UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA TERRA E DO MAR - CTTMar PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL Análise dos efeitos das ações antrópicas e variáveis ambientais sobre os padrões de uso de Tursiops truncatus da foz do Rio Itajaí-Açu Mariana Carrion Itajaí, Santa Catarina 2014 i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA TERRA E DO MAR - CTTMar PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL Análise dos efeitos das ações antrópicas e variáveis ambientais sobre os padrões de uso de Tursiops truncatus da foz do Rio Itajaí-Açu Mariana Carrion Trabalho de Conclusão apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental Orientador: Dr. André Silva Barreto Itajaí, Santa Catarina 2014 ii Dedicatória Aos meus pais e minha irmã, por todo cuidado e dedicação para que meus objetivos e realizações fossem alcançados. iii Agradecimentos Agradeço aos meus pais, Darcy e Paula, pelo incentivo aos estudos, e dedicação para que eu pudesse terminar o mestrado. Também agradeço ao apoio da minha irmã Julia, todos esses anos. Vocês, mais do que ninguém, me deram suporte e me aturaram por horas e horas falando do meu trabalho e dos botos. Sem vocês com certeza eu não teria conseguido. Amo vocês! Ao meu orientador, André Silva Barreto, por me orientar não somente no mestrado, como também na graduação. Tudo que conheço sobre cetáceos devo a você, pelas horas de ajuda e orientação, sempre tentando me fazer entender e compreender o máximo possível. Você é um exemplo, não só como professor e orientador, mas também como pessoa. Muito obrigada André!! A toda minha família, que mesmo longe sempre teve interesse e curiosidade por tudo que faço. O apoio de vocês foi muito importante. A minha querida tia Edmeia, que não está mais aqui para me ver realizar mais um sonho, mas que tenho certeza que está muito feliz por tudo que conquistei na minha vida. Aos professores João Thadeu de Menezes, Sergey Araujo e Lourival A. Alves Jr por disponibilizarem os dados das variáveis ambientais para eu utilizar na minha dissertação. Ao Thilan, por esses dois anos de saída embarcada e de muitas histórias para contar. Ao Rodrigo Sant’Ana pela ajuda e todo o suporte com o GLM. Ao pessoal do LIBGEO, Alencar, Rafaela e Gustavo por anos de muita risada e ajuda. Sem a convivência diária com vocês com certeza esses dois anos teriam sido mais entediantes! E por fim a todos os estagiários que passaram pelo Programa Botos do Itajaí. Esse estudo não seria possível se todos vocês não tivessem passado por aqui, e despendido um pouco do tempo de vocês para monitorar os botos. Muito obrigada! iv Sumário Lista de Figuras..................................................................................................................................... 6 Lista de Tabelas .................................................................................................................................... 8 Resumo ..................................................................................................................................................10 Abstract..................................................................................................................................................11 Introdução .............................................................................................................................................. 1 Variáveis ambientais...................................................................................................................... 1 Ações antrópicas ............................................................................................................................. 5 Objetivos.................................................................................................................................................. 8 Objetivo Geral ................................................................................................................................... 8 Objetivos Específicos ..................................................................................................................... 8 Materiais e Métodos............................................................................................................................ 9 Área de estudo.................................................................................................................................. 9 Análise das variáveis ambientais ............................................................................................11 Análise das ações antrópicas ....................................................................................................13 Análises estatísticas .....................................................................................................................13 Resultados ............................................................................................................................................15 Discussão...............................................................................................................................................34 Conclusão ..............................................................................................................................................41 Referências Bibliográficas ..............................................................................................................42 v Lista de Figuras Figura 1. Mapa da foz do Rio Itajaí-Açu, identificando o local utilizado para o registro da ocorrência de T. truncatus. Fonte: GoogleEarth, 2014. ...............................10 Figura 2. Identificação da ferramenta utilizada no estudo dentro do ArcToolbox do ArcGis 10.1............................................................................................................................................12 Figura 3. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................16 Figura 4. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................16 Figura 5. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................17 Figura 6. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................17 Figura 7. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................18 Figura 8. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. .................................................................................................18 Figura 9. Esforço amostral e frequência média anual de ocorrência dos botos ao longo dos anos, em dias e horas. Os círculos indicam os anos que houve dragagem de aprofundamento no canal do Rio Itajaí-Açu. .....................................................................20 Figura 10. Média e desvio padrão do tamanho de grupo de Tursiops truncatus na foz do Rio Itajaí-Açu durante os anos de 2001 a 2010. .......................................................21 Figura 11. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. ............................................27 Figura 12. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. Dados até o ano de 2006. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da vi abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. ..28 Figura 13. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. Dados de 2007 a 2013. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. ..29 vii Lista de Tabelas Tabela 1. Esforço amostral (horas) realizado no período de 2001 a 2010, para o registro da ocorrência de T. truncatus na foz do rio Itajaí-Açu. .......................................10 Tabela 3. Classes de presença de embarcações por hora, utilizadas na análise nãoparamétrica. O número indica a passagem de embarcações no ponto de observação dentro de um intervalo de 5 minutos . ......................................................................................14 Tabela 4. Valores sazonais mínimos, máximos e médios das variáveis ambientais na foz do Rio Itajaí-Açu. ...................................................................................................................15 Tabela 5. Quantidade de dias e horas de esforço por ano. Quantidade de horas, porcentagem de dias com ocorrência e porcentagem de horas com ocorrência dos botos na área. ......................................................................................................................................19 Tabela 6. Resultado do teste de Kruskal-Wallis para diferença entre o tamanho de grupo durante os anos de estudo. Em negrito os valores que tiveram diferença significativa. .........................................................................................................................................22 Tabela 7. Correlação entre abundância e frequência dos botos com níveis de maré e fases da lua. Valores em negrito possuem correlação significativa. ..............................23 Tabela 8. Correlação entre a abundância dos botos e variáveis ambientais. Valores significativos (p<0,05) estão em negrito. .................................................................................24 Tabela 9. Correlação entre a frequência dos botos e variáveis ambientais. Em negrito estão os valores em que p<0,05. ..................................................................................25 Tabela 10. Correlação entre abundância e frequência dos botos e ocorrência das diferentes categorias de embarcações. Valores em negrito são significativos (p<0,05). ................................................................................................................................................26 Tabela 11. Modelos rodados na análise do GLM. som.indiv: abundância dos botos; tempminar: temperatura mínima do ar; ventomedia: velocidade média do vento. 30 Tabela 12. Valores da análise do GLM. Os valores de 1Q e 3Q representam o sumário estatístico da distribuição dos resíduos. O esforço amostral (esf.amostral) foi utilizado como variável de padronização da variável resposta. Pr é a probabilidade p para o teste em questão. ................................................................................30 Tabela 13. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença da draga. Valores com p<0,05 estão em negrito. ...............................................31 Tabela 14. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de navios. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categoria ≤1- um navio por hora, categoria ≤2- dois navios por hora, categoria ≤3- três navios por hora, categoria>4- mais do que quatro navios por hora. ≤ ...........................................................31 viii Tabela 15. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de barco de pesca grande. Em negrito estão os valores em que p<0,05. Categorias: ≤5- até cinco barcos por hora, ≤10- de seis a dez barcos por hora, ≤15de onze a quinze barcos por hora, >15- acima de quinze barcos por hora. ................32 Tabela 16. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de lanchas. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categorias: ≤2- até duas lanchas por hora, ≤4- de três a quatro lanchas por hora, >4- mais que cinco lanchas por hora. ................................................................................................................................32 Tabela 17. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de rebocador. Valores com p<0,05 estão em negrito. Valores acima da diagonal são para a frequência e abaixo para a abundância. Categorias: ≤1- um rebocador por hora, ≤2- dois rebocadores por hora, >3- mais que três rebocadores por hora. ................................................................................................................................................32 Tabela 18. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de fases da lua. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categorias: ≤0,25- valores diários de exposição da lua menores de 0,25; ≤0,50- valores diários entre 0,26 e 0,50; ≤0,75valores diários entre 0,51 e 0,75; ≤1- valores diários entre 0,76 e 1. ...........................33 ix Resumo Este trabalho teve como objetivo geral avaliar os efeitos de ações antrópicas e parâmetros ambientais sobre os padrões de ocorrência dos botos na área no estuário do Rio Itajaí-Açu. Foram utilizados dados coletados pelo “Programa Botos do Itajaí”, que realiza monitoramento na área desde 2001, registrando a ocorrência dos botos, bem como o tráfego de embarcações e a presença de dragas na área. Se buscou identificar as variáveis com maior importância nos padrões de ocorrência, através da análise de correlação, teste de Kruskal-Wallis, análise de componentes principais e de Modelo Linear Generalizado. Na análise de correlação, dentre as variáveis ambientais analisadas, somente o estado da maré e a temperatura da água tiveram correlação positiva significativa com a frequência dos animais na área, enquanto a velocidade média do vento teve correlação negativa significativa. Para os tipos de embarcações, dragas, navios, lanchas e rebocador tiveram correlação negativa significativa e as embarcações de pesca pequenas tiveram correlação positiva significativa com a frequência de T. truncatus na área. A PCA mostrou que os botos apresentaram respostas diferentes às variáveis que os influenciam em momentos antes e após as obras realizadas nos molhes do estuário em 2006. Na análise GLM somente a temperatura do ar e a velocidade média do vento tiveram significância na abundância dos botos. É recomendada a continuação dos estudos com os botos na área, para ver se este padrão de ocorrência observado se alterará com o tempo e também para analisar se a utilização das variáveis ambientais em uma escala temporal menor causa alguma diferença no resultado obtido neste estudo. Palavras-chave: Boto, dragagem, porto, ocorrência. x Abstract This study aimed to analyze the effects of anthropogenic impacts and environmental variables on the occurrence patterns of bottlenose dolphin in the Itajaí-Açu river estuary. Information was collected by the “Programa Botos do Itajaí”, that has regularly monitored the area since 2001; recording data on the occurrence of bottlenose dolphins, as well as environmental variables, the presence of vessels and dredging. The data analysis were analyzed using Principal Component Analysis (PCA), Generalized Linear Model (GLM), correlation and Kruskal-Wallis tests to find out which variables effected the occurrence patterns of dolphins. From all environmental variables, only tidal state and water temperature had significant positive correlations with dolphin occurrence, while wind speed had a significant negative correlation. As for the vessel types, dredges, ships, speedboats and tugboats had significant negative correlation, and curiously small fishery boats had significant positive correlation. The PCA analysis indicated that the dolphins had difference responses to the variables before and after 2006, when a large part of the access channel and jetties were remodelled. The GLM indicated that only air temperature and wind speed had significance in dolphin’s abundance. It is recommended that environmental variables should be recorded in a smaller timescale to identify if there are any other variations that could not be observed with present data. Also, considering the dynamical nature of the responses observed during the studied period, the monitoring effort should be maintained, in order to find out if these occurrence pattern will change in the future. Key-words: Dolphin, dredging, harbor, occurrence. xi Introdução Variáveis ambientais A distribuição dos organismos pode ser observada como o reflexo espacial de seu nicho: as espécies ocorrem em locais onde as condições ambientais são favoráveis, e estão ausentes naquelas áreas em que algum recurso necessário esteja faltando. Interações ecológicas com outras espécies (predação, exclusão competitiva) são importantes na definição da ocorrência de uma espécie em determinado local, mas os limites de distribuição também sofrem alterações de acordo com o crescimento ou diminuição da população em resposta a mudanças nas condições ambientais. Diversos fatores que definem um nicho são essenciais para entender os limites de distribuição e densidade populacional de uma espécie, sendo necessário compreender como as variáveis ambientais tem influência na distribuição e abundância dos organismos. Os fatores físicos que afetam a abundância e distribuição dos organismos no meio aquático não são os mesmos que afetam os organismos terrestres. A temperatura da água, se comparada com a temperatura do ar, varia pouco durante o dia, sazonalmente ou latitudinalmente. Por outro lado, variações na pressão, salinidade e luz são importantes em ambientes aquáticos. Além destas, variações da maré que ocorrem diariamente, ou mudanças entre estações do ano também são importantes para os organismos aquáticos. Variações sazonais na distribuição e ocorrência de organismos marinhos são bem conhecidas e estudadas para algumas espécies. Em cetáceos, os fatores que podem afetar a forma de uso de uma determinada área ou o tamanho de sua área de vida podem ser disponibilidade de presas (Irvine et al.¸1981), sobrevivência dos filhotes (Scott et al., 1990) e condições ambientais apropriadas para nascimento de filhotes (Whitehead & Moore, 1982). Em espécies migratórias, as causas das migrações anuais são incertas, mas alguns autores sugerem que o movimento das presas e a temperatura da água dos oceanos sejam algumas razões para que isto ocorra (Toth et al., 2012). O entendimento dos padrões de uso do habitat é importante para identificar quais aspectos ambientais são relevantes para a distribuição de uma determinada 1 espécie. Normalmente, a distribuição dos odontocetos é mais influenciada por fatores como disponibilidade de presa do que de fatores ambientais. Porém, quantificar a disponibilidade desses recursos e o quanto estas influenciam a distribuição dos cetáceos é particularmente complexo, principalmente porque a maioria das espécies de cetáceos tem ampla distribuição, a maioria dos comportamentos exibidos pelos animais acontece embaixo da água e estudos que indiquem a quantidade de alimentos disponível no ambiente para estes animais são incompletos (Moreno, 2005). Uma alternativa para isto é avaliar como a distribuição dos cetáceos está relacionada às variáveis ambientais que influenciam a disponibilidade de suas presas. Delfinídeos, além de possuírem sentidos visuais e acústicos altamente desenvolvidos, possuem um sistema cognitivo que ajuda os animais a memorizarem seus sucessos e falhas no forrageamento, além de estabelecer ligação entre as condições do ambiente e suas táticas de forrageamento (Ridgway, 1990). Como resultados dessas características, os animais são capazes de se ajustar rapidamente as variações em seu habitat, como se alimentar em associação a barcos de pesca (Fertl, 1994) ou aproveitando as agregações de peixes durante marés (Mendes et al., 2002). Algumas variáveis ambientais que podem influenciar na distribuição de cetáceos incluem clorofila a, temperatura da água, entre outras. A temperatura da água é provavelmente um dos fatores que influenciam a distribuição e o movimento de pequenos cetáceos (Shane, 1980). Wursig e Wursig (1979) observaram que golfinhos da espécie T. truncatus são abundantes no Golfo de San Jose, Argentina durante todo o ano, com exceção dos meses mais quentes. Neumann (2001) observou na Nova Zelândia que a distância em que golfinhos da espécie D. delphis se movimentam da costa variou de 9,2 km durante os meses de verão e primavera para uma distância de 20,2 km durante o outono. O autor sugere que dificilmente a temperatura afeta diretamente os animais, mas que esta variável provavelmente afeta a distribuição das presas destes, influenciando indiretamente a distribuição dos golfinhos. Na porção nordeste dos Estados Unidos, golfinhos da espécie Lagenorhynchus acutus habitam a área durante períodos em que a temperatura da água está baixa, porém quando a temperatura da água aumenta esta mesma região é habitada por golfinhos da espécie Delphinus delphis, 2 mostrando que a variação sazonal pode influenciar de modo diferente as espécies, uma vez que essas mudanças afetam as principais presas destas espécies, o que pode acarretar em mudanças na distribuição dos animais (Selzer & Payne, 1988). Por outro lado, algumas técnicas de forrageamento tem ligação com alterações de curta duração, como as marés. No porto de Charleston, EUA, golfinhos da espécie Tursiops truncatus são vistos frequentemente próximos a frentes estuarinas (Dustan & Pinckney, 1989). A mesma espécie é observada em Moray Firth, principalmente nos meses do verão, predominantemente nos períodos de maré enchente (Mendes et al., 2002). Gregory & Rowden (2001) observaram uma diferença na abundância dos botos em relação aos diferentes níveis de maré. Além da diferença na abundância, eles observaram que os animais tendem a forragear mais durante a maré cheia e se deslocar durante a maré vazante. Parâmetros bióticos, tais como a quantidade de clorofila a no ambiente, são parâmetros que tem sido utilizado para identificar a distribuição e concentração da produtividade dos oceanos, o que está relacionado à maior disponibilidade de alimento para algumas espécies de peixes. Apesar desta variável estar ligada à produtividade dos oceanos, é difícil encontrar a relação entre a quantidade de clorofila e a presença de mamíferos marinhos, uma vez que estes animais não estão distribuídos de forma homogênea de acordo com a disponibilidade de clorofila. Um estudo feito na costa da Califórnia relatou que as maiores quantidades de avistagem de cetáceos durante os monitoramentos foram altamente relacionadas à diminuição da concentração de clorofila no ambiente (Smith et al., 1986). Entretanto os autores ainda observaram que os odontocetos tem alta correlação positiva com esta variável. A turbidez da água também pode afetar a distribuição dos cetáceos. Isso pode acontecer de forma direta, diminuindo a visibilidade dos cetáceos, ou indiretamente diminuindo a penetração de luz, afetando a produção primária do local, que terá influência na abundância das presas (Sykes, 2002). Alguns autores relataram que aumentos na turbidez na água alteram os padrões de distribuição de T. truncatus na costa sul de Natal, África do Sul, o que indica que sua distribuição 3 está provavelmente relacionada à transparência da água (Cockcroft et al., 1991). O conhecimento da interação entre os padrões de movimentação de cetáceos e variáveis ambientais pode fornecer um valioso conhecimento sobre a ecologia dos animais. É comum assumir que a distribuição e movimentação de presas influenciam a distribuição e movimentação de cetáceos tanto em escala temporal quanto espacial. Alguns autores sugerem que qualquer estudo relacionado à distribuição ou ecologia de cetáceos deve focar na distribuição das presas (Barco et al., 1999). A movimentação de alguns odontocetos tem sido correlacionada com a ocorrência das presas, porém poucos estudos foram feitos para identificar quais fatores influenciam a movimentação de odontocetos (Lockyer & Brown, 1981). Golfinhos da espécie Tursiops truncatus são conhecidos por se alimentarem de uma grande variedade de presas (Santos et al., 2001) que variam de acordo com a área que habitam e com as flutuações sazonais. Estes tem a necessidade de se manter próximos de grandes concentrações de presas a fim de não despender elevadas demandas de energia durante o forrageamento (Young & Crockcroft, 1994). Segundo Defran et al. (1999) a espécie apresenta preferência, sempre que possível, por algumas espécies de presa, sendo a principal explicação para isso o fato de algumas espécies possuírem maiores conteúdos energéticos (determinados pela quantidade de proteína, gordura, carboidratos e água) do que outras. Ainda segundo estes autores, alguns modelos de forrageamento sugerem que se estas espécies de alta qualidade estiverem disponíveis, os animais terão preferência por se alimentar destas presas ao invés de outras com baixo conteúdo energético. Uma vez que estas presas não estão mais disponíveis, os animais tendem a se relocar para outras áreas. Isto indica que a disponibilidade de presas tem grande influência na distribuição e movimentação dos botos. 4 Ações antrópicas Todos esses fatores mencionados anteriormente tem influência sobre a distribuição dos cetáceos. Porém, algumas espécies habitam áreas costeiras, e pensar na flutuação das variáveis ambientais, sem levar em consideração os distúrbios causados pelas ações antrópicas é errôneo. De todos os impactos gerados no ambiente marinho através das ações antrópicas, a poluição sonora é provavelmente a menos estudada. Os ruídos provenientes das ações antrópicas no oceano são gerados por uma variedade de fontes, onde algumas destas produzem ruídos de forma intencional, e outras de forma não intencional, sendo este um subproduto de sua atividade (Hildebrand, 2009). Todos os tipos de embarcações, independente do tamanho, produzem ruídos embaixo da água. Estes são os maiores contribuintes deste tipo de distúrbio devido a sua elevada quantidade, ampla distribuição e mobilidade (Richardson et al., 1995). Devido à sua dependência do som para obter informações sobre o ambiente, essas atividades afetam diferentes espécies de mamíferos marinhos. Entretanto, poucos estudos têm sido feitos para avaliar os impactos nesses animais. Casos de abandono ou alteração de áreas de uso por populações de golfinhos já foram vistas no Brasil para o boto-cinza, Sotalia guianensis, na Baía de Guaratuba, (PR) (Filla, 2004) e na Baía da Babitonga, (SC) (Cremer et al., 2004). Neste último caso os autores colocaram como causa provável da perda de habitat o aumento do tráfego de embarcações e as obras de ampliação do porto de São Francisco do Sul. O boto T. truncatus tem maior interação com as embarcações do que outras espécies de mamíferos marinhos; os animais surfam as ondas produzidas pelos barcos, além de se aproximarem das embarcações e interagirem com as mesmas (La Manna et al., 2010). Alguns estudos mostram reações diversas dos animais ao tráfego de embarcações, como modificação das características acústicas de sua vocalização (Buckstaff, 2004; Morisaka et al., 2005; May-Collado et al., 2008), alteração dos padrões comportamentais (Acevedo, 1991; Lusseau, 2005; Papale et al.¸2011), diminuição do tamanho da área de uso quando a perturbação gerada pelas embarcações chega a limites intoleráveis (Allen & Read, 2000), entre outras. Por exemplo, na Baia de Sarasota, Estados Unidos, houve uma redução na densidade de Tursiops truncatus após a demolição e construção de uma ponte. A baixa na 5 densidade dos golfinhos foi provavelmente uma resposta às alterações geradas no ambiente marinho. Além disso, uma mudança na densidade de presas também pode ter causado a variação da densidade dos animais (Moore et al., 2006). No estuário do Sado, em Portugal, durante o processo de cravação de estacas durante a construção de um porto, os níveis sonoros produzidos atingiram intensidades elevadas. A análise do comportamento de T. truncatus que utilizavam a área mostrou que esta perturbação acústica causou alterações nos padrões comportamentais (Luis, 2008). Porém, em outro estudo também realizado no Estuário do Sado foi observado que não houve diferenças significativas nos afastamentos ou desaparecimentos dos golfinhos na presença de embarcações. Mesmo sendo uma área com elevado tráfego de embarcações, os animais na maioria das vezes mantiveram seus comportamentos iniciais (Brito, 2012). Estas diferenças nas respostas dos animais podem estar relacionadas com o tipo de atividades que estão desenvolvendo em um determinado local, pois em locais em que estão se alimentando os animais tendem a estarem menos sensíveis do que em áreas onde estão socializando. Do mesmo modo, pode haver mudanças no comportamento de acordo com as características do ambiente, que dependendo da área, podem sofrer mais ou menos alterações ao longo do ano. Outra ação antrópica de grande impacto são as dragagens, estando provavelmente entre as maiores causadoras de poluição acústica em ambientes costeiros. Estas atividades de dragagens na maior parte das vezes são realizadas em canais de acesso a portos, pela necessidade de passagem de embarcações de maior calado. A mobilização de componentes tóxicos (Hedge et al., 2009), a alteração da composição e dinâmica do substrato (Cooper et al., 2011) e a suspensão de grandes quantidades de sedimentos (Lewis et al., 2001) já foram documentadas como possíveis causas para mudanças nas comunidades ecológicas. Porém, pouco se sabe sobre o real efeito desta atividade em animais marinhos de grande porte. Espera-se que estes respondam através da alteração de seus padrões comportamentais aos elevados níveis sonoros causados durante a operação da draga. Os ruídos gerados pela draga são predominante em baixa frequência (<1 kHz) e sua detecção pode ser feita em distâncias de até 6km, dependendo das condições do local (Pirotta et al., 2013). Mesmo que ruídos em baixa frequência 6 não mascarem a ecolocalização de odontocetos, estes tem potencial para afetar a comunicação (Weilgart, 2007) e se a perturbação persistir, os animais podem evitar a área (Pirotta et al., 2012). Baleias da Groelândia (Balaena mysticetus) apresentaram diferentes resposta a dragagem no mar de Beaufort, Canada, mostrando que a resposta varia entre indivíduos da mesma espécie (Richardson et al., 1990). Na Lagoa Guerrero Negro, México, baleias cinzentas abandonaram a área durante as atividades de dragagem (Bryant et al., 1984). Pirotta et al. (2013) observaram uma clara resposta de afastamento de T. truncatus da área do porto de Aberdeen durante períodos de atividade de dragagem. Além disso, foi observada uma diminuição no tempo de permanência dos animais na área, conforme as atividades de dragagem se intensificavam ou persistiam. Esta espécie tem ocorrência regular em diversos locais da costa brasileira, tais como os estuários da Lagoa dos Patos (Fruet et al., 2011), do Rio Tramandaí (Simões-Lopes e Fabian, 1999), em Laguna (Daura-Jorge, 2012), arquipélago das Cagarras (Lodi et al., 2008) e arquipélago de São Pedro e São Paulo (Skaf e Secchi, 1994). Na foz do Rio Itajaí-Açu, a ocorrência de T. truncatus vem sendo monitorada desde 2001 (Barreto et al., 2005), com coleta de dados sobre ocorrência e comportamento. Este ambiente é utilizado pelos botos como local de alimentação, socialização e descanso como indicam os resultados das avistagens realizadas de 2000 a 2004 (Britto, 2004), existindo variação na ocorrência dos mesmos. Sabendo-se que existe uma grande variabilidade ambiental na área e sendo a desembocadura do rio Itajaí-Açu um local de grande tráfego de embarcações, tanto pesqueiras quanto mercantes, além de ser um local periodicamente submetido a processos de dragagem devido à presença de dois portos, a pergunta que se faz é: quais variáveis ambientais tem influência na ocorrência dos botos? Será que, além das variáveis ambientais, as ações antrópicas tem influência sobre os animais? 7 Objetivos Objetivo Geral Analisar os efeitos das ações antrópicas e variáveis ambientais nos padrões de uso da foz do Rio Itajaí-Açu por botos, Tursiops truncatus, no período de 2001 a 2010. Objetivos Específicos Avaliar a variabilidade mensal dos parâmetros ambientais que possam influenciar a presença de T. truncatus na área; Analisar a ocorrência de ações humanas capazes de alterar o habitat dos botos; Analisar a correlação das variáveis ambientais e humanas registradas anteriormente com os padrões de uso da área pelos botos. 8 Materiais e Métodos Área de estudo A bacia hidrográfica do Rio Itajaí compreende 47 municípios, com uma população superior a um milhão de habitantes, dividido em três sub-regiões: o Alto Vale, o Médio Vale e o Baixo Vale, onde está localizado o estuário do Rio Itajaí-Açu, na porção final do rio. O estuário está localizado no litoral centro norte do Estado de Santa Catarina, desaguando no Oceano Atlântico em 26°54,7’S e 48°38,1’O. Apresenta extensão total de aproximadamente 70 km, com largura média no canal de saída de 225m nos últimos 20 km e uma profundidade em torno de 14m em sua desembocadura (Schettini, 2002). Devido à presença dos portos de Navegantes e Itajaí, o rio Itajaí-Açu tem sido dragado constantemente para manutenção da profundidade do canal, além de ter ocorrido dragagens de aprofundamento nos anos de 2003 (10m), 2006 (12m), 2009 (10m). Para definir os padrões de ocorrência dos botos na região, foram utilizados dados coletados pelo “Programa Botos do Itajaí”. Este programa realiza monitoramento da ocorrência dos animais na área próxima aos molhes de Itajaí e Navegantes desde 2001 (Barreto et al., 2005). O monitoramento é feito a partir dos molhes de Itajaí e Navegantes (Figura 1), nos períodos da manhã (08:00 – 12:00) ou tarde (13:30 – 17:00), usualmente com dois observadores. Estes realizam as avistagens e registram a ocorrência dos botos na área sendo também anotado o tráfego de embarcações durante o período de monitoramento. Para este estudo foram utilizados os dados coletados no período de 2001 a 2010 (Tabela 1). 9 Figura 1. Mapa da foz do Rio Itajaí-Açu, identificando o local utilizado para o registro da ocorrência de T. truncatus. Fonte: GoogleEarth, 2014. Tabela 1. Esforço amostral (horas) realizado no período de 2001 a 2010, para o registro da ocorrência de T. truncatus na foz do rio Itajaí-Açu. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Verão 12,7 50,3 83,6 68,4 50,2 20,3 125,4 9,0 31,7 27,4 Outono 38,7 158,3 97,4 64,4 40,0 55,1 55,9 28,6 62,3 34,7 Inverno 9,0 105,8 100,8 21,9 42,9 38,6 23,6 44,8 36,2 75,4 Primavera 54,8 91,7 60,3 36,4 7,9 9,0 16,6 11,3 18,3 28,7 Todas as informações sobre ocorrência de animais, embarcações e de variáveis ambientais (intensidade do vento, estado do mar e condições climáticas) foram registradas em uma planilha de campo. Para as embarcações, foi registrado o tipo e quantidade das mesmas e se estas estavam entrando ou saindo do canal. Também foi anotada a presença ou não de dragas, fossem elas de manutenção ou de aprofundamento. Todos esses dados foram anotados a cada 5 minutos contínuos, agrupando o número de embarcações neste período. 10 Análise das variáveis ambientais Pesquisou-se na literatura as variáveis ambientais que poderiam ter influência na ocorrência dos botos. A partir dos trabalhos encontrados, foram identificadas as seguintes variáveis: Fases da lua (Bailey e Thompson, 2010) Temperatura da água (Sykes, 2002; Toth et al., 2011) Clorofila (Sykes, 2002; Young e Phillips, 2002) Velocidade do vento (Hildebrand, 2009; Moore et al., 2012) Descarga (Viddi et al., 2010; Pirotta et al., 2013) Maré (Mendes et al., 2002; Bailey e Thompson, 2010) Os dados das fases da lua foram obtidos através do site da Astronomical Applications Department of the U.S. Naval Observatory (http://aa.usno.navy.mil /data/docs/moonFraction.php), que informa a fração da lua que está exposta em cada dia do ano. Foram obtidos valores para os anos de 2001 a 2010. Os valores diários da lua foram divididos em cinco categorias: 0 quando o valor da lua naquele dia era zero (lua nova), 1 quando o valor da lua era até 0,25 (início de crescente ou final de minguante); 2 quando o valor da lua era até 0,50 (meia lua); 3 quando o valor da lua era até 0,75 (final de crescente ou início de minguante) e 4 quando o valor da lua era até 1,0 (lua cheia). A obtenção dos valores de temperatura e clorofila foi feita através de imagens orbitais da NASA. Para isso foi utilizado o ArcGis 10.1® e agregado ao ArcToolBox do mesmo uma ferramenta desenvolvida pela Duke University intitulada Marine Geospatial Ecology Tools (MGET). A vantagem desta ferramenta (Figura 2) é a comunicação direta com o banco de dados da NASA e as devidas calibrações dos valores aferidos pelos satélites em ambiente de processamento. Para registro dos dados, foi utilizada a coordenada geográfica do ponto #BF5, pois este fica próximo à desembocadura do Rio. Os dados de temperatura do período entre Janeiro de 2001 e Junho de 2002 foram extraídos do satélite Terra, com médias mensais e resolução espacial de 4km. Os dados entre Julho de 2002 e Dezembro de 2010 foram extraídos do satélite Aqua, com médias mensais e resolução espacial de 4km. A utilização de ambos os satélites ocorreu devido ao 11 satélite Aqua não dispor de dados para todo o período do estudo. Os dados de clorofila também foram extraídos de dois satélites, do satélite Terra, com médias mensais e resolução espacial de 4km para o período entre Janeiro de 2001 e Junho de 2002, e do satélite Aqua, também com médias mensais e resolução espacial de 4km para o período entre Julho de 2002 e Dezembro de 2010. Figura 2. Identificação da ferramenta utilizada no estudo dentro do ArcToolbox do ArcGis 10.1. 12 Os dados de precipitação, temperatura mínima e máxima do ar, umidade, vento médio e vento máximo foram obtidos através dos boletins meteorológicos mensais obtidos no Laboratório de Climatologia da UNIVALI (Araújo, 2013). Os dados de nível do rio, descarga e média de material em suspensão foram obtidos no Laboratório de Oceanografia Física (UNIVALI). Todas estas variáveis foram utilizadas como médias mensais, uma vez que não existiam dados diários para a maior parte das mesmas. Análise das ações antrópicas Foi avaliada a presença da draga e de outras embarcações. Estas foram divididas em seis categorias, de acordo com suas características gerais (tamanho, velocidade, de trânsito na área, tipo de motor, tipo de casco): Draga Navio Rebocador Embarcação de pesca grande (cerco, emalhe e espinhel) Embarcação de pesca pequena (baleeira, arrasto e arrasto pequeno) Lancha. Análises estatísticas Os dados de ocorrência de animais e de embarcações coletados previamente (2001 a 2010) foram revisados para ser feita a inserção de variáveis ambientais e a recodificação para uso no presente estudo (classificação dos tipos de barcos e identificação de períodos com e sem ações humanas). Para permitir a análise com as variáveis ambientais que possuíam apenas valores mensais, foram gerados valores mensais (médias, somatórios, desvios padrão) destes dados. Além desses valores, também foram gerados valores da frequência de ocorrência dos botos e do tamanho de grupo médio por ano. Para analisar o uso da área estudada pelos botos, foi feita a taxa de avistagem dos animais, que foi obtida através da análise do tempo onde houve a presença dos animais dividida pelo tempo total de esforço amostral. Também foi analisado se existia variação entre anos do tempo em que os animais permaneceram na área. Para verificar a variação da ocorrência dos botos, analisou13 se: a presença em cada dia, abundância e tempo total em que os animais estiveram presentes por dia. Foi feita a correlação das variáveis ambientais (temperatura da água, clorofila, descarga, velocidades máxima e média do vento), maré e fase da lua com a frequência e abundância dos botos, além da correlação com as diferentes categorias de embarcações. Além disso, foram feitas duas análises utilizando a análise de componentes principais (PCA): uma para os dez anos de estudo, e de uma segunda maneira, dividindo os dados em antes (até 2006) e depois (2007 a 2010) da reforma do molhe de Itajaí. Além desse método, foi seguida a metodologia utilizada por Pirotta et al. (2013) que utilizaram um Modelo Linear Generalizado (GLM) para identificar quais variáveis tem maior influência na ocorrência. Foi feito também um teste não paramétrico de variância múltipla (KruskalWallis) para identificar se existe diferença significativa na frequência e abundância entre horas com e sem ação humana, além de analisar a diferença entre as categorias e quantidade de barcos presentes por hora. Para este teste a quantidade de barcos por hora foi dividida em categorias para permitir uma categorização da intensidade do tráfego na área (Tabela 2). Tabela 2. Classes de presença de embarcações por hora, utilizadas na análise nãoparamétrica. O número indica a passagem de embarcações no ponto de observação dentro de um intervalo de 5 minutos . Classe Draga Navio Pesca Lancha Rebocador 0 0 0 0 0 0 1 1-12 1 1-5 1-2 1 2 13-24 2 6-10 3-4 2 3 25-36 3 11-15 >4 >3 4 37-48 >4 >15 5 >48 14 Resultados O estuário do Rio Itajaí-Açu apresenta uma clara variação sazonal nos parâmetros ambientais (Tabela 3), uma vez que está localizado em uma área onde as estações do ano são bem estabelecidas. Apesar disso, algumas variáveis apresentam maior sazonalidade do que outras, como a temperatura da água (Figura 3) que apresentou diferença de 12oC entre o valor mais baixo (inverno) e o mais alto (verão). A velocidade média do vento possui variação sazonal similar a da temperatura da água (Figura 4), mas com a velocidade mais baixa no verão e mais alta na primavera. A clorofila também exibe variação sazonal (Figura 5), apesar de não tão clara quanto à temperatura da água, com o maior e menor valor na primavera. Por outro lado, não se observou nenhum padrão sazonal claro para velocidade máxima do vento (Figura 6), descarga do rio (Figura 7) e média do material em suspensão (Figura 8). Tabela 3. Valores sazonais mínimos, máximos e médios das variáveis ambientais na foz do Rio Itajaí-Açu. Temperatura água (oC) Clorofila (g.l-1) Velocidade média do vento (km.h-1) Velocidade máxima do vento (km.h-1) Descarga do rio (m3.s-1) Material em suspensão (mg.l-1) mínima média máxima mínima média máxima mínima média máxima mínima média máxima mínima média máxima mínima média máxima verão outono inverno primavera 25,66 18,84 16,68 20,82 27,35 22,90 19,53 23,74 28,99 26,52 20,78 27,51 0,64 2,31 2,38 0,52 6,99 4,58 5,27 6,05 15,02 9,78 12,39 17,28 2,60 2,80 3,20 3,10 4,66 3,85 3,96 4,74 5,70 4,90 5,40 5,80 37,00 32,20 35,40 38,60 48,00 43,17 45,01 46,61 78,90 56,30 64,40 61,20 68,50 39,15 32,55 137,31 209,93 184,94 223,74 357,00 547,22 475,44 839,87 935,56 4,69 8,06 9,57 12,55 51,81 36,28 44,42 99,93 125,25 108,38 118,83 690,15 15 Figura 3. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. Figura 4. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. 16 Figura 5. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. Figura 6. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. 17 Figura 7. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. Figura 8. Variabilidade mensal da média da temperatura da água e do percentual de tempo de ocorrência dos botos, relativo ao esforço de avistagem no mês, durante os anos de 2001 a 2010. 18 Durante o período de 2001 a 2010 houve um esforço amostral de 643 dias, com um total de 1945,58 horas, sendo 548,5 horas com a presença dos animais, o que resulta em uma taxa de avistagem de 28,19%. Separando os dados por ano, vemos que o esforço amostral não foi homogêneo durante o período de estudo (Tabela 4), havendo maiores esforços nos anos de 2002 e 2003. Entretanto é possível se eliminar parte desta variação no esforço amostral ao se avaliar a ocorrência como o percentual do tempo do esforço com presença dos animais na área. Deste modo pode-se observar que houve variação na frequência dos botos ao longo dos anos, com uma aparente queda no percentual de ocorrência ao longo dos anos (Figura 9). Tabela 4. Quantidade de dias e horas de esforço por ano. Quantidade de horas, porcentagem de dias com ocorrência e porcentagem de horas com ocorrência dos botos na área. Dias de esforço 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 27 104 109 73 61 53 61 38 53 64 Horas de esforço 115,17 405,92 341,92 191,08 143,92 123,33 220,42 91,17 146,83 165,83 Dias com ocorrência dos botos 11 77 89 26 33 11 24 19 33 4 Horas com ocorrência de botos 18,58 173,92 163,50 40,50 33,58 13,17 43,17 25,83 32,50 3,83 % de ocorrência (dias) 40,7 74,0 81,7 35,6 54,1 20,8 39,9 50,0 62,3 6,3 % de ocorrência (horas) 16,13 42,85 47,81 21,19 23,33 10,67 19,58 28,33 22,13 2,31 19 Figura 9. Esforço amostral e frequência média anual de ocorrência dos botos ao longo dos anos, em dias e horas. Os círculos indicam os anos que houve dragagem de aprofundamento no canal do Rio Itajaí-Açu. A média do tamanho de grupo não apresentou um padrão claro, tendo uma grande variação ao longo dos anos (Figura 10). Para verificar se houve diferença estatística no tamanho de grupo, foi feito o teste de Krukal-Wallis. Há diferença estatística entre todos os anos de estudo quanto ao tamanho de grupo dos botos (Tabela 5). 20 9 8 7 Tamanho de grupo 6 5 4 3 2 1 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 ano Figura 10. Média e desvio padrão do tamanho de grupo de Tursiops truncatus na foz do Rio Itajaí-Açu durante os anos de 2001 a 2010. 21 Tabela 5. Resultado do teste de Kruskal-Wallis para diferença entre o tamanho de grupo durante os anos de estudo. Em negrito os valores que tiveram diferença significativa. 2001 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0,000000 0,000000 0,000000 0,000045 0,000001 0,002964 0,000000 0,000000 0,021349 2002 0,000000 0,000041 0,000000 1,000000 0,000000 0,005172 0,000000 1,000000 2003 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000031 0,037464 0,000038 2004 0,000000 0,000081 0,000000 1,000000 0,000000 0,210769 2005 1,000000 1,000000 0,000000 0,000000 1,000000 2006 0,264467 0,000612 0,000000 1,000000 2007 0,000000 0,000000 1,000000 2008 0,000000 0,327020 2009 2010 0,000000 22 Ao se analisar a correlação entre a fase da lua e a abundância e frequência diária dos animais, não foi observada uma correlação para os valores registrados na área (p=0,285; Tabela 6). Por outro lado, os níveis de maré apresentaram correlação positiva com a frequência dos animais (p=0,000), e também com a abundância dos botos (p=0,025) (Tabela 6). Quando analisadas as variáveis ambientais com a abundância dos botos na área (Tabela 7), pode-se observar correlação significativa com a temperatura média da água (p=0,028) e correlação negativa com a velocidade média do vento (p=0,003). Utilizando a frequência dos botos (Tabela 8), pode-se observar correlação significativa positiva com a temperatura media da água (p=0,010), além de correlação negativa com a velocidade média do vento (p=0,007). Correlacionando a abundância dos botos na área com a presença dos diferentes tipos de embarcação (Tabela 9), obteve-se correlação negativa com a draga (p= 0,026), navio (p= 0,002), lancha (p= 0,011) e rebocador (p= 0,00). Este padrão se manteve utilizando a frequência dos animais (Tabela 9) obteve-se correlação negativa também com a draga (p= 0,00), navio (p= 0,01), lancha (p= 0,08) e rebocador (p= 0,00). Obteve-se uma correlação positiva com a presença de embarcações de pesca pequenas (p= 0,001). Tabela 6. Correlação entre abundância e frequência dos botos com níveis de maré e fases da lua. Valores em negrito possuem correlação significativa. Maré Lua Frequência dos botos 0,0639 p=0,000 0,0721 p=0,068 Abundância dos botos 0,0146 p=0,025 0,0384 p=0,331 23 Tabela 7. Correlação entre a abundância dos botos e variáveis ambientais. Valores significativos (p<0,05) estão em negrito. Clorofila Temperatura Média Água Velocidade Média Vento Velocidade Máxima Vento Descarga do Rio Material em Suspensão Abundância Clorofila -0,0628 p=0,570 0,2398 p=0,028 -0,3211 p=0,003 0,1343 p=0,223 -0,0949 p=0,391 -0,0751 p=0,497 0,1871 p=0,088 0,1355 p=0,219 -0,1083 p=0,327 -0,0159 p=0,886 -0,1127 p=0,307 Temperatura Média Água Velocidade Média Vento Velocidade Máxima Vento Descarga do Rio 0,2647 p=0,015 0,1167 p=0,290 -0,1304 p=0,237 0,1029 p=0,352 0,1909 p=0,082 0,1264 p=0,252 0,1631 p=0,138 0,0104 p=0,925 0,0466 p=0,674 0,2761 p=0,011 24 Tabela 8. Correlação entre a frequência dos botos e variáveis ambientais. Em negrito estão os valores em que p<0,05. Clorofila Temperatura Média Água Velocidade Média Vento Velocidade Máxima Vento Descarga do Rio Material em Suspensão Frequência Clorofila 0,1036 p=0,348 0,2781 p=0,010 -0,2931 p=0,007 0,0102 p=0,926 -0,0008 p=0,994 -0,0357 p=0,747 0,1871 p=0,088 0,1355 p=0,219 -0,1083 p=0,327 -0,0159 p=0,886 -0,1127 p=0,307 Temperatura Média Água Velocidade Média Vento Velocidade Máxima Vento Descarga do Rio 0,2647 p=0,015 0,1167 p=0,290 -0,1304 p=0,237 0,1029 p=0,352 0,1909 p=0,082 0,1264 p=0,252 0,1631 P=0,138 0,0104 p=0,925 0,0466 p=0,674 0,2761 p=0,011 25 Tabela 9. Correlação entre abundância e frequência dos botos e ocorrência das diferentes categorias de embarcações. Valores em negrito são significativos (p<0,05). Abundância Frequência Navio Dragagem 0,000 0,003 0,000 0,005 Pesca grande 0,0421 0,951 Pesca pequeno 0,063 0,001 Lancha Rebocador 0,011 0,008 0,000 0,000 Os resultados da análise de componentes principais (PCA) mostraram que, utilizando todos os anos de estudo, tanto a frequência de ocorrência quanto a abundância dos botos ficaram no mesmo quadrante que as embarcações, temperatura da água e velocidade máxima do vento indicando que estas tem correlação positiva com as variáveis (Figura 11). Quando analisados de forma separada, para o período até o ano de 2006 (anterior à remodelação nos molhes do Rio Itajaí-Açu) os padrões tanto para frequência de ocorrência quanto para abundância dos animais se mantiveram parecidos se comparados à análise gerada para todos os anos de estudo (Figura 12). Porém, para o período após 2006, foi observada que as variáveis relacionadas aos animais ficaram em quadrantes opostos, sendo a abundância no mesmo lado das variáveis ambientais e a frequência próxima aos tipos de embarcações. (Figura 13). 26 1,0 precipitacao descarga media ms 0,5 Factor 2 : 15,44% rebocador ventomax tempagua Dragagem Navio lancha pescapequena 0,0 ventomedia *frequencia *numind_sem0 pescagrande clorofila -0,5 -1,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Factor 1 : 35,06% Figura 11. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. 27 1,0 precipitacao descarga media ms 0,5 ventomedia rebocador Factor 2 : 15,14% tempagua Dragagem Navio lancha 0,0 ventomax *numind_sem0 pescapequena *frequencia clorofila pescagrande -0,5 -1,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Factor 1 : 34,92% Figura 12. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. Dados até o ano de 2006. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. 28 1,0 lancha media msventomedia descarga rebocador Navio 0,5 Factor 2 : 23,06% precipitacao 0,0 *frequencia Dragagem pescagrande pescapequena *numind_sem0 clorofila ventomax tempagua -0,5 -1,0 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Factor 1 : 35,36% Figura 13. Resultado da PCA entre frequência e abundância dos botos com os tipos de embarcações e variáveis ambientais. Dados de 2007 a 2013. As linhas em vermelho representam a frequência e abundância dos botos. Frequência- média mensal da frequência de ocorrência dos botos, numind_sem0- média mensal da abundância dos botos. Todas as variáveis ambientais são médias mensais. Todas as variáveis antrópicas são médias mensais da presença das embarcações na área. 29 Os resultados da análise do GLM permitiram observar que de todos os modelos rodados (Tabela 10) o último modelo, que possui além do tamanho de grupo dos botos, a temperatura mínima do ar e a velocidade média do vento possuía o menor valor de AIC, tendo, portanto o melhor ajuste. Com a utilização deste modelo obteve-se como resposta uma significância positiva da temperatura do ar com a abundância dos botos e uma significância negativa da velocidade média do vento com os botos (Tabela 11). Tabela 10. Modelos rodados na análise do GLM. som.indiv: abundância dos botos; tempminar: temperatura mínima do ar; ventomedia: velocidade média do vento. Modelo AIC som.indiv ~ offset(log(esf.amostral)) + clorofila + precipitacao + tempminar + 967,8 umidade + ventomedia + descarga som.indiv ~ precipitacao+ tempminar + umidade + ventomedia + descarga + 966,77 offset(log(esfamostral)) som.indiv~precipitacao+tempminar+ventomedia+descarga+offset(log(esfamostral)) 965,54 som.indiv ~ precipitacao + tempminar + ventomedia + offset(log(esf.amostral)) 964,88 som.indiv ~ tempminar + ventomedia + offset(log(esf.amostral)) 963,32 Tabela 11. Valores da análise do GLM. Os valores de 1Q e 3Q representam o sumário estatístico da distribuição dos resíduos. O esforço amostral (esf.amostral) foi utilizado como variável de padronização da variável resposta. Pr é a probabilidade p para o teste em questão. Call glm.nb(formula = som.indiv ~ tempminar + ventomedia + offset(log(esf.amostral)), data = temp, control = glm.control(maxit = 100), init.theta = 0.4749756654, link = log) Variância dos Resíduos Mínimo 1Q Média 3Q Máximo -2,3246 -1,1896 -0,1633 0,2431 2,4815 Coeficiente Interceção tempminar ventomedia Estimativa 0,31028 0,13828 -0,57047 Erro Padrão 0,93963 0,03673 0,22889 valor z 0,33 3,764 -2,492 Pr 0,741238 0,000167 0,012689 30 O resultado da ANOVA não paramétrica (Kruskal-Wallis) entre a abundância e a frequência dos botos e a quantidade de vezes que a draga passa por hora (categorias de presença da draga) não apresentou diferença significativa (Tabela 12). Para as categorias de navio houve diferença significativa da categoria 0 com as categorias 1, 2 e 3 em relação a abundância dos botos e para a frequência dos animais foi observada diferença significativa entre a categoria 0 e todas as outras categorias (Tabela 13). Os resultados das análises de Kruskal-Wallis também mostraram diferença significativa entre a categoria 0 e todas as outras categorias de barco de pesca grande (Tabela 14), lancha (Tabela 15) e rebocador (Tabela 16) tanto para a abundância quanto para a frequência dos botos. Para as fases da lua não foram observadas diferenças significativas tanto para a abundância quanto para a frequência de T. truncatus (Tabela 17). Tabela 12. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença da draga. Valores com p<0,05 estão em negrito. 0 0 ≤12 ≤24 ≤36 ≤48 >48 1,000000 1,000000 1,000000 0,228757 0,656709 ≤12 ≤24 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 0,073823 0,081405 0,217237 0,1834 ≤36 ≤48 >48 1,000000 0,653222 1,000000 1,000000 0,144146 1,000000 1,000000 0,262069 1,000000 1,000000 1,000000 0,810978 1,000000 1,000000 1,000000 Tabela 13. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de navios. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categoria ≤1- um navio por hora, categoria ≤2- dois navios por hora, categoria ≤3- três navios por hora, categoria>4- mais do que quatro navios por hora. ≤ 0 ≤1 ≤2 ≤3 >4 0 0,000000 0,000000 0,000778 0,011523 ≤1 0,000000 1,000000 1,000000 1,000000 ≤2 0,000000 1,000000 1,000000 1,000000 ≤3 0,003010 0,607492 1,000000 1,000000 >4 0,170568 0,233196 0,881790 1,000000 31 Tabela 14. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de barco de pesca grande. Em negrito estão os valores em que p<0,05. Categorias: ≤5- até cinco barcos por hora, ≤10- de seis a dez barcos por hora, ≤15- de onze a quinze barcos por hora, >15- acima de quinze barcos por hora. 0 0 ≤5 ≤10 ≤15 >15 0,000000 0,000108 0,011331 0,033812 ≤5 ≤10 ≤15 >15 0,000000 0,000007 0,001284 0,001994 1,000000 0,897575 1,000000 0,951570 1,000000 1,000000 0,423462 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 Tabela 15. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de lanchas. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categorias: ≤2- até duas lanchas por hora, ≤4- de três a quatro lanchas por hora, >4- mais que cinco lanchas por hora. 0 0 ≤2 ≤4 >4 0,000000 0,000054 0,000024 ≤2 ≤4 >4 0,000000 0,000023 0,009908 0,000001 1,000000 0,644267 0,007341 1,000000 1,000000 Tabela 16. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de presença de rebocador. Valores com p<0,05 estão em negrito. Valores acima da diagonal são para a frequência e abaixo para a abundância. Categorias: ≤1- um rebocador por hora, ≤2- dois rebocadores por hora, >3- mais que três rebocadores por hora. 0 0 ≤1 ≤2 >3 0,000000 0,000001 0,000051 ≤1 ≤2 >3 0,000000 0,000000 1,000000 0,000001 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 32 Tabela 17. Resultados do teste de Kruskal-Wallis para frequência (acima da diagonal) e abundância (abaixo da diagonal) dos botos entre categorias de fases da lua. Valores com p<0,05 estão em negrito. Categorias: ≤0,25- valores diários de exposição da lua menores de 0,25; ≤0,50valores diários entre 0,26 e 0,50; ≤0,75- valores diários entre 0,51 e 0,75; ≤1- valores diários entre 0,76 e 1. 0 0 ≤0,25 ≤0,50 ≤0,75 ≤1 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 ≤0,25 ≤0,50 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 ≤0,75 ≤1 1,000000 1,000000 1,000000 0,824644 1,000000 1,000000 1,000000 1,000000 33 Discussão Os resultados obtidos sugerem que das variáveis ambientais utilizadas somente maré e temperatura da água apresentaram correlação positiva significativa com a frequência ou com a abundância dos botos na área, enquanto a velocidade média do vento apresentou correlação negativa significativa. Já quando relacionadas às ações antrópicas, obteve-se correlação negativa significativa para a frequência e abundância dos animais com alguns tipos de embarcação (draga, navio, lancha e rebocador), além de uma inesperada correlação positiva com a presença de embarcações de pesca pequenas. Tanto a abundância quanto a frequência dos botos tiveram correlação positiva com a temperatura da água no estuário do Rio Itajaí-Açu. Os resultados sugerem que os animais tendem a não estar presentes na área quando as temperaturas estão mais baixas. Isto é observado ao longo dos diferentes anos de estudo, onde durante os meses mais frios do ano temos uma diminuição da ocorrência dos botos. Em Galveston Bay, EUA, também foi observada uma correlação entre a temperatura da água e a presença dos botos. Naquele local os resultados indicaram que condições com águas mais quentes são mais favoráveis para a maior quantidade de animais (Moreno, 2005). Outro estudo na Virginia, EUA, também observou correlação entre a temperatura da água e a presença de Tursiops truncatus. Os animais tendiam a se afastar da baia e áreas costeiras quando a temperatura da água ficava abaixo de 16oC, e os autores sugerem que poderia afetar os animais diretamente como uma barreira termal (Barco et al., 1999). Em New Jersey, EUA, foi observado que existe uma correlação entre a temperatura da água e a chegada e partida de Tursiops truncatus sugerindo que isto seja uma possível causa para a migração dos animais da região. Entretanto esta ausência dos animais em baixas temperaturas não deve ser uma limitação fisiológica, uma vez que esta espécie pode habitar locais com temperaturas mínimas variando entre 9oC e 10oC (Toth et al., 2011). Sykes (2002) observou que a temperatura da água não possui uma correlação com a presença de Tursiops truncatus em Dorset Coast, Inglaterra, talvez porque a temperatura não tenha influência isolada, mas somente quando avaliada no contexto das demais variáveis ambientais. A temperatura é conhecida por afetar a movimentação dos cetáceos, podendo afetar sua zona termoneutra que é a faixa de temperatura em que o organismo do animal gasta pouca ou nenhuma energia para manter sua temperatura 34 corporal. Isso não ocorre em outras áreas como na Baia de Sarasota, onde os botos são adaptados a viverem em águas com temperaturas abaixo de 10oC (Wells, 1986) e também com os botos que habitam a Baia de Monterey, com temperaturas da água variando entre 10oC e 18oC (Wells et al.,1990). Estas diferenças de tolerância de temperatura talvez possam ser explicadas pela disponibilidade de presas no local, já que na Baia de Sarasota há disponibilidade de presas ao longo de todo o ano (Irvine et al., 1981). Outra possibilidade é que a temperatura da água afete diretamente as presas, e estas afetem a presença dos botos. Um estudo feito anteriormente levantou o hábito alimentar de Tursiops truncatus nos estados do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Neste levantamento foram encontrados 13 trabalhos para esta espécie, identificando 28 diferentes espécies de peixe como parte da dieta, sendo que destas somente 12 são encontradas no Rio Itajaí-Açu (Vieira, 2011). Como o Rio Itajaí-Açu é uma área utilizada pelos botos preferencialmente para a alimentação, pode ocorrer que a variação da temperatura da água cause uma variação sazonal na disponibilidade de algumas destas presas, afetando indiretamente a frequência dos botos na área estudada. Poucos estudos apresentam a relação entre a velocidade do vento e a presença ou ausência de mamíferos marinhos, isso porque é difícil de imaginar qual a real influência dessa variável sobre estes animais, uma vez que grande parte destes vive sua vida inteira embaixo da água. Neste estudo foi observada uma correlação negativa entre a velocidade média do vento e a frequência e abundância dos botos na foz do Rio ItajaíAçu. Uma possível explicação para isso pode ser um efeito na amostragem e não na biologia dos animais. A piora no estado do mar está diretamente relacionada à velocidade do vento, dificultando a avistagem dos botos, o que pode gerar um falso negativo no dia. Neste caso seria anotado na planilha como um dia sem presença dos animais e na verdade eles estavam lá, porém as condições do mar estavam ruins e dificultaram a avistagem destes. Por outro lado, é possível que haja um motivo real para a menor presença dos animais, caso o vento reduza a utilidade da área para estes. Uma das fontes de ruído na banda de média frequência é a agitação superficial do mar, que está diretamente correlacionada com a velocidade do vento. Em um estado de mar agitado estes ruídos podem dificultar tanto a comunicação entre mamíferos marinhos quanto a percepção do ambiente em sua volta (Hildebrand, 2009). 35 No estuário do Rio Itajaí-Açu foi observado que os níveis de maré têm correlação positiva com a frequência dos botos, porém não com o tamanho de grupo. Outros estudos apresentaram resultado similar, como em Moray Firth, Escócia, onde Tursiops truncatus foi significativamente mais abundante durante as marés de enchente. Os autores não sabem ao certo o porquê dessa relação, mas sugerem que a maré deve influenciar na distribuição e comportamento das presas dos botos (Mendes et al., 2002). Gregory & Rowden (2001) observaram uma diferença na abundância de Tursiops truncatus em relação aos diferentes níveis de maré. Além da diferença na abundância, eles observaram que os animais tendem a forragear mais durante a maré cheia e se deslocar durante a maré vazante. Os autores sugerem que o motivo pelo qual os botos apresentam maior quantidade de comportamento de deslocamento é o fato de que esta estratégia ajudaria a diminuir o gasto energético desta atividade. Além disso, os animais também podem estar respondendo a uma variação na disponibilidade de presas de acordo com essa variação da maré, já que alguns peixes tendem a seguir a variação de maré a procura de alimento. Em Aransas Pass, Texas, os níveis de maré e hora do dia tem influência na movimentação de Tursiops truncatus em algumas partes da área de estudo (Shane, 1980). Essa influência foi explicada pela autora por dois possíveis motivos: como um método de alimentação, uma vez que os botos tendem a capturar suas presas mais facilmente quando os peixes estão sendo carregados pelas correntes; ou se manter parado contra as correntes fortes para descansar (Shane, 1980). Para a foz do Rio Itajaí-Açu os resultados obtidos mostram que existe correlação entre a frequência dos botos e a maré. Uma possível explicação para essa correlação seria a mesma sugerida pelos autores acima. Como o local de estudo é utilizado pelos botos como área de alimentação, uma variação da disponibilidade das presas relacionada às variações da maré, deve causar as oscilações na frequência dos botos. Assim como as variáveis ambientais, o tráfego de embarcações tem grande importância na ocorrência dos botos na região. Neste estuário estão situados dois portos de grande importância econômica e o tráfego de embarcações ali é constante. Entre os diversos tipos de embarcações que passam na área, dragas, navios, lanchas e rebocadores tiveram correlação negativa com a frequência e abundância dos botos, o que indica que os animais tendem a evitar o local quando essas perturbações ultrapassam os limites toleráveis. Diversos estudos identificaram os mesmos resultados, 36 como La Manna et al. (2010) que observaram que os indivíduos T. truncatus mudaram seu comportamento durante a passagem de alguma embarcação, mas dificilmente deixaram a área utilizada para alimentação, mostrando alguma tolerância a este tipo de distúrbio. Bejder et al. (2006) observaram uma diminuição na abundância de T. truncatus em períodos em que o movimento de barcos na região aumentou, indicando que os ruídos gerados embaixo d’água podem ser uma fonte de distúrbio, já que podem afetar a comunicação, orientação e a detecção de presas. Na Ilha de Lampedusa, Itália, T. truncatus mostrou ter certa tolerância à presença de embarcações. Sem a presença de embarcações, o tempo médio de vocalização foi de 12 minutos, já com a presença dos barcos, essa média reduziu para menos de 50% e para menos de 16% quando esse distúrbio foi contínuo. Uma explicação para essa diminuição na média é que os animais param de vocalizar ao invés de deixar a área durante a perturbação, porém somente em 1,8% dos casos os animais voltaram a vocalizar após o distúrbio, o que mostra que os botos deixam a área se a perturbação causada pelo tráfego de embarcações se tornar demais para ser tolerada (La Manna et al., 2013). Os autores ainda sugerem que as respostas aos distúrbios são diferentes de acordo com o tipo de embarcação: os botos tendem a ser menos tolerantes à presença de barcos recreacionais a motor, se comparado aos barcos utilizados para pesca. Um motivo para isso é que o ruído gerado pelos barcos motorizados aparenta ser mais variável, dependendo da velocidade e direção. Na população de T. truncatus monitorada próxima do porto de Aberdeen, Escócia, não foi possível identificar se a presença de embarcações afeta de forma positiva ou negativa os botos por causa dos diferentes tipos de reações (Sini et al., 2005). Em determinados momentos os animais no porto de Aberdeen mostraram comportamentos considerados positivos a alguns tipos de embarcações, principalmente as de grande porte, por outro lado comportamentos considerados negativos foram observados durante o tráfego de embarcações de pequeno e médio porte. Esta diferença com relação ao tipo de embarcação também foi observada na foz do Rio Itajaí-Açu, uma vez que houve uma correlação positiva entre a frequência dos botos e a embarcação do tipo pesca pequena. Uma possível explicação para esta relação positiva pode ser o tipo de atividade desta embarcação. Como o local é utilizado pelos botos principalmente para a pesca, esta correlação pode ser explicada por uma possível interação entre os animais e os barcos, facilitando assim o sucesso desta atividade. 37 Apesar de não ter sido registrada nenhuma interação direta dos botos com as embarcações na área de estudo, esta já foi observada na Ilha de Lampedusa. Neste local, aparentemente a tolerância ao distúrbio ocorre porque o benefício de continuar naquela área era maior do que o distúrbio, já que a presença de barcos de pesca fornecem maiores oportunidades de alimentação ou ainda tornam o forrageamento mais eficiente (La Manna et al., 2013). Em Moreton Bay, Australia, existe uma população de T. truncatus conhecida por sua interação com barcos de pesca durante a alimentação (Chilvers et al., 2003). Wassenberg & Hill (1990) sugerem que este comportamento ocorre porque um barco de pesca em Moreton Bay é capaz de alimentar até cinco botos somente com o descarte gerado através desta atividade, o que faz com que todos os botos desta população possam ser alimentados através dos descartes gerados por todos os barcos, mas para que isso aconteça os botos tem que acompanhar a movimentação das embarcações por longos períodos. Outros autores ainda reportam que a presença de barcos de pesca influencia na estratégia de forrageamento dos botos, que tendem a seguir as embarcações provavelmente porque estas reviram o fundo marinho, facilitando a captura destes organismos ou ainda se alimentando daqueles que passam através das redes (Pace et al., 1998). Durante o ano de 2006, foram realizadas obras no molhe de Itajaí para manutenção da estrutura, sendo também feita uma dragagem de aprofundamento para aumentar o calado do canal para 12 metros. Neste período, foi observada uma queda na frequência de ocorrência dos botos na área. A fim de entender essa variação na ocorrência dos animais, a análise de componentes principais foi feita para dois períodos distintos: até 2006 e após 2006. A ideia desta separação foi ver se esse período de obras teve influência nos padrões de uso dos botos da área e se depois destes distúrbios os animais mudaram sua tolerância a estas perturbações. O que se pode perceber é que neste período após obras nos molhes, a tolerância dos animais aos distúrbios gerados pelo tráfego de embarcações tornou-se menor, fazendo com que estes respondam de forma mais rápida a estas perturbações do que se comparado ao período anterior às obras. Além desta obra, no ano de 2006 foram feitas dragagens de aprofundamento para aumentar o calado da desembocadura do Rio Itajaí-Açu de 10 metros para 12 metros, o que provavelmente repercute em impactos ambientais com efeitos diretos e indiretos 38 sobre habitats e organismos. As dragagens são grandes geradoras de ruídos contínuos em regiões costeiras, normalmente em baixa frequência, porém constantes dentro de uma área por diversos dias. No estuário do Sado notou-se uma diminuição na área utilizada por T. truncatus durante atividades de dragagens (Luis, 2008). Estudos feitos no Porto de Aberdeen mostraram que durante a primeira fase de operação da draga, considerada pelo autor como a de maior intensidade, a população de T. truncatus deixou a área, só reaparecendo no final da operação de dragagem, quando a intensidade da atividade era relativamente menor (Pirotta et al., 2013). Ainda segundo o autor, esse comportamento de evitar a área durante período de elevados ruídos também foi observado em outras ocasiões, quando o canal teve que ser dragado para manter seu calado. Este comportamento dos animais observado em outros portos coincide com o observado no Rio Itajaí-Açu. Em anos que foram realizadas dragagens para o aprofundamento do canal de acesso do rio, os animais deixaram a área, retornando somente quando estas atividades já tinham sido encerradas. Apesar de habitarem um local altamente antropizado, os botos parecem evitar a área durante períodos de dragagem de aprofundamento. Levando em consideração que as embarcações sempre estiveram presentes neste local, é de se esperar que os animais tenham desenvolvido maior tolerância aos ruídos gerados por estas. A alta disponibilidade de presas no local pode ser o motivo pelo qual os animais tolerem distúrbios gerados por estas atividades. Enquanto o tráfego de embarcações é limitado e, portanto previsível, o ruído gerado pela draga é descontinuo e susceptível a causar uma resposta análoga para um risco de predação (Pirotta et al., 2013). O fato de o distúrbio ser irregular também pode explicar a ausência de mudanças na tolerância dos animais ao longo dos anos. Além disso, a alta quantidade de materiais em suspensão pode prejudicar a capacidade dos animais em perceber o ambiente além de dificultar a comunicação entre indivíduos. Os botos ainda podem ter que escolher entre a qualidade do alimento disponível, a importância do ambiente utilizado, e o aumento dos níveis de stress e/ou a energia gasta necessária para capturar suas presas enquanto as atividades de dragagem estão sendo executadas. Estas dificuldades podem fazer com que os animais abandonem a área durante períodos em que a atividade de dragagem está causando elevados ruídos, procurando outros lugares em que o forrageamento seja feito com maior eficiência, somente retornando ao 39 local quando os níveis de distúrbio diminuam. Por último, as atividades de dragagem ainda podem causar uma mudança no comportamento das presas dos botos (Pirotta et al., 2013). Considerando esta variabilidade observada, é recomendada a continuação dos estudos com os botos na área, para avaliar como este padrão de comportamento observado se alterará com o tempo. Do mesmo modo, se recomenda analisar se a utilização das variáveis ambientais em uma escala temporal menor causa alguma diferença nos resultados obtidos neste estudo. 40 Conclusão A população de Tursiops truncatus que utiliza o estuário do Rio Itajaí-Açu apresenta padrões de uso da área parecidos a outros locais com características similares. Os botos toleram os distúrbios presentes na área, gerados principalmente pelo trafego de embarcações, até níveis toleráveis. Resultados anteriores mostram que a área é utilizada pelos animais preferencialmente para alimentação, consequentemente fazendo parte de uma área de vida maior. Assim, uma vez que o beneficio da alimentação no local seja menor do que o déficit gerado pelos distúrbios, causando prejuízos aos animais, estes tendem a evitar a área, retornando ao local somente quando os distúrbios e perturbações voltem a ser em níveis toleráveis pelos animais. 41 Referências Bibliográficas Acevedo, A. 1991. Behaviour and movements of bottlenose dolphins, Tursiops truncatus, in the entrance to Ensenada De La Paz, Mexico. Aquatic Mammals. 17(3): 137-147p. Allen, M.C.; Read, A.J. 2000. Habitat selection of foraging bottlenose dolphins in relation to boat density near Clearwater, Florida. Marine Mammal Science. 16(4): 815-824p. Araújo, S. A. 2013. Relatório Climatológico - Sintético mensal - Janeiro a Dezembro. Estação meteorológica automática. Itajaí-SC. Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar. Laboratório de Climatologia. 2013. (Relatório de pesquisa). 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