1886 Crianças em situação de rua: Malabares da exclusão e da exploração infantil X Salão de Iniciação Científica PUCRS Daniel Dall’Igna Ecker1 2, Eduardo Machado Marchioro1 2, Maria Lúcia Andreoli de Moraes1 (orientadora) 1 Faculdade de Psicologia, PUCRS, 2 Alunos da Graduação Resumo Introdução Devido a transformações sócio-econômicas de nosso país, pessoas que não conseguem seguir as regras que determinada parte da sociedade estabelece acabam, na maioria dos casos, privadas de diversos direitos básicos de sobrevivência. De acordo com Vargas (2002) é chocante o fato de que ainda existam meninos e meninas em situação de rua que são excluídos de seus direitos de alimentação, educação, saúde e habitação. Sendo assim, pelo fato de haver uma maior sensibilização diante das crianças, as mesmas são induzidas pelos pais ou levadas a tornarem-se pedintes para que possam adquirir dinheiro. Para Ferreira e Ries (2004), entre os 6 e 11 anos a criança passa pela fase de desenvolvimento chamada latência, onde as vivências concentram-se nas aprendizagens, nas conquistas intelectuais e no desenvolvimento de amizades e grupos. Seria uma época em que as crianças começariam a construir suas opiniões na qual a linguagem serve, não somente para se entender com os mais velhos, mas para a afirmação do eu. Nesta idade elas estarão investindo seus interesses fora da família, criarão uma ênfase em encontrarem seus lugares nos grupos e formarão relacionamentos íntimos (LIDZ, 1983). A escola, neste período de desenvolvimento, tem função primordial de estimular habilidades e conhecimentos nas crianças para que estas possam atuar de forma adulta na sociedade. O objetivo da escola não é, apenas, o de trabalhar com a dimensão cognitiva dos alunos, mas também procura desenvolver uma relação saudável do aluno com seu corpo e com o do outro (ENGUITA,1989). A sala de aula pode desempenhar funções socializantes diferentes daquelas que os pais se preocupam 1887 (LIDZ, 1983) e, de acordo com Ferreira (1979), os processos de socialização reduzem a delinqüência infantil e problemas com a rejeição das normas sociais. Todas estas questões fazem parte deste trabalho e foram muito importantes para pensarmos a realidade das crianças em situação de rua. Metodologia Como metodologia realizamos quatro observações de crianças de 7 a 11 anos (idade, na prática, inferida por nós) que se encontravam em situação de rua em uma sinaleira específica de Porto Alegre. Duas das observações foram realizadas às 12 horas e duas às 19 horas, cada uma em um dia diferente. Utilizamos informações obtidas a partir da pesquisa baseada no método de observação simples que no entender de Gil (1999) possibilita a criação de hipóteses a respeito do problema pesquisado. Foram analisados aspectos referentes ao comportamento das crianças em sinaleiras, tanto frente ao seu grupo, quanto em frente à sociedade. Resultados e Discussões Percebemos, que o comportamento da criança e o modo que ela aborda motoristas e passageiros interferem significadamente na sua relação com os mesmos. O tom de voz, expressão corporal e a forma de se dirigir às pessoas que se encontram dentro dos carros modificam a relação estabelecida. Em nenhuma das observações havia adultos presentes no espaço pesquisado. Acreditamos que as condições em que estas crianças vivem exercem modificações significativas no seu bem estar físico, cognitivo, social e emocional delas. A falta de diálogo e de contato com outras pessoas poderá refletir na atenção da criança, memória, capacidade de criar, lembrarse das coisas e resolver problemas (PAPALIA e OLDS, 2000). Não obtivemos nenhum sinal de que as crianças observadas estariam freqüentando a escola. O único menino que foi visto com mochila não portava nela nenhum material didático a não ser os gravetos usados para os malabares e uma garrafa com liquido que inferimos ser um tipo de droga inalável (por ele estar umidificando o pano e colocando na boca). Em 3 das nossas 4 observações em todo o tempo que permanecemos lá as crianças não tiveram contato umas com as outras. Em 1888 nenhum momento elas foram vistas conversando ou interagindo verbalmente. Não foi visto brigas entre as crianças nem outros conflitos físicos entre o grupo. Conclusões A partir das observações pudemos perceber que é necessária uma movimentação do estado para a realização das leis que já existem, principalmente, as do estatuto da criança, que poderiam garantir o mínimo necessário para as crianças terem acesso a direitos básicos como, por exemplo, saúde e educação. Com o tempo perdido na rua, as habilidades dos menores não são estimuladas como outra criança da mesma idade que neste momento está na escola. Assim, as crianças em situação de rua se chocam com uma realidade extremamente dura que exige delas estratégias, que muitas vezes, as conduzem para um caminho difícil de lidar. Referências ENGUITA, M. F. A face oculta da escola. Porto Alegre; ARTMED, 1989. FERREIRA, R. M. F. Meninos da rua: expectativas e valores de menores marginalizados em São Paulo. São Paulo: IBREX, [1979?]. 172 p. FERREIRA, B. W; RIES, B. E. et al. Psicologia e educação. 2ª. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. v.2 GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. LIDZ, T. A pessoa: seu desenvolvimento durante o ciclo vital. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. 606 p. PAPALIA, D. E; OLDS S. W. Desenvolvimento humano. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 684 p. VARGAS, A. L. S. As sementes da marginalidade: uma análise histórica e bioecológica dos meninos de rua. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 221 p.