Departamento de Educação
Processos de (des)aceleração da aprendizagem em Língua Portuguesa
identificados no GERES: o que informam os cadernos escolares?
Bolsistas: Maria Ângela Cardoso
Orientadora: Alicia Bonamino
Introdução
Este estudo faz parte do Projeto Inconsistências na Aprendizagem de Leitura e
Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, desenvolvido no âmbito do
Observatório da Educação Capes/INEP, no período 2011-2014. O projeto origina-se no Geres
- Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005. O Geres acompanhou o desempenho escolar
de um painel de alunos, em língua portuguesa (leitura) e matemática, nos anos iniciais do
ensino fundamental, entre 2005 e 2008, a partir de uma amostra de aproximadamente vinte
um mil alunos, de 302 escolas estaduais, municipais, federais e privadas em cinco cidades
brasileiras. O Geres tem por objetivos identificar as características escolares que aumentam o
aprendizado dos alunos e que minimizam o efeito da origem social dos alunos na
aprendizagem.
A pesquisa identificou ritmos diferenciados de aprendizagem, que evidenciaram
inconsistências na aprendizagem das habilidades de leitura e matemática entre as escolas e
redes de ensino, ao longo das cinco ondas de aplicação dos testes. Como parte das estratégias
de investigação dessas inconsistências, foram selecionadas seis escolas municipais, na cidade
do Rio de Janeiro, que apresentaram situações contrastantes de aprendizagem, isto é, escolas
que tiveram uma desaceleração e escolas que apresentaram um aumento no ritmo de
aprendizagem, especificamente nas habilidades de leitura, entre o segundo e o terceiro ano do
ensino fundamental. Para tal, este estudo em particular toma como referência o currículo
“real”, representado pelos saberes efetivamente trabalhados em sala de aula, e expresso
através dos livros didáticos utilizados, dos questionários respondidos pelos docentes que
participaram do Geres, de atividades ou registros de aulas de professores e, sobretudo, através
de cadernos escolares dos alunos.
No que diz respeito à análise de cadernos, faz-se necessário explicitar que esse tipo de
documento possibilita identificar o ensino praticado em determinada turma e ano escolar. Em
razão disso, cadernos de cada um dos anos escolares acompanhados pelo Geres foram
coletados junto a alunos de parte das escolas cariocas selecionadas e estes cadernos foram
analisados em busca de “pistas” ou “indícios” (GINZBURG 1991) que possibilitassem
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iluminar relações, de processos já ocorridos, entre práticas de ensino e aprendizagem de
habilidades de leitura e escrita (GVIRTZ 2009).
Na escolha dos cadernos escolares como objeto de pesquisa não deixamos de levar em
consideração que este tipo de fonte possui limitações, uma vez que, obviamente, nem tudo o
que se passa em sala de aula é nele registrado. Também não tínhamos expectativas de
recolhimento de um grande numero de cadernos, uma vez que este dispositivo escolar é
usualmente descartado pelas famílias ao final do ano letivo. No entanto, em sintonia com a
literatura sobre o tema, entendemos o caderno como sendo um importante documento escolar,
no qual imperativos institucionais como exercícios e suas tipificações, organização da rotina,
parte do currículo efetivamente ensinado entre outras dimensões, se fazem presentes.
A partir do uso dessa documentação, uma planilha foi elaborada para registro das
práticas de sala de aula de ensino da leitura e da escrita evidenciadas na análise dos cadernos
dos alunos. Posteriormente, foram acrescentadas a esta planilha as respostas dos professores
ao questionário contextual do Geres sobre suas práticas de ensino da leitura e da escrita, de
forma a desenhar seu perfil pedagógico.
Além desta introdução, o relatório esta organizado em cinco seções. Na próxima seção,
apresentamos uma breve revisão da literatura sobre cadernos escolares como fontes de
pesquisa. Na sequência apresentamos os objetivos. Na seção três abordamos a metodologia do
trabalho. Na seção quatro, apresentamos a análise dos cadernos e dos questionários
respondidos pelos professores. E por fim, na seção cinco, as considerações finais.
Cadernos escolares como expressão do currículo ensinado
De acordo com Vinão (2008, p. 17), a progressiva introdução, em substituição às folhas
soltas, desde a segunda metade do século XIX, dos cadernos no âmbito escolar como o espaço
gráfico adequado para conter boa parte das atividades de sala de aula, fez deles uma fonte de
inescusável utilização para seu estudo. Por essa mesma razão, dada a natureza
predominantemente escrita dos trabalhos incluídos nos cadernos, estes constituem uma fonte
privilegiada para o estudo do ensino, da aprendizagem e dos usos escolares da língua escrita,
ou seja, da alfabetização escolar e da difusão, nesse âmbito, da cultura escrita.
Através do caderno escolar, é possível conhecer tanto o passado como o presente dos
sistemas educativos. De acordo com o mesmo autor, os cadernos escolares configuram-se
como uma fonte de conhecimento no cruzamento de três campos historiográficos
complementares: a história da infância, a cultura escrita e a educação (Vinão. 2008, p. 15).
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Quer seja da história do currículo das instituições
educativas, das culturas e memórias escolares, ou de
dentro delas, das disciplinas, das atividades e dos
exercícios escolares, os historiadores da educação
encontraram (ou acreditam ter encontrado) nos cadernos
escolares vantagens indubitáveis frente ao livro texto
(objeto de atenção preferente desde a década de 1980)
para conhecer e estudar essa ‘caixa preta’ da história da
educação – que eram, e seguem em boa parte sendo, a
realidade e as práticas escolares, a vida cotidiana nas
salas de aula e nas instituições educativas; enfim, o que
ocorre definitivamente nas salas de aula quando o
professor fecha a porta (VINÃO 2008, p. 16).
Nesse sentido, os cadernos não são apenas um produto da cultura escolar e da atividade
realizada nas salas de aula, e nesse sentido um dispositivo escolar diferente do livro didático
que é um produto exterior introduzido em sala de aula, mas também uma fonte que fornece
informação, por meio, sobretudo de redações e composições escritas, da realidade material da
escola e do que nela se faz.
A pesquisa sobre cadernos escolares utiliza esta fonte para conhecer tanto diversas
práticas de escrita, como diferentes mecanismos de aquisição da cultura escrita, ou seja, para
mapear recados, notas, exercícios, de modo a contribuir para examinar e reconstruir o que foi
desenvolvido no cotidiano da classe.
O caderno, além de revelar indícios de práticas, revela também escolhas e opções
teóricas e metodológicas dos professores, concepções da língua e do seu ensino. Como
explicita Chartier (2007, p.23), os escritos escolares constituem indicadores de desempenhos
escolares de alunos. Através deles, é possível confrontar o ensino desejado com o aprendizado
praticado, passar das teorias pedagógicas ou textos prescritivos à sua utilização. O caderno
constitui, portanto, um dispositivo de transposição didática, um instrumento que permite
inferências sobre uma parte do currículo real.
Os cadernos escolares também permitem conhecer o livro didático que é utilizado e
como o mesmo é utilizado. De outro lado, por vezes, o livro didático contém indicações,
explícitas ou implícitas, sobre a natureza e o tipo de exercícios a serem realizados nos
cadernos.
Pela vantagem que os cadernos oferecem frente ao livro didático ou a currículo proposto
oficialmente para se conhecer e se aproximar do currículo real, pode-se cair na tentação de
crer que essa fonte reflita, de um modo fiel e exato, quase toda a atividade escolar. Na
verdade, o que eles permitem são, no máximo, uma aproximação e uma reconstrução parcial
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do passado. Embora o espaço de produção escrita dedicada a um exercício, atividade ou
matéria não refletia exatamente o tempo dedicado a cada uma dessas tarefas no horário
escolar, no sentido de que, mais produção escrita não equivale necessariamente a mais tempo
empregado em uma atividade ou disciplina, esse tipo de registro no caderno indica sua
importância dentro das atividades ou matérias que envolvem a escrita, a concepção de
aprendizagem da língua, a ênfase dessas atividades na produção escrita do caderno e sua
sequência e distribuição temporal (CHARTIER, 2007, p. 25).
Nesse sentido, nem tudo está nos cadernos. Eles silenciam, não dizem nada sobre as
intervenções orais ou gestuais do professor e dos alunos, sobre seu peso e o modo como
ocorrem e se manifestam, sobre o ambiente ou clima da sala de aula, sobre as atividades que
não deixam pistas escritas ou de outro tipo, como os exercícios de leitura (a leitura em voz
alta, por exemplo) e todo o mundo do oral, nem tampouco sobre os tempos improdutivos ou
intervalos entre uma e outra tarefa.
Em razão dessas limitações, a literatura recomenda que o uso dos cadernos se complete
e se combine com outras fontes, em especial com o livro didático e informações, no caso
deste estudo, provenientes dos questionários contextuais respondidos pelos professores, no
âmbito da pesquisa Geres, sobre suas práticas de ensino da leitura e da escrita nos anos
iniciais do ensino fundamental.
Objetivos
São dois os objetivos principais deste trabalho, a saber:
•
Construir o perfil pedagógico dos professores investigados em relação às
práticas de ensino da leitura e da escrita, em cada ano escolar, de modo a contextualizar a
reflexão sobre a aceleração e desaceleração nos ritmos de aprendizagem das habilidades
de leitura identificadas pelo Geres.
•
Elaborar, a partir desses perfis, subsídios para a reformulação de instrumentos
contextuais de avaliação sobre práticas de ensino a serem oferecidos à pesquisa e às
avaliações estaduais em larga escala do período de alfabetização.
Metodologia
Do ponto de vista metodológico, a opção é, então, a de tentar desvelar experiências de
ensino e de aprendizagem a partir de uma análise integrada de resultados Geres e de
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documentos1 que possibilitem a apreensão de trajetórias de ensino e de aprendizagem já
vivenciadas tanto por turmas de alunos e escolas que apresentaram manutenção ou
desaceleração na aprendizagem quanto por aquelas que demonstraram avanços. Pretende-se,
assim, a partir da análise dos resultados do Geres, tentar identificar diferenças e aproximações
nos processos de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita, tomando-os tanto em suas
regularidades quanto naqueles aspectos que são peculiares, singulares.
Nessa perspectiva há de se observar, no processo de transposição didática, diferentes
formas de organização e de relação com o saber escolar e, sobretudo, a existência de
diferentes concepções acerca do que ensinar e de como exercitar a transposição didática.
Sobre a transposição didática, Perrenoud (1933, p.24) destaca que os saberes doutos e
daqueles oriundos das práticas sociais pouco se relacionam com o seu modo de apropriação
no contexto escolar. Segundo o mesmo autor, o conhecimento, para ser ensinado, adquirido e
avaliado sofre transformações como segmentação, cortes, tradução em lições, aulas e
exercícios, organização a partir de materiais pré-construídos. Perrenoud distingue três fases no
processo de transposição didática:
- dos saberes doutos ou sociais aos saberes a ensinar (ou, de uma forma mais geral, da
cultura extraescolar ao currículo formal);
- dos saberes a ensinar aos saberes ensinados (ou do currículo formal ao currículo real);
- dos saberes ensinados aos saberes adquiridos (ou do currículo real à aprendizagem dos
alunos) (1993, p.25).
Considerando que o professor é um dos principais atores da “segunda fase”, ainda que
participe de modo indireto da produção do currículo formal, a apreensão de práticas já
exercidas indica que se tome como eixo para a elaboração deste estudo, o currículo, tal qual
ele se materializa nos contextos intraescolares. Em consonância com essa perspectiva, a
investigação acerca das três dimensões curriculares é interpretada tendo em vista os seguintes
instrumentos de análise: (1) currículo formal: através de documentos oficiais da Escola e
outro(s) documento(s) que subsidiem prática(s) docente(s); (2) currículo real, representado
por saberes efetivamente trabalhados em sala de aula, expresso através dos livros didáticos
utilizados, dos questionários respondidos pelos docentes que participaram do Geres, de
atividades ou registros de aulas de professores e, sobretudo, através de cadernos de alunos.
1
O termo documento é aqui usado em sentido amplo, tal como definido por Le Goff (s.d., 95-105), como um
monumento decorrente do esforço das sociedades históricas de impor, prospectivamente, dada imagem de si
mesmas. O documento é, segundo o autor, produto da sociedade que o produziu segundo as relações de forças,
resultado (ainda que não consciente) da história, da época da sociedade que o produziu e, também daquela(s) que
o manipula(m); ele é uma coisa que fica, que dura e, enquanto tal, “pode ser um documento escrito, ilustrado,
transmitido pelo som, a imagem, ou de qualquer outra maneira”.
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Esse tipo de documento possibilita identificar o ensino praticado em determinada turma
e permite confrontar currículo formal e currículo real. Isto significa que, com a coleta dos
cadernos de cada um dos anos iniciais de um único aluno Geres, por exemplo, pode-se ter
acesso, ao menos parcial, ao trabalho de toda a turma e ao tempo e tipo de atividades
desenvolvidas pelo professor polivalente no ensino da leitura e da escrita.
Análise dos cadernos escolares recolhidos
Neste texto, reportamos o resultado da análise de quatro cadernos escolares, fornecidos
por alunos que estudaram com duas professoras ao longo de três dos quatro anos letivos
pesquisados pelo Geres. Trata-se, assim, de quatro cadernos correspondentes ao 2º; 3º; 4º e 5º
ano do ensino fundamental de alunos que frequentaram a mesma escola e turma ao longo
desse segmento do ensino fundamental e que estudaram apenas com duas professoras
diferentes, uma delas somente no 3º ano.
Assim, no que se refere ao número de cadernos, a análise centrou-se em alguns poucos
cadernos, tomados como microestudos de caso significativos, dos quais se podem extrair
conclusões em relação a atividades de ensino da leitura e da escrita no contexto de
determinada turma e escola.
Neste estudo, os cadernos foram utilizados como fonte para o conhecimento de
diferentes atividades escolares de ensino da leitura e da escrita, o que envolveu o estudo da
distribuição do tempo (ritmos, sequências de realização das diferentes atividades e tarefas), da
distribuição real do currículo no dia-a-dia da escola, entre os diferentes dias e meses do ano
letivo, e sobre a organização do trabalho em sala de aula, e que culminou na elaboração de
uma tipologia das atividades e exercícios em cada ano escolar. Enfim, os cadernos foram
utilizados como fonte de conhecimento sobre o currículo ensinado, ou ao menos daquela parte
que tem seu registro escrito nos cadernos escolares, e para o estabelecimento de hierarquias
entre disciplinas e matérias, que aparecem classificadas e ordenadas temporalmente nos
cadernos escolares.
Do ponto de vista do conteúdo, trata-se de cadernos únicos para o conjunto das matérias
lecionadas nesses diferentes anos escolares.
Na análise desses documentos, optou-se, num primeiro momento, por fazer uma leitura
do conjunto de cadernos e registros, em forma de lista, acerca dos tipos de exercício
constantes dos cadernos, tendo em vista a natureza da atividade neles privilegiada. Essa etapa
preliminar se justifica face à necessidade de não definir categorias a priori, mas de apreendê6
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las a partir dos dados empíricos observados, materializados a partir do conjunto de atividades
constante dos cadernos. Após esse primeiro momento, as variáveis identificadas foram
categorizadas e estruturadas em forma de planilha. Essa atividade envolveu as seguintes
etapas: [1] leitura de um conjunto de cadernos e registros, em forma de lista, dos tipos de
exercícios constantes dos cadernos, tendo em vista a natureza da atividade neles privilegiada;
[2] organização das variáveis identificadas em categorias e [3] produção de uma planilha.
O propósito da planilha é permitir uma visão global das categorias e respectivos itens
apreendidos ao longo de um caderno e/ou de um conjunto de cadernos de um mesmo aluno.
Por exemplo, no conjunto de cadernos do mesmo aluno tinha-se um caderno relativo a 2005,
três a 2006, um a 2007 e dois a 2008. Tem-se, nesse caso, uma planilha referente a cada ano,
posteriormente agrupada às demais, obtendo-se assim, uma visão ano a ano e, também, uma
visão global do conjunto de propostas ao longo do período 2005-2008 de um mesmo aluno
em dada instituição. Pode-se, também, comparar conjuntos de tarefas privilegiadas ao longo
de cada ano, entre diferentes anos numa mesma escola, entre turmas, tendo em vista o
universo e a diversidade dos materiais disponíveis. Viabiliza-se, a partir desse modo de
sistematização dos dados, uma visão “panorâmica” da composição do conjunto das atividades
identificadas em duas dimensões: vertical, organizando as categorias de análise de língua
portuguesa contidas nos cadernos; e horizontal, organizando a distribuição das atividades e a
sua quantidade no decorrer do tempo. Procurou-se, nesse percurso, levantar o maior número
de itens possíveis para definição das categorias da planilha, independente da frequência com
que figuravam. Só após essa primeira aproximação com os dados, partiu-se para um
levantamento mais apurado das variáveis identificadas, organizando-as em categorias ou
conjuntos analíticos. Foram identificados, também, aspectos que não guardam relação direta
com um componente curricular, mas que indiciam modos de utilização desse dispositivo
escolar, como as atividades de rotina e os cabeçalhos que, face à suas especificidades, foram
registrados separadamente. Outra estratégia foi a delimitação de um espaço específico para
observações visando à inclusão de variáveis que, no desenho preliminar, não tivessem sido
contempladas e que pudessem constituir-se em objeto de análise quer como uma nova
categoria, quer como uma variável particular, notável por sua singularidade. Consta, também,
no inicio da planilha, um espaço dedicado à identificação dos cadernos como: disciplina,
nome do aluno, período de escolaridade, número de páginas utilizadas, período letivo a que se
refere.
A tabela abaixo é um fragmento extraído da versão final da planilha e permite visualizar
sua estruturação.
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Tabela 1. Demonstração da estrutura da planilha de análise dos cadernos.
CÓD.
L.PORTUGUESA - ATIVIDADES
1.
AQUISIÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA
1.1.
1.2.
1.3.
1.4.
1.5.
1.6.
1.7.
1.8.
1.9.
1.10.
1.11.
1.12.
1.13.
1.A.
1.B.
1.C.
recorte de palavra com base na escrita
recorte de palavra com base no som
escrita ou formação de palavra
formação de frase
escrita do alfabeto
ordem alfabética
diferentes tipos de letras (cursiva e de imprensa)
palavra (tamanho, nº de letras, letra inicial...)
identificação de letra e ou palavra (circule, risque, sublinhe...)
separação silábica
famílias silábicas
encontro vocálico e encontro consonantal
relacionar desenho à palavra ou frase
correção do professor
estímulo do professor
auto-correção/correção de pares
Análise das respostas declaradas pelos professores
Complementarmente, foram estudadas, nas bases de dados Geres, variáveis sobre o
estilo de alfabetização dos professores e a sua declaração acerca da frequência com que
realizavam atividades específicas de leitura e de escrita com seus alunos. Identificadas as
variáveis e seu significado pedagógico, as mesmas foram transformadas em categorias e
incluídas numa planilha.
Na tabela 2, podemos visualizar um fragmento da planilha das professoras que permite
observar sua estrutura. As respostas foram retiradas dos questionários Geres respondidos
individualmente pela professora que, em 2005, lecionava na turma do 2º ano escolar e,
sucessivamente, por quem lecionou para esses mesmos alunos em 2006, 2007 e 2008.
Tabela 2. Demonstração da estrutura da planilha de respostas dos professores.
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ESCOLA
Escola Municipal X
ANO
2005
2006
2007
2008
PROFESSORA
A
B
C
D
Categoria: Aquisição do sistema de escrita
1.14. Ensino primeiro os sons das letras, depois as sílabas
e por último as palavras e frases.(Q94A)
1.15. Trabalha leitura a partir das vivências dos alunos e de
pequenos textos, decompondo-os em frases, palavras e
sílabas até chegar aos fonemas.(Q94B)
x
x
1.16. Faço a relação entre as letras e seus respectivos sons
(pronúncia prolongada dos sons, gestos e movimentos das
mãos que acompanham a pronúncia). (Q95A)
1.17. A partir de textos significativos seleciono palavras para
serem analisadas (tamanho, quantidade, posição das letras
na palavra, semelhanças e diferenças na sua
estrutura).(Q95B)
X
x
1.18. Começo apresentando as vogais, as famílias silábicas
mais simples, depois as mais complexas e termino o ano
trabalhando algumas regras ortográficas. (Q96A)
1.19. Identificando as hipóteses dos alunos sobre o
funcionamento da escrita e planejo atividades diferenciadas
de acordo com o desenvolvimento dos grupos. (Q96B)
X
X
x
x
Posteriormente, os dados dos cadernos, dos anos escolares e das duas professoras
investigados foram computados em uma planilha única, para permitir diversas formas de
comparação. Logo a seguir foi realizado o cruzamento entre as práticas observadas nos
cadernos e as respostas do mesmo professor ao questionário contextual do Geres, o que
permitiu a análise conjunta das práticas de ensino da leitura e da escrita declaradas e
observadas nos cadernos e oportunizou o delineamento do perfil pedagógico desses
professores.
Cruzamento entre práticas observadas e declaradas
As análises realizadas dos cadernos e dos itens do questionário respondidos pelas
professoras permitiram, até o momento, um mapeamento descritivo e comparativo das
práticas observadas e declaradas que, por ora, apresentaremos. A continuidade da pesquisa
corresponderá a uma interpretação pedagógica do conjunto das práticas mencionadas..
A professora responsável pela turma que cursava o 2º ano em 2005, ano escolar
tipicamente caracterizado como o momento de aquisição do código de leitura e de escrita,
declarou no questionário optar por práticas de alfabetização mais contextualizadas. Suas
escolhas compreendem “trabalhar com as vivências dos alunos”, “utilizar pequenos textos
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significativos”, “identificar as hipóteses dos estudantes sobre o funcionamento da escrita” e
“planejar atividades diferenciadas, de acordo com o desenvolvimento dos grupos”. Suas
declarações evidenciam, ainda, uma preferência pelos métodos analíticos de alfabetização,
nos quais parte-se de um pequeno texto para a sua decomposição em frases, palavras e
sílabas, até chegar aos fonemas. A observação, sistematização e análise das atividades de
ensino do sistema de escrita registradas nos cadernos utilizados pelos alunos deste professor
mostram sua ênfase no trabalho com famílias silábicas, separação de sílabas e formação de
palavras por meio da junção de sílabas dadas.
No ano de 2006, a professora que lecionava para o 3º ano declarou partir das vivências
dos alunos e de pequenos textos, decompondo-os em palavras, frases, sílabas e fonemas, no
processo de alfabetização. No entanto, suas opções de resposta recaíram mais frequentemente
no trabalho com a relação letra/som, no qual são apresentadas as vogais, as famílias silábicas
mais simples e depois as mais complexas, caracterizando sua opção pelos métodos sintéticos.
O professor declarou, ainda, terminar o ano letivo trabalhando algumas regras ortográficas. O
conjunto de escolhas feitas dos itens do questionário pela professora mostrou uma ênfase em
práticas menos contextualizadas de alfabetização. Os registros dos cadernos dos alunos desta
professora mostram uma boa frequência para as práticas de leitura, embora direcionada
principalmente à leitura de palavras. Quanto às atividades voltadas para a aquisição do
sistema de escrita, as práticas observadas nos cadernos foram: separação silábica, formação de
frase, abordagem das famílias silábicas, atividades de escrita ou formação de palavras,
atividades envolvendo a identificação de letras ou palavras (por exemplo, “Circule a palavra
que completa a frase”) e atividades de escrita/ordenação do alfabeto. Além disso, houve uma
frequência ainda maior de exercícios relacionados a categorias gramaticais.
Em 2007, quando a pesquisa investigou as práticas em relação ao 4º ano, a professora
declarou desenvolver todas as modalidades de leitura (leitura silenciosa, leitura em voz alta de
textos do livro didático, leitura oral, individual e alternada etc.) muitas vezes por semana. Já
com relação à prática de redação, a professora afirmou que nunca solicitava aos alunos que
escrevessem sobre um tema escolhido por eles e que cerca de uma vez por semana solicitava
que escrevessem sobre tema definido pela própria professora. Esta professora afirmou
também utilizar a prática de ditado várias vezes por semana e pedir a seus alunos que
realizassem a atividade de cópia algumas vezes por bimestre. As práticas observadas nos
cadernos utilizados por seus alunos evidenciaram uma baixa frequência de atividades
referentes à leitura. Quanto à redação, foi encontrado apenas um registro. Já as cópias e as
questões gramaticais foram às atividades mais enfatizadas.
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Em 2008, a professora responsável pela turma que cursava o 5º ano foi a mesma
professora dos anos de 2005 e 2007, e talvez por isso não tenha respondido o questionário
Geres. Nos cadernos de seus alunos há apenas dois registros de atividades relativas à
apropriação do código de escrita, o que é natural para esse momento da escolaridade. No que
se refere à produção de textos, foi encontrada apenas a escrita de um conto. A atividade de
cópia se limitou a enunciados do livro didático. As atividades relacionadas a categorias
gramaticais ocorreram com frequência relativamente alta ao longo do ano letivo.
Na sequência da pesquisa, além da interpretação pedagógica do conjunto de práticas
descrito, pretendemos desenhar o perfil das professoras, verificando a abordagem sobre
alfabetização e ensino da leitura e escrita presente no livro didático por elas selecionado para
cada ano escolar, no contexto do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), para,
posteriormente, refletir sobre possíveis relações entre as práticas pedagógicas dessas
professoras e a evolução dos resultados em leitura de seus alunos e turmas no Geres.
Finalmente, será feita uma análise sobre o que esses perfis nos permitem aprender em relação
ao aprimoramento dos questionários destinados a investigar praticas pedagógicas nos anos
iniciais do ensino fundamental, notadamente no período da escolarização destinado a
alfabetização.
Referência bibliográfica
CHARTIER, Anne-Marie. Práticas de leitura e escrita; história e atualidade. Belo Horizonte:
Autêntica, 2007.
GINZBURG, Carlo. Chaves do mistério: Morelli, Freud e Sherlock Holmes. In: ECO,
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GVIRTZ, Silvina. Del curriculum prescrito al curriculum enseñado. Una mirada a los
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PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação; perspectivas
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VIÑAO, Antonio. Os cadernos escolares como fonte histórica: aspectos metodológicos e
históricos. In: MIGNOT, A. C. V. Cadernos à vista: Escola, memória e cultura escrita. RJ:
Edit. UERJ, 2008.
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(des)aceleração da aprendizagem em Língua - PUC-Rio