1 Pesquisa Envolvendo Seres Humanos: Produção Científica no Âmbito da Saúde no Período de 2005 a 2010 Glauciele Barbosa Pereira Medeiros Adriana Marques Pereira de Melo Alves Zirleide Carlos Félix Eveline de Oliveira Barros Maria Andrea Fernandes RESUMO: O presente artigo versa sobre a ética nas pesquisas envolvendo seres humanos. Para tanto, o mesmo elenca em seu texto os valores imprescindíveis na execução da mesma. Trata-se de uma pesquisa documental, cujo objetivo foi caracterizar a produção científica acerca das pesquisas envolvendo seres humanos em periódicos Online, no período de 2005 a 2010. O descritor utilizado foi "Pesquisa Envolvendo Seres Humanos", na busca eletrônica da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na base de dados Scielo. A amostra foi constituída por 13 artigos. Após o levantamento foi identificado no material empírico que nos anos de 2008 e 2009 ambos obtiveram o maior número de publicações (31 %); no que concerne às modalidades de publicação encontradas, a Revisão de Literatura totalizou (77%); quanto às áreas de atuação dos pesquisadores, observa-se que os profissionais de Medicina foram os que mais apresentaram publicações sobre a temática em estudo (50%). Após o levantamento os enfoques contemplados foram posteriormente divididos e analisados em três categorias distintas: Categoria I, Ética e Legalidade na Pesquisa, Categoria II, Ética Evidenciada no Contexto da Pesquisa; Categoria III, Bioética e a Pesquisa Científica. Contudo destacamos a importância de reforçar e valorizar o respeito ético nas pesquisas que envolvem seres humanos, assegurando e explorando os princípios mencionados anteriormente com a finalidade de promover o bem-estar dos participantes envolvidos nas pesquisas. Unitermos: Pesquisa em seres humanos; Ética; Bioética. INTRODUÇÃO Na sociedade atual ouve-se muito falar em ética, principalmente no âmbito da saúde onde as pesquisas que envolvem seres humanos estão em evidência e vêm se destacando por explorarem e apreciarem o sujeito humano que é estudado desde sua essência até a sua forma holística. A palavra "ética" vem do vocábulo grego ethos, que para os antigos significava a "morada" dos homens. A ética, nesses termos, constitui a morada interior, postura ou posicionamento ao qual assumo ao me relacionar com aquele que vem de "fora", ou melhor, com o outro1. 2 Tal peculiaridade remete intrinsecamente que a ética é uma bússola social orientadora do comportamento humano, cuja totalidade do sentido deve determinar a harmonia das pessoas que vivem em sociedade. A questão da ética na pesquisa teve início ao final da Segunda Guerra Mundial com a criação de um documento de caráter internacional com conteúdo voltado para as pesquisas em que envolve os seres humanos. O Código de Nuremberg, datado de 1947, foi preparado para julgar os crimes contra a humanidade cometidos em pesquisas médicas2. O Código de Nuremberg foi o primeiro documento internacional no campo da pesquisa biomédica, na perspectiva humanitária, como consequência do julgamento de médicos que tinham realizado experiências desumanas em prisioneiros, sem o consentimento informado, durante a II Guerra Mundial3. Ainda no contexto internacional existiram documentos e acontecimentos relevantes que defenderam as pesquisas envolvendo seres humanos e enfatizaram a ética. A Declaração de Helsinque (1964) representou um conjunto de princípios éticos e é considerada a principal ferramenta para avaliar a moralidade das pesquisas com seres humanos4. Com o aumento das denúncias sobre infrações éticas nas pesquisas envolvendo seres humanos, que evidenciava uma baixa adesão ao Código de Nuremberg por parte dos pesquisadores, houve uma repercussão negativa acerca da credibilidade dos médicos-pesquisadores junto à sociedade, havendo, portanto, a necessidade de uma nova orientação nesse campo. A categoria médica se mobilizou frente às acusações e, no ano de 1964, a Associação Médica Mundial (AMM) elaborou e publicou a Declaração de Helsinque, importante referência ética para a regulamentação de pesquisas que incluíam participantes humanos. O documento foi inicialmente dirigido à classe médica, mas foi absorvido por todas as categorias profissionais pelas estratégias que apontava para assegurar o bem-estar dos participantes e definir que os interesses da ciência e da sociedade não devem ter precedência aos dos potenciais sujeitos da pesquisa. O Relatório de Belmont, (1978) apresentava princípios éticos e diretrizes voltados para a proteção dos sujeitos humanos na pesquisa, foi instituído no ano de 1978 pela Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos de Pesquisas Biomédicas e Comportamentais nos Estados Unidos, seu conteúdo foi composto por documentos já existentes como o Código de Nuremberg e a Declaração de 3 Helsinque. Sua principal tarefa deu-se para assegurar que a pesquisa envolvendo seres humanos fosse conduzida com princípios éticos e para não permitir que o equilíbrio entre os direitos individuais e o progresso científico fosse determinado unicamente pela comunidade científica. Tais princípios são: respeito pelas pessoas, beneficência e justiça. Estes princípios são universais, transcendendo barreiras geográficas, culturais, econômicas, legais e políticas3. Na maioria dos países democráticos contemporâneos existe uma percepção, cada vez mais aceita socialmente, segundo a qual, toda pesquisa conduzida em qualquer área de conhecimento e que envolva seres humanos como objetos de investigação devam ser necessariamente revisados, em seus aspectos científicos e éticos por uma instância que tenha competência adequada e reconhecida em âmbito epistemológico, metodológico e ético na sociedade como um todo4. No Brasil, a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (RESOLUÇÃO 01/88), aprova e normatiza as pesquisas envolvendo seres humanos com aplicabilidade em todo território nacional e estabelece claramente que toda pesquisa antes do início de sua realização, esta deve contar com o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Diante de uma pesquisa onde ser humano for submetido a estudo, nesta deverá prevalecer o critério de respeito, dignidade, bem como à proteção dos direitos e o bem-estar3. É de extrema relevância destacar nesse trabalho, a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que caracteriza a pesquisa individual ou coletiva envolvendo seres humanos de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou em partes; visando incluir o manejo de informações ou materiais dos quais serão utilizados5. Esta, em sua essência, visa proteger o sujeito da pesquisa e contribuir para a qualidade das pesquisas que queiram ser cientificamente fidedignas, metodologicamente corretas, moralmente aceitáveis e socialmente relevantes4. É oportuno enfatizar que a pesquisa em sua totalidade deve respeitar princípios éticos que visem garantir a individualidade e dignidade do indivíduo, bem como proteger o ser em sua vulnerabilidade. Para isso, faz-se necessário o uso de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual se evoca as seguintes referências: A Autonomia, que abrange aos seres humanos os direitos de liberdade; A Beneficência, que deve contribuir para o bem-estar dos mesmos; A Não- 4 Maleficência, na qual garante que danos sejam evitados; e A Justiça, que visa à igual consideração dos interesses envolvidos. O princípio da Autonomia estendeu-se aos indivíduos, abrangendo os direitos de liberdade, privacidade, escolha individual e liberdade da vontade. Dizer a verdade, respeitar a privacidade dos outros e proteger as informações confidenciais são exemplos típicos do principio da autonomia2. No princípio da Beneficência, não basta tratar o indivíduo apenas como autônomo, mas também tem que contribuir para seu bem-estar. Além da compaixão, bondade, caridade, altruísmo, amor e humanidade, o princípio da beneficência em pesquisa deve incluir todas as formas de ação para beneficiar outras pessoas2. Ainda na linha de pensamentos dos autores supracitados, o princípio da nãomaleficência determina a obrigação de não efetuar danos intencionais; buscando a garantia de que danos previsíveis serão evitados. O princípio da justiça enfoca a equidade, ou seja, que todos os seres humanos sejam considerados de forma igualitária; que a relevância social da pesquisa apresente vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa, procurando minimizar ao máximo o ônus para os seres humanos que apresentem vulnerabilidade; buscando garantir igual consideração dos interesses envolvidos5. Contudo, mediante exposto supracitado fica claro que no Brasil, embora ainda haja necessidade da realização de pesquisas envolvendo esta temática, o mesmo, vem se destacando no campo das pesquisas pela qualidade e primor ético perante a sociedade. PERCURSO METODOLÓGICO Trata-se de uma pesquisa documental, cuja fonte de dados foram publicados acerca da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, por meio de busca eletrônica na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na base de dados Scientific Eletronic Library online – Scielo. O descritor utilizado em Ciências da Saúde para a busca foi: “Pesquisa envolvendo Seres Humanos”. Para selecionar a amostra, foram instituídos os seguintes critérios de inclusão: artigos que abordassem a temática da Pesquisa envolvendo Seres Humanos, na língua portuguesa, disponibilizados na íntegra na base de dados selecionada para a pesquisa. O universo do estudo foi constituído por 88 artigos, contudo, apenas 13 fizeram parte da amostra, uma vez que atenderam aos critérios previamente elaborados. 5 Procedimento para a coleta de dados Essa etapa ocorreu em Maio de 2011 e obedeceu aos seguintes passos: 1) inicialmente, foi introduzida, no descritor de assunto, a expressão-chave: Pesquisa envolvendo Seres Humanos; 2) em seguida, o método de busca foi por relevância, daí aplicaram-se os critérios de inclusão apresentados anteriormente. Para fazer parte da amostra, consideraram-se somente estudos publicados em periódicos nacionais e indexados na base de dados, selecionada para estudo, no período de 2005 a 2010. Para a análise do material empírico, elegeu-se a técnica de análise de conteúdo temática, seguindo as etapas de pré-análise, que se constitui da leitura flutuante, da classificação e da categorização, com respectivas subcategorias e de análise e interpretação dos dados. Ressalta-se que foram consideradas as observâncias éticas contempladas no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem – Resolução 311/2007 do Conselho Federal de Enfermagem, no que se refere à elaboração de trabalhos científicos. APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para melhor compreender a temática investigada, os dados obtidos nos artigos incluídos na investigação proposta foram agrupados e, em seguida, apresentados por meio de representação gráfica. Dessa maneira, foi possível evidenciar os dados referentes ao ano, à modalidade de publicação, à área de formação dos pesquisadores e aos enfoques contemplados pelos autores do material analisado. No que concerne aos anos de publicação, os mesmos foram demonstrados por meio da Figura 1 abaixo. Figura 1. Distribuição dos artigos conforme ano de publicação. 6 Fonte: Material empírico do estudo, 2011. A Figura 1 deixa-nos perceber que os anos de 2008 e 2009 corresponderam ao maior número de publicação, pois ambos apresentaram (31%) com quatro artigos publicados; Em seguida vem o ano de 2005, com três artigos publicados (23%); Quanto ao ano de 2006 observou-se um número incipiente de publicação, apenas um artigo (7%); Em 2007 também foi observado somente um artigo publicado no referido ano, totalizando (8%); Em relação ao ano de 2010 constatou-se que não houve nenhuma produção científica, nos periódicos pesquisados, acerca do tema proposto (0%). A Figura 2 a seguir destaca as modalidades de publicação abordadas nos artigos inseridos no estudo. Figura 2. Distribuição dos artigos conforme Modalidade de Pesquisa. Fonte: Material empírico do estudo, 2011. A Figura 2 evidencia que a maioria dos artigos inclusos na pesquisa é Revisão de Literatura, totalizando 10 publicações (77%). Os artigos Originais foram representados por apenas dois (15%), e a modalidade de Relato de Experiência foi composta de um único artigo (8%). Com isso, concluímos que existe um maior interesse dos pesquisadores em apresentar estudos que demonstrem conhecimentos provenientes de pesquisas de revisões literárias acerca da temática em estudo. Quanto às áreas de atuação dos pesquisadores, serão demonstradas na Figura 3, abaixo. 7 Figura 3. Distribuição dos artigos conforme Formação dos Autores. Fonte: Material empírico do estudo, 2011. De acordo com a Figura 3, observa-se que os profissionais de Medicina foram os que mais apresentaram publicações sobre a temática em estudo (50%), seguidos dos profissionais de Enfermagem (23%) e Nutrição (10%). Os profissionais que apresentaram um menor quantitativo de publicações foram os de Psicologia 7% das publicações; Biologia 4% dos artigos publicados, seguidos de Teologia e Bioestatística com apenas 3% das publicações investigadas. A partir dos dados propostos, é evidente que os profissionais de Medicina e de Enfermagem apresentam interesse de extrema representação para a realização de pesquisas que envolvem seres humanos. No entanto, o número de publicações acerca dessa temática ainda é incipiente, cabendo aos profissionais das diversas áreas existentes, despertarem o interesse de ampliarem seus conhecimentos sobre o assunto. Após análise do material empírico do estudo, foram identificadas 03 categorias apresentadas nos quadros a seguir, destacando os títulos da produção científica do tema proposto em estudo, extraídos dos artigos analisados. CATEGORIA I No que concerne aos enfoques da Categoria I ÉTICA E LEGALIDADE NA PESQUISA, os artigos destacados apresentam em comum a importância da Ética na pesquisa que envolve os seres humanos; levando em consideração os princípios e diretrizes éticos que asseguram a privacidade e confidencialidade dos indivíduos envolvidos na pesquisa. 8 Os autores dos artigos selecionados relataram que a ética na pesquisa destacou-se no final da Segunda Guerra Mundial, através do Código de Nuremberg em 1947, que foi o primeiro marco de caráter internacional que apresentou normas para pesquisas com seres humanos, pois foi através dele que surgiu a ideia do direito à autonomia dos pacientes. O Código de Nuremberg é um documento que determina a necessidade do consentimento voluntário dos seres humanos envolvidos na pesquisa após esclarecimentos dos objetivos e riscos que os correm6. No Brasil, é de extrema relevância explanar as Resoluções criadas pelo Conselho Nacional de Saúde a partir desses principais documentos internacionais citados anteriormente. E, neste sentido, todos os artigos selecionados deram ênfase a Resolução 196/96 que regulamenta as normas em pesquisas envolvendo seres humanos; onde após essa Resolução, foi criado o sistema brasileiro de revisão ética das pesquisas CONEP/CEP para examinar as questões éticas dos seres humanos envolvidos a fim de preservar princípios éticos estabelecidos e a Resolução 01/88 que norteava as pesquisas em saúde com exclusiva limitação aos estudos médicos. Destaca-se ainda as Resoluções complementares mencionadas pelos artigos selecionados para compor esta categoria. A Resolução 251/97 normatiza as pesquisas com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos; a Resolução 292/99 estabelece pesquisas com cooperação estrangeira; a Resolução 303/00 normatiza pesquisas na área de reprodução humana; a Resolução 304/00 estabelece pesquisas em povos indígenas; a Resolução 340/04 aprova diretrizes para pesquisas na área de genética humana; e a Resolução 347/05 estabelece pesquisas que envolvam armazenamento de materiais biológicos. Vale ressaltar que ainda há resoluções voltadas exclusivamente ao sistema CONEP/ CEP, evidenciando suas estruturações e credenciamento na ética das pesquisas com seres humanos. CATEGORIA II Os enfoques contemplados nos estudos desta categoria apresentam a Ética evidenciada no contexto da pesquisa; emergindo em sua essência, primordialmente, o cuidado com os personagens envolvidos. A ética não deve estar apenas abordada no contexto da pesquisa; mas, em todo o movimento onde seres humanos estejam envolvidos7. Nesse sentido, embora se saiba que lidar com pessoas não é uma tarefa fácil, deve-se primar em especial, 9 pelo respeito, para que a koinonia e o bem-estar sejam aspectos fortes dentro da pesquisa. Contudo, deve-se estar sempre atento para o cuidado com todos os seres envolvidos na pesquisa8. Desta forma, o estudo deve primar pelo respeito à dignidade, garantir o bem-estar e assegurar os direitos cabíveis; estimulando a prática dos padrões éticos-morais corretos, tanto na abordagem da pesquisa humana, quanto no contexto do estudo com animais. Nesse enfoque a ética mostra-se como uma visão macro analítica social apresentando, por conseguinte, uma preocupação não apenas com o indivíduo, mas sim com o coletivo. Nesse sentido, o desenvolvimento científico deve proporcionar ao homem novos conhecimentos para a promoção de vida, saúde e liberdade social, resguardando desta forma os direitos humanos diante das transformações da sociedade9. Dentro de um estudo mais ousado, a dimensão ética e legal apresentou-se focada no cuidado sendo avaliado através do registro de imagens. Trata-se de um método inovador, fecundo e desafiador por sua característica de novidade e por demandar particular cuidado em sua operacionalização. Sua finalidade é buscar novos instrumentos teórico-práticos de áreas de conhecimentos, oferecendo ao sujeito proteção, dignidade e respeito dentro em sua autonomia10. Buscando o resgate da primeira legislação brasileira sobre ética, destacase a elaboração do primeiro documento formulado sobre as recomendações éticas em pesquisa no contexto das comunidades Brasileiras apresentado pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. - O Código dos Direitos das Comunidades Onde o mesmo teve como base o Código de Nuremberg; e serviu para elaboração de documentos importantes cujas premissas estavam voltadas para o direito da cidadania, respeitando o ser em sua plenitude, contribuindo desta forma para que o Brasil figure, destacadamente, entre os países que possuem uma legislação ética adequada. Outro achado importante contemplando a ética diante da vulnerabilidade versa que o ser humano deve ser respeitado dentro de suas limitações; salvaguardando a dignidade existente dentro do seu ser, para que no enredo da pesquisa os envolvidos sejam protegidos, respeitados e não apenas utilizados como instrumentos para autorrealização11. 10 Para tanto, é importante a presença do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); onde este, em sua essência, testifica o respeito moral por outrem. O mesmo deve ser aplicado dentro da capacidade de entendimento de cada ser pesquisado, apresentando-se de forma clara e compreensível, assegurando, o sigilo das informações e a divulgação dos dados encontrados. Diante das referências apresentadas estima-se que para a ética estar no contexto da pesquisa de forma adequada, a mesma deve outorgar, principalmente, valias como o respeito, a proteção, a autonomia; ou seja, todos os esforços devem estar voltados para a beneficência uniforme dos valores intrínsecos dos envolvidos. CATEGORIA III No que concerne a categoria III, BIOÉTICA E A PESQUISA CIENTÍFICA, constatou-se que anteriormente à condensação dos métodos de pesquisa em um relatório próprio, era comum a falta de adesão às diretrizes e normas estabelecidas pelo Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque, entre outras legislações específicas pertinentes, por partes de pesquisadores, consequentemente expondo os sujeitos participantes de estudos à vulnerabilidade. Pôde-se observar em muitas situações que a preocupação demonstrada para se descobrir à cura das doenças e proporcionar o avanço da ciência, não se projetou sobre os sujeitos que participavam dos estudos. Muitos deles foram colocados em situação de desigualdade, vulnerabilidade e sofrimento moral12. Somente a partir de 1979 com a publicação oficial do Relatório de Belmont pela Comissão para Proteção dos Direitos dos Sujeitos Humanos de pesquisas Biomédicas e Comportamental e a consolidação da Bioética como novo saber foi que divulgaram os novos instrumentos normativos pertinentes as pesquisas que envolvem seres humanos, consolidando através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a autonomia dos sujeitos/objetos. Contudo, o Relatório de Belmont transformou-se no primeiro instrumento normativo responsável por sanar dilemas éticos relativos à saúde das pessoas no mundo contemporâneo através da institucionalização de “ferramentas morais”, que a partir de então, ficaram conhecidas na literatura especializada por princípios éticos, quais sejam: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, o chamado “Principialismo” padrão. Herdeiro do Relatório de Belmont, o nascimento do Principialismo concomitante ao surgimento da Bioética como disciplina e o seu caráter 11 multidisciplinar destacam o conceito de Autonomia dos sujeitos que entende que toda pesquisa realizada com seres humanos só poderá ser considerada eticamente legítima se o pesquisador obtiver o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos pesquisados e se os riscos e benefícios forem corretamente ponderados. Esses riscos e benefícios supracitados são tratados e ponderados corretamente graças aos princípios da Beneficência e Não maleficência, que se complementam nos interesses, por pregarem a obrigatoriedade de não causarem danos, ou minimizandoos o máximo possível e maximizando os possíveis benefícios da pesquisa. Por último, o princípio da Justiça faz uma análise sobre a relevância da pesquisa, garantindo a igualdade de acesso à participação na pesquisa e aos resultados, dando proteção adicional aos sujeitos vulneráveis e com autonomia reduzida. Por conseguinte, nesse princípio, sobretudo busca-se o equilíbrio entre os interesses da pesquisa e a ética no tratamento igualitário e imparcial para com os sujeitos participantes da pesquisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo, observou-se que nos primórdios, os pesquisadores davam ênfase às descobertas e avanços da doença, expondo os indivíduos sujeitos à pesquisa em situações de vulnerabilidade e desigualdade moral. A partir dos avanços contemplados pelo Código de Nuremberg, Relatório de Belmont e Declaração de Helsink, constatou-se a importância de proteger os direitos dos seres humanos no âmbito da pesquisa, onde evidentemente foi consolidado o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que fortalece os princípios éticos evocando a proteção, dignidade e autonomia do sujeito da pesquisa. Diante do exposto, destacamos a importância de reforçar e valorizar o respeito ético nas pesquisas que envolvem seres humanos, assegurando e explorando os princípios mencionados anteriormente com a finalidade de promover o bem-estar dos participantes envolvidos nas pesquisas. Este, portanto, contribuiu para fortalecer reflexões acerca do nosso comportamento diante de pesquisas envolvendo seres humanos, além de reforçar as leituras críticas sobre a temática abordada. 12 REFERÊNCIAS DE MARTINI, A.; Reabilitação, ética e técnica. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2011, v.16, n.4, pp. 2263-2269. ISSN 1413-8123. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000400025. Acessado em: 28/08/2011. CASTILHO, E. A.; KALIL, J.; Ética e pesquisa médica: princípios, diretrizes e regulamentações. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. [online]. 2005, v.38, n.4, pp. 344347. ISSN 0037-8682. 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