FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MORFO-BIOLÓGICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DO BOTO Tursiops truncatus Montagu, 1821
(CETACEA, DELPHINIDAE) NO ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS,
RS, BRASIL
PAULO HENRIQUE MATTOS
Monografia apresentada ao curso de
Ciências Biológicas como parte dos
requisitos para obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Biológicas
Orientador: Msc. Luciano Dalla Rosa
Rio Grande-RS
Novembro de 2003
AGRADECIMENTOS
Ao Oc. Msc. Luciano Dalla Rosa pela orientação e amizade durante todo
tempo em que trabalhamos juntos no Laboratório de Mamíferos Marinhos.
Ao Oc. Ms. Lauro Barcellos pela oportunidade em trabalhar no Museu
Oceanográfico “Prof. Eliézer de C. Rios”, oferecendo toda estrutura necessária
para execução deste estudo.
Ao amigo e companheiro de trabalho Pedro Fruet, por ter contribuído
enormemente neste trabalho e também pela grande amizade surgida durante o
tempo em que convivemos dentro e fora do Museu.
A todas as pessoas que trabalham no Museu, em especial meu amigo e
piloto da lancha Miro pelo auxílio em todas as saídas feitas neste estudo;
Dimas; Leandro; Giovani; Dona Élida; Vitor Hugo; Rudinei; Dona Ada; Sidinei;
Dona Zenir e Marcelo, pelos bons momentos vividos e a toda equipe do CRAM
pelo apoio e por ceder seu espaço para realização das necrópsias.
Ao Professor Tabajara pelo auxílio nas análises estatísticas;
Aos colegas do Projeto Toninhas, Neco; Mateus; Lilia; Munir e Paulinha
pelo auxílio nas saídas de monitoramento de praia e à Dra. Mônica Muelbert
pelas dicas durante a realização deste estudo e também por aceitar participar
da banca examinadora.
Aos amigos Igrinho; Alex; Alemão; Lisiane; Josi; Fernando; Luilui e todos
os demais por todos os momentos vividos durante nossa graduação.
À Paula, por ter sido minha companheira, tanto nos bons quanto nos
maus momentos e pela paciência nas minhas ausências.
À toda minha família, especialmente minha mãe por ter permitido que
todo um sonho fosse realizado, não medindo esforços para tal e ao meu pai por
ter acreditado no meu potencial.
E finalmente aos botos, por terem sido a razão de todo este trabalho e
por agraciar-me com momentos inesquecíveis.
1
RESUMO
O boto ou golfinho nariz-de-garrafa, Tursiops truncatus, é um dos cetáceos
mais conhecidos atualmente no mundo. Entretanto existem poucos estudos
sobre seu comportamento natural ao longo da costa brasileira. O objetivo
deste trabalho foi descrever e quantificar os comportamentos de Tursiops
truncatus, no Estuário da Lagoa dos Patos, RS, Brasil, (32°09’S, 52°05’W).
A área de estudo foi dividida em três sub-áreas de acordo com suas
proximidades da boca do estuário. Os dados comportamentais foram
registrados a cada 5 minutos seguindo a Metodologia do Grupo Focal. Um
total de 34 saídas foram conduzidas entre dezembro/2001 e janeiro/2003,
totalizando 56h30minutos de observações diretas e 457 registros.
Os primeiros 15 minutos de cada grupo encontrado foram descartados a fim
de evitar uma influência das aproximações em seus comportamentos. O
comportamento mais observado foi Alimentação (34,35%), seguido por
Deslocamento
(25,82%),
Deslocamento
com
Alimentação
(25,82),
Socialização (8,98%), Milling (3,94%) e Descanso (1,09). Não houve
diferença significativa entre as freqüências de alimentação, deslocamento e
deslocamento com alimentação (Teste t para proporções).
Foi detectada uma dependência entre o tipo de comportamento e estação do
ano nas sub-área I (p<0,001, Pearson’s X2) e sub-área II (p=0,037, Pearson’s
X2). Também foi observada uma associação entre o tipo de comportamento e
a sub-área (p<0,001, Pearson’s X2).
Com respeito ao tamanho do grupo, 43,76% das atividades registradas foram
realizadas por grupos de 1 a 3 indivíduos, 40,91% de 4 a 6, 14,22% de 7 a
10 e apenas 1,11% por grupos com mais de 10 indivíduos.
Este estudo confirma a importância do Estuário da Lagoa dos Patos para os
botos executarem suas atividades diárias.
2
ABSTRACT
The bottlenose dolphin, Tursiops truncatus, is one of the world’s best
known cetaceans. However, there are few studies on their natural behavior
along the Brazilian Coast. This study aimed to describe and quantify the
behavior of T. truncatus in the Patos Lagoon Estuary, RS, southern Brazil
(ca. 32o09’S, 52o05’W).
The study area was divided into three subareas according to proximity
to the estuary mouth. The behavioral data were gathered every 5 minutes
following the Focal Group Sampling approach. A total of 34 boat surveys
were conducted from December 2001 through January 2003, totaling
56h30min of direct observation and 457 records.
The first 15 minutes of each group encounter were discarded to avoid
influence of boat approach on the behavior. The most observed behavior was
feeding (34.35%), followed by traveling (25.82%), travel feeding (25.82%),
socializing (8.98%), milling (3.94%) and resting (1.09%). There was not a
significant difference among the freqüencies of feeding, traveling and travel
feeding (t-Test for proportions).
It was detected a dependence between the type of behavior and the
season of the year in subareas I (p<0.001; Pearson’s !2) and II (p=0.037;
Pearson’s !2). It was also observed an association between the type of
behavior and the subareas (p<0.001; Pearson’s !2).
Regarding group size, 43.76% of the activities recorded were carried
out by groups of 1 to 3 dolphins, 40.91% from 4 to 6, 14.22% from 7 to 10,
and just 1.11% by groups with more than 10 dolphins.
This study confirmed the importance of the Patos Lagoon Estuary for
the dolphins to display their daily activities.
3
I – INTRODUÇÃO
I.1- O BOTO
Os mamíferos marinhos em geral sempre despertaram o interesse e a
curiosidade das pessoas, porém a maioria das espécies ainda são pouco
conhecidas no que diz respeito aos seus hábitos e comportamentos. Isto se
deve ao fato das observações serem dificultadas pelo meio em que vivem.
A Ordem Cetacea é representada por mamíferos totalmente adaptados
à vida aquática, e está dividida em duas Subordens: a dos Odontocetos,
onde os animais são providos de dentes e a dos Mysticetos, que apresentam
estruturas córneas denominadas barbatanas ao invés de dentes.
O boto (Tursiops truncatus) é uma espécie de odontoceto da Família
Delphinidae, que apresenta como características uma nadadeira dorsal
falcada e nitidamente visível localizada no centro do dorso, nadadeiras
peitorais posicionadas bem à frente do corpo, uma coloração cinza-escuro no
dorso com laterais e ventre mais claros, mandíbula sutilmente maior que a
maxila, rostro ou bico curto e bem definido e um corpo robusto (Fig.1).
O tamanho dos adultos pode variar, dependendo da população, de 2,3
a 3,8m em machos e de 1,90 a 3,60 em fêmeas. Já o peso pode variar de
270 a 370 Kg (Perrin e Reilly,1984) .
Wells et al. (1987), constataram na comunidade de Sarasota, Florida,
que as fêmeas maturam entre 6 e 7 anos e os machos com 10 anos de idade
ou mais. Estudos sobre a biologia de T. truncatus mostraram que essa
espécie pode viver mais de 40 anos, com registros de algumas fêmeas com
mais de 50 anos de idade (Wells et al. 1999).
O boto é considerado uma espécie cosmopolita, pois é encontrado em
todos os oceanos do mundo, desde águas temperadas frias até águas
tropicais, bem como em baías pequenas, lagunas, estuários ou próximos à
costa (Scott e Chivers, 1990). No Atlântico Sul Ocidental, sua presença é
4
bastante comum em águas costeiras e baías protegidas da costa central e
sul do Brasil até a Argentina, penetrando em estuários e rios ( Gomes, 1986).
No Brasil, mais especificamente, são encontrados desde o Nordeste
(Alves-Júnior et al. 1996) até a região sul do país, onde podem ser vistos
com bastante freqüência grupos de botos nas desembocaduras dos Rios
Tramandaí e Mampituba (Simões-Lopes, 1991) e Estuário da Lagoa dos
Patos, no Rio Grande do Sul (Castello e Pinedo, 1977) e no Canal do Porto
de Laguna, em Santa Catarina. Em Tramandaí e Laguna ocorrem interações
positivas com os pescadores que utilizam esses animais como indicadores
de cardumes (Simôes-Lopes op cit).
No Estuário da Lagoa dos Patos, mais precisamente, o tamanho da
população de botos foi estimado em aproximadamente 80 indivíduos (IC 95%
= 72 a 90) (Dalla Rosa, 1999). Para outras populações costeiras do sul do
Brasil ainda não foi feita nenhuma estimativa, entretanto todas são
populações aparentemente pequenas.
Pelo fato de ser encontrado em vários lugares ao longo da costa
brasileira, esta espécie recebeu diversos nomes populares, tais como Boto,
Delfin, Boto-da-tainha, Flíper ou Golfinho-nariz-de-garrafa, sendo este último
uma tradução do nome em inglês.
Atualmente, a espécie T. truncatus está incluída na categoria
“insuficientemente conhecida” da lista de cetáceos da International Union for
the Conservation of Nature and Natural Resources-IUCN (1991), sendo que
populações do Mar Negro, África e Peru são consideradas em risco (Perrin,
1988).
Esta espécie apresenta duas formas geográficas distintas, sendo uma
forma mais costeira e outra mais oceânica (Leatherwood e Reeves, 1983).
Sua ampla distribuição geográfica, a presença próxima à costa, bem como
uma relativa facilidade de manutenção em cativeiro permitiram que fossem
produzidos
diversos
trabalhos
5
sobre
sua
ecologia,
distribuição
e
comportamento, tornando-se, provavelmente, a espécie de cetáceo mais
conhecida.
No Brasil alguns autores defendem a existência de duas formas
distintas: uma para o norte, T. truncatus, e outra para o sul, T. gephyreus.
Isto se deve ao fato da observação de diferenças morfológicas cranianas e
diferenças na espessura dos dentes (Barreto, 2000). Entretanto, atualmente
são aceitas apenas duas espécies para este gênero: T. aduncus, presente
em águas costeiras do Oceano Índico e margem oeste do Pacífico, e T.
truncatus, com uma distribuição cosmopolita, tanto em águas costeiras como
em oceânicas (Rice,1998).
O comportamento dos botos é relacionado à ecologia local, e os
padrões de comportamento mudam conforme os fatores ecológicos tais
como a distribuição das presas e salinidade (ambientes estuarinos). Muitos
estudos têm contribuído para compreender o relacionamento entre
comportamento e ecologia nesta espécie (Shane, 1977; Wells, 1995).
Os primeiros estudos ecológicos e comportamentais realizados em
liberdade foram conduzidos por dois pesquisadores sul-africanos, Tayler e
Saayman (1972) que, adaptando métodos da primatologia, passaram a
quantificar os movimentos diários e estratégias de pesca cooperativa de
duas espécies de golfinhos.
O boto apresenta vários tipos de comportamento no seu ambiente
natural. No entanto, geralmente consideram-se quatro categorias principais:
alimentação, socialização, deslocamento e descanso (Shane et al. 1986).
Estes comportamentos ocorrem durante o ano todo na área utilizada neste
estudo, entretanto, a freqüência dos mesmos pode variar de acordo com
algumas variáveis ambientais (estação do ano) e ecológicas (presença de
presas).
6
A ecologia comportamental trabalha com questões funcionais sobre o
comportamento, especialmente como um padrão comportamental particular
contribui para as chances de sobrevivência de um animal e para o seu
sucesso
reprodutivo
comportamento
com
(Krebs
et
al.
outros
grupos
1996).
animais
Vários
têm
trabalhos
sido
sobre
realizados,
principalmente no que diz respeito à reprodução, dentre eles Dunbar (1988),
Harvey et al.(1991), Clutton-Brock (1991).
Este trabalho teve como objetivos principais avaliar e quantificar os
padrões de comportamento e de distribuição dos botos ao longo da área de
estudo, comparando com estudos prévios realizados por Möller (1993), a fim
de verificar possíveis mudanças com relação à ecologia e comportamento da
população de botos do Estuário da Lagoa dos Patos. O objetivo secundário
foi monitorar esta população a fim de avaliar possíveis interferências
antrópicas causadas pela pesca artesanal e pelo início das obras de
ampliação dos Molhes da Barra.
II - MATERIAL E MÉTODOS
II.1- ÁREA DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado no Estuário da Lagoa dos Patos, RS
(31°50’S 52°20’W), o qual assume uma importante função de interface entre
ambientes marinhos e límnicos. O estuário interage com as águas costeiras
através de processos de produção, transporte de matéria e migração de
organismos (Seeliger, 1992).
Predadores de topo como no caso dos botos, freqüentemente entram
no estuário em busca de alimento; entretanto, a distribuição temporal e
espacial da ictiofauna no estuário é controlada principalmente pela
distribuição da salinidade e disponibilidade de alimento. Dentre as espécies
7
de peixes presentes neste ambiente podemos citar Micropogonias furnieri,
Trichiurus lepturus e Mugil ssp (Vieira et al. 1991).
A área de estudo compreende três sub-áreas de acordo com
referências topográficas e com a proximidade do canal de acesso ao Porto
de Rio Grande, totalizando aproximadamente 40km2, sendo limitada ao norte
por uma linha imaginária entre o Yatch Club de Rio Grande e a cidade de
São José do Norte e ao sul pela saída da barra, na desembocadura do
estuário (Fig.2).
A sub-área III compreende as imediações do Museu Oceanográfico até
a cidade de São José do Norte; a sub-área II estende-se desde a
extremidade sul da Ilha da Marinha até a região do Super Porto, sendo
limitada pela Torre de Energia Elétrica no meio do canal; e a sub-área I
refere-se a toda extensão da desembocadura da Lagoa dos Patos, onde se
encontram os Molhes da Barra.
Em algumas ocasiões o acompanhamento podia se estender à área
oceânica costeira além do canal, tanto em direção à Praia do Mar Grosso
quanto em direção à Praia do Cassino.
II.3 – COLETA DOS DADOS
As saídas de campo foram realizadas a bordo da lancha “Toninha”,
uma embarcação de alumínio (5,5m, com motor de popa 50 Hp) pertencente
ao Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer C. Rios”. Os botos foram observados
de dezembro de 2001 a janeiro de 2003, totalizando 145 horas de esforço
amostral.
As saídas iniciavam nos fundos do Museu Oceanográfico (sub-área III)
seguindo em direção ao super porto (sub-área II) onde se iniciava um ziguezague ao longo do canal até a desembocadura do estuário, a fim de
aumentar a cobertura da área de observação.
8
Ao todo foram realizadas 34 saídas para coleta dos dados de
comportamento e distribuição. Nas primeiras 10 saídas de campo, percorreuse inicialmente toda a área de estudo para coleta de dados de distribuição e
tamanho de grupo, e somente então se procedeu a coleta dos dados de
comportamento. Nas saídas subseqüentes, visando à otimização do tempo e
recursos, optou-se por proceder diretamente a coleta dos dados de
comportamento, pois, de qualquer forma, sempre se registrou a posição
inicial e o tamanho de cada grupo observado.
Durante as saídas foram coletados dados referentes à hora da
avistagem, sub-área, atividade do grupo, número de indivíduos no grupo,
posição geográfica através do uso de GPS e também através de plotagem
visual em um mapa da área, e observações complementares, tais como
condições climáticas e presença de embarcações de pesca.
Os dados de comportamento foram coletados seguindo a metodologia
de amostragem de grupos focais (Focal Group Sampling), descrita por
Altmann (1974), e adaptada por Shane (1990), a qual se baseia em
amostragens instantâneas, a cada cinco minutos, do comportamento de um
grupo foco, o qual deve conter pelo menos um animal facilmente identificável
através de marcas naturais presentes em sua nadadeira dorsal.
Se o grupo era perdido passava-se para um próximo grupo seguindo a
mesma metodologia. Os animais foram considerados do mesmo grupo
quando estavam próximos e a uma distância máxima de 30m de algum outro
indivíduo do grupo.
Os dados de comportamento foram obtidos durante 56h30min. de
observações diretas dos grupos foco e durante as saídas de distribuição,
entretanto somente os dados obtidos através da metodologia do grupo focal
foram utilizados nas análises estatísticas. Como a aproximação inicial da
lancha pode interferir no comportamento do grupo, procurou-se sempre
descartar os quinze minutos iniciais.
9
Neste estudo foram consideradas as quatro categorias principais de
comportamento que têm sido registradas pela maioria dos autores que
trabalham com esta espécie: alimentação, deslocamento, socialização e
descanso.
Os animais foram considerados em atividade de alimentação quando
eram observados mergulhando, geralmente sem uma direção definida, com
exposição caudal ou arqueando pronunciadamente seu pedúnculo caudal,
realizando rápidas investidas em direção a um ponto qualquer ou quando
alguns peixes eram avistados saltando ou sendo arremessados pelos botos.
O deslocamento referia-se aos animais envolvidos num movimento
persistente e direcional como, por exemplo, entrada e saída do Estuário ou
mudança de uma sub-área a outra geralmente mantendo direção e
velocidade constantes. A socialização incluía atividades como corte,
brincadeiras entre adultos, sub-adultos e pares mãe/cria, contatos físicos,
saltos totais ou parciais, arremessos de aguapés com a cauda ou com a
cabeça e batidas com a nadadeira caudal na água. Porém, muitos autores
descrevem essas interações como interligadas e provavelmente servindo
também nas funções sexuais (Tayler e Saayman 1973, Norris 1974). O
descanso referia-se aos animais envolvidos em movimentos bastante lentos,
quase parados na superfície. Quando os animais não apresentavam um
padrão comportamental definido, mergulhando e se movimentando em
diferentes direções, denominava-se “milling”.
Além dessas categorias principais também se pôde observar a
associação
entre
algumas
dessas
categorias,
como
por
deslocamento com alimentação e deslocamento com socialização.
10
exemplo,
II.3- ANÁLISE DOS DADOS
Para assegurar que a aproximação inicial da lancha não interferisse no
comportamento dos grupos, sempre se descartou os quinze minutos iniciais
de cada observação.
Como a associação entre deslocamento com alimentação apresentou
características diferentes das demais categorias e ocorreu com freqüência na
área de estudo, ela foi analisada separadamente da atividade de
alimentação. Isto não ocorreu no estudo realizado por Möller (1993), que
analisou esta associação unicamente como alimentação. Desta forma, no
presente estudo essas categorias foram analisadas separadamente, sendo
unidas somente para fins de comparação. Outras associações, porém, com
observações pouco expressivas, tais como socialização com alimentação ou
socialização com deslocamento foram analisadas dentro das quatro
principais categorias para melhor padronização dos dados. Também foram
observados vários comportamentos de superfície, os quais estão descritos
no anexo I.
Para uma melhor análise dos dados entre as horas do dia, o mesmo foi
dividido em três períodos: 9:00 - 12:00h, 12:01-15:00 e 15:01-18:00.
Para verificar o grau de ocupação das sub-áreas nas estações do ano
e períodos do dia determinou-se a taxa de encontro dos grupos por hora de
esforço.
Os dados de campo específicos para cada estudo (comportamento e
distribuição), foram anotados em planilhas de campo (anexos II e III,
respectivamente) e posteriormente repassados para planilhas eletrônicas em
computador, para posterior análise.
11
O Teste do Qui-quadrado de Pearson foi utilizado para verificar se
houve associação entre o tipo de comportamento e as estações do ano e
sub-áreas. O Teste-t para diferença de proporções foi utilizado para verificar
se houve diferença significativa entre as freqüências das categorias de
comportamento observadas (Zar, 1984).
Mapas com a posição inicial de cada grupo observado, por área e por
estação, foram gerados a fim de visualizar a distribuição dos animais ao
longo da área de estudo. No entanto, como o esforço não foi homogêneo nas
três sub-áreas, calculou-se também uma taxa de encontro dos grupos por
hora de esforço para se ter uma idéia da densidade relativa nas sub-áreas.
Neste caso, assumiu-se que o tempo gasto com cada grupo era aleatório e
independente da área e da estação do ano.
III – RESULTADOS
III.1 – COMPORTAMENTO
Os dados de comportamento foram obtidos durante 56h30min de
observações diretas dos grupos foco, ou seja, na presença dos animais,
totalizando 457 registros.
Considerando toda a área de estudo, a alimentação foi a atividade mais
observada (34,35%), seguida por deslocamento (25,82%), deslocamento com
alimentação (25,82%), socialização (8,98%), milling (3,94%) e descanso
(1,09%) (n=457). Não houve diferença significativa entre as freqüências de
alimentação, deslocamento e deslocamento com alimentação (Teste t para
proporções, p>0,05) (Fig.3).
12
Observou-se uma associação entre o tipo de comportamento e as subáreas (p<0,001; Pearson’s X2). Na sub-área I foram observadas todas as
categorias de comportamento, e a alimentação foi a atividade mais freqüente
ao longo de todo o estudo (40,97%), seguida por deslocamento (23,73%)
(n=371) (Fig.4). Houve um maior tempo de esforço nesta sub-área devido às
maiores ocorrências de botos, que pode ser evidenciado pela alta taxa de
encontro (4,36 obs/h).
Na sub-área II foram realizadas 73 observações, havendo uma maior
freqüência relativa de deslocamento associado com alimentação (41,09%).
Este predomínio também prevaleceu na sub-área III, porém com uma maior
freqüência relativa (Fig.4).
Foi detectada uma correlação entre o tipo de comportamento e a
estação do ano nas sub-áreas I (p<0,001; Pearson’s X2) e II (p=0,037;
Pearson’s X2).
O verão apresentou todas as categorias de comportamento e uma
maior freqüência relativa de alimentação (38%) e deslocamento (30,13%)
(n=229) (Fig.5).
No outono (n=74), observou-se uma maior freqüência relativa de
deslocamento com alimentação (51,35%), se comparado com as outras
estações. Por outro lado socialização e descanso não foram observados
nesta estação.
O inverno foi a estação que apresentou a maior freqüência relativa de
alimentação (51,78%), seguida de deslocamento com alimentação (32,15%)
(n=56). Socialização foi pouco observada (1,78%), e “milling” e descanso não
foram observados.
Na primavera a alimentação foi a atividade mais observada (25,51%),
entretanto com freqüências muito próximas de socialização, deslocamento e
deslocamento com alimentação (Fig.5). Não houve diferença significativa
entre estas categorias na primavera (Teste t para proporções, p>0,05).
13
Com relação às atividades observadas de acordo com o período do
dia, houve um maior número de observações no período da manhã, entre
9:00 e 12:00 (n=205). Entretanto, isto se deve provavelmente ao fato do
esforço de amostragem neste período ter sido maior. Alimentação foi a
atividade mais freqüente (31,71%) (Fig.6).
No período entre 12:01 e 15:00 observou-se um pequeno aumento na
freqüência relativa de alimentação (38,4%) e deslocamento com alimentação
(29,6%) em relação aos outros períodos (n=125).
Já no período entre 15:01 e 18:00 as atividades mais freqüentes foram
alimentação (34,64%) e deslocamento (30,71%) (n=127). Socialização foi
pouco observada (6,3%). Apenas “milling” e descanso não foram observados
nesse período. Alimentação foi a atividade mais observada nos três períodos
(Fig.6).
III.1.1. COMPARAÇÃO COM O ESTUDO DE MÖLLER (1993)
A Fig.10 mostra as freqüências relativas dos comportamentos por área
obtidas neste estudo e as freqüências obtidas por Möller (1993), para efeitos
de comparação. A autora registrou freqüências muito próximas para
alimentação (37,4%) e socialização (33,5%) na área I, o que não ocorreu
neste estudo. Nas sub-áreas II e III registrou-se um maior número de
categorias observadas, se comparado com Möller.
A Fig.11 mostra as freqüências relativas dos comportamentos por
estação obtidas neste estudo e as freqüências obtidas por Möller (1993).
Observa-se que no verão de 93 a atividade mais observada foi socialização
(37,5%), diferente do observado no presente estudo. Ao contrário do
registrado aqui, a autora observou as quatro categorias principais de
comportamento nos meses de outono, porém com freqüências menores de
alimentação (35,5%).
14
A Fig.12 mostra as freqüências relativas dos comportamentos por
período do dia obtidas neste estudo e as freqüências obtidas por Möller
(1993). A maior freqüência de alimentação registrada neste estudo foi no
período entre 12:01 e 15:00 (68%), ao contrário do observado no trabalho
anterior, onde as maiores freqüências foram registradas no período entre
15:01 e 18:00 (59,8%).
III.2- DISTRIBUIÇÃO E TAMANHO DE GRUPO
III.2.1- DISTRIBUIÇÃO
Das 34 saídas, em apenas uma não foram encontrados botos na área
de estudo. Nas demais saídas, os botos foram avistados em pelo menos
uma das sub-áreas. Os botos foram registrados desde as imediações do
Porto Novo de Rio Grande até a saída dos Molhes da Barra e áreas
adjacentes.
A maior parte das avistagens foram feitas na sub-área I (97), sendo que
nas sub-áreas II e III foram realizadas, respectivamente, 9 e 4 avistagens.
Esta diferença ocorreu, em parte, devido ao maior esforço na sub-área I em
relação às sub-áreas II e III. Entretanto, as maiores concentrações de botos
realmente ocorrem na sub-área I, conforme evidenciado pelas taxas de
encontro (grupos/hora) observadas (Tab.1).
A ocorrência de botos na área de estudo foi maior nos meses de verão
e outono, se comparado com as outras estações do ano (Fig. 9a, 9b). Nos
meses de inverno e primavera as avistagens se concentraram na área entre
os Molhes da Barra (Fig. 9b, 9c). As taxas de encontro nas estações do ano
estão representadas na Tab.2.
15
III.2.2- TAMANHO DE GRUPO
Ao todo foram registrados, no presente estudo, 110 grupos de animais.
Observou-se um número médio de 4,21 indivíduos por grupo (S=3,25).
Com relação ao tamanho de grupo, 43,76% das avistagens foram
registradas para grupos de 1 a 3 indivíduos, 40,91% de 4 a 6, 14,22% de 7 a
10 e apenas 1,11% para grupos com mais de 10 indivíduos. O número
máximo de botos observado num único grupo foi de 15 animais (Fig.7).
IV - DISCUSSÃO
IV.1 – COMPORTAMENTO
IV.1.1- ALIMENTAÇÃO
Os botos são predadores ativos e se alimentam de uma variedade
muito ampla de peixes, lulas e crustáceos. A disponibilidade de alimento para
esses animais varia de acordo com a localização geográfica (Barros e Odell,
1990).
Os botos possuem hábito alimentar oportunista, levam vantagem em
quase toda fonte de alimento disponível e adaptam seus métodos de
alimentação de acordo com o tipo de alimento e condições locais (Shane,
1986).
Pinedo (1982), analisando conteúdos estomacais
de Tursiops,
encontrou uma alimentação predominantemente demersal, registrando um
maior número de presas da Família Sciaenidae, especialmente a corvina,
Micropogonias furnieri (79,9%).
De acordo com Castello e Haimovici (1978), a corvina é uma espécie
demersal presente em grande número e durante todo o ano na zona
estuarina da Lagoa dos Patos, assim como na zona costeira, o que explica a
predominância dessa espécie na dieta alimentar dos botos.
16
Outras espécies que também fazem parte da dieta alimentar dos botos
são as tainhas (Mugil sp), entretanto sendo registrada apenas nos meses de
verão e parte do outono (Möller,1993), e o peixe-espada (Trichiurus sp).
No estudo realizado por Möller (1993) foram registradas as maiores
freqüências de alimentação na sub-área III, o que não se repetiu neste
estudo, onde este comportamento foi mais observado na sub-área I. Na
sub-área II foi registrado um aumento na freqüência relativa de alimentação,
se comparado ao estudo anterior.
Dentre as estações do ano, alimentação foi a atividade mais
observada nos meses de inverno, verão e primavera. A maior freqüência
deste comportamento no inverno pode estar relacionado ao aumento das
necessidades energéticas, conforme sugerido por Shane (1990a).
Conforme observado por Möller (1993), alimentação foi a atividade
mais observada nos meses de outono e inverno, o que se confirmou no
presente estudo. A diferença ocorreu no verão quando as maiores
freqüências de alimentação foram observadas somente neste estudo.
Shane et al. (1986) encontrou picos de alimentação no início da manhã
e final de tarde, numa população de botos na Flórida. No presente estudo
foram observadas maiores freqüências desta atividade ao longo de toda
tarde. Möller (1993) encontrou um aumento gradativo nas freqüências de
alimentação ao longo do dia.
IV.1.2 – DESLOCAMENTO COM ALIMENTAÇÃO
Devido ao grande número de registros este tipo de comportamento foi
analisado separadamente da alimentação, ao contrário do registrado por
Möller (1993), que analisou essas categorias unicamente como alimentação,
devido à escassez de dados.
17
Deslocamento com alimentação foi observado em todas as sub-áreas,
sendo que as maiores freqüências foram registradas nas sub-áreas III e II, o
que poderia estar associado a um maior tempo gasto na procura por
alimento.
Dentre as estações do ano observou-se um pico deste comportamento
nos meses de outono, o qual foi diminuindo ao longo do ano. Com relação
aos períodos do dia houve um equilíbrio das observações, havendo um
discreto predomínio no início da tarde. O aumento nas freqüências de
deslocamento/alimentação foi proporcional ao aumento das freqüências de
alimentação.
IV.1.3- DESLOCAMENTO
A saída dos botos da área de estudo (sub-área I) foi observada com
maior freqüência junto ao Molhe Leste, onde geralmente saiam contornando
a ponta e toda a parte externa do Molhe em direção à Praia do Mar Grosso.
Da mesma forma, observou-se uma tendência dos botos realizarem o
mesmo caminho para entrarem na sub-área I.
Foi observado um aumento na freqüência relativa de deslocamento na
sub-área II, se comparado com as outras sub-áreas, o que também foi
observado por Möller (1993).
Com relação às estações do ano observou-se um equilíbrio nas
freqüências relativas de deslocamento, sendo mais freqüente nos meses de
verão e outono. Möller (1993) encontrou uma maior freqüência desta
atividade nos meses de inverno.
Entre os períodos do dia as maiores freqüências relativas de
deslocamento, deste estudo, foram observadas na parte da manhã e final da
tarde. Isto poderia estar associado aos horários de entrada e saída dos
18
animais do estuário. O mesmo não foi observado no estudo anterior onde
houve um predomínio no início da tarde.
Novacek et al. (2001) analisando os efeitos do tráfego de embarcações
numa população de botos em Sarasota, Florida, percebeu que, na presença
de embarcações, os animais diminuíam a distância entre eles, mudavam a
direção e aumentavam a velocidade de deslocamento na presença de
embarcações na área estudada.
Neste estudo, um número aparentemente menor de grupos foi
observado durante algumas saídas realizadas no verão, quando foram
registrados entre 100 e 200 botes pescando corvina na desembocadura do
Estuário.
Como as redes praticamente atravessavam toda a desembocadura, os
poucos grupos que entravam na sub-área I não permaneciam por muito
tempo, a não ser que os barcos e redes estivessem localizados mais
internamente na sub-área. Estas observações demonstram a necessidade de
algum tipo de controle ou fiscalização por parte dos órgãos responsáveis,
pois em longo prazo tais atividades poderiam afetar negativamente esta
população.
IV.1.4 – DESCANSO, SOCIALIZAÇÃO E MILLING
Mesmo com um constante tráfego de barcos de pesca e grandes
navios a atividade de descanso foi observada apenas na sub-área I, em
áreas rasas e abrigadas. Isto também foi observado por Möller (1993)
ressaltando mais uma vez a importância dessa área para as atividades
diárias desses animais.
19
As poucas observações de descanso foram feitas nos meses de
primavera e verão. Este tipo de comportamento não foi observado nos
meses de outono e inverno, ao contrário do registrado no estudo anterior
onde descanso foi mais freqüente nos meses de outono.
Com relação aos períodos do dia, as observações de descanso
ficaram limitadas à parte da manhã, não sendo registradas nos outros
períodos. O mesmo não foi registrado por Möller (1993), que encontrou
freqüências ao longo dos três períodos, porém com um predomínio na parte
da manhã, sugerindo uma preferência dos botos, por esse período.
Em outras partes do mundo diversos autores têm obtido poucos
registros dos botos descansando (Shane et al. 1986).
A atividade de socialização foi observada nas sub-áreas I e II com
freqüências muito parecidas. Na sub-área III esta atividade não foi
observada. O mesmo não ocorreu no estudo realizado por Möller (1993) que
observou este tipo de comportamento apenas na sub-área I.
A maior freqüência de socialização observada na primavera pode estar
associada a um aumento na freqüência de interações de cortejo e cópula.
Considerando que a gestação nesta espécie dura aproximadamente de 10 a
12 meses (Wells et al. 1987), isto explicaria a maior incidência de filhotes na
área de estudo no final da primavera e início do verão.
A socialização foi observada em todos os períodos do dia, havendo um
número maior de registros na parte da manhã e final de tarde. A mesma
observação foi feita no estudo anterior.
A atividade de milling foi observada em todas as sub-áreas, sendo mais
freqüente na sub-área III. Este tipo de comportamento não apresentou
diferença marcante ao longo do ano, com exceção dos meses de inverno,
onde não foi obtido nenhum registro. Milling foi observado apenas nos
períodos da manhã e início de tarde. Möller (1993) não registrou este tipo de
20
comportamento em seu estudo. A autora possivelmente associou milling a
alimentação ou a socialização.
Este estudo demonstra que a área próxima da desembocadura da
Lagoa dos Patos é de grande importância para os botos, por apresentar uma
grande disponibilidade de alimentos e oferecer as condições necessárias
para realização de suas atividades.
IV.2- DISTRIBUIÇÃO E TAMANHO DE GRUPO
IV.2.1- DISTRIBUIÇÃO
Ao longo da costa americana do Golfo do México as áreas preferidas
pelos botos incluem canais de navegação, passagens entre baías internas e
oceanos,
bocas
de
rios,
baias,
lagunas
e
complexos
estuarinos
(Leatherwood et al. 1982, 1983b; Mead e Potter, 1990).
Durante o presente estudo os botos utilizaram toda a área de estudo,
porém observou-se uma preferência dos animais pela região próxima aos
Molhes da Barra, o que também foi observado por Möller (1993).
As sub-áreas II e III apresentaram poucas avistagens
ao longo do
estudo, se comparadas à sub-área I. Isto pode estar associado,
provavelmente, à ocorrência do fenômeno El Nino na região utilizada neste
estudo (NOAA/National Weather Service), o que acabou gerando maiores
índices de precipitação na Lagoa dos Patos, bem como taxas de salinidade
abaixo da média registrada nos últimos treze anos (Banco de Dados
Meteorológicos-FURG/ Laboratório de Ictiologia).
21
Alguns estudos mostram que a área de moradia (“home range”)
utilizada
por
diversas
populações
costeiras
de
botos,
pode
ser
consideravelmente ampla. Gruber (1981) identificou um animal distante da
costa do Texas, que tinha sido previamente avistado 95 Km à sudoeste dali.
Hansen (1983) reavistou doze animais, primeiramente identificados
distantes da costa de San Diego, em locais cuja extensão variava de 140 a
185 Km.
Neste estudo, os botos foram observados ao longo de toda a área de
estudo, porem investigou-se a distribuição deles apenas na região da
desembocadura da Lagoa dos Patos. Como eles se deslocam ao longo da
costa, tanto para o norte como para o sul, seria importante realizar um
estudo para investigar a área total de moradia desta população.
IV.2.2- TAMANHO DE GRUPO
No ambiente natural a composição e a estrutura dos grupos são
baseados na idade, sexo e condição reprodutiva dos indivíduos (Wells,
1991). O tamanho do grupo varia significantemente em sua composição. Na
costa oeste da Flórida o tamanho médio dos grupos é de cerca de sete
animais, conforme observado por Scott et al. (1990).
No presente estudo ocorreram situações em que se observavam vários
grupos ou sub-grupos, geralmente de 2 a 3 indivíduos, espalhados e se
alimentando na área da desembocadura do Estuário impossibilitando, em
algumas ocasiões, a determinação do tamanho dos grupos.
O tamanho de grupo observado neste estudo foi diferente do valor
obtido por Möller (1993), que obteve tamanhos de 1 a 5, 6 a 10, 11 a 15 e 16
a 20. Entretanto, como a autora também registrou esse predomínio na
formação de grupos menores, pode-se considerar que essa tendência é
válida.
22
V – CONCLUSÃO
- O tamanho médio de grupo foi de 4,1 ind./grupo (S=3,25), sendo mais
freqüentes grupos de 1 a 3 indivíduos (43,76%);
- Os animais foram avistados em todas as sub-áreas do Estuário da
Lagoa dos Patos, com maior predomínio de observações na sub-área I,
mais precisamente na região entre os Molhes da Barra;
- O tipo de comportamento mais observado foi alimentação, seguida de
deslocamento e deslocamento com alimentação. Não houve diferença
significativa entre as freqüências desses comportamentos;
- Foi detectada uma dependência entre o tipo de comportamento e
estação do ano nas sub-áreas I e II, bem como uma associação entre o
tipo de comportamento e a sub-área.
- O maior número de observações foi registrado nos meses de
Primavera e Verão. No período da manhã foi quando se registraram
todos os tipos de comportamento observados durante o estudo;
- Este estudo confirma a importância do Estuário da Lagoa dos Patos,
em especial na área próxima aos Molhes da Barra, para os botos
executarem suas atividades diárias;
- Recomenda-se um estudo a longo-prazo para que se possa determinar
os eventuais efeitos que determinadas interações antrópicas, como a
pesca descontrolada e as obras de ampliação dos Molhes da Barra,
possam causar nessa população de botos.
23
VI- BIBLIOGRAFIA:
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27
VII – FIGURAS
1234-
O Boto, Tursiops truncatus;
Mapa da Área de Estudo;
Freqüência Absoluta dos Comportamentos;
Freqüência Relativa dos Comportamentos de Acordo com as SubÁreas;
5- Freqüência Relativa dos Comportamentos de Acordo com as Estações
do Ano;
6- Freqüência Relativa dos Comportamentos de Acordo com os Períodos
do dia;
7- Distribuição das Freqüências de Tamanho de Grupo;
8- Distribuição dos Botos ao longo da Área de Estudo;
9.a- Distribuição dos Botos nos meses de Verão;
9.b- Distribuição dos Botos nos meses de Outono;
9.c- Distribuição dos Botos nos meses de Inverno;
9.d- Distribuição dos Botos nos meses de Primavera;
10 - Comparação das Freqüências dos Comportamentos de Acordo com
as Sub-Áreas, entre os anos de estudo;
11 - Comparação das Freqüências dos Comportamentos de Acordo com
as Estações do Ano, entre os anos de estudo;
12 - Comparação das Freqüências dos Comportamentos de Acordo com
os Períodos do Dia, entre os anos de estudo.
VIII – ANEXOS
1- Lista dos Comportamentos de Superfície observados ao longo do
estudo;
2- Planilha de Campo utilizada na Coleta dos Dados de Comportamento;
3- Planilha de Campo utilizada na Coleta dos Dados de Distribuição.
IX – TABELAS
1-Taxas de Encontro Observadas entre as Sub-Áreas
2- Taxas de Encontro Observadas entre as Estações
28
Freqüência Absoluta
em %
figura 1 – O boto, Tursiops truncatus
40
Alimentação
30
Desl./Alim.
Deslocamento
20
Descanso
10
Socialização
0
Milling
Tipos de Comportamento
Freqüência Relativa em %
Figura 3 Freqüência Absoluta dos Comportamentos
80
70
A
60
50
DL/A
40
30
D
20
M
DL
S
10
0
I (n=371)
II (n=73)
III (n=13)
Sub-Áreas
Figura 4 Freqüência Relativa dos Comportamentos
de Acordo com as Sub-Áreas
29
A
DL/A
DL
D
(n
=9
8)
P
I(
n=
56
)
(n
=7
4)
S
M
O
(n
=2
29
)
V
Freqüência Relativa em %
60
50
40
30
20
10
0
Estações
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
A
DL/A
DL
D
S
M
12
:0
115
:0
0(
n=
12
5)
15
:0
1:
18
:0
0(
n=
12
7)
9:
00
-1
2:
00
(n
=2
05
)
Freqüência Relativa em %
Figura 5 Freqüência Relativa dos Comportamentos
de Acordo com as Estações do Ano
Períodos
Figura 6 Freqüência Relativa dos Comportamentos
de Acordo com os Períodos do Dia
30
14%
1%
1-3
4-6
44%
7-10
>10
41%
Figura 7 Distribuição de Freqüência de Tamanho de Grupo
31
6460000
6450000
6440000
390000
395000
400000
405000
Figura 8 Distribuição dos Botos ao longo da Área de Estudo
32
100
A
80
DL
60
%
D
S
40
M
20
0
I
I (93)
II
II (93)
III
III (93)
Sub-Áreas
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
In
ve
rn
o(
93
)
In
ve
rn
o
O
ut
on
o(
93
)
Ve
rã
o(
93
)
rã
Ve
O
ut
on
o
A
DL
D
S
M
o
%
Figura 10 Comparação das Freqüências dos Comportamentos
de Acordo com as Sub-Áreas, entre os Anos de Estudo
Estações
Figura 11 Comparação das Freqüências dos Comportamentos
de Acordo com as Estações do Ano, entre os Anos de Estudo
33
A
DL
D
S
M
9:
00
-1
9:
2:
00
00
-1
2:
00
(9
3)
12
:0
115
12
:0
:0
0
115
:0
0(
93
15
)
:0
118
15
:0
:0
0
118
:0
0(
93
)
%
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Períodos
Figura 12 Comparação das Freqüências dos Comportamentos
de acordo com os Períodos do Dia, entre os Anos de Estudo
34
ANEXO 1 - Lista dos Comportamentos de Superfície observados ao longo do
estudo
! Saltos laterais expondo todo o corpo;
! Saltos laterais expondo parcialmente o corpo;
! Batidas com a nadadeira caudal;
! Batidas laterais com a nadadeira caudal;
! Exposição de caudal indicando mergulho profundo;
! Arremesso de peixes com a cabeça;
! Arremesso de peixes com a nadadeira caudal;
! Arremesso de aguapés com a cabeça;
! “Surf” na proa dos navios;
! Cerco individual ou em grupo de peixes contra a praia ou locais rasos
dentro do Estuário;
! “Spyhop”ou periscópio;
! Captura área de tainhas.
35
Anexo 2 - Planilha de Campo utilizada na Coleta dos Dados de
Comportamento
ANEXO 3 - Planilha de Campo utilizada na Coleta dos Dados de
Distribuição.
Tabela 1 - Taxas de Encontro Observadas entre as Sub-Áreas
Sub-Áreas
I
n
97
Esforço
93,8 h
Taxa de Encontro
1,03 g/h
II
09
36,3 h
0,25 g/h
III
04
14,88 h
0,74 g/h
Tabela 2 - Taxas de Encontro Observadas entre as Estações
Estações
Verão
n
49
Esforço
66,01 h
Outono
29
26,77 h
1,08 g/h
Inverno
19
24,5 h
0,77 g/h
Primavera
13
27,7 h
0,47 g/h
36
Taxa de Encontro
0,74 g/h
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Ecologia comportamental e distribuição do boto, Tursiops truncatus