ESTUDO SOBRE OS BENEFICIÁRIOS DO PAA-LEITE: PRODUTORES E CONSUMIDORES FICHA TÉCNICA Instituição executora: Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco (FADE/UFPE). Equipe responsável: Alfredo Soares (coordenador) Alexandre Rands Barros e André Matos Magalhães. Equipe SAGI: Cláudia Regina Baddini Curralero, César Nunes de Castro, Juan Ernesto Sepúlveda e Jomar Álace Santana. Órgão de Cooperação Técnica Internacional: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Projeto: UTF/BRA/064 – Apoio à Implementação e ao Alcance dos Resultados do Programa Fome Zero. Período de realização: junho de 2005 a março de 2006. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA Objetivos A pesquisa teve por objetivo geral avaliar o processo de implementação do Programa de Aquisições de Alimentos-modalidade Leite (PAA-Leite) e seus resultados sobre a ótica dos produtores, receptores de leite e sobre o mercado leiteiro. O estudo buscou: 1) analisar o processo de seleção dos agricultores beneficiários do programa e as mudanças observadas nos meios de produção utilizados; 2) analisar o nível de produção das usinas em relação à capacidade de produção instalada, seus fornecedores (analisando a participação dos agricultores familiares) e principais compradores do leite (analisando o papel dos estados); 3) analisar as percepções sobre o programa, por parte dos agricultores beneficiários e não beneficiários e das famílias beneficiárias e não beneficiários na recepção de leite e 4) avaliar o impacto das aquisições governamentais sobre os mercados regionais do leite. Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS Miolo_caderno_05_ALTERDO E REVISADO 2604.indd 71 71 08/05/2012 16:52:37 Procedimentos metodológicos Para a avaliação do processo de implementação e dos resultados do programa, o estudo combinou métodos qualitativos e quantitativos. Na parte qualitativa foram realizadas entrevistas com gestores estaduais, locais e representantes das usinas e realizados grupos focais com beneficiários e não beneficiários do programa, tanto produtores quanto receptores do leite. Na parte quantitativa, foram aplicados questionários aos produtores beneficiários e não beneficiários do programa, além da realização de um estudo econométrico sobre o impacto do programa sobre os preços e quantidades do mercado do leite e sobre a renda dos produtores. Dentre as questões investigadas, por meio dos dois métodos, foram observadas as percepções dos atores pesquisados sobre o grau de conhecimento do programa, divulgação, processo de inscrição e seleção, a relação com os governos estaduais, resultados, pontos positivos e obstáculos para sua implementação. Resultados Entre os efeitos positivos do programa, além da melhoria no padrão alimentar do segmento populacional que recebe o leite ofertado pelo programa, cabe destacar: a evolução nas condições de higiene e na qualidade dos produtos lácteos e a melhoria nas tecnologias de manejo e sanidade animal. Constatou-se que pelo menos 20% dos produtores adotaram novas técnicas de ordenha em resposta às exigências do programa quanto aos padrões de sanidade e higiene, e houve a universalização da vacinação contra a febre aftosa. Foi verificada a ampliação e maior estabilidade do mercado local de leite, a elevação dos níveis de emprego e renda, o uso mais intensivo de maquinário e tecnologia e a melhoria dos rebanhos nas regiões beneficiadas pelo programa. Alguns indicadores da elevação da renda dos produtores foram: aumento em 25% na frota de automóveis e motos; a aquisição de novos animais, geneticamente superiores aos que vinham sendo utilizados por 26% dos produtores; e o crescimento no uso de tratores, forrageiras, caminhões e computadores. O programa afetou o preço e a produção na maior parte dos estados beneficiados e o efeito foi maior onde o programa ofereceu preços mais elevados e teve maior participação percentual na produção. O número de resfriadores de leite instalados na região expandiu em 40%. 15% das usinas de processamento de leite adquirido pelo programa foram criadas após a sua implantação e 12% produzem apenas para o programa. Na média, 54% da produção efetiva das usinas se destinam ao programa. Foram calculados os efeitos sobre a renda dos produtores caso o PAA-Leite fosse extinto, com os seguintes resultados: 72 Cadernos de Estudos - Desenvolvimento social em debate Miolo_caderno_05_ALTERDO E REVISADO 2604.indd 72 08/05/2012 16:52:37 Tabela – Efeitos sobre a renda dos produtores, caso o PAA-Leite fosse extinto: Estado Redução na Renda Média (%) PB RN CE MG SE BA PE 56,1 45,2 15,1 18,4 12,7 7,8 7,2 Fonte: Estudo sobre os Beneficiários do PAA-Leite UFPE/SAGI. Entre os problemas identificados no programa, destacam-se: ineficiência na seleção dos beneficiários, conflito entre as metas operacionais e os objetivos sociais do programa, deficiência na comunicação com o público-alvo e problemas no pagamento dos produtores. O programa não tem sido eficiente na inclusão de pequenos agricultores familiares no rol de fornecedores, sobretudo porque o processo de seleção é operacionalizado pelas usinas, sem que sobre elas seja exercido um controle social efetivo. Verificou-se que há pouca transparência no processo de escolha dos beneficiários, e embora o programa gere oportunidades econômicas e priorize os pequenos agricultores familiares, grande parte destes não consegue acessar o programa, por deficiência no processo seletivo. Verificou-se que as usinas têm descumprido a cota semestral de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) como limite máximo para a aquisição de cada produtor e há evidências de que grandes e médios produtores utilizariam Declarações de Aptidão do Pronaf (DAPs), emitidas em nome de pequenos produtores, para formalização da venda de leite às usinas. Destaca-se, entretanto, que o imediato cumprimento da cota deverá implicar a redução do volume de leite captado pelo programa e, consequentemente, a redução da oferta do leite destinado aos grupos carentes. O estudo constatou deficiência de comunicação do programa em relação ao seu público-alvo, ou seja, o MDS não dispõe de um canal direto de comunicação com o agricultor beneficiário. Essa tarefa é delegada aos governos estaduais e às usinas, que nem sempre conseguem divulgar as informações de forma tecnicamente adequada, causando imprecisões na comunicação entre beneficiários e o programa. Finalmente, foram constatados atrasos no pagamento do leite adquirido, outro fator nocivo à participação do pequeno produtor, que sem capital de giro para esperar o prazo exigido para o pagamento do leite apresenta dificuldades para se manter no programa. Síntese das Pesquisas de Avaliação de Programas Sociais do MDS Miolo_caderno_05_ALTERDO E REVISADO 2604.indd 73 73 08/05/2012 16:52:37