CAPA Editorial Desenvolvimento territorial, um caminho para o novo rural A escolha da abordagem ter- sas experiências foram analisadas pela colegiados territoriais de acordo com sua ritorial para fomentar as po- equipe de transição, que recomendou a realidade diferencia esse programa de to- líticas de desenvolvimento criação de uma secretaria, no âmbito do das as experiências anteriores no Brasil. A rural pode ser explicada por uma série Ministério do Desenvolvimento Agrário paridade entre governo e sociedade civil de fatores que ocorreram no País nos (MDA), para elaborar e executar um e a possibilidade de elaborar elementos últimos 20 anos. O meio rural brasileiro programa para o desenvolvimento rural de planejamento com base em pactos passou durante esse período por grande com abordagem territorial. territoriais também explicitam a inovação efervescência, com as mobilizações em A favor da agricultura familiar e da refor- Territorial ma agrária e com a emergência de ato- Desenvolvimento de tonomia dos atores sociais foram os fios res sociais, como os atingidos por bar- Territórios Rurais (Pronat) surgem, en- condutores da política de desenvolvi- ragens, os indígenas e os quilombolas. tão, com a missão de valorizar a agricul- mento territorial e sempre estiveram pre- Esse processo coincide com as discus- tura familiar, enfrentar a pobreza rural e sentes em nossas ações, a exemplo da sões sobre o enfrentamento da pobreza as desigualdades regionais, integrar as elaboração de planos e programas como rural e a descentralização de políticas políticas públicas com um viés de inter- os Planos Territoriais de Desenvolvimento públicas, com papel mais proativo dos setorialidade e promover a dinamização Rural Sustentável (PTDRS) e o Programa municípios e do desenvolvimento local. das economias nos territórios rurais. de Apoio à Infraestrutura e Serviço nos Dom Começamos com pouco mais de 40 ter- Territórios Rurais (Proinf), que se comu- Helder Câmara de integrar os vários ritórios e chegamos aos atuais 164. É im- nicam com outros, como o Plano Safra assentamentos agrária portante destacar que nenhum território Territorial, os planos de negócios, os pla- no Semiárido nordestino e os ele- se retirou do programa e mais de 60 rei- nos das cadeias produtivas e os planos mentos do Projeto Alternativo de vindicam o ingresso nele. de cultura. A proposta do de Projeto reforma Secretaria (SDT) de Desenvolvimento e o Programa Sustentável desse modelo de gestão. A diversidade, a pluralidade e a au- Desenvolvimento Rural Sustentável e O Pronat foi pautado desde a sua ori- O Pronat serviu, ainda, de referên- Solidário (PADRSS) da Contag também gem por dois elementos fundamentais: cia para a formulação do Programa podem ser considerados como embriões o protagonismo dos atores sociais e o Territórios da Cidadania do governo da estratégia territorial. Em 2002, logo planejamento da gestão social. A flexibi- federal, que integra as ações de 22 mi- após a vitória do presidente Lula, es- lidade para cada território configurar os nistérios e conta com um orçamento de 2 Desenvolvimento Territorial em Foco aproximadamente 64,7 bilhões de reais. adequados, ampliar as parcerias, avançar Esses recursos estão sendo aplicados ex- no modelo organizativo, aumentar o or- clusivamente nos territórios rurais, para çamento, entre outros desafios. atender às demandas de segmentos so- No entanto, podemos afirmar com ciais, que historicamente foram excluídos segurança que o processo que criamos é do acesso às políticas públicas, seja como um caminho sem volta. O resultado das beneficiários, seja como sujeitos de pla- eleições presidenciais garantiu não só o nejamento e de gestão. projeto democrático e popular iniciado "Conseguimos reposicionar o rural em nossa sociedade, acabar com a ideia de que o campo era sinônimo de atraso e, em conjunto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, elaboramos uma proposta de política de desenvolvimento para o Brasil rural" Esse novo modelo de gestão de po- pelo presidente Lula como a continui- líticas públicas tende a se consolidar e dade das políticas de territorialidade. As crescer, tanto do ponto de vista da am- mudanças de gestores municipais e esta- pliação do número de territórios como duais têm demandado a ampliação dos em termos do ingresso de novos atores programas nos territórios, pois o gover- Esse desafio requer uma mudança sociais, a exemplo de empresários, uni- no federal tem se relacionado de forma profunda em nosso País, que somen- versidades e categorias e organizações republicana com esses entes federativos. te será sustentada se, além da ação dos sociais de caráter mais urbano. Portanto, Desse modo, esperamos que essa visão governos, houver forte envolvimento dos é possível avaliar que a SDT/MDA rea- se consolide independentemente das atores dos diversos segmentos da socie- lizou um trabalho muito bem-sucedido pessoas que conduzem os governos. dade, como trabalhadores (as), empresá- nesses oito anos. Conseguimos reposi- Nós também temos a expectativa de rios, universidades, igrejas e organizações cionar o rural em nossa sociedade, aca- colocar o que acumulamos nessa área a sociais, dentre outras. Essas são, então, as bar com a ideia de que o campo era si- serviço do compromisso assumido pela premissas para se acabar com o resquício nônimo de atraso e, em conjunto com o presidente Dilma de erradicar a miséria e de 20 milhões de pobres no País, que se Conselho Nacional de Desenvolvimento diminuir a pobreza no Brasil. Nesse sen- encontram, principalmente, no meio rural. Rural Sustentável (Condraf), elaboramos tido, vamos continuar trabalhando para Nesse sentido, estamos convictos de que uma proposta de política de desenvolvi- que o Estado crie as condições para que os gestores públicos e os atores sociais mento para o Brasil rural. a população de baixa renda seja incluída engajados com o desenvolvimento terri- O Pronat foi concebido para 30 anos no processo de desenvolvimento. Enfim, torial vão contribuir de forma significativa e devemos chegar ao fim desse período precisamos fazer uma passagem para para atingir esse objetivo. com pelo menos 300 territórios rurais no um modelo de desenvolvimento que Brasil. Portanto, não tenho dúvida de que não aceite conviver com uma situação Humberto Oliveira ainda há muito o que fazer. Temos de me- de miséria de uma parcela significativa Secretário de Desenvolvimento Territorial lhorar a nossa gestão, criar normativos de nossa população. Desenvolvimento Territorial em Foco do Ministério do Desenvolvimento Agrário 3 sumário 9 4 28 Cooperativismo sustentável e solidário Divulgação Bases de serviço de comercialização: chave para a dinamização econômica Planos territoriais fortalecem a gestão social Paulino Menezes/MDA Arquivo SDT/MDA 25 12 Territorialização avança nos estados Um novo jeito de fazer política Pública Divulgação Divulgação Arquivo SDT/MDA 6 31 Atores territoriais criam novas formas de organização 19 Colegiado territorial: protagonista do novo Brasil rural Infraestrutura para gerar renda nos territórios 37 Investir no ser humano e transformar o Semiárido Ronaldo Oliveira Arquivo PDHC universidades: novos atores da política territorial 22 Formadores de uma nova realidade rural Divulgação 34 Divulgação Divulgação Arquivo SDT/MDA 16 40 Parcerias para fortalecer a agenda territorial 5 Pronat e Programa Territórios da Cidadania Um novo jeito de fazer política Pública Ricardo Stuckert / PR Presidente Lula faz balanço do Programa Territórios da Cidadania durante o II Salão Nacional dos Territórios Rurais, em 2010 A Criado em 2003, o Pronat destacou-se como instrumento inovador da gestão pública no Brasil. O programa concebido pela SDT/MDA serviu, cinco anos depois, como base para a formulação do Programa Territórios da Cidadania 6 precariedade dos serviços públi- foi incluído no Programa Territórios da cos de saúde e de educação e a Cidadania (PTC). “A transição de Território ausência de políticas para a orga- Rural para Território da Cidadania provo- nização da produção agrícola e comercial cou mudanças na maneira do Colegiado sempre castigaram a população do Território atuar. Mas o importante é que renovamos da Baixada Cuiabana, no Mato Grosso. Esses o nosso compromisso com o desenvolvi- problemas começaram, finalmente, a ser re- mento do território”, avalia Antônio Fátimo, solvidos depois que as políticas de desenvol- membro do Colegiado Territorial local. vimento territorial foram implementadas. No Entre outros resultados, a inserção do entanto, os resultados positivos alcançados território no PTC assegurou recursos para não se devem somente às ações dos poderes dar início à construção da central de co- públicos, mas, sobretudo, ao protagonismo mercialização. Os R$ 2 milhões liberados dos Colegiados Territoriais. pelo programa vão erguer o mercado pro- Os atores sociais sempre tiveram uma dutor e propiciar assistência técnica aos postura bastante engajada nessa região. (às) agricultores (as) familiares dos 14 mu- O Território da Baixada Cuiabana foi cria- nicípios que compõem o território. “Essa é do no mesmo ano do lançamento do uma ação estratégica porque o Território Programa Desenvolvimento Sustentável da Baixada Cuiabana concentra o maior dos Territórios Rurais (Pronat) e, em 2008, número de pessoas entre os seis territórios Desenvolvimento Territorial em Foco rurais do estado. São cerca de 850 mil ha- de recursos colocou as demandas históricas ações sociais e de desenvolvimento eco- bitantes beneficiados”, enfatiza Fátimo. do meio rural no rol de prioridades do orça- nômico de ministérios, até as populações A ação já qualificou aproximadamente mento da União e contribuiu para melhorar mais pobres do meio rural. “Nesses três 1,2 mil agricultores (as) familiares, que en- a vida de 42,4 milhões de pessoas em 1.851 anos, o programa conquistou visibilidade frentavam sérias dificuldades para organi- municípios brasileiros. “Aquele quadro em internacional e, hoje, é referência mundial zar e comercializar a produção interna. O que um prefeito de oposição ficava quatro em gestão pública com participação direta PTC também contribuiu para viabilizar a anos sem receber verba da União é coisa da sociedade”, celebra. construção de escolas em assentamentos e do passado. Esse panorama foi modifica- promover o acesso dos trabalhadores (as) do com uma gestão de interesse público”, rurais à saúde pública. garante Humberto Oliveira, secretário de A proposta original do PTC foi com- Desenvolvimento Territorial do Ministério do bater a pobreza e as desigualdades so- Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA). ciais nas áreas rurais com baixos Índices O programa serviu, ainda, para modificar de forma radical as relações do Estado Gênese do programa com a sociedade. Os critérios para a alo- A representante da Casa Civil da de Desenvolvimento Humano (IDH) e de cação dos investimentos públicos também Presidência da República na coordenação Educação Básica (Ideb). Esse desafio foi sofreram profundas alterações. “Os recursos do PTC, Janine Mello, entende que o pro- lançado pelo governo federal por meio da provenientes dos ministérios são discuti- grama selou um novo compromisso com a integração das ações de 22 órgãos federais dos constantemente no território. Isso evita população do meio rural, já que ele dinami- em todo o País, sobretudo nas localidades desperdício de dinheiro público e garante za a liberação de recursos para os municí- com grande número de beneficiários de resultados que realmente necessitamos”, pios: “Os prefeitos agora contam com inves- programas de transferências de renda. analisa o membro do Colegiado Territorial. timentos carimbados no Orçamento Geral A modelagem do Pronat, concebida e da União. Portanto, houve uma mudança executada pela SDT/MDA a partir de 2003, qualitativa na relação entre o governo fede- foi adotada pelo governo federal como pon- ral e os estados e municípios”, reforça. to de partida para formular o PTC. O progra- Cidadania para todos O governo federal investiu R$ 64,7 bilhões para o Programa Territórios da Cidadania Ela acrescenta que o PTC é uma tentati- ma foi discutido com representantes de vá- desde a sua criação, em 2008. Esse volume va de levar um “pacote de cidadania”, com rios ministérios, em quase todos os estados, Territórios da Cidadania contemplam diversidade étnica Em algumas regiões do País, além de especificidades econômicas e culturais, a etnia é um fator de grande influência na vida da comunidade. Nessas áreas a maioria da população é indígena. Por isso, além do enfoque territorial, o governo federal constatou que essas regiões precisariam de ações diferenciadas e propôs a criação dos Territórios Indígenas da Cidadania. O primeiro território dessa natureza – o Território Rio Negro da Cidadania Indígena – foi criado no final de 2008. Ele abrange três municípios na região do Alto e Médio Rio Negro, no Amazonas: São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Essa unidade territorial surgiu de uma demanda apresentada Desenvolvimento Territorial em Foco pelas próprias comunidades indígenas ao presidente Lula, em 2007. Estima-se que a população indígena nesse território represente cerca de 60% a 70% dos habitantes. A atuação indígena é organizada com base na experiência da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, entidade que atua na região há 20 anos. As cerca de 30 etnias presentes no território estão divididas em coordenadorias, que integram a direção da Federação e que, por sua vez, têm assento no Colegiado Territorial. Protagonismo – Outra característica marcante é o protagonismo, pois as entidades indígenas sempre foram muito atuantes na região. Elas participaram ativamente da elaboração do PTDRS, que nesse território recebeu o nome de Plano de Etnodesenvolvimento do Território do Rio Negro da Cidadania Indígena. Os principais eixos desse Plano são o acesso a serviços como saúde, educação, transporte, energia, habitação, saneamento e cultura. A produção de alimentos voltada para a sustentabilidade alimentar, com geração de renda e cuidado ambiental, também faz parte das demandas do etnodesenvolvimento. Além disso, as lideranças indígenas estabeleceram como prioridades o incremento de atividades turísticas e a logística de transporte e de escoamento da produção, pois a região possui cachoeiras que impedem a navegação de barcos grandes em vários trechos. 7 e com governos e organizações sociais. Mas, de se fazer política pública no meio rural. integração das políticas públicas nos go- por ser uma proposta inovadora, as reações “Temos clareza de que para fazer uma po- vernos anteriores”. foram de entusiasmo e receio. “Muitos acha- lítica forte no meio rural é preciso investir vam que haveria competição em suas áreas muito na sociedade local”, afirma Humberto institucionais”, lembra Humberto Oliveira. No Oliveira, que completa: “Quanto mais pes- O Pronat apoia 164 territórios rurais em entanto, essas resistências foram vencidas e soas estiverem cooperando nos territórios, todo o País. A SDT/MDA desenvolve ações o PTC foi apontado com um dos programas maior será a mobilização para a elaboração de fortalecimento da gestão social e das re- prioritários pelo presidente Lula. de projetos para gerar renda e emprego”. des de cooperação, dinamização econômica Números dos programas Humberto Oliveira recorda que, assim Janine Mello avalia que essa estratégia e articulação de políticas públicas em 2,5 mil como o PTC, um dos objetivos do Pronat territorial significou um avanço sem prece- municípios, que correspondem a 45% das foi desconstruir a noção de que o campo dentes na execução de políticas, programas cidades do País. O programa beneficia cerca era lugar de atraso econômico, social e e ações de governo federal. “Isso acontece, de 52,2 milhões de pessoas, ou seja, o equi- cultural. “A característica mais marcante do especialmente, quando os problemas a ser valente a 28,57% da população. meio rural brasileiro é a diversidade social. tratados são complexos, multidimensionais O PTC integra ações de 22 órgãos públi- Por isso decidimos elaborar uma política e de natureza estrutural, como a pobreza cos federais para 120 territórios rurais, isto é, de desenvolvimento rural sustentável que rural”, defende. 1.851 municípios (33% do total). Aproxima- reunisse todas as suas dimensões”, destaca. A gestora da Casa Civil faz questão de apontar o Pronat como o programa Estratégia territorial damente 43 milhões de brasileiros (23% da população) vivem nessas localidades. que deu origem ao PTC e acredita que O público-alvo dos dois programas A gestão social foi utilizada pela SDT/MDA o desafio do governo Lula foi “entender são os (as) agricultores (as) familiares, os como diretriz central para a articulação do a estratégia territorial como uma abor- (as) assentados (as) da reforma agrária e trabalho de implementação do Pronat. Esse dagem capaz de superar problemas his- as populações tradicionais, como indíge- critério foi adotado para inovar a maneira tóricos, que temos devido à ausência de nas, quilombolas e pescadores (as). Pacto federativo para fortalecer a estratégia territorial Os Comitês de Articulação Estadual (CAEs) são integrados por representantes dos ministérios que compõem o PTC nos estados, pelas secretarias estaduais, pelo delegado federal do MDA e por prefeitos das cidades que fazem parte dos territórios. Eles funcionam como instâncias de gestão do Programa Territórios da Cidadania e possuem caráter consultivo. O papel dessas instâncias é apoiar a organização e a mobilização dos Colegiados Territoriais, estimular a articulação das diversas políticas públicas nos estados, acompanhar a execução do programa e propor a inclusão de territórios e de novas ações. Segundo a diretora do Departamento de Ações Territoriais (Deter/SDT), Fernanda Corezola, os CAEs são importantes na polí- 8 tica de desenvolvimento rural territorial porque eles fortalecem o pacto federativo em beneficio da estratégia territorial. Já Avelino Ganzer, o então diretor de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Local da Secretaria da Agricultura (Sagri) e membro do CAE no Pará, considera que “o comitê tem a capacidade de integrar as políticas nacionais nos territórios e, ao mesmo tempo, fazer que as secretarias estaduais entrem no processo”. Ele afirma ainda que, em seu estado, o CAE trabalha de forma integrada com o Colegiado Territorial, que fornece as informações de como estão sendo executadas as ações em cada território. Ganzer acredita que o CAE ajuda na construção de uma nova cultura governa- mental, em que cada governo tem o seu papel, mas todos trabalham integrados, com planejamento, para chegar a resultados de interesse comum. “A velha cultura em que são priorizados interesses políticos de pessoas e grupos ainda existe. Porém, temos de perseguir e consolidar a construção dessa nova metodologia”, propõe. O diretor da Sagri também defende que a experiência do CAE deve ser avaliada e melhorada, mas precisa continuar. “Precisamos, agora, começar a participar do debate orçamentário nos níveis municipal, estadual e nacional para discutir o Plano Plurianual (PPA) referente ao período de 2012/2015”, lança o desafio. Desenvolvimento Territorial em Foco Experiências de territorialização dos estados Territorialização avança nos estados A estratégia territorial do Pronat está sendo implantada com resultados significativos. Treze governadores já adotaram o modelo, que, além de garantir transparência e racionalizar os gastos públicos, valoriza o protagonismo social Arquivo SDT/MDA SDT/MDA aposta na territorialização dos estados para alavancar desenvolvimento rural sustentável A opinião é unânime entre ges- Antônio Rodrigues, à época secretário de políticas públicas. O modelo de gestão tores públicos da Bahia, de Desenvolvimento Agrário do Ceará. “O go- concebido pela Secretaria de Desenvolvi- Sergipe e do Ceará: a terri- verno estadual aprende com as pessoas e mento Territorial do Ministério do Desen- torialização nos seus estados deu mais a sociedade entende mais sobre a máquina volvimento Agrário (SDT/MDA) já ganhou transparência à administração pública, pública”, acrescenta. adesão de 13 estados. uma vez que aproximou os gestores pú- O Programa Desenvolvimento Sus- Além de Bahia, Sergipe e Ceará, os go- blicos da sociedade. “O governante que tentável dos Territórios Rurais (Pronat) re- vernos do Acre, Alagoas, Espírito Santo, adota essa prática torna sua gestão mais conhece os territórios como unidades de Goiás, Pará, Paraíba, Piauí, Rondônia, clara perante a opinião pública”, afirma planejamento e de gestão integrada de Rio Grande do Norte e Roraima também Desenvolvimento Territorial em Foco 9 Ascom Gov. SE tado permitiram a criação de portas de saída para a população beneficiada por programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Mudanças estruturais A distribuição de recursos era desigual antes da introdução do processo de territorialização na Bahia. Algumas prefeituras recebiam mais atenção do governo estadual em função de alinhamentos políticos ou por terem mais representatividade na Assembleia Legislativa. “Com a política de territórios, a alocação de recursos ficou mais igualitária, evitando concen- Governador Marcelo Deda (PT) priorizou as ações de territorialização no estado de Sergipe trações excessivas em determinadas regiões. Há mais justiça nas ações de governo”, analisa Alberto Valença, secretário de adotaram essa forma de planejamento. melhor se aqueles recursos produziram os “O recorte territorial certamente vai trazer efeitos desejados”, explica Alberto Valença, benefícios muito importantes para as po- secretário estadual de Planejamento. Planejamento. A territorialização promoveu, ainda, mudanças importantes na mentali- Em Sergipe, a territorialização aumen- dade dos prefeitos cearenses. Segundo tou a arrecadação, com o crescimento eco- Antônio Rodrigues, antes, os gestores De acordo com as projeções feitas pelo nômico por meio da criação de distritos municipais buscavam recursos estaduais secretário de Desenvolvimento Territorial, industriais, da valorização dos arranjos pro- para investir, na maioria das vezes, em se todos os estados adotassem essa ma- dutivos locais e das cadeias produtivas no infraestrutura. “Eles priorizavam gran- neira de planejar suas ações, o Brasil teria interior, além de trazer economia para os des obras e se esqueciam das pessoas”, aproximadamente 325 territórios rurais. cofres públicos. “O planejamento era frag- critica. Atualmente, os prefeitos estão “Isso, com certeza, melhoraria a maneira mentado e, em muitos casos, havia sobre- priorizando o desenvolvimento econômi- de fazer gestão pública no País”, acredita. posição de ações em um mesmo espaço, co, com foco no crescimento de cadeias com desperdício de recursos financeiros e produtivas. “A visão territorial derruba o humanos”, lembra Lúcia Falcón, a então se- paradigma de que projetos são mais im- cretária de Planejamento do estado. portantes do que o (a) cidadão (ã), uma pulações do interior”, acredita Humberto Oliveira, secretário da SDT/MDA. Gastos públicos A territorialização também trouxe maior vez que são idealizados pela sociedade. racionalidade na aplicação dos recursos pú- Na opinião de Antônio Rodrigues, blicos. Na Bahia, por exemplo, as avaliações além de otimizar os gastos públicos, a anuais possibilitam a correção do orçamento territorialização do Ceará também incen- Além disso, a política de territorializa- público para o ano seguinte, à medida que tivou o empreendedorismo rural e possi- ção também minimizou conflitos entre o ocorrem os investimentos nos territórios. bilitou a criação de políticas de geração poder público e as organizações sociais “Quando direcionamos a verba para deter- de renda. Essas ações implementadas em algumas regiões. “Quando a gente minada área, temos condições de analisar nos sete Territórios da Cidadania do es- convocava reuniões para discutir ações 10 É o fim das vaidades políticas”, acredita. Desenvolvimento Territorial em Foco para um determinado território, havia A discussão entre o governo estadual grupos que evitavam estar no mesmo am- e os atores territoriais resultou na criação biente de seus adversários políticos”, con- do Conselho Estadual de Desenvolvimento ta Antônio Rodrigues. Territorial (Cedeter). Essa nova forma de Em Sergipe, a territorialização gerou organização dos territórios tornou-se um avanços específicos, como a recuperação fórum permanente de debate da agen- do sistema viário estadual, a descentraliza- da territorial e assumiu o papel de fazer ção dos serviços de saúde e a implantação o acompanhamento da execução orça- de universidades, institutos tecnológicos mentária. O Cedeter está atualmente pre- e centros profissionalizantes. A parceria parando propostas para o segundo PPA entre a sociedade civil e o poder público Participativo, que corresponde ao quadri- possibilitou outros resultados menos tan- ênio 2011-2015. "Com a política de territórios, a alocação de recursos ficou mais igualitária, evitando concentrações excessivas em determinadas regiões. Há mais justiça nas ações de governo" Alberto Valença Sec. Planejamento - BA gíveis, a exemplo da identificação do pa- No caso específico do Ceará, a territo- trimônio imaterial dos territórios, retratado rialização começou com a inclusão de se- Ao contrário das demais experiências, no Atlas da Cultura Sergipana e no Guia tores que historicamente ficaram à margem o marco zero do processo de territorializa- Gastronômico dos Territórios. do crescimento econômico, como os(as) ção em Sergipe foi um seminário, realizado agricultores(as) familiares, assentados(as) da em 2007, que norteou as diretrizes sobre reforma agrária e outros sujeitos políticos desenvolvimento territorial no estado. Na Os 13 estados que adotaram a política de “invisíveis”. A partir dessa premissa foi utili- ocasião, foram compartilhadas experiên- territorialização percorreram caminhos dis- zada a mesma metodologia que a SDT/MDA cias nacionais e internacionais de planeja- tintos na implementação das ações de plane- adotou para fomentar a política territorial em mento territorial e participativo. jamento e de reordenamento administrativo- todo o País. Metodologias adotadas A então secretária de Planejamento res- orçamentário. O primeiro passo dado pelo O governo estadual também instituiu gata a origem da territorialização no estado governo baiano nessa direção foi a elabora- a Coordenadoria de Desenvolvimento e a importância da contribuição dos parcei- ção de um estudo de viabilidade, logo após Territorial do Ceará, que acompanha to- ros em nível estadual e federal para a im- as eleições estaduais de 2006. “Verificamos das as ações dos Colegiados Territoriais plantação das políticas territoriais no esta- que seria mais simples planejar e desenvol- e da administração pública. “A agenda do: “A expertise da professora Tânia Bacelar, ver ações para 26 regiões do que para 417 territorial não pode ser colocada em a contribuição do Banco do Brasil e o apoio municípios”, constatou Alberto Valença, titu- segundo plano. Ela permeia todos os da Universidade Federal de Sergipe na aná- lar da Secretaria de Planejamento. temas relacionados ao desenvolvimen- lise de variáveis para o reconhecimento O governo estadual também inseriu to do estado, nas dimensões econômi- dos recortes territoriais, com a experiência o elemento da territorialização no pro- ca, social, ambiental e cultural”, justifica do Programa Desenvolvimento Regional cesso de elaboração do Plano Plurianual Antônio Rodrigues. Sustentável, foram fundamentais para a ini- Participativo (PPA) para o período de 2008 Segundo o secretário de Desen- ciação do processo”, lembra Lúcia Falcón. a 2011. Desse modo, a formulação do PPA volvimento Agrário do Ceará, a SDT/MDA A gestora também destacou a impor- passou em cada um dos territórios baia- foi um parceiro importante em todo o pro- tância da SDT/MDA no processo de terri- nos, o que permitiu que os Colegiados cesso de territorialização. “A secretaria nos torialização. “Sem o apoio e o compartilha- Territoriais pudessem, já no primeiro ano deu apoio e subsídios técnicos para que o mento das suas experiências certamente de governo, intervir diretamente nas polí- nosso desejo – do governo e da sociedade teríamos incorrido em mais erros do que ticas públicas. – fosse concretizado”, conta. acertos”, afirma. Desenvolvimento Territorial em Foco 11 Gestão social do desenvolvimento – Planos Territoriais Arquivo SDT/MDA Piquet Carneiro é uma das cidades do Ceará que adotou os planos territoriais para planejar suas políticas públicas Planos territoriais fortalecem a gestão social Os PTDRS são instrumentos inovadores de gestão e controle social das políticas de A A estratégia territorial alimenta Expedito do Nascimento (PSDB/CE), de a democracia e solidifica a base. Piquet Carneiro. A tendência é que ela ganhe Ele começou a participar das discus- integração entre as esferas pública mais força com o engajamento da juven- sões no Território do Médio Sertão em e social e orientam o planejamento tude nas decisões do território. Isso vai 2004, quando ainda era secretário de das políticas públicas baseado em facilitar nosso futuro”. A defesa firme das Agricultura do município. O atual prefeito metodologias participativas políticas de territorialidade é do prefeito foi protagonista do processo de elabo- territorialidade. Eles promovem a 12 Desenvolvimento Territorial em Foco ração e implantação do Plano Territorial co-administrativas: Madalena, no Território estrutura semelhante à dos Colegiados de Desenvolvimento Rural Sustentável Sertões de Canindé, e General Sampaio, no Territoriais. Trata-se de grupos locais for- (PTDRS) em Piquet Carneiro. Vale do Curu e Aracatiaçu. mados por membros do poder público e Expedito lembra que os argumentos “As políticas públicas foram organizadas que utilizou para convencer o então prefeito e definidas adequadamente pela parceria a aderir ao PTDRS foram a racionalização do entre poder público e população nos de- planejamento orçamentário e, sobretudo, mais municípios do Território Sertão Central. os resultados positivos nos municípios vizi- Por que não daria certo em Piquet Carneiro, nhos. No Ceará, além de Piquet Carneiro, que tem proporções menores?” associações comunitárias, que discutem melhorias para a população. Territorialização avança De acordo com Expedito, o processo de territorialização do município permitiu a duas outras cidades adotaram os planos Desde 2009, o município é dividido descentralização dos recursos da prefeitura, territoriais para planejar suas ações políti- em núcleos de apoio administrativo, com tornando a gestão mais democrática e orga- Cultura como eixo de desenvolvimento na Bahia A formulação de um planejamento grupos de trabalho dos Territórios de Bacia Esse processo se deu de forma acelera- para estimular a cultura nos territórios do Jacuípe, Sisal, Velho Chico, Litoral Sul e da, pois 352 dos 417 municípios do estado da Bahia era uma aspiração antiga dos Baixo Sul que já trabalhavam com a pers- assinaram um protocolo de intenções com gestores da Secretaria Estadual de Cul- pectiva cultural”, projeta Ângela. a Secult-BA. “Eles assumiram o compromisso tura (Secult-BA). Esse plano foi materia- Nos Territórios do Baixo Sul e do Litoral de criar sistemas municipais de cultura e par- lizado pelos representantes do grupo de Sul os Colegiados ainda estão na etapa de ticipar ativamente da estratégia. Essa foi uma trabalho do Colegiado Territorial da Bacia mobilização. Já os Territórios da Bacia do parceria que nos surpreendeu”, revela Ângela. do Jacuípe, que, em 2009, apresentaram Jacuípe, do Sisal e do Velho Chico conse- O trabalho de elaboração e implemen- uma proposta do que se tornaria, poste- guiram organizar oficinas nas suas regiões. tação dos planos territoriais de cultura não riormente, o Plano Territorial de Cultura. A superintendente considera que os prota- ficou restrito à Secult-BA. Além dos Cole- A superintendente de Cultura da Bahia, gonistas culturais dos cinco territórios estão giados Territoriais, o apoio do Ministério Ângela Andrade, destaca que a intensa ati- vivendo um momento de “experimentação da Cultura, por meio dos Pontos de Cultu- vidade sociocultural no estado e as expec- metodológica”. “Futuramente, a nossa in- ra, da Secretaria Estadual de Planejamento tativas de dinamização econômica do setor tenção é expandir essa discussão para os e das dez universidades públicas, foi es- em curto prazo foram levadas em conta na outros 21 territórios”, sinaliza Ângela. sencial para afirmar essa política nos terri- elaboração do plano. O processo começou tórios. Ângela também destaca o papel da com a mobilização dos Colegiados Terri- Estagnação cultural – A superintendente SDT/MDA nessa empreitada: “A SDT/MDA toriais e, em seguida, com a realização de de Cultura lembra que alguns municípios nos deu régua e compasso para desenhar- duas oficinas, que serviram para analisar baianos estavam “estagnados culturalmen- mos o desenvolvimento de acordo com a o contexto da cultura de cada território e te”. Era preciso, portanto, colocar os (as) nossa proposta”. Ela não tem dúvida de traçar os programas e projetos prioritários. gestores (as) municipais e a sociedade em afirmar que a estratégia territorial é trans- Ela entende que esse plano é funda- constante diálogo para desenvolver os po- formadora: “Até agora não vi nada igual na mental para disseminar as políticas de tenciais culturais e fortalecer as redes de gestão pública. Espero que em dez anos cultura. “Esse documento vai fortalecer os cooperação e de sustentabilidade. tenhamos outro País”, lança o desafio. Desenvolvimento Territorial em Foco 13 "O processo de dos formalizou a inserção das comunidades territorialização PTDRS nos 13 territórios rurais do Ceará indígenas na abordagem territorial. “Esse do município tornou a seguiu as orientações da Secretaria foi o segundo passo que demos para gestão mais democrática de do melhorar a condição de vida das comuni- e organizada e Ministério do Desenvolvimento Agrário dades na região”, afirma Dílson Ingarikó, (SDT/MDA). Foram feitos levantamen- membro do Colegiado Territorial e asses- tos de dados com instituições gover- sor de gestão político-institucional do namentais e a verificação dessas infor- Conselho dos Povos Indígenas Ingarikó mações com os comitês temáticos dos (Coping). Segundo ele, esse processo co- Colegiados seguida, meçou com a homologação da demarca- esses diagnósticos foram validados em ção contínua da reserva indígena Raposa plenárias e as proposições elencadas fo- Serra do Sol. também permitiu a descentralização dos recursos da prefeitura." Expedito do Nascimento Prefeito de Piquet Carneiro (CE) nizada. “Com o auxílio de associações comu- O processo de construção Desenvolvimento Territoriais. Territorial Em ram discutidas em oficinas. A metodologia participativa que en- nitárias, identificamos como poderíamos me- A legitimação do PTDRS de cada ter- volveu as organizações indígenas e as três lhorar o atendimento à saúde e ampliamos o ritório cearense se deu somente após esferas do poder público levou em consi- número de postos de saúde”, exemplifica. a última rodada de debates territoriais. deração a valorização de cada cultura in- Os avanços obtidos permitem que o Atualmente, o estado já finalizou sete pla- dígena do território. “O fator cultural é o prefeito afirme que a experiência com o nos territoriais. A previsão dos membros norteador para as demais dimensões do PTDRS foi uma “forma de reinventar a po- do GTT é de que os demais serão concluí- desenvolvimento”, esclarece Válter Freitag, lítica” no seu município. Ele reconhece que dos em fevereiro de 2011. consultor do Coping. A elaboração da metodologia do PEI a estratégia de desenvolvimento territorial sustentável é uma “invenção” do governo Metodologia diferenciada contou com a participação de 17 or- Lula e não demonstra qualquer incômodo A criação do Território da Cidadania ganizações indígenas que atuam em político: “Atualmente temos de escolher Indígena Raposa Serra do Sol e São Roraima, com destaque para a Aliança ideias e não siglas”, justifica Expedito. Marcos foi uma reivindicação das etnias de Desenvolvimento e Integração das O Ceará é um dos estados da Região Ingarikó, Wapixana, Pantamona, Macuxi Comunidades Nordeste que adotaram o planejamen- e Taurepang, que ocupam uma área de Associação dos Povos Indígenas (Apirr), to territorial (vide página 9). O Grupo 23 quilômetros quadrados no norte do o Conselho Indígena (CIR), a Organização de Trabalho pela Territorialização (GTT) estado de Roraima. A adesão à política das foi instituído pelo Conselho Estadual de de territorialidade faz parte da luta dos Sociedade de Índios Unidos (Sodiur) e a Desenvolvimento Rural Sustentável, por povos indígenas para superar os proble- Coping. A Funai também participou ati- meio da Resolução 101/2010. O GTT é mas seculares de opressão cultural e ex- vamente do processo de elaboração da formado por representantes da Secretaria clusão econômica. estratégia metodológica para articular, Estadual de Agricultura, da Delegacia O Plano de Etnodesenvolvimento Mulheres Indígenas Indígenas (Alidicir), (Omir), a a sensibilizar e integrar as etnias, bem como Federal do MDA, do Conselho Estadual de Indígena (PEI) nomenclatura dada pe- unificar um planejamento que valorizasse Desenvolvimento Rural Sustentável e do los membros do Colegiado Territorial ao as identidades e o protagonismo de cada Instituto Agropolos. PTDRS – representa o instrumento que comunidade. 14 Desenvolvimento Territorial em Foco O Coping e a Funai também foram responsáveis pela capacitação de 240 agen- senvolvimento, territorialidade, cidadania e indígenas. “Essa união é o primeiro políticas públicas. passo para assegurar o etnodesenvol- tes indígenas de desenvolvimento, sendo O plano está em vias de ser fina- vimento. Sem isso, seria difícil trazer 30 de cada uma das oito regiões indígenas lizado e já apresenta resultados sig- novas visões para a discussão conjun- do território. A experiência girou em torno nificativos, como a aproximação en- ta e realizar atividades no Colegiado”, da discussão de questões sobre etnode- tre o poder público e as lideranças ressalta Ingarikó. PTDRS: presente e futuro Os Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) são o insumo gerador dos projetos e das informações para a elaboração da estratégia territorial. Eles também ajudam os Colegiados a identificar os projetos estratégicos para os territórios rurais. Vale destacar, ainda, a contribuição dos PTDRS para o resgate da cidadania como forma de ampliar os direitos civis, sociais e ambientais para a população rural. “Os territórios estão construindo alternativas para a diminuição das desigualdades sociais e regionais”, aponta Fernanda Corezola, diretora do Departamento de Ações Territoriais (Deter) da SDT/MDA. Atualmente, 136 PTDRS foram concluídos, sendo 74 qualificados em 2010. Os 164 Territórios Rurais apoiados pela SDT/MDA devem finalizar os planos territoriais em maio de 2011. A figura ao lado mostra que as regiões Nordeste e Norte juntas somam 50 PTDRS elaborados. Esses planos estão disponíveis no Sistema de Informações urbanos é um desafio a ser superado nos gestora também defende a necessidade Territoriais (SIT) no site da SDT/MDA próximos anos. “É preciso repensar as polí- de os PTDRS serem apropriados por outros (www.mda.gov.sdt). ticas públicas em nosso País, para superar- atores sociais e de os colegiados influen- Segundo Corezola, a articulação da di- mos a visão e a tendência excessivamente ciarem de forma decisiva a montagem dos nâmica rural com a realidade dos centros urbanística do planejamento”, propõe. A Planos Plurianuais em todo o País. Desenvolvimento Territorial em Foco 15 Gestão social do desenvolvimento – Fortalecimento dos Colegiados Colegiado territorial: protagonista do novo Brasil rural Arquivo SDT/MDA Recursos do Proinf financiaram a apicultura no Território da Cidadania Planalto Norte, em Santa Catarina A s políticas do Desenvolvimento Programa ganizada em diálogo com o poder públi- Os Colegiados Territoriais vêm sendo Sustentável co contrapõe-se às práticas históricas de construídos desde 2003, como elemento clientelismo político. estruturante da implementação da es- de Territórios Rurais (Pronat) vêm mudando de forma significativa as Esses novos espaços de representa- tratégia territorial. Além de identificar as relações do Estado com o Brasil rural. Os ção social e política formularam, a partir demandas dos territórios e de contribuir Colegiados Territoriais estão permitindo de consensos e pactuações, estratégias para a elaboração dos planos territoriais, a introdução de novas práticas na gestão das políticas públicas, que se materia- os Colegiados exercem a função de con- social das políticas para o meio rural. A lizam por meio de planos, projetos e trole social da execução do Pronat e do participação ativa da sociedade civil or- ações concretas. Programa Territórios da Cidadania (PTC). 16 Desenvolvimento Territorial em Foco Portanto, os Colegiados Territoriais se desta década. O esgotamento desse ciclo a aquisição de equipamentos e para ca- apresentam como porta-vozes dos seg- provocou sérias dificuldades financeiras pacitar os (as) agricultores (as) familiares. mentos sociais – agricultores (as) fami- para os (as) produtores (as) familiares. “Esse objetivo foi plenamente alcançado. liares, assentados (as) da reforma agrá- A crise envolveu outros 13 muni- O resultado foi a manutenção dos (as) ria, quilombolas, indígenas, entre outros cípios que compõem o Território da fruticultores (as) na cidade de Canoinhas – que historicamente permaneceram à Cidadania Planalto Norte. Diante dessa e a diversificação na produção”, relata margem do desenvolvimento socioeco- situação, o Colegiado Territorial cata- Leoberto Weinert, prefeito do município. nômico no campo. Apesar de essas ins- rinense começou a buscar alternativas No caso de Campo Alegre, está sen- titucionalidades terem menos de uma de produção e de renda. A fruticultura, do construído um entreposto de mel que década de existência, já estão deixando em Canoinhas, e a produção de mel, em vai atender cerca de mil famílias de api- suas marcas no novo Brasil rural que Campo Alegre, foram, então, identifica- cultores de 11 municípios do Território emergiu a partir do governo Lula. das como cadeias estratégicas para o Planalto Norte. A produção da região desenvolvimento da região. deverá ser exportada para atender às de- Superação da crise O passo seguinte foi elaborar um pla- mandas do mercado externo. A atividade extrativista vegetal que, no territorial para explorar esse potencial durante muitas décadas, pautou a eco- econômico e buscar recursos do Programa nomia de Canoinhas, em Santa Catarina, de Apoio a Projetos de Infraestrutura e O prefeito de Canoinhas lembra atingiu um período de exaustão no início Serviço em Territórios Rurais (Proinf) para que produtores (as) rurais e outros Tomada de consciência segmentos sociais do território desen- Desafios dos Colegiados Territoriais volveram a consciência de que a busca pela sustentabilidade dependia da A organização dos Colegiados Territoriais deu um salto de qualidade nos últimos criação de um novo modelo de gestão anos. O I Salão Nacional dos Territórios Rurais, em 2006, começou a discutir a cria- e dos projetos elaborados a partir dele. ção de uma rede nacional, que foi concretizada durante o IV Encontro Nacional de “Isso foi decisivo para mudar o pano- Colegiados Territoriais, em março de 2010. Os territórios constituíram também redes rama local. A estratégia territorial fo- estaduais em todo o País e agora trabalham para consolidar essas organizações. mentou a harmonia e agregação dos As parcerias firmadas pela SDT/MDA também foram fundamentais para garantir os avanços das políticas territoriais. A Secretaria de Desenvolvimento Territorial registra que, atualmente, cerca de 11,7 mil entidades atuam nos Colegiados Territoriais. “Não teríamos chegado aonde chegamos sem o trabalho desses parceiros, tanto no setor público como na sociedade civil”, garante Humberto Oliveira, secretário da SDT/MDA. Ele avalia que a participação de gestores públicos nas ações territoriais ainda é muito reduzida e que isso dificulta o processo de desenvolvimento. “É preciso estimular a capaci- atores sociais municipais em busca do resgate do extrativismo e de outras potencialidades”, conta. Segundo Weinert, o trunfo dessa política está na prática da gestão social, que tem o Colegiado Territorial como a prin- tação de gestores públicos que ainda não se envolveram com a política territorial, inclusive cipal ferramenta para buscar o desen- aqueles que já participam dos Colegiados Territoriais”, aponta. volvimento em conjunto. “É uma forma O titular da SDT/MDA entende que as prefeituras têm papel fundamental no desenvol- de trabalhar com os desiguais, tentando vimento rural sustentável. “Elas precisam sair do isolamento local e pensar na amplitude do igualá-los numa ampla perspectiva de território. Os municípios devem usar as potencialidades e buscar soluções de problemas desenvolvimento”, explica. comuns ao território”, convoca o secretário. Entretanto, os avanços na área da saú- O acompanhamento da execução das políticas públicas e o monitoramento de resul- de ainda são acanhados, apesar dos es- tados e impactos é outro desafio para o próximo período. “O controle social, inclusive em forços para a formação de redes públicas. situações de denúncias sobre a má condução das ações, traz ganhos para a população dos Segundo o administrador, essa timidez territórios”, afirma. Desenvolvimento Territorial em Foco se deve, em parte, à pouca participação 17 Arquivo SDT/MDA Comitês temáticos de mulheres discutem a questão de gênero nos territórios rurais dos gestores municipais nas decisões do o caso do comitê de gênero no Espírito que a iniciativa está contribuindo para a território. “Nem todos os prefeitos parti- Santo. Até 2005, as reivindicações das construção de um território mais justo. cipam do colegiado”, lamenta. mulheres rurais não constavam da agen- “A partir do momento em que nos uni- da do governo estadual e das prefeituras. mos e reafirmamos o nosso papel dentro A saída encontrada pelo Colegiado do Colegiado, conseguimos que outras Protagonismo das mulheres Os Colegiados Territoriais são condu- Territorial foi começar a criar comitês zidos por um núcleo dirigente, que exe- de mulheres. O primeiro deles surgiu no Apesar dos avanços na formação de cuta as deliberações das plenárias. Eles Território Norte do estado. “Tivemos de grupos produtivos e da assistência à saú- são compostos também por núcleos téc- impor a nossa vontade e reivindicamos a de da mulher, Kátia constata que ainda há nicos, câmaras temáticas e por comitês criação do comitê”, afirma Kátia Santos, discriminação no Colegiado. “Se as mu- setoriais que tratam de segmentos so- representante do Comitê de Mulheres do lheres lutassem pelo que acreditam, mui- ciais específicos. Essa estrutura é capaz Território Norte. ta coisa mudaria”, aconselha. Contudo, organizações nos valorizassem”, afirma. de captar as demandas da população e Atualmente, cerca de 30 mulheres ela avalia que muita coisa mudou a partir propor ações concretas para os gestores participam do Colegiado Territorial e 10 dessa organização. “Ter um espaço onde públicos. entidades – sindicatos, movimentos so- podemos modificar essa realidade já é Portanto, cabe ao Colegiado Territorial ciais, cooperativas, associações e comu- uma grande evolução. O Colegiado per- ocupar os espaços políticos e apresentar nidades tradicionais – passaram a atuar mite que tenhamos voz e que sejamos propostas de políticas públicas. Esse é no comitê de mulheres. Kátia acredita respeitadas”, conclui. 18 Desenvolvimento Territorial em Foco Formação de agentes de desenvolvimento Rosenato Barreto/UFCG O campus de Sumé (PB) é uma conquista do Colegiado Territorial do Cariri Ocidental Formadores de uma nova realidade rural O êxito das políticas de desenvolvimento territorial não depende somente do planejamento. É necessário ter pessoas capacitadas. É por isso que a formação do capital humano é um dos principais eixos de atuação do Pronat Desenvolvimento Territorial em Foco O s membros do Colegiado do educacionais para a população que habita o Território do Cariri Ocidental, na bioma da caatinga, por meio das atividades Paraíba, reivindicaram em 2006, de ensino, pesquisa e extensão. do Ministério da Educação (MEC), a criação O Cariri Ocidental faz parte dos 60 ter- de um campus da Universidade Federal ritórios rurais que elegeram a educação de Campina Grande (UFCG) na cidade de como prioridade estratégica. O Colegiado Sumé. A demanda da população da região Territorial, com o apoio da Secretaria de entrou em sintonia com a política do go- Desenvolvimento Territorial do Ministério do verno federal de democratizar o acesso às Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), inves- universidades públicas e o resultado dessa tiu na formação de educadores do campo, se parceria foi a instalação, em março de 2010, articulou com o Fórum Estadual de Educação do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Campo e mapeou os jovens que não ti- do Semiárido (CDSA) no município. nham acesso ao ensino superior na região. O objetivo do centro é contribuir para a O Colegiado Territorial também par- construção de um novo referencial científico- ticipou da concepção e da estruturação tecnológico para o desenvolvimento susten- do campus de Sumé. Essas discussões tável do Semiárido. O campus também abre resultaram na criação de sete cursos de novas perspectivas econômicas, produtivas e graduação: Licenciatura em Educação do 19 Campo, Licenciatura em Ciências Sociais, Agricultura (Contag) e já formou 200 li- Território do Sisal. A proposta do MOC era Superior em Tecnologia e Gestão Pública, deranças desde sua criação em 2003. “A aliar a formação com a mobilização social Superior em Tecnologia em Agroecologia, iniciativa gerou uma discussão sobre a e uma atividade produtiva. “A iniciativa do Engenharia de Produção, Engenharia de importância do ensino superior para aten- MOC foi fundamental para a concretização Biossistemas, Engenharia de Biotecnologia der às necessidades da região. Foi a partir de nosso projeto. Eles nos prestam asses- e Bioprocessos, que já receberam a ins- daí que houve a mobilização para trazer a soria e também contratam os nossos servi- crição de 680 alunos. O CDSA também UFCG para Sumé”, lembra Socorro Silva, ços”, explica Camila Oliveira, coordenadora oferece coordenadora da Unidade Acadêmica de da Agência Mandacaru. pós-graduação em Educação Contextualizada no Semiárido. Educação do Campo do CDSA/UFCG. A construção do campus de Sumé está inserida na política de desenvolvimento do O projeto é administrado por jovens entre 16 e 26 anos e sua finalidade não Comunicação territorial se limita à produção de conteúdo. “Nosso Cariri. Desse modo, a mobilização em tor- O envolvimento de jovens no proces- objetivo é colocar os jovens como agentes no da ampliação da Universidade Federal so de formação de agentes de desenvol- de comunicação e mobilização em favor de Campina Grande faz parte da dinâmica vimento não é exclusividade do território do desenvolvimento. Isso é fundamental do desenvolvimento territorial. paraibano. Na Bahia, uma experiência com para que eles se insiram no debate territo- A proposta de capacitação da juven- comunicação territorial vem dando visibili- rial”, explica Camila. tude rural pela Universidade Camponesa dade às ações desenvolvidas no Território A agência tem assento no Colegiado (Unicampo) também está diretamente re- do Sisal. Em cinco anos de existência, a Territorial e sua atuação está centrada na lacionada com a estratégia de formação e Agência Mandacaru já produziu muitas identificação dos problemas e apresen- multiplicação de agentes de desenvolvi- notícias online, fotografias e material au- tação de soluções para as demandas da mento no território. A Unicampo é resulta- diovisual sobre os avanços da política de juventude rural. O protagonismo nas po- do da parceria entre a UFCG, o Projeto Dom desenvolvimento territorial na região. líticas de desenvolvimento rural sustentá- Helder Câmara, o Centro de Cooperação A Agência Mandacaru surgiu a par- vel também garantiu aos seus dirigentes Internacional em Pesquisa Agronômica tir de um projeto de geração de renda a participação nos Conselhos Municipais para o Desenvolvimento e a Confederação para jovens, elaborado pelo Movimento de Juventude, da Merenda Escolar e da Nacional dos (as) Trabalhadores (as) na de Organização Comunitária (MOC) do Criança e do Adolescente. SDT/MDA prioriza parcerias para formar agentes de desenvolvimento Os agentes de desenvolvimento são ços de decisão que a política territorial ofe- to apresentem resultados satisfatórios. O atores sociais cuja missão é difundir as es- rece e prioriza a temática de educação do engajamento dos Colegiados Territoriais tratégias territoriais e promover a gestão campo, com foco na identidade cultural e também é imprescindível para o sucesso social de políticas públicas no âmbito do na realidade do meio rural. A proposta de das experiências de capacitação. “O com- desenvolvimento rural sustentável. O pro- formação dos agentes de desenvolvimento prometimento do Colegiado com a temá- cesso de formação parte do conceito de contempla, ainda, a diversidade de gênero e tica da educação só enriquece o processo territorialidade, trabalha com a metodolo- as agendas dos jovens, quilombolas, indíge- de formação de agentes, uma das principais gia para articular a política de desenvolvi- nas, entre outros, na perspectiva de incor- linhas de atuação para o desenvolvimento mento rural sustentável e detalha os ins- porar suas demandas nos planos territoriais. territorial”, defende Fernanda Corezola, di- trumentos utilizados pela SDT/MDA como A SDT/MDA considera que a parce- retora do Departamento de Ações Territo- ria com organizações sociais e instituições riais da Secretaria de Desenvolvimento Ter- A capacitação também incentiva a públicas é essencial para que as ações de ritorial do Ministério do Desenvolvimento participação dos atores sociais nos espa- formação de agentes de desenvolvimen- Agrário (Deter/SDT). o Pronat e o Proinf, entre vários outros. 20 Desenvolvimento Territorial em Foco Avanços e conquistas Gerais. Essa ação é desenvolvida por inter- “A Agência Mandacaru teve papel importante na formação de vários agentes, seja reproduzindo o conteúdo de eventos do território, seja buscando parcerias para ‘educar’ jovens” Desde sua criação, em 2005, a Agência médio de 13 grupos de trabalho, que têm a Mandacaru vem colecionando resultados função de fortalecer eixos temáticos conside- positivos. Um deles é a conquista do cur- rados estratégicos para a região, a exemplo so de Comunicação Social no campus da de educação, fruticultura, apicultura e comer- Universidade do Estado da Bahia (Uneb), cialização de produtos da agricultura familiar. em Conceição do Coité. A reivindicação A tarefa dos agentes que participam das partiu dos jovens, que também foram ca- atividades de capacitação é repassar o que pacitados nas áreas de fotografia, audio- foi aprendido para outras pessoas nas suas visual com foco na cultura e assessoria de comunidades. Isso significa que, na prática, imprensa. O processo de capacitação foi eles se transformam em agentes multipli- A proposta da Cooperativa Escola é dado pelos professores da Uneb. cadores. “As pessoas percebem que podem desenvolver os empreendimentos rurais e O trabalho de articulação da agência transformar a realidade que não está tão fortalecer as entidades cooperativas e as- garantiu, ainda, a participação de jovens no boa em uma realidade melhor, produtiva”, sociativas por meio da formação do agri- Comitê Gestor do Pacto Nacional Um Mundo afirma Wagner Abreu, assessor técnico do cultor familiar. A ideia é aliar o conheci- para Crianças e Adolescentes do Semiárido, Território do Alto Jequitinhonha. mento teórico dos técnicos com o acúmulo Camila Oliveira Agência Mandacaru da Organização das Nações Unidas (ONU). O Colegiado Territorial também traba- prático dos (as) produtores (as), para que “A Agência Mandacaru teve papel impor- lha a formação de agentes de desenvolvi- esses adquiram as condições necessárias tante na formação de vários agentes, seja mento mediante a elaboração de estudos para administrar uma cooperativa. reproduzindo o conteúdo de eventos do ter- de cadeia produtiva. “O propósito dessa De acordo com Vanderley Ziger, presi- ritório, seja buscando parcerias para ‘educar’ ação é identificar os potenciais do territó- dente do Sistema Cresol, a aproximação en- jovens”, afirma Camila Oliveira. rio e orientar os atores sociais de acordo tre técnicos (as) e agricultores (as) resultou com a realidade e as demandas da popula- no incremento das condições econômicas ção local”, esclarece Abreu. das propriedades rurais e na melhoria da A coordenadora do projeto conta também que as parcerias foram importantes porque ajudaram a agência a se estabelecer como um canal de comunicação confiável, Cooperativismo gestão das cooperativas e das propriedades. “É visível o conhecimento que adqui- ainda que gerida por jovens que estão ad- Na Região Sul, a Cooperativa Escola, li- rem. Os (as) agricultores (as) compreende- quirindo experiência. “É uma forma de so- gada ao Sistema de Cooperativas de Crédito ram o processo de gerenciamento de uma mar esforços para fortalecer o território por Rural com Interação Solidária (Cresol), é cooperativa, seja ela de crédito, de produ- meio da comunicação. Não basta ter boas o braço dos Territórios Rurais de Santa ção ou de habitação”, comemora. ações desenvolvidas sem dar visibilidade Catarina – Alto Vale do Itajaí e Meio Oeste O dirigente do Cresol acrescenta que dentro e fora do território”, defende. Contestado – e do Paraná para a capacita- a implantação da política territorial con- ção dos (as) agricultores (as) familiares. tribuiu para o processo de formação de É por essa razão que a Mandacaru foi selecionada como uma das boas prá- A cooperativa já formou 3,5 mil agen- agentes de desenvolvimento territorial, ticas territoriais da Bahia e convidada tes de desenvolvimento em gestão coope- uma vez que trabalha com heterogenei- pela SDT/MDA para participar do II Salão rativista, financeira, operacional e estraté- dade territorial. “Eu não posso trabalhar a Nacional dos Territórios Rurais. gica. Além dos (as) produtores (as) rurais, capacitação no Vale do Ribeira, no Paraná, o público-alvo é composto por agentes da mesma forma que promovo um curso comunitários, gestores (as) e funcionários no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. São A formação de agentes de desenvolvi- (as) de cooperativas de nove territórios: realidades econômicas e culturais distintas. mento também faz parte das prioridades do dois de Santa Catarina, Alto Vale do Itajaí e A discussão territorial para mim foi funda- Território do Alto Jequitinhonha, em Minas Meio Oeste Contestado, e sete do Paraná. mental”, constata Ziger. Agentes multiplicadores Desenvolvimento Territorial em Foco 21 Dinamização econômica dos Territórios Rurais Infraestrutura para gerar renda nos territórios Criado para financiar e viabilizar projetos estruturantes de apoio à agricultura familiar, O s (as) agricultores (as) familiares territorial, que recebeu apoio do Programa e assentados da reforma agrária de Apoio a Projetos de Infraestrutura e do Território do Médio Sertão, Serviço em Territórios Rurais (Proinf). na Paraíba, identificaram, em 2005, que a O Proinf foi criado pela Secretaria de comercialização de seus produtos era um Desenvolvimento Territorial do Ministério dos principais problemas na região. As dis- há oito anos o Proinf colabora do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) cussões no Colegiado de Desenvolvimento com o desenvolvimento rural em 2003, para alavancar recursos para pro- Territorial (Codeter) apontaram, então, jetos de desenvolvimento rural sustentável sustentável para a necessidade de se criar uma feira nos 164 territórios rurais. A SDT/MDA in- para vender o excedente da produção. vestiu, nos últimos oito anos, cerca de R$ Mas, para que a ideia se tornasse realida- 1,5 bilhão, recursos que beneficiaram, dire- de, era preciso buscar recursos, escolher um ta ou indiretamente, produtores (as) rurais local, comprar barracas e equipamentos e de 2,5 mil municípios brasileiros. capacitar os (as) produtores (as) para traba- A SDT/MDA disponibilizou R$ 70 mil re- lhar com a comercialização direta. Essas de- ais desse valor para financiar o projeto do mandas foram transformadas em um projeto Território do Médio Sertão. Os recursos do Divulgação Feira de Patos, na Paraíba, comercializa produtos da agricultura familiar 22 Desenvolvimento Territorial em Foco Proinf foram utilizados para a compra das Enfoque territorial barracas, balanças e embalagens. A prefeitura de Patos, cidade onde a feira foi instalada – entrou com a doação da área e a liberação de R$ 3,5 mil. A parceria entre o Colegiado Territorial, o poder local e o governo federal deu certo e a feira foi inaugurada em 2008. Capacitação Os (as) feirantes fundaram uma associação, que é responsável pela organização do empreendimento. A feira comercializa a produção de 27 famílias, de 10 cidades do Médio Sertão, e vende seus produtos, sempre às quintas-feiras, para os cerca de 100 mil habitantes de Patos. A oferta de capacitação técnica para O Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviço em Territórios Rurais (Proinf) foi criado a partir do Programa Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (Pronat), que visa a apoiar agricultores (as) familiares, quilombolas, pescadores, comunidades ribeirinhas e indígenas. Em princípio, os recursos do programa eram repassados para projetos de um determinado município, mas posteriormente eles se adequaram ao enfoque territorial. “Essa mudança garantiu melhor custo benefício em relação aos projetos anteriores, que precisavam ser replicados nos municípios vizinhos”, afirma Reinaldo Pena Lopes, coordenador do Proinf. As ações apoiadas pelo Proinf são escolhidas pelo Colegiado Territorial e analisadas pela Câmara Técnica do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável e pela Delegacia de Desenvolvimento Agrário. Depois de aprovado pelas três instâncias, o projeto é encaminhado para a SDT/MDA autorizar o repasse dos recursos pela Caixa Econômica Federal, que também contrata os parceiros, paga e fiscaliza a execução dos projetos. os (as) feirantes foi uma das primeiras reivindicações da associação. “Quando a O projeto vai entrar agora em uma nova feitura de Lapão e o governo federal. O feira foi criada, os (as) agricultores (as) re- etapa. A SDT/MDA já destinou R$ 115 mil município doou o terreno e ofereceu in- ceberam orientação na área de produção para aquisição de veículos, que serão uti- fraestrutura, como água e energia elétrica. e comercialização”, conta Flávio Luna. O lizados para transportar produtos, equipa- A SDT/MDA, por meio do Proinf, destinou consultor acrescenta que, recentemente, a mentos e utensílios. A cobertura do local, RS 1,2 milhão para a aquisição de cami- SDT/MDA concluiu um estudo da cadeia outra reivindicação da associação, também nhões, tratores e equipamentos utilizados de hortifruticultura na região, que ma- será providenciada, para dar mais conforto no transporte de grãos, no plantio, no peou todas as etapas, desde a produção aos (às) feirantes, que sofrem com o calor manejo do solo e no beneficiamento. até a comercialização, e levantou os cus- na maior parte do ano e com a chuva, nos tos e a logística necessária para aperfeiço- meses de março a junho. ar o negócio. “Isso é importante para que eles possam garantir uma variedade necessária de oferta e adequar a produção à Biodiesel A esmagadora foi inaugurada em maio de 2010 e o empreendimento é administrado pela Cooperativa dos (as) Produtores (as) da Agricultura Familiar do Território A Bahia já foi a maior produtora de ma- de Irecê (Coafti). Segundo Genildo Alves, mona do mundo, nos anos 50, mas o plantio A população de Patos também saiu ga- presidente da Coafti, ainda não foi possível perdeu força ao longo das últimas décadas nhando, porque passou a contar com uma mensurar o aumento na renda das famílias devido à competição com a China. A aposta opção de alimentos saudáveis à mesa. produtoras. Porém, ele assegura que a pro- do governo federal no programa do biodie- Quando a feira começou a funcionar de dução do óleo agrega, pelo menos, 37% sel e a instalação de uma esmagadora da fato, os (as) feirantes ofereciam alimentos de valor ao produto. “Em quatro meses de oleaginosa na região reverteram essa ten- tradicionais e agroecológicos. Porém, os produção, a cooperativa faturou R$ 6 mi- dência e trouxeram novas esperanças aos (as) produtores (as) decidiram que, em no lhões, investidos, em parte, na compra de (às) agricultores (as) familiares e assentados máximo dois anos, vão se dedicar exclusi- máquinas e equipamentos”, registra. da reforma agrária do Território de Irecê. demanda”, explica Luna. O dirigente da Coafti afirma, com orgu- vamente à produção agroecológica. “Eles A instalação dessa unidade de esma- já estão recebendo capacitação técnica lho, que o Programa Nacional de Biodiesel gamento foi resultado do projeto territo- para fazer essa transição e se orgulham é responsável por 12% da renda da região rial apresentado, em 2004, pelo Comitê de produzir alimentos sem veneno. Vai ser de Irecê. “Hoje o (a) agricultor (a) pode vi- Gestor do Colegiado Territorial. Assim uma produção limpa e sustentável”, pro- ver apenas do cultivo da mamona. O preço como na Paraíba, a demanda foi atendi- mete Luna. está estabilizado e o lucro é garantido”, co- da por meio de uma parceria entre a pre- memora Alves. Desenvolvimento Territorial em Foco 23 Ampliação das parcerias O sucesso dos empreendimentos apoiados pelo Proinf se deve também às parce- mento”, explica Juarez de Paula, gerente da Unidade de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional. rias com outras instituições, como Serviço O gerente explica que essa parceria Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena não é resultado de um convênio formal Empresa (Sebrae) e Banco do Nordeste entre as duas instituições: “Nós atua- (BNB). O aporte desses parceiros é impor- mos com estratégias semelhantes para tante porque eles possibilitam que, além promover o desenvolvimento. Sempre da infraestrutura fornecida pela SDT/MDA, participamos a comunidade beneficiada também receba de Desenvolvimento Rural Sustentável apoio técnico e investimentos financeiros (Condraf) e acompanhamos as dis- para melhorar e aumentar a produção. cussões que deram origem ao MDA, do Conselho Nacional “Em quatro meses de produção, a cooperativa faturou R$ 6 milhões, investidos, em parte, na compra de máquinas e equipamentos” Genildo Alves Presidente da Coafti A expertise do Sebrae na área da comer- à SDT e à política de territorialidade. cialização tem sido muito útil para os (as) Também trabalhamos com os conceitos agricultores (as) familiares. Após montar de territórios e de identidade cultural. O BNB também possui linhas de crédito uma agroindústria, por exemplo, é preciso A diferença é que o Sebrae atua tam- para fomentar o desenvolvimento territo- fazer que os produtos tenham saída. É nes- bém com empreendimentos urbanos”, rial sustentável. A liberação desses recur- sa etapa que os consultores especializados afirma Juarez. sos é condicionada a estudos prévios dos Crédito nos pequenos negócios rurais orientam os Essa convergência se confirma nos sistemas produtivos do território e à ela- (as) produtores (as) sobre questões funda- Colegiados Territoriais, que, em muitos ca- boração de planos territoriais de cadeias mentais, como criação de embalagens, de- sos, contam com a participação de repre- produtivas (PTCP) para detectar problemas senvolvimento da marca e certificação de sentantes do Sebrae. “Ao contrário do que e oferecer soluções. Essa medida propor- produtos, entre outras. Eles também atuam acontece com o investimento do governo, ciona mais segurança tanto para o banco na capacitação em técnicas de produção e o Colegiado não tem autonomia para de- como para os (as) produtores (as), pois são gestão dos empreendimentos. “O Sebrae cidir sobre os recursos do Sebrae, mas dia- eliminados os possíveis entraves para o su- não pode investir recursos em patrimônio logamos com essa instância para receber cesso do empreendimento. físico como galpões, máquinas e equipa- indicações de como e onde usar o dinhei- mentos. O que fazemos é oferecer conheci- ro”, conclui. Os financiamentos do BNB destinamse à revitalização de empreendimentos que já receberam recursos do Proinf, mas Instrumentos do Proinf ainda precisam de apoio para funcionar de forma mais eficiente. “Se há uma casa Os projetos de infraestrutura executados nos territórios rurais são balizados por um de farinha que não está funcionando conjunto de ferramentas que potencializam o sucesso das ações. A partir da matriz do Pla- como deveria, investimos tanto na revita- no Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), o plano territorial de cadeias lização da casa como oferecemos crédito produtivas faz um diagnóstico de todas as etapas do processo produtivo em cada território. para os (as) produtores (as) de mandio- Esse estudo preliminar é fundamental para assegurar resultados positivos para os pro- ca, que fornecem a matéria-prima”, ex- jetos. “Em uma cadeia de apicultura, por exemplo, não adianta fazer uma grande unidade plica Carlos Pinto, gerente de Políticas de beneficiamento se não há quantidade de mel suficiente. O plano de cadeia vai apontar Territoriais, Ambientais e de Inovação da quantas colmeias são necessárias, quantas casas de mel, quantos tanques de decantação instituição financeira. e quantos veículos para transportar o produto até a unidade de beneficiamento”, explica A parceria entre a SDT/MDA e o BNB Vital Filho, diretor do Departamento de Cooperativismo, Negócios e Comércio (Decoop) nos territórios rurais é antiga, mas a coope- da SDT/MDA. ração formal foi assinada somente no iní- A partir do plano de cadeia é feito um plano de negócios do empreendimento para cio de setembro de 2010. “A nossa meta é definir a infraestrutura necessária para cada projeto. Concluída essa etapa, os Colegiados chegar a 121 ações conjuntas até o fim do Territoriais elaboram, finalmente, os projetos territoriais para que os empreendimentos pos- ano. Esse número deve crescer significati- sam acessar os recursos do Proinf. vamente em 2011”, projeta Carlos Pinto. 24 Desenvolvimento Territorial em Foco Dinamização econômica dos Territórios Rurais Bases de serviços de comercialização: chave para a dinamização econômica Arquivo SDT/MDA Cooperativa Nossa Terra, em Erechim (RS), promove atividade de capacitação A venda dos produtos sem- O papel da BSC é suprir a necessidade técnica, do comércio justo e solidário, e das pre foi um grande entrave de assessoramento dos empreendimentos bases de serviço de comercialização”, conta para a consolidação da agri- para acesso aos mercados e ampliação e Daniel Tygel, secretário-executivo do FBES. culta familiar. A criação de Bases de geração da renda dos (as) agricultores (as) Segundo Tygel, as BSCs possibilitaram o Serviços de Comercialização (BSC) foi a familiares. atendimento à demanda de assessoria téc- solução encontrada pela Secretaria de Em nível nacional, o Fórum Brasileiro de nica especializada voltada para a comercia- Desenvolvimento Territorial do Ministério Economia Solidária (FBES) teve participação lização dos (as) agricultores (as) familiares e do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) fundamental no debate para a criação das dos (as) produtores (as) da economia soli- para superar essa deficiência no âmbito BSCs. “Trouxemos nossa expertise para o dária. “Temos no Brasil várias experiências dos empreendimentos familiares. campo da comercialização, da assistência de formação relacionadas ao empreende- Desenvolvimento Territorial em Foco 25 dorismo familiar, mas nada parecido com as de seus produtos de forma significativa. De bases. Foi um passo importante para conso- dezembro de 2008 a abril de 2009, grandes lidar a prática da economia solidária no dia redes de supermercados locais e os gover- a dia dos (as) agricultores (as)”, afirma. nos estadual e municipais desembolsaram Essa reviravolta está se tornando possí- R$ 5 milhões para a compra de produtos vel graças às ações da SDT/MDA para criar da agricultura familiar. Só o setor público estruturas de apoio à comercialização, por adquiriu R$ 2 milhões em milho, feijão, ba- meio da liberação de recursos, da identi- tatas, inhames, macaxeira, mel, frutas, en- ficação e do credenciamento de cerca de tre outras mercadorias. “Temos no Brasil várias experiências de formação relacionadas ao empreendedorismo familiar, mas nada parecido com as bases de serviço e comercialização." Daniel Tygel 150 entidades de assessoramento técnico Esse resultado pode ser creditado que atuam nos territórios rurais. A secre- à assessoria dos 20 técnicos capacita- taria também tem promovido uma série dos pelo Instituto de Cooperação para de eventos nacionais e regionais na pers- o Sustentável Familiar em Sergipe, que deve entrar em fun- pectiva de criação de uma rede nacional de (Icoderus) aos (às) 600 agricultores (as) de cionamento no início de 2011. Mas o que bases de serviços. Sergipe. O processo de qualificação gerou deve dinamizar o processo de comercializa- acréscimo de quase 200% na renda dos ção do setor é a construção da Central de produtores (as) familiares. “Antes, o litro do Cooperativas, que vai reunir todas as unida- No sertão nordestino, em apenas cinco mel era vendido por R$ 3,50. Hoje, o mesmo des estaduais e inseri-las nas chamadas pú- meses, dois mil agricultores (as) familiares produto, é comercializado a R$ 13,90”, con- blicas e nas vendas em larga escala para su- dos Territórios da Cidadania Alto Sertão, ta o presidente do Icoderus, Alex Chagas. permercados. “A intenção é conseguir novos Os números surpreendem Desenvolvimento Rural Secretário-executivo do FBES Baixo São Francisco, Sertão Ocidental e Sul Essa BSC teve papel importante na criação mercados para todos os cooperados, institu- Sergipano aumentaram a comercialização da Central de Comercialização da Agricultura cional ou não, mas sem estimular a concorrência entre eles”, explica Chagas. O processo de implantação da BSC em Surgimento das Bases de Serviços Sergipe, porém, enfrentou vários problemas, como a identificação de técnicos com A ideia de implantar as BSCs surgiu em 2003. Naquele ano, os principais movimen- foco na agricultura familiar. “Encontramos tos sociais do campo e as redes de desenvolvimento rural se reuniram para reivindicar muitas pessoas capacitadas, mas que ti- do governo federal ações concretas de comercialização dos produtos da agricultura nham o viés do agronegócio”, lembra o familiar. O resultado desse debate apontou para a criação de uma institucionalidade de presidente do Icoderus. Outra dificuldade assessoramento às unidades familiares “da porteira para fora”. foi fazer os gestores públicos municipais e A SDT/MDA fez, então, um mapeamento nos territórios e encontrou 45 organi- estaduais entenderem a importância dos zações sociais que trabalhavam com sistemas de comercialização. Apesar de esses mercados institucionais criados pelos pro- empreendimentos enfrentarem uma série de dificuldades, eles foram a base para a gramas de Aquisição de Alimentos (PAA) e criação das BSCs em 2007. Essa experiência foi analisada, no ano seguinte, na I Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, que aprovou uma política de fomento das unidades de assessoramento de comercialização da agricultura familiar. Essas contribuições foram fundamentais para que outros órgãos públicos se interessassem pelo tema e para que, em 2008, as BSCs fossem incorporadas ao Programa Territórios da Cidadania do governo federal. Atualmente, a SDT/MDA investe R$ 75 mil em cada uma das 150 BSCs. 26 de Alimentação Escolar (Pnae) e seus impactos no desenvolvimento rural. Apesar dos percalços, Alex Chagas é otimista sobre o futuro do assessoramento técnico realizado pelas BSCs. Ele espera que, nos próximos dois anos, a agricultura familiar sergipana dobre o fornecimento de produtos para a merenda das escolas públicas. Ele também trabalha com a meta Desenvolvimento Territorial em Foco de exportar para grandes centros consumidores, inclusive fora do País. Mercado externo Balanço e perspectivas O diretor do Departamento de Cooperativismo, Negócio e Comércio (Decoop) As ações voltadas para o mercado ex- da SDT/MDA, Vital Filho, acredita que a aposta no assessoramento das estruturas terno também têm garantido resultados das BSCs foi uma decisão acertada. Ele considera que elas aceleraram o processo positivos. Recentemente, a Cooperativa de discussão sobre agricultura familiar e economia solidária nos Territórios Rurais e, Nossa Terra – BSC que coordena todas as ações no Rio Grande do Sul – firmou parceria com uma processadora de laran- à medida que o processo de criação de redes for ampliado, os resultados políticos dessa experiência tendem a crescer. ja para a fabricação de suco orgânico. A A experiência dos últimos três anos indica que os empreendimentos da agricul- Ecocitrus exporta toda a sua produção e, tura familiar assessorados por essas entidades têm conseguido mais êxito do que os após esse convênio, agregou os produtos do Território Alto Uruguai à sua demanda. que não tiveram atendimento especializado. O diretor do Decoop afirma que não se “Estamos fazendo parcerias para comer- pode separar a política de fomento da comercialização dos territórios do contexto cializar o suco de laranja para fora do País, estadual. “A grande parte da riqueza dos estados está nas regiões metropolitanas e pois os valores pagos são altos e é uma for- pensar a economia do território sem levar em consideração as áreas urbanas afeta a ma de divulgar o produto no exterior”, afirma Marcelo Cozer, gerente-geral da BSC. dinamização econômica do meio rural”, destaca. As parcerias da cooperativa também Vital elenca desafios que precisam ser solucionados, como a ampliação do alcançam os mercados internos. Além de apoio às BSCs, bem como a qualificação dos técnicos para melhoria de sua atuação comercializar o excedente para outras re- junto aos empreendimentos. No entanto, as dificuldades não abalam seu otimis- giões do Rio Grande do Sul, como a Central de Comercialização de Porto Alegre, já foram iniciadas negociações com a prefeitu- mo. “Daqui para a frente, o impacto no processo de comercialização será cada vez mais expressivo”, avalia. ra de São Paulo, para o abastecimento da merenda escolar. “O consumo de suco de laranja deles é altíssimo. Seriam necessá- Diante desse feito, a experiência foi clas- tos da agricultura familiar nos 13 territórios rios 500 hectares para atender à demanda sificada como exemplo de sucesso pelo de identidade. “As BSCs têm a função de di- do mercado local”, calcula Cozer. Ministério da Educação. namizar a economia dos territórios, uma vez O plantio da fruta ocupa cerca de seis mil hectares na região do Alto Uruguai. Antes que facilitam o aumento da comercialização, Parceria estadual colocando os (as) agricultores (as) familiares das ações viabilizadas pela BSC, alguns agri- Outro caso da adequação desse instru- em contato com os mercados institucionais”, cultores (as) se desfaziam dos pomares por- mento de política pública é o envolvimen- esclarece Wilson Dias, superintendente de que o preço da produção se desvalorizava to dos governos estaduais. A Secretaria de Agricultura Familiar da Bahia. nas negociações com os atravessadores. Agricultura Familiar da Bahia, por exemplo, Segundo Dias, a atuação das BSCs fez A Cooperativa Nossa Terra ganhou o tem se destacado na gestão territorial. Os que os investimentos do PAA nos territó- status de BSC em 2008 e sua atuação vem 26 Territórios Rurais baianos possuem BSCs, rios passassem de R$ 30 milhões para R$ gerando resultados positivos. O município sendo a metade deles apoiada pela SDT/ 50 milhões por ano. Elas também fizeram de Erechim foi o primeiro do País a comer- MDA. O governo local também investiu na a ponte entre os empreendimentos e as cializar 100% dos recursos do Programa formação de 28 agentes estaduais de dina- prefeituras. “Hoje, mais de 60 prefeituras Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) mização econômica, que atuam como técni- compram além dos 30% previstos em lei”, com produtos da agricultura familiar. cos em assessoramento de empreendimen- acrescenta. Desenvolvimento Territorial em Foco 27 Dinamização econômica dos Territórios Rurais Arquivo SDT/MDA Unicafes organiza cooperativas de produção da agricultura familiar em vários estados do País Cooperativismo sustentável e solidário Cooperativas da agricultura familiar contribuem para as O O fortalecimento das coopera- série de encontros para debater medidas tivas de produção e de crédito concretas para fomentar o cooperativismo da agricultura familiar sem- brasileiro no meio rural. políticas de desenvolvimento pre foi uma das metas da Secretaria de Os participantes desses encontros indi- territorial, cujas estratégias Desenvolvimento Territorial do Ministério caram a necessidade de criar uma entidade também visam ao fortalecimento do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA). para incrementar a organização das coope- É por essa razão que a SDT/MDA promo- rativas dos (as) agricultores (as) familiares. veu logo após sua criação, em 2003, uma O fruto dessas discussões surgiu, no ano do cooperativismo no Brasil 28 Desenvolvimento Territorial em Foco seguinte, com a formação da Associação dirigentes das cooperativas em gestão e de encontros para estimular a cooperação Nacional do Cooperativismo de Crédito para oferecer assessoria técnica para seus em rede”, afirma Iara. da Economia Familiar e Solidária (Ancosol) cooperados. “Os encontros foram impor- A dirigente lembra que as discussões para ampliar as possibilidades de linhas de tantes para melhorar a eficiência na ad- sobre as políticas de comercialização do go- crédito para os (as) produtores (as) rurais. ministração das cooperativas. Esse tipo verno federal para os produtos da agricul- Um ano depois, em 2005, as lideranças de parceria ajudou no fortalecimento da tura familiar também foram de extrema im- representativas dos (as) agricultores (as) fa- rede”, avalia Valdemar de Oliveira, presi- portância: “Aprendemos como participar do miliares deram outro passo à frente e consti- dente da Ancosol. Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tuíram a União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia e do Programa Nacional de Alimentação Redes estaduais Escolar (Pnae) e depois negociamos com Solidária (Unicafes). A Unicafes nasceu A SDT/MDA também apoiou o proces- a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal). Hoje com a propósito de reunir as modalidades so de formação e consolidação das coo- vendemos, mensalmente, 50 toneladas de de produção, comercialização, trabalho, perativas nos estados. A diretora finan- alimentos para atender à rede pública esta- serviço, crédito e infraestrutura em uma ceira da Unicafes da Bahia, Iara Andrade, dual de educação”. única entidade. conta que a unidade do MDA desempe- Paralelamente à capacitação so- Além de criar as condições para esti- nhou, em 2007, papel importante na cria- bre a exploração do mercado institu- mular a discussão sobre cooperativismo, ção da rede de cooperativas em seu esta- cional gerado pelo PAA e pelo PNAE, a SDT/MDA vem promovendo nos últimos do. “A secretaria fez um diagnóstico das os (as) agricultores (as) familiares liga- anos cursos e seminários para capacitar os nossas cooperativas e apoiou a realização dos às 70 cooperativas da Unicafes baiana receberam orientações sobre o acesso ao crédito e o emprego de técnicas Mudanças na lei As entidades e redes de cooperativismo solidário no Brasil estão há tempos reivindicando alterações na legislação das cooperativas para se adequarem à realidade da agricultura familiar. Segundo Silvio Ney, presidente da União Nacional das Cooperativas de Agricultura alternativas de produção, a exemplo da agroecologia. “As nossas parcerias com a SDT/MDA criaram oportunidades para o intercâmbio entre os (as) agricultores (as). Isso permite que um aprenda com a experiência do outro”, diz a diretoria da Unicafes. Familiar e Economia Solidária (Unicafes), a Lei Geral do Cooperativismo, de tributação As bases de serviços de cooperativis- das cooperativas e a regulamentação das cooperativas de trabalho são os três pontos mo, crédito e comercialização também são centrais que precisam ser modificados com urgência. oferecidas para os (as) agricultores (as) fa- “Precisamos de uma forma diferente de tributação, pois a cooperativa não é como uma empresa comum. Ela tem fim social. Nós trabalhamos com excedentes, mas não visamos a lucro”, pondera o dirigente. A regulamentação das cooperativas de trabalho é outra proposta das cooperativas da agricultura familiar que está sendo analisada pelo Congresso Nacional. “O pro- miliares nos territórios rurais. Elas contam com estrutura e profissionais especializados para qualificar o trabalho dos cooperados. Outra ferramenta da política de desenvolvimento territorial rural utilizada pelas cooperativas são os planos de cadeia, blema é que muitas empresas se revestem de cooperativas de trabalho, o que acaba que consistem em estudos, feitos geral- dando a impressão de que todas são fraudulentas”, justifica o presidente da Unicafes. mente por técnicos de entidades parceiras, sobre todas as etapas de uma determinada Desenvolvimento Territorial em Foco 29 cadeia produtiva para identificar gargalos e social e produtiva. Os prefeitos também já formular soluções. entenderam que o cooperativismo tem o poder de aumentar a renda dos municípios”, Territorialidade sustenta. Ele aponta, ainda, um círculo vir- A expectativa da SDT/MDA é que haja tuoso que se forma a partir dessa relação: maior integração entre as cooperativas da “Com isso, muda-se a realidade dessas áre- agricultura familiar e as estratégias de de- as, contribuindo com a produção de alimen- senvolvimento territorial. Segundo Sílvio tos mais saudáveis e a diminuição do êxodo Ney, presidente da Unicafes Nacional, os rural e dos bolsões de pobreza”. “Muita gente que antes vivia abaixo da linha de pobreza se associou e está produzindo. Os prefeitos também já entenderam que o cooperativismo tem o poder de aumentar a renda dos municípios” dirigentes das cooperativas estão desper- Para Vanderley Ziger, presidente da tando para a importância da atuação nos Cresol Baser, o fortalecimento das coo- Colegiados Territoriais: “Os (as) agriculto- perativas nas áreas mais pobres só foi res (as) familiares estão descobrindo que possível em função dos Territórios Rurais a Política de Desenvolvimento Territorial e dos Territórios da Cidadania. “As coo- Rural Sustentável rende benefícios diretos perativas de economia solidária têm o Colegiados Territoriais acabam ajudando o e indiretos e está comprometida com as mesmo foco da política dos territórios. cooperativismo. “Até pouco tempo os (as) reivindicações do cooperativismo”. Elas seguem a mesma lógica”, analisa. agricultores (as) familiares não estavam no O dirigente apresenta argumentos ob- Segundo ele, 70% das cooperativas de controle das cooperativas. A organização e jetivos para demonstrar que o cooperati- economia solidária atuam nos territó- qualificação dos Colegiados Territoriais é vismo tem importância fundamental para rios. “Precisamos estreitar os laços para importante para o fortalecimento do coo- a política territorial. “Muita gente que antes aproveitar ainda mais as políticas públi- perativismo, pois eles aprendem e passam vivia abaixo da linha de pobreza se associou cas dos territórios”, sustenta. a ser sujeitos, dirigem suas próprias coo- e está produzindo. O cooperativismo já se Ziger acrescenta que as experiên- mostrou a forma mais eficiente de inclusão cias de autonomia dos atores sociais nos Sílvio Ney Unicafes Nacional perativas e se sentem mais donos e mais envolvidos no processo”, afirma. Integração necessária A organização das cooperativas da agricultura familiar é fun- (PTC), entre vários outros, são exemplos de programas que con- damental para que elas tenham força política e representatividade centram recursos para investimentos não só da SDT/MDA, mas de perante os órgãos governamentais. A defesa desse ponto de vista vários outros órgãos da administração pública federal”, lembra o é feita por Vital Filho, diretor do Departamento de Cooperativis- diretor do Decoop. mo, Associativismo, Negócios e Comércio (Decoop) da SDT/MDA. Desse modo, a conexão entre a abordagem territorial e as de- Vital também defende que as cooperativas precisam se inserir mandas dos (as) agricultores (as) familiares é bastante estreita. na política de territorialidade, pois o desenvolvimento sustentá- “Essa associação de interesses justifica plenamente a necessidade vel dos territórios rurais é uma prioridade do governo federal. “O de avançarmos na integração entre as cooperativas, os Colegia- Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviço em dos Territoriais e os instrumentos das políticas de desenvolvimen- Territórios Rurais (Proinf) e o Programa Territórios da Cidadania to territorial”, conclui. 30 Desenvolvimento Territorial em Foco Gestão e controle social das políticas públicas Arquivo SDT/MDA Rede Nacional unificou a organização dos Colegiados Territoriais Atores territoriais criam novas formas de organização Criação de redes de colegiados e estímulo à criação de consórcios públicos fortalecem os territórios rurais Desenvolvimento Territorial em Foco A política territorial de desenvolvi- III mento rural sustentável se con- Territoriais, organizado pela Secretaria de solidou ao longo dos últimos Desenvolvimento Territorial do Ministério oito anos. Os avanços obtidos são resulta- do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) dos do processo de permanente avaliação em 2009, na cidade de Beberibe, no Ceará. da estratégia territorial e do surgimento A proposta se tornou realidade no ano se- de novas institucionalidades, que aperfei- guinte, em Brasília, após a quarta edição çoaram as metodologias de intervenção do encontro dos representantes dos terri- nos territórios rurais. A criação da Rede tórios rurais de todo o País. Encontro Nacional de Colegiados Nacional de Colegiados Territoriais e o sur- A Rede Nacional foi criada para unifi- gimento dos primeiros consórcios públicos car a forma de organização dos Colegiados intermunicipais são as principais expres- Territoriais e superar as ações isoladas de sões dessas novas formas de organização. cada território rural. A ideia é fortalecê-los A ideia de se criar uma rede na- como instâncias de governança, diálogo, cional surgiu durante as discussões no participação, negociação e gestão de po- 31 Consórcios públicos líticas públicas voltadas para o desenvolvi- Secretaria Executiva da Rede Nacional, des- mento com enfoque territorial. Além dis- taca as atribuições desta instância: “O papel A política de desenvolvimento rural com so, a rede também se propõe a mobilizar da Secretaria é encaminhar as demandas enfoque na territorialidade ganhou outro a sociedade civil e o poder público para dos Colegiados Territoriais e dos territórios importante instrumento para qualificar e consolidar a política nacional de desen- rurais aos poderes públicos. Ela também ne- potencializar as ações do poder público nos volvimento rural sustentável, por meio da gocia com os representantes dos governos municípios que possuem baixo nível de de- construção de pactos em todo o País. federal, estaduais e municipais”. senvolvimento humano (IDH). São os con- Estrutura A Rede Nacional é formada por 54 O dirigente lembra que na última sórcios públicos, que começaram a firmar reunião da Rede Estadual do Amazonas convênios de cooperação entre União, es- foi tados e municípios para promover a gestão aprovada uma proposta de a membros titulares e suplentes, e cada es- Secretaria Executiva negociar com a Caixa tado indica, por meio das Redes Estaduais, Econômica Federal a liberação de recur- A instituição desses consórcios prevê a quatro representantes. Essas 108 lideranças sos do Programa Nacional de Apoio à criação de uma pessoa jurídica de direito são responsáveis pelo trabalho de coorde- Infraestrutura e Serviço nos Territórios público, formada pelos entes federados, nação política dos Colegiados Territoriais. Rurais (Proinf). “Diante dessa demanda, que assume a responsabilidade pela ges- Elas também escolhem sete nomes para fomos a Brasília nos reunir com a direção tão das atividades. No caso do modelo compor a Secretaria Executiva. do banco para tratar dos encaminhamen- proposto, participam dessa nova institu- tos necessários para liberar o dinheiro do cionalidade os municípios que fazem parte Proinf”, conta Rodrigues. de um território rural. Jair Rodrigues, membro do Colegiado do Território do Baixo Amazonas e da integrada dos serviços públicos. Rede de Colegiados Territoriais fortalece a estratégia territorial Apesar de a Rede Nacional ter sido espaços políticos. “As perspectivas para o Bispo também ressalta a importância da constituída há menos de um ano, já é pos- crescimento de sua atuação são muito fa- articulação da Rede Nacional com as ações sível constatar os efeitos de sua atuação: o voráveis. Nossa prioridade agora é buscar do Programa Territórios da Cidadania (PTC) diálogo entre seus integrantes aumentou mecanismos para atender nossa base de e acredita que os Colegiados Territoriais de forma considerável e a comunicação representação, que são os territórios ru- podem se credenciar para intervir na dis- dos Colegiados Territoriais deu grande rais”, promete Jair Rodrigues. cussão de outros projetos governamentais, como o Programa de Aceleração do salto de qualidade. Além disso, eles conseguiram identificar soluções para problemas Política irreversível – O coordenador Crescimento (PAC). “Essa integração ainda comuns e fortalecer a ação nos territórios da Rede Nacional, Ubiramar Bispo, con- está no recorte geográfico, mas na políti- rurais. Nesse curto período de existência, corda com essa projeção e reitera a con- ca territorial o grande foco é o protago- o trabalho de articulação também já ren- vicção de que a abordagem territorial nismo do Colegiado nessas iniciativas”, deu à Rede Nacional o convite para par- deve tornar-se uma política irreversível aposta Bispo. ticipar como observadora permanente do de governo. “Isso vai garantir o espaço O coordenador da Rede Nacional garan- Conselho Nacional de Desenvolvimento do Colegiado Territorial como articula- te, ainda, que os movimentos sociais terão Rural Sustentável (Condraf). dor de políticas públicas, com interlocu- assento na Rede Nacional. “Muitos desses A trajetória da Rede Nacional conse- ção dos poderes federal e estadual, além movimentos já participam dos Colegiados, guiu, ainda, preservar sua autonomia pe- de compartilhar experiências internacio- mas queremos discussões planejadas com rante o governo federal e ampliar seus nais”, defende. as direções dessas entidades”, finaliza. 32 Desenvolvimento Territorial em Foco Ascom Gov. BA Colegiados territoriais articulam consórcios públicos na Bahia e em outros estados Apesar de ter sido prevista na Constituição rurais começaram a ser dados em 2010. tar e o desenvolvimento das regiões mais de 1988, a lei dos consórcios públicos só foi A Casa Civil da Presidência da República, pobres do País. Ele difere dos consórcios pú- aprovada em 2005, após negociação en- em do blicos porque agrega, além dos municípios, tre o Congresso Nacional e um grupo de Desenvolvimento Social e Combate à Fome entidades da sociedade civil. A assessora da trabalho governamental coordenado pela (MDS), da Pesca de Aquicultura (MPA), do Presidência da República ressalta que essas Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Meio Ambiente (MMA) e a SDT/MDA, se- experiências foram construídas sobre a égide Institucionais, que envolveu a Secretaria lecionaram municípios de 11 territórios ru- jurídica do direito privado. Nesse sentido, o da Casa Civil e os Ministérios da Fazenda, rais, que foram visitados, em setembro, por desafio colocado para o governo federal foi Integração Nacional, Cidades e Saúde. técnicos com a missão de explicar as vanta- apresentar uma alternativa para superar es- A assessora especial da Presidência da gens dessa forma de cooperação. Além de sas limitações. “Uma das diferenças entre os República Paula Ravanelli, que participou das várias reuniões com os prefeitos, os mem- dois modelos é que a legislação não permite iniciativas do governo para estimular a criação bros dos Colegiados Territoriais também que o poder público possa repassar recursos dos consórcios públicos nos territórios, afirma participaram dessas discussões. para os consórcios de direito privado”, escla- conjunto com o ministérios que esse instrumento pode ser usado para construção e gerenciamento de projetos de rece Ravanelli. Experiência do Consad A expectativa do governo federal é de que investimentos. “Esse instrumento pode aten- O objetivo do governo federal é dis- os Colegiados Territoriais venham, a partir de der às demandas de um município, a exemplo seminar os consórcios públicos nos locais agora, participar ativamente dos consórcios da construção de galpões de armazenagem atendidos pelo Programa Territórios da públicos que estão sendo criados. “Já formu- de grãos ou compra de máquinas”, esclarece. Cidadania. O ponto de partida foi identificar lamos um modelo de contrato de construção As prefeituras também podem fazer li- os territórios da cidadania onde já havia o do consórcio. Esse documento reconhece o citações conjuntas para adquirir bens e ser- Consórcio Nacional de Segurança Alimentar Colegiado Territorial como instância de parti- viços de custos elevados. Essa medida pode e Desenvolvimento Local (Consad), idealiza- cipação e controle social”, explica. diminuir o impacto das aquisições nos orça- do e organizado pelo MDS. “Esses consórcios Os 11 territórios rurais visitados formu- mentos municipais. “Estamos falando de mu- já trabalhavam com a perspectiva de associar laram um protocolo de intenções para a nicípios rurais pequenos, que estão localiza- os municípios para desenvolver projetos es- constituição dos consórcios públicos. Esses dos nas regiões mais vulneráveis do País. Se truturantes. Portanto, essas prefeituras têm documentos devem ser enviados para a eles montarem uma estrutura administrativa experiência de consorciamento, mesmo que Câmara Municipal de cada município en- única para organizar os processos licitatórios, com limitações”, afirma Ravanelli. volvido. “Os vereadores vão analisar e au- O Consad é uma experiência bem-sucedi- torizar a criação dos consórcios. A nossa da do Ministério de Desenvolvimento Social estimativa é que todos os territórios ado- Os primeiros passos do governo para e Combate à Fome no sentido de associar os tem essa forma de organização em 2011”, utilizar esse instrumento nos municípios municípios para garantir a segurança alimen- conclui a assessora da Presidência. as prefeituras vão gastar menos e atender mais pessoas”, exemplifica Ravanelli. Desenvolvimento Territorial em Foco 33 Gestão e controle social das políticas públicas Parceria aproxima universidades dos territórios rurais A Política Territorial de Desenvol- mento territorial rural, além de produzir tra- vimento Rural Sustentável ga- balho qualificado para avaliação da política. nhou, a partir de 2010, mais um Dessa forma, foi celebrado um termo instrumento que vai ajudar a medir os de cooperação entre a SDT/MDA e o CNPq, resultados das ações – são as células de seguido do lançamento, em 2009, de edi- acompanhamento e informação. As célu- tal específico para seleção de projetos de las são unidades operativas integradas por pesquisa e extensão tecnológica de uni- professores(as) e técnicos(as) de universi- versidades públicas brasileiras. Os projetos dades públicas, encarregadas de coletar e deveriam ser focados em acompanhamen- melhoria do processo de gestão analisar dados sobre a gestão para o de- to, monitoramento e avaliação da política. da política de desenvolvimento senvolvimento dos territórios rurais. Ação de grupos acadêmicos com os Colegiados Territoriais permite a avaliação e o acompanhamento da política de desenvolvimento rural nos territórios. A expectativa é de que os resultados obtidos possam contribuir para a rural com enfoque territorial em todos os níveis Além das atividades de coleta e alimen- O Sistema de Gestão Estratégica (SGE) tação de dados e informações no SGE, as é a ferramenta desenhada pela SDT/MDA equipes dos projetos estão fazendo aná- para apoiar o trabalho das células e favore- lises e avaliações de diversos aspectos e cer a inserção da academia no processo de processos em curso nos territórios. A partir desenvolvimento territorial. A ideia é criar da socialização dessas análises será possí- mais um canal de comprometimento das vel que os atores envolvidos em todos os universidades com o tema do desenvolvi- níveis possam qualificar sua atuação. Arquivo SDT/MDA Equipes de universidades públicas selecionadas pelo CNPq começaram a aplicar questionários em 37 territórios 34 Desenvolvimento Territorial em Foco Seleção de projetos Schneider lembra que a problemáti- Em 2006, a equipe do Programa de O edital lançado para seleção de pro- ca do desenvolvimento territorial cresceu Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural jetos de pesquisa e extensão tecnológica no Brasil a partir dos anos 2000, quando (PGDR) da UFRGS foi convidada pela SDT/ previa o apoio a 60 territórios rurais pre- surgiram pesquisas e avaliações do Pronaf MDA para realizar estudo exploratório em viamente definidos. Das 77 propostas Infraestrutura e Serviços que mostravam quatro territórios rurais, a fim de testar uma apresentadas, foram escolhidos, pela per- a pouca eficácia das políticas com foco metodologia de indicadores de desenvolvi- tinência e pela qualidade técnica, 27 pro- na melhoria da infraestrutura municipal mento territorial. Segundo Schneider, a ten- jetos que envolvem 37 territórios. “Não foi e local. O professor comentou que vários tativa da equipe do PGDR foi apresentar uma possível contemplar todos porque muitos analistas e formuladores de políticas discu- proposta viável e exequível, que contemplas- projetos não atendiam ao edital. É difícil tiram essas limitações e chegaram à con- se tanto os aspectos metodológicos, com mobilizar as universidades e montar equi- clusão que as políticas públicas deveriam base na referência aos territórios e às escalas pes”, explica a gestora responsável pelo ser reorientadas para um enfoque territo- geográficas, quanto a compreensão do de- edital no CNPq, Lavínia Aguilar. rial, abarcando o conjunto de municípios senvolvimento como processo de constru- Segundo Lavínia, a proposta da SDT/MDA de determinada região. Uma síntese das ção de mecanismos de acesso a ativos por é algo que vem se tentando há tempos no questões e das discussões dessa época parte dos próprios atores sociais e dos dis- Brasil: fazer a universidade sair do ambiente está condensada no livro Políticas Públicas positivos de apropriação desses ativos. acadêmico. “É uma forma de interagir com a e Participação Social no Brasil Rural, publi- sociedade e colocar a academia em contato cado em 2004. A experiência atual do Sistema de Gestão Estratégica para os territórios rurais repre- com a realidade do País”, diz. Cada projeto se- Segundo Schneider, a discussão so- senta avanço em relação às concepções lecionado terá duração de três anos e pode bre a abordagem territorial ganhou anteriores. Ela trata de colocar em prática a ser estendido após esse período. força a partir de 2003, quando foi cria- metodologia de indicadores territoriais de Os projetos selecionados contam com da a Secretaria de Desenvolvimento desenvolvimento apresentada pelos pesqui- equipes de bolsistas – professores, técni- Territorial no MDA. Depois de um perí- sadores da UFRGS em 2006, como outros in- cos, estudantes –, além do custeio das ati- odo inicial de discussões sobre os as- dicadores desenhados pela SDT/MDA. vidades de pesquisa e extensão previstas; pectos conceituais da abordagem terri- De acordo com Schneider, o desa- os recursos financeiros são repassados torial e da implementação de iniciativas fio agora é verificar se essa nova visão pela SDT/MDA ao CNPq e, desse, para os e ações, iniciaram-se as reflexões sobre de desenvolvimento está dando certo projetos contratados. os indicadores territoriais de desenvolvi- e analisar quais seus impactos a partir mento. Afinal, lembra Sergio Schneider, das percepções dos beneficiários. Mais o desafio estava em saber como avaliar do que mero estudo de impacto, os pro- os efeitos e as repercussões das políticas jetos contratados pelo CNPq pretendem e das ações no âmbito territorial. levantar informações que possam ser Região Sul Uma das instituições de ensino superior selecionadas foi a Universidade Divulgação Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que vai desenvolver seus trabalhos no Território Zona Sul do Estado, no Rio Grande do Sul. Segundo o professor coordenador do projeto, Sergio Schneider, a equipe do projeto que atuará no território gaúcho é constituída de um consórcio que conta com a participação das universidades federais de Pelotas e de Santa Maria. Trata-se de grupo de pesquisa multidisciplinar que congrega sociólogos, geógrafos e economistas para atuar no tema do Os projetos financiados pelo CNPq têm como desafio analisar os impactos a partir das percepções dos beneficiários desenvolvimento territorial rural. Desenvolvimento Territorial em Foco 35 úteis tanto para monitorar as políticas de Desenvolvimento Rural Sustentável mo colegiado territorial. “O colegiado é a da SDT/MDA como fornecer elementos (PTDRS) nos dois territórios envolvidos. referência dentro do território. O funciona- para os próprios atores dos territórios “Criamos o laboratório na expectativa mento da proposta territorial depende de poderem conhecer e se apropriar de sua de desenvolver projetos de extensão e um bom funcionamento dos colegiados”, realidade e, assim, promover o desen- apoiar as comunidades tradicionais”, acredita o professor. volvimento rural sustentável. “A expecta- afirma Itaan Santos, professor coorde- tiva é que a gente tenha informações de nador do projeto. Metodologia de trabalho como realmente essas políticas chegam Itaan lembra, ainda, que no Maranhão Entre as atividades desenvolvidas pe- aos territórios e como elas são apropria- a equipe vai além dos bolsistas direta- las células estão pesquisas, por intermé- das pelos atores sociais envolvidos”, ex- mente apoiados pela parceria SDT/MDA/ dio da aplicação de questionários, cujos plica Schneider. CNPq. “O laboratório é formado por 18 dados irão compor diversos indicadores O professor acrescenta que trazer as pessoas que acabam se envolvendo em relacionados à identidade territorial, à universidades para o debate é importan- todos os projetos”. Para ele, o trabalho nas gestão dos colegiados, às capacidades te porque faz que, independentemente células permite levar a universidade para territoriais, ao Índice de Condições de das políticas adotadas, “o desenvolvimen- dentro dos territórios e qualificar o conhe- Vida (ICV) e a outros indicadores decor- to territorial rural continue em pauta”. Ele cimento coletado, produzindo pesquisas rentes do cruzamento das informações também considera ser dever da universida- que contribuam com o desenvolvimento levantadas e registradas no SGE. de atuar em favor das populações rurais. “A rural sustentável. A base do trabalho nas células são os universidade pública tem o compromisso Os colegiados territoriais dos 37 ter- questionários, que medem a evolução das de trabalhar pelo desenvolvimento da so- ritórios rurais inicialmente envolvidos no ações e a visão dos atores sociais envol- ciedade como um todo”, afirma. trabalho de pesquisa e extensão das célu- vidos no processo. O primeiro, feito com las, desempenham papel fundamental no um gestor público local, avalia o grau de Laboratório da UEMA processo. São os integrantes do colegiado avanço nas capacidades institucionais dos Nos Territórios Baixo Parnaíba e Lençóis que fornecem grande parte das informa- municípios que constituem o território. O Maranhenses/Munin, no Maranhão, a equi- ções de que os pesquisadores necessitam segundo e o terceiro, aplicados aos mem- pe responsável pelo projeto é composta e facilitam o trabalho da equipe nos ter- bros do colegiado, devem identificar as por professores e alunos do Laboratório de ritórios. “Na aplicação dos questionários identidades territoriais, o processo de ges- Extensão Rural da Universidade Estadual com a comunidade, por exemplo, é preciso tão do grupo e o poder de diálogo com do Maranhão (UEMA), que também já esti- apoio de alguém que conheça o território, outros atores sociais. veram envolvidos com a política de desen- a região”, explica o professor Itaan. volvimento rural sustentável. O quarto questionário mede o Indíce Além disto, as informações e as análi- de Condições de Vida (ICV) no território. Alguns integrantes participaram, em ses produzidas por células e equipes dos Ele é aplicado a uma amostra probabilísti- 2009, da avaliação do Plano Territorial projetos vão ajudar na gestão desse mes- ca baseada em critérios usados pelo IBGE e mede a percepção das pessoas em relação Células garantem fluxo de informações a melhoras na qualidade de vida. Os quinto e sexto questionários men- O SGE está estruturado por três ambientes: o Sistema de Informações Territoriais, suram os efeitos e os impactos dos pro- que armazena todos os dados referentes a cada território; o ambiente de Resultados da jetos financiados em cada território e as Gestão Territorial, que avalia os processos da gestão política por meio dos indicadores lições aprendidas no processo de gestão de desenvolvimento, gestão dos colegiados, gestão de projetos e gestão de programas dos projetos. Também conseguem monito- e os Ambientes de Gestão, no qual disponibilizam-se as ferramentas para o trabalho das células de acompanhamento e informação. Esse último é o que alimenta o sistema, ou seja, permite aos usuários que desenvolvem algum tipo de ação nos territórios um ambiente interativo de gestão. Além das células, o Ambientes de Gestão permite o fluxo de informações relacionadas à rede de colegiados e às entidades parceiras. 36 rar as ações, definindo a situação do empreendimento e, caso haja algum ajuste a ser feito, identificam a causa e a solução do problema, bem como os responsáveis por implantar as soluções. Desenvolvimento Territorial em Foco Projeto Dom Helder Câmara Divulgação Projeto Dom Helder investe na organização produtiva da agricultura familiar nos territórios rurais Investir no ser humano e transformar o Semiárido O Projeto Dom Helder Câmara O PDHC é uma ação da Secretaria de As ações do PDHC estão voltadas (PDHC) é uma experiência que Desenvolvimento Territorial do Ministério para o desenvolvimento sustentável do exercita e pratica ações em fa- do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA), Semiárido nordestino, com base no con- vor do desenvolvimento rural sustentável, com o apoio do Fundo Internacional de ceito de convivência com as característi- com uma visão sistêmica e holística, cuja Desenvolvimento Agrícola (Fida), organis- cas climáticas da região. A sua proposta institucionalidade se apoia na interação mo das Nações Unidas. A sua área de atu- é articular as dimensões sociopolíticas, entre o Estado e a sociedade. Trata-se de ação são oito territórios rurais, distribuí- ambientais, culturais, econômicas e tec- um olhar diferenciado para o Semiárido dos nos estados de Sergipe, Pernambuco, nológicas com os processos participati- do Nordeste, que se contrapõe a um pas- Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e vos de planejamento, gestão e controle sado de políticas públicas descontínuas, Piauí. O projeto atinge 337 áreas de as- social. A motivação principal do projeto é fragmentadas e inadequadas, produzidas sentamentos da reforma agrária e comu- investir no ser humano para que ele seja a partir de pacotes tecnológicos desen- nidades de agricultura familiar, localizadas protagonista das transformações orien- volvidos fora da realidade e do contexto em 77 municípios, beneficiando mais de tadoras de uma vida melhor e da supera- desse bioma. 15 mil famílias. ção da pobreza. Desenvolvimento Territorial em Foco 37 Origem do Projeto gia elétrica e a água de beber era retirada O diretor-geral do PDHC, Espedito de um olho d’água próximo e transportada Rufino, explica que a participação social é no lombo dos animais. Após um estudo parte fundamental do projeto desde a sua de potencialidades feito na região, a co- criação. “Foram as pessoas que formula- munidade foi indicada pelo PDHC para ser ram as diretrizes. O Projeto Dom Helder beneficiária do programa Molhar a Terra, Câmara surgiu de uma mobilização da da Petrobras. A empresa recuperou dois sociedade civil, com o Movimento Muda poços de prospecção de petróleo desa- Nordeste e a ocupação da Sudene, em tivados, que passaram a ser utilizados na 1993. Isso resultou em seminários em dez agricultura irrigada. estados, nos quais foram discutidas ações A partir daí o PDHC foi buscar novas permanentes para o desenvolvimento do parcerias. A primeira delas foi firmada Semiárido. Essa é a origem da concepção com a prefeitura de Caraúbas, que integra do projeto”, diz Rufino. o Território Sertão do Apodi. Os recursos “Foram as pessoas que formularam as diretrizes. O Projeto Dom Helder Câmara surgiu de uma mobilização da sociedade civil, com o Movimento Muda Nordeste e a ocupação da Sudene, em 1993" Espedito Rufino Diretor-geral do PDHC A natureza da intervenção do projeto do poder público municipal financiaram a associa-se, fundamentalmente, ao proces- substituição de 27 casas de taipa por re- so de aprendizagem. Trata-se de desen- sidências de alvenaria. A medida acabou volver novas habilidades e competências com um grave problema de saúde na re- necessárias ao avanço de suas ações na gião: a doença de Chagas. A comunida- As ações do PHDC nessa comunidade perspectiva de alcançar os objetivos estra- de também recebeu energia elétrica, por tiveram mais desdobramentos. Na segun- tégicos e o cumprimento de sua missão: meio do Programa Luz para Todos, do go- da etapa do projeto, outro poço foi per- “Investindo no ser humano, transformando verno federal. furado para irrigação e abastecimento das o Semiárido”. O PDHC financia uma assessoria técni- Responsabilidade social famílias. Além disso, foram construídas adutoras, com apoio do governo estadu- ca permanente e diferenciada, que busca Ainda em parceria com a Petrobras, al, para levar água encanada aos morado- animar e facilitar processos de organiza- foram implantadas, em 2006, as primei- res. No início de 2009, também foi criada ção e qualificação das demandas das fa- ras metas do projeto: hortas e pomares a Feira Agroecológica de Caraúbas, que mílias agricultoras para que elas possam agroecológicos, minhocário para pro- permitiu um escoamento do excedente da se inserir e acessar um conjunto de polí- dução de adubo, inovações nas culturas produção. “Em 2005, quando começamos ticas públicas governamentais, que foram de sequeiro – produzidas nos meses em o trabalho, as famílias tinham renda média lançadas e aprimoradas nos últimos anos. que não há chuva –, forragens para pas- de R$ 80 e hoje esse valor chega a R$ 650”, Na busca por incorporar a aprendizagem, to, investimentos na cadeia de apicultura, comemora Rosane. o projeto incentiva e apoia a implantação construção da Casa do Mel e compra de A Petrobras também apoia outros pro- de unidades demonstrativas e a realização equipamentos. “As ações deram tão cer- jetos em 59 outras áreas, que envolvem de intercâmbios, capacitações e formação to que no ano seguinte o trabalho em ações de educação, saúde, comerciali- de grupos de interesse. O objetivo a ser al- Sombras Grandes e Milagres foi aponta- zação, construção de poços e cisternas, cançado é bem definido: assegurar que as do como a melhor iniciativa de respon- sistemas sustentáveis de produção de ali- famílias aprendam fazendo e exercitando sabilidade social do programa Molhar a mentos e outras iniciativas voltadas para uma prática diferenciada. Terra”, conta Rosane Gurgel, supervisora o protagonismo das famílias. Todas essas As mudanças ocorridas na comunida- do PDHC no Território Sertão do Apodi. A frentes estão permeadas pelas questões de Sombras Grandes e Milagres, no Rio gestora acrescenta que, naquele mesmo de gênero, geração e etnia. “O apoio da Grande do Norte, mostram o resultado das ano, a Secretaria de Saúde de Caraúbas Petrobras é importante porque agrega ou- ações do PDHC. Até 2005 a população lo- “registrou melhoria na saúde da popula- tros parceiros para o PDHC”, afirma o agrô- cal vivia da venda de carvão e da produção ção, resultado de uma alimentação mais nomo Fábio Santiago, responsável técnico escassa de milho e feijão. Não havia ener- rica nas famílias”. pelos projetos financiados pela empresa. 38 Desenvolvimento Territorial em Foco Divulgação Projetos de agricultura irrigada no Semiáriado nordestino recebem apoio do PDHC e seus aliados O PDHC também firmou convênios levar as necessidades encontradas para positivos do Projeto: “As ações desenvolvi- com órgãos públicos, como Banco do as reuniões da associação comunitária, das pelo PDHC são um exemplo de suces- Nordeste, Embrapa, Incra, universidades, dos fóruns territoriais e dos conselhos so para os brasileiros e para o mundo”. governos estaduais e municipais, bem municipais de desenvolvimento rural como com federações de trabalhadores (as) sustentável”, afirma Santiago. O órgão também registrou que a conclusão do projeto e as avaliações na agricultura. Essas parcerias têm possibi- Outro diferencial do PDHC é a des- apresentadas em Recife, no final de litado a integração de políticas públicas centralização e o processo democrático 2010, comprovaram resultados concre- e maximizado os resultados das ações de tomada de decisões. São as pessoas tos, que são frutos da parceria entre conjuntas. da comunidade que escolhem como e o governo brasileiro e o Fida. “O bom onde será investido o dinheiro. “O que êxito desse programa abriu as portas fazemos é aproximar a população das para outras etapas de um novo projeto Um dos princípios do PDHC é o “apren- políticas públicas”, esclarece Rufino. O em áreas carentes do Brasil”, pontuou o der fazendo”. Cada nova ação se torna um diretor-geral explica, ainda, que o pro- documento do Escritório de Avaliação projeto piloto. A população desenvolve a jeto foi a fonte que alimentou a criação Independente. iniciativa com orientação técnica, mas tam- da política de territórios rurais. “Vem do O relatório sustenta, por fim, que a po- bém aprende com a observação e anotação PDHC essa nova estratégia de desenvol- breza rural foi reduzida, a população teve dos resultados de cada etapa. “Acreditamos vimento, ou seja, a territorialização da acesso à educação, aos recursos técnicos e que não se transfere facilmente tecnologia. ação para mobilizar a população nas re- aos mercados de consumo. Esses resulta- Por isso, criamos unidades demonstrativas giões mais pobres”, garante Rufino. dos foram obtidos graças a um “programa Saber prático para o aprendizado pela experimentação”, explica Espedito. Avaliação bem articulado”, que atendeu 15 mil famílias nos seis estados atendidos pelo PDHC O responsável pelas parcerias com O Fundo Internacional de Desen- e permitiu que os beneficiários pudessem a Petrobras assinala que em um proje- volvimento Agrícola (Fida) investiu apro- desenvolver e estruturar os conhecimen- to de irrigação, por exemplo, o produ- ximadamente 100 milhões de dólares nas tos. “Essa gente compreendeu as vanta- tor rural aprende e passa a observar o regiões do Semiárido nordestino assis- gens de permanecer na própria terra, que, manejo da água, os ciclos da plantação tidas pelo PDHC nos últimos 10 anos. O apesar da seca, o Projeto Dom Helder de- e experimenta formas diferentes de cul- Escritório de Avaliação Independente do monstrou que pode produzir benefícios”, tivo. “A partir dessa observação podem Fida registrou recentemente os resultados conclui a avaliação do Fida. Desenvolvimento Territorial em Foco 39 Desenvolvimento territorial no cenário internacional Martin D`Ávila/Divulgação SDT/MDA apoiou a realização do 2º Terra Madre Brasil, em março de 2010, em Brasília Parcerias para fortalecer a agenda territorial O Desenvolvimento das políticas desenvolvidas pelo governo Sustentável dos Territórios Ru- federal. Essas parcerias também contribu- rais (Pronat) colocou o Brasil íram para credenciar a estratégia territorial numa posição de destaque no debate so- como um instrumento eficaz no combate bre desenvolvimento rural com abordagem à pobreza e na promoção do desenvolvi- territorial. A repercussão positiva de nossos mento de áreas rurais vulneráveis de na- casos de sucesso no cenário internacional ções ibero-americanas. Programa O intercâmbio com organismos internacionais deu visibilidade à estratégia de desenvolvimento rural territorial sustentável e projetou a experiência brasileira como referência para outros países é resultado das parcerias com organiza- Entre os parceiros de primeira hora ções sociais que se dedicam ao estudo do da SDT/MDA, destaca-se o Instituto tema em vários países do mundo. Interamericano de Cooperação para a pela Agricultura (IICA), que acompanha as Secretaria de Desenvolvimento Territorial políticas de desenvolvimento rural em do Ministério do Desenvolvimento Agrário diversos países da América Latina des- (SDT/MDA) foram fundamentais para o de o início da década de 50. “A contri- País obter o reconhecimento internacional buição desse organismo internacional As 40 articulações construídas Desenvolvimento Territorial em Foco foi extremamente significativa no pro- ganizações da sociedade civil. Constituído cesso de implementação do Pronat. O em 2002, o fórum organiza debates sobre IICA compreendeu, desde o início das o desenvolvimento e combate à pobreza discussões, a importância de o governo nos territórios rurais. federal investir na estratégia territorial”, lembra Humberto Oliveira, secretário de Desenvolvimento Territorial. Integração O Programa Ibero-Americano de Coo- “Os trabalhos do IICA no Brasil levam em conta a nossa experiência acumulada. Temos aproveitado todo o conhecimento construído, porque a política de desenvolvimento rural territorial tem evoluído bastante no mundo” A contratação dos profissionais espe- peração em Gestão Territorial (Proterritó- cializados na temática de desenvolvimento rios) é um instrumento de integração dos territorial foi feita por intermédio do IICA. países ibero-americanos, que conta com a Os termos de cooperação técnica firmados participação de 11 países. A Declaração de entre a SDT/MDA e o instituto permitiram Bariloche, de 2005, é o marco do programa. ampliar o número de atores sociais que A aprovação dessa iniciativa se deu em 2008 reconhecem a estratégia territorial como e sua efetivação ocorreu no ano seguinte, um instrumento de desenvolvimento, bem durante a Cúpula de Países, no México. “A ção de alunos e professores, para discutir como viabilizar a articulação territorial. criação do Proterritórios consolida a estra- os temas da agenda do desenvolvimento Os (as) articuladores (as) estaduais foram tégia de desenvolvimento territorial e reve- territorial. O programa também se propõe elementos imprescindíveis para a criação da la que há interesse dos governos nacionais a criar uma plataforma de capacitação para rede composta por mais de 11 mil órgãos de adotar esse modelo inovador”, avalia oferecer cursos e treinamentos às organi- governamentais e entidades da sociedade Humberto Oliveira. zações de caráter público e estimular inter- civil que atuam nos Colegiados Territoriais. O movimento em favor da criação do Carlos Basco Representante do IICA no Brasil câmbios de experiências entre os países. Para o representante do IICA no Brasil Programa foi liderado pelo Brasil, Espanha e O Proterritórios pretende, ainda, co- à época, Carlos Basco, a colaboração no México, países protagonistas de desenvol- locar a tecnologia como uma aliada na processo de implementação do Pronat foi vimento rural territorial. De acordo com o promoção do desenvolvimento territo- possível devido à experiência do instituto secretário técnico do Proterritórios, Rafael rial. “A nossa proposta é difundir conteú- com políticas similares. “Os trabalhos do Echeverri, a experiência territorial brasileira do por meio de um portal e de um canal IICA no Brasil levam em conta a experiên- é muito valorizada em outros países, prin- de televisão e criar um campo virtual, com cia acumulada no México, na Espanha e na cipalmente da América Latina. “O Brasil dá laboratórios e biblioteca em plataforma Guatemala. Nós temos aproveitado todo muitos exemplos para outros países com web”, prevê Echeverri. Para acessar o site do o conhecimento construído nos últimos os territórios de identidade e o Programa Proterritórios digite www.proterritorios.net. anos, porque a política de desenvolvimen- Territórios da Cidadania”, enfatiza. to rural territorial tem evoluído bastante no mundo”, afirma. O Proterritórios desenvolve ações de Intercâmbio gestão do conhecimento, formação e co- A Estratégia Centro-Americana de Segundo Basco, essa expertise forne- nectividade. Um de seus objetivos é desen- Desenvolvimento Rural Territorial (Eca- ceu ao IICA as condições necessárias para volver análises comparadas da organiza- dert) é outra articulação de países cen- coordenar o Fórum de Desenvolvimento ção, legislação, metodologias e resultados tro-americanos para promover o desen- Rural Sustentável (FDRS), que conta com das políticas territoriais em cada país. Ele volvimento rural territorial. O protocolo a participação do Conselho Nacional também se dedica à criação de um banco de criação assinado em março de 2009 do Desenvolvimento Rural Sustentável de boas práticas territoriais. visa a desenvolver 49 linhas de ação, que (Condraf), instituições governamentais, O trabalho de formação visa a articular universidades, entidades de fomento e or- uma rede de universidades, com mobiliza- Desenvolvimento Territorial em Foco devem ser traduzidas em políticas públicas de cada país-membro. 41 O Brasil foi um dos principais responsá- do Ecadert. “O nosso propósito é mostrar Segundo o coordenador do Ecadert, veis pela formação do Ecadert e, junto com a experiência do Pronat e do Programa Mário Samper, a forte participação popular México, Colômbia, República Dominicana e Territórios da Cidadania (PTC) como se dá a é um dos elementos na formulação desse outros países da América Central, vem con- articulação entre os Colegiados Territoriais”, programa. “Antes de ser definidas as ações, tribuindo ativamente com o processo de afirma Humberto Oliveira. Ele lembra que, foram promovidos encontros, incluindo fortalecimento desse espaço de discussão e além dos gestores públicos, a iniciativa pre- consultas a grupos de mulheres, jovens, troca de experiências. O intercâmbio técni- tende envolver pesquisadores (as) e prota- povos indígenas, organizações camponesas co é um dos principais eixos de sustentação gonistas das ações territoriais. e de afrodescendentes”, esclarece Samper. Consumo saudável e fortalecimento da agricultura familiar A parceria com a Fundação Slow com potenciais produtivos e comerciais. sobre a importância de produzir e consumir Food para Biodiversidade, uma organi- Já as Fortalezas são projetos de desen- produtos sustentáveis e de qualidade, bem zação que defende a produção e con- volvimento da qualidade dos produtos como difundir os conceitos de bom, limpo sumo consciente de alimentos, também nos territórios, cujas estratégias são apro- e justo para valorizar os produtos da agri- faz parte da agenda de articulação in- ximar produtores (as), financiar equipa- cultura familiar”, explica. ternacional da SDT/MDA e do conceito mentos, fazer a promoção comercial e A proposta de atingir e de conscienti- mais amplo de desenvolvimento rural. A conferir guias de autenticidade. O saldo zar os consumidores é um dos pilares do secretaria e o Slow Food desenvolvem, dessa parceria contabiliza a criação de Slow Food. De acordo com o fundador desde 2004, ações para mapear e iden- nove Fortalezas e a inclusão de 20 produ- da organização, Carlo Petrini, o tipo de tificar produtos típicos de qualidade dos tos brasileiros na Arca do Gosto. alimento que consumimos afeta a forma territórios brasileiros e valorizar a produ- Para a coordenadora do Slow Food na como a agricultura é organizada no mun- ção da agricultura familiar. Esse trabalho América Latina, Lia Poggio, apesar das vá- do. “Se eu como o que se produz de forma é feito por meio dos projetos Arca do rias atividades que já estão sendo desenvol- orgânica, que leva em consideração o res- Gosto e Fortalezas Slow Food. vidas, ainda há muito trabalho pela frente. peito à natureza ou se eu como a comida O primeiro é um catálogo mundial “Precisamos potencializar todos os projetos industrial, forço diferentes tipos de agri- que identifica, localiza, descreve e divul- e aumentar o número de produtores (as) cultura. Devemos trabalhar com educação ga sabores quase esquecidos de produ- envolvidos. Temos também de realizar cam- para que o mundo não seja composto por tos ameaçados de extinção, mas ainda panhas de sensibilização e conscientização consumidores, mas sim por cidadãos (ãs)”. 42 Desenvolvimento Territorial em Foco Martin D`Ávila/Divulgação Carlo Petrini, do Slow Food (e): “O consumo dos alimentos reflete a organização agricultura no mundo” expediente Presidenta da República Dilma Rousseff Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário Afonso Florence Secretária Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário Márcia Quadrado Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Rolf Hackbart Secretário Nacional de Desenvolvimento Territorial José Humberto Oliveira Secretário Nacional de Agricultura Familiar Laudemir Muller Secretário Nacional de Reordenamento Agrário Adhemar Lopes de Almeida Coordenação do Núcleo de Estudos Agrários e de Desenvolvimento Rural – NEAD Joaquim Calheiros Soriano Coordenação editorial Berenice Gomes da Silva, Fernanda Corezola Textos: Erika Meneses, Iara Balduíno, Rafael Nascimento Revisão: Joíra Coelho e Ana Lúcia Dantas Projeto Gráfico: Guilherme Werner Capa e Diagramação: Fabrício Martins Impressão Gráfica: a definir Fotos: Leonardo Melgarejo, Martin D’Ávila, Paula Simas, Regina Santos, Ricardo Stuckert Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT Site: www.mda.gov.br/sdt Endereço: SBN Q. 01, Bl D, Ed. Palácio do Desenvolvimento, 8º andar CEP70057-900 – Brasília (DF) Telefones: (61) 2020-0880/0874 – Fax: (61) 2020-0505 Desenvolvimento Territorial em Foco 43 44 Desenvolvimento Territorial em Foco