ESTIMATIVA DE ÁREA FOLIAR DA VIDEIRA (Vitis labrusca L. CV.
FOLHA DE FIGO) SOBRE DIFERENTES PORTA-ENXERTOS
CARLOS ANTONIO ALVARENGA GONÇALVES 1
NILTON NAGIB JORGE CHALFUN 2
MURILO ALBUQUERQUE REGINA3
ÂNGELO ALBÉRICO ALVARENGA4
MAGALHÃES TEIXEIRA DE SOUZA5
ENILSON ABRAHÃO6
RESUMO - Com o presente trabalho teve-se por objetivo estimar a área foliar da videira cultivar Folha de Figo
sobre diferentes porta-enxertos para avaliar as diferenças de vigor conferido. O experimento foi desenvolvido
na Estação Experimental de Caldas-MG, de propriedade
da EPAMIG. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, representados por
quatro porta-enxertos (‘Kober 5BB’, ‘IAC 313’, ‘RR-10114’, ‘Jacquez’) mais o pé-franco (‘Folha de Figo’), quatro
repetições e quatro plantas úteis por parcela. Estimaramse as equações de regressão linear, correlacionando-se a
área foliar com o somatório do comprimento das duas
maiores nervuras laterais, para cada tratamento, determinando-se a área foliar por planta e por folha, além do
número de folhas por planta. Obtiveram-se equações de
regressão linear para todos os tratamentos com coeficientes de determinação superiores a 0,9. Para as variáveis
área foliar e número de folhas, não houve diferenças
significativas entre os porta-enxertos e pé franco para o
ciclo de produção 94/95, embora tenha se notado uma
tendência de o ‘IAC 313’, ‘RR 101-14’ e ‘Jacquez’ induzirem maiores valores (3,858; 3,852; e 3,694 m2 /planta),
respectivamente, o que pode ser explicado pelo desponte dos sarmentos ao atingirem o último fio de arame na
espaldeira. Para o ciclo 95/96, em que não se efetuou o
desponte, obteve-se diferença significativa entre os tratamentos. O ‘IAC 313’ induziu uma maior área foliar
(5,29 m2/planta), embora não tenha diferido estatisticamente do ‘RR 101-14’ (4,25 m2/planta). As plantas de pé
franco apresentaram menor área foliar (2,84 m2 /planta).
Nas condições em que foram efetuados os estudos,
concluiu-se que a utilização de porta-enxertos, principalmente o ‘IAC 313’, induz a um maior vigor da copa
‘Folha de Figo’.
TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Videira, área foliar, crescimento, fisiologia.
ESTIMATE OF LEAF AREA OF THE GRAPEVINE (Vitis labrusca L. CV.
FOLHA DE FIGO) GROWN ON DIFFERENT ROOTSTOCKS
ABSTRACT -The present work aimed to estimate the
leaf area of grapevine ‘Folha de Figo’ on different grape
rootstocks to evaluate the vigor differences conferred.
The experiment was carried out at EPAMIG Experimental
Station of Caldas - MG, in a completely randomized
design, with five treatments, (‘Kober 5BB’, ‘IAC 313’,
‘RR 101-14’ and ‘Jacquez’ rootstocks plus the ungrafted
‘Folha de Figo’), four replications and four useful plants
per plot. The regression equations for each treatment
were
calculated
by
determining
leaf
area
1. Professor da Escola Agrotécnica Federal de Salinas (EAFSAL). Km 2, Rodovia Salinas/Taiobeiras, Salinas, MG.
2. Professor do Departamento de Agricultura. UFLA, Lavras, MG.Bolsista do CNPq
3. Pesquisador da Epamig, Fazenda Experimental de Caldas, MG, Bolsista CNPq
4. Pesquisador da Epamig, Lavras, MG
5. Professor da Escola Agrotécnica Federal de Salinas (EAFSAL). Km 2, Rodovia Salinas/Taiobeiras, Salinas, MG.
6. Pesquisador da Epamig, Lavras, MG
501
per plant and per leaf, besides the leaf number per plant.
Linear regression equations were observed for all the
treatments, with high coefficient of correlation. To the
variables leaf area and leaf number, there was no
significant differences among the rootstocks and
ungrafted for the 94/95 growing season, although a
tendency of increasing values (3.858, 3.852 and 3.694 m2
respectevely for a ‘IAC 313’ , ‘RR 101-14’ and ‘Jacquez’)
was observed, which may be explained by the cut of the
sarments. With regard to the 95/96 season, where the cut
was not acomplished, a significant diference among the
treatments was obtained. ‘IAC 313’ induced an
increased leaf area (5.290 m2/plant), although it did not
differ statistically from ‘RR 101-14’ (4.250 m2/plant). The
ungrafted plants showed smallest leaf area (2.840 m2
/plant). Under the conditions which the studies were
performed, it follows that use of rootstocks, mainly IAC
313 induces an increased vigour of the ‘Folha de Figo’
grapevine cultivar.
INDEX TERMS: Grapevine, leaf area, growth, physiology.
INTRODUÇÃO
A estimativa da área foliar é empregada para se
avaliar o crescimento das plantas, sendo comumente utilizada em estudos agronômicos e fisiológicos. Vários métodos têm sido utilizados para a medição da área foliar,
como o emprego de medidores eletrônicos e técnicas de
planimetria (Kvet & Marshall, 1971). Em função do formato irregular das bordas das folhas da videira, torna-se
difícil o emprego de planímetros, e como os medidores
eletrônicos geralmente são de alto custo, a estimativa da
área foliar realizada por meio de medições simples e não
destrutivas torna-se muito importante (Ramkhelawan &
Brathwaite, 1990).
Carbonneau (1976a), discutindo os princípios e
métodos de medida da área foliar do gênero Vitis , obteve estimativas com 5% de erro, utilizando-se medições
da soma do comprimento da duas maiores nervuras laterais, Manivel & Weaver (1974) obtiveram modelo matemático na forma de equação de segundo grau, quando
correlacionaram em Vitis vinifera a área foliar com o
comprimento e largura da folha e comprimento do pecíolo.
Com o presente trabalho teve-se por objetivo, por
meio da estimativa da área foliar, estudar a variação de
vigor da cv. de videira Folha de Figo cultivada em pé
franco ou sobre diferentes porta-enxertos.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido na Estação
Experimental de Caldas-MG, de propriedade da EPAMIG,
durante os ciclos vegetativos de 1994/95 e 1995/96 em
plantas com aproximadamente 8 anos de idade.
As plantas foram distribuídas no campo em espaçamento de 2,0 x 2,0 m e conduzidas no sistema Royat,
isto é, uma espaldeira com duplo cordão esporonado,
mantendo-se em torno de 20 sarmentos por planta. No
ciclo de produção 1994/1995, efetuou-se o desponte dos
sarmentos ao se atingir o último fio de arame. Já para o
ciclo de produção 1995/1996, não efetuou-se o desponte,
deixando os ramos crescerem livrementes.
O delineamento foi inteiramente casualizado
(DIC), com cinco tratamentos, representados pela ‘Folha
de Figo’ cultivada em pé franco ou enxe rtada com portaenxertos ‘Kober 5BB’, ‘IAC 313’, ‘RR-101-14’ e ‘Jacquez’. Foram utilizadas quatro repetições com quatro
plantas úteis por parcela.
Na determinação da área foliar, o primeiro passo
foi a amostragem de 50 folhas em diversos estádios de
desenvolvimento para cada variedade porta-enxerto, retiradas das plantas bordaduras. Uma vez coletadas, as folhas foram fotocopiadas em papel, que recortados, produziram uma réplica da folha original. Em seguida, pesou-se cada folha em balança analítica Mettler H35 Ar,
de alta precisão, retirando-se um pedaço de folha de papel com área conhecida em cm², o qual também foi pesado. Por regra de três simples, estimou-se, então, a área
de cada folha. Segundo a metodologia de Carbonneau
(1976a), a área de cada folha foi, em seguida, correlacionada com o somatório do comprimento das duas maiores
nervuras laterais (L2), esquerda e direita, obtendo-se uma
equação de regressão linear com coeficiente de determinação acima de 0,9 para cada porta-enxerto.
Posteriormente procedeu-se à determinação da
área foliar no campo, escolhendo-se quatro sarmentos
por planta útil e fazendo-se uma extrapolação para a
planta toda. Em cada sarmento selecionou-se a primeira
folha oposta ao primeiro cacho. Foram medidas aproximadamente 30% das folhas de cada sarmento, o que, de
acordo com a metodologia descrita por Carbonneau
(1976b), permite estimar a área foliar da planta inteira com
Ciênc. agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.500-504, mai./jun., 2002
502
menos de 5% de erro. As avaliações foram feitas em
1994 e 1995 durante o mês de dezembro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados obtidos referentes à relação entre a soma das duas maiores nervuras laterais (SL2) e a área foliar encontram-se na Figura 1. Os dados que melhor se
adaptaram aos diferentes tratamentos foram para regressão linear, semelhante aos resultados apresentados por
Sepúlveda & Kliewer (1983); Smith & Kliewer, com um
coeficiente de determinação (R2 ) acima de 90%, para todos os porta-enxertos (Figura 1). Já Pedro Júnior et al.
(1986); Manivel & Weaver (1974) obtiveram equações de
segundo grau.
Posteriormente utilizaram-se estas equações para
se estimar a área foliar da cultivar Folha de Figo enxertada sobre diferentes porta-enxertos e pé franco. Os valores da área foliar das plantas para o ano agrícola de
94/95, apresentados na Figura 2, mostram que não houve
diferença significativa entre os porta-enxertos e o pé
franco ao nível de 5%, pelo teste de Tukey. Entretanto,
pode-se notar uma ligeira
tendência de a copa ‘Folha de Figo’ apresentar uma
maior área foliar quando enxertada sobre os portaenxertos ‘IAC 313’, ‘RR 101-14’ e ‘Jacquez’, em relação
às plantas de pé franco. A ausência de diferenças estatísticas entre os tratamentos pode ser explicada pelo efeito do desponte, realizado quando os ramos atingiram
o terceiro fio de arame, fato que limitou o crescimento total dos sarmentos. Esse efeito do desponte também pôde
ser observado pelo número de folhas/planta e pela área
foliar média por folha (Tabela 1), que não diferiram estatisticamente.
Com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento
total dos sarmentos e, conseqüentemente, avaliar de
forma mais precisa a área foliar dos diferentes tratamentos, no ano agrícola 95/96, não foi feito o desponte dos
sarmentos. Nessas condições (Figura 3), ‘Folha de Figo’
sobre o porta-enxerto ‘IAC 313’ apresentou uma área foliar da copa no valor de 5,29 m2 /planta, isto é, 86,61%
superior às plantas oriundas de pé franco com 2,84 m2
/planta, não diferindo, porém, do ‘RR101-14’ (4,25 m2
/planta). A superioridade da copa quando enxertada sobre o porta-enxerto ‘IAC 313’ foi verificada também pelo
número de folhas/planta e área foliar/folha (Tabela 2).
TABELA 1 - Médias do número de folhas/planta e área foliar /folha para a cultivar Folha de Figo cultivada em pé
franco e sobre diferentes porta-enxertos de videira. EPAMIG - Caldas, MG, ciclo de produção1994.
______________________________________________________________________________
Número de
Superfície
Tratamentos
Folhas
foliar/folha (cm2 )
______________________________________________________________________________
‘IAC 313’
14,00 a (1)
137,00 a
‘PÉ FRANCO’
13,25 a
101,75 a
‘JACQUEZ’
14,25 a
129,50 a
‘RR101-14’
13,25 a
135,25 a
‘KOBER 5BB’
13,00 a
117,50 a
__________________________________________________________________________
(1) Valores seguidos das mesmas letras não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.500-504, mai./jun., 2002
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A
B
300
300
Y = -137,37 + 15,33 X
R2 = 0,9304
Y = -145,16 + 16,45 X
250
250
200
200
150
150
100
100
50
50
0
R2 = 0,9379
0
10
15
20
25
C
10
15
20
25
D
250
300
Y = -97,06 + 12,47 X
Rr 2= 0,9351
Y = -122,19 + 13,92 X
200
250
150
200
100
150
R2 = 0,9343
100
50
50
0
9
14
19
24
0
10
15
20
25
300
Y = -122,06 + 14,03 X
R2= 0,9152
250
200
150
100
50
0
10
15
20
25
E
FIGURA 1 - Relação entre a área foliar e a soma das duas maiores nervuras (SL2) para a cultivar Folha de Figo sobre
‘Kober 5BB’ (A), ‘RR 101-14’ (B), Pé Franco (C), ‘IAC 313’ (D) e ‘Jacquez’ (E). Lavras, UFLA, 1996.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.500-504, mai./jun., 2002
504
TABELA 2 - Médias do número de folhas/planta e área foliar/folha para a cultivar Folha de Figo cultivada em pé franco e sobre diferentes porta-enxertos. EPAMIG - Caldas, MG, 1995.
______________________________________________________________________________
Número de
Superfície
Tratamentos
Folhas
foliar (cm2 )
______________________________________________________________________________
‘IAC 313’
18.25 a (1)
133.50 a
‘PÉ FRANCO’
14.75 b
85.50 b
‘JACQUEZ’
14.75 b
86.75 b
‘RR101-14’
14.50 b
126.00 a
‘KOBER’
13.25 b
113.75 ab
______________________________________________________________________________
(1)Valores seguidos das mesmas letras não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey.
CONCLUSÕES
A utilização de porta-enxertos induziu uma
maior área foliar da copa, e o porta-enxerto ‘IAC 313’ foi
o que apresentou um melhor desempenho,
demonstrando ser o que induziu maior vigor à copa.
A estimativa da área foliar da cultivar de videira
Folha de Figo cultivada em pé franco e sobre diferentes
porta-enxertos pode ser feita por meio de medições
simples da soma do comprimento das maiores nervuras
laterais (SL2), técnica que, além de rápida, apresenta a
característica de ser não-destrutiva.
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