CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO METODOLÓGICO EM NATAÇÃO * Rubén Alberto Suárez Ana Mirkin (Argentina) http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ano 5 - N° 25 - Setembro de 2000. 1 INTRODUÇÃO Não existem muitos livros que se ocupem dos processos metodológicos no ensino da natação. Só se dão alguns conceitos que variam as vezes de acordo a tendências, modas, informação limitada ou exacerbada de quem a difunde, etc. Mas se há algo que se pode assinalar na conduta de um docente é que não deve assimilar-se às modas, senão que deve tratar de aplicar o sentido comum. Hoje em dia fazer sentido comum é encontrar o caminho mais adequado, simples, compreensível, didático e até as vezes divertido dos passos metodológicos de um estilo, as saídas, as viradas nas técnicas a aprender. Portanto estaremos tratando de encontrar os caminhos mais práticos e acessíveis para do que o aluno não encontre a aprendizagem da natação como uma matéria pendente. Mas ao mesmo tempo esta aprendizagem técnica deve ter um componente com certas características lúdicas, de eficiência de nado e por, sobretudo um alto conteúdo estético. Nossa idéia de metodologia, contempla diferentes fases a considerar, estas são: - Aprendizagem; Fixação; Aperfeiçoamento técnico; Corretivos. Cada uma delas tem características próprias que vamos desenvolver neste trabalho. * Artigo disponível on line via: http://www.efdeportes.com/efd25a/metod.htm 2 FASE DE APRENDIZAGEM Esta fase representa a primeira etapa do processo metodológico, portanto é necessário determinar as características dos exercícios de aprendizagem. Estes vão estar condicionados pelos princípios pedagógicos que caracterizam os processos de ensino aprendizagem das diferentes destrezas (ou conteúdos) tanto em natação como em qualquer outra disciplina. Para começar, diremos que é necessário ter em conta a seqüência dos processos didáticos em natação. No ensino de qualquer conteúdo em Natação, é conveniente seguir um ordenamento que responda à seqüência lógica de aprendizagem. Para isso é necessário considerar uma série de passos, com o objetivo de que o processo possa levar-se a cabo sem maiores inconvenientes. As mesmas estão determinadas pelo grau de complexidade que implicam para o aluno. Os passos são quatro: - Fora da água; Dentro da água com apoio fixo; Dentro da água com apoio móvel; O conteúdo completo. A seguir tentaremos explicar e exemplificar cada um deles: 2.1 Fora da água Esta fase tem uma grande vantagem, já que o aluno pode visualizar o movimento que está realizando. Recordemos que a água é um meio diferente e desconhecido e que é necessário explorá-lo pouco a pouco para evitar complicações posteriores. Por exemplo, se queremos ensinar o conteúdo pernada de crawl, os alunos se localizam sentados na borda da piscina e realizam o movimento das pernas. Aqui têm a vivência do movimento e a visão do mesmo. 2.2 Dentro da água com apoio fixo A idéia desta fase é que o aluno possa concentrar-se no exercício que está realizando para aprender um conteúdo específico, liberado de outros movimentos que possam dificultar na execução. Se seguimos com o exemplo de pernada de crawl, nesta fase poderia tomar-se do borde e executar o movimento de pernas, com a cabeça dentro da água já na posição submersa. 2.3 Dentro da água com apoio móvel À medida que se vai avançando no processo de ensino aprendizagem, os exercícios tendem a conseguir os deslocamentos necessários para a execução das diferentes técnicas de nado. Por isso aqui se fala de um apoio móvel, que vai variar entre uma tabela de nado, um colega, ou outro material disponível de acordo à idade dos alunos envolvidos no processo. Poderia ser: tomado de uma tabela, com deslocamento, realizar o batido e a respiração frontal. 2.4 Conteúdo completo O aluno já domina em grande parte o conteúdo, por isso pode realizá-lo em forma individual e completo. Para finalizar com o exemplo proposto, os alunos com braços estendidos adiante, respiração frontal e posição de nado, executam o movimento de pernas. São exercícios simplificados Devem seguir os princípios pedagógicos: do fácil ao difícil; do simples ao complexo; do conhecido ao desconhecido. Sempre devemos começar por exercícios singelos e sob medida em que se vão assimilando, somar-lhe dificuldades novas. Isto vai facilitar ao aluno aprender um conteúdo liberado de outros movimentos, ej se queremos ensinar o conteúdo de pontapé de crawl, começamos com os exercícios mais singelos como tomados do borde onde o aluno não tenha que se preocupar da flutuação, do movimento de braços, etc. e posteriormente vamos incorporando maiores dificuldades. Não saltar etapas fundamentais Neste é um ponto importante dentro do processo, já que se não se respeitam as etapas, pode suceder que os conteúdos não estejam assimilados. E, portanto ainda que o gesto pareça ter sido aprendido, não estão dadas as condições para o lucro de um domínio total do movimento. Avançar a uma etapa seguinte é o objetivo que se propõe o professor e trata de cumpri-lo o mais rápido possível. Mas se deve ter toda a paciência necessária a fim de que o aluno adquira todas as vivências que lhe permitam não só realizar o gesto senão “entendê-lo” desde o ponto de vista motriz. Todas as atividades que enriqueçam o acervo motor favorecerão o domínio acabado de um movimento. Se isto se cumpre o futuro nadador poderá facilmente a adequar os gestos a qualquer mudança de situação externo ou interno (mudança de ângulos, alavancas, etcétera). Poucas repetições para fixar a técnica: Quando se está aprendendo novo movimento, a realização se faz de maneira consciente, ou seja com o máximo de concentração para que o gesto desconhecido possa ser executado o mais corretamente possível. Fazem-se exercícios com muito poucas repetições a fim de que o aluno possa pôr todo seu atendimento na execução desse movimento. A concentração, e sobretudo nos meninos dura muito pouco pelo que uma execução prolongada trará seguramente aparejado erros que dificultam a aprendizagem. Podem-se fazer muitas séries de exercícios mas de poucas repetições cada uma. Movimentos tecnicamente corretos. Não devem dar lugar a aprender falhas Os exercícios que se selecionem devem partir da técnica correta. É importante que o professor conheça todas as características técnicas do movimento a ensinar, ainda que nesta etapa só consiga movimentos globais. Só se poderá ensinar gestos simples corretamente se se tem à vista o objetivo final, caso contrário pode ter exercícios que sirvam somente para salvar uma situação momentânea e não apontem a uma correta execução do movimento em suas fases superiores. Um gesto terá toda a simplicidade necessária para que o aluno compreenda; mas toda a riqueza que faça falta para o lucro do objetivo final. O movimento não deve induzir a um gesto incorreto ou falha, pois são conhecidas as dificuldades para solucionar movimentos mau aprendidos. É comum escutar aos professores dizer que é mais fácil ensinar um movimento novo do que corrigir um errôneo. 3 FASE DE FIXAÇÃO Os exercícios de fixação são a segunda etapa dentro do processo total. Ao começar com estes tipos de exercício devemos notar no aluno que os gestos técnicos estão aprendidos globalmente bem. A que nos referimos quando dizemos globalmente bem? Cada uma das técnicas consta de determinadas características como por exemplo: ritmo, fluidez, harmonia etcétera., E quantitativas como: características cinemáticas, ângulos, velocidades, trajetórias, acelerações, impulsos, etc. Depois da observação das características gerais, devemos ver que não existem erros gordos na execução do movimento, ainda que os detalhes de coordenação fina ainda não estejam conseguidos. Se tomamos como exemplo a técnica de crawl; veremos se mantém uma adequada posição do corpo, se a trajetória de braços é ampla, com movimentos ondulatórios, e não existem detenções nem superposições. O movimento de pernas é constante, sem flexões exageradas em joelhos, nem movimentos de bicicleta. Uma vez que temos conseguido este gesto global, passaremos a realizar os exercícios de fixação, que têm características que os diferenciam do resto. Respondem à técnica Ao igual que os exercícios de aprendizagem, seu ponto de partida é o movimento ideal, mas em vez de decompor o movimento, se tratará de envolver maior quantidade de segmentos corporais, ao realizar o exercício. É por isso que estes exercícios não devem realizar-se se não se tem o gesto global, e este possa ser realizado sem necessidade de altos níveis de concentração, o gesto começasse a ser automatizado. Os exercícios se fazem em condições normais Enquanto na fase anterior se tratava de facilitar o movimento, a fim de que a aprendizagem de um novo esquema não se veja perturbado pelo atendimento em outro segmento, neste caso se fazem simulando a realização normal do gesto, e ao unir vários segmentos estaremos acercando-nos em grande parte ao nado. Podem-se utilizar elementos, tais como tabelas, bóias, etcétera, mas já não como facilitadores senão para poder realizar o movimento acentuando a execução em alguma parte do mesmo, e tratar de que a posição de nado como as seqüências de movimentos sejam as que se utilizam no estilo que se está aprendendo. Por exemplo: para trabalhar só o gesto dos braços e, colocaremos uma bóia nas pernas, para que o aluno mantenha a posição correta de nado, e realize só os movimentos de braços numa determinada distância. Muitas repetições ou em distâncias Como o gesto já está aprendido globalmente em forma correta, as exercícios se farão em muita distância, para conseguir a automatização do movimento, e sem uma participação consciente na realização do mesmo. Na fase de aprendizagem tratávamos de manter concentrado ao aluno ao fazer o movimento novo, mas aqui, se o processo está seguindo os passos normais, interessa-nos que o movimento possa ser executado em forma cíclica e assimilando o movimento correto através da realização da exercícios em repetidas seqüências ou numa distância mais longa. Não é necessário que o aluno “pense” (no sentido de manter uma elevada concentração) em cada uma das formas de exercícios senão que as incorpore o seu acervo motor. - São dinâmicos: Aqui não se segue o processo didático da fase de aprendizagem. Ao realizá-lo simulando o nado, e depois de ter incorporados os gestos globais, estes exercícios devem ser dinâmicos, ou seja, com todo o deslocamento que seja possível ao executar o gesto, onde o aluno possa conseguir a eficiência do mesmo e comprove as vantagens de uma correta realização. - São simples: como um dos últimos aspectos diremos que estes exercícios são os mais singelos para planificar dentro do processo, já que as características que enumeramos anteriormente fazem que esteja muito cerca da prática do nado normal na técnica que se está aprendendo. São estes exercícios os que as vezes são propostos prematuramente pelo professor, sem ter afiançado as fases anteriores, e portanto levam a uma de execução errônea que depois custará muito trabalho superar. Se tratamos de que realize muita distância, em algum gesto que não estava assimilado, a fadiga ou a desconcentração na tarefa trará como conseqüência a assimilação de erros que poderiam ter-se evitado respeitando os passos e seqüências normais. 4 FASE DE APERFEIÇOAMENTO TÉCNICO As características dos exercícios que descreveremos de continuação apontam sem lugar a dúvidas, ao lucro de uma depurada técnica, principalmente orientada à natação desportiva, ou ao lucro uma alta eficiência nas propulsões. Um nadador, ao igual que qualquer desportista se destaca do resto quando é capaz de resolver situações que estão fora do normal. Dizemos que é um “fenômeno” aquele que pode criar uma solução onde a técnica normal só encontra dificuldades. Podemos citar como exemplo disto a grandes desportistas como Michael Jordan, que é capaz de conseguir o objetivo inicial (encestar) desde as situações mais inverosímeis, ou desde posições onde a técnica aconselha outra coisa. Em natação este domínio acabado da técnica dará como resultado a otimização das forças envolvidas, bem como a manutenção da eficiência apesar de diferentes situações que podem apresentar-se ao longo da execução ou concorrência. Por exemplo, algum problema com as antiparras, uma volta mau executada, algum problema impensado na tática de carreira, etcétera. Por isto os exercícios de aperfeiçoamento técnico devem realizar-se quando o nadador tem um domínio total dos gestos normais de nado. Estes exercícios se farão com a técnica formada: ou seja que não pode o nadador estar ainda em alguma das fases anteriores, já que com estes exercícios não se consegue nem a aprendizagem nem a automatização de alguns gestos. Pelo contrário, estes exercícios provocam inconvenientes no nado normal, que devem ser reparados pelo atleta aplicando ao máximo todas suas experiências prévias, sensações, recursos, etcétera. Realizam-se em condições dificultadas: recordamos que os exercícios de aprendizagem se faziam em condições facilitadas, os de fixação em condições normais; mas estes se fazem tratando de que a execução normal contenha alguns elementos que exijam ao nadador o máximo de suas possibilidades de coordenação da técnica. Estes exercícios apontam à coordenação final do movimento: aqui nos interessam os aspectos menores da técnica, desde um ângulo de aplicação da força, algumas características cinemáticas como a trajetória algo mais ampla ou mais estreita; algumas características dinâmicas como as seqüências espaço temporários, ou também agudizar cada um dos sentidos envolvidos na ação de nadar. Alguns autores realizam divisões destes exercícios tais como: exercícios para o desenvolvimento da coordenação; exercícios para o desenvolvimento do sentido da água; e exercícios para a diminuição da resistência.(ARELLANO 1994). Exercícios de combinações, exercícios técnicos para cada um dos estilos e para cada um dos segmentos.(WILKE e MADSEN 1990). Dentro destes tipos de exercício enunciaremos 4 grupos bastante diferenciados, que não excluem toda uma gama de exercícios que possam ser criados pelo professor ou treinador de acordo aos elementos com que conta ou a uma contextualização especial do processo de ensino aprendizagem. - Exercícios de combinações: são aqueles nos que se combina essencialmente um tipo de movimento de braços com um movimento de pernas correspondente a outro estilo de nado. Por exemplo nadar, braçada de peito e pontapé de crawl, braçada de peito e pontapé delfin; braçada de costas com pontapé delfin, etcétera. - Exercícios de contraste: são aqueles nos quais se procura uma maior sensibilidade no água por meio de indicações que potenciam ou diminuam exageradamente as possibilidades de propulsão; como por exemplo, nadar crawl com punhos fechados e depois com a palma da mão em posição normal. Nadar borboleta fazendo três braçadas com os braços totalmente estendidos e depois três braçadas normais. Também poderíamos incluir dentro deste tipo de exercícios aqueles nos quais se fazem dois ou três ciclos exageradamente lentos e dois ou três ciclos muito rápidos. - Exercícios de sensibilidade: são aqueles nos quais se realizam os movimentos helicoidais (em forma de hélice, que servem para melhorar os varridos e os ângulos de ataque neles) e que podem ser realizados em diferentes posições, por exemplo, em posição decúbito ventral, braços estendidos ao custado do corpo e as mãos e olhando para os pés. Na mesma posição, mas com o braço flexionado à altura do cotovelo a 90 graus e realizando o mesmo gesto. Também estes exercícios podem ser realizados com elementos tais como manoplas de diferentes tamanhos e texturas. Assim também se podem fazer movimentos helicoidais com os pés para ajudar a uma maior sensibilidade em qualquer dos batidos dos estilos. - Exercícios de descoordinações: são aqueles nos quais as indicações apontam a criar uma "confusão motriz" na realização do gesto. Por exemplo, podemos realizar o nado de crol só com o lado direito do corpo. Ou também o nado de peito com braço direito e perna esquerda. - Exercícios em condições de fadiga: dentro deste grupo podemos citar todos os exercícios que dificultam a técnica, mas realizados depois de alguns trabalhos que ocasionam fadiga, tanto muscular como nervosa. A realização de alguns dos exercícios anteriormente citados em condições de fadiga fará que o nadador extreme o uso de suas potencialidades a fim de cumprir com as exigências propostas pelo trabalho. Exercícios de aperfeiçoamento técnico BIBLIOGRAFIA Lewin, G. Natação. Ed Pilha Teleña. Madri 1983. Vilte, E. - Gomez, J . O ensino da Natação. Edit. Stadium, Bs. As, 1994. Navarro, F. Para o Domínio da Natação. Ed Gymnos. Madri. 1990. Arsenio- Strnad. Natação I. Edit. Independente. Bs As. 1998. Garçom G., Tella M.. Natação. Edit. Promolibro. Valencia 1997. Wilke - Madsen. O Treinamento do Nadador Juvenil. Edit. Stadium. Bs. As 1995. Navarro, F e couve. Natacion 2. Edit. C.Ou. Espanhol. Espanha. 1990. Suárez, R. O Exercício Corretivo em Natação. Revista Gymnos. Tucumán. 1999. INDICE 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1 2 FASE DE APRENDIZAGEM ....................................................................... 2 2.1 Fora da água........................................................................................ 3 2.2 Dentro da água com apoio fixo ............................................................ 3 2.3 Dentro da água com apoio móvel ........................................................ 3 2.4 Conteúdo completo .............................................................................. 3 3 FASE DE FIXAÇÃO .................................................................................... 5 4 FASE DE APERFEIÇOAMENTO TÉCNICO............................................... 7 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 9