento do sistema produtivo, o aumento da competitividade do país, a melhor
distribuição da renda e a eliminação da pobreza (FIPE, 2013a).
Dentre as atividades da FIPE, destacam-se a formulação de tabelas de preços de
automóveis, TABELA FIPE, os índices de preços de imóveis anunciados, ÍNDICE FIPEZAP,
o indicador da evolução do custo unitário de prestação de serviços de asseio e conservação no
Estado de São Paulo, IPCA, o indicador da evolução do custo dos serviços prestados pelas
empresas de segurança privada no Estado de São Paulo, IPSEG, o Indicador de Liquidação
Antecipada que é calculado com base no histórico de liquidações antecipadas de contratos de
financiamento de veículos dos bancos Bradesco, Itaú, Santander e Votorantim, ILA, e o
índice de Preços ao Consumidor do Município de São Paulo, IPC, no qual este estudo está
pautado.
2.5 O índice IPC-FIPE
É um índice calculado desde 1939 na cidade de São Paulo, e tem como objetivo
formular um indicador da evolução do custo de vida das famílias na cidade de São Paulo. De
1968 a 1973 a coleta de dados para formulação desse índice esteve a cargo do IPE – Instituto
de Pesquisas da USP, em 1973 ficando a cargo da FIPE.
A metodologia para o cálculo do IPC-FIPE é basicamente a mesma desde os anos 70.
A coleta é realizada diariamente é feito um comparativo das variações dos preços médios das
últimas quatro semanas. Assim, são apresentadas prévias, chamadas de variações
quadrissemanais. Semanalmente é divulgado para a imprensa o resultado do índice de
variação do custo de vida das famílias de São Paulo, sendo compreendidas nessa variação as
pessoas que possuem renda de 1 até 20 salários mínimos. (FIPE, 2013b).
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O índice IPC-FIPE é apresentado em forma de percentual, em muitas ocasiões é
divulgado para imprensa um comparativo de anos anteriores como mostrado na FIGURA 3.
FIGURA 3 – Índice percentual FIPE
3 Métodos de Pesquisa
Azevedo (1999) mostra que o tema de um trabalho deve ter relevância social e
científica, o qual está ao alcance do pesquisador e com áreas novas a explorar. A presente
pesquisa tem o objetivo de identificar como a FIPE faz coletas e análises de dados para
formulação do índice IPC, tendo em vista que o assunto tem um impacto social direto, pois
estamos tratando de uma coleta que resultará em um índice de inflação na cidade de São
Paulo, porém nesse estudo nota-se um foco maior nas ferramentas tecnológicas utilizadas para
essa coleta.
A pesquisa desenvolvida é a exploratória, este tipo de pesquisa envolve: (a)
levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas
com o tema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007).
As entrevistas foram efetuadas com profissionais das áreas Financeira e de Tecnologia
da Informação, tendo em vista que ambos mantém parceria com a FEA - Faculdade de
Economia Administração e contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) - e que
trabalham em projetos ligados ao IPC-FIPE.
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A fim de obter informações consistentes de como funciona todo o processo de coleta e
análise, foram elaboradas questões para que se entendesse o contexto e a evolução da coleta
com o passar dos anos, observando o desenvolvimento tecnológico e a situação econômica do
país.
As perguntas foram divididas em 2 blocos, Tecnologia e Economia, como mostrado na
TABELA 1. A primeira envolve aspectos que estão ligados diretamente com a Tecnologia da
Informação, mais precisamente as ferramentas envolvidas no processo de coleta, e o segundo
item nas áreas do setor de economia que lidam diretamente com os dados obtidos para a
análise, onde segundo Bardin (1977, p. 42), a análise de conteúdo compreende:
[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) dessas mensagens.
TABELA 1 - Entrevista
Tecnologia
Economia
- Como foi a evolução da informatização (s
software) da coleta de dados?
- Como e quando foram implantados os
dispositivos móveis na coleta de dados?
- Houve modificações da metodologia
aplicada na coleta e análise de dados nos
últimos anos? Quais foram as mais
significativas?
- Nos últimos anos houve aumento ou
diminuição considerável no número de
pessoas envolvidas em campo?
- - Como era feita a coleta e análise de dados
no início dos anos 90 (na época da alta
inflação)?
-- - Como é feita a análise dos dados
atualmente?
- Existe um ponto da análise onde ela é
efetuada de forma automática?
Fonte: Elaborado pelo autor
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As informações obtidas através dos questionários citados foram complementadas com
informações apresentadas em mídias impressas e virtuais, assim como o homepage da própria
FIPE.
4 Dados
4.1 Dados da Metodologia de coleta de dados
Existem basicamente dois grandes grupos de pesquisa, as pesquisas do tipo qualitativo
e as pesquisas do tipo quantitativo (MALHOTRA, 2001). A FIPE utiliza o tipo de pesquisa de
característica quantitativa, que é uma pesquisa estruturada, com uma amostragem de grande
abrangência e considerada conclusiva.
Os dados são levantados em diferentes estabelecimentos, como supermercados de
vários portes e feiras, por exemplo, nesse sentido é utilizado o método de observação, que
segundo Malhotra (2001) e Aaker et al. (2001), registra sistemicamente os padrões de objetos
e eventos para obter informações sobre o fenômeno de interesse, que no caso são os preços de
determinadas mercadorias. Os dados são coletados semanalmente na seguinte sequência: o
entrevistador X tem o estabelecimento A e B na semana 1, C e D na semana 2, E e F na
semana 3, G e H na semana 4 e assim sucessivamente.
Os produtos a serem pesquisados são os mais variados e são confrontados com preços
de várias regiões da cidade de São Paulo. A FIPE utiliza em média 8 pesquisadores de campo,
distribuídos geograficamente como mostrados da FIGURA 4.
FIGURA 4 – Distribuição geográfica dos pesquisadores
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Fonte: elaborado pelo autor
4.2 A TI no auxílio da Coleta e Análise de dados
No início dos anos 90, o Brasil estava passando por um momento turbulento no que se
refere as taxas inflacionárias, e a cidade de São Paulo acompanhava esse mesmo problema. A
FIPE tinha a preocupação de fazer a coleta correta para analisar esse índice, porém havia
alguns entraves, como a limitação tecnológica inerente a época, que resultava em uma falta de
precisão dos dados, deficiência fundamentalmente ocasionada pelo fato dos registros serem
efetuados em papel, que além do problema físico (deteriorar-se, perder-se) era recorrente a
falha operacional, pois o pesquisador poderia errar no registro.
Foi observado que os problemas maiores eram ocasionados devido ao tempo gasto
para a pesquisa, pois a FIPE contava com processos e procedimentos manuais, demandando
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muito tempo para a análise. Destacaram-se uma série de itens que favoreciam esse problema,
tais como:
- Distribuição das áreas por entrevistadores realizadas manualmente;
- Supervisores das áreas imprimiam os materiais de coleta para os pesquisadores;
- Cerca de 1.000 páginas eram gastas por semana;
- Entrevistadores coletavam os preços no papel e entregavam o material preenchido para seus
supervisores;
- Supervisores entregavam os materiais para os digitadores que incluíam os preços,
possibilitando erros de digitação e escrita;
- Supervisores realizavam uma crítica dos preços inseridos, comparando a média geométrica
dos preços do mês anterior com o mês atual, emparelhados por estabelecimento, onde os
maiores relativos eram analisados para serem excluídos se fosse detectado erro de digitação.
Conforme Gonçalves (2000, p.7) “processo é qualquer atividade ou conjunto de
atividades que toma um input, adiciona valor a ele e fornece um output a um cliente
específico”. Davenport (1994, p.7) afirma que um processo é “uma ordenação específica das
atividades de um trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, e inputs e outputs
claramente identificados: uma estrutura para a ação”, esses processos foram revistos e
mapeados, para que o sistema tivesse não só mais consistência como também uma velocidade
de coleta e análise compatíveis com a evolução econômica.
Nesse sentido houve a necessidade latente de se desenvolver processos, utilizando de
forma eficaz a TI, além disso, a grande inovação que aconteceu baseada em TI foi com a
introdução da Internet. De Sordi (2008, p.97) afirma que:
[...] a padronização de interfaces homem-máquina no ambiente Internet
facilitou a coleta e a entrega de informação em qualquer localidade,
atendendo públicos abrangentes de usuários, independentemente de
restrições de plataformas tecnológicas.
Este cenário estava propício para introduzir dispositivos móveis em substituição aos
processos manuais (papéis). Neste período, que compreende os anos 2000, a FIPE introduziu
a utilização de PDA's para coleta, porém ainda não havia a integração necessária com a
internet, pois esses dispositivos não contavam com redes de conexão wi-fi e tão pouco com as
tecnologias de internet que temos hoje como o 3G ou 4G.
Com a evolução tecnológica natural o projeto mais recente utiliza tablet’s, que são
equipamentos mais eficientes para coleta, pois dispõe de um display maior do que os antigos
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PDA's, que segundo Friedman (1997) a implementação de tecnologias modernas não devem
ter apenas foco em funcionamento da máquina em si, mas principalmente como ela interage
com seu utilizador, e nesse sentido o display maior embora possa ser apenas um detalhe
estético é fundamental para a interação com o pesquisador, que terá maior facilidade em
incluir os dados, como mostrado na FIGURA 5. Além disso, esses dispositivos possuem
tecnologia de redes wi-fi e sistema 3G, que permite conexão com redes sem fio. Outro item
importante que se nota nesses dispositivos é que ele utiliza o sistema operacional Android 2.2,
a opção por esse tipo de equipamento se deve principalmente à sua popularização, o que
facilita a manutenção e desenvolvimento de sistemas futuros.
FIGURA 5 – Comparativo de displays
Fonte: Elaborado pelo autor
Na prática o pesquisador faz toda a coleta de forma offline, ao inserir os preços nos
dispositivos é realizado uma pré-crítica dos valores comparando com a média geométrica do
mês anterior, evitando erros de digitação, se o preço estiver muito fora da normalidade o
pesquisador insere uma observação de PM para promoção ou PC para preço correto. Após a
coleta ser efetuada ele deve conectar a uma rede wi-fi para conectar-se a internet, na própria
interface do sistema, que é um sistema baseado na arquitetura Cliente/Servidor. Ele clica em
sincronizar, direcionando os dados por webservice até a base de dados, como mostrado na
FIGURA 6 e ao receber o material o sistema realiza uma validação e faz uma checagem se
todos os dados realmente foram enviados, ao finalizar a checagem o sistema deleta do tablet
os dados enviados. Outra checagem verifica se todos os produtos foram coletados, se sim, o
pesquisador recebe a próxima semana e deleta a antiga.
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FIGURA 6 – Arquitetura cliente/servidor, sistema webservice
Fonte: Elaborado pelo autor
5 Comparações de Desempenho anos 90 e atual
Tendo em vista as ferramentas de TI implementada ao longo dos anos, podemos
estabelecer uma comparação de como era feita a pesquisa nos anos 90 e início dos anos 2000
com os tempos atuais, no que se refere a pessoal envolvido e tempo demorado para coleta,
como mostrado na TABELA 2.
TABELA 2: Comparativo
Pessoal envolvido
Numero de etapas
até análise dos
dados.
Erros comuns
Anos 90 - início dos anos 2000
2009 - Atualmente
Mais de 16 pesquisadores de
campo, 6 digitadores e 5
supervisores.
8
8 pesquisadores e 2 supervisores
- Falha no registro no papel;
- Falha na conversão de medidas,
Kg para gramas por exemplo;
- Falha na digitação;
- Demora na divulgação para
imprensa.
Não observado.
2
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6 Considerações Finais
Com esse estudo foi possível observar o quanto a FIPE se preocupa com a melhoria
contínua em seus processos, e que entende que esses processos são muito mais consistentes e
confiáveis quando implementadas ferramentas de TI atuais, além de acompanhar tendências
para continuar mantendo todo o sistema funcionando e facilitar a implementação de novos
sistemas.
A comparação de como eram feitas as pesquisas nos anos 90 e anos 2000, mostra que
sempre houve a preocupação em alinhar a pesquisa com ferramentas computacionais, desde a
implementação dos PDA’S, até os recentes Tablet’s equipados com sistema operacional
Android conectados a uma rede sem fio para sincronizar os dados com um servidor remoto.
A consistência dos dados é fundamental para manter informações precisas e
principalmente rápidas em sua divulgação, falhas humanas sempre dificultam o trabalho de
qualquer coleta e a ideia é automatizar o máximo possível os processos, para que a análise dos
dados seja mais rápida e com menor índice de erro, no que tange valores econômicos.
Em trabalhos futuros pode-se investigar se a instituição de pesquisa utiliza, ou tem a
intenção de fazer uso de ferramentas de inteligência corporativa para ajudar na consistência
dos resultados obtidos.
Vale ressaltar que o presente trabalho tinha a intenção de analisar apenas como a FIPE
faz suas pesquisas e como utiliza a TI para obter melhores resultados, e como os mesmos
auxiliam na consistência dos dados obtidos, por isso fez-se necessário estabelecer um
comparativo com décadas passadas.
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