o usa
DE PLACE-HOLDERS ENQUANTO DISPOSITIVO PREENCHEDOR
DE CATEGORIAS FUNCIONAIS
Raquel Santana SANTOS
(UNICAMP)
ABSTRACT: Este trabalho esta relacionado com 0 tema da AquisifQo do Linguagem.
Procuramos analisar como a aquisifiio das caregoriasjuncionais esta relacionada a
urn periodo anterior do linguagem, em que esta caregoria tem seu local preenchido
por proto-morfemas.
KEY WORDS: language acquisition; functional categories; proto-morphemes.
Este trabalho pretende observar 0 tratamento dado, em aquisicao da linguagem, a
aquisic;ao das categorias funcionais, com base no modelo de Principios e Tracos
proposto por Chomsky. Muitas tem sido as anaIises apresentadas, tanto focando sO os
artigos defmidos (Bottari, Cipriani, Chilosi-I992; Hawkins-I991) como observando as
categorias funcionais em geral (Hyams-I994; 0uhalla-1993; Tsimpli-I992; Pizzuto &
Caselli-l992 a b; Radford-I990).
De acordo com a teoria chomskyana,as Unguas sio formadas de princfpios (que
silo comuns a todas as linguas) e parfunetros (que variam entre as linguas). Esses
principios e parimetros, ou seja, essas propriedades centrais da gramatica universal
fazem parte da dotaclio genetica da crianea.
Estamos tambem assumindo uma hip6tese maturacional no que se refere a
transicao entre os estigios no processo de desenvolvimento da linguagem, que afirma
que os parimetros silo programados geneticamente para serem ftxados em diferentes
estigios de maturacilo, de man.eira gradual (Radford 1990), assim como outros
fenomenos biol6gicos.
A hip6tese maturacional, apesar de nao trazer tantas quest6es sobre a natureza
dos dados que serviriam como engatilhadores processuais (uma vez que a responsavel
pela ftxacao parametrica nao sio os dados mas a dotacao genetica), traz grandes
discussoes entre os pesquisadores da area sobre 0 que maturaria. Tanto para TSimpli
(1992) quanto para Ouhalla (1993), a maturacao afetaria somente as categorias
funcionais, as quais a variacao parametrica estaria exclusivamente associada. Assim,
podemos supor que se a variacao de parimetros se delnas categorias funcionais, e elas
ainda Dio foram adquiridas em um determinado estagio, entio neste estagio todas as
lfnguas sio iguais. Raposo (1993) Dio trata das hip6teses de aquisiCio, mas tambem
assume que os parametros da gramatica universal estio relacionados somente as
categorias funcionais, tendo a ver com as propriedades mbrfol6gicas dessas categorias.
Nio e pretensio desse trabalho discutir se a varia~io parametrica se da somente em
rela~io as categorias funcionais ou a outras categorias tambem. Como nosso trabalho
conceme apenas as categorias funcionais, basta-nos que estes variam.
De acordo com Tsimpli, na tipologia tradicional as categorias recaem em duas
classes: aberta (classe de categorias lexicais, tais como V, N, A) efechada (classe de
categorias Dio lexicais, como os Determinantes (D), Complementizadores c,
Auxiliares (Aux), elementos Flexionais (Int) ... ). Raposo (1993:251), citando Fukui e
Speas, afmna que as categorias funcionais possuem as seguintes propriedades:
1. possuem uma (e uma s6) posi~ao de especificador (que Dio e obrigat6ria e
depende de propriedades sintaticas dos itens funcionais particulares).
2. formam classes fechadas (e restritas) de elementos.
3. Dio possuem 0 valor semantico normalmente associado as categorias lexicais.
4. subcategorizam obrigatoriamente um (e um s6) complemento.
E possivel observar a varia~ao parametrica atraves dos seguintes fenflmenos,
entre varios outros: sujeito nulo (pro-drop) eo sistema auxiliar.
Segundo Hyams (1994), a morfologia fmita e os determinantes, neste momento,
estio ancoradas no discurso, e a opcionalidade desses elementos funcionais seria um
efeito dos principios pragmaticos que mapeariam as senten~. Para Cipriani, Bottari
& Chilosi (1992), os place-holders monossilabicos (em geral um segmento vocalico
menos tenso) seriam inseridos na fala das cr~
como dispositivos proto-sintaticos,
formas embri~nicas de morfemas livres.Estes segmentos vocilicos produzidos nessa
fase pela crian~a podem ser divididos em dois gropos:
a) extensoes foneticas: que podem ser ambiguamente interpretadas como substituindo
qualquer palavra ou cadeia de palavras, tendo uma fun~io comunicativa ou como
refletindo uma consciencia primitiva da crian~a sobre certas regularidades superficiais
da linguagem do input.
b) proto-morfemas: sac distintos das extensoes foneticas porque sempre precedem um
determinado item e aparecem num mesmo tipo de sente~a; hi restri~oes que
governam sua ocorrencia (sempre precedem itens lexicais e raramente substituem
palavras de conteudo ou itens de classe aherta).
Bottari et alli propaem entio uma regra funcional para os place-holders
monossilabicos: eles teriam um papel proto-morfemico, preenchendo 0 lugar de
diferentes elementos funcionais. Os place-holders apareceriam em contextos diferentes
em tempos diferentes, e cessariam da mesma forma, quando 0 elemento funcional que
eles estio substituindo e aprendido.
Assumindo que 0 uso dos place-holders monossilabicos e uma estrategia de
aproximaeAo de um dado alvo, as linguistas chegam a conc1usao de que esse seria
melbor definido por uma hipOtesede inferencia estrutural, baseada em consideraeaes
foneticas. Os place-holders monossilabicos seriam uma tentativa de reproduzir cadeias
foneticas que a crianea ja experimentou; seriam uma manifesta~o de ancoragem
(bootstrapping) fonol6gica dentro da morfologia. A inser~o dos place-holders seria
dependente, a partir da experiencia fonetica, da extracao de generalizacoes sobre a
organiza~o estrutural de cadeias linguisticas, 0 que presumiria habilidade, por parte
das crianeas, para fazer inferencias estruturais a partir da forma fonetica.
As autoras passam entio a discutir qual 0 papel que os place-holders tem na
aquisieao do artigo definido, que BaO parece ser "engatilhada" por nenhuma condieao
pragmatica ou semantica caracterizando seu funcionamento na linguagem do adulto.
Segundo Bottari et alIi, durante 0 perfodo inicial ha uma alta percentagem de omissaes
com respeito Asocorrencias (dos artigos) e substituieaes (por place-holders); grandes
variacoes na rel~o entre ocorrencias e substituieaes e quase todas as formas do
artigo aparecem, mas nenhuma delas recebe valores percentuais relevantes. Com 0
passar do tempo as omissaes diminuem ate parar; as ocorrencias e substituieaes
aumentam, excedendo as omissaes e as ocorrencias excedem as substituieaes.A
conc1usao a que chegam as linguistas e que os place-holders preencheriam vazios
estruturais e precederiam os artigos, apesar da independencia de uso e da consciencia
de variantes morfol6gicas especificas do artigo. A crianea parece, tambem, ser
sensivel a certas propriedades da sentenea (ou constituinte) antes de ter competencia
morfo-fonemica para produzi-Ias, de modo que os segmentos vocaIicos sao antes
sintaticos que morfol6gicos.
A partir dos estudos de Hyams, Bottari et alli, pretendemos observar em nosso
sujeito, como surge a categoria D.Observamos os dados de Tiago, sujeito do Projeto
de Aquisi~o da Linguagem, UNICAMP, no periodo de 1,7 a 2,5 e aos 3,0.
o primeiro fato observado foi a dificuldade em classificar os segmentos vocaIicos
de Tiago em extensaes vocaIicas ou proto-morfemas. De acordo com Bottari et alIi, os
place-holders monossilabicos sao vogais menos tensas e menos arredondadas; dessa
forma, dados como:
Nao, esse e 0 Pupi, esse e 0 Cara de Pau,
Crist6vao, Tigrao.
Tigrao. Esse e
0
Esse e 0 Pupi. 6
Pupi.6
0
(1;11.02)
Pupi.
0
Pupi
o onibus na ma,
ne?
(2;01.17)
60 livro. Vamos ler 0 livro?
Ilio seriam considerados como proto morfemas, apesar de sempre precederem itens
lexicais e parecerem estar preenchendo 0 local destinado aos determinantes; alem de
serem a maioria dos casos encontrados. Com 0 passar do tempo os place-holders vlio
sumindo da fala da crian~a, e encontramos claramente os artigos.
Apesar desse fato, em linhas gerais nossos dados parecem corroborar 0 que
afirmam Bottari, Cipriani e Chilosi no que diz respeito ao preenchimento de morfemas
livres do portugues.
o trabalho de surgimento e posterior substitui~lio dos place-holders nos diversos
contextos pode (e assim nos parece) estar relacionado a matura~o dos parametros
referentes as categorias funcionais. Estudos nos mostram que estas categorias variam,
e atraves da observaclio de nossos dados, podemos dizer que a maturaclio desses
parametros parece ter realmente uma ordem, e que estes tem 0 mesmo estatuto
gramatical (no que diz respeito a gramatica central ou periferica) para 0 italiano e para
o portugues.
Quanto a distin~o das linguistas entre extensoes foneticas e os proto-morfemas,
acreditamos que podemos relaciona-Ios a distin~o de Scarpa (1993) entre filler-sounds
iniciais e mais tardios; para quem os filler-sounds iniciais teriam a funClio de
preencher 0 contomo entonacional, e os filler-sounds mais tardios, cuja fun~lio seria
dar suporte ao ritmo (e que na fala de Tiago estariam correspondendo a regra de
acento de palavra).
o que pretendemos propor e que esses filler-sounds mais tardios silo os protomorfemas de Bottari, que inicialmente tem uma fun~o na aquisiclio da linguagem e
mais tarde, com 0 dominio ritmico, assumem outra fun~llo.
RESUMO: Este trabalho estd relacionado com 0 tema da Aquisifiio da Linguagem.
Procuramos analisar como a aquisifiio das categorias funcionais estd relacionada a
urn perfodo anterior da linguagem, em que esta categoria tem seu local preenchido
por proto-moifemas.
PALAVRAS-CHAVE:
morfemas.
aquisicao da linguagem,
categorias funcionais,
proto-
BOITARI & Cipriani & Chilosi (1992) - "Proto-syntactic devices" in GenGenP nl-2. Universite de
Geneve
HYAMS (1992) • "Morphosyntactic devvelopmenl in Italian and its relevance to parameter-setting models:
comments on the paper by Pizzuto & CaseIU" in Journal of Child Languaae 19
OUHALLA, (1993)- "Functional Categories, Agrammatism and Language Acquisitionn" in Linguistische
Berichte 143 Westdeutseher Verlag
PIZZUTO & Caselli (1992) - "The acquisition of Italian morphology: implications for models of language
development" in Journal of Child Language 19
SCARPA (1993) - "Piller-sounds and the acquisition of prosody: sound and syntax" comunica~o
apresentada no VI International Congress for the Study of Child's Language - Trieste
TSIMPU (1992) - "On the Maturation of Functional Categories: Early Child Speech" in VCL Working
Papers in Linguistics 3
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ABSTRACT: Este trabalho esta relacionado com 0 tema da