MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI VOLUME III INFRA-ESTRUTURA: SUSTENTANDO O DESENVOLVIMENTO Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG Conselho de Administração José Augusto Trópia Reis - Presidente Murilo Paulino Badaró - Vice-Presidente Edgard Martins Maneira Elvira Fonseca Garcia Fábio Proença Doyle José Pedro Rodrigues de Oliveira Diretoria Murilo Paulino Badaró - Presidente Francisco José de Oliveira - Vice-Presidente José Lana Raposo Ignácio Gabriel Prata Neto Júlio Onofre Mendes de Oliveira Coordenação do Projeto Tadeu Barreto Guimarães - Coordenação Geral Marco Antônio Rodrigues da Cunha - Coordenação Executiva Marilena Chaves - Coordenação Técnica Equipe Técnica do Departamento de Planejamento, Programas e Estudos Econômicos D.PE Bernardo Tavares de Almeida Frederico Mário Marques Gislaine Ângela do Prado Juliana Rodrigues de Paula Chiari Marco Antônio Rodrigues da Cunha Marilena Chaves Tadeu Barreto Guimarães - Gerente Apoio Administrativo Cristiane de Lima Caputo Diully Soares Cândido Gonçalves Henrique Naves Pinheiro Hiram Silveira Assunção Marta Maria Campos As idéias expostas nos textos assinados são de responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente a opinião do BDMG. BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG Rua da Bahia, 1600, Lourdes 30160.907 Caixa Postal 1.026 Belo Horizonte - Minas Gerais Tel : (031) 3219.8000 http://www.bdmg.mg.gov.br e-mail: [email protected] Editoração de Textos IDM / Técnica Composição e Arte Criação da Capa Fernando Fiúza de Filgueiras Projeto e Produção Gráfica Fernando Fiúza de Filgueiras Otávio Luiz Ribas Bretas Rona Editora Ltda Avenida Mem de Sá, 801 Santa Efigênia 30260-270 Belo Horizonte/ MG Telefax: (31) 3283-2123 Revisão e Normalização Dila Bragança de Mendonça Elzira Divina Perpétua (Coordenação) Marlene de Paula Fraga Raquel Beatriz Junqueira Guimarães Vicente de Paula Assunção Virgínia Novais da Mata Machado Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais B213m 2002 Minas Gerais do Século XXI / Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Belo Horizonte: Rona Editora, 2002. 10 v. : il. Conteúdo: v.1 - O Ponto de Partida. v. 2 - Reinterpretando o Espaço Mineiro. v. 3 - Infra-Estrutura: sustentando o desenvolvimento. v. 4 - Transformando o Desenvolvimento na Agropecuária. v. 5 Consolidando Posições na Mineração. v. 6 - Integrando a Indústria para o Futuro. v. 7 - Desenvolvimento Sustentável: apostando no futuro. v. 8 - Investindo em Políticas Sociais. v. 9 Transformando o Poder Público: a busca da eficácia. v. Especial Uma Visão do Novo Desenvolvimento 1. Condições econômicas Minas Gerais. 2. Desenvolvimento econômico Minas Gerais. I. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. II. BDMG. III. Título CDU: 338.92(815.1) Catalogação na publicação: Biblioteca BDMG VOLUME 3 INFRA-ESTRUTURA: SUSTENTANDO O DESENVOLVIMENTO Coordenação do Projeto Tadeu Barreto Guimarães - Coordenação Geral Marco Antônio Rodrigues da Cunha - Coordenação Executiva Marilena Chaves - Coordenação Técnica Coordenador Técnico do Volume Bernardo Tavares de Almeida (D.PE/ BDMG) SUMÁRIO 1. TRANSPORTE E LOGÍSTICA ................................................................................................................................ 13 2. ENERGIA .......................................................................................................................................................................... 147 3. TELECOMUNICAÇÕES ............................................................................................................................................ 181 4. SANEAMENTO .............................................................................................................................................................. 247 5. OS GARGALOS E OS ESPAÇOS PARA INTERVENÇÃO ESTADUAL ............................................. 303 MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI VOLUME III INFRA-ESTRUTURA: SUSTENTANDO O DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO 1 TRANSPORTE E LOGÍSTICA Ramon Victor César (Engenheiro Civil e Mestre em Tratamento da Informação Espacial; Sócio-Consultor da TECGIS Sistemas de Informações e Engenharia e Prof. da Escola de Turismo / Puc Minas) Co-autores da seção 7 - Transporte Urbano na Região Metropolitana de Belo Horizonte Maurício Eduardo Guimarães Cadaval (Administrador e sociólogo; Mestre em Transporte Urbano; Consultor e Presidente do Instituto de Desenvolvimento em Informações em Transporte - ITRANS) Marcos Fontoura de Oliveira (Engenheiro e Mestre em Administração Pública) SUMÁRIO 1. 2. APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................... 13 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 15 2.1. O papel da logística de transporte no desenvolvimento ........................................................................................ 15 2.2. Caracterização básica do sistema de transportes de Minas Gerais ......................................................................... 17 3. TRANSPORTE E ECONOMIA EM MINAS GERAIS: 1985-2000 .............................................................. 21 3.1. Transportes e Produto Interno Bruto ........................................................................................................................ 21 3.2. População ocupada nos serviços de transportes ...................................................................................................... 24 3.3. Os serviços de transporte na estrutura produtiva de Minas Gerais ..................................................................... 25 3.4. Consumo energético do setor transportes ................................................................................................................. 27 4. CARACTERIZAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA MODAL ......................................................................... 30 4.1. Modalidade rodoviária ................................................................................................................................................. 30 4.2. Modalidade ferroviária ................................................................................................................................................. 47 4.3. Modalidade dutoviária ................................................................................................................................................. 59 4.4. Modalidade aeroviária .................................................................................................................................................. 61 5. LOGÍSTICA E INTEGRAÇÃO MODAL .............................................................................................................. 72 5.1. Reestruturação produtiva e logística de transporte multimodal .......................................................................... 72 5.2. Instalações e serviços portuários ................................................................................................................................. 74 5.3. Outros terminais de integração intra e intermodal ................................................................................................. 86 5.4. Terminais alfandegados de uso público ..................................................................................................................... 88 5.5. Centros de distribuição e operadores logísticos ....................................................................................................... 90 6. DEMANDA, DIVISÃO MODAL E DISTRIBUIÇÃO ESPECIAL DOS FLUXOS ............................. 92 6.1. Volume transportado, produção e divisão modal das cargas ................................................................................. 92 6.2. Caracterização setorial da demanda de transporte de cargas ................................................................................. 94 7. TRANSPORTE URBANO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE .......... 109 7.1. Mudanças nos Padrões de Mobilidade ..................................................................................................................... 109 7.2. Desafios ......................................................................................................................................................................... 109 7.3. Prioridade para o transporte coletivo ...................................................................................................................... 110 7.4. Rede metropolitana integrada ................................................................................................................................... 114 7.5. Mudanças na gestão do transporte coletivo ........................................................................................................... 117 7.6. Coordenação transporte-trânsito .............................................................................................................................. 117 7.7. Articulação do transporte urbano com os sistemas de longa distância .............................................................. 117 8. QUESTÕES SETORIAIS E PERSPECTIVAS ................................................................................................... 118 8.1. Questões setoriais relevantes ..................................................................................................................................... 118 8.2. Recomendações para uma nova política estadual de transportes ....................................................................... 125 8.4. Desenvolvimento de uma rede integrada de plataformas logísticas ................................................................... 136 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 141 BDMG 40 anos 1. Apresentação A infra-estrutura é item estratégico na produção de praticamente todos os bens e serviços de uma economia e, em conseqüência, a ausência de uma infra-estrutura adequada restringe a capacidade de desenvolvimento econômico e social. Com efeito, os principais setores de infra-estrutura transporte e logística, energia, telecomunicações e saneamento são determinantes do desenvolvimento econômico e social de Minas Gerais. A situação infra-estrutural de Minas Gerais é bastante heterogênea. Têm-se, por um lado, razoável acesso da sociedade aos serviços básicos de energia e telecomunicações, mas, de outro, carências significativas no acesso aos serviços de saneamento e de transporte e logística. Na provisão de infra-estrutura, em geral, os governos em seus três níveis têm relevante participação, provendo diretamente ou regulando a provisão privada dos bens e serviços infraestruturais. Observa-se no País, a partir do início da última década, uma alteração no papel do Estado na infra-estrutura, de um Estado empreendedor, empresário, para um Estado regulador. Esta mudança implica a necessidade de alterações no desenho institucional, regulatório e gerencial para os setores. Existem espaços para atuação estadual e municipal nos setores de infra-estrutura, seja complementarmente à União, seja na definição de políticas e estratégias para os setores. O Governo Federal está mais adiantado nesta tarefa, pois já constituiu agências reguladoras e vem implementando os novos modelos setoriais. Os governos estaduais e municipais, em especial em Minas Gerais, ainda não implementaram as mudanças inerentes ao novo modelo. O Governo de Minas Gerais, ao contrário de algumas unidades federativas, controla duas importantes empresas de infra-estrutura CEMIG e COPASA , ambas com reconhecida capacidade técnica e eficiência produtiva. Não obstante, faz-se necessário adaptar estas empresas aos novos modelos setoriais, para que, alinhadas aos objetivos nacionais, elas possam contribuir decisivamente para o desenvolvimento do Estado de Minas Gerais. Neste Volume são apresentados, nesta ordem, estudos sobre os setores de Transporte e Logística, Energia, Telecomunicações e Saneamento. Os trabalhos, de um modo geral, mostram a situação atual capacidade instalada, qualidade dos serviços e demanda destes setores e indicam políticas para permitir a superação dos principais problemas. Ao final do Volume são relacionadas as principais conclusões, enfatizando aquelas que ensejam atuação do Governo do Estado de Minas Gerais. Capítulo 1 - Transporte e logística 13 BDMG 40 anos 14 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 2. Introdução 2.1. O papel da logística de transporte no desenvolvimento Os serviços de transporte e logística1 , assim como outros serviços infra-estruturais, têm se mostrado essenciais para as atividades pessoais e a produção econômica. É facilmente constatável que deficiências na infra-estrutura são capazes de reduzir muito rapidamente a produtividade e deteriorar a qualidade de vida, ao passo que a melhoria dos serviços infra-estruturais aumenta o bem estar e promove o crescimento econômico. O relatório do Banco Mundial sobre o Desenvolvimento Mundial em 1994 Infra-estrutura para o Desenvolvimento enfatiza que ainda não existe consenso sobre a magnitude ou a exata natureza do impacto da infra-estrutura sobre o crescimento, mas destaca que vários estudos sobre o assunto concluíram que o papel da infra-estrutura [incluindo os transportes] no crescimento é expressivo e não raro mais importante que o do investimento em outras formas de capital. Parece ser também consensual que a infra-estrutura é precondição necessária, porém não suficiente, para o crescimento devendo ser complementada por outros recursos. A oferta de infra-estrutura é, geralmente, tanto uma resposta à demanda como um incentivo à continuidade de seu uso. Segundo o mesmo relatório, o impacto dos investimentos em infra-estrutura sobre o crescimento também depende do ensejo e da localização dos acréscimos feitos à capacidade, bem como do desequilíbrio existente entre oferta e demanda (Banco Mundial, 1995). De toda sorte, é sabido que a adequada provisão de infra-estrutura de transporte tem mostrado ser capaz de potencializar ganhos de eficiência no sistema produtivo, contribuindo para o aumento do produto, o incremento da produtividade e, simultaneamente, a redução do custo por unidade de insumo. Por sua vez, o incremento da produtividade aumenta a remuneração dos fatores, estimulando o investimento e a geração de emprego. Ao contrário, como ressaltam CaixetaFilho e Martins (2001), se os sistemas de infra-estrutura não funcionam adequadamente, as atividades econômicas ficam comprometidas, com adicional elevação de custos, o que leva à perda de competitividade dos produtos de exportação no mercado externo e ao aumento dos preços no mercado doméstico. A literatura especializada tem sido pródiga em mostrar os efeitos benéficos da oferta de uma eficiente infra-estrutura de transportes, assim entendida como aquela que possibilita, aos usuários do sistema, menores custos, confiabilidade e rapidez. Mostra ainda que a eficiência do sistema logístico tem sido um fator de fundamental importância para que países e regiões possam competir no mercado global, mesmo no de produtos básicos tradicionais, e que a eficiência da movimentação de bens e pessoas, de e para diferentes lugares, afeta o custo relativo de consumir ou produzir em distintas localizações e, conseqüentemente, a localização ótima da indústria. A adequada provisão de infra-estrutura mostra-se, portanto, capaz de gerar um processo de crowding in, ao criar condições atrativas para a localização de novos investimentos privados. 1 No presente texto, o termo logística refere-se ao conjunto de atividades que, gerenciadas numa perspectiva integrada, agregam valor de lugar, de tempo, de qualidade e de informação à cadeia produtiva, tornando um produto ou insumo disponível no lugar certo e no tempo adequado, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor. Inclui, além dos serviços de transportes, que respondem pela maior parcela dos custos logísticos, a armazenagem, a gestão de inventários, o manuseio de materiais, o processamento de pedidos, a gestão da informação, etc. A ênfase, contudo, recai sobre a logística de transporte, incluindo infra-estrutura e serviços. Capítulo 1 - Transporte e logística 15 BDMG 40 anos Nesse contexto, verifica-se que o transporte se relaciona com o desenvolvimento econômico de diferentes maneiras: como fator de produção; como fator locacional; como consumidor de recursos e outros serviços; como gerador de empregos; como gerador de externalidades negativas. De fato, um dos papéis-chave do transporte é o de fator de produção. Trata-se do principal suporte logístico ao suprimento de matérias primas e insumos para a indústria e a distribuição de produtos acabados no mercado consumidor. Permite também a movimentação da mão-de-obra entre os locais de residência e de trabalho, além do deslocamento dos clientes até os pontos de venda2 . Políticas e programas que alcançam resultados positivos no tocante à redução dos custos de transporte contribuem para aumentar a competitividade da produção nos mercados consumidores e o desenvolvimento econômico nas regiões impactadas. É importante lembrar que os custos de transporte variam de um tipo de indústria para outro. Na maior parte das indústrias intensivas em recursos naturais, eles representam uma parcela significativa dos custos totais. Nessas, uma modesta redução dos custos de transporte pode ter um relevante impacto em sua rentabilidade. Por outro lado, o transporte pode significar uma parcela pequena e apresentar tendência de queda de participação nos custos totais de outras indústrias, normalmente produtoras de bens de alto valor agregado. Melhorias introduzidas nos sistemas de transporte e logística visando reduzir seus custos de operação podem ter impactos expressivos na produtividade, competitividade e rentabilidade das empresas afetadas. Quando uma nova modalidade de transporte entra em operação em uma região antes isolada, pode-se esperar a redução dos custos de distribuição dos produtos regionais, permitindo aos empresários expandir a produção, empregar mais trabalhadores e adquirir mais bens e serviços no comércio local, o que contribui para o desenvolvimento regional. Não se deve esquecer, contudo, que políticas de redução de custos de transporte baseadas em subsídios governamentais, financiados por outras indústrias ou regiões, além de diminuir os incentivos à maior eficiência, costumam provocar um declínio econômico global. De fato, melhorias nos sistemas de transporte têm possibilitado o alargamento das áreas de influência e de mercado dos centros nodais das redes viárias, quanto ao abastecimento de matériasprimas e distribuição de produtos finais. Permitiram a produção espacialmente concentrada, com economias de escala crescentes. A possibilidade de geração de economias externas, através de relações de interdependência industrial e uso comum de serviços, levou à aglomeração da indústria e ao desenvolvimento urbano. A minimização dos custos logísticos permitiu a muitas indústrias a ampliação do leque de escolha de localizações alternativas vantajosas. Paralelamente, áreas mais vastas passam a ser aproveitadas para o suprimento de insumos, enquanto os mercados consumidores podem ser geograficamente expandidos, possibilitando um alargamento da escala de produção. Por outro lado, o provimento e manutenção das infra-estruturas e a operação dos serviços de transporte se caracterizam como importantes consumidores de bens e outros serviços, gerando uma demanda específica que produz significativo impacto positivo no sistema econômico como um todo, constituindo importantes fontes geradoras de emprego e renda, como mostrado no item 2 deste capítulo para o caso específico de Minas Gerais. 2 16 É importante lembrar que mesmo o e-commerce não consegue abrir mão da mobilidade física de bens e serviços para obter os recursos de que necessita para seu funcionamento e para a distribuição dos produtos que comercializa. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos De um outro ponto de vista, os transportes costumam produzir externalidades negativas, com ampla repercussão econômica e social, a exemplo dos custos sociais resultantes do congestionamento de trânsito, da emissão de poluentes atmosféricos pelos veículos, além das desapropriações de terrenos e remoção de pessoas para a implantação de novas infra-estruturas, de indenizações e gastos hospitalares por acidentes de trânsito, dentre outros. Estes custos indesejáveis têm contribuído para reduzir a produtividade das indústrias afetadas e impactar o desenvolvimento econômico regional. Congestionamentos de trânsito e despesas com estacionamento costumam onerar os custos indiretos de muitos negócios, enquanto que a poluição provocada pelos meios de transportes pode ter efeitos negativos na indústria turística, por exemplo. Ao contrário, políticas públicas voltadas para a minimização das externalidades negativas geradas pelos sistemas de transporte geralmente contribuem para aumentar o crescimento econômico em suas áreas de influência e a qualidade de vida de suas populações. 2.2. Caracterização básica do sistema de transportes de Minas Gerais Um sistema de transportes, movimentando pessoas e bens em um dado território, apresenta duas dimensões principais, que respondem por sua caracterização: por um lado, a oferta de infraestrutura, representada pelas redes modais, interligadas por terminais de transbordo e ou de armazenagem; por outro, a demanda pelos serviços de transporte, gerando fluxos de bens e pessoas entre diferentes origens e destinos. Para se ter uma análise cuidadosa desse sistema, deve-se levar em conta essa combinação de aspectos simultaneamente estáticos e dinâmicos. À infra-estrutura de transporte (em sentido estrito), enquanto estoque de ligações viárias e instalações logísticas, resultantes de investimentos historicamente acumulados e com vida útil geralmente longa, está associado um conjunto de fluxos de pessoas e bens, de extensão e intensidade variáveis, geograficamente dispersos, balizados pelos operadores dos serviços de transporte. A abordagem integrada dessa dupla natureza do sistema de transportes é essencial para o seu correto diagnóstico, assim como para a avaliação das questões setoriais relevantes e de suas perspectivas. 2.2.1. Quadro geral da demanda de transporte em Minas Gerais Em Minas Gerais, os fluxos de transporte de mercadorias caracterizam-se pela magnitude dos volumes movimentados, predominância de bens de baixo valor agregado e predomínio de viagens curtas e médias (distância média de 345 km). Na primeira metade da década de 90, a movimentação anual de cargas no sistema de transporte de Minas Gerais foi da ordem de 346,5 milhões de toneladas, gerando uma produção de transporte de 119,6 bilhões de TKU / ano3 . Vale notar que, agrupados em seis setores, diferentes tipos de cargas, envolvendo matérias primas e insumos, bens intermediários e produtos finais quase sempre de menor valor agregado, responderam por pouco mais de 2/3 da demanda de transporte. Se acrescentarmos a movimentação de carga geral industrializada, quase sempre de maior valor agregado, totalizando cerca de 98 milhões de toneladas / ano, chega-se ao volume anual de cargas transportadas, como mostra a tabela seguinte. 3 TKU = toneladas-quilômetro úteis, é uma medida de desempenho operacional, indicadora da produção de transporte em um determinado período de tempo, calculada multiplicando o volume útil transportado (em toneladas) pela distância percorrida (em quilômetros). Capítulo 1 - Transporte e logística 17 BDMG 40 anos TABELA 1 VOLUME DE TRANSPORTE POR PRINCIPAIS AGRUPAMENTOS DE CARGA MINAS GERAIS - 1992 AGRUPAMENTO MILHÕES DE TONELADAS % DO TOTAL 171,3 49,4 26,9 7,8 Minero-siderúrgico Granéis agrícolas, açúcar e fertilizantes Energéticos líquidos e gasosos 24,4 7,0 Outras cargas do setor agrícola 12,0 3,5 Indústria da construção Celulose e papel 10,8 3,2 3,1 0,9 248,6 71,8 Subtotal 1 Carga geral industrializada Total 97,9 28,2 346,5 100,0 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transporte, 1994. Os principais fluxos de transporte de carga estão associados a um número restrito de cadeias produtivas: mineração e siderurgia, indústria do petróleo, agricultura, indústria da construção (basicamente cimento) e celulose e papel. O subsistema ferroviário atende predominantemente ao transporte de minérios e divide com as rodovias a movimentação de produtos siderúrgicos, de cimento e de calcário, além de atender a parcelas menores (menos de 20%) do transporte de combustíveis líquidos e de fertilizantes. O subsistema dutoviário movimenta pouco menos da metade dos combustíveis líquidos, além de parcelas bem menores do transporte de fertilizantes (em torno de 15%) e de minério de ferro (pouco menos de 10%). O transporte da carga geral industrializada, geralmente de maior valor agregado e geograficamente mais disperso, é feito predominantemente por rodovia. Dados da pesquisa origem/destino de 1992 (SEPLAN, 1994), os únicos disponíveis, mostram a modalidade rodoviária respondendo por pouco mais da metade (53%) da produção estadual de transporte (medida em toneladas km/ano), o modal ferroviário por 42% e o dutoviário por 5%. Embora a pesquisa OD de 1992 não tenha considerado o transporte aéreo de cargas, sabe-se que esse modal é bem pouco expressivo no tocante ao volume anual movimentado (que foi de cerca de 41,2 mil toneladas em 2000, equivalente a 3% da carga aérea total movimentada no Brasil naquele ano). No início dos anos 90, na ocasião da realização da referida pesquisa, o transporte hidroviário, restrito à hidrovia do São Francisco, encontrava-se praticamente paralisado. O transporte multimodal de cargas, particularmente o relacionado à movimentação de contêineres, ainda é incipiente e enfrenta uma série de dificuldades associadas à problemas pendentes na oferta de terminais intermodais e à não solução de entraves institucionais persistentes, relacionados principalmente à unificação da documentação do transporte e do seguro das cargas. Ademais, tratase de indústria nascente, ainda em fase de estruturação empresarial e operacional em Minas Gerais. Os fluxos do transporte interurbano de passageiros se concentram nos principais corredores rodoviários, notadamente naqueles convergentes para a capital do Estado, bem como em rotas interestaduais que se sobrepõem à malha rodoviária interna. Automóveis e utilitários respondem por mais da metade da produção de transporte rodoviário de passageiros (56%), cabendo aos ônibus cerca de 44% dessa produção (medida em passageiros km/ano). O transporte ferroviário interurbano de passageiros encontra-se praticamente desativado, restando em operação apenas a linha Belo Horizonte Vitória, explorada pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). 18 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos O transporte aéreo de passageiros está quase que totalmente concentrado na rede de aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária - INFRAERO (aeroportos de Confins - Tancredo Neves, Belo Horizonte - Pampulha, Uberlândia, Uberaba, Montes Claros e Juiz de Fora), que movimentaram cerca de 3,4 milhões de passageiros (embarques e desembarques) em 2000, equivalentes a 5% do tráfego aéreo de passageiros do Brasil. Desse movimento de passageiros, 85% se concentram nos aeroportos da Pampulha e de Confins, situados na região metropolitana de Belo Horizonte. 2.2.2. Rede multimodal de transportes A rede multimodal de transportes de Minas Gerais tem a composição apresentada na tabela seguinte: TABELA 2 REDE BÁSICA MULTIMODAL MINAS GERAIS - 2000 MODALIDADES Pavimentada EXTENSÃO (em km) Não pavimentada Total Rodovias 20.447 10.735 31.182 Federais 9.581 694 10.275 10.866 10.041 20.907 Estaduais Ferrovias 5.059 Hidrovias (1) 688 Dutovias Aeroportos (2) (unidades) 1.800 57 39 96 FONTES: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001; e Boletim rodoviário 2000, DER/MG, 2001. (1) inclui o trecho navegável do Rio São Francisco localizado em Minas Gerais e os trechos navegáveis dos Rios Paranaíba e Grande, localizados a jusante das barragens de São Simão e Água Vermelha, respectivamente. (2) inclui apenas aeroportos públicos e homologados pelo DAC, com pistas pavimentadas ou não. A configuração espacial dessa rede reflete o processo histórico de sua implantação, que se caracterizou pela forte concentração dos investimentos em regiões de maior desenvolvimento econômico, do que resulta uma maior densidade viária abaixo do paralelo 18o. Por outro lado, sua funcionalidade ressente da ausência de política consistente com vistas ao desenvolvimento integrado e multimodal da infra-estrutura viária. A busca recorrente de soluções isoladas para seus subsistemas modais tem sido a causa principal dos sérios problemas de conexão intra e intermodal, que elevam os custos e diminuem a eficiência das operações logísticas. Essa situação é agravada pelas condições atuais de manutenção da infra-estrutura de transporte. Na modalidade rodoviária, de um modo geral, o estado da rede não é bom, com expressiva extensão apresentando processos acelerados de desgaste da superfície de rolamento; deficiências, ou mesmo ausência completa, de sinalização vertical e horizontal; além da existência de segmentos críticos, tanto em relação às ocorrências concentradas de acidentes quanto à saturação da capacidade de tráfego. Nesse contexto, é importante destacar que o deficiente controle de peso por eixo dos caminhões, em uma economia que gera pesados fluxos de carga, tem sido um dos principais fatores responsáveis pela deterioração das rodovias mineiras. Também na modalidade ferroviária, as condições de conservação das linhas não são as desejáveis. São exceções alguns trechos que passaram por programas recentes de recuperação e ou de aumento de capacidade de tráfego, além das rotas tradicionalmente utilizadas para o transporte de minério de ferro, a exemplo das linhas da EFVM interligando a Região Central com o complexo portuário de Vitória (ES). Capítulo 1 - Transporte e logística 19 BDMG 40 anos A frota de caminhões vem passando por um processo rápido de envelhecimento, do que resulta uma idade média acima da desejável, onerando custos em uma conjuntura de fretes deprimidos. Concomitantemente, o material rodante ferroviário, de uma maneira geral, apresenta deficiências, em função da postergação de sua manutenção no período anterior à privatização das malhas regionais da Rede Ferroviária Federal - RFFSA, o que vem sendo paulatinamente solucionado pelas novas empresas concessionárias. Assim sendo, e considerando que rede multimodal mineira, pela sua configuração espacial e funcional, tem uma importância estratégica que extrapola os limites do Estado, pode-se afirmar que as condições atuais da infra-estrutura de transportes mostram-se inadequadas não só para atender aos fluxos presentes, mas principalmente para suportar aqueles que serão gerados em um novo e desejável ciclo de desenvolvimento. 20 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 3. Transporte e economia em Minas Gerais: 1985-2000 Os transportes estão presentes no dia-a-dia dos mineiros, garantindo sua mobilidade e oferecendo acessibilidade às oportunidades de trabalho e aos serviços sociais básicos. Ademais, viabilizam os fluxos de mercadorias entre os municípios de Minas Gerais e entre esses e os demais estados da Federação. Conectando as diferentes regiões do Estado, possibilitam a especialização produtiva regional e interligam atividades espacialmente dispersas dentro do sistema econômico. Por tudo isso, os transportes desempenham um papel fundamental na dinâmica da economia mineira. Contribuem para a formação do Produto Interno Bruto (PIB), consomem expressiva quantidade de bens e serviços e ocupam mais de duas centenas de milhar de trabalhadores. Os transportes são também importante fonte de receita e um significativo item das despesas públicas dos três níveis de governo. Utilizando os dados disponíveis mais recentes, esta seção busca demonstrar e avaliar alguns aspectos relevantes do relacionamento dos transportes com a estrutura produtiva de Minas Gerais. 3.1. Transportes e Produto Interno Bruto Há várias maneiras de medir a importância dos transportes na economia. Uma medida que incluísse todas as aquisições de bens (a exemplo de veículos e combustíveis) e serviços (fretes e seguros de veículos, dentre outros) relacionados ao transporte seria uma boa aproximação do volume de transações envolvendo, direta ou indiretamente, o setor, mas infelizmente não se dispõe dos dados consolidados. Outra medida de sua importância econômica é o valor adicionado à economia pelos serviços de transporte de pessoas e bens. Em 2000, a contribuição dos serviços de transporte para o Valor Adicionado (VA) de Minas Gerais (ou seja, o Produto Interno Bruto PIB a preços básicos) foi de R$ 2,55 bilhões, correspondentes a 2,53% do valor adicionado total. A evolução das contas regionais no período de 1985 a 2000 (vide TAB. 3, a seguir) demonstra uma participação percentual média dos serviços de transportes no PIB mineiro da ordem de 2,33%, com tendência de crescimento ao longo do período. Constata-se que, entre 1985 e 1992, a participação dos serviços de transporte no PIB de Minas Gerais foi, em média, de 2,15%, elevando-se para 2,47% no período de 1993 a 2000. Ao contrário, as contas nacionais demonstram uma participação percentual mais elevada dos serviços de transportes no PIB brasileiro (medido a preços básicos), porém com tendência de progressiva redução: em 1990, esta participação era de 3,97%, tendo caído para 3,05% em 1996. A análise das contas regionais mostra ainda que o PIB dos serviços de transporte tem apresentado taxas de crescimento mais elevadas do que a média do Estado. Enquanto o PIB mineiro apresentava crescimento médio da ordem de 1,5% ao ano entre 1985 e 1992 e de 3,4% ao ano entre 1993 e 2000, as taxas médias de crescimento do PIB dos serviços de transporte foram de 3,5% e 4,4% ao ano, nos mesmos períodos. Vale também observar que o valor adicionado pelos serviços de transporte cresceu, nos mesmos períodos, em ritmo mais acelerado que os setores agrícola e industrial. Capítulo 1 - Transporte e logística 21 BDMG 40 anos GRÁFICO 1 FONTE: Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001, FJP, 2002. Os dados disponíveis demonstram ser a demanda pelos serviços de transporte em Minas Gerais altamente elástica em relação ao PIB estadual. Significa dizer que o setor transporte responde mais do que proporcionalmente aos estímulos do desenvolvimento, com efeitos multiplicadores na economia mineira. TABELA 3 CONTAS REGIONAIS E INDICADORES DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 1985 A 2000 INDICADORES Unidade de Medida 1985-1992 MÉDIA POR PERÍODO 1993-2000 1985-2000 PIB a preços básicos (de 2000) R$ bilhões 75,0 91,1 83,1 PIB Transportes R$ bilhões 1,6 2,25 1,9 Contribuição dos Transportes ao PIB Taxas de Crescimento: % do PIB 2,15 2,47 2,33 PIB Total % ao ano 1,50 3,44 2,58 PIB Agricultura % ao ano 1,19 4,82 2,88 PIB Indústria % ao ano 0,42 4,08 2,37 PIB Transportes % ao ano 3,55 4,41 4,25 1,78 1,41 1,71 - 0,77 0,92 1,50 1,16 1,55 Elasticidade: Transportes(*) -PIB Transportes-PIB Agrícola Transportes-PIB Industrial FONTE: Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001, FJP, 2002; cálculos da Consultoria.(*) adotando o consumo de óleo diesel em transportes como proxie da produção setorial. 22 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento é positiva e maior do que a unidade; BDMG 40 anos É importante notar que a elasticidade-produto dos serviços de transportes em Minas Gerais: apresenta tendência de queda ao longo do tempo considerado; é bem superior à elasticidade-produto da produção brasileira de transportes, que tem oscilado em torno de 1,2. Os coeficientes de elasticidade-produto dos transportes, apresentados na tabela anterior, indicam também que o desempenho dos serviços de transportes em Minas Gerais é mais fortemente associado ao comportamento da indústria do que da agricultura. GRÁFICO 2 FONTE: Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001, FJP, 2002.; Balanço energético – ano base 1999, CEMIG, 2002. Tais indicadores refletem tanto a relativa desconcentração da atividade econômica, aliada à ampliação geográfica dos mercados e expansão do comércio inter-regional, quanto as características específicas da demanda de transporte gerada pelo parque produtivo de Minas Gerais. Com efeito, a forte concentração da estrutura produtiva mineira em bens intermediários, com destaque para as indústrias siderúrgicas e de minerais não-metálicos, a elevada importância do setor extrativo-mineral e a expansão e modernização da agricultura, significam, por um lado, uma grande abertura da economia mineira aos mercados nacional e internacional, e, por outro, a geração de volumosos e pesados fluxos de carga, impondo um relevante papel estratégico aos serviços de transporte. Além disso, cabe a esses serviços atender à expressiva demanda de transporte de passageiros, seja entre os inúmeros municípios mineiros, sejam fluxos internos à Região Metropolitana de Belo Horizonte e às cidades médias do interior, sem falar dos fluxos interestaduais que, em virtude do posicionamento geográfico de Minas Gerais, percorrem seu vasto território nas direções norte/sul e leste/oeste. Capítulo 1 - Transporte e logística 23 BDMG 40 anos 3.2. População ocupada nos serviços de transportes Outro indicador representativo da relevância econômica dos serviços de transportes é o contingente populacional ocupado no setor. Em Minas Gerais, no ano de 1998, cerca de 263 mil pessoas encontravam-se trabalhando em serviços de transportes, o que representava cerca de 3,8% dos trabalhadores mineiros. Em relação ao ano anterior, o pessoal ocupado nos serviços de transportes manteve-se praticamente no mesmo patamar, tendo ocorrido um incremento mínimo de 0,07%. Entre 1985 e 1992, o pessoal ocupado nos serviços de transporte em Minas Gerais, que em média, correspondeu a 3,4% da população ocupada total do Estado, cresceu cerca de 67,2%. Contudo, pode-se observar a evolução desse contingente passando por três fases temporais distintas: i) entre 1985 e 1992, a tendência foi de crescimento acelerado do contingente ocupado nos transportes, da ordem de 8,16% ao ano; ii) entre 1992 e 1994, ao contrário, ocorre processo inverso, com a população ocupada no setor sendo reduzida de 272,3 mil para 244,4 mil trabalhadores, o que representou uma perda líquida da ordem de 27,9 pessoas em apenas dois anos4 ; iii) finalmente, entre 1994 e 1998, ocorreu ligeiro aumento da população ocupada no setor, chegando a 263 mil pessoas no final do período, com a criação de 18,6 mil postos de trabalho, porém ainda não compensando a perda verificada na fase intermediária da série analisada. A taxa média de crescimento da população ocupada em transportes entre 1992 e 1998 foi, portanto, negativa, da ordem de 0,58% ao ano. GRÁFICO 3 FONTE: Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001, FJP, 2002 e PNAD; cálculos da Consultoria. É interessante comparar a evolução da população ocupada nos serviços de transportes pari passu o crescimento do valor adicionado por esses serviços entre 1985 e 1998, como mostram a figura anterior e a tabela seguinte. 4 24 As estatísticas disponíveis não permitem detectar em quais modalidades de transporte as reduções do número de pessoas ocupadas foram mais significativas, mas é possível supor que as empresas do setor ferroviário se incluem entre as mais impactadas, haja vista o grande número de aposentadorias e adesões a planos de desligamento voluntário que ocorreram no período antecedente à concessão das malhas regionais da RFFSA ao setor privado. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos TABELA 4 PESSOAL OCUPADO E VALOR ADICIONADO PELOS SERVIÇOS DE TRANSPORTES MINAS GERAIS - 1985 A 1998 INDICADORES Pessoal Ocupado Unidade de Medida em mil Em 1998 MÉDIA POR PERÍODO 1985-1992 1992-1998 1985-1998 263,0 208,0 261,2 230,0 3,44 Participação Relativa % do Total 3,75 3,23 3,75 Taxa de Crescimento % ao ano 0,07 (1) 8,16 -0,58 4,03 2,43 1,61 2,11 1,85 PIB Transportes R$ bilhões Taxa de Crescimento % ao ano Por Pessoa Ocupada R$ mil 0,51 (1) 3,55 5,68 4,53 9,24 7,92 8,07 8,11 FONTE: Anuário estatístico de Minas Gerais 2000-2001, FJP, 2002 e PNAD; cálculos da Consultoria. (1) em relação a 1997 Verifica-se que, entre 1985 e 1992, tanto o valor adicionado pelos serviços de transporte quanto o pessoal ocupado neste setor de atividade foram crescentes, porém, enquanto o valor adicionado aumentou cerca de 27,7% no período, o incremento do pessoal ocupado foi ainda maior, de 73,1% entre as duas pontas da série. Ao contrário, entre 1992 e 1998, enquanto o valor adicionado setorial continuou com sua trajetória de crescimento (com uma taxa média anual mais alta), a população ocupada nos serviços de transporte mostrou uma tendência geral de estagnação. Em conseqüência desses comportamentos díspares, o valor adicionado por pessoa ocupada nos serviços de transportes mostrou duas trajetórias distintas entre 1985 e 1998. No primeiro período, que se estende de 1985 a 1992, esse indicador mostrou tendência de queda contínua, sendo reduzido em 26,2% entre as duas pontas da série. Ao contrário, a partir de 1992, a tendência é invertida: a relação entre o valor adicionado e o pessoal ocupado em transportes aumenta cerca de 44,2% em seis anos, sinalizando a ocorrência de um expressivo ganho de produtividade da mão-de-obra empenhada nos serviços de transportes em Minas Gerais ao longo da maior parte de década de 90. 3.3. Os serviços de transporte na estrutura produtiva de Minas Gerais O Valor Bruto da Produção (VBP) de serviços mineiros de transportes atingiu, em 1998, o montante de R$ 4,94 bilhões (a preços de 1999), equivalente a 3,8% do VBP total de Minas Gerais no mesmo ano. Vale ainda ressaltar que, entre 1985 e 1998, os VBPs total e dos transportes apresentaram elevada correlação positiva (rxy = 0,8), com o VBP dos serviços de transporte crescendo cerca de 25% entre as duas pontas da série anual (contra 18% de crescimento do VBP total), como mostra o gráfico seguinte. O VBP dos transportes manteve nesse período participação relativa média no agregado da ordem de 3,5%, com variações no intervalo de ± 0,3%. Nesse contexto, a importância econômica dos serviços de transportes pode ser também avaliada conhecendo sua estrutura de relações de troca com outros setores de atividade. Duarte Filho e Chiari (2002) analisaram as características da estrutura produtiva mineira e sua inserção na economia nacional, a partir da matriz inter-regional de insumo-produto Minas Gerais Resto do Brasil5 , de 1996. Dentre os resultados desse estudo destaca-se a análise das relações de compra e venda de insumos e bens finais entre os diversos setores de atividade econômica, dentre eles os serviços de transportes. 5 A Matriz Inter-regional de Insumo-Produto Minas Gerais / Resto do Brasil 1996 analisada pelos autores citados foi desenvolvida em conjunto pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BDMG e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas FIPE/USP. Essa matriz, dividindo a economia brasileira em duas regiões: Minas Gerais (MG) e resto do Brasil (RB) e contemplando 42 setores de atividade econômica, descreve como Minas Gerais se relaciona com a economia nacional, segregando, para cada setor de atividade, o consumo intermediário, o valor bruto da produção, o valor adicionado, a demanda final e as importações. Capítulo 1 - Transporte e logística 25 BDMG 40 anos Duarte Filho e Chiari (2002), ao construírem uma tipologia dos setores de atividade mineiros em função de suas relações de compra (de seus insumos produtivos) e de venda (de seus produtos) em Minas Gerais e no resto do País, mostraram que os serviços de transportes se incluem entre aqueles setores que concentram suas transações de compra e venda em Minas Gerais, sendo a única atividade de serviços que não se caracteriza por baixas compras e altas vendas dentro do Estado. GRÁFICO 4 FONTE: Fundação João Pinheiro – dados deflacionados pelo IPA (BDMG/FIPE, 2002). Um outro importante indicador que pode ser obtido da análise da matriz de insumo-produto é o multiplicador setorial de produção, o qual mede o impacto total na economia brasileira devido à elevação de uma unidade monetária na demanda final pelo produto de um setor específico em determinada região. O multiplicador setorial de produção dos serviços de transportes, para Minas Gerais, da ordem de 1,865, encontra-se acima da média estadual (igual a 1,791). Já no restante do País, os efeitos multiplicadores dos serviços de transporte são menos expressivos, encontrando-se abaixo da média nacional (igual a 2,012). Avançando no estudo, Duarte Filho e Chiari (2002) procuraram identificar os setores-chave da economia mineira, ou seja, aqueles setores que possuem fortes efeitos de encadeamento em termos do fluxo de bens e serviços (numericamente, são os que apresentam, simultaneamente, índices de interligação para frente e para trás com valores superiores à unidade). Dentre os 42 setores de atividade analisados, foram identificados como setores-chave para Minas Gerais, em 1996, apenas o siderúrgico e o de fabricação de outros produtos metalúrgicos, mas os dois autores não deixaram de ressaltar a importância para a economia mineira do setor de serviços de transporte, que encontra-se muito próximo do limite de classificação de setores-chave, já que possui efeitos para frente maior que 1 e efeito para trás igual a 0,9919. Foi também proposta (vide quadro seguinte) uma classificação dos setores em termos de sua relevância no desenvolvimento regional, que, longe de esgotar a questão, deve ser encarada como uma agenda de discussão. 26 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos QUADRO 1 SETORES RELEVANTES DA ECONOMIA MINEIRA NÍVEL SETOR I Siderurgia; Fabricação de outros produtos metalúrgicos. II Fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico; Fabricação de máquinas e tratores; Fabricação de elementos químicos não petroquímicos; Serviços de transportes [grifo nosso]. III Indústria de produtos alimentícios, com destaque para café, açúcar, carne e óleos vegetais e gorduras para alimentação; Fabricação de outros serviços, peças e acessórios; Serviços. FONTE: Duarte Filho e Chiari (2002). A classificação proposta estabeleceu uma escala hierárquica em que os setores-chave ocupam o primeiro nível de relevância. No segundo nível estão incluídos aqueles setores de atividade, dentre eles os serviços de transporte, que concentram suas transações comerciais de compra de insumos e venda de produção em Minas Gerais. No terceiro nível, os autores incluíram os setores que apresentam elevados multiplicadores de produção e que não foram incluídos nos níveis I e II, além das outras atividades de serviços. 3.4. Consumo energético do setor transportes A relevância econômica dos transportes em uma economia pode ser também aquilatada quando se analisa a sua participação na matriz energética. A demanda total de energia em Minas Gerais, em 1999, chegou a 34,62 milhões de tEP (tonelada equivalente de petróleo), o que corresponde a 13,6% da demanda total de energia no Brasil (conforme o 16O. Balanço Energético de Minas Gerais Ano Base 1999). Analisando-se setorialmente a matriz energética mineira, observa-se que o setor Transportes consumiu cerca de 5,37 milhões de tEP, representando 15,5% da demanda total, o que o colocou em segunda posição na classificação geral dos setores consumidores, abaixo da Indústria, que respondeu por 57,8%, e seguido de perto pelo setor Residencial, com 14,2%. No período 1985/1999, a demanda total de energia cresceu, em Minas Gerais, a uma taxa média de 2,2% ao ano, enquanto que a variação média anual da demanda energética do setor Transportes foi de 5,2% ao ano. Acompanhando-se a evolução da demanda de energia em Minas Gerais por setor, neste período, verifica-se que, se a participação do setor Industrial vem se reduzindo lentamente desde 1985 (passando de 67,2% para 57,8%), a participação do setor Transportes (de 10,4%, em 1985) tem sido crescente, atingindo seu máximo em 1999. Capítulo 1 - Transporte e logística 27 BDMG 40 anos GRÁFICO 5 FONTE: CEMIG, 16o Balanço energético de Minas Gerais, 2002. Decompondo o período 1985/1999 em três: 1985/1990, 1990/1995 e 1995/1999, verifica-se que as taxas médias anuais de evolução do consumo energético do setor Transportes foram sempre positivas e superiores às taxas médias da demanda total de energia, como demonstra o gráfico seguinte. GRÁFICO 6 FONTE: CEMIG, 16o Balanço energético de Minas Gerais, CEMIG, 2002 A análise do consumo energético por modalidade de transporte mostra uma participação preponderante do modal rodoviário, que em 1999 foi responsável por 93,6% da demanda energética setorial. Em uma visão retrospectiva, constata-se a tendência de aumento contínuo da participação dessa modalidade no consumo do setor (de 89,6% em 1985 para 93,6% em 1999). Ao contrário, 28 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos o consumo de energia do modal ferroviário manteve-se, em números absolutos, praticamente constante entre 1985 e 1999 (média 251,7 mil tEP no período), o que levou a uma redução progressiva da participação do transporte ferroviário na demanda energética setorial (de 9,0% no início do período, chegou a 4,4% em 1999). Concluindo a análise, vale destacar que ao longo de todo o período analisado, o setor Transportes manteve sua elevadíssima dependência dos derivados de petróleo, os quais constituem sua principal e preponderante fonte energética. No período de 1985 a 1999, esta fonte representou, ano a ano, sempre mais de 84% da energia consumida pelo setor de Transportes, atingindo seu máximo em 1999 (com 89%). Dentre seus componentes destacam-se o óleo diesel e a gasolina, com participações médias de 61,7% e 22,8%, respectivamente, no consumo energético do setor Transportes entre 1985 e 1999. Capítulo 1 - Transporte e logística 29 BDMG 40 anos 4. Caracterização da infra-estrutura modal 4.1. Modalidade rodoviária 4.1.1. Configuração física da rede rodoviária Em 2001, a rede rodoviária mineira apresentava uma extensão total de 264.971 quilômetros dentre rodovias pavimentadas e não pavimentadas, o que corresponde a 15,4% de toda a rede rodoviária brasileira. A tabela seguinte apresenta a distribuição da extensão quilométrica dessa rede segundo o nível de jurisdição institucional. TABELA 5 EXTENSÃO DA REDE DE RODOVIAS - MINAS GERAIS - 2001 JURISDIÇÃO Pavimentada EXTENSÃO (em km) Não pav. Total Federal 9.581 694 10.275 Não delegada 5.844 - 5.844 Delegada ao DER(1) 3.737 694 4.431 Estadual 10.866 10.041 20.907 Subtotal (Fed. e Est.) 20.447 10.735 31.182 ND ND 233.789 Municipal Total 264.971 FONTES: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001; Boletim rodoviário 2000, DER/MG, 2001. (1) para fins de conservação. Verifica-se que apenas 20.447 quilômetros de rodovias se encontram pavimentados (7,7% da extensão total da malha estadual). Da extensão total de rodovias pavimentadas, cerca de 46,9% encontram-se sob a jurisdição do Governo Federal, enquanto que 53,1% são de responsabilidade do Governo Estadual. É importante destacar que 39% da rede federal pavimentada estão delegados ao Governo do Estado, o que eleva a 14.603 quilômetros a extensão total de rodovias pavimentadas sob a administração e conservação do Governo do Estado. As rodovias federais não pavimentadas somam apenas 694 quilômetros (0,26% da malha rodoviária mineira), enquanto as estaduais não pavimentadas chegam a 10.041 quilômetros (3,8%). Vale notar que as rodovias municipais não pavimentadas correspondem a 88% de toda a malha rodoviária mineira. Evidentemente, a malha rodoviária principal, integrante da rede multimodal básica, é aquela composta pelas rodovias que se encontram sob a jurisdição dos governos federal e estadual, totalizando 31.182 quilômetros de extensão, dos quais, cerca de 65,5% estão pavimentados (vide Mapa 1). Essa malha principal corresponde, em extensão quilométrica, a pouco mais de 7% da malha rodoviária principal (rodovias federais e estaduais) do Brasil. 30 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS 2002: REDE DE RODOVIAS FEDERAIS E ESTADUAIS, POR TIPO DE REVESTIMENTO BDMG 40 anos MAPA 1 FONTE: DER/MG É importante destacar que, em Minas Gerais, cerca de 80% do tráfego rodoviário interurbano estão concentrados na rede de rodovias sob jurisdição federal, que corresponde a apenas 1/3 da extensão total da rede básica, enquanto 20% desse volume concentram-se na rede de rodovias estaduais, que representam 2/3 da extensão total da rede principal. A configuração espacial dos fluxos rodoviários estruturou no território mineiro, nas últimas décadas, um conjunto de importantes rotas de transporte. Essas rotas promovem a integração das diferentes regiões mineiras e destas com outros estados da Federação, atendem às logísticas de escoamento e distribuição interna da produção e importação e exportação de mercadorias para outros estados e países (nesse caso, principalmente através dos portos marítimos do Sudeste brasileiro), além de estruturarem corredores interestaduais de passagem, principalmente nos sentidos norte-sul e leste-oeste. Destacam-se seguintes rotas rodoviárias: a) Belo Horizonte São Paulo: corresponde ao trecho da rodovia BR 381 entre essas duas cidades, denominado Rodovia Fernão Dias, ora em fase final de duplicação de sua pista de rolamento. Tem fundamental relevância no transporte da carga geral industrial, de produtos siderúrgicos e de cimento, dentre outros produtos movimentados entre importantes pólos de produção e consumo da Região Sudeste; b) Belo Horizonte Rio de Janeiro: é um segmento da rodovia BR 040 (Brasília / Rio de Janeiro), atende basicamente ao transporte de produtos industrializados e insumos básicos, entre os dois pólos principais e as microrregiões que atravessa. O subtrecho entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro, todo em pista dupla, é mantido e explorado por empresa concessionária; Capítulo 1 - Transporte e logística 31 BDMG 40 anos c) Belo Horizonte Ipatinga Governador Valadares: trata-se do prolongamento da rota São Paulo Belo Horizonte na direção do Vale do Aço, desempenha o papel de eixo de integração dos centros de produção e consumo do complexo metal-mecânico em território mineiro. Todavia, apresenta configuração física, condição de pavimento e desempenho operacional aquém de sua importância funcional. Requer intervenções de porte para sua adequação físico-operacional; d) Brasília Belo Horizonte Vitória: é o principal corredor de escoamento da produção de granéis agrícolas nos Cerrados em direção ao complexo portuário de Vitória. Em Minas Gerais, tem início na microrregião de Paracatu, na divisa MG/GO, atingindo Belo Horizonte através da BR 040, de onde segue pelo Leste mineiro, pela BR 262, até o Espírito Santo; e) Brasília Uberlândia São Paulo: trata-se de alternativa para o escoamento de granéis agrícolas das regiões do Cerrado, em direção aos portos de Santos e Paranaguá (nesse caso, através da rodovia BR 153, que toma a direção do Paraná), em contraposição ao seu escoamento para o complexo portuário capixaba. Atende, ainda, à produção industrial que circula entre São Paulo e o Triângulo Mineiro (através das rodovias SP 330 e BR 050) e, a partir do grande centro atacadista-distribuidor que é Uberlândia, em direção ao Centro-Oeste brasileiro. Vale registrar que, em território paulista, este importante eixo rodoviário encontra-se todo em pista dupla, sendo mantido e explorado por empresas concessionárias; f) Rio de Janeiro Governador Valadares - Salvador: parte do grande eixo longitudinal que liga o Sul/Sudeste ao Nordeste brasileiro, atravessa toda a porção leste do território mineiro, entroncando em Realeza, na microrregião de Manhuaçu, com a BR 262, que estrutura a rota Brasília Belo Horizonte Vitória, e em Governador Valadares, com a BR 381, estruturadora da rota Belo Horizonte Ipatinga Governador Valadares. O trecho inicial dessa rota, entre o Rio de Janeiro e a divisa RJ/MG (em Além Paraíba), encontra-se sob a administração e exploração de empresa concessionária; g) Belo Horizonte Montes Claros - Ibotirama: trata-se do principal eixo de integração do Norte de Minas com a capital mineira, através das rodovias BR 040 e BR 135. A partir de Montes Claros, através da BR 122, toma a direção da região central da Bahia, finalizando no porto fluvial de Ibotirama, na hidrovia do São Francisco. Na situação atual, esse eixo ressente, em sua maior parte, da falta de adequada manutenção, o que levou a forte degradação do pavimento; h) Belo Horizonte Passos Ribeirão Preto: estruturado pelas rodovias MG 050 e BR 265, constitui-se como importante eixo de integração inter-regional, ligando Belo Horizonte com o Centro-Oeste mineiro e com porções do Sul de Minas polarizadas por Passos e São Sebastião do Paraíso, de onde se direciona para o pólo paulista de Ribeirão Preto, entroncando com a rota Brasília Uberlândia São Paulo. O trecho mineiro dessa rota está a requerer intervenções significativas no sentido de adequar sua configuração físico-operacional ao importante papel funcional que desempenha no sistema rodoviário mineiro; i) 32 Belo Horizonte Uberlândia: permite, através da rodovia BR 262, a integração de Belo Horizonte com o Triângulo Mineiro, em Uberaba, seguindo, pela BR 452, a partir do entroncamento em Araxá, até Uberlândia; Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento Uberlândia Montes Claros Salvador: liga o Triângulo Mineiro ao Nordeste brasileiro, através da rodovia BR 365 e, a partir de Montes Claros, da rodovia BR 251, até o entroncamento com a BR 116 (rota Rio de Janeiro Governador Valadares Salvador). No sentido inverso, a partir de Uberlândia, segue, em direção ao Centro-Oeste brasileiro, até o entroncamento com a BR 364, em São Simão, na divisa MG/GO; BDMG 40 anos j) k) Varginha Juiz de Fora Leopoldina: interliga o Sul de Minas à Zona da Mata, através da rodovia BR 267, constituindo-se como um elo das rotas Belo Horizonte São Paulo (BR 381) e Rio de Janeiro Salvador (BR 116). Atravessa microrregiões com produções industrial e agrícola, está voltada basicamente para a indústria de leite e derivados. No Sul de Minas, a microrregião de São Lourenço, conectada por essa rota, caracteriza-se por atividades turísticas; l) Poços de Caldas Pouso Alegre Itajubá: em posição transversal à rota Belo Horizonte São Paulo, na porção extrema do Sul de Minas, a rodovia BR 459 é a rota de integração de uma vasta área polarizada por três importantes cidades médias mineiras. A partir de seu entroncamento com a Via Dutra, em Lorena (SP), permite a integração dessa área do Sul de Minas com a dinâmica Região do Vale do Paraíba. Contudo, as atuais condições de traçado e de conservação do pavimento da BR 459 mostram-se incompatíveis com a importância funcional dessa rota, requerendo intervenções significativas para a sua adequação operacional. 4.1.2. Evolução da rede rodoviária pavimentada Nos últimos quarenta anos ocorreram significativas mudanças na extensão da rede de rodovias pavimentadas de Minas Gerais. A extensão quilométrica pavimentada evolui a taxa média de 5,9% ao ano, passando de praticamente dois mil quilômetros, em 1960, para pouco mais de 20 mil quilômetros no limiar do século XXI, como se pode ver na tabela seguinte. TABELA 6 EXPANSÃO QUILOMÉTRICA DA REDE PAVIMENTADA (1) - MINAS GERAIS - 1960 A 2001 ANO EXTENSÃO (km) PERÍODO INCREMENTO (km) TAXA DE CRESC. (% a.a.) 1960 1.986 1960 - 1970 5.912 14,8 1970 1980 7.898 11.981 1970 - 1980 1980 - 1985 4.083 1.626 4,3 2,6 1985 13.607 1985 - 1990 3.694 4,9 1990 17.301 1990 - 1995 2.134 2,4 1995 19.435 1995 - 2001 1.012 0,8 2001 20.447 1960 - 2001 18.461 5,9 FONTES: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001; e Boletim rodoviário 2000, DER/MG, 2001. Levantamento e cálculos da Consultoria. (1) inclui rodovias federais e estaduais Os dados apresentados na tabela anterior demonstram que as taxas de expansão da rede pavimentada foram progressivamente se reduzindo. No início do rodoviarismo, os esforços governamentais estiveram concentrados na pavimentação dos grandes eixos viários, o que permitiu Capítulo 1 - Transporte e logística 33 BDMG 40 anos atender e consolidar os principais corredores de transporte. Passada essa fase pioneira, os esforços se direcionaram para a pavimentação das vias coletoras, levando à estruturação de uma rede básica que atingiu as diferentes regiões de Minas, ainda que de forma espacialmente desigual. Uma periodização simplificada desse processo histórico mostra que durante os anos 60 a atuação conjunta dos Governos Estadual e Federal viabilizou a pavimentação de quase seis mil quilômetros de rodovias, o que significou a expansão da rede pavimentada a taxa média de 14,8% ao ano. Ao longo da década de 70, foram pavimentados mais quatro mil quilômetros em Minas Gerais, de modo que, em 1980, a rede pavimentada mineira chegou ao patamar de quase 12 mil quilômetros de rodovias (crescimento médio de 4,3% ao ano). Já a década seguinte pode ser dividida em dois períodos bem distintos: o primeiro, entre 1980 e 1985, será marcado por uma brusca redução da taxa de expansão da rede pavimentada (que cresceu, em média, apenas 2,6% ao ano). Na segunda metade da década, ao contrário, o que se viu foi um forte e concentrado aumento dos investimentos em pavimentação rodoviária, que agregaram à rede mais 3.694 quilômetros de rodovias pavimentadas em apenas cinco anos (crescimento anual médio da ordem 4,9%). Os anos 90, contudo, se caracterizaram por um novo ciclo de desaceleração dos investimentos em pavimentação rodoviária, agregando-se à rede pouco mais de três mil quilômetros de rodovias pavimentadas (crescimento médio de 1,5% ao ano). Essa tendência geral de investimentos decrescentes em pavimentação rodoviária está associada não só ao término das ações pioneiras visando alcançar maior integração regional, mas também à mudança de foco que marcará a gestão rodoviária nos últimos anos. Além da forte redução dos recursos destinados ao financiamento do setor de transportes de uma maneira geral6 , ocorreram alterações significativas na composição do gasto rodoviário, com uma forte diminuição das aplicações na expansão da rede (construção e pavimentação de rodovias) e concomitante incremento dos gastos com conservação e restauração viária (ainda que esses tenham se mostrado aquém do necessário), devido ao envelhecimento da rede pioneira. Ademais, os investimentos em expansão passaram a incluir obras de adequação e duplicação de rodovias já pavimentadas, em função do esgotamento da capacidade de tráfego em importantes corredores. Em Minas Gerais, os dois exemplos dessa inversão de pauta que caracteriza os anos 90 no setor rodoviário são as duplicações das rodovias BR 040, entre Belo Horizonte e Sete Lagoas (já concluída), e BR 381, entre Belo Horizonte e São Paulo (em fase final). Apesar da significativa ampliação da rede de rodovias pavimentadas, ocorrida nos últimos 40 anos, vale ressaltar que cerca de 10,7 mil quilômetros de rodovias federais ou estaduais ainda se encontram sem pavimentação asfáltica. Uma parcela expressiva dessas rodovias (em torno de seis mil quilômetros) apresenta relativa importância econômica por desempenhar funções de via coletora de fluxos de tráfego com alguma expressão, direcionando-os rumo ao sistema troncal e, assim, contribuindo para a integração inter e intra-regional. Nesse contexto, é também importante considerar que 233 sedes municipais mineiras (27,3% do total) não dispõem de acesso pavimentado à rede viária principal do Estado, sendo que, desse total, 133 cidades estão interligadas à rede principal por estrada com revestimento primário e outras 100 através de estradas em leito natural7. 6 7 34 Analisando a evolução dos investimentos em infra-estrutura no Brasil a partir de 1970, Pego Filho et al. (1999, p. 14) atribui a constante queda dos investimentos que marcará o período entre o início dos anos 80 e meados da década de 90, ao modelo de financiamento adotado, baseado em empréstimos externos (que apresentaram elevadas taxas de juros e amortizações de curto e médio prazos), além da alocação dos recursos em um elevado número de projetos de grande porte (longo prazo de maturação dos investimentos, alto risco e baixa capacidade de retorno). Conforme Cadastro Geral dos Municípios com Acessos Não Pavimentados, do DER/MG, divulgado em abril de 2002. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS 2002: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS MUNICÍPIOS SEM ACESSO RODOVIÁRIO PAVIMENTADO BDMG 40 anos MAPA 2 FONTE: DER / MG Para garantir acesso asfaltado a todo esse conjunto de municípios é necessária a pavimentação de 5.969 quilômetros de rodovias, assim discriminados: rodovias estaduais (MG): ............................................................................. 1.983km; rodovias estaduais transitórias (MGT): ........................................................ 355km; rodovias estaduais de ligação (LMG): ........................................................1.172km; rodovias estaduais de acesso (AMG): ............................................................. 69km; rodovias municipais em leito natural: ............................................................2.320km; rodovias federais (BR): ...................................................................................... 70km. Para tanto, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 2,1 bilhões (a preços de abril de 2002) 8 , beneficiando diretamente uma população de 1,8 milhões de habitantes (cerca de 10% da população total de Minas Gerais). 8 Esta estimativa baseia-se no custo unitário médio padrão do Banco Mundial para obras de pavimentação de rodovias alimentadoras no Brasil, da ordem de US$ 150,000.00 por quilômetro pavimentado. Capítulo 1 - Transporte e logística 35 BDMG 40 anos 4.1.3. Densidade espacial da rede rodoviária Se em extensão quilométrica, a rede de rodovias pavimentadas de Minas Gerais só perde para a paulista, quando se analisa a densidade espacial dessa rede (ou seja, a extensão de rodovias por unidade de superfície), verifica-se que Minas Gerais ocupa a 13ª posição dentre os 26 estados da União, com 34,7km de rodovias pavimentadas por cada 1.000km2 de área territorial. Embora esse indicador seja quase duas vezes superior à média nacional, que é de 19,3km/1.000km2, é de se destacar que a densidade da rede mineira de rodovias pavimentadas é pouco menor do que a da rede gaúcha. Corresponde a um terço da densidade da rede paulista e a pouco menos da metade da densidade paranaense. TABELA 7 DENSIDADE DE RODOVIAS PAVIMENTADAS - MINAS GERAIS E ESTADOS SELECIONADOS - 2000 ESTADO ÁREA (km2) EXTENSÃO (km) DENSIDADE (km / 1.000 km2) Bahia 567.295,3 12.160 21,4 Goiás 341.209,5 10.295 30,2 Minas Gerais 588.383,6 20.447 34,7 Paraná 199.709,1 16.615 78,2 Rio G. do Sul 282.062,0 10.332 36,6 São Paulo 248.808,8 26.377 106,1 8.547.403,5 164.988 19,3 BRASIL FONTE: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001. Cálculos da Consultoria. Quando se analisa a distribuição espacial da rede pavimentada e, conseqüentemente, sua densidade geográfica, constatam-se, de pronto, expressivas desigualdades inter-regionais de oferta infra-estrutural. De fato, o território mineiro divide-se, nitidamente, em duas porções, delimitadas por uma linha imaginária que se desenvolve no sentido NW-SE: na primeira, incluindo as regiões Norte, Noroeste e Jequitinhonha-Mucuri, além das porções setentrionais das regiões Central e Rio Doce, a densidade de rodovias pavimentadas mostra-se inferior à média estadual; na outra porção, abrangendo as regiões do Triângulo, Alto Paranaíba, Centro-Oeste, Sul de Minas e Mata, além das porções meridionais das regiões Central e Rio Doce, predominam densidades microrregionais de rodovias pavimentadas superiores à média estadual (vide Mapa 3). 36 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS 2002: DENSIDADE DE RODOVIAS PAVIMENTADAS, POR MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA BDMG 40 anos MAPA 3 FONTE: DER/MG e Consultora 4.1.4. Estado de conservação da rede rodoviária De um modo geral, a rede rodoviária mineira encontra-se em estado bastante precário de conservação, apresentando níveis de desgaste do pavimento das pistas de rolamento acima da média nacional. Quanto a esta constatação, há unanimidade de posição entre os usuários, representados pela Confederação Nacional do Transporte, e os órgãos gestores da rede nos planos federal e estadual. No caso da rede de rodovias federais, os resultados do último levantamento do Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP) do agora extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem DNER, divulgados em setembro de 2001, não deixam dúvida quanto ao quadro geral de precariedade das rodovias9 . A tabela seguinte consolida os resultados desse levantamento para as redes de rodovias federais do Brasil como um todo, da região Sudeste, de Minas Gerais e de outros cinco estados, selecionados para efeito de comparação10 : 9 10 Trata-se de levantamento técnico que leva em conta unicamente as condições do pavimento da pista de rolamento, do acostamento e da sinalização horizontal (pintura de faixas na pista). Para tanto, foram percorridos 49.503 km de rodovias federais em todo o Brasil (incluindo as administradas diretamente pela União e as concedidas a concessionárias privadas, com exceção das delegadas aos estados). Os levantamentos foram concluídos em abril de 2001 e a consolidação dos dados em agosto de 2001. Foram adotados dois procedimentos técnicos usuais em estudos dessa natureza: i) o Levantamento Visual Contínuo (LVC) dos pavimentos, registrando-se as ocorrências verificadas a cada quilômetro de rodovia, o que permitiu determinar um indicador do estado superficial dos pavimentos, intitulado Índice de Defeitos (ID), baseado no Índice de Gravidade Global (IGG); ii) o levantamento do Internacional Roughness Index (IRI), executado de 100 em 100 metros com o suporte de sensores a laser. Os resultados desses dois levantamentos foram agrupados em um único indicador que representa o estado geral da superfície dos pavimentos, intitulado Índice de Estado da Superfície (IES), que varia de 1 (péssimo estado) a 5 (excelente estado). Os órgãos rodoviários que trabalham com sistemas de gerência de pavimentos costumam consolidar os resultados de suas avaliações do estado de conservação das rodovias em três categorias classificatórias: estado bom rodovias pavimentadas, em sua maior parte livre de defeitos, que somente requerem manutenção de rotina e, em algumas situações, um tratamento de revestimento; estado regular rodovias pavimentadas que apresentam defeitos e uma resistência estrutural reduzida. Requerem renovação ou reforço do revestimento, sem necessidade de demolir a estrutura existente; estado mau rodovias pavimentadas que apresentam defeitos estruturais e que requerem intervenções para recuperação imediata, com prévia demolição parcial da estrutura do pavimento. Capítulo 1 - Transporte e logística 37 BDMG 40 anos TABELA 8 ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA REDE FEDERAL PAVIMENTADA BRASIL, REGIÃO SUDESTE E ESTADOS SELECIONADOS - 2001 EXT. AVAL. (km) % DO TOTAL Bahia 3.704 7,5 7,9 44,5 47,6 Goiás 2.973 6,0 15,8 33,2 51,1 Minas Gerais 7.512 15,2 10,9 43,1 46,1 Paraná 2.972 6,0 73,9 15,7 10,4 Rio G. do Sul 4.814 9,7 56,3 25,5 18,1 São Paulo 1.341 2,7 73,8 14,1 12,1 ESTADO ESTADO DA SUPERFÍCIE (em %) Bom Regular Mau Sudeste 11.231 22,7 28,8 36,8 34,5 Brasil 49.503 100,0 27,7 36,2 36,1 FONTE: SGP/DNER - 2001 Tendo sido feitos levantamentos, através de procedimentos tecnicamente consistentes, em cerca de 49,5 mil dos 56,1 mil quilômetros de rodovias federais pavimentadas, chegou-se a conclusão que 27,7% dos pavimentos encontram-se em bom estado, 36,2% em estado regular e 36,1% em mau estado de conservação. Em números absolutos, isso significa que existe, no Brasil, pelo menos 18 mil quilômetros de rodovias com pavimentos completamente degradados. Ao analisar os indicadores por Estado selecionado, dentre eles Minas Gerais, percebe-se grandes diferenças entre as condições das rodovias. Levando-se em conta os números absolutos, Minas Gerais é o que está com maior extensão de rodovias em mau estado: nada menos que 3.463 quilômetros, o que corresponde a 46% da extensão levantada e, pelo menos, a 36% da extensão total de rodovias federais em território mineiro. A seguir vem a Bahia, com um percentual de rodovias em mau estado bastante próximo ao de Minas Gerais, e Goiás, com um percentual ligeiramente pior do que o de Minas Gerais. Por outro lado, constata-se que, enquanto Minas Gerais dispõe de apenas 10,9% de suas rodovias federais em boas condições, o Paraná e São Paulo contam com 73% de suas redes em bom estado, além do Rio Grande do Sul que, mesmo com percentual inferior a esses dois estados, dispõe de pouco mais da metade da rede de rodovias federais em boa condição. A partir da análise dos números disponíveis, vale ainda destacar que: a distribuição percentual da rede de rodovias federais de Minas Gerais, entre as três grandes categorias: bom, regular e mau estado, é pior tanto em relação ao Brasil como um todo quanto em relação ao conjunto de estados da Região Sudeste, da qual faz parte; os três estados com rodovias em melhores condições de conservação são justamente aqueles que têm parte de suas redes transferidas a empresas concessionárias para administração e exploração. Também o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais DER/MG concluiu, no primeiro semestre de 2002, um amplo levantamento do estado de conservação das rodovias sob sua responsabilidade, incluindo rodovias federais delegadas. O levantamento do DER/MG contemplou cerca de 21.437 quilômetros de rodovias, dos quais, cerca de 7.650 quilômetros de rodovias sem pavimentação asfáltica. O procedimento metodológico de avaliação de 13.787 quilômetros de rodovias pavimentados baseou-se na norma DNER do Índice de Condição do Pavimento Flexível ICPF. No caso da rede não pavimentada, a referência é a avaliação subjetiva, porém sistemática, do engenheiro de campo11 . 11 38 A rodovia é considerada em bom estado quando demanda apenas manutenção rotineira; em estado regular quando operações de encascalhamento são requeridas em menos de 50% da extensão viária; e, em mau estado quando há necessidade de escascalhamento em mais de 50% da rodovia. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos A tabela seguinte consolida os principais resultados desse recente levantamento: TABELA 9 ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA REDE MANTIDA PELO DER/MG - MINAS GERAIS - 2002 TIPO DE RODOVIA Pavimentada Não Paviment. Total EXT. AVAL. (km) % DO TOTAL ESTADO DA SUPERFÍCIE (em %) Bom (1) Regular Mau (2) 13.787 94,4 43,5 31,8 24,7 7.650 71,3 8,4 51,3 40,3 21.437 84,6 31,0 38,8 30,2 FONTE: DER/MG - 2002 (1) inclui as categorias "ótimo" e "bom" dos resultados originais. (2) inclui as categorias "mau" e "péssimo" dos resultados originais. Considerando a rede conservada como um todo, verifica-se que ela se encontra distribuída em partes bastante próximas entre as três grandes categorias: bom, regular e mau estado. Analisandoa separadamente, constatam-se condições diferenciadas entre as rodovias pavimentadas e as não pavimentadas. No tocante à rede de rodovias pavimentadas, é de se destacar que 43,5% de sua extensão ainda se encontram em bom estado, porém quase ¼ dessa rede está em mau estado, requerendo com urgência intervenções corretivas. Do lado das rodovias não pavimentadas, apenas 8,4% encontram-se em boa condição, enquanto que 40,3% foram classificados em mau estado. O DER/MG procurou também estimar as medidas de intervenção demandadas para a recuperação da rede rodoviária por ele conservada. No caso dos 13.787 quilômetros avaliados de rodovias pavimentadas, concluiu-se que 31% necessitam ser recapeados e 30% devem passar por aplicações de lama asfáltica; apenas 10% demandam a reconstrução completa; e, 29% requerem apenas a continuidade da conservação de rotina. Quanto aos 7.650 quilômetros de rodovias não pavimentadas, cerca de 61% devem receber revestimento primário (encascalhamento), 5,5% demandam apenas operações de patrolamento, apenas 2% requerem apenas conservação de rotina e 32% desta rede estão a requerer pavimentação asfáltica (pois os volumes de tráfego que as utilizam tornam antieconômicas as operações de conservação do revestimento primário). Os dados divulgados pelos dois órgãos com jurisdição sobre a rede rodoviária mineira permitem afirmar que, de um modo geral, as rodovias federais, nas quais concentram cerca de 80% do tráfego interurbano, encontram-se em condições mais precárias do que as rodovias estaduais, que são menos solicitadas pelos fluxos de veículos. Apresentados os resultados das avaliações feitas pelos órgãos de gestão rodoviária, é interessante confrontá-los com os produzidos sob a ótica dos usuários da rede. Para tanto, são analisados os principais resultados da última pesquisa rodoviária efetuada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT, 2002a). Desde 1995, o órgão máximo de representação dos interesses dos transportadores brasileiros vem realizando uma pesquisa anual sobre as condições das rodovias brasileiras. A metodologia adotada difere da utilizada pelos órgãos rodoviários, assim como as categorias para classificação das rodovias e os itens analisados: a pesquisa da CNT avalia a rede a partir de três fatores: a pavimentação, a sinalização e as características técnicas de engenharia das vias. A análise conjugada destes três fatores permite avaliar o estado geral de conservação viária. Capítulo 1 - Transporte e logística 39 BDMG 40 anos A pesquisa da CNT prioriza rodovias pavimentadas de maior importância, com fluxos mais intensos de passageiros e cargas, e as avalia como parte de rotas de longa distância. Entre os dias 2 e 27 de julho de 2001, equipes de profissionais treinados pela CNT percorreram cerca de 45.294 quilômetros de rodovias, agrupadas em 70 rotas, cobrindo a maior parte do território nacional. A tabela seguinte consolida os resultados do estado geral da rede rodoviária, contemplando o Brasil como um todo, a Região Sudeste, o Estado de Minas Gerais e outros cinco estados, selecionados para efeito de comparação: TABELA 10 ESTADO GERAL DE CONSERVAÇÃO DA REDE RODOVIÁRIA PESQUISADA - BRASIL, REGIÃO SUDESTE E ESTADOS SELECIONADOS - 2001 EXT. AVAL. (km) % DO TOTAL Bom (1) CONCEITO (em %) Deficiente Mau (2) Bahia 4.850 10,7 9,3 84,0 6,7 Goiás 3.500 7,7 34,3 64,3 1,4 Minas Gerais 6.365 14,1 24,0 74,5 1,5 Paraná 2.771 6,1 55,6 44,4 - Rio G. do Sul 4.436 9,8 41,3 58,7 - São Paulo 1.789 3,9 72,5 27,5 - 9.676 21,3 39,3 59,7 1,0 45.294 100,0 31,3 66,3 2,5 ESTADO Sudeste Brasil FONTE: Pesquisa rodoviária 2001, CNT, 2002. (1) inclui as categorias "ótimo" e "bom" dos resultados originais. (2) inclui as categorias "ruim" e "péssimo" dos resultados originais. Pelos critérios da CNT, cerca de 31,3% dos 45.294 quilômetros de rodovias pesquisados no Brasil encontram-se em estado ótimo ou bom, o que significa 14.177 quilômetros. Contudo, a maior parte da extensão pesquisada, 66,3% ou 30.030 quilômetros, é classificada como deficiente; ademais, cerca de 2,5% da rede, ou seja, 1.132 quilômetros encontram-se em condições ruins ou péssimas. Significa dizer que, sob a ótica dos usuários, pouco mais de 31 mil quilômetros das principais rodovias brasileiras apresentam problemas. Segundo a pesquisa rodoviária CNT 2001, a rede pesquisada em Minas Gerais encontra-se em pior situação do que a média nacional. Vejamos: apenas ¼ da rede pesquisada foi classificada em bom ou ótimo estado, enquanto que 74,5%, ou seja, 4.742 quilômetros, são qualificados como deficientes. Numa perspectiva comparada, a rede pesquisada em Minas Gerais encontra-se em pior situação do que a verificada na Região Sudeste (como um todo) e nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e até mesmo em Goiás. Apenas a Bahia, dentre os estados selecionados para comparação, apresenta um percentual de rodovias deficientes superior ao de Minas Gerais. Ao se considerar apenas a condição dos pavimentos, pode-se constatar que, se pouco mais de 1/3 da rede pesquisada em Minas Gerais têm boas ou ótimas condições, cerca de 46% são considerados deficientes e 13% estão em estado ruim ou péssimo, o que coloca Minas Gerais abaixo tanto da média nacional quanto da Região Sudeste. Em números absolutos, isso significa dizer que os pavimentos rodoviários encontram-se em bom ou ótimo estado em 2.291 quilômetros; apresentam problemas menos severos em 3.571 quilômetros; e estão em situação ruim ou péssima em 503 quilômetros, como mostra a tabela seguinte. 40 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento ESTADO DO PAVIMENTO, DA SINALIZAÇÃO E DAS CARACTERÍSTICAS DE ENGENHARIA DA REDE RODOVIÁRIA PESQUISADA - BRASIL E MINAS GERAIS - 2001 ITEM DE AVALIAÇÃO EXT. AVAL. (km) % DO TOTAL Bom (1) CONCEITO (em %) Deficiente Mau (2) Pavimento Brasil 45.294 100,0 47,7 39,3 12,9 Sudeste Minas Gerais 9.676 21,3 48,0 46,2 5,7 6.365 14,1 36,0 56,1 7,9 Sinalização Brasil 45.294 100,0 61,6 17,1 21,2 Sudeste 9.676 21,3 73,7 21,8 4,5 Minas Gerais 6.365 14,1 63,4 29,6 6,9 Engenharia Brasil 45.294 100,0 8,3 88,7 3,0 Sudeste 9.676 21,3 22,0 71,3 6,7 Minas Gerais 6.365 14,1 9,8 82,8 7,4 BDMG 40 anos TABELA 11 FONTE: Pesquisa rodoviária 2001, CNT, 2002. (1) inclui as categorias "ótimo" e "bom" dos resultados originais. (2) inclui as categorias "ruim" e "péssimo" dos resultados originais. Quanto à condição da sinalização viária, verifica-se que a maior parte da extensão pesquisada pela CNT apresentou condições positivas: 63,4 % de ótimo ou bom, no caso de Minas Gerais, o que coloca a rede rodoviária mineira no patamar médio nacional, porém abaixo da média da Região Sudeste. Cerca de 29,6% das rodovias mineiras pesquisadas têm sinalização deficiente e 6,9% encontram-se em estado ruim ou péssimo no quesito sinalização. As características de engenharia das rodovias constituem outro fator relevante na avaliação da CNT. Para essa avaliação leva-se em conta o tipo de pista, as condições de traçado em planta e perfil da rodovia, a topografia da região percorrida e as características construtivas das pontes atravessadas. Cerca de 90% da extensão viária pesquisada em Minas Gerais foram consideradas deficientes ou ruins, basicamente por se tratar de pistas simples atravessando regiões fortemente acidentadas. Com efeito, em um décimo da extensão pesquisada predominam pistas simples sem acostamento; em 57% predominam pistas simples com acostamentos, porém sem 3a faixa nos aclives; e em 20% da extensão as pistas são simples, com acostamentos e 3a faixa nos aclives. Há apenas 13% de pistas duplas, das quais a metade não dispõe de divisor fixo de fluxos (canteiro central ou guard-rail). É importante destacar que as características das pistas são fatores relevantes para garantir ou não condições adequadas de fluidez e segurança aos fluxos que utilizam essas rodovias. Dentre as 70 rotas incluídas e avaliadas na pesquisa da CNT (2001), 14 incluem trechos da rede rodoviária de Minas Gerais. Os resultados consolidados da avaliação de cada uma dessas 14 rotas são apresentados na tabela seguinte. É importante observar que a rota em melhor condição, na avaliação da CNT (em bom estado; nota 4,04), é a rodovia Fernão Dias (BR 381), entre Belo Horizonte e São Paulo, atualmente em fase final de obras de duplicação e restauração da pista préexistente; ainda assim, esse importante eixo rodoviário foi classificado na 7a posição em um elenco de 70 rotas de importância nacional. Apenas uma outra rota, de pequena extensão - Teófilo Otoni - Entro. BR 101 (BA) -, com 178 quilômetros em Minas Gerais, recentemente restaurada, foi também classificada em bom estado. Todas as outras 12 rotas são qualificadas, na condição vigente, como deficientes, segundo a metodologia de classificação adotada pela CNT. Capítulo 1 - Transporte e logística 41 BDMG 40 anos Concluindo, é importante deixar claro que, apesar de utilizarem metodologias e conceitos diferenciados, as avaliações das condições dos pavimentos, empreendidas pelos dois órgãos rodoviários com responsabilidade sobre a rede rodoviária mineira, e a pesquisa da CNT têm como ponto comum a gravidade da situação revelada. O atual nível de deterioração da rede rodoviária, com conseqüências de todo indesejáveis em termos econômicos e sociais, está a requerer soluções inadiáveis e consistentes, como demonstra Caixeta-Filho (2000, p. 4-5): .... urge que seja tomada uma solução definitiva (e não meramente paliativa) para a questão da conservação das estradas, uma vez que o ciclo do problema é bem conhecido por autoridades e agentes envolvidos: caminhões trafegam com visíveis excessos de carga em sistemas viários com fiscalização extremamente deficiente e sem um número mínimo de balanças; deterioram as rodovias com esse excesso de peso; as rodovias passam então a exercer um papel penalizante aos custos de transporte envolvidos, uma vez que será consumido mais combustível, haverá maior desgaste de pneus e maior consumo de lubrificantes. As soluções oriundas com recursos provenientes de pedágio têm até então ou também significado uma elevada carga aos custos do transportador, ou fazem com que os transportadores evitem essas poucas rodovias bem conservadas, passando a se utilizar de vicinais com capacidade inadequada para suportá-las; e o ciclo se reinicia. TABELA 12 CLASSIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ROTAS RODOVIÁRIAS, SEGUNDO A CONDIÇÃO ATUAL MINAS GERAIS - 2001 RODOVIA (sigla) ROTA RODOVIÁRIA CÓDIGO NOTA CLASSIFICAÇÃO RANK DA ROTA CNT DA CNT NACIONAL BR 381 Belo Horizonte - São Paulo 07 4,04 Bom Estado 7o. BR 418 Teófilo Otoni - Entr. BR 101 (BA) 08 3,96 Bom Estado 8o. BR 040 Brasília - Belo Horizonte - Rio de Janeiro 11 3,76 Deficiente 15o. BR 040 / BR 050 Brasília - Uberlândia - Uberaba - Divisa MG/SP 13 3,74 Deficiente 16o. BR 497 / BR 153 Uberlândia - Prata - Frutal - Divisa MG/SP 36 3,69 Deficiente 22o. BR 381 25 3,67 Deficiente 23o. BR 365 / BR 262 Divisa GO/MG - Uberlândia - Belo Horizonte - Vitória 27 3,66 Deficiente 28o. BR 153 Divisa GO/MG - Prata 64 3,59 Deficiente 32o. BR 251 - MG 188 Brasília - Unaí - Paracatu (Entr. BR 040) 14 3,58 Deficiente 34o. João Monlevade - Ipatinga - Governador Valadares MG 050- BR 265 Belo Horizonte - Divinópolis - Passos - Ribeirão Preto 47 3,52 Deficiente 37o. BR 365 / BR 251 Uberlândia - Patos de Minas - Montes Claros - Entr. BR 116 62 3,43 Deficiente 42o. BR 116 Divisa RJ/MG - Governador Valadares - Divisa MG/BA 48 3,42 Deficiente 43o. BR 135 / BR 122 Entr. BR 040 - Curvelo - Montes Claros - Divisa MG/BA 21 2,61 Deficiente 64o. BR 459 69 2,35 Deficiente 69o. Poços de Caldas - Pouso Alegre - Itajubá - Divisa MG/SP FONTE: Pesquisa rodoviária 2001, CNT, 2002. 4.1.5. Impacto da condição da rede rodoviária na operação do tráfego Tendo em vista o precário estado em que se encontra a rede rodoviária de Minas Gerais, como o demonstrado no item anterior, é importante realçar que a perspectiva de perda efetiva de parte desse patrimônio público é apenas uma das conseqüências da não execução da manutenção rodoviária nos padrões considerados adequados. Outra conseqüência, da maior relevância, com impactos diretos nos usuários da rede rodoviária, é a elevação substantiva dos custos operacionais dos veículos e dos índices de acidentes rodoviários. 42 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Estudos do Banco Mundial demonstram que, para cada redução de US$ 1,00 nos orçamentos de manutenção, corresponde um acréscimo de US$ 3,00 nos custos operacionais dos veículos. Também o GEIPOT, em diferentes estudos, tem demonstrado os efeitos negativos da ausência de modelos adequados de manutenção rodoviária (apud Pereira, 1998). Quando uma rodovia passa de um estado bom para ruim, estes estudos mostram que, em média, ocorrem: aumentos de até 38% no custo operacional dos veículos; aumentos de até 58% no consumo de combustível; duplicação dos tempos de viagem; incrementos de até 50% nos índices de acidentes de trânsito. A dramática questão dos acidentes de trânsito Quando comparada às deseconomias geradas pelo aumento descontrolado dos custos operacionais dos veículos e aos problemas ambientais decorrentes das emissões de poluentes atmosféricos pela frota de veículos, a questão dos acidentes de trânsito certamente se revela uma externalidade do sistema de transporte tão ou mais grave, seja pela quantidade de pessoas feridas ou mortas, seja pela natureza coletiva do fenômeno e a característica de violência nele implícita (principalmente nos casos de atropelamento e morte de pedestres). Dados oficiais mostram que, entre 1961 e 1991, o número de feridos no trânsito brasileiro multiplicouse por 11 e o de mortos por sete. Nota-se um crescimento do índice de mortes no trânsito por habitante, enquanto o índice de mortes por veículo diminui, devido ao crescimento acentuado da frota nos últimos anos. As capitais estaduais, segundo esses mesmos dados, concentraram 39% do número total de pessoas feridas ou mortas no trânsito em 1995 em todo o País, revelando a concentração espacial das vítimas nas maiores cidades (onde circula a maior parte da frota de veículos e para onde convergem os principais eixos rodoviários). A tabela seguinte mostra, a partir de diferentes fontes, o índice de mortes no trânsito por 10 mil veículos, entre meados dos anos 80 e 90, para um conjunto de países selecionados (desenvolvidos e em desenvolvimento): PAÍS Japão (1) Estados Unidos Alemanha França (1) Brasil (2) Índia (3) China (4) Zâmbia (5) Benin (5) Nigéria (6) (1) (1) ÍNDICE DE MORTES POR 10 MIL VEÍCULOS ANO DA OCORRÊNCIA 2 1984 3 1984 4 1984 6 1984 15 1989 39 1986 48 1989 85 1993 112 141 1993 1980 FONTES: (1) OECD; (2) CET/SP; (3) Button (1993); (4) Navin, Bergen e Qi (1994); (5) Banco Mundial; (6) Barrett (1988) O número global de mortos no trânsito no Brasil é o quinto maior na escala mundial após a China, Índia, Rússia e EUA, mas quando são considerados os índices de acidentes (ou seja, o número de ocorrências ponderado pela frota ou pela população), o Brasil está situado em posição intermediária: o índice de mortes é de 15 por 10 mil Capítulo 1 - Transporte e logística 43 BDMG 40 anos veículos e de 17 por 100 mil pessoas, enquanto em países desenvolvidos, a exemplo do Japão, EUA, Alemanha e França, esses valores estão, respectivamente, na faixa de 3 a 6 e de 9 a 18. Quando se levam em conta países em desenvolvimento, como Coréia do Sul e África do Sul, estes índices são de 37 e 22 mortes por 10 mil veículos e de 28 a 36 mortes por 100 mil pessoas, maiores, portanto, do que os índices brasileiros. Quanto ao sistema de rodovias federais do Brasil, constata-se que o número de total de acidentes de trânsito registrados passou de 95.514, em 1995, para 120.442, em 1998 (conforme o Anuário Estatístico dos Transportes 2000, Geipot, 2001), o que significa um crescimento médio das ocorrências da ordem de 8,0% ao ano. No mesmo período, em Minas Gerais, o volume de acidentes registradas na rede federal de rodovias aumentou de 17.366 para 22.974, crescendo, portanto, a uma taxa média de 9,8% ao ano, superior à média brasileira. A participação relativa de Minas Gerais no cômputo total de acidentes registrados em rodovias federais passou, assim, de 18,2%, em 1995, para 19,1%, em 1998. É interessante observar que, embora a frota de veículo tenha crescido no período 1995-1998 a taxas médias anuais expressivas, tanto no caso de Minas Gerais (7,35% ao ano), quanto no nacional (5,15% ao ano), foram inferiores ao crescimento observado dos registros de acidentes no mesmo período, o que sinaliza estar ocorrendo uma maior freqüência de acidentes por veículo no País e, em especial, em Minas Gerais. Quando se compara o índice de acidentes por quilômetro de rodovia federal policiada, verifica-se que, no caso de Minas Gerais, este passou de 4,80 em 1995 para 6,35 em 1998, significando um aumento de 32,3% entre as duas pontas da série anual, enquanto que na rede federal como um todo seu incremento foi menor do que o verificado em Minas Gerais, passando de 2,59 para 3,27, o que representa uma variação de 26,2% no período. Por outro lado, quando se considera o total de acidentes registrados em toda a rede rodoviária policiada e em áreas urbanas (conforme o Anuário Estatístico 2000, Denatran, 2002), verifica-se que o índice acidentes com vítimas por mil veículos de Minas Gerais apresentou crescimento no período 1995-1998, passando de 118,7 para 126,6 evoluindo de um índice 23,6% superior ao nacional para outro 49,3% acima daquele registrado no País como um todo. No que tange ao índice número de vítimas não fatais por mil veículo, no primeiro ano da série disponível, Minas Gerais apresenta valor praticamente igual ao nacional, porém a evolução se dá de forma desfavorável ao Estado, chegando em 1998 a um valor cerca de 39% superior ao índice médio nacional. No caso do índice número de vítimas fatais por mil veículos, o seu comportamento e magnitude, para Minas Gerais e o Brasil como um todo, nos anos extremos da série disponível se assemelham, saindo do valor 9,6 vítimas fatais por mil veículos em 1995 e chegando em 1998 com 6,1 e 6,5 para o Estado e o País, respectivamente, o que indica redução da severidade dos acidentes nesse período. É importante registrar que, de forma semelhante ao verificado em outros países em desenvolvimento, os indicadores brasileiros de acidentes de trânsito podem ser considerados subestimados (especialmente no caso dos feridos, mas também no caso das mortes, que nem sempre ocorrem antes do registro da ocorrência em campo), tanto por subcontagem quanto por sub-registro. No caso particular de Minas Gerais, é de se notar que o Anuário Estatístico de 2000 do Denatran só apresenta, para os anos de 1999 e 2000, informações relativas ao município de Belo Horizonte, interrompendo a série de dados de acidentes do Estado como um todo e, assim, prejudicando a análise continuada do fenômeno, inclusive a avaliação do impacto da entrada em vigor do novo Código de Trânsito Brasileiro, que se deu a partir de 1998. Na perspectiva de diferentes políticas públicas, dentre elas, as de saúde e bem estar social, a questão dos acidentes de trânsito mostra-se cada vez mais relevante. Primeiro, devido à morte de milhares de pessoas e aos ferimentos em um número ainda maior de pessoas (em 1995, segundo o Denatran, para cada ocupante de veículo morto no trânsito brasileiro, 11,2 pessoas ficaram feridas), muitas vezes deixando seqüelas indesejáveis permanentes. Segundo, porque embora afetando todas as faixas etárias, os acidentes envolvem principalmente pessoas jovens, na faixa de idade produtiva, com impactos econômicos significativos. Terceiro, por seus impactos nos custos do sistema único de saúde, que, certamente, não são pequenos. 44 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Não contando com dados específicos para o caso de Minas Gerais, um levantamento realizado na rede hospitalar SARAH, envolvendo as unidades de Brasília e Salvador, permite bem ilustrar a gravidade das conseqüências dessa questão. Verifica-se que os acidentes de trânsito foram responsáveis por 38,5% do total de internações por causas externas, no período entre 01/02/1999 e 31/01/2000. Os pacientes investigados caracterizaram-se por serem, em sua maioria, jovens e adultos jovens, homens (71,7%) e solteiros (54,0%). A maior incidência isolada de casos de lesões decorrentes de acidentes de trânsito, verificada nessas duas unidades da Rede SARAH, ocorreu na faixa de 30 a 39 anos, sendo que a maioria dos pacientes investigados feriu-se entre os 15 e os 39 anos (71,3% dos casos), faixa etária que engloba adolescentes e adultos jovens. Quanto às conseqüências, constatou-se que os acidentes pesquisados produziram, predominantemente, lesões medulares e lesões ortopédicas. As lesões cerebrais, representadas, em sua totalidade por traumatismos crânio-encefálicos, foram o terceiro tipo de lesão mais freqüente. Somadas, as lesões medulares e as cerebrais foram responsáveis por 63,2% das internações registradas. Outro aspecto destacado pela mesma pesquisa foi a precariedade dos sistemas de controle de tráfego e apoio ao usuários das rodovias e vias urbanas. Apenas 21,4% dos pacientes admitidos para internação pelos hospitais da Rede SARAH foram resgatados no local do acidente por equipes especializadas, tendo sido padrão, de acordo com o relato dos pacientes ou familiares, o resgate por transeuntes ou outras pessoas envolvidas no mesmo acidente. É de se destacar que a maioria dos acidentes de trânsito investigados ocorreu em rodovias (51,2%), seguidos por aqueles que se deram em vias urbanas (incluindo-se nessa classificação as rodovias que atravessam perímetros urbanos). Ainda que também não se disponha, para o caso específico de Minas Gerais, de resultados de investigações acerca das causas de acidentes de trânsito, um estudo recentemente realizado por Connection Tecnologia S/C Scaringella Trânsito, envolvendo uma amostra de 85 ocorrências de acidentes registrados em São Paulo (sendo 33 em vias urbanas e 52 em rodovias), confirma a conclusão, corrente na literatura especializada, de que os acidentes acontecem por uma convergência de fatores de risco que, ocorrendo simultaneamente, resultam no desastre. Esses fatores estão associados ao elemento humano (condutores e pedestres), ao veículo e ao sistema viário / meio ambiente. Considerando separadamente cada fator de risco, o citado estudo conclui que: o fator condutor do veículo esteve presente em 82% dos acidentes analisados; o fator pedestre esteve presente em 19% do total de acidentes; o fator veículo em 27%; o fator sistema viário / meio ambiente em 38% do conjunto de ocorrências. Considerando a combinação de fatores, verificou-se que: o fator humano (condutor e ou pedestre) foi constatado 44% dos acidentes pesquisados; o fator humano combinado com o fator veículo esteve presente em 19% das ocorrências; a combinação dos fatores humano e sistema viário / meio ambiente foi verificada em 29%; os três fatores combinados (humano, veículo e sistema viário / meio ambiente) foram constatados em 8% da amostra analisada. Tendo em vista as atuais condições operacionais da rede de rodovias de Minas Gerais, é importante atentar, mesmo não sendo esse Estado o objeto específico da pesquisa aqui relatada, para a relevante contribuição da condição do sistema viário / meio ambiente, isoladamente ou em combinação com os outros fatores de risco, para a ocorrência dessa indesejável externalidade do transporte rodoviário de pessoas e bens, que é o acidente de trânsito. Nesse contexto, é interessante considerar a informação divulgada pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, em julho de 2002, de que o número de mortes nas rodovias brasileiras sob o regime de concessão caiu 6,61% em 2001, apesar do aumento de 17,7% no volume de tráfego conseqüência dos investimentos realizados em obras de segurança viária, em programas de redução de acidentes e em novas tecnologias. Capítulo 1 - Transporte e logística 45 BDMG 40 anos No caso do sistema rodoviário mineiro, o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Setcemg) estima que as transportadoras que o utilizam estão incorrendo em gastos adicionais da ordem de R$ 100 milhões / mês, em função das atuais condições operacionais das rodovias. Desse montante, estima-se que a metade recai sobre transportadoras estabelecidas em Minas Gerais. Em um ano, isso significa, segundo o Setcemg, gastos de R$ 1,2 bilhão, principalmente em recuperação e manutenção da frota. Além disso, os transportadores de cargas incorrem em despesas extras com eventuais perdas de mercadorias perecíveis, devido ao atraso nas viagens e ocorrências de acidentes, além de outro problema grave: o maior risco de roubo das cargas, pela imposição de menores velocidades aos caminhões (conforme Cherem e Ribeiro, 2002). Nessa mesma linha de análise do problema, a Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg) calcula que os custos operacionais incorridos pelos veículos de seus associados, devido à precariedade de uma parcela expressiva da rede rodoviária mineira, são aumentados em 30%, em relação ao padrão médio de se trafegar em redes em boas condições (conforme Cherem e Ribeiro, 2002). Para os transportadores rodoviários, o aumento excessivo de seus custos operacionais é particularmente grave na atual conjuntura de fretes deprimidos. É sabido que a remuneração obtida com o frete praticado pelos transportadores rodoviários (principalmente de granéis) tem sido, se tanto, suficiente para a cobertura de despesas de natureza operacional (combustíveis, lubrificação, diárias, etc.), não disponibilizando assim qualquer reserva para ressarcimento dos custos fixos envolvidos, o que explica, pelo menos em parte, a elevada idade média da frota, já que o transportador vê-se impossibilitado de renovar seu veículo. Verifica-se também, nessa conjuntura, um expressivo achatamento da lucratividade dos transportadores, sobretudo de produtos de baixa especificidade, como grãos agrícolas, carvão e minérios, dentre outros granéis. Empresas transportadoras bem estruturadas, que conhecem e controlam seus custos, chegam a interromper suas operações devido ao baixo preço pago pelos embarcadores. Aqueles que não dominam seus custos, nem sempre interrompem ou reavaliam suas atividades, mas correm o risco de sair do mercado no longo prazo. Explica-se assim o contínuo crescimento da parcela da frota formada por caminhões deteriorados, já depreciados e com manutenção precária. Também os empresários de transporte por ônibus em linhas regulares dizem contabilizar aumentos de despesas com a manutenção da frota da ordem de 25% a 30%, enquanto que os gastos com combustíveis são 8% maiores. O transporte coletivo sofre ainda com a redução da velocidade dos ônibus, o que impõe atrasos às viagens e reduz a produtividade da frota. Na perspectiva da análise regional, um estudo preparado por Tecgis Sistemas de Informação e Engenharia, em 1999, para avaliar os padrões espaciais dos custos operacionais dos veículos de carga na rede rodoviária mineira12 , mostrou que: o baixo grau de conexão interna de algumas redes regionais; as características geométricas e funcionais de grande parte das rodovias mineiras; o estado dos pavimentos implantados e a grande extensão de rodovias não pavimentadas; o relevo acidentado em grandes áreas do território mineiro; exercem forte influência na formação do custo operacional dos veículos de carga, impondo expressivas diferenciações inter-regionais de custo de transporte13 . 12 13 46 Parte dos estudos preparadas para a FIEMG no âmbito do projeto CresceMinas. Foi adotado o custo operacional quilométrico médio do caminhão de 5 eixos com proxie do custo de transporte rodoviário. O custo de transporte médio representativo da rede viária de cada microrregião foi calculado dividindo o somatório dos custos operacionais incorridos no percurso simulado entre a cidade-pólo da microrregião avaliada e as cidades-pólos de outras 99 microrregiões (inclusive externas a Minas Gerais) pelo somatório das distâncias percorridas nas rotas de menor custo. Os custos operacionais foram calculados segundo a metodologia do VOC/HDM. A determinação das rotas de menor percurso entre pares de pólos microrregionais foi feita com o suporte de um sistema de informações geográficas especializado em análise de redes de transporte (GIS-T). Trata-se, evidentemente, de um modelo simplificado que leva em conta apenas as características da rede e suas implicações nos custos de operação da frota de caminhões, não se considerando explicitamente a intensidade da geração microrregional de cargas e, portanto, os efeitos de economias de escala na produção de transporte e seus custos. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos O custo operacional médio incorrido pelos caminhões nas redes rodoviárias de 21% das microrregiões mineiras encontra-se abaixo da média estadual; em 67% das microrregionais esse custo situa-se na faixa média; mas, em 12% das malhas microrregionais, os custos operacionais dos veículos de cargas estão sobremaneira onerados, situando-se bem acima da média estadual. O mapa seguinte permite avaliar as diferenciações espaciais do custo de transporte em Minas Gerais. É importante ressaltar que o diferencial de custo de transporte entre microrregiões é um importante fator locacional, capaz de influenciar decisões relativas à localização de investimentos produtivos, tornando menos competitivas aquelas microrregiões cujas redes rodoviárias, pelas características físico-operacionais predominantes, impõem custos mais elevados aos veículos de carga que as utilizam. MAPA 4 MINAS GERAIS - 1999: CUSTO OPERACIONAL MÉDIO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS, POR MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA FONTE: Tectran / TecGis 4.2. Modalidade ferroviária 4.2.1. Aspectos institucionais e operacionais do sistema ferroviário brasileiro O sistema ferroviário brasileiro de transporte de cargas, com 28,8 mil quilômetros de linhas, vinha sendo operado, até o início do processo de sua desestatização, iniciado na primeira metade da década de 90, por quatro grandes empresas: uma de propriedade da União, a Rede Ferroviária Federal S.A. RFFSA (responsável por 32% da produção), duas pertencentes à Companhia Vale do Rio Doce a Estrada de Ferro Vitória a Minas EFVM e a Estrada de Ferro Carajás EFC (que, em conjunto, representam 62% da produção), e uma quarta empresa, sob controle do Estado de São Paulo a Ferrovia Paulista S.A. FEPASA (com cerca de 5% da produção brasileira de transporte ferroviário de cargas). Capítulo 1 - Transporte e logística 47 BDMG 40 anos A partir de 1993, a RFFSA passou por um programa inicial de reestruturação organizacional que a dividiu em cinco malhas regionais (Sul, Sudeste, Centro Leste, Oeste e Nordeste)14 e um trecho isolado (a Estrada de Ferro Tereza Cristina, localizada em Santa Catarina), visando sua posterior privatização (através da concessão por 30 anos dos serviços de transporte e do arrendamento dos ativos operacionais e de apoio aos concessionários privados). Num segundo momento, a malha da FEPASA foi incorporada ao sistema RFFSA para ser concedida em lote único (intitulado Malha Paulista)15 . Concluídos, em janeiro de 1999, os processos de desestatização das malhas regionais da RFFSA, ficaram constituídas sete novas empresas concessionárias de transporte ferroviário no Brasil, como mostra a tabela seguinte: TABELA 13 CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS DO SISTEMA RFFSA - BRASIL - 2000 MALHA REGIONAL CONCESSIONÁRIA BITOLA EXTENSÃO (mil km) Centro Leste Ferrovia Centro-Atlântica - FCA Métrica e mista 7,1 Sul América Latina Logística - ALL Métrica e mista Nordeste Cia. Ferroviária do Nordeste - CFN Métrica Paulista (ex- Fepasa) Ferrovias Bandeirantes - Ferroban Sudeste Oeste T. Cristina INÍCIO DA PRODUÇÃO OPERAÇÃO (109 TKU) Set. 96 7,6 6,6 Mar. 97 10,3 4,5 Jan. 98 0,7 Larga, métrica e mista 4,2 Jan. 99 5,1 MRS Logística Ferrovia Novoeste Larga Métrica 1,7 1,6 Dez. 96 Jul. 96 26,8 1,6 Ferrovia Tereza Cristina - FTC Métrica 0,2 Fev. 97 0,3 FONTES: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001; e BNDES (2000b). As concessões da EFVM e da EFC foram transferidas aos novos controladores da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) por ocasião da privatização desta empresa. As duas ferrovias, as mais eficientes do País, apresentam as seguintes características físico-operacionais: TABELA 14 CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS FERROVIÁRIOS DA CVRD - BRASIL - 2000 SISTEMA Norte Sul BITOLA EXTENSÃO (MIL KM) PRODUÇÃO (109 TKU) E. F. Carajás Larga 0,9 43,9 E. F. Vitória - Minas Métrica 1,1 56,7 OPERADORA FONTES: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001; e BNDES (2000b). Compõem ainda o sistema, representando apenas 1,4% da rede viária, um conjunto de empresas ferroviárias de menor importância econômica e voltadas, sobretudo, para a movimentação de cargas produzidas por suas controladoras. São elas: E. F. do Amapá, E. F. Votorantin, E. F. do Jarí, E. F. da Mineração Rio do Norte, além da E. F. ParanáOeste e da Ferrovia Norte-Sul (esta operada pela EFC). 14 15 48 As linhas ferroviárias da RFFSA , localizadas em Minas Gerais, foram distribuídas entre as malhas Centro Leste e Sudeste. Pequenas parcelas desta malha estão localizadas em Minas Gerais, no Triângulo Mineiro (microrregiões de Uberlândia e Uberaba) e, com menor expressão quilométrica, no Sul de Minas (microrregiões de Poços de Caldas e Passos). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento A rede ferroviária dedicada ao transporte de cargas em Minas Gerais apresenta extensão total de 5.080 quilômetros dentre linhas de bitola métrica e larga, correspondendo a 17,3% da rede ferroviária brasileira. A tabela seguinte apresenta a distribuição da extensão quilométrica dessa rede por concessionária, segundo o tipo de bitola: BDMG 40 anos 4.2.2. Configuração estrutural da rede ferroviária em Minas Gerais TABELA 15 EXTENSÃO DA REDE DE FERROVIAS - MINAS GERAIS - 2000 CONCESSIONÁRIA Centro-Atlântica BITOLA MÉTRICA EXTENSÃO (EM KM) BITOLA LARGA TOTAL 3.468 - 3.468 CVRD / Vitória a Minas 666 - 666 Ferroban 133 - 133 - 792 792 4.267 792 5.059 MRS Logística Total FONTE: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001. Obs.: bitola métrica: 1m; bitola larga: 1,6m. Esta rede apresenta uma configuração físico-espacial, no sentido do interior para o litoral conseqüência da motivação histórica de sua implantação: a exportação de produtos primários que permite a integração de Belo Horizonte com as duas outras metrópoles do Sudeste São Paulo e Rio de Janeiro e ao Distrito Federal, além do acesso de Minas Gerais aos portos de Vitória, Rio de Janeiro, Sepetiba, Santos e Angra dos Reis. MAPA 5 MINAS GERAIS 2002: DIVISÃO DA MALHA FERROVIÁRIA POR CONCESSIONÁRIA FONTE: ANTF, BNDES e Consultora Capítulo 1 - Transporte e logística 49 BDMG 40 anos Excluindo a EFVM, o nível de investimento em conservação, manutenção e ampliação das demais ferrovias atuantes no território mineiro, a menos de alguns programas localizados, mostrou-se decrescente desde meados da década de 80, do que resultou uma acentuada degradação da eficiência operacional e qualidade dos serviços na fase anterior à concessão das malhas regionais ao setor privado. Numa visão de conjunto, é possível destacar os principais problemas apresentados pela rede ferroviária durante a passagem do modelo de gestão estatal para o modelo de concessão à iniciativa privada: linhas com deficiências de traçado e perfil, incompatíveis, muitas vezes, com o material rodante utilizado, restringindo a capacidade de vazão do sistema com exceção da Ferrovia do Aço e das linhas da EFVM; deficiências de tração e altas taxas de imobilização de locomotivas e vagões, reduzindo a capacidade de transporte do sistema; vias, equipamentos, sistemas de controle e instalações operacionais com problemas de manutenção, também contribuindo para reduzir a capacidade de transporte; conflitos de tráfego com o sistema viário urbano em áreas em que houve grande adensamento demográfico no entorno das linhas, resultando em baixas velocidades dos trens para evitar acidentes; pátios e terminais inadequados às necessidades atuais, prejudicando a eficiência das operações intra e intermodais, com reflexos nos custos logísticos da economia mineira16 . Ademais, a diferenciação de bitolas segmenta esta rede em duas grandes malhas de bitola larga e de bitola métrica e, por agregar custos adicionais ao transporte, em operações de transbordo de cargas, dificulta a integração intramodal e intermodal do sistema ferroviário. MAPA 6 MINAS GERAIS 2002: DIVISÃO DA MALHA FERROVIÁRIA POR TIPO DE BITOLA FONTE: ANTF, BNDES e Consultora 16 50 As fortes restrições de capacidade (de vazão, de transporte e de movimentação de cargas em terminais) que caracterizam o sistema ferroviário mineiro durante a última década de 90 (a exceção, como já dito, é a EFVM), além de prejudicar a ação comercial de captação de novos mercados, realçam a necessidade de expressivos investimentos para superação de limitações estruturais do sistema ferroviário. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento A malha de bitola larga, composta por linhas, ramais e variantes que pertenceram à antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, posteriormente Superintendência Regional 3 da RFFSA, é operada, desde o final de 1996, pela empresa concessionária MRS Logística S/A, com sede no Rio de Janeiro RJ. Sua extensão em Minas Gerais corresponde a 47% da extensão quilométrica total concedida à MRS. A área de influência dessa malha, transcendendo o Estado de Minas Gerais, inclui porções territoriais importantes dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. BDMG 40 anos a) Malha de bitola larga A chamada Linha do Centro, dessa malha de bitola larga, com extensão total de 447 quilômetros, liga as regiões metropolitanas de Belo Horizonte e Rio de Janeiro, passando por Conselheiro Lafaiete, Barbacena, Juiz de Fora, em Minas Gerais, e por Três Rios e Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro. A Ferrovia do Aço, outra das principais linhas desta Malha, com 354 quilômetros de extensão, a mais nova e moderna ferrovia do sistema RFFSA, liga Jeceaba, em Minas Gerais, à Barra Mansa, no Rio de Janeiro, onde se entronca com a Linha de São Paulo (que integra as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo). A diferença de bitola da malha da MRS (1,6 m) em relação às malhas das concessionárias contíguas (com bitolas de 1,0 m), como já foi dito, dificulta a interligação de importantes pólos geradores de carga, restringe a realização de viagens interestaduais de maior distância e reduz a acessibilidade ferroviária aos portos de Santos e Sepetiba, constituindo-se, assim, um dos principais gargalos do sistema ferroviário brasileiro. b) Malha de bitola métrica A malha de bitola métrica é formada com um conjunto de linhas, distribuídas entre três concessionárias a Ferrovia Centro-Atlântica S/A - FCA e a CVRD / Estrada de Ferro Vitória a Minas - EFVM, cujas linhas interligam a região metropolitana de Belo Horizonte com as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e Salvador, ao Planalto Central (Brasília e Goiânia), ao complexo portuário de Vitória e ao porto de Angra dos Reis; e a Ferrovias Bandeirantes S/A - Ferroban, que, através da linha Araguari Uberlândia Santos, interliga o Triângulo Mineiro à capital paulista e ao porto de Santos. A área de influência dessa malha de bitola métrica, transcendendo o Estado de Minas Gerais, atinge os estados de Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo, além do Distrito Federal. Com uma extensão de 4.267 quilômetros, em Minas Gerais, a malha de bitola métrica é composta pelas seguintes rotas e linhas principais: TABELA 16 ROTAS E LINHAS DA MALHA DE BITOLA MÉTRICA - MINAS GERAIS - 2002 ROTA Vitória LINHA CONCESSIONÁRIA EXT. TOTAL (KM) Belo Horizonte - Vitória (ES) EFVM 728 Fábrica - Desemb. Drummond EFVM 170 Brasília Belo Horizonte - Brasília (DF) Ibiá - Uberaba FCA FCA 1.172 265 Rio de Janeiro General Carneiro - Itabirito FCA 62 Itabirito - Lafaiete Bandeira FCA 33 Miguel Burnier - Recreio FCA 384 (Continua...) Capítulo 1 - Transporte e logística 51 BDMG 40 anos TABELA 16 (Continuação) ROTAS E LINHAS DA MALHA DE BITOLA MÉTRICA MINAS GERAIS - 2002 ROTA Angra dos Reis LINHA CONCESSIONÁRIA EXT. TOTAL (KM) Garças de Minas - Lavras FCA 216 Lavras - Angra dos Reis (RJ) FCA 387 Divinópolis - Lavras - Três Corações FCA 272 Salvador B.Horizonte - M.Claros - Monte Azul FCA 766 Santos Araguari - Uberlândia - Santos (SP) Ferroban 877 Poços de Caldas - Aguaí (SP) Ferroban 75 Pratápolis - Ribeirão Preto (SP) Ferroban Total 184 5.591 FONTE: BNDES/Consórcio Brasiliana, 2001. A linha Belo Horizonte Vitória, operada pela EFVM, é a linha-tronco do sistema logístico da Companhia Vale do Rio Doce, integrando suas áreas produtoras e o complexo portuário capixaba (Vitória, Tubarão, Praia Mole, Vila Velha e Portocel). Entre Itabira (MG) e Vitória (ES), essa linha encontra-se totalmente duplicada (543km). Em Desembargador Drummond, próximo a Itabira, ocorre o entroncamento da linha-tronco com a linha de Fábrica, também operada pela EFVM, que se estende por 170 quilômetros, em linha singela, até próximo a Congonhas (MG), a fim de atender à demanda de transporte das minas de Capanema, Alegria e Timbopeba, dentre outras daquela região. É de se destacar que, desde 1993, a EFVM vem operando o transporte ferroviário de passageiros entre Belo Horizonte e Vitória, com freqüência diária, que se encontrava suspenso, naquela ocasião, há 10 anos. As linhas de bitola métrica que estruturam as rotas de Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e Angra dos Reis, estão, desde setembro de 1996, concedidas à Ferrovia Centro-Atlântica FCA, empresa concessionária com sede em Belo Horizonte. As linhas Belo Horizonte Brasília, General Carneiro Itabirito e Itabirito Lafaiete Bandeira, além do trecho Belo Horizonte Sete Lagoas, da linha Belo Horizonte Monte Azul, atendem à maiores quantidades transportadas e concentram as maiores densidades de tráfego da FCA, encontrando-se, de um modo geral, em melhor estado de conservação. O trecho entre Belo Horizonte e Sete Lagoas é de bitola mista e se integra com as linhas de bitola larga da MRS no terminal de Ferrugem, situado na Região do Barreiro, em Belo Horizonte. As linhas Belo Horizonte Brasília (da FCA) e Belo Horizonte-Vitória (da EFVM), ambas em bitola métrica, vêm sendo operadas como um corredor integrado, servindo como alternativa para o escoamento de grãos agrícolas produzidos nos Cerrados, na direção do complexo portuário do Espírito Santo, em contraposição ao seu escoamento para o porto de Santos, nesse caso, através da rota Araguari Santos, da Ferroban. Integrante, desde janeiro de 1999, da malha concedida às Ferrovias Bandeirantes S/A Ferroban, a linha Araguari Uberlândia Santos faz conexão em Araguari e em Uberaba com a linha Belo Horizonte Brasília, da FCA. É uma das linhas de maior densidade e com melhores condições de tráfego da malha da Ferroban. O trecho, no Estado de São Paulo compreendido entre Paulínia e Santos, possui bitola mista e se constitui em opção à linha de bitola larga da MRS, para evitar a travessia da região metropolitana de São Paulo e a passagem pela serra entre São Paulo e Santos, onde se localiza um forte gargalo operacional. 52 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento A rede ferroviária mineira está geograficamente concentrada em áreas produtoras de cargas típicas do modal ferroviário, que, em sua maior parte, se destinam a mercados situados além das divisas de Minas Gerais. De fato, cerca de 80% dos fluxos ferroviários gerados em Minas Gerais movimentam-se no sentido da exportação (para outros estados ou para o Exterior). BDMG 40 anos 4.2.3. Densidade da rede de ferrovias Com uma extensão de pouco mais de cinco mil quilômetros de vias férreas, a posição relativa de Minas Gerais dentre os estados brasileiros somente é (minimamente) inferior a do Estado de São Paulo (que possui 5.065 quilômetros de linhas). Apesar de ocupar essa segunda posição, quando se considera a densidade ferroviária (quilômetros de linhas por mil quilômetros quadrados de área territorial), constata-se que Minas Gerais se encontra na 13a posição dentre as 22 unidades federativas que possuem linhas férreas em seus territórios. Ademais, Minas Gerais situa-se em posição intermediária dentre seis estados selecionados para comparação, como pode se ver na tabela seguinte, apesar de ser o principal pólo gerador de cargas ferroviárias do Brasil. É de se ressaltar que a densidade ferroviária paulista é 2,5 vezes maior do que a de Minas Gerais, que corresponde a 1/3 da densidade ferroviária do Rio de Janeiro. TABELA 17 DENSIDADE DE FERROVIAS MINAS GERAIS E ESTADOS SELECIONADOS - 2000 ÁREA (km2) EXTENSÃO(1) (km) DENSIDADE (km / 1.000 km2) Bahia 567.295,3 1.524 2,69 Goiás 341.209,5 685 2,01 Minas Gerais 588.383,6 5.059 8,60 Paraná 199.709,1 2.464 12,34 Rio G. do Sul 282.062,0 3.162 11,21 Rio de Janeiro São Paulo 43.797,4 248.808,8 1.097 5.065 25,05 20,36 8.547.403,5 28.637 3,35 ESTADO BRASIL FONTE: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001. Cálculos da Consultoria. (1) não inclui linhas de transporte de passageiros de subúrbio. Analisando a distribuição da rede ferroviária entre as diferentes regiões mineiras, nota-se imediatamente a forte desigualdade inter-regional da oferta e densidade de vias férreas. Apenas três regiões Central, Sul de Minas e Centro-Oeste de Minas concentram pouco mais da metade (56,7%) da extensão ferroviária, apesar de representarem pouco menos de 30% do território estadual. Duas regiões Noroeste de Minas e Jequitinhonha-Mucuri são completamente desprovidas de infra-estrutura ferroviária, enquanto que o Triângulo Mineiro, o Rio Doce e o Norte de Minas apresentam densidades ferroviárias inferiores à média estadual. Dentre as microrregiões geográficas, destacam-se, por apresentarem as densidades ferroviárias mais elevadas: Belo Horizonte, Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete, Lavras, Andrelândia, Divinópolis, Campo Belo, São Lourenço, Cataguases e Ipatinga. Capítulo 1 - Transporte e logística 53 BDMG 40 anos MAPA 7 MINAS GERAIS 2002: DENSIDADE DE FERROVIAS, POR MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA FONTE: ANTF, BNDES e Consultora 4.2.4. Estrutura de mercado: malhas, cargas transportadas e conexão das redes O modelo de desestatização do sistema ferroviário brasileiro de transporte de cargas (englobando as antigas RFFSA e FEPASA) foi construído a partir de duas definições fundamentais: sua reestruturação segundo um modelo de organização monolítico, conjugando, numa só empresa, todas as funções e atividades envolvidas no processo produtivo ferroviário (infra-estrutura viária, operação do transporte, controle e segurança, etc.); o seccionamento geográfico do sistema, dividido em seis malhas regionais, definidas sob critérios de unicidade de funções e atividades em cada malha. Como já demonstrado, desse modelo resultou a atuação em Minas Gerais de três novas concessionárias FCA (operando a malha Centro Leste, de bitola métrica), MRS Logística (operando a malha Sudeste, de bitola larga) e, com menor representatividade, a Ferroban (operando a malha Paulista, sucedânea da FEPASA, também em bitola métrica), além da CVRD, que já detinha a concessão da EFVM (em bitola métrica), reforçando, assim, a divisão geográfica do mercado de transporte ferroviário e sua especialização em determinadas cargas. Constata-se, no sistema ferroviário assim constituído, uma acentuada assimetria entre extensão de linhas e produção de transporte, no quadro geral das quatro concessionárias. Enquanto a FCA, detendo 68% das linhas férreas de Minas Gerais, movimenta menos de 10% das cargas ferroviárias (em toneladas/ano), a EFVM responde por mais de 60% da movimentação ferroviária, apesar de possuir apenas 13% da extensão dessa rede; a MRS Logística com 16% da rede movimenta quase 30% do volume de carga ferroviária; e, as Ferrovias Bandeirantes Ferroban, partilhando 3% da extensão total da rede, carrega menos de 3% das cargas ferroviárias geradas em Minas Gerais. 54 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos A EFVM movimentou, em 2000, cerca de 111,8 milhões de toneladas de cargas, com uma forte especialização no transporte de minério de ferro, que representou 77% de toda a carga transportada naquele ano. Em posições bem inferiores, aparecem os produtos siderúrgicos (5%), carvão mineral (4,5%), calcário (2,5%), ferro-gusa (2,3%) e soja e farelos (1,7%), dentre outros produtos. Com uma produção de transporte da ordem de 56,7 bilhões de TKU, observa-se que sua distância média de transporte foi de 507 km. Também a MRS, que movimentou cerca de 66,1 milhões de toneladas de cargas em 2000, caracteriza-se pela expressiva especialização no transporte de minério de ferro, que respondeu por 73,5% da carga total transportada. Os produtos siderúrgicos, com 6,5% da tonelagem total movimentada, ocupam uma segunda posição, sendo acompanhados pelo carvão mineral (4,2%), soja (3,6%) e cimento (3,3%), dentre outras mercadorias que compõem a pauta de transporte dessa concessionária. A produção de transporte naquele ano chegou a 26,8 bilhões de TKU, significando uma distância média de transporte de 406 km. A FCA, por sua vez, apresentou uma pauta mais diversificada de mercadorias transportadas, apesar do menor volume movimentado. Em 2000, foram transportados 19,6 milhões de toneladas de cargas, com participações mais elevadas dos seguintes produtos: calcário (21%), siderúrgicos (13,5%), grãos agrícolas (9,5%), cimento (8,7%), derivados de petróleo (8,2%) e ferro-gusa (7,8%), que representaram, em conjunto, cerca de 68,7% do volume total transportado naquele ano. Sua produção de transporte foi de 7,6 bilhões de TKU, o que indica uma distância média de transporte de 388 km. Como se percebe, as mercadorias transportadas e suas participações relativas na pauta produtiva das empresas concessionárias indicam predominância de granéis sólidos e pequena contribuição da carga geral no volume total movimentado pelo modal ferroviário. Por outro lado, é importante destacar as reduzidas distâncias médias de transporte das concessionárias operantes em Minas Gerais, inferiores, inclusive, à distância média do sistema ferroviário brasileiro, que foi de 512 km no ano 200017 , contrariando princípios básicos de economia dos transportes. De fato, sabe-se que o mercado mais rentável para a ferrovia é o de transporte de longa distância acima de 1.000 km (.....), propiciando margens comerciais compatíveis com os altos custos fixos de exploração desse segmento (Castro, 2001). Estudos recentes18 demonstram existir um grande mercado potencial para o transporte ferroviário de longa distância, cujo desenvolvimento depende de ações integradas de mais de uma concessionária ferroviária. Uma forte impedância à atuação do modal ferroviário nesse amplo mercado potencial é o baixo grau de conectividade do sistema, segmentado em malhas regionais. As dificuldades de conexão das distintas malhas regionais estão associadas, por um lado, à configuração físicooperacional basicamente, às quebras de bitola e ao reduzido número (ou mesmo ausência) de terminais eficientes de transbordo, e, por outro, à questões regulatórias (obrigatoriedade da prática do tráfego mútuo e da concessão do direito de passagem, etc.) ainda não adequadamente equacionadas. A maior flexibilização do transporte intramodal, portanto, (envolvendo duas ou mais concessionárias) é um pré-requisito importante para permitir à ferrovia uma participação mais expressiva no atendimento aos fluxos inter-regionais de transporte19 , principalmente ao longo do grande eixo norte-sul que interliga as regiões Sul, Sudeste e Nordeste (passando por Minas Gerais), cujas grandes distâncias de transporte são mais apropriadas ao transporte ferroviário ou a combinações logísticas intermodais. 17 18 19 Nos Estados Unidos, a distância média do transporte ferroviário é da ordem de 1.350 km. Vide CASTRO, N. Intermodalidade, intramodalidade e o transporte de longa distância no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, Planejamento e Políticas Públicas, dez. 1993; e BANCO MUNDIAL. Brasil Transporte multimodal de carga: questões regulatórias selecionadas. Relatório no. 16361-BR. Washington, DC: Região da América Latina e Caribe, Unidade setorial de finanças, setor privado e infra-estrutura, 1997. Estima-se que a participação do modal ferroviário nos fluxos inter-regionais de transporte de carga (excluídos os fluxos do comércio internacional brasileiro) seja de apenas 3%, o que pode ser, em grande parte, explicado pelo baixo grau de integração dos serviços e/ou de conectividade da rede entre subsistemas / concessionárias, levando a uma contenção da demanda (BANCO MUNDIAL, 1997). Capítulo 1 - Transporte e logística 55 BDMG 40 anos Castro (2001) tem insistido, com ênfase, que o órgão regulador dos transportes terrestres, ainda em fase de estruturação20 , deveria, respeitando o modelo de desestatização implantado e os contratos de concessão em vigor, estatuir regras de funcionamento para o sistema ferroviário que fossem capazes de facilitar o intercâmbio entre as diferentes concessionárias, visando atingir a eficiência do sistema como um todo e não apenas das malhas que o constituem e, assim, viabilizar a exploração do mercado de transporte de longa distância. Pelo seu posicionamento geográfico e configuração espacial das linhas, as concessionárias instaladas em Minas Gerais têm nesse contexto importantes papéis a desempenhar, e o sistema de transporte de Minas Gerais muito a se beneficiar com a efetiva integração das malhas ferroviárias brasileiras21 . 4.2.5. Desempenho das concessionárias Passados mais de cinco anos do início da operação por concessionária privada das ferrovias localizadas em Minas Gerais, avaliações recentes demonstram, ainda que de forma tímida e bastante heterogênea, um avanço geral no desempenho setorial: a MRS parece ter superado as dificuldades iniciais do processo em curso e encontra-se em rota de expansão; o desempenho da FCA, impactado durante a fase de reestruturação societária, apresentase agora, sob o controle operacional da CVRD, com perspectivas positivas; a EFVM mantém sua grande eficiência no mercado de cargas cativas e busca-se expandir como operadora logística integrada; a Ferroban, mesmo com seu desempenho comprometido em função de ineficiências nas linhas e de problemas de interface com outras concessionárias no porto de Santos, conseguiu atingir sua meta de produção em 2000. Vale contudo lembrar que a produção atual da Ferroban ainda é 19% menor do que a produção da antiga Fepasa em 1980. Para uma avaliação mais sistemática do desempenho das ferrovias brasileiras pós-privatização, o estudo recentemente divulgado por Pires (2002) é referência bastante consistente. O modelo de avaliação proposto baseia-se em três diferentes óticas analíticas: i) a do usuário, que busca a redução dos fretes e um melhor nível de serviço; ii) a do prestador do serviço, que visa a saúde financeira da empresa concessionária e a remuneração de seus acionistas; iii) a do governo, que deseja a maior eficiência operacional do sistema de transporte como um todo. Avaliação sob a ótica do usuário Três indicadores permitem avaliar o desempenho das concessionárias de ferrovias sob a ótica de seus usuários: produto médio, velocidade média comercial e índice de acidentes. O produto médio é o resultado da relação entre a receita operacional líquida e a produção anual de cada concessionária e pode ser considerada uma boa aproximação da tarifa média praticada no sistema ferroviário22 . Entre 1997 e 2000, constata-se que o produto médio da EFVM cresceu 20 21 22 56 A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), criada pela Lei no. 10.233, de 5 de junho de 2001, foi instalada apenas no 1o. semestre de 2002. Castro (2001) demonstra que existem pelo menos duas motivações básicas para se fomentar o intercâmbio entre os subsistemas ferroviários. Uma, é a possibilidade de se ter competição entre as próprias concessionárias, que poderiam disputar clientes dentro e fora de seus limites geográficos, caso tivessem algum controle das condições operacionais em que se daria a operação fora do limite de suas linhas; a outra, é a promoção da oferta de serviços de transporte ferroviário em rotas com origem e destino posicionados dentro dos limites de mais de uma empresa. Desconsiderando as ferrovias do sistema CVRD, o produto médio das empresas ferroviárias brasileiras - da ordem de US$ 10,4/ mil TKU é inferior à do mercado norte-americano (US$ 14,1/mil TKU). Vale registrar, contudo, que nos Estados Unidos transporta-se por ferrovia um percentual expressivo de cargas de maior valor agregado, justificando uma maior receita média por TKU (Pires, 2002). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 76,8%, o da MRS cerca de 14,5% e o da FCA foi reduzido em 9,6%. Considerando, porém, que a inflação acumulada nesse período, medida pela TR, foi de 27,7%, vê-se que apenas na EFVM ocorreu aumento real do produto médio. As reduções ocorridas na MRS e, de modo mais expressivo, na FCA podem indicar tanto uma possível queda do frete médio praticado por essas duas concessionárias, como também uma maior participação de produtos de menor valor agregado nos mix de produtos transportados. A avaliação da velocidade média comercial praticada nas malhas comerciais, indicador do lead time do serviço oferecido aos usuários, mostra que esta, apesar de ter apresentado, entre 1998 e 2000, um crescimento de 5,3%, ainda é muito baixa (12,7 km /h). Para efeito de comparação, vale registrar que, nos Estados Unidos, as cinco maiores transportadoras ferroviárias apresentam uma velocidade comercial média da ordem de 36,8 m/h. O índice de acidentes (medido pela razão entre o número de acidentes ocorridos e o somatório do percurso anual dos trens) é outro indicador da qualidade do serviço ofertado. Nesse quesito, verifica-se que entre 1997 e 2000 a MRS conseguiu reduzir seu índice de acidentes em 39,7% e a FCA em 14,4%. Avaliação sob a ótica da concessionária A margem bruta das concessionárias 23 é o indicador considerado para a avaliação do desempenho das ferrovias sob a ótica empresarial. Constatou-se a existência de uma tendência de aumento da receita e redução das despesas operacionais, em maior ou menor grau. As quatro concessionárias atuantes no mercado mineiro apresentaram margens brutas positivas em 2000: a EFVM com 63%, a MRS com 39% e, em patamares menores, a FCA com 15% e a Ferroban com 5% de margem bruta anual. Avaliação sob a ótica governamental Visando o aumento da participação do modal ferroviário no mercado de transporte de cargas, foram definidas, pelo poder concedente, metas de produção de transporte para as empresas vencedoras dos leilões de concessão. Dentre as concessionárias atuantes em Minas Gerais, a MRS e a Ferroban, além da EFVM, atingiram os patamares pactuados com o Poder Concedente; apenas a FCA não conseguiu atingir em 2000 a meta de produção pré-estipulada. De todo modo, é importante registrar que, em 2000, as três concessionárias com atuação mais expressiva em Minas Gerais, quais sejam, a EFVM, a MRS e a FCA, movimentaram cerca de 65% de toda a carga ferroviária brasileira e responderam por 59% da produção brasileira de transporte ferroviário (medida em TKU). Numa visão retrospectiva, verifica-se que, nos subsistemas oriundos da antiga RFFSA, ocorreram sucessivos acréscimos de produção, entre 1991 e 1993; quedas, entre 1993 e 1996 (que corresponde ao período preparatório da privatização); e, uma nova etapa de produção crescente, a partir de 1997, alcançando, em 2000, os níveis de produção vigentes em 1993 (da ordem de 47,3 bilhões de TKU). Essa recuperação é devida, sobretudo, aos acréscimos de produção apresentados pelas concessionárias MRS e FCA, além da ALL24 , que atua no Sul do Brasil. 23 24 Esse indicador foi calculado a partir da seguinte formulação: margem bruta = (receita operacional líquida despesa operacional) /receita operacional líquida. A evolução positiva da produção do sistema RFFSA, entre 1996 e 1999, (média de 6,6% ao ano) reflete apenas a recuperação do nível de produção da fase pré-privatização (1993) e o atendimento à demanda reprimida de clientes tradicionais (insumos e produtos siderúrgicos, grãos agrícolas, cimento e derivados do petróleo). Capítulo 1 - Transporte e logística 57 BDMG 40 anos Por outro lado, a EFVM se caracterizou por uma tendência consistente de incremento de sua produção anual de transporte até 1997. Os dois anos seguintes foram de quedas sucessivas, modificando-se essa performance em 2000, quando a produção, da ordem de 56,7 bilhões de TKU, atingiu o patamar já alcançado em 1997. Nesse contexto, deve-se notar que algumas concessionárias, buscando romper com o paradigma de especialização no mercado de granéis sólidos e líquidos, voltam agora suas atenções para a carga geral contêinerizada como estratégia de crescimento. Destacam-se as atuações da MRS e da ALL25 , a primeira iniciando a operação de trens expressos de contêineres nas hinterlândias dos portos de Santos e Sepetiba, além de operações intermodais do tipo piggyback 26 entre os mercados mineiro e paulista; e, a segunda, já operando trens expressos no Sul do Brasil. Enquanto isso, a EFVM, tradicionalmente vista apenas como elo do sistema produtivo da CVRD, vem, nos últimos anos, procurando diversificar sua estrutura de produção e visão empresarial no segmento de transporte, firmando-se como uma unidade de negócios de logística do Grupo Vale, abrangendo terminais de interior, estações aduaneiras, transporte ferroviário, terminais portuários e transporte marítimo, e envolvendo clientes internos e externos. 4.2.6. Investimentos recentes e projetos previstos Iniciadas as operações das novas concessionárias foram viabilizados investimentos iniciais para a recuperação, renovação e ampliação do material rodante (locomotivas e vagões), assim como para a reforma e aumento da capacidade de algumas linhas, que se encontravam bastante degradados devido ao deficit de inversões que caracterizou o período antecedente ao programa de privatização das malhas regionais da RFFSA. No período pós-privatização, em apenas dois anos 1998 e 1999, foram investidos cerca de R$ 1,3 bilhão no sistema ferroviário, dos quais, R$ 700 milhões nas ferrovias da CVRD e nas malhas regionais originárias da RFFSA (principalmente MRS, ALL e FCA), e R$ 600 milhões em novos projetos 1a. etapa da Ferronorte e Ferrovia Norte-Sul. Os programas de investimentos das concessionárias de ferrovias têm impactado positivamente a indústria de equipamentos e materiais ferroviários. Vale registrar que no período 1998/2000 essa indústria produziu 2.684 novos vagões, o que não ocorria desde 1986. Previsões do setor estimam que deverão ser viabilizados projetos de investimento da ordem de R$ 2,2 bilhões no período 2000-2004, incluindo aplicações nas concessionárias das malhas regionais da RFFSA, com o BNDES apoiando a metade desse montante. 25 26 58 A ALL está atuando no mercado do Mercosul, em conjunto com sua co-irmã ALL-Argentina, incorporando em sua visão estratégica a carga geral em operações multimodais entre São Paulo e Buenos Aires. Adquiriu recentemente 160 veículos bimodais (road-railers) para atuar de forma mais agressiva nesse mercado e superar impedâncias representadas pela mudança de bitola na fronteira. Além disso, vem realizando contratos de parceria de longo prazo com empresas rodoviárias para atuação conjunta em operações door-to-door. Em 2002, depois de constituir uma joint venture com a transportadora rodoviária Delara, firmou contrato com a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira para a prestação de serviços de operação logística, atuando inicialmente no mercado de São Paulo, mas com perspectiva de entrada no mercado mineiro de produtos siderúrgicos. Operações dessa natureza baseiam-se na colocação de uma carreta (semi-reboque) sobre um vagão plataforma. Visa reduzir custos e tempo com transbordo da carga entre modais distintos, evitando, com isso, investimentos em terminais rodo-ferroviários. Experiência recente de sucesso é a movimentação consolidada de carga siderúrgica produzida pela Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, em Juiz de Fora, em semi-reboques sobre vagões ferroviários, até a região metropolitana de São Paulo, a partir de onde se inicia, sem necessidade de prévio transbordo, a etapa de distribuição no mercado paulista através do sistema rodoviário. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento O desenvolvimento do sistema ferroviário, no período compreendido entre a constituição da RFFSA, em 1957, e as outorgas de concessão a empresas privadas para exploração e operação de suas malhas regionais, se fez a custa de uma forte especialização no atendimento a mercados cativos, com um escopo restrito de clientes. O mix de produtos transportados incluía parcelas mais do que expressivas de minério de ferro, grãos agrícolas para exportação, cimento e derivados do petróleo (nesse último, tirando partido da rígida regulamentação governamental que durante longo tempo prevaleceu no transporte e distribuição de combustíveis), dentre outros de baixo valor agregado, nas quais o modal ferroviário tem fortes vantagens competitivas. BDMG 40 anos 4.2.7. Desenvolvimento e perspectivas Vale relembrar que embora a produção de transporte ferroviário tenha apresentado crescimento nos anos 90, seu ritmo foi inferior ao do mercado brasileiro de transporte de cargas, o que levou à redução da participação do modal ferroviário na matriz brasileira de transporte (20,9% em 2000, contra 21,5% em 1990). Os grandes esforços realizados pelas novas concessionárias nos primeiros anos de atuação foram suficientes apenas para a recuperação do nível de produção de 1993 e o atendimento à demanda reprimida de clientes dos setores tradicionais. Evidentemente, espera-se muito mais do que isso no cenário pós-privatização do sistema ferroviário brasileiro: há que se buscar o crescimento setorial, com o aumento da produção de transporte, através da ampliação do escopo de produtos e clientes, de modo a atingir novos mercados e aumentar a participação desse modal na matriz de transporte de cargas. Para tanto, as concessionárias ferroviárias, além de fazer novos investimentos na modernização e expansão de seus sistemas27 , precisarão implementar programas de administração estratégica voltados para ganhos de participação no mercado nacional de transporte, a partir de uma visão de logística multimodal. Por outro lado, é imprescindível que a Agência Nacional de Transportes Terrestres ANTT comece efetivamente a operar, constituindo um marco regulatório para o setor ferroviário que seja capaz de, simultaneamente, remover impedâncias às operações intramodais e favorecer a implementação de arranjos logísticos intermodais. 4.3. Modalidade dutoviária A rede dutoviária instalada em Minas Gerais é constituída por 1.800 quilômetros de dutos, com a seguinte distribuição quilométrica por categoria operacional: oleodutos : 797km; minerodutos: 516km; gasodutos: 487km. 27 Estudo recente do BNDES (2000) alerta que o limite de endividamento das concessionárias, entretanto, é um dos maiores obstáculos para que isso [os novos investimentos] aconteça. O modelo de autofinanciamento do setor pode ser uma restrição ao seu pleno desenvolvimento, no ritmo desejado, já que impõe amplo papel aos concessionários na recuperação e na expansão do sistema. Em vista dessa constatação, propõe que se busque outros agentes promotores de investimentos no setor, de forma a desonerar as concessionárias e permitir o avanço setorial (como em outras infra-estruturas: portos e rodovias), sugerindo a entrada em cena de novos atores: grandes usuários cativos, empresas de leasing e mesmo o setor público nas expansões de infra-estrutura, especialmente as consideradas estratégicas, a fim de viabilizar, simultaneamente, as diretrizes de recuperação e crescimento. Capítulo 1 - Transporte e logística 59 BDMG 40 anos Os oleodutos são de propriedade e operados pela Petrobrás. Atendem ao transporte de petróleo bruto e derivados claros (gasolina e diesel, basicamente). Atualmente, são operados dois oleodutos, interligando o terminal marítimo e a refinaria Duque de Caxias - REDUC, na Baixada Fluminense, à Refinaria Gabriel Passos - REGAP, em Betim-MG: o ORBEL I, em operação desde 1967, com 362 quilômetros de extensão, e hoje, dedicado à movimentação de derivados da REGAP para o Rio de Janeiro; e, o ORBEL II, que entrou em operação em 1982, com 357 quilômetros de extensão e, hoje, responsável pelo suprimento de petróleo bruto à Refinaria Gabriel Passos, a partir das bases do Rio de Janeiro. Em 1999, foram transportados, nesse sistema de oleodutos, cerca de 576 mil toneladas de derivados claros e 6,9 milhões de toneladas de petróleo bruto, resultando em produções de transporte da ordem de 0,21 bilhões e 2,48 bilhões de TKU, respectivamente. É de se notar que essas produções são ligeiramente inferiores às de 1992 (quando se realizou a pesquisa OD de transporte de cargas em Minas Gerais), o que está associado às mudanças que a Petrobrás vem realizando em sua cadeia logística nos últimos anos. Além desses dois dutos ORBEL I e ORBEL II -, o território mineiro é atravessado, desde 1996, pelo oleoduto Paulínia Brasília, com 964 quilômetros de extensão total, dos quais, cerca de 190 quilômetros atravessam o Triângulo Mineiro de sul a norte, com estações intermediárias de abastecimento das bases de Uberaba e de Uberlândia. Entre a refinaria de Paulínia e a base de distribuição de Brasília, esse oleoduto movimentou, em 1999, cerca de 2,3 milhões de derivados claros, o que representou uma produção de transporte de 2,2 bilhões de TKU. Os minerodutos são elos relevantes dos sistemas logísticos de suas proprietárias e operadoras: a Samarco Mineração (produtora e exportadora de pelotas de minério de ferro) e a Fosfértil Ultrafértil (produtora de fertilizantes): o mineroduto da Samarco, com 396 quilômetros de extensão, liga as minas da Alegria e de Germano, em Mariana, à usina de pelotização de Ponta de Ubu, em Anchieta, no litoral do Espírito Santo, onde também situa o terminal portuário privativo dessa mineradora. Em 1999, foram transportadas nesse mineroduto cerca de 12,3 milhões de toneladas de minério de ferro concentrado, o que representou uma produção de 4,9 bilhões de TKU. Em comparação com o registrado em 1992, constata-se expressivo acréscimo da produção de transporte, da ordem de 69% (em média, 7,8% ao ano, entre 1992 e 1999); o mineroduto do grupo Fosfértil Ultrafértil, com 120 quilômetros de extensão, liga o complexo de mineração de fosfato, localizado no município de Tapira, ao complexo industrial de produção de fertilizantes localizado em Uberaba. Em 1999, foi movimentado, 1,5 milhão de toneladas de concentrado fosfático sob a forma de polpa, o que representou uma produção de transporte da ordem de 178,4 milhões de TKU, praticamente igual à produção de 1992. A rede de gasodutos atende ao transporte de suprimento de gás natural entre a refinaria Duque de Caxias - REDUC, na Baixada Fluminense, à Refinaria Gabriel Passos - REGAP, em Betim-MG, totalizando 357 quilômetros de percurso, e à distribuição, a partir das bases de estocagem, aos clientes situados nos municípios de Juiz de Fora, Barbacena, Betim, Belo Horizonte, Contagem, Ibirité, Vespasiano, Santa Luzia e São José da Lapa, constituindo um sistema distribuidor com 130 quilômetros de extensão. No trecho dedicado ao suprimento de Minas Gerais, foram movimentadas, em 1999, cerca de 208 mil toneladas de gás natural, do que resultou uma produção da ordem de 74,4 bilhões de TKU. 60 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 4.4. Modalidade aeroviária 4.4.1. Infra-estrutura aeroportuária O sistema aeroportuário público de Minas Gerais é formado por 154 aeródromos28 , dos quais 94 são homologados pelo Departamento de Aviação Civil DAC, do Ministério da Defesa. Como mostra a tabela seguinte, cerca de 60 aeródromos públicos dispõem de pista pavimentada e 14 contam com instalações e equipamentos para balizamento de vôos noturnos. O Anuário Estatístico do Transporte Aéreo do DAC registra a ocorrência, no ano 2000, de tráfego regular de aeronaves de empresas aéreas prestadoras dos serviços de transporte comercial, no âmbito doméstico e/ou internacional, em 12 aeroportos mineiros, quais sejam: Belo Horizonte Pampulha, Internacional de Confins Tancredo Neves, Uberlândia, Ipatinga, Uberaba, Montes Claros, Juiz de Fora, Governador Valadares, Varginha, Barbacena, Patos de Minas e Poços de Caldas (discriminados pela ordem decrescente do volume de passageiros embarcados / desembarcados em suas instalações). TABELA 18 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SISTEMA AEROPORTUÁRIO PÚBLICO - MINAS GERAIS - 2000 SITUAÇÃO INSTITUCIONAL (1) TIPO DE PISTA EQUIPAMENTOS DE BALIZAMENTO NOTURNO Pavimentada Não Pavim. Dotado Homologado 53 42 14 Não Dotado 81 Não homologado 7 52 - 59 Total 60 94 14 140 FONTE: Boletim rodoviário 2000, DER/MG, 2001. (1) perante o Departamento de Aviação Civil - DAC. A Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária INFRAERO , empresa pública controlada pela União, é responsável pela administração e operação de seis dos aeroportos discriminados no parágrafo anterior (Belo Horizonte Pampulha, Internacional de Confins Tancredo Neves, Uberlândia, Uberaba, Montes Claros e Juiz de Fora), além do aeroporto de Belo Horizonte Carlos Prates, utilizado como estação de apoio à navegação aérea. O aeroporto internacional de Confins - Tancredo Neves, em operação desde o início da década de 80 e situado a 40 quilômetros da Área Central de Belo Horizonte, dispõe de excelentes instalações, compreendendo a seguinte infra-estrutura básica: área total: .............................................. 24 milhões de m2; terminal de passageiros: - área construída: ............................... 83,5 mil m2; - capacidade: ....................................... 5 milhões de passageiros / ano; terminal de cargas: .............................. 6,3 mil m2 de área construída; pistas de pouso e decolagem: ............ duas, com 3 mil metros de extensão cada. 28 Toda área destinada ao pouso, decolagem e movimentação de aeronaves, de caráter público ou privado. A denominação aeroporto se restringe aos aeródromos públicos dotados de instalações e facilidades para apoio às operações de aeronaves e de embarque e desembarque de pessoas e cargas. Capítulo 1 - Transporte e logística 61 BDMG 40 anos Contudo, tendo respondido em 2000 por apenas 17% da demanda de transporte aéreo de passageiros em Minas Gerais, o aeroporto internacional de Confins - Tancredo Neves vem apresentando elevado índice de ociosidade em suas instalações29 . Ao contrário, o aeroporto de Belo Horizonte - Pampulha, localizado a apenas 10 quilômetros da Área Central de Belo Horizonte, apresenta instalações relativamente modestas, com as seguintes características físico-operacionais: área total: ..................................................... 2 milhões de m2; terminal de passageiros: - área construída: ...................................... 4,5 mil m2; - capacidade: .............................................. 1,5 milhão de passageiros / ano; pista de pouso e decolagem: ..................... uma, com 2,5 mil metros de extensão. Em 2000, o aeroporto da Pampulha atendeu a 62% da demanda de transporte aéreo de passageiros em Minas Gerais, o que tem provocado congestionamentos em suas instalações nos períodos de pico 30 . Os aeródromos públicos não pertencentes à INFRAERO, em número de 139, são administrados mediante convênios entre o Comando da Aeronáutica, o Estado e os respectivos municípios. Para esse subsistema de aeródromos públicos, o Instituto de Aviação Civil IAC vem elaborando, desde 1981, Planos Aeroviários de alcance estadual. No caso de Minas Gerais, foi recentemente revisado através de convênio entre o Comando da Aeronáutica / DAC / IAC e a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, o Plano Aeroviário do Estado de Minas Gerais PAEMG, com horizonte de planejamento que se estende até 2019. Em consonância com as metas do PAEMG, encontra-se em implantação o aeroporto regional da Zona da Mata, localizado nos municípios de Goianá e Rio Novo, na microrregião de Juiz de Fora. 29 30 62 A otimização da infra-estrutura instalada no aeroporto internacional Tancredo Neves passa pela viabilização de programas focados no aeroporto como um centro de negócios integrado a uma plataforma logística e não apenas como um terminal de troca intermodal. Segundo BNDES (2001, n.46), quando se considera o desenvolvimento aeroportuário com este enfoque, é possível agregar valor aos bens em circulação e integrar as instalações disponíveis com as economias local e regional, posicionando o aeroporto como elo efetivamente integrante da cadeia logística. Surge então o conceito de aeroportoindustria, que, tomando partido do aeroporto internacional como parte da suply chain, o transforma em um pólo de acabamento e montagem de produtos destinados ao exterior, com vantagens de ordem econômica e fiscal para as empresas envolvidas. (a exemplo da redução de custos, devido a suspensão dos tributos sobre insumos importados e minimização de estoques, através da redução do transit times; aumento da competitividade; e, conquista de novos mercados externos. Segundo IAC (1999), o aeroporto de Belo Horizonte Pampulha, junto com os aeroportos Santos-Dumont (RJ), Congonhas (SP) e Internacional de Brasília, faz parte da rede de linhas aéreas domésticas especiais (ligações especiais), definidas como aquelas que ligam dois aeroportos centrais ou um aeroporto central com o aeroporto da capital federal (Portaria no 504/GC5, de 12 de agosto de 1999, em seu Art. 7o), destinadas a atender ao mercado de passageiros executivos, cuja principal motivação são viagens a negócios, sendo notável o desempenho desses aeroportos que, mesmo não possuindo tráfego internacional regular, com exceção do Internacional de Brasília (SBBR), superam vários aeroportos que apresentam tal segmento. Isto evidencia a força do mercado doméstico regular nesta região, que liga os principais centros econômicos e político-administrativos do País. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos MAPA 8 MINAS GERAIS 2002: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS AERÓDROMOS PÚBLICOS FONTES: DAC, DER/MG e Consultora 4.4.2. Movimentação de passageiros e cargas nos serviços regulares Os 12 aeroportos com registro de tráfego regular em Minas Gerais no ano 2000, responderam, em conjunto, no tráfego doméstico, pela movimentação de 3,6 milhões de passageiros e de 31,9 mil toneladas de cargas. O aeroporto internacional de Confins - Tancredo Neves movimentou, no mesmo ano, em vôos internacionais, cerca de 88,2 mil passageiros e 17,6 mil toneladas de cargas. TABELA 19 EMBARQUES E DESEMBARQUES DE PASSAGEIROS E CARGAS EM AEROPORTOS COM TRÁFEGO REGULAR MINAS GERAIS - 2000 PASSAGEIROS % CARGA (KG) AEROPORTO Embarcados Desembarcados % Embarcada % Desembarcada % B. Horizonte / Pampulha 1.159.517 62,9 1.132.430 61,4 10.440.619 46,2 12.534.094 46,6 Confins / Tancredo Neves 310.347 16,8 323.920 17,6 7.814.976 34,6 9.767.875 36,3 Uberlândia 189.203 10,3 197.577 10,7 2.571.128 11,4 2.509.143 9,3 (Continua...) Capítulo 1 - Transporte e logística 63 BDMG 40 anos TABELA 19 (Continuação) EMBARQUES E DESEMBARQUES DE PASSAGEIROS E CARGAS EM AEROPORTOS COM TRÁFEGO REGULAR MINAS GERAIS - 2000 PASSAGEIROS AEROPORTO Embarcados % CARGA (KG) Desembarcados % Embarcada % Desembarcada % Ipatinga 59.295 3,2 67.718 3,7 355.748 1,6 488.415 1,8 Uberaba 40.428 2,2 42.727 2,3 502.974 2,2 561.137 2,1 Montes Claros 39.107 2,1 35.301 1,9 450.736 2,0 443.747 1,6 Juiz de Fora 23.393 1,3 23.443 1,3 235.468 1,0 318.779 1,2 Governador Valadares 16.042 0,9 12.420 0,7 173.492 0,8 200.785 0,7 5.790 0,3 6.339 0,3 45.820 0,2 73.873 0,3 Barbacena 886 0,0 1.172 0,1 8.723 0,0 17.002 0,1 Patos de Minas 165 0,0 164 0,0 1.238 0,0 1.580 0,0 Poços de Caldas 64 0,0 64 0,0 600 0,0 600 0,0 1.844.237 100,0 1.843.275 100,0 22.601.522 100,0 26.917.030 100,0 Varginha TOTAL Fonte: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. Como pode se verificar na tabela anterior, o tráfego aéreo encontra-se fortemente concentrado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com os aeroportos da Pampulha e Confins movimentando cerca de 80% do volume de passageiros embarcados/desembarcados em Minas Gerais. O aeroporto de Uberlândia ocupa a terceira posição, sendo responsável por 10% dos volumes totais de passageiros e de cargas do sistema aeroportuário mineiro. Os dados pertinentes ao tráfego nos aeroportos da INFRAERO, que concentram 95% do movimento aéreo regular em Minas Gerais, estão consolidados na tabela seguinte e permitem uma avaliação de conjunto da evolução dessa modalidade de transporte no período 1996-2000. TABELA 20 TRÁFEGO AÉREO DE PASSAGEIROS E CARGAS NO SISTEMA INFRAERO(EMBARQUES E DESEMBARQUES) MINAS GERAIS - 1996-2000 MOVIMENTO ANUAL (1) TRÁFEGO 1996 Internacional Passageiros (mil) Carga (mil ton.) Doméstico Passageiros (mil) Carga (mil ton.) 2000 RELAÇÃO MG / BR, POR ANO (em %) 1996 2000 106,1 88,3 -4,46 1,1 0,9 2,6 15,4 56,00 0,6 2,9 2.286,5 3.338,2 9,92 5,3 5,4 22,8 25,8 3,14 2,7 3,2 FONTE: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001. (1) inclui embarques e desembarques 64 TAXA DE CRESCIMENTO (% AO ANO) Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Os movimento doméstico de passageiros em Minas Gerais foi fortemente crescente entre 1996 e 2000 (cerca de 9,92% ao ano), praticamente no mesmo nível do tráfego doméstico nacional, o que significou a manutenção da participação relativa de Minas Gerais na demanda total. O movimento doméstico de cargas apresentou crescimento médio de 3,14% ao ano, acima da média nacional, elevando a participação relativa de Minas Gerais nesse tráfego de 2,7% para 3,2%, em quatro anos. Quanto ao transporte aéreo internacional, restrito, em Minas Gerais, ao aeroporto de Confins/Tancredo Neves, constata-se queda do volume de passageiros, entre 1996 e 2000 (de 4,46% ao ano, em média), enquanto que a carga aérea internacional apresentou expressivo aumento no mesmo período, a taxa média de 56% ao ano, puxado sobretudo pelas importações. Nesse contexto, observa-se que a participação relativa de Minas Gerais no tráfego internacional de passageiros caiu de 1,1% para 0,9%, enquanto que, na carga aérea a participação de Minas Gerais aumentou de 0,6% para 2,9%. 4.4.3. Configuração espacial dos fluxos nos serviços regulares O Anuário Estatístico do Transporte Aéreo do DAC mostra que no conjunto de aeroportos mineiros com tráfego doméstico regular de passageiros foram operadas 261 ligações aéreas (pares origem/destino) em 2000, configurando um conjunto de fluxos, principalmente interestaduais, que totalizaram cerca de 3,35 milhões de passageiros e 46,4 mil toneladas de carga aérea (entre embarques e desembarques). A tabela seguinte mostra que, dos 29,05 milhões de passageiros embarcados no tráfego doméstico regular no Brasil, cerca de 1,7 milhão teve origem em aeroportos mineiros (correspondendo a 5,8% do tráfego nacional), com apenas 169,1 mil passa geiros tendo destino no próprio Estado, o que representa pouco mais de 0,5% do tráfego aéreo nacional. TABELA 21 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS FLUXOS AÉREOS DE PASSAGEIROS (1) MINAS GERAIS E RESTO DO BRASIL (2)- 2000 DESTINO EMBARQUES Minas Gerais Resto do Brasil TOTAL 169.070 1.506.097 1.675.167 0,58 5,19 5,77 1.505.135 25.867.490 27.372.625 5,18 89,05 94,23 1.674.205 27.373.587 29.047.792 5,76 94,24 100,00 Em Minas Gerais Passageiros % do Total Geral No resto do Brasil Passageiros % do Total Geral Total Passageiros % do Total Geral FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. (1) apenas transporte doméstico regular; (2) outras unidades da Federação. Capítulo 1 - Transporte e logística 65 BDMG 40 anos Por outro lado, a tabela seguinte mostra que, das 615,2 mil toneladas de carga aérea movimentada no mercado doméstico nacional, Minas Gerais responde pela origem de 3,42% e pelo destino de 4,12% do volume total movimentado, indicando um desequilíbrio de quase 1%, a favor das importações internas. Vale notar que os fluxos com destino e origem em aeroportos mineiros respondem por apenas 0,25% da carga aérea nacional. TABELA 22 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS FLUXOS DE CARGA AÉREA (1) MINAS GERAIS E RESTO DO BRASIL (2)- 2000 DESTINO EMBARQUES Em Minas Gerais Toneladas % do Total Geral No resto do Brasil Toneladas % do Total Geral Total Toneladas % do Total Geral Minas Gerais Resto do Brasil TOTAL 1.566,6 19.468,3 21.034,9 0,25 3,17 3,42 23.783,8 570.415,9 594.199,7 3,87 92,71 96,58 25.350,4 589.884,2 615.234,6 4,12 95,88 100,00 FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. (1) apenas transporte doméstico regular; (2) outras unidades da Federação. Das 261 ligações aéreas com origem e ou destino em Minas Gerais, as 18 mais densas (acima de 28 mil passageiros/ano, ou 1% da demanda total) foram responsáveis, em conjunto, pelo atendimento a 74% do volume anual de passageiros embarcados e desembarcados em Minas Gerais (no caso, todos com destino ou origem, respectivamente, em estados vizinhos, quais sejam: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, além do Distrito Federal, configurando fluxos interestaduais). Destacam-se por sua intensidade volumétrica as ligações Pampulha (MG) - Congonhas (SP) e vice-versa, cada uma respondendo por 15% da demanda anual, e também as ligações Santos Dumont (RJ) Pampulha (MG) e vice-versa, que representam, cada uma, cerca de 7% da demanda anual. Dentre as 18 ligações mais carregadas, apenas duas não possuem origem ou destino na região metropolitana de Belo Horizonte. São elas: Congonhas (SP) Uberlândia (MG), e viceversa, responsáveis, cada uma, por praticamente 3% da demanda mineira de transporte aéreo doméstico de passageiros. O GRAF. 7 retrata, para as 107 ligações mais densas (acima de 1.000 passageiros/ano), o padrão de concentração dos fluxos aéreos mineiros em poucas ligações e o reduzido número de aeroportos. A tabela que segue permite identificar os 18 mais movimentados pares origem/destino do transporte aéreo de passageiros em Minas Gerais. 66 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos GRÁFICO 7 FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. GRÁFICO 8 FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. Capítulo 1 - Transporte e logística 67 BDMG 40 anos TABELA 23 PRINCIPAIS LIGAÇÕES DO TRÁFEGO AÉREO DOMÉSTICO REGULAR DE PASSAGEIROS MINAS GERAIS - 2000 ORIGEM DO FLUXO AEROPORTO DESTINO DO FLUXO UF AEROPORTO PASSAGEIROS UF (mil / ano) % DO TOTAL SP 502,6 15,0 Pampulha MG Congonhas Congonhas SP Pampulha MG 495,7 14,8 Santos Dumont RJ Pampulha MG 234,2 7,0 Pampulha MG Santos Dumont RJ 222,2 6,6 Pampulha MG Int. de Brasília DF 125,0 3,7 Int. de Confins MG Int. de São Paulo SP 118,4 3,5 Int. de São Paulo SP Int. de Confins MG 112,6 3,4 Int. de Brasília DF Pampulha MG 109,5 3,3 Congonhas SP Uberlândia MG 97,7 2,9 Uberlândia MG Congonhas SP 94,9 2,8 Int. de Salvador BA Int. de Confins MG 54,7 1,6 Vitória ES Pampulha MG 53,9 1,6 Pampulha MG Vitória ES 52,8 1,6 Int. de Confins MG Int. de Salvador BA 49,9 1,5 Pampulha MG Campinas SP 43,9 1,3 Int. de Brasília DF Int. de Confins MG 41,1 1,2 Campinas SP Pampulha MG 37,6 1,1 Int. de Confins MG Int. de Brasília DF 28,7 0,9 873,8 26,1 Outras ligações FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. No tráfego aéreo doméstico de cargas também se verifica idêntico padrão de concentração espacial dos fluxos, como mostra a figura 8, correspondente às 104 ligações mais carregadas (mais de 20 toneladas/ano), dentre as 261 ligações com registro de dados. De fato, das mesmas 261 ligações aéreas, as 19 mais carregadas (acima de 470 toneladas/ano, ou 1% da demanda total) foram responsáveis, em conjunto, pelo atendimento a 76,5% do volume anual de carga aérea embarcada e desembarcada em Minas Gerais (também nesse caso, todos com destino ou origem, respectivamente, em estados vizinhos, quais sejam: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Espírito Santo e Bahia, além do Distrito Federal, configurando fluxos interestaduais). Destacam-se, por sua intensidade volumétrica, as ligações Congonhas (SP) - Pampulha (MG), Internacional de São Paulo (SP) Internacional de Confins (MG), a primeira respondendo por 14% da demanda anual e a segunda por 10%, além das ligações Pampulha (MG) Congonhas (SP) e Internacional de Confins (MG) Internacional de São Paulo (SP), com 9,5% e 7,7% da demanda total, respectivamente. Dentre as 19 ligações mais carregadas, somente quatro não têm origem ou destino na Região Metropolitana de Belo Horizonte. São elas: Congonhas (SP) Uberlândia (MG), Uberlândia (MG) Congonhas (SP), Uberlândia (MG) Goiânia (GO) e Goiânia (GO) Uberlândia, responsáveis, respectivamente, por 2,85%, 2,5%, 1,3% e 1% da demanda mineira de transporte aéreo doméstico de cargas. 68 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento PRINCIPAIS LIGAÇÕES DO TRÁFEGO DOMÉSTICO REGULAR DE CARGA AÉREA MINAS GERAIS - 2000 ORIGEM DO FLUXO Aeroporto UF DESTINO DO FLUXO Aeroporto UF CARGA (mil Kg por ano) % do Total Congonhas SP Pampulha MG 6.599,9 14,2 Int. de São Paulo SP Int. de Confins MG 4.681,8 10,1 Pampulha MG Congonhas SP 4.398,6 9,5 Int. de Confins MG Int. de São Paulo SP 3.583,0 7,7 Santos Dumont RJ Pampulha MG 1.927,4 4,2 Int. do Galeão RJ Int. de Confins MG 1.659,6 3,6 Pampulha Pampulha MG MG Santos Dumont Int. de Brasília SP DF 1.603,6 1.456,5 3,5 3,1 Congonhas SP Uberlândia MG 1.319,7 2,8 Int. de Brasília DF Pampulha MG 1.232,5 2,7 Uberlândia MG Congonhas SP 1.162,5 2,5 Int. de Confins MG Int. de Salvador BA 1.073,8 2,3 Int. de Salvador BA Int. de Confins MG 947,7 2,0 Int. de Brasília DF Int. de Confins MG 908,5 1,9 Int. de Confins MG Int. do Galeão RJ 739,4 1,6 Uberlândia MG Goiânia GO 611,7 1,3 Int. de Confins MG Vitória ES 578,6 1,25 Int. de Confins MG Int. de Brasília DF 561,2 1,2 Goiânia Outras ligações GO Uberlândia MG 478,2 10.861,0 1,0 23,4 BDMG 40 anos TABELA 24 FONTE: Anuário estatístico do transporte aéreo 2000, DAC, 2001. 4.4.4. Tendências e perspectivas do transporte aéreo A evolução do transporte aéreo está intimamente relacionada com o crescimento econômico das regiões atendidas. Nos países desenvolvidos, essa modalidade de transporte se encontra disseminada, atendendo às várias camadas da sociedade. Contudo, o maior potencial de crescimento do setor encontra-se nos países em desenvolvimento. Segundo previsões da Boeing, o mercado mundial de transporte aéreo deve crescer, em média, 4,8% ao ano nos próximos 20 anos, esperandose crescimentos acima dessa média na América do Sul, China e Ásia-Pacífico, enquanto que mercados consolidados, a exemplo dos Estados Unidos, devem expandir a taxa média de 3,5% ao ano, abaixo da média mundial31 . No Brasil, entre 1994 e 2000, o movimento doméstico de passageiros mostrou-se fortemente expansivo, evoluindo a taxa média de 9% ao ano nesse período, assim como o movimento de carga aérea internacional, que cresceu cerca de 12,6% ao ano, estimulado principalmente pelas importações. O tráfego aéreo em Minas Gerais, não obstante sua participação relativa encontrarse aquém da representatividade econômica do Estado na economia nacional, tem apresentado, nos últimos anos, taxas de crescimento semelhantes às do tráfego aéreo nacional como um todo. 31 No caso brasileiro, um cenário de crescimento expressivo e sustentado do transporte aéreo pressupõe, dentre outros condicionantes, o fortalecimento do mercado interno e aumento do poder aquisitivo dos usuários, a introdução de diferenciação de preços e serviços (com as novas empresas low cost, low fare) e a redução dos impactos de questões exógenas (como política cambial, seguros, tributação, etc.) nas companhias aéreas (conforme BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Aspectos de competitividade do setor aéreo. Informe Infra-estrutura. No. 42, março de 2001.). Capítulo 1 - Transporte e logística 69 BDMG 40 anos Ao serem avaliadas as tendências e perspectivas desse modal nas primeiras décadas do século XXI, é importante não esquecer que o transporte aéreo regular de passageiros tem sido, historicamente, a atividade-fim das empresas aéreas comerciais, sendo, também, o principal agente gerador de demanda por serviços e infra-estrutura aeroportuária. Tendo em vista a importância desse segmento para o planejamento, a manutenção e o desenvolvimento da rede aeroportuária, o Instituto da Aviação Civil IAC, órgão técnico vinculado ao Comando da Aeronáutica / DAC, realizou, recentemente, uma análise específica da evolução do transporte aéreo de passageiros, de modo a fornecer subsídios ao processo de tomada de decisões no desenvolvimento do setor aeroportuário nacional (IAC, 2002). Tal análise envolveu os segmentos regulares do tráfego de passageiros (doméstico nacional, doméstico regional e internacional), pois as prognoses dos tráfegos não regulares (vôos charter domésticos e internacionais e aviação geral) têm sido obtidas por participação no tráfego principal regular de cada aeroporto, da ordem de 5 a 10% do tráfego total geral. A partir do referido estudo do IAC pode-se estimar para o Brasil uma taxa média de crescimento anual do tráfego regular passageiros (incluindo os segmentos doméstico e internacional) da ordem de 7,3% no período entre 1997 e 2002. Foram previstas menores taxas médias para os períodos 1997-2007 e 1997-2017, respectivamente, 6,2% e 5,6% ao ano32 . Dez unidades da federação apresentam perspectivas de crescimento superior à média nacional no período de 19972002, a saber: São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Amazonas, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Norte. No caso específico de Minas Gerais, o IAC estima, para o período 1997-2002, uma taxa de crescimento da ordem de 7,5%. Nos períodos 1997-2007 e 1997-2017, as taxas estimadas para o transporte aéreo de passageiros no Estado são, respectivamente, 6,8% e 6,1%, ligeiramente superiores às médias nacionais, sinalizando que deverá ocorrer ganho de participação relativa de Minas Gerais nesse mercado, ainda que pequeno. O estudo do IAC também avaliou as perspectivas do transporte aéreo de cargas no período 1997-2017, tanto em nível nacional quanto em estado por estado. Antes de apresentar as estimativas de evolução desse segmento no Brasil, em geral, e em Minas Gerais, em particular, é importante destacar que o mercado de carga aérea se caracteriza pela concentração em grandes usuários, pela decisão de compra em bases racional e técnica e pelas perspectivas de expressivo crescimento no segmento de cargas hight tech. Ademais, no caso brasileiro, ocorre um desequilíbrio entre cargas de importação (mais expressivas) e de exportação, justificado pela adequação do modal aéreo a cargas de alto valor agregado e pela importância da regularidade e do transit time reduzido no fluxo de insumos das empresas transnacionais. Segundo o IAC, o transporte aéreo de carga tem evoluído de forma expressiva, tanto nacional como internacionalmente, deixando, hoje, de representar apenas uma receita marginal para as companhias aéreas, para se constituir em importante unidade de negócios dessas empresas. Nos próximos vinte anos, estima-se que o tráfego de carga aérea no mundo mais do que triplique, crescendo em média, no longo prazo, cerca de 6,4% ao ano, em ritmo mais acelerado que o produto mundial e até mesmo que o tráfego de passageiros (BNDES, 2001). No caso brasileiro, o estudo do IAC prevê que esse mercado (incluindo os segmentos doméstico e internacional) estará crescendo, em média, 8,96% ao ano no período 1997-2002. As taxas médias previstas para os períodos 1997-2007 e 1997-2017 são menores, respectivamente, 7,65% e 5,72% ao ano. 32 70 A metodologia adotada pelo IAC na análise e prognóstico da demanda foi a modelagem econométrica, que busca relacionar as variáveis de tráfego (consideradas dependentes) com variáveis sócio-econômicas, consideradas independentes ou explicativas. Não se levou em conta eventuais restrições de capacidade dos aeroportos no futuro, definindo apenas o seus potenciais de demanda no futuro. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Para Minas Gerais, o estudo prospectivo do IAC estima que o mercado de carga aérea crescerá abaixo da média nacional, prevendo-se taxas médias anuais de 2,8% no período 19972002, de 4,1% no período 1997-2007, e de 3,5% ao ano no período 1997-2017, sinalizando perda de participação relativa de Minas Gerais nesse mercado. O estudo prospectivo do IAC deixa claro que os aeroportos internacionais de Guarulhos, de Viracopos e do Rio de Janeiro constituem-se nos maiores entrepostos cargueiros do Brasil e, [que] juntos, processam cerca de 60% do total da carga, ocorrendo em Guarulhos e Viracopos (.....) uma particularidade que os diferencia dos demais aeroportos, que se trata da predominância da carga internacional em relação à carga doméstica, o que permite caracterizar esses dois aeroportos como os principais portões de entrada da carga internacional em território brasileiro. Mas, destaca que outros aeroportos internacionais poderão aumentar sua fatia no tráfego total, representando, na prática, uma possível consolidação de novos portões de entrada no sistema aeroportuário nacional. Em particular, cita, além dos aeroportos internacionais do Rio de Janeiro e de Brasília, o aeroporto internacional de Confins Tancredo Neves33 , em Minas Gerais, como alternativas aeroportuárias que poderão vir a se firmar como portões de entrada, com o natural aumento das freqüências dos vôos para vários destinos no exterior, em conseqüência do crescimento do mercado internacional do transporte aéreo e com a globalização das atividades econômicas 34 . 33 34 Vale relembrar que o volume de carga aérea internacional movimentado no aeroporto de Confins, apesar de ainda pouco representativo no contexto brasileiro, aumentou quase seis vezes no período entre 1996 e 2000. A concretização dessa perspectiva, no conceito de aeroporto-indústria integrado a uma plataforma logística multimodal, permitiria tanto o aumento das receitas do aeroporto, como contribuiria para o crescimento econômico do vetor norte da região metropolitana de Belo Horizonte, constituindo um fator diferencial para a competitividade e o desenvolvimento regional. Capítulo 1 - Transporte e logística 71 BDMG 40 anos 5. Logística e integração modal 5.1. Reestruturação produtiva e logística de transporte multimodal Ao longo dos últimos anos, nos mais diversos países, os sistemas de transporte vêm passando por profundas e abrangentes transformações conceituais e funcionais, procurando se adequar, o mais rapidamente possível, ao fenômeno da globalização econômica, que tem provocado mudanças de fundo na organização dos sistemas de gerenciamento da produção. Destaca-se, neste contexto, o imperativo de redução das impedâncias ao maior intercâmbio comercial entre países e regiões, com base nos avanços institucionais e tecnológicos que se verificam na logística de suprimento e distribuição, incluindo a gestão integrada dos recursos e processos de transporte, armazenagem, telecomunicações e tecnologias da informação. Com efeito, no cenário em curso, a reorientação dos processos produtivos, buscando atender aos novos requisitos dos mercados consumidores - qualidade dos insumos e produtos finais, prazos de entrega, custos adequados, assistência técnica, inovações, etc. faz com que a eficiência dos sistemas logísticos se torne uma condição básica para garantia da competitividade de importantes setores produtivos. Para tanto, vem ocorrendo em diversos países uma profunda reorganização da indústria de serviços de transporte, para satisfazer as condições cada vez mais estritas dos usuários que adotam sistemas tipo just-in-time de suprimento, produção e distribuição. A logística, incluindo seu componente mais importante o transporte, se torna parte integrante das estratégias de produção e marketing [das empresas] (Castro e Esposito, 1997). Assim, os transportadores especializados têm abandonado suas características modais tradicionais para atuarem integrados em sistemas de prestação de serviços multimodais, com o uso intensivo dos recursos modernos de telecomunicações e informática. As escolhas modais ou multimodais passam a ser feitas considerando os impactos do nível de serviço tanto nos custos de carregamento de estoques quanto nas probabilidades de perda de vendas. Paralelamente, no tocante aos sistemas infraestruturais, vão sendo abandonados os arranjos unimodais em rotas densas, buscando-se uma combinação ótima dos meios logísticos, nos quais os diversos modais de transporte constituem elos articulados em corredores multimodais, com ampla utilização das novas técnicas de acondicionamento, manuseio e transferência de mercadorias, por meio da unitização de cargas em contêineres e paletes, que materializam nos transportes os conceitos abrangentes de cadeia logística e de transporte multimodal. O expressivo crescimento do transporte multimodal, que hoje ocorre, principalmente, em países e blocos econômicos de grandes dimensões, tais como os EUA e Canadá, ou no âmbito da União Européia e do Nafta, se deve também ao esforço de introdução de novas tecnologias de transporte, particularmente os trens de contêineres com empilhamento duplo e trailers especiais, tipo road-railer, e à melhoria contínua dos serviços operacionais e dos serviços acessórios, principalmente dos sistemas de informação aos usuários (Castro e Esposito, 1997). Nos caso brasileiro, em geral, e no mineiro em particular, o grande desafio tem sido o de tornar os sistemas de transporte funcionalmente adequados às exigências das cadeias logísticas dos diversos setores produtivos, pela incorporação, em escala significativa, das transformações tecnológicas, operacionais e institucionais verificadas nos países desenvolvidos ainda nos anos 70 e 80. 72 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Dois grandes óbices a maior expansão do transporte multimodal no mercado doméstico continuam sendo: i) a precariedade e dificuldades operacionais presentes nos terminais de integração, onde os carregamentos são transferidos entre os modos (ou submodos) de transporte, o que condiciona a competitividade do intermodalismo a fluxos de média e longa distância; ii) a persistência de entraves burocráticos à prática do transporte multimodal, segundo o conceito institucionalizado pela Lei no. 9.611/98, ou seja, a operação de transporte regida por um único contrato, utilizando duas ou mais modalidades, desde a origem até o destino, e executada sob a responsabilidade única de um operador especializado o Operador de Transporte Multimodal (OTM), que pode ser ou não uma empresa transportadora. O operador de transporte multimodal A Lei no. 9.611, que dispõe sobre o Transporte Multimodal de Cargas no Brasil e cria a figura jurídica do Operador de Transporte Multimodal (OTM), foi sancionada em 19 de fevereiro de 1998 e regulamentada, dois anos depois, em 12 de abril de 2000. O OTM é uma pessoa jurídica que, atuando como principal, e não apenas como agente, com base em um conhecimento único de transporte, por ele emitido, assume, perante o embarcador da carga, durante o período entre o instante de seu recebimento e a ocasião de sua entrega ao consignatário, a responsabilidade: i) pela execução dos serviços de transporte multimodal, por conta própria ou de terceiros, do local em que receber a carga até a sua entrega no destino; ii) pelos prejuízos resultantes de perda, danos ou avaria à carga sob sua custódia, assim como pelos decorrentes de atraso em sua entrega, quando houver prazo acordado. Ademais, pode o OTM, atuando no mercado doméstico ou no transporte internacional, exercer atividades complementares de coleta, consolidação, conteinerização, armazenagem, desconsolidação e entrega da carga, além do desembaraço aduaneiro (no caso de operação de comércio exterior), acumulando funções hoje segmentadas entre distintos players logísticos. É importante destacar que, na intermodalidade tradicional, o intercâmbio entre os distintos modais de transporte se dá de forma fracionada, ou seja, cada operador emite o próprio conhecimento de transporte e fica responsável apenas por sua parte na operação. Nos termos da Lei no. 10.233, de 5 de junho de 2001, a regulação do transporte multimodal, prestado por OTM, é de competência da Agência Nacional de Transportes Terrestres, instituída pela referida lei. Os principais objetivos do transporte multimodal, realizado por OTM, são aumentar a velocidade de distribuição da carga e reduzir o empenho de capital não-produtivo, seja através de menores níveis de estoque ou prazo (transit time), seja pela redução de veículos e equipamentos parados e ou demora da carga nos terminais de embarque, transbordo e desembarque. Apesar das múltiplas vantagens das operações de transporte multimodal, ainda há pendências institucionais e burocráticas impedindo a efetiva regularização da atuação do OTM no Brasil e a conseqüente possibilidade realização de operações porta-a-porta de transporte sob a égide de um conhecimento único de transporte multimodal. Tais pendências estão hoje basicamente associadas: a indefinições quanto incidência do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que leva à cobrança do ICMS em cascata, ao longo do trajeto da carga, prejudicando a formação de preço competitivo; e, à regulamentação, pela SUSEP, da emissão da apólice de seguro da carga transportada para todo o percurso, incluindo, também, as operações intermediárias, tais como o transbordo e a armazenagem. No caso do ICMS, os especialistas na questão apontam que será necessário, primeiramente, o reconhecimento pelo CONFAZ do OTM como contribuinte único nesse tipo de operação e, em seguida, a definição de um ponto único de cobrança do ICMS quando a operação multimodal envolver fluxos interestaduais, além da extensão ao Capítulo 1 - Transporte e logística 73 BDMG 40 anos transporte multimodal da isenção do ICMS em operações internacionais. Na questão do seguro, a SUSEP já regulamentou o Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil do OTM; contudo, alegando a maior complexidade dos aspectos envolvidos no seguro da carga transportada pelo OTM, a SUSEP vem alegando, até o momento, não ter meios de regulamentá-lo. De fato, a plena operacionalização do conceito de cadeia logística integrada, incluindo diferentes modalidades de transporte, do embarcador ao destinatário das cargas, está diretamente ligada à consolidação da figura e das funções do OTM. Nesse contexto, cadeias logísticas integradas, operando em condições de eficácia, consubstanciarão para os usuários dos serviços a perspectiva do transporte porta-a-porta, ao menor custo e com maior rotatividade dos estoques, ou seja, materializarão a lógica da integração funcional de diversos modais e escalas de transporte com as complexas cadeias de produção e comercialização típicas do mercado globalizado. 5.2. Instalações e serviços portuários 5.2.1. Instalações portuárias utilizadas pelos setores produtivos mineiros Os portos constituem componentes fundamentais da infra-estrutura logística das operações de comércio internacional. Sua operação eficiente, com custos adequados e fluxos de informações eficazes, é um dos determinantes do desempenho e competitividade do País no mercado externo. No Brasil, o sistema portuário tem sido a principal infra-estrutura de transporte e manuseio de cargas para o comércio exterior, respondendo, no ano 2000, por cerca de 91% da tonelagem movimentada. Em valor (US$ FOB), sua participação foi de 66,7% 35 . O transporte marítimo tem sido também responsável por parcela preponderante das trocas comerciais dos setores produtivos de Minas Gerais com o exterior. Devido à sua condição de estado mediterrâneo, os portos e terminais portuários localizados nos estados vizinhos, basicamente em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, desempenham papéis de elos fundamentais nas cadeias logísticas dos setores exportadores mineiros ou daqueles setores demandantes de importações. Os portos mais intensamente utilizados pelas empresas mineiras atuantes no comércio exterior têm sido os de Santos, Rio de Janeiro e Sepetiba, além daqueles integrantes do complexo portuário do Espírito Santo. As principais características desses portos, no tocante à microlocalização, à tipologia institucional, à especialização produtiva e aos volumes movimentados no ano 2000, estão apresentadas na TAB. 26. Vale destacar que, considerando o comércio exterior brasileiro como um todo, o porto de Santos tem sido responsável pela movimentação de praticamente ¼ das cargas, quando medida em valor (em US$ FOB). Os portos do complexo portuário do Espírito Santo também se destacam, respondendo por 8% das cargas, enquanto que os terminais do Rio de Janeiro respondem por algo em torno de 6% (também em valor FOB). Em tonelagem, os terminais portuários localizados no Espírito Santo são aqueles de maior peso na movimentação de cargas, respondendo por cerca de 35% do total do País. 35 74 A diferença entre as participações relativas em volume e em valor deve-se ao fato de o modal aquaviário ser mais adequado para o transporte de cargas de grande peso unitário e de baixo custo específico, que devem ser movimentadas a grandes distâncias. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Algumas das principais empresas mineiras atuantes no comércio exterior, devido a particularidades de suas cadeias logísticas, centradas basicamente na movimentação de granéis sólidos e neo-granéis, de grande volume e baixo valor agregado, são usuárias tradicionais de terminais portuários privativos. Os chamados terminais privativos são instalações portuárias exploradas por empresas públicas ou privadas, localizadas dentro ou fora da área de um porto organizado e utilizadas na movimentação e ou armazenagem de cargas destinadas ou provenientes do transporte aquaviário. Atualmente, os terminais privativos podem ser de uso exclusivo de seus proprietários, para movimentação de carga própria, ou de uso misto, movimentando cargas próprias e de terceiros36 . A TAB. 25 discrimina os terminais de uso privativo misto de empresas mineiras, indicando suas localizações e principais cargas movimentadas. TABELA 25 TERMINAIS PORTUÁRIOS PRIVATIVOS DE USO MISTO, DE PROPRIEDADE DE EMPRESAS OPERANTES EM MINAS GERAIS TERMINAL EMPRESA LOCALIZAÇÃO CARGAS PRINCIPAIS Tubarão CVRD Vitória - ES Minério de ferro e soja Praia Mole CVRD Vitória - ES Carvão TPS Praia Mole Açominas/CST/Usiminas Vitória - ES Produtos siderúrgicos Ponta Ubu Samarco Anchieta - ES Minério de ferro Portocel Sepetiba/Ilha Guaíba Cenibra / Aracruz MBR B.do Riacho - ES Mangaratiba - RJ Celulose e insumos Minério de ferro Piaçagüera Usiminas Cubatão - SP Produtos siderúrgicos FONTE: Gazeta Mercantil, 2000a. Terminais da Companhia Vale do Rio Doce CVRD A CVRD possui e opera uma ampla infra-estrutura de transportes e logística, compreendendo ferrovias, terminais portuários, linhas de navegação, estações aduaneiras e sistemas de comunicações. Tendo sido essa infra-estrutura constituída inicialmente para suportar sua logística própria de movimentação de minério de ferro, posteriormente passaram a ser operados para o transporte e movimentação de cargas de terceiros, constituindo-se no Grupo Vale uma nova unidade de negócios voltada à venda de serviços de logística integrada. No litoral do Espírito Santo, o Grupo Vale opera diversos terminais portuários, alguns privativos, fora da área do porto organizado de Vitória, e outros arrendados nessa área portuária, quais sejam, o cais de Paul, usado para embarque de ferro-gusa de terceiros, e o terminal de Vila Velha, para movimentação de contêineres. Seus terminais privativos localizamse no complexo de Tubarão e envolvem o terminal de Praia Mole, para descarga de carvão siderúrgico e coque destinados às usinas siderúrgicas localizadas em Minas Gerais e no Espírito 36 Até 1993, os terminais privativos somente podiam movimentar cargas de seus proprietários. Com o advento da Lei da Reforma Portuária, modificou-se completamente o regime jurídico desses terminais, autorizados que foram a movimentar cargas de terceiros. Contudo, foi somente a partir de agosto de 1995, quando o governo federal regulamentou a matéria por meio de instrução normativa, que eles passaram efetivamente a servir outras companhias. A demora na modificação dos regulamentos relacionados ao uso misto dos terminais privativos deveu-se, em grande parte, à preocupação dos portos públicos de perder cargas para esses terminais, seus concorrentes diretos. Capítulo 1 - Transporte e logística 75 BDMG 40 anos Santo; o terminal de granéis líquidos (TGL), para movimentação de derivados de petróleo e potencial para a descarga de produtos químicos; o terminal de produtos diversos (TPD), formado por um berço exclusivo para manuseio de cargas diversas e contêineres; além, do porto de Tubarão, responsável pela movimentação de minério de ferro originário de Minas Gerais e pelotas, embarcados nos píeres 1 e 2. Terminais da Usiminas A USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. faz toda a sua movimentação de cargas para o mercado externo por terminais privativos. Encontram-se sob seu controle o Terminal Privativo Misto de Praia Mole (TPS), localizado na ponta de Tubarão ES e operado em conjunto com as co-proprietárias, Companhia Siderúrgica de Tubarão e Açominas; e, o Terminal Marítimo Privativo de Cubatão (TMPC), localizado dentro das instalações da Cosipa, em Cubatão SP, e ligado ao porto de Santos pelo canal de Piaçagüera. O TPS Praia Mole movimentou cerca de 6,6 milhões de toneladas de cargas em 1999, sendo 582 mil toneladas em cargas da Usiminas e 6,05 milhões em cargas da CST, Açominas e terceiros. Aproximadamente, 95% do total movimentado no terminal são produtos siderúrgicos. Os demais 5% envolvem granito, granéis sólidos, veículos, contêineres e carga geral. As operações do terminal de Cubatão (TMPC) foram assumidas pela USIMINAS em 1999. A movimentação nesse terminal é de 100% de cargas de terceiros, com os embarques da Cosipa (produtos siderúrgicos, car vão, coque, etc.) respondendo por 74% da movimentação total em 1999; os granéis de terceiros e a carga geral correspondem a 8%; e as operações de contêineres, a 18%. Em meados de 2000, a movimentação de contêineres havia aumentado para 25%. Terminal da MBR O terminal privativo da MBR Minerações Brasileiras Reunidas S.A., produtora de minério de ferro em jazidas localizadas na região metropolitana de Belo Horizonte, está localizado em Ilha Guaíba, no Município de Mangaratiba RJ, próximo ao porto de Sepetiba. Das minas da MBR até esse terminal privativo, o minério de ferro percorre quase 600 quilômetros de ferrovia, em trens da concessionária MRS Logística S.A. Especializado no manuseio de minério de ferro para embarque (cerca de 24 milhões de toneladas em 1999), o terminal privativo da MBR não recebe outros tipos de carga. Apenas 4% do movimento total desse terminal corresponde a movimentação de cargas de terceiros. A MBR implementou recentemente um projeto de expansão do terminal de Ilha Guaíba, com vistas a elevar sua capacidade de embarque para 34 milhões de toneladas. Terminal da Samarco O terminal portuário privativo de Ponta de Ubu localiza-se no Município de Anchieta, a 60 quilômetros de Vitória ES, e pertence à Samarco Mineração S.A. Desde a assinatura do contrato de adesão junto ao Ministério dos Transportes para a operação desse terminal como de uso misto, a Samarco vem desenvolvendo estudos visando a diversificação das atividades portuárias e o aproveitamento da capacidade ociosa do porto para movimentar outras cargas que não somente o minério de ferro. 76 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento TABELA 26 PRINCIPAIS PORTOS DA REGIÃO SUDESTE UTILIZADOS POR SETORES PRODUTIVOS DE MINAS GERAIS LOCALIZAÇÃO TIPOLOGIA INSTITUCIONAL ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL MOVIMENTAÇÃO (em mil toneladas) Santos Litoral de São Paulo, a 70km da capital do Estado Porto público, com instalações especializadas arrendadas ao setor privado, além do terminal privativo da Usiminas, em Cubatão. Carga geral no cais público. Contêineres e granéis em terminais especializados 43.084,4 Rio de Janeiro Costa oeste de baia de Guanabara Porto público, com instalações especializadas arrendadas ao setor privado. Carga geral solta e contêinerizada e granéis em terminais especializados 13.638,7 Sepetiba Costa norte da baia de Sepetiba, a 70km do Rio de Janeiro Porto público, com instalações especializadas arrendadas ao setor privado, alem do terminal privativo de Ilha Guaíba (da MBR). Contêineres, minério de ferro, grãos, produtos siderúrgicos, carvão 39.830,9 Vitória Baía de Vitória, incluindo áreas nos municípios de Vitória e Vila Velha Porto público, com instalações especializadas arrendadas ao setor privado. Carga geral no cais público eVila granéis sólidos nos terminais de Capuaba e Paul. Contêineres em Velha e Paul Tubarão Ponta de Tubarão, no Espírito Santo Terminal privativo da CVRD, de uso misto. Exportação de minério de ferro e outros granéis minerais, ferro gusa e grãos agrícolas 72.610,7 Praia Mole Área próxima à ponta de Tubarão, no Espírito Santo Terminais privativos, de uso misto, da CVRD e do condomínio formado por Usiminas, CST e Açominas. Produtos siderúrgicos e carvão 13.108,8 Ponta de Ubu Município de Anchieta, no litoral capixaba Terminal privativo, de uso misto, da Samarco Minério de ferro 15.067,5 Barra do Riacho Município de Aracruz, no litoral capixaba Porto público, com terminal privativo especializado, operado pela Portocel. Celulose 5.414,8 2.121,6 FONTE: Anuário estatístico dos transportes 2000, GEIPOT, 2001 e Gazeta Mercantil (2000a). Obs.: Os volumes movimentados referem-se ao ano 2000, exceto para os portos de Vitória e Barra do Riacho, cujos dados disponíveis correspondem ao ano de 1999. 77 BDMG 40 anos Capítulo 1 - Transporte e logística PORTO / TERMINAL BDMG 40 anos Em 1999, o terminal de Ponta de Ubu movimentou cerca de 13 milhões de toneladas de carga, incluindo, o minério de ferro, originário da região de Mariana MG e que chega até o porto através de mineroduto, além de carvão vegetal, coque de petróleo a granel, etc. Como pode se verificar, a estratégia de utilização de terminais portuários privativos, articulados a esquemas mais amplos de logística integrada, tem sido adotada por grandes empresas exportadoras atuantes nos mercados de commodities, principalmente, de minério de ferro, produtos siderúrgicos e celulose, que são particularmente afetados pelos custos de transportes, em razão de seu baixo valor agregado, o que as obriga a realizar investimentos constantes em sua cadeia logística (inclusive em portos e terminais)37 . Ao contrário, o segmento de carga geral apresenta situação distinta, tanto no que se refere às características dos produtos e produtores envolvidos, quanto à logística exigida para sua movimentação. Com efeito, a carga geral compreende um escopo bem mais amplo de produtos, que são manuseados e transportados sob diversas formas e, além disso, por serem basicamente manufaturados, apresentam grande multiplicidade de rotas, com origens e destinos os mais diversos. Devido à menor dimensão dos volumes de carga geral movimentados por empresa, não se mostra viável o investimento em terminal portuário privativo, fazendo com que suas operações se façam basicamente em portos públicos. Os setores produtivos mineiros que movimentam carga geral, solta ou contêinerizada, no comércio exterior, seja na exportação ou importação, são usuários tradicionais dos portos públicos de Santos, Rio de Janeiro e Vitória, e mais recentemente, do porto de Sepetiba. Estes portos vêm passando, desde que iniciado o processo de reforma portuária em 1993, por profundas transformações em seus arranjos físico-operacionais e nos modelos de gestão, de regulação e de investimento. Porto de Santos O porto de Santos é, em valor de mercadorias movimentadas, a principal porta de entradas e saída de cargas destinadas ou provenientes do exterior, respondendo por cerca de ¼ da movimentação total. Em volume de carga, Santos ocupa a 4a posição no País, correspondente a 9% da tonelagem total. Localizado no litoral paulista, sua área de influência compreende, além do Estado de São Paulo, grande parte de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e uma parte menor do Paraná. É administrado pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que se encontra sob o controle acionário da União. O acesso rodoviário ao porto, de cargas originárias de Minas Gerais (ou destinadas a este Estado), é feito pelo Sistema Anchieta-Imigrantes, atualmente operado em concessão pela Ecovias S.A., complementado pelos trechos rodoviários Cubatão-Santos e Cubatão-Guarujá. Para o acesso ferroviário à margem esquerda do estuário utiliza-se linhas de bitola mista da MRS Logística, operadas também pela Ferroban; à margem direita se tem acesso por linhas de bitola larga da MRS Logística. Em 2000, o volume total de cargas movimentado alcançou 43,08 milhões de toneladas, sendo 13,2 milhões de toneladas de carga geral (30,6% do total), de menor volume unitário e maior valor 37 78 Dentre as principais empresas exportadoras brasileiras, destacam-se as seguintes, todas com forte presença na economia mineira: CVRD (2a. posição no ranking nacional de 1999, em valor FOB); FIAT (4a.); MBR (16a.); SAMARCO (19a.); ACESITA (20a.); FERTECO (26a.); e, CENIBRA (27a.). Dessas, apenas a FIAT não atua no segmento de granéis sólidos e neo-graneís e, assim como a ACESITA, não conta com terminal portuário próprio. A FERTECO é sócia da Companhia Portuária da Baía de Sepetiba, arrendatária de um terminal de granéis sólidos no Porto de Sepetiba, destinado principalmente à movimentação de minério de ferro. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos agregado. Dentre as principais mercadorias movimentadas no sentido exportação, destacam-se o açúcar, soja em grãos e pellets de soja, sucos e pellets críticos, energéticos líquidos e café. Nas importações, o trigo tem sido a mercadoria de maior destaque, seguido pelo adubo. Em ambos os sentidos, destacam-se as movimentações de carga geral unitizada em contêineres. Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), concluído em 1997, identificou as seis principais cadeias logísticas relacionadas ao porto de Santos, quais sejam: do açúcar, de combustíveis, de papel e celulose, de produtos químicos líquidos e gases liquefeitos, de produtos agrícolas e de siderúrgicos. Atualmente, Santos dispõe de 13,2 mil metros de cais, com 67 berços de atracação, incluindo os terminais localizados fora da área do porto organizado (terminais da Usiminas e da Ultrafértil). Cerca de 9,4 mil metros de cais são de uso público geral e 1,4 mil metros de uso público especial (arrendados a terceiros). Existem 20 pátios para depósito de contêineres no porto de Santos. Desde 1995, encontra-se em curso no porto de Santos um Programa de Arrendamento de Áreas e Instalações Portuárias. Até maio de 2000, encontravam-se licitadas e transferidas ao controle e à exploração da iniciativa privada cerca de 34 áreas e instalações no porto público, com destaque para os seguintes terminais: de contêineres, na margem direita; de contêineres, na margem esquerda; de granéis vegetais, em Conceiçãozinha; de cereais, na Ponta da Praia; três terminais açucareiros e o terminal turístico de passageiros. O terminal de contêineres, situado na margem direita do estuário do porto, foi arrendado ao Grupo Libra, que opera um cais com cerca de 400 metros de extensão, devidamente equipado. Na margem esquerda, o terminal de contêineres, instalado em um cais com 510 metros de comprimento, foi arrendado pela empresa Santos Brasil S.A., na qual tem participação acionária a Multiterminais, arrendatária do Tecon II do porto do Rio de Janeiro. É importante registrar que o Tecon Santos Brasil é hoje o maior terminal de contêineres da América Latina. Porto do Rio de Janeiro O porto do Rio de Janeiro responde por cerca de 6% do valor total (em US$ FOB) das mercadorias movimentadas nos portos brasileiros. Em volume de carga, o porto carioca ocupa a 9a. posição no País, correspondente a pouco menos de 2% da tonelagem total movimentada no primeiro semestre de 2000. Localizado na margem oeste da Baía de Guanabara, a área de influência do porto do Rio de Janeiro inclui, além do Estado de mesmo nome, Minas Gerais, Espírito Santo e áreas do sudoeste de Goiás e do sul da Bahia. Conjuntamente com o porto de Sepetiba, é administrado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), empresa acionariamente controlada pela União. Cargas originárias do Estado de Minas Gerais (ou a ele destinadas) têm acesso ferroviário ao porto através da linha de bitola larga da MRS Logística, que chegam ao pátio localizado no cais do Caju. O acesso rodoviário é feito por vias urbanas que se conectam com a rodovia BR 040 (operada, no segmento Rio-Juiz de Fora, pela concessionária CONCER). O porto do Rio de Janeiro movimentou, em 2000, cerca de 13,64 milhões de toneladas de cargas, sendo 4,04 milhões de toneladas de carga geral (29,6% do total), de menor volume unitário e maior valor agregado. Na movimentação de carga geral, esse porto ocupa a terceira posição no País. No cais público, dentre as principais mercadorias movimentadas, no sentido da exportação, destacam-se os produtos siderúrgicos e o açúcar; nas importações, o trigo e o petróleo. Destacamse também as cargas conteinerizadas: 935 mil toneladas em importações e 1,38 milhão de toneladas em exportações (dados de 1999). Capítulo 1 - Transporte e logística 79 BDMG 40 anos Atualmente, o porto do Rio de Janeiro conta com 6,7 mil metros de cais contínuo e um píer de 883 metros de extensão. Conta também com 10 armazéns externos e oito pátios cobertos. Na área do porto organizado também se localizam cinco terminais privativos, especializados na movimentação de petróleo e derivados. Encontra-se em curso um Programa de Arrendamento de Áreas e Instalações Portuárias, que já licitou e transferiu ao controle e à exploração da iniciativa privada os terminais I e II de contêineres; os terminais I e II de produtos siderúrgicos; os terminais de açúcar; de papel; de trigo; de cimento; de veículos (Ro-Ro); além, do terminal turístico de passageiros. Os terminais I e II de contêineres estão localizados no antigo cais do Caju e foram arrendados, respectivamente, ao Grupo Libra e a Multiterminais Alfandegados do Brasil Ltda., que operam, cada um, dois berços. Porto de Sepetiba O porto de Sepetiba está localizado na costa norte da baía de mesmo nome, no Estado do Rio de Janeiro. Sua área de influência é, em parte, coincidente com a do porto do Rio de Janeiro, incluindo os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e o sudoeste de Goiás. Sua administração encontra-se a cargo da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ). Trata-se de um porto novo, projetado para se transformar em uma grande plataforma logística de comércio exterior. Possui uma extensa retroárea, de 10 milhões de metros quadrados, acesso aquaviário e cais de acostagem em águas abrigadas, com profundidade natural para receber navios de grande porte. O acesso ferroviário ao porto de cargas originárias (ou destinadas) de Minas Gerais se dá pela linha de bitola larga da MRS Logística, incluindo um ramal até o terminal privativo de embarque de minério da MBR. Por rodovia, o acesso é feito utilizando-se um trecho de pista simples, com menos de 10 quilômetros de extensão, que interliga o porto à rodovia BR 101, a partir de onde pode-se atingir a rodovia BR 040 (ligação Rio de Janeiro-Belo Horizonte), fazendo uso de trechos das rodovias BR 465 e BR 116. As instalações portuárias de Sepetiba compreendem quatro berços, em um píer com 540 metros de comprimento e 40 metros de largura. Três grandes terminais especializados foram arrendados para a exploração pela iniciativa privada: de contêineres; de carvão; e, de granéis sólidos. O terminal de contêineres (Tecon 1), arrendado pela Sepetiba Tecon S.A., empresa controlada pela CVRD e Cia. Siderúrgica Nacional, é considerado, pelo mercado, como um dos terminais capazes de tornar-se uma plataforma concentradora e redistribuidora de cargas na costa leste da América do Sul. Tem capacidade para movimentar anualmente, cerca de 150 mil contêineres, com expectativa de alcançar 600 mil contêineres/ano, nos próximos sete anos. Contudo, deverá enfrentar concorrência acirrada, pois a capacidade total instalada de movimentação nos portos do Sudeste brasileiro é de 1,9 milhão de contêineres padrão de 20 pés (TEU), enquanto a demanda atual é de 1,2 milhão de TEUs. O terminal de carvão, que existe desde 1982, foi arrendado à Cia. Siderúrgica Nacional e se destina a receber o carvão importado por essa empresa e destinado à usina de Volta Redonda (RJ). O terminal de granéis sólidos foi arrendado à Companhia Portuária da Baía de Sepetiba, consórcio liderado pela Ferteco Mineração S.A. Com um forte foco no minério de ferro oriundo de Minas Gerais, destina-se também à movimentação de grãos agrícolas e produtos siderúrgicos. 80 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Fora da área do porto, em Mangaratiba, existe o terminal privativo da MBR, especializado na movimentação de minério de ferro. Porto de Vitória Integrante do complexo portuário da costa capixaba, o porto de Vitória está localizado na Baía de mesmo nome, com instalações distribuídas entre os municípios de Vitória e Vila Velha. O complexo portuário do Espírito Santo38 ocupa a 1a. posição no País em volume de cargas, correspondente a 34% da tonelagem total movimentada no primeiro semestre de 2000; contudo, responde por apenas 8% do valor total (em US$ FOB) das mercadorias movimentadas nos portos brasileiros, denotando a expressiva participação de cargas de elevado peso unitário e baixo valor agregado. A área de influência do porto de Vitória abrange todo o Espírito Santo e se estende a Minas Gerais, sudeste de Goiás, norte fluminense, sul da Bahia e sul de Mato Grosso. É administrado pela Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), empresa sob o controle acionário da União. O acesso rodoviário ao porto de Vitória, de cargas originárias ou destinadas a Minas Gerais, é feito pela rodovia BR 262 e, já no entorno da Grande Vitória, pela BR 101. Para o acesso ferroviário dispõe-se da linha tronco da Estrada de Ferro Vitória a Minas EFVM e também, alternativamente, da linha em bitola métrica da Ferrovia Centro-Atlântico FCA que passa pela Zona da Mata. O porto público de Vitória movimentou, em 2000, cerca de 5,41 milhões de toneladas de cargas, sendo 2,24 milhões de toneladas de carga geral (41% do total), esta de menor volume unitário e maior valor agregado. Na movimentação de carga geral, esse porto ocupa a sexta posição no País. As principais cargas movimentadas, no primeiro semestre de 2000, foram contêineres, produtos siderúrgicos, mármore e granito, celulose, trigo, malte, ferro-gusa e veículos. O cais comercial, situado no município de Vitória, possui comprimento de 711 metros, com quatro berços, e dispõe de quatro armazéns, um galpão coberto e um pátio descoberto para carga geral. No Município de Vila Velha, o cais de Capuaba compreende cinco berços, além de uma rampa para movimentação de veículos no sistema Ro-Ro, e conta com dois armazéns alfandegados, silos e armazéns para cereais e malte. Existe ainda um terminal de granéis líquidos, com um berço em operação, arrendado à iniciativa privada. No âmbito do Programa de Arrendamento de Áreas e Instalações Portuárias, foram licitados e transferidos ao controle e à exploração da iniciativa privada dez áreas e instalações no porto público de Vitória. Destacam-se o terminal de carga geral, contêineres e veículos de Capuaba, formado por três berços e uma retroárea de 102,6 mil m2, arrendado para a empresa Terminal de Vila Velha S.A. (TVV), controlada pela CVRD e Mineração Tacumã e o terminal de granéis sólidos, contêineres e carga geral, localizado no cais de Paul e arrendado à Peiú S.A., empresa especialmente constituída para operá-lo. 5.2.2. Reforma portuária, produtividade e custo dos serviços O setor portuário brasileiro, do qual os setores mineiros envolvidos com o comércio exterior são altamente dependentes, vem passando por um profundo processo de reformas e mudanças estruturais, iniciadas com a extinção da Empresa de Portos do Brasil Portobrás (em abril de 1990) e consolidadas com a promulgação e implementação progressiva da Lei de Modernização 38 Constituído, além do porto público de Vitória, pelos terminais privativos de Tubarão, de Praia Mole, de Ponta de Ubu, de Regência, além do porto de Barra do Riacho, que é público e possui agregado o terminal privativo Portocel. Capítulo 1 - Transporte e logística 81 BDMG 40 anos dos Portos (Lei no. 8.630, de 25/2/1993), que substituiu a visão sistêmica então predominante e o planejamento portuário centralizado, pela atuação concorrencial entre portos em âmbito nacional. Essa Lei dispõe sobre o regime jurídico de exploração dos portos organizados e das instalações portuárias e, em seu art. 1o. estabelece que cabe à União explorar, diretamente ou mediante concessão, os portos públicos organizados. O diagnóstico que embasou a concepção de reforma do sistema portuário brasileiro apontou, dentre os diversos entraves que impediam o desenvolvimento do segmento no País, em consonância com os novos padrões de logística dos fluxos internacionais de cargas, os custos de movimentação, pressionados por diversas questões relativas ao fornecimento do serviço, tais como: a obsolescência dos equipamentos, a baixa produtividade, o deficit de investimentos nas infra e superestruturas, o longo tempo de espera para atracação e permanência das embarcações no porto, monopólios de exploração e de escalação da mão-de-obra e os elevados custos logísticos, que, em conjunto, afetavam a competitividade brasileira no comércio exterior, e suas externalidades (BNDES, 2000a, p.3). Vale lembrar que, até a promulgação da Lei de Modernização dos Portos, em 1993, os portos organizados no País eram dominados e explorados unicamente pela Administração Portuária, quase sempre representada pelas Companhias Docas. Nesse contexto, a promulgação da Lei de Modernização dos Portos objetivou: a descentralização do setor, inclusive através da estadualização e municipalização de portos; a exploração das operações de movimentação portuária pelo setor privado39 ; alavancar investimentos privados em superestrutura, aparelhamento portuário, recuperação e conservação das instalações, mantendo-se no âmbito público a responsabilidade das inversões em obras de infra-estrutura portuária; permitir a exploração de cargas de terceiros em terminais de uso privativo, antes limitados às cargas próprias; promover a concorrência entre terminais situados em um mesmo porto e a competição entre portos, visando reduzir custos tarifários de movimentação promover a adequação da quantidade de mão-de-obra na operação portuária, segundo os novos padrões tecnológicos e produtivos. No arranjo institucional agora vigente no sistema portuário brasileiro, o papel do Governo Federal consiste em estabelecer: a política portuária nacional, separando-a da regulação dos portos; o planejamento estratégico da atividade, visando alcançar um elevado nível de excelência e visão de longo prazo; a regulação setorial, envolvendo aspectos econômicos e técnicos. Passados quase dez anos do início do processo de reforma portuária no Brasil, grande parte dos objetivos almejados com a promulgação da Lei no. 8.630/93 foram alcançados. O monopólio de exploração do porto organizado, até então privilégio da Administração Portuária, foi efetivamente 39 82 A Lei prevê um modelo de gestão do sistema portuário no qual a titularidade do porto é da União, a Autoridade Portuária é pública e a operação privada. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos quebrado, com a entrada de operadores portuários e dos arrendatários privados de instalações nos portos. Hoje, é patente a presença de: inúmeros operadores portuários trabalhando nos portos, requisitando seus quantitativos de mão-de-obra diretamente ao Órgão Gestor de Mão-de-Obra OGMO, que substituiu o Sindicato na escala e no pagamento do trabalhador [portuário]. Lançado o programa de arrendamentos, diversos terminais dedicados passaram para entidades privadas, formando um mercado concorrencial, ainda incipiente, intra-porto e outro entre portos. A gestão do aparelho portuário público permanece com a Administração do Porto, definida pelo art. 3o. da Lei no. 8.630/93 como Autoridade Portuária (GEIPOT, 2001b, p.77). Quanto ao ambiente concorrencial almejado no sistema portuário, este deve ser analisado sob dois aspectos. O primeiro é a concorrência intraporto, abrangendo as relações entre terminais de uso público e entre operadores portuários que atuam no cais público, ou, ainda, entre os terminais de uso público e os de uso privativo misto, localizados nos limites da área do porto organizado, ou fora dessa, mas em seu entorno. O segundo aspecto é a concorrência entre portos, existente entre diferentes portos que disputam os mercados de carga de uma mesma região de influência ou hinterlândia. Sobre o primeiro aspecto, pode-se afirmar que a transferência de todos os serviços de operação e manuseio de mercadorias a operadores privados e o arrendamento de instalações portuárias à iniciativa privada, possibilitou efetivamente a criação de um ambiente concorrencial intraporto, com reflexos positivos em termos de aumento da produtividade das operações e redução de custos para os usuários dos serviços. Contudo, há problemas pendentes no âmbito regulatório, a exemplo da diferenciação de tratamento entre arrendatários de instalações localizadas dentro da área do porto organizado e detentores de terminais privativos fora da área portuária, em relação às condições de entrada e operação no mercado, o que tem causado polêmica em alguns portos, particularmente em Santos, onde, por exemplo, existem conflitos ainda não solucionados entre arrendatários de terminais localizados dentro da área do porto público e o terminal privativo de uso misto da Usiminas, localizado fora dessa área. Os primeiros sentem-se prejudicados pelo que consideram privilégios do segundo, localizado fora da área do porto, mas bastante próximo e que, além da maior flexibilidade operacional, consegue cobrar tarifas portuárias inferiores, em função de custos mais baixos que possuem devido a maiores facilidades. O mesmo tipo de conflito vem ocorrendo entre o porto de Vitória e os terminais de uso privativo misto de Praia Mole, operados pela CVRD e pelo consórcio Usiminas/CST/Açominas. Em relação ao segundo aspecto, da competição entre portos, trata-se de questão mais complexa. Enquanto na concorrência intraportos, a competição se faz em torno de uma carga específica, entre portos os fatores de concorrência são muitos e estão relacionados às vantagens comparativas de cada porto. À medida que a Lei de Modernização dos Portos se consolida, mais os portos organizados têm que disputar, com maior criatividade e agressividade, seu espaço junto ao mercado, tirando partido das vantagens comparativas adquiridas ao longo dos anos, associadas às facilidades portuárias e de acesso terrestre existentes e aos arranjos institucionais e de gestão que vão se estabelecendo. Nesse campo, portanto, pode-se dizer que a concorrência interportos já se estabeleceu no País, principalmente com relação a tipos específicos de cargas, como granéis agrícolas e carga contêinerizada. É importante registrar que a formação desse mercado concorrencial intra-porto e entre portos, com a participação de agentes privados com interesses, muitas vezes, conflitantes, impõe a rápida estruturação dos marcos regulatórios e o funcionamento do órgão regulador da atividade portuária no País40 . 40 À Agência Nacional de Transportes Aquaviários ANTAQ, criada pela Lei no. 10.233/01 e recentemente instalada, caberá a regulação do mercado portuário mais amplo (entre portos e entre portos e terminais de uso privativo situados fora da área do porto organizado). Nos ambientes portuários locais, a ANTAQ deverá atuar em complementaridade à Administração Portuária e ao Conselho de Autoridade Portuária, e também na solução de conflitos entre as duas entidades. Capítulo 1 - Transporte e logística 83 BDMG 40 anos No último relatório de avaliação da Reforma Portuária Brasileira, publicado pelo GEIPOT, fica demonstrado, por exemplo, que os portos de Santos e do Rio de Janeiro, devido à relativa proximidade geográfica, compartilham praticamente da mesma hinterlândia e, por isso, disputam o mesmo mercado de carga contêinerizada. A entrada em operação do terminal de contêineres do porto de Sepetiba, posicionado muito próximo do porto do Rio de Janeiro, acirrou ainda mais a disputa por esse mercado, criando na Região Sudeste um ambiente altamente competitivo nesse segmento do mercado de cargas portuárias41 . Por outro lado, o mesmo relatório adverte que: nos três portos [Santos, Rio de Janeiro e Sepetiba], as projeções de demanda levaram em conta um acentuado crescimento do comércio exterior brasileiro, baseado numa taxa de crescimento da economia de 4% a.a., taxa que não se verificou nos últimos anos. Em conseqüência, poderá ocorrer um excesso de oferta de infra-estrutura na Região Sudeste, o que certamente acirrará ainda mais a concorrência entre os diversos terminais de contêineres existentes. Tal situação poderá significar uma sensível queda nos custos portuários, podendo levar os terminais a dificuldades financeiras e, em casos extremos, à inviabilização, devido aos pesados investimentos que esses arrendatários estão obrigados a realizar (GEIPOT, 2001b, p.58). Quanto aos níveis de preços e desempenho dos serviços portuários, uma análise simplificada, com base em estudos e pesquisas que vêm sendo feitos sistematicamente pelo Ministério dos Transportes42 , permite afirmar que ocorreu alteração substancial de preços desses serviços após o início da reforma e modernização portuária em curso. No relatório datado de setembro de 2001, conclui-se que, entre 1997 e 2000: os preços em dólar, que são referência para os contratos de comercialização de mercadorias, portanto de comércio exterior, apresentaram forte redução, que chegou a mais de 60% para movimentação de contêineres nos portos do Rio de Janeiro e de Rio Grande e de soja e farelo em Santos e Paranaguá, bem como mais de 70% para fertilizantes movimentados no porto de Santos. É importante salientar que muitas reduções ficaram acima da desvalorização da moeda nesse período, portanto, apresentando ganhos reais para o exportador e importador, ocasionadas pela competição entre as unidades portuárias (GEIPOT, 2001b, p. 68). Na tabela seguinte estão os resultados da avaliação dos preços dos serviços portuários nos dois portos, dentre os incluídos na amostra da pesquisa, de maior relevância para os setores produtivos de Minas Gerais: TABELA 27 PREÇOS TOTAIS MÉDIOS DOS SERVIÇOS PORTUÁRIOS, EM PORTOS SELECIONADOS - BRASIL, 1997 E 2000 ANO DE 1997 PORTO Rio de Janeiro TIPO DE CARGA R$ US$ ANO 2000 R$ US$ VARIAÇÃO % R$ US$ Trigo - M. Santista 12,13 11,25 17,43 9,03 43,7 -19,7 Contêiner - Tecon I 456,49 423,46 323,79 167,74 -29,1 -60,4 (Continua...) 41 42 84 Exemplo recente é a transferência de operações de exportação da FIAT para o porto de Sepetiba, com perspectiva inicial de movimentação de 600 contêineres/mês, que serão transportados por via ferroviária, através das linhas da MRS Logística. Outro exemplo é a utilização parcial do porto do Rio de Janeiro para a exportação de café acondicionado em contêiner, originário de Varginha, no Sul de Minas, antes totalmente concentrada no porto de Santos. Os dados que embasaram tais pesquisas foram coletados junto aos agentes formadores dos preços dos serviços portuários, sendo que tanto a coleta quanto o tratamento dos mesmos obedeceram um padrão estatístico de modo a se produzir um resultado técnico-científico de base sustentável. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento (Continuação) PREÇOS TOTAIS MÉDIOS DOS SERVIÇOS PORTUÁRIOS, EM PORTOS SELECIONADOS - BRASIL, 1997 E 2000 ANO DE 1997 PORTO Santos TIPO DE CARGA R$ ANO 2000 BDMG 40 anos TABELA 27 VARIAÇÃO % US$ R$ US$ R$ US$ 8,23 4,26 -31,4 -61,7 Soja - Corex 12,00 11,13 Fertilizantes - Tefer 21,93 20,34 11,50 5,96 -47,6 -70,7 Trigo - M. Santista Contêiner - ME 14,03 337,77 13,01 313,33 16,24 331,00 8,41 171,48 15,7 -2,0 -35,4 -45,3 Contêiner - MD 339,16 314,62 389,38 201,72 14,8 -35,9 FONTE: Geipot (2001b: p.67). Obs.: valores em $/tonelada para granéis e $/unid. para contêiner. Observa-se que os valores finais obtidos nas pesquisas são valores referenciais, que foram obtidos a partir de um tratamento estatístico. Correspondem aos serviços prestados (a carga e a embarcação) quando do trânsito portuário. Portanto, muito embora não incluam armazenagem, expressam a quase totalidade da agregação de valor pela passagem da carga no porto. A constatação de que os preços dos serviços portuários, em especial de movimentação de carga contêinerizada, apresentaram tendência de queda no período é corroborada pelos resultados da Pesquisa de Transportes Aquaviários divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes em 2002. O relatório analítico dessa pesquisa registra que: o novo ambiente competitivo e os investimentos realizados pelo governo e pelos operadores privados em instalações e equipamentos de movimentação de contêineres em terra teve como resultado uma redução da média nacional dos custos de movimentação de contêineres superior a 50% entre 1997 e 2002 (CNT, 2002b: p. 5). A próxima tabela discrimina, para os mesmos dois portos de maior interesse para os mineiros, a composição dos preços dos serviços portuários, segundo seus fatores formadores, nos anos de 1997 e 2000, quais sejam, despesas com movimentação de mercadorias (incluindo custos de manuseio e tarifas portuárias43 ) e despesas incorridas com entrada e saída de navios nos portos: TABELA 28 VALORES EM REAIS DOS FATORES FORMADORES DOS PREÇOS DOS SERVIÇOS PORTUÁRIOS, EM PORTOS SELECIONADOS - BRASIL, 1997 E 2000 ANO DE 1997 PORTO TIPO DE CARGA Manuseio Tarifas ANO 2000 Entrada e Saída Manuseio Tarifas Entrada e Saída Rio de Janeiro Trigo - M. Santista 3,22 3,56 5,35 5,52 9,82 2,09 Santos Contêiner - Tecon I Soja - Corex 214,19 2,52 148,55 7,69 93,75 1,79 249,94 2,58 23,33 3,51 50,52 2,14 Fertilizantes - Tefer 5,97 12,23 3,73 6,02 1,71 3,77 Trigo - M. Santista 3,16 8,35 2,52 1,37 5,58 1,96 Contêiner - ME 119,79 158,35 59,63 260,04 29,20 41,76 Contêiner - MD 138,46 143,91 56,79 229,87 76,73 82,78 FONTE: Geipot (2001b: p.67). Obs.: valores em R$/tonelada para granéis e R$/unid. para contêiner. 43 As tarifas portuárias correspondem aos pagamentos realizados às Administrações Portuárias, pelos operadores portuários, armadores ou proprietários de mercadorias, em razão do uso de instalações públicas e equipamentos. Capítulo 1 - Transporte e logística 85 BDMG 40 anos Dentro dos grupos de acumulação, a pesquisa demonstra que os fatores formadores de preços portuários atuaram de modo diferenciado, pois, enquanto o custo do manuseio pressionou em diversas cargas os preços finais médios dos serviços portuários, as tarifas incidentes, além de terem um percentual menor no resultado final, desoneraram o trânsito portuário. No tocante às tarifas portuárias, cuja estrutura passou de 18 tabelas básicas para apenas sete (com tendência de suprimento de mais duas, correspondentes aos serviços de movimentação de cargas e de armazenagem, que devem passar a ser integralmente prestados pela iniciativa privada), é importante destacar que ocorreu, após a promulgação da Lei no. 8.630/93, uma redução muito expressiva de seus valores. Por outro lado, é importante destacar que um estudo recentemente divulgado, acerca da competitividade externa e logística doméstica brasileira, ressalta que, se essa redução, muitas vezes, não trouxe resultados mais significativos para o usuário, devido à pequena participação da tarifa no preço global, significou, em muitos casos, perda considerável de receita pelas Administrações Portuárias, comprometendo sua capacidade financeira para atender às despesas de custeio e de investimento nos portos (Goebel, 2002). De fato, os resultados positivos da privatização dos terminais portuários têm sido percebidos, principalmente, em relação ao aumento da produtividade das operações e à redução dos preços, apesar do custo das operações que envolvem trabalhadores avulsos (estivadores, conferentes, arrumadores, etc.) continuar alto, seja em função do número excessivamente grande de trabalhadores empenhados nas operações, seja em função dos níveis de remuneração por trabalhador. Persiste ainda a segmentação nas operações de carga e descarga, o que leva à menor produtividade e contraria o espírito da Lei no. 8.630/93, que prevê a introdução da multifuncionalidade da mão-de-obra portuária. O mesmo estudo mostra que um entrave adicional à modernização portuária diz respeito à persistência de um sem-número de interfaces governamentais nos portos, em função do excessivo número de agentes públicos atuantes, e que acabam criando um emaranhado de relações, fiscalizações e documentações, acarretando a geração de custos adicionais à cadeia logística. Ademais, deve-se destacar que as administrações portuárias ainda carecem de uma estratégia e de uma política voltada para atendimento das necessidades dos clientes dos portos, para torná-los inseridos num conjunto mais abrangente da política de comércio exterior do País (Goebel, 2002). 5.3. Outros terminais de integração intra e intermodal O intercâmbio entre as diferentes modalidades de transporte se faz através dos terminais de integração modal, sejam eles, portos (com seus acessos rodoviários e ferroviários e terminais específicos), tratados no item 5.2.1; terminais de integração rodo-ferroviária; ou, até mesmo, instalações de integração intramodal ferroviária, no caso particular de diferenciação de bitolas. No caso da modalidade aérea, a integração modal, basicamente feita com o transporte rodoviário, ocorre nas instalações aeroportuárias, objeto do item 4.4.1. Nesses terminais, ocorrem as operações de transferência de carga entre distintas modalidades, além de operações de armazenagem de carga, em função da disponibilidade de equipamentos e diferenciais de tempos e ciclos operacionais entre os diversos operadores modais. Dessas operações, resultam agregações de custos expressivos nas cadeias logísticas dos diferentes setores produtivos, refletindo em suas capacidades e vantagens competitivas. No caso da movimentação de grandes massas de carga, envolvendo basicamente granéis sólidos e líquidos, persistem, ainda, na região Sudeste e, em particular em Minas Gerais, dificuldades de integração na modalidade ferroviária, devido à presença de linhas 86 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos com bitolas diferenciadas larga (1,6 m) e métrica (1,0 m). Quando o transbordo de cargas torna-se necessário, há que se dispor de terminais de integração que sejam capazes de garantir a eficiência da operação. É importante registrar que operações dessa natureza se tornam inviáveis quando os volumes de carga e as distâncias de transporte não são em proporções suficientes para que os custos de transbordo de uma bitola para outra não se constituam uma parcela adicional significativa, quando comparada com o custo total do transporte. Os principais pátios ferroviários de transbordo de mercadorias entre linhas férreas de diferentes bitolas, com grande influência na funcionalidade sistêmica dos transportes de Minas Gerais, são: pátio de Lafaiete Bandeira, localizado na microrregião de Ouro Preto, onde ocorre o transbordo de cargas ferroviárias, principalmente produtos siderúrgicos, originários do Vale do Aço, em linha de bitola métrica da EFVM, e que se destinam ao Rio de Janeiro, Vale do Paraíba e São Paulo, em linhas de bitola larga da MRS Logística; pátio de Água Branca, na região metropolitana de São Paulo, onde se faz o baldeio de todas as mercadorias que, originárias de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba e movimentadas nas linhas de bitola larga da MRS Logística, têm destino no interior paulista, em estados da região Sul e na Argentina, atendidos por linhas de bitola métrica da Ferroban e da ALL Logística; pátio de Barão de Angra, localizado próximo a Três Rios (RJ), onde ocorrem operações de transbordo da bauxita originária da microrregião de Cataguases, servida por linha de bitola métrica da FCA, e destinada à usina de Mairinque (SP), atendida pela linha de bitola larga da MRS Logística. Outro óbice relevante à integração no sistema ferroviário, já demonstrado no item 4.2.4, está associado a questões regulatórias ainda não adequadamente equacionadas, que dificultam, ou mesmo impedem, as práticas do tráfego mútuo e da concessão do direito de passagem (track right) a uma empresa concessionária, de cargas transportadas por outra. Dificuldades dessa ordem ocorrem mesmo no caso de malhas de bitolas semelhantes. Quando ocorrem operações de intercâmbio entre distintas concessionárias, os pátios de integração mais relevantes para a funcionalidade sistêmica dos transportes em Minas Gerais são: pátio do Barreiro, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde se faz o intercâmbio entre a MRS Logística (bitola larga) e a FCA (bitola métrica), podendo se alcançar Sete Lagoas, em operação track right, pois as linhas que interligam esse centro industrial com o pátio do Barreiro são em bitola mista; pátios de Araguari e Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde é feito o intercâmbio entre as concessionárias FCA e Ferroban, ambas operando em bitola métrica; pátios de Lafaiete Bandeira e PATRAG (este em Ouro Branco MG), utilizados para o intercâmbio entre a MRS Logística (bitola larga) e a FCA e EFVM, estas em bitola métrica; pátio de Capitão Eduardo, também na região metropolitana de Belo Horizonte, ponto de controle do intercâmbio, cada vez mais intenso, entre a FCA e a EFVM. No tocante à integração modal nos portos da Região Sudeste que atendem aos setores produtivos de Minas Gerais, em especial nos portos de Santos, Rio de Janeiro e Sepetiba, os principais problemas referem-se: às deficiências no planejamento operacional, dificultando a sincronia entre a chegada dos navios e as operações ferroviárias; às impedâncias existentes nos acessos rodoviários e ferroviários aos portos; e, às dificuldades de integração e sinergia entre as operações das concessionárias de ferrovia e a movimentação ferroviária interna à área do porto. Capítulo 1 - Transporte e logística 87 BDMG 40 anos 5.4. Terminais alfandegados de uso público Os terminais alfandegados de uso público constituem um tipo especial de terminal de transporte, destinados à prestação dos serviços públicos de movimentação e armazenagem de mercadorias que estejam sob controle aduaneiro e localizados fora da área de porto organizado ou aeroporto alfandegados. Segundo a Secretaria da Receita Federal, são terminais alfandegados de uso público: i) as estações aduaneiras de fronteira (EAF); ii) os terminais retroportuários alfandegados (TRA); e, iii) as estações aduaneiras de interior (EADI). Em Minas Gerais, evidentemente, os terminais alfandegados de uso público existentes são estações aduaneiras de interior (EADIs), comumente chamados de porto seco (dry port). Esta categoria especial de terminal foi concebida para intensificar o processo de interiorização e descentralização dos serviços aduaneiros, a exemplo do processamento de despacho aduaneiro de importação e exportação. As EADIs são operadas, por delegação da Receita Federal, por pessoa jurídica de direito privado que tenha como objeto social, cumulativamente ou não, a armazenagem, a guarda ou o transporte de mercadorias. A delegação é efetivada na modalidade jurídica de permissão de serviço público, sendo o permissionário selecionado por licitação, na modalidade de concorrência. Atualmente, são cinco as EADIs instaladas em Minas Gerais, como mostra a tabela seguinte. TABELA 29 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTAÇÕES ADUANEIRAS DE INTERIOR INSTALADAS EM MINAS GERAIS SITUAÇÃO EM 2002 EMPRESA LOCALIZAÇÃO SERVIÇOS AGREGADOS Usifast Logística Industrial S/A Betim Recebimento e transporte de cargas entre portos e aeroportos e a EADI; operações just in time, estufagem e desova de contêineres; emissão de DTAs; entregas parceladas ao cliente final; devolução de contêineres vazios por rodovia ou ferrovia Empresa de Transportes Líder Ltda. Uberaba Mineração Andirá Ltda. (Grupo CVRD) Uberlândia Armazéns Gerais Agrícolas Ltda. Varginha Multiterminais Alfandegados do Brasil Ltda. Juiz de Fora NF Serviços ferroviários e portuários integrados. Embalagem, manuseio de cargas e estufagem e desova de contêineres. Reembalagem, cintamento, contagem de mercadorias, remarcação e renumeração de volumes Projetos logísticos específicos para cada cliente, incluindo serviços de separação, etiquetagem, reembalagem, coleta, depósito em armazém geral e transporte até o destino final, etc. TEMPO ÁREA DE MERCADO TOTAL (m2) CLIENTES 7 anos 55.000 442 2,5 anos 42.000 43 2 anos 52.000 32 9 anos 37.000 NF NF 165.000 NF FONTES: Revista Tecnologística, v. 6, n.78, maio de 2002; e sites da Multiterminais (www.multiterminais.com.br) e da Receita Federal (www.receita.fazenda.gov.br/srf.www/aduana/Eadi.htm). Obs.: NF = dados não fornecidos pelas fontes. 88 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Nas EADIs são executados todos os serviços aduaneiros, a cargo da Receita Federal, inclusive os de processamento de despacho aduaneiro de importação e exportação de mercadorias (conferência e desembaraço aduaneiros), permitindo, assim, a sua interiorização44 . As EADIs podem, ainda, prestar serviços de acondicionamento, reacondicionamento e montagem de mercadorias importadas, submetidas ao regime especial de entreposto aduaneiro. Nelas, as mercadorias importadas podem ficar armazenadas, à espera de nacionalização, pelo prazo de um ano, prorrogável por mais dois anos, com suspensão temporária da incidência de tributos durante o período da armazenagem. Com a estabilização econômica e a política cambial praticada no pós-Real, somadas à ineficiência das operações portuárias, as EADIs experimentaram um verdadeiro boom, que durou até 1998. A partir daí, com as mudanças do cenário econômico e os efeitos positivos da reforma e da modernização portuária, em termos de preço e serviço, as movimentações de cargas nas EADIs passaram a ocorrer em ritmo menos acelerado, inclusive com forte queda no segundo semestre de 2001, mas com perspectivas otimistas de crescimento. Hoje, as importações respondem, em média, por 85% do movimento das EADIs brasileiras, segundo dados da Associação das Empresas Operadoras de Regimes Aduaneiros ABEPRA. Este dado é corroborado pelos resultados de uma pesquisa divulgada em abril de 2002, realizada por Dieter Goebel, especialista em logística da UFRJ, incluindo uma amostra de 460 empresas envolvidas com logística interna e comércio exterior. Esse pesquisador constatou que os terminais alfandegados de uso público, alternativos aos terminais portuários, têm sido pouco utilizados para armazenagem e liberação aduaneira de exportações. Apenas 16% das empresas pesquisadas utilizam esse tipo de instalação em operações de exportação, com preferência pelas EADIs (68% das empresas que fazem uso de terminais alfandegados de uso público em operações de exportação). Os custos de armazenagem nas EADIs têm sido, de uma forma geral, reconhecidamente competitivos em relação aos terminais de carga aérea da INFRAERO e aos terminais portuários alfandegados. Entretanto, alguns fatores relevantes têm inibido o pleno desenvolvimento de uma verdadeira rede de EADIs no território nacional, quais sejam: o elevado investimento inicial exigido para a instalação de uma EADI; os prazos de permissão, que os empreendedores consideram reduzidos para garantir a viabilidade do negócio; a persistência de impedâncias burocráticas, a exemplo da demora na liberação das declarações de trânsito aduaneiro (DTAs), que devem acompanhar as cargas movimentadas entre terminais de zona primária e EADIs; a queda das importações, verificada no cenário mais recente; acirramento da concorrência com os terminais alfandegados da zona primária, haja vista a redução de preços e a maior agressividade comercial que tem marcado a atuação dos terminais portuários pós-privatização e dos terminais de carga aérea na conjuntura atual de reestruturação empresarial da INFRAERO. O cenário otimista de retomada do dinamismo setorial, apesar da crise que marcou o ano de 2001, baseia-se na perspectiva de concretização do novo conceito de uso dessas instalações 44 As EADIs podem receber, amparadas em Declarações de Trânsito Aduaneiro (DTA) ou, quando originárias ou destinados aos demais países do Mercosul, em Manifesto Internacional de Carga (MIC/DTA), mercadorias provenientes dos modais rodoviário, marítimo e aéreo. Em suas instalações podem ser realizadas operações de despacho aduaneiro nos regimes comum (importação) e suspensivo (entreposto aduaneiro, na importação; entreposto aduaneiro especial, na importação; DTA (importação); MIC/ DTA (importação); admissão temporária (importação); drawback (exportação); e, depósito alfandegado certificado (exportação). Capítulo 1 - Transporte e logística 89 BDMG 40 anos aduaneiras como se fossem extensões de fábricas, visando estimular as exportações, através de operações de transformação industrial, e não apenas de armazenagem e despacho. Tal conceito está calcado na Instrução Normativa 79, da Receita Federal (de 11/10/2001), que, após sua regulamentação, deverá permitir a realização, dentro dos recintos alfandegados, de processos de montagem, pequenas modificações e transformação de componentes importados, gerando produtos exportáveis, com agregação de valor às mercadorias. Ademais, para muitos especialistas em logística e comércio exterior, a tendência deverá ser o desenvolvimento, no entorno das EADIs, de verdadeiros pólos concentradores de cargas, primeiro passo para a estruturação de plataformas logísticas multimodais, conjugando operações alfandegadas e não-alfandegadas e reunindo, num mesmo sítio geográfico, terminais de cargas, centros de distribuição varejista, condomínios industriais e bussines parks (veja, no item 8.4., uma proposta de política pública para orientar o desenvolvimento de uma rede de plataformas logísticas em Minas Gerais). 5.5. Centros de distribuição e operadores logísticos No caso da armazenagem, manuseio e movimentação de carga geral, principalmente de produtos industrializados de menor peso e maior valor agregado, ainda muito concentrada no transporte rodoviário, devido às vantagens comparativas desse modal e também às especificidades do sistema logístico brasileiro, uma das principais estratégias atualmente adotadas pela indústria tem sido a operacionalização de centros de distribuição45 , nos quais são consolidadas cargas de vários fornecedores (no caso do comércio) ou de diversas unidades de produção de um mesmo fabricante. De administração própria ou terceirizada, essas instalações suportam as atividades de distribuição da indústria e do varejo, com maior controle das operações logísticas, visando a redução de custos e a melhoria dos níveis de serviço aos clientes. Atualmente, a tendência predominante na operação de centros de distribuição é a terceirização dessa atividade para um operador logístico46 . Trata-se de empresa especializada em serviços logísticos, que pode tanto assumir a operação e o gerenciamento do centro de distribuição de uma indústria ou empresa varejista quanto utilizar estruturas próprias para atender seus clientes. Costumam, ainda, ser terceirizadas, para esses prestadores de serviços, outras etapas da operação logística, a exemplo das operações de transporte. Dados divulgados pelo DataInvest, da Gazeta Mercantil, mostram que os investimentos em construção de centros de distribuição, no período entre 1998 e 2005, deverão chegar a US$ 1,05 bilhão, sendo US$ 288 milhões destinados a instalações de operadores logísticos e empresas de transportes e armazenagem. Os maiores investidores são a indústria de bens de consumo; os operadores logísticos, que prestam serviços a terceiros; as grandes cadeias varejistas, que vêm, nesses investimentos, pelo menos duas oportunidades o suprimento com maior freqüência de suas lojas e a obtenção de vantagens nas negociações com a indústria; e, os atacadistas distribuidores, que, a partir dessas instalações, abastecem os pequenos e médios varejistas, localizados nas diferentes regiões geográficas do País. 45 46 90 Basicamente, um centro de distribuição se estrutura em torno de um grande galpão industrial, acoplado ou não a uma plataforma de serviços logísticos mais amplos, e dotado de instalações de armazenagem e equipamentos de movimentação de cargas. A estrutura normalmente dispõe de diversas docas, nas quais os caminhões são carregados e descarregados. Dentre as atividades desenvolvidas em um centro de distribuição, destacam-se: recebimento de mercadorias, movimentação interna ou manuseio, armazenagem, separação de pedidos (picking) e expedição. Em recente estudo sobre operadores logísticos no Brasil, realizado conjuntamente pela Associação Brasileira de Logística, Fundação Getúlio Vargas e Associação Brasileira de Movimentação e Logística, e divulgado pela revista Tecnologística (de fevereiro/1999), definiu-se operador logístico como o fornecedor de serviços logísticos, especializado em gerenciar e executar todas ou parte das atividades logísticas nas várias fases da cadeia de abastecimento dos seus clientes (...) e que tenha competência para, no mínimo, prestar simultaneamente serviços nas três atividades básicas de controle de estoques, armazenagem e gestão de transportes. Os demais serviços, que por ventura sejam oferecidos, funcionam como diferenciais de cada operador. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos É num contexto de pioneirismo que se destacam, em Minas Gerais, as atividades do Grupo Martins, sediado em Uberlândia e líder no ranking brasileiro de atacadistas distribuidores. Comercializa e distribui mais de 20 mil itens, a exemplo de produtos de higiene e limpeza, calçados, confecções e têxteis, alimentos, bebidas, produtos químicos e petroquímicos, material de construção, fumos, automotivos, farmacêuticos, plásticos e papéis, eletroeletrônicos e utilidades domésticas. A Marbo Logística Integrada é a empresa do Grupo Martins especializada em operações logísticas, encarregando-se do gerenciamento de seus centros de distribuição e dos serviços de transporte, com o suporte intensivo de sua estrutura de tecnologia da informação, além de atender a outros importantes clientes não pertencentes ao grupo. Sua infra-estrutura operacional inclui três centros de armazenagem e distribuição (CADs), localizados em Uberlândia, São Paulo e João Pessoa, onde são recebidas as mercadorias das indústrias em grandes volumes, para posterior fracionamento e encaminhamento para os 45 centros de distribuição avançados (CDAs), estrategicamente espalhados pelo território nacional e que se encarregam da distribuição das mercadorias para varejistas em 10 mil localidades. Assim como a Marbo Logística Integrada, outros operadores logísticos de porte estão se instalando no mercado de Minas Gerais, a exemplo da Cesamar Logística, que opera nove centros de distribuição no território nacional, dois deles situados em Minas Gerais (Belo Horizonte e Lagoa Santa), e um terminal rodo-ferroviário em Contagem; da Delara, atualmente incorporada pela ALL Logística, que possui um centro de distribuição em Contagem e, recentemente, passou a atuar na logística de distribuição da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira; do Grupo Multiterminais, responsável pelo gerenciamento do fluxo de auto-peças para a fábrica da Mercedes Bens, em Juiz de Fora, operando integrado com a estação aduaneira de interior (EADI-JF) ali existente; da Sindi Logística, que instalou um novo centro de distribuição varejista em Contagem, com instalações especializadas em armazenagem e movimentação de cargas frigorificadas; da TNT Logistics, que atua como operador logístico do Grupo Fiat, com bases operacionais em Betim e Sete Lagoas; e, da Tora Logística, pioneira na operação de centros de distribuição em terminais rodo-ferroviários situados nos municípios de Contagem e Betim, neste último, associado com a estação aduaneira de interior (EADI-Granbel) da Usifast Logística Industrial Ltda. Capítulo 1 - Transporte e logística 91 BDMG 40 anos 6. Demanda, divisão modal e distribuição especial dos fluxos A quantificação e caracterização da demanda de transporte de pessoas e bens em qualquer unidade da Federação são tarefa complexa e de custo elevado, pois, nesses casos, a rede de transporte se caracteriza com um sistema aberto, requerendo uma massa considerável de pesquisas diretas, junto aos grandes produtores de cargas e operadores de transporte, e em campo, através de entrevistas com condutores de veículos rodoviários de carga e passageiros. Em Minas Gerais, devido ao seu posicionamento geográfico no território nacional e às características de sua estrutura produtiva, pesquisas dessa natureza são especialmente complexas e caras. Por essas razões, não se costuma dispor de séries históricas regulares da demanda de transporte regional (principalmente na modalidade rodoviária) em nível estadual, o que permitiria sua quantificação e caracterização, além da análise de sua evolução temporal. No caso de Minas Gerais, as únicas informações globais disponíveis referem-se ao ano de 1992 e resultaram da ampla e cuidadosa pesquisa de origem/destino realizada (OD/92) para a elaboração do Plano Multimodal de Transportes (SEPLAN, 1994). Assim, no presente estudo, os resultados da pesquisa OD-92 constituir-se-ão o referencial básico para o estudo da demanda de transporte em Minas Gerais na última década do século XXI. A menos dos montantes transportados, que evoluíram ano-a-ano, para mais ou para menos, na última década, a hipótese aqui adotada é que a estrutura geral da demanda de transporte não apresentou modificação significativa no tocante à composição setorial, divisão modal e configuração espacial dos fluxos. Todavia, sempre que possível e necessário, os resultados da pesquisa OD-92 foram complementados com informações mais recentes, obtidas em fontes secundárias e em levantamentos junto a setores produtivos envolvidos. 6.1. Volume transportado, produção e divisão modal das cargas Dentre as 346,5 milhões de toneladas de cargas movimentadas no sistema de transporte de Minas Gerais (conforme matriz OD de 1992), se destacam pelos volumes transportados as seguintes categorias de carga (relacionadas em ordem decrescente): minério de ferro (33,0% do volume total movimentado, em toneladas), carga geral industrializada (28,2%), petróleo e derivados (6,3%), calcário (4,3%), produtos siderúrgicos (3,9%), ferro-gusa (2,8%), carvão vegetal (2,7%), cimento portland (2,7%), adubos e fertilizantes (2,7%) e soja e derivados (2,2%), todos com participações relativas individuais superiores a 2% e, em conjunto, respondendo por praticamente 90% da demanda total de transporte de cargas. Da movimentação dessas mercadorias, entre diferentes origens e destinos, dentro e ou fora do Estado, resultou uma produção de transporte de cargas em vias internas a Minas Gerais (incluindo fluxos com origem e destino fora do Estado), da ordem de 119,6 bilhões de toneladas-quilômetros úteis (TKU), equivalente a 1/3 da produção nacional de transporte de cargas no mesmo ano. As participações das diversas modalidades na demanda estadual de transporte de cargas, medida em volume movimentado e em produção física, para o ano de 1992, podem ser vistas na tabela seguinte: 92 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos TABELA 30 MATRIZ ESTADUAL DE TRANSPORTE DE CARGAS - MINAS GERAIS - 1992 Modalidade de Transporte Volume Movimentado Milhões de % toneladas Distância Média (km) Produção de Transporte Bilhões % de TKU Rodoviário 200,6 57,9 315,1 63,2 52,8 Ferroviário 129,8 37,5 389,8 50,6 42,4 Dutoviário Total 16,1 4,6 360,2 5,8 4,8 346,5 100,0 345,2 119,6 100,0 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Analisando-se a matriz de transporte, observa-se que: a modalidade rodoviária detém, considerando tanto o volume movimentado de cargas quanto a produção de transporte, a maior parcela da demanda, respondendo por 57,9% do volume e por 52,8% da produção. Vale destacar que a participação dessa modalidade na produção estadual de transporte de cargas era, naquele ano, seis pontos percentuais menor do que a participação rodoviária na matriz nacional; ao modal ferroviário corresponde a segunda posição, com uma participação de 42,4% na produção de transporte, o que, observa-se, é praticamente o dobro da fatia dessa modalidade no mercado nacional de transporte de cargas; em Minas Gerais, o transporte dutoviário tem participação representativa na produção de transporte, da ordem de 4,8%, superior à sua participação na matriz nacional, que, em 1992, foi da ordem de 3,2%. A movimentação de cargas nessa modalidade de transporte se restringia a três categorias de carga: petróleo e derivados (46,8%, em toneladas), minério de ferro (45,2%) e concentrado fosfático (8,0%); não se contabilizou nessa matriz a participação do modal hidroviário de interior, pois, no ano de 1992, esse transporte encontrava-se paralisado em Minas Gerais. Ainda hoje, sua participação é inexpressiva no contexto mineiro; é importante registrar que não se incluiu no escopo da pesquisa OD, de 1992, a carga aérea, razão porque a matriz aqui analisada não considera o transporte aéreo. Vale ressaltar que, em volume transportado, a carga aérea tem muito pouca representatividade no mercado mineiro, pois, passados oito anos, com todo o aumento do tráfego aéreo de cargas que se verificou no Brasil, o volume movimentado nos aeroportos mineiros (considerando embarques e desembarques) não passou de 50 mil toneladas, ou seja, menos de 0,5% da carga total movimentada em Minas Gerais no início dos anos 90. Capítulo 1 - Transporte e logística 93 BDMG 40 anos GRÁFICO 9 GRÁFICO 10 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Comparando o volume de cargas com a produção de transporte, constata-se que as participações relativas dos modais ferroviário e dutoviário são mais elevadas em toneladas-quilômetros úteis (TKU) do que em toneladas úteis (TU), enquanto o modal rodoviário apresenta posição contrária, o que se explica pelo diferencial de distância média que se observa nas distintas modalidades; enquanto as distâncias médias de transporte dos modais ferroviário e dutoviário são maiores do que a média estadual (da ordem de 345,2 quilômetros), o transporte rodoviário tem distância média inferior. 6.2. Caracterização setorial da demanda de transporte de cargas Para caracterização setorial da demanda e de seu atendimento pelos modais disponíveis, optou-se por analisar os grandes agrupamentos de cargas, envolvendo categorias afins no tocante à organização da produção e ou da logística de transporte, além do agregado intitulado carga geral, que compreende uma grande variedade de produtos industrializados, transportados, como carga solta ou unitizada, pelo modal rodoviário. Busca-se assim, ainda que de modo simplificado, compreender os processos de suprimento e distribuição de cada um destes grandes geradores de demanda de transporte, no contexto de suas cadeias logísticas. 6.2.1. Setor mínero-siderúrgico Nesse agrupamento estão incluídos insumos, exemplo do minério de ferro, ferro-gusa, carvão vegetal, carvão mineral e coque e outros minérios (bauxita, magnesita, manganês e zinco), e diferentes produtos siderúrgicos (incluindo laminados planos e não-planos, lingotes e ferro-ligas). Totaliza cerca de 171 milhões de toneladas/ano, ou seja, praticamente a metade (49,4%) da demanda estadual de transporte de cargas. O minério de ferro é o produto que apresenta maior volume de transporte em Minas Gerais, respondendo por 1/3 da tonelagem total movimentada. Seu transporte se dá basicamente entre as jazidas localizadas na região Central e as usinas siderúrgicas mineiras e em estados vizinhos (São Paulo e Rio de Janeiro), além de alto-fornos produtores de gusa, situados nas regiões Central e Centro-Oeste de Minas, e, entre as jazidas e os terminais portuários localizados em Tubarão-Vitória (ES) e Ilha Guaíba-Sepetiba (RJ), no caso dos portos, quando o destino final é o mercado externo. 94 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento 10.811.838 Leite e derivados, hortifrutigranjeiros e gado em pé Cimento em sacas e a granel, clinquer e rochas ornamentais Pasta mecânica, celulose, caulim, papel e papelão Outras cargas do setor agrícola Indústria da construção Celulose e papel Total FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994; organização: Consultora. 12.007.907 Petróleo bruto, gasolina, diesel, óleo combústivel, GLP, querosene, alcool anidro e hidratado Energéticos líquidos e gasosos 3.246.668 346.548.834 24.413.161 26.862.136 97.860.600 Arroz, café em coco, feijão, milho, soja, farelo e óleo de soja, açucar em sacas e a granel, adubos e fertilizantes, rochas fosfáticas e insumos Granéis agrícolas, açucar e fertilizantes 171.346.524 Produtos industrializados em geral, soltos ou unitizados Carga geral Ton./ano Minério de ferro, calcário, produtos siderúrgicos, ferrogusa, carvão vegetal, carvão mineral e coque e outros minérios Produtos VOLUME Mínero-siderúrgico Agrupamento COMPOSIÇÃO DA DEMANDA 0,9 100,0 3,1 3,5 7,0 7,8 28,2 49,4 % 16.140.984 - - 7.549.688 1.300.000 - 7.291.296 Ton./ano 4,8 - 4,3 % 4,7 - - 30,9 Dutoviário 317.100 129.786.431 4.380.424 - 4.298.567 2.034.943 - 118.755.397 Ton./ano 9,8 37,5 40,5 0,0 17,6 7,6 - 69,3 % Ferroviário DIVISÃO MODAL COMPOSIÇÃO E DIVISÃO MODAL DE DEMANDA DE TRANSPORTE DE CARGAS, POR AGRUPAMENTO DE PRODUTOS MINAS GERAIS - 1992 TABELA 31 2.929.568 200.621.419 6.431.414 12.007.907 12.564.906 23.527.193 97.860.600 45.299.831 Ton./ano 26,4 % 90,2 57,9 59,5 100,0 51,5 87,6 100,0 Rodoviário BDMG 40 anos Capítulo 1 - Transporte e logística 95 BDMG 40 anos Em quase sua totalidade, esse transporte é feito pela modalidade ferroviária, devido às suas características físicas, de volume, distância e valor unitário. Os fluxos principais, representativos de 90% do transporte de minério de ferro com origem e ou destino em Minas Gerais, são os seguintes: TABELA 32 PRINCIPAIS FLUXOS DE MINÉRIO DE FERRO - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO ORIGEM MILHÕES DE TON./ANO MODO PRINCIPAL Vitória Ouro Preto 31,1 Ferroviário (1) Itabira 29,2 Ferroviário Conselheiro Lafaiete 1,0 Ferroviário Belo Horizonte 1,0 Ferroviário Rio de Janeiro Belo Horizonte 18,0 Ferroviário Volta Redonda Conselheiro Lafaiete 6,7 Ferroviário Ipatinga Ouro Preto 2,8 Ferroviário Itabira 2,7 Ferroviário Belo Horizonte 1,0 Ferroviário São Paulo Ouro Preto 2,6 Ferroviário Conselheiro Lafaiete Belo Horizonte Ouro Preto 2,5 2,2 Ferroviário Ferroviário Sete Lagoas Belo Horizonte 1,1 Rodoviário Ouro Preto 1,0 Rodoviário 1,0 Ferroviário Santos Belo Horizonte Total 103,7 Fonte: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. (1) inclui 7 milhões de toneladas na modalidade dutoviária Quanto aos produtos siderúrgicos, as usinas localizadas na região Central e no Vale do Aço são responsáveis por seus principais fluxos de transporte em Minas Gerais, que, no total, correspondem a 4% do volume de transporte de cargas no Estado. A exportação de produtos siderúrgicos se concentra nos fluxos com destino nos portos especializados da região Sudeste Praia Mole, em Vitória; terminal da Cosipa, na Baixada Santista; e, Rio de Janeiro. No mercado interno, destacam-se os fluxos de suprimento dos setores automobilísticos e de máquinas e equipamentos, com ênfase no transporte das usinas para as regiões metropolitanas de São Paulo (em grande parte) e Belo Horizonte. Merece também destaque a distribuição de produtos siderúrgicos específicos para a construção civil, com fluxos concentrados no sentido dos distribuidores localizados nos grandes centros urbanos, para posterior venda e distribuição pulverizada no interior do País. Destacam-se pela volumetria mais expressiva os seguintes fluxos principais, representativos de 70% do transporte de produtos siderúrgicos com origem e ou destino em Minas Gerais: TABELA 33 PRINCIPAIS FLUXOS DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO ORIGEM MILHÕES DE TON./ANO Vitória Ipatinga 2,0 MODO PRINCIPAL Ferroviário Conselheiro Lafaiete 1,1 Ferroviário João Monlevade 0,4 Ferroviário Divinópolis 0,4 Ferroviário (Continua...) 96 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento (Continuação) BDMG 40 anos TABELA 33 PRINCIPAIS FLUXOS DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO ORIGEM MILHÕES DE TON./ANO São Paulo Ipatinga 1,0 MODO PRINCIPAL Rodoviário Belo Horizonte 0,5 Rodoviário Ouro Preto 0,4 Ferroviário Conselheiro Lafaiete Juiz de Fora 0,3 0,2 Ferroviário Rodoviário João Monlevade 0,8 Rodoviário Ipatinga 0,2 Ferroviário Ouro Preto Ipatinga 0,5 Ferroviário Rio de Janeiro Juiz de Fora 0,5 Ferroviário (55%) Belo Horizonte 0,4 Rodoviário Ipatinga 0,2 Rodoviário Juiz de Fora Conselheiro Lafaiete 0,5 Ferroviário São Paulo 0,3 Rodoviário Curitiba Ipatinga 0,3 Rodoviário Belo Horizonte Total 9,7 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. No geral, os fluxos de produtos siderúrgicos se distribuem em partes praticamente iguais entre as modalidades rodoviária e ferroviária. O modal ferroviário tem participação expressiva nos fluxos de exportação, entre as usinas e os portos do Sudeste brasileiro. No mercado interno, a ferrovia está praticamente limitada àqueles fluxos vinculados aos centros de distribuição regional das próprias usinas e a pólos produtores do complexo metal-mecânico, principalmente em São Paulo. Os demais fluxos para o mercado interno são geograficamente dispersos e predominantemente atendidos pelo modal rodoviário. O ferro gusa responde por 3% da demanda de transporte de cargas em Minas Gerais, com a modalidade rodoviária respondendo por 2/3 da tonelagem transportada e a ferroviária pelo outro 1/3. Os fluxos de exportação, originários principalmente dos altos-fornos localizados em Sete Lagoas e Divinópolis, se direcionam para os terminais portuários de Vitória. Outros fluxos relevantes estão associados ao mercado interno e se inserem na logística de suprimento de algumas empresas do complexo metal-mecânico localizadas em Minas e em outros estados. Destacam-se os seguintes fluxos principais, representativos de 60% do transporte de ferro gusa com origem e ou destino em Minas Gerais: TABELA 34 PRINCIPAIS FLUXOS DE FERRO GUSA - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO Vitória Conselheiro Lafaiete ORIGEM MILHÕES DE TON./ANO MODO PRINCIPAL Belo Horizonte 0,9 Ferroviário Conselheiro Lafaiete 0,7 Ferroviário Sete Lagoas 0,5 Ferroviário Ouro Preto 0,3 Ferroviário Sete Lagoas 0,5 Rodoviário Divinópolis 0,5 Rodoviário (Continua...) Capítulo 1 - Transporte e logística 97 BDMG 40 anos TABELA 34 (Continua) PRINCIPAIS FLUXOS DE FERRO GUSA - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO ORIGEM MILHÕES DE TON./ANO MODO PRINCIPAL Ouro Preto Divinópolis 0,25 Rodoviário Bom Despacho 0,15 Rodoviário Belo Horizonte Divinópolis 0,4 Rodoviário Rio de Janeiro Ipatinga Belo Horizonte 0,1 0,4 Rodoviário Ferroviário Belo Horizonte 0,25 Rodoviário Ipatinga 0,15 Rodoviário São Paulo Curitiba Belo Horizonte 0,25 Rodoviário Sete Lagoas 0,15 Rodoviário Juiz de Fora Belo Horizonte 0,25 Ferroviário Ipatinga Belo Horizonte 0,2 Ferroviário Total 6,0 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Os fluxos de ferro gusa destinados à exportação por Vitória, além de alguns associados ao suprimento interno, com destaque para o abastecimento da siderúrgica Cosigua, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, são atendidos por ferrovia. O abastecimento dos principais terminais de transbordo rodo-ferroviário, localizados basicamente nas microrregiões de Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto, é feito por caminhão e gera problemas localizados de congestionamento e outras externalidades negativas em trechos rodoviários de acesso (basicamente as rodovias MG 050 e BR 040), os quais, no sentido contrário, se caracterizam como rotas de abastecimento das usinas guseiras com minério de ferro, também por caminhão. O transporte de calcário, enquanto insumo do setor siderúrgico, representa cerca de 4% da demanda total de transporte de cargas em Minas Gerais e compreende principalmente a movimentação entre as jazidas e as usinas siderúrgicas, destacando-se os seguintes fluxos mais relevantes: Formiga Volta Redonda, Sete Lagoas Ipatinga, Vespasiano Vitória, Vespasiano Volta Redonda, Sete Lagoas Vitória, Vespasiano Ipatinga, Barbacena Conselheiro Lafaiete, Vespasiano Conselheiro Lafaiete, Formiga Ipatinga, Formiga Vitória, Vespasiano João Monlevade e Barbacena Santos. Todos, individualmente, respondem por mais de 1% e, em conjunto, por pouco mais de 1/3 do volume total de calcário movimentado em Minas Gerais. No conjunto, o transporte rodoviário responde pela movimentação de 60% do calcário mineiro destinado à siderurgia, cabendo à ferrovia a outra parte. Nos fluxos mais concentrados de calcário, a exemplo dos discriminados no parágrafo anterior, há elevado predomínio da modalidade ferroviária. O carvão vegetal continua sendo importante insumo para a indústria siderúrgica, principalmente para o subsetor guseiro. O volume total transportado, exclusivamente pelo modal rodoviário, corresponde a pouco menos de 3% da demanda total de transporte de cargas em Minas Gerais e gera fluxos de longa distância e geograficamente dispersos. A matriz OD-92 registra cerca de 780 pares de origem-destino desse produto. Destacam-se, pela intensidade volumétrica, aqueles destinados a Sete Lagoas e originários de Januária, Montes Claros, Janaúba, Salinas, Curvelo, Unaí, João Pinheiro e São Romão, em Minas Gerais, além de Rio Verde, em Goiás. Também se destacam os seguintes pares de origem-destino: Rio Verde Divinópolis, Capelinha Ipatinga, Salinas Belo Horizonte e Rio Verde Pará de Minas. Apenas esses 13 pares principais respondem por cerca de 30% do volume total de carvão vegetal transportado em Minas Gerais. 98 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos O carvão mineral e coque constituem outros importantes insumos da indústria siderúrgica, gerando volumes de transporte expressivos e concentrados no sentido da importação, basicamente entre Vitória e as usinas situadas nas regiões Central e Rio Doce. São preponderantemente atendidos pelo modal ferroviário e representam cerca de 1,5% da demanda total de transporte de cargas em Minas Gerais. Apenas três fluxos, direcionados para as micro-regiões de Ipatinga, Conselheiro Lafaiete e João Monlevade, correspondem a mais de 90% do volume total transportado de carvão mineral e coque. Dentre outros minérios transportados em Minas Gerais, sobressaem a bauxita, o minério de zinco, a magnesita e o minério de manganês, geradores de fluxos equivalentes a 1% da demanda total de transporte de cargas, atendidos em partes praticamente iguais pelos modais rodoviário e ferroviário. A bauxita constitui insumo básico da indústria do alumínio, com fábricas do produto primário instaladas em Ouro Preto e Poços de Caldas, em Minas Gerais, e em Mairinque, no estado de São Paulo, enquanto as jazidas se localizam em Ouro Preto, Poços de Caldas e Cataguases, em Minas Gerais. O suprimento das fábricas de Ouro Preto e Poços de Caldas é feito a partir das jazidas localizadas no entorno, gerando fluxos localizados, sem representatividade no contexto geral do sistema estadual de transportes. Os fluxos expressivos, de maior percurso, são dois, ambos com destino na fábrica paulista de Mairinque, sendo um com origem em Poços de Caldas e, o outro, originário das jazidas de Cataguases. Correspondem, na matriz mineira de transporte, a 1/ 3 da tonelagem da categoria outros minérios. Na primeira metade da década de 90, o fluxo Poços de Caldas Mairinque era bem mais expressivo (cerca de 1,3 milhões de toneladas/ano), mas foi sendo progressivamente reduzido, à medida que crescia de importância o fluxo originário de Cataguases, em função de sua qualidade superior. Atualmente, tem-se cerca de 450 mil toneladas/ano originárias de Cataguases e 720 mil toneladas provenientes de Poços de Caldas. O fluxo com origem em Poços de Caldas é atendido por transporte ferroviário (através da Ferroban), em percurso da ordem de 200 km. O outro, originário de Cataguases, requer logística mais complexa, com o transporte entre Cataguases e Três Rios (RJ), ao longo de 180 km, sendo feito em ferrovia de bitola métrica pela FCA, com transbordo em Três Rios para os trens de bitola larga da MRS, que leva a carga até a fábrica em Mairinque, percorrendo pouco mais de 600 km. Também o minério de zinco gera expressiva demanda de transporte, da ordem de 1 milhão de toneladas/ano, toda ela originária em Paracatu, onde se localizam suas jazidas. Os principais destinos são Três Marias, em Minas Gerais, além de Volta Redonda e Rio de Janeiro. Predomina o atendimento pelo modal rodoviário, já que a região produtora não é servida por transporte ferroviário. O minério de manganês, também insumo das indústrias siderúrgicas e de ferro-ligas, gera uma demanda de transporte da ordem de 900 mil toneladas/ano, porém com fluxos pouco concentrados e geograficamente dispersos. As principais origens são as microrregiões de Conselheiro Lafaiete, Ouro Preto, Barbacena e São João Del Rei e o atendimento é preponderantemente feito pelo modal rodoviário (cerca de 80%), cabendo o restante ao transporte ferroviário. Finalmente, a magnesita é responsável por uma demanda de transporte inferior a 200 mil toneladas/ano, com a metade concentrada no fluxo Brumado (BA) Belo Horizonte, atendido por transporte ferroviário. A outra metade gera fluxos também com origem em Brumado, mas com destinos geograficamente dispersos, sendo atendidos pelo transporte rodoviário. 6.2.2. Fertilizantes, granéis agrícolas e açúcar Este agrupamento compreende grãos agrícolas (arroz, feijão, milho, café em coco e soja), derivados da soja (farelo e óleo) e açúcar, além de um importante insumo do setor, que são os fertilizantes. A demanda de transporte desse agrupamento é da ordem de 27 milhões de toneladas/ Capítulo 1 - Transporte e logística 99 BDMG 40 anos ano, correspondendo a quase 8% da demanda total de transporte em Minas Gerais. O atendimento é fortemente concentrado no transporte ferroviário, com os modais ferroviário e dutoviário atendendo a logísticas específicas. A categoria fertilizantes envolve uma série de insumos, produtos intermediários e finais que demandam uma logística de transporte toda própria em função de suas especificidades, envolvendo principalmente a infra-estrutura de transporte instalada no Triângulo e Alto Paranaíba, onde se localizam as principais unidades produtivas. O fertilizante propriamente dito, ou formulação NPK, é um mistura de nitrogênio, fósforo e potássio, produzida de duas formas: misturada e granulada. Os granulados de NPK são produzidos a partir de produtos como ácido fosfórico, ácido sulfúrico, cloreto de potássio e MAP em pó (composto de 3% de nitrogênio e 48% de potássio). Na forma de misturado, as formulações de NPK são produzidas por pequenas fábricas localizadas próximo às áreas agrícolas. As unidades de fósforo da mistura NPK têm como insumo primário a rocha fosfática. O nitrogênio é fornecido pelas indústrias petroquímicas localizadas em Camaçari (BA) e Cubatão (SP) e o potássio é importado através do porto de Santos. Outro insumo primário é o enxofre, também importado através do porto de Santos. A demanda total anual de transporte é da ordem de 10 milhões de toneladas, com o atendimento distribuído entre os modais rodoviário (cerca de 70% em 1992), ferroviário (16%) e dutoviário (14%)47 . O processo produtivo e a cadeia logística dos fertilizantes geram fluxos expressivos, bastante concentrados no sentido do suprimento das fábricas e dispersos na distribuição final, destacando-se: insumos básicos (enxofre, potássio, cloreto de potássio, nitrogênio), da ordem de 800 mil toneladas/ano, com sua maior parte no sentido de Santos para Uberaba, com atendimento distribuído entre a rodovia (cerca de 75%) e a ferrovia (25%), com tendência de aumento da participação ferroviária; rocha fosfática, com demanda de transporte da ordem de 3 milhões de toneladas, destacando-se os seguintes pares de origem e destino: i) de Araxá para Uberaba, por dutovia, correspondente a cerca de 40% da demanda total desse insumo; ii) de Araxá para Campinas e Santos, por ferrovia; iii) de Catalão (GO) para Campinas e Santos, também por ferrovia; produtos intermediários (MAP, SSP e TSP), movimentados entre Uberaba e as fábricas de formulações NPK localizadas no Triângulo, em Goiás e em Mato Grosso, principalmente, assim como em Cubatão, em São Paulo; formulações NPK (adubos), geradoras de fluxos de distribuição geograficamente pulverizados, das fábricas para as regiões agrícolas consumidoras. Aos fluxos de produtos intermediários (MAP, SSP e TSP) e de formulações NPK correspondem à parcela mais expressiva da demanda de transporte, superior a 5,5 milhões de toneladas/ano, preponderantemente atendida pelo modal rodoviário. O conjunto de cereais milho, arroz e feijão representa uma demanda de transporte de mais de seis milhões de toneladas/ano, praticamente toda ela atendida pela modalidade 47 100 Após a concessão do sistema ferroviário a iniciativa privada estão ocorrendo mudanças na logística da indústria de fertilizantes, com o modal ferroviário aumentando sua participação no atendimento à demanda de transporte, principalmente nos fluxos mais concentrados de insumos e produtos intermediários. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos rodoviária. Há uma grande dispersão espacial dos fluxos de atendimento ao consumo interno, seja pela própria produção mineira, seja de outros estados (do Sul e do Centro-Oeste brasileiros), e fluxos mais concentrados, de maior carregamento e longa extensão, passando pelo território mineiro, basicamente voltados ao abastecimento do Nordeste brasileiro pelos estados produtores da Região Sul e de abastecimento dos mercados do Sudeste pelos produtores do Centro-Oeste (passando pelo Triângulo, onde Uberlândia desempenha uma importante função de entreposto comercial). Destacam-se, segundo a matriz OD-92, pela maior intensidade os fluxos discriminados na tabela seguinte, representando ¼ da demanda total de transporte de cereais em Minas Gerais. Ao chamado complexo soja, incluindo soja em grãos, farelo de soja e óleo de soja, corresponde outra importante parcela da demanda de transporte, incluindo não só a produção mineira, mas também a de outros estados, usuária de corredores de infra-estrutura logística que atravessam o território de Minas Gerais. Em 1992, sua demanda de transporte em Minas Gerais era da ordem de 7,6 milhões de toneladas, incluindo os três integrantes do complexo. Ao longo da década de 90, essa demanda mostrou-se crescente, haja vista a tendência de aumento acelerado e de dispersão espacial da produção de grãos nos Cerrados. TABELA 35 PRINCIPAIS FLUXOS DE CEREAIS - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL 153,8 Rodoviário Milho Sul do Brasil Uberaba Belo Horizonte Salvador 87,9 Rodoviário Varginha 131,9 Rodoviário São Paulo Salvador 110,0 Rodoviário Rio Verde Uberlândia 109,3 Rodoviário Uberlândia Varginha 84,2 Rodoviário Arroz Sul do Brasil Belo Horizonte 209,8 Rodoviário Brasília 113,6 Rodoviário Aracaju 69,4 Rodoviário Goiânia 64,8 Rodoviário Ipatinga 56,6 Rodoviário Salvador 54,8 Rodoviário Fortaleza 44,5 Rodoviário São Paulo 109,9 Rodoviário Rio de Janeiro 20,4 Rodoviário Feijão Goiânia São Paulo Belo Horizonte 40,2 Rodoviário Aracaju 33,9 Rodoviário Natal 24,0 Rodoviário Sul do Brasil Belo Horizonte 15,3 Rodoviário Unaí São Paulo 15,0 Rodoviário Total 1.549,3 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Capítulo 1 - Transporte e logística 101 BDMG 40 anos A cadeia logística do complexo soja no Sudeste brasileiro inclui tanto fluxos de suprimento e abastecimento interno quanto, e principalmente, aqueles direcionados para a exportação. Segundo esquema apresentado no Estudo dos Eixos (BNDES/Consórcio Brasiliana, 2001), o farelo é o principal subproduto da soja, gerando uma demanda significativa de transporte (em média, cerca de 65% do volume total gerado pelo complexo). Seus fluxos se originam nas unidades de esmagamento, geralmente localizadas próximas às áreas produtoras de grãos, e têm como principais destinos os portos utilizados para a exportação (cerca de 2/3 do montante produzido de farelo). Outros fluxos relevantes originários das unidades de esmagamento correspondem ao transporte do óleo de soja, enlatado ou a granel, direcionados ao mercado interno (2/3) e aos portos exportadores (1/3 desse subproduto). A parcela de soja em grãos destinada ao mercado externo representa cerca de 15% do volume de carga desse complexo que é movimentada no Sudeste brasileiro. TABELA 36 PRINCIPAIS FLUXOS DO COMPLEXO SOJA - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL Soja em grãos Rio Verde (GO) Barretos 255,0 Rodoviário Santos 253,9 Rodoviário Uberaba 174,8 Rodoviário 97,9 Rodoviário Ribeirão Preto Cuiabá (MT) Barretos 228,0 Rodoviário Unaí Brasília 215,0 Rodoviário Brasília Vitória 141,7 Ferroviário Uberlândia Santos 104,8 Ferroviário Farelo de soja Cuiabá (MT) Uberlândia 345,8 Rodoviário Uberlândia Uberlândia Santos Vitória 234,9 200,0 Rodoviário Rodoviário Belo Horizonte 126,8 Rodoviário Pará de Minas 95,1 Rodoviário Uberaba Santos 151,5 Ferroviário Rio Verde (GO) Curitiba 130,6 Rodoviário Brasília Vitória 94,6 Ferroviário São Paulo 64,2 Rodoviário Óleo de soja Rio Verde (GO) Belo Horizonte 28,8 Rodoviário Barretos (SP) Belo Horizonte 59,5 Rodoviário Uberlândia São Paulo 38,2 Rodoviário Campinas Belo Horizonte 32,1 29,2 Rodoviário Rodoviário 26,6 Rodoviário Brasília Rio de Janeiro Total 3.129,0 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Os fluxos gerados pelo complexo soja que são atendidos pelo sistema de transporte de Minas Gerais têm origem interna nas regiões do Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste e, externa, nos estados de Goiás e Mato Grosso. Destinam-se, no caso de exportação, aos portos de Santos e Vitória. Segundo a matriz OD-92, os principais fluxos gerados são os discriminados na tabela 102 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos anterior, os quais, em conjunto, representam cerca de 40% da demanda total de transporte do complexo soja em Minas Gerais. É importante registrar que, na primeira metade da década de 90, a participação relativa da ferrovia no atendimento à demanda de transporte do complexo soja em Minas Gerais chegava a 8%. Ao longo dos últimos dez anos, embora a participação relativa tenha continuado pequena, em valores absolutos o transporte ferroviário de soja e derivados cresceu, estando concentrado no atendimento a grandes usuários, através das rotas Araguari Santos e Brasília Vitória. A demanda de transporte de café em grãos foi da ordem de 1,5 milhões de toneladas em 1992, incluindo fluxos internos entre as zonas produtoras e os centros de armazenagem e industrialização, assim como os de escoamento até o litoral, para exportação através dos portos de Santos, Vitória e Rio de Janeiro. Naquele ano, os fluxos de exportação atingiram 621 mil toneladas (equivalentes 36% da demanda total de transporte), das quais, 85% se destinaram ao porto de Santos. TABELA 37 PRINCIPAIS FLUXOS DE CAFÉ EM GRÃO - MINAS GERAIS - 1992 DESTINO Santos ORIGEM MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL Varginha 200,0 Guaxupé 90,0 Rodoviário Rodoviário Caratinga 60,0 Rodoviário Patrocínio 60,0 Rodoviário Poços de Caldas 48,6 Rodoviário Piumhi 20,8 Rodoviário Alfenas 19,0 Rodoviário Vitória Guaxupé Manhuaçu Patrocínio 70,4 23,0 Rodoviário Rodoviário Varginha Patrocínio 18,6 Rodoviário Total 610,4 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Os mais carregados pares de origem e destino de café, contidos na matriz de 1992, são discriminados na tabela anterior e totalizam cerca de 42% da demanda total de transporte do café em Minas Gerais. O transporte do café tem sido quase que totalmente feito por caminhão, quer seja para o mercado interno ou para exportação. O café em sacas destinado à exportação é acondicionado em contêineres, que são estufados no próprio terminal portuário ou no terminal de carga de uma estação aduaneira de interior, a exemplo do que ocorre hoje em Varginha, no Sul de Minas. Encontra-se em fase experimental o transporte intermodal de café entre Varginha e o porto do Rio de Janeiro, com operação de transbordo rodo-ferroviário no terminal alfandegado de Cruzeiro (SP), seguindo a carga contêinerizada até o porto, pela linha São Paulo Rio de Janeiro, da MRS Logística. Com essa operação integrada pretende-se desafogar o movimento na área portuária, com impactos positivos nos custos logísticos. A demanda de transporte de açúcar ensacado e a granel, no sistema viário de Minas Gerais, atingiu 2,35 milhões de toneladas em 1992, configurando espacialmente uma quantidade expressiva de fluxos de açúcar bruto entre as usinas e refinarias, clientes industriais e centros de Capítulo 1 - Transporte e logística 103 BDMG 40 anos distribuição e das refinarias e centros de distribuição ao comércio varejista. A matriz OD, de 1992, não registra a ocorrência no sistema de transporte de Minas Gerais de fluxos de açúcar para exportação, o que agora ocorre. O transporte do açúcar bruto destinado ao mercado industrial é atendido pela modalidade rodoviária, em função do grande número de usinas e também pelos rígidos prazos de entrega. O açúcar destinado ao varejo também tem sido transportado por caminhão, por se tratar de fluxos extremamente pulverizados. No contexto do sistema de transporte de Minas Gerais, a microrregião de Belo Horizonte se caracteriza como principal pólo de destino dos fluxos de açúcar (totalizando cerca de 900 toneladas em 1992, ou 38% da demanda), ao passo que Ribeirão Preto (SP) tem sido o principal pólo gerador de fluxos de açúcar (30% da demanda) para o mercado mineiro ou de passagem por Minas Gerais, com destino em outros estados. 6.2.3. Energéticos líquidos e gasosos Este agrupamento compreende o petróleo bruto, destinado ao abastecimento da refinaria Gabriel Passos (REGAP), em Betim, além de derivados claros (gasolina e óleo diesel), óleo combustível, querosene, gás liquefeito do petróleo (GLP); álcool anidro e hidratado, para fins carburantes; e, gás natural. A demanda de transporte desse agrupamento era da ordem de 24,5 milhões de toneladas/ano, em 1992, correspondendo a 7% da demanda total de transporte de Minas Gerais. O atendimento a essa demanda é feito através das modalidades rodoviária, ferroviária e dutoviária, conformando uma cadeia logística toda própria, que passou recentemente por profundas transformações, a partir da implantação do poliduto Paulínia Uberlândia Brasília e da desregulamentação do transporte de petróleo e derivados, que implicou na transferência de expressivos fluxos do modal ferroviário para o poliduto e para a modalidade rodoviária. No caso do petróleo e seus derivados, o suprimento de petróleo bruto para as refinarias, a exemplo da REGAP, é feito pela modalidade dutoviária. Junto às refinarias estão instaladas as bases primárias de distribuição de combustíveis; o transporte de derivados de petróleo entre refinarias e bases primárias de distribuição também é feito por dutos. O álcool carburante chega às bases primárias por ferrovia ou caminhão, originário de centros coletores regionais, a exemplo do centro coletor de Ribeirão Preto (SP), que abastece a base de Betim. As bases de distribuição secundária recebem derivados de petróleo e álcool carburante das bases primárias, ou, em certos casos, diretamente da refinaria ou de outra base secundária. A partir das bases secundárias, onde se encontram os centros de distribuição das empresas distribuidoras de combustíveis, o transporte desses produtos para os postos de abastecimento é feito por caminhão-tanque, configurando uma enormidade de fluxos com ampla dispersão espacial. As bases secundárias situadas em Minas Gerais estão instaladas em Betim, Governador Valadares e Montes Claros, sendo abastecidas pela base primária de Betim (junto à REGAP), e em Uberlândia, essa abastecida pela base primária de Paulínia (SP), através do novo poliduto. As regiões da Mata e do Sul de Minas são atendidas pelas bases secundárias instaladas nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Campinas, respectivamente. É importante ressaltar que, até a entrada em operação do poliduto Paulínia - Brasília, também as bases secundárias de Brasília (DF) e Goiânia (GO) eram abastecidas, por ferrovia, pela base primária de Betim. Na primeira metade da década de 90, cerca de 35% do transporte de petróleo e derivados em Minas Gerais eram feitos pela modalidade dutoviária. A ferrovia transportava 17% e os caminhões se encarregavam do atendimento a 48% da demanda total de transporte. Com a 104 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos desregulamentação desse transporte a as mudanças feitas pela Petrobrás em sua cadeia logística, estima-se que 70% dos fluxos ferroviários de petróleo e derivados tenham sido transferidos para a modalidade dutoviária. Os mais carregados pares de origem e destino presentes na matriz de 1992 são discriminados na tabela seguinte, totalizando cerca de 62% da demanda total de transporte de petróleo e seus derivados em Minas Gerais: TABELA 38 PRINCIPAIS FLUXOS DE PETRÓLEO E DERIVADOS - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO Rio de Janeiro Betim 6.969,2 Dutoviário Campinas Uberlândia 1.229,4 Ferroviário (1) Goiânia 494,3 Ferroviário (1) Brasília 945,2 Ferroviário (1) Goiânia 807,9 Ferroviário (1) Rio de Janeiro 755,3 Dutoviário Conselheiro Lafaiete Belo Horizonte 357,8 354,3 Rodoviário Rodoviário Montes Claros 317,3 Ferroviário Governador Valadares 295,0 Ferroviário Vitória 267,6 Rodoviário Ribeirão Preto 252,1 Ferroviário (1) Rio de Janeiro Belo Horizonte 233,2 Rodoviário Uberlândia Rio Verde (GO) 212,1 Rodoviário Betim Total MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL 13.490,9 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. (1) na situação atual, a maior parte desses fluxos foi transferida para o modal dutoviário (através do poliduto Paulínia Uberlândia - Brasília) A demanda de transporte do álcool carburante (anidro e hidratado), segundo a matriz OD-92, era da ordem de 2,75 milhões de toneladas/ano, com elevada participação (cerca de 75%) do modal rodoviário no seu atendimento. O principal fluxo é o de abastecimento da base secundária de Betim pelo centro coletor de Ribeirão Preto, correspondente a 21% do volume total de álcool carburante movimentado naquele ano em Minas Gerais. Cerca da metade desse fluxo era atendida pelo modal ferroviário, com perspectiva de aumento dessa participação, no contexto das mudanças na cadeia logística dos energéticos líquidos. 6.2.4. Indústria do cimento A indústria cimenteira de Minas Gerais, além de atender ao mercado estadual, é responsável pelo suprimento parcial dos mercados paulista e fluminense, gerando uma demanda de transporte bastante volumosa, que, em 1992, era da ordem de 9,4 milhões de toneladas. Desse montante, cerca de 85% correspondia a fluxos de cimento ensacado, 12% de cimento a granel e 3% de clínquer, que é o cimento em forma primária. O atendimento dessa demanda se repartia entre as modalidades rodoviária e ferroviária, responsáveis, respectivamente, por 54% e 46% do volume transportado. Toda a movimentação de cimento a granel, entre as fábricas e os grandes depósitos e terminais, assim como a de Capítulo 1 - Transporte e logística 105 BDMG 40 anos clínquer, era feita por ferrovia. Quanto à movimentação de cimento ensacado, cerca de 64% da tonelagem total era feita por caminhão, cabendo à ferrovia os restantes 36%. Nos fluxos de cimento ensacado entre as fábricas e os centros de distribuição, a ferrovia enfrenta forte concorrência da modalidade rodoviária, enquanto que a distribuição para o comércio varejista e o consumidor final se dá quase que exclusivamente por caminhão. TABELA 39 PRINCIPAIS FLUXOS DA INDÚSTRIA CIMENTEIRA - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL Vespasiano São Paulo 1.321,3 Ferroviário Rio de Janeiro 452,7 Ferroviário Ipatinga (1) 285,1 Ferroviário Ribeirão Preto 279,5 Rodoviário Belo Horizonte 137,3 Rodoviário Campinas 132,0 Rodoviário São Paulo Rio de Janeiro 483,8 356,6 Ferroviário Ferroviário Volta Redonda (1) 157,1 Ferroviário Taubaté 148,5 Ferroviário Passos Ribeirão Preto Campinas 445,2 242,7 Ferroviário Rodoviário Belo Horizonte São Paulo 249,3 Rodoviário Montes Claros Salvador 196,9 Ferroviário 152,7 5.040,8 Ferroviário Barbacena Belo Horizonte Total FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. (1) fluxos de clínquer Os fluxos mais densos gerados pela indústria cimenteira no sistema de transporte de Minas Gerais estão discriminados na tabela anterior e, agregados, correspondem a pouco mais da metade da demanda total de transporte dessa indústria. A movimentação de clínquer corresponde ao suprimento de algumas unidades que não produzem esse produto intermediário, recebendo-o de outras fábricas para a moagem e ensacamento. Mais recentemente, registra-se outro fluxo significativo de clínquer, entre Montes Claros e Brumado (BA), da ordem de 360 mil toneladas anuais. Outro insumo da indústria cimenteira é o calcário, que, em termos de volume, é o principal. Porém, não há geração de fluxos relevantes de transporte desse insumo no sistema viário, pois a maioria das fábricas de cimento estão localizadas junto às jazidas de calcário. A escoria de alto forno, outro insumo importante dessa indústria, tem grande parte de seu transporte, entre as usinas siderúrgicas, principalmente do Vale do Aço, e as fábricas de cimento, majoritariamente atendido pelo modal ferroviário. 6.2.5. Celulose e papel Minas Gerais concentra uma expressiva parcela da demanda de transporte de insumos e produtos da indústria da celulose, que alcançou, em 1992, cerca de 1,26 milhões de toneladas, incluindo 106 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos fluxos de pasta mecânica/celulose (40% da demanda total) e de caulim (correspondente a 60% da demanda total), que é o principal insumo dessa indústria quanto à geração de fluxos de maior distância. Os mais significativos fluxos de transporte da indústria da celulose em Minas Gerais, incluindo insumos e produtos, contidos na matriz OD de 1992, são discriminados na tabela seguinte, cobrindo quase 60% da demanda total. TABELA 40 PRINCIPAIS FLUXOS DA INDÚSTRIA DA CELULOSE - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO MIL TON./ANO Ipatinga Colatina 306,3 Ferroviário 13,1 Rodoviário São Paulo Santos MODO PRINCIPAL 12,8 Rodoviário São Paulo (1) 202,1 Rodoviário Viçosa Campinas (1) 117,3 Rodoviário Belo Horizonte São Paulo 59,0 Rodoviário Cataguases São Paulo 15,0 Rodoviário Piumhi Rio de Janeiro Belo Horizonte 9,9 Rodoviário Curitiba Brasília 8,8 Rodoviário Total 744,3 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. (1) fluxos de caulim (insumo) Os fluxos de exportação da produção da Cenibra, situada na microrregião de Ipatinga, se direcionam para o Espírito Santo. São atendidos majoritariamente por transporte ferroviário, através da Estrada de Ferro Vitória a Minas, e correspondem a 62,6% do volume total de celulose movimentado em Minas Gerais no ano pesquisado. Os demais fluxos de celulose são menos volumosos, correspondendo a vendas/compras de eventual excedente/falta pelas fábricas integradas ou de abastecimento de celulose a fábricas exclusivas de papel. Os fluxos de papel e papelão, que utilizam o sistema de transporte de Minas Gerais, correspondem à distribuição desses produtos no mercado interno, num montante de 1,99 milhões de toneladas no ano de 1992. Tais fluxos, atendidos por caminhão, são bastante pulverizados, destacando-se pela maior densidade, os seguintes pares origem-destino: TABELA 41 PRINCIPAIS FLUXOS DE PAPEL E PAPELÃO - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO São Paulo Brasília MIL TON./ANO MODO PRINCIPAL 115,7 Rodoviário Belo Horizonte Goiânia 99,6 40,1 Rodoviário Rodoviário Aracaju 39,8 Rodoviário Salvador 36,1 Rodoviário Belém 31,4 Rodoviário Uberlândia 23,4 Rodoviário (continua...) Capítulo 1 - Transporte e logística 107 BDMG 40 anos TABELA 41 (Continuação) PRINCIPAIS FLUXOS DE PAPEL E PAPELÃO - MINAS GERAIS - 1992 ORIGEM DESTINO MIL TON./ANO Belo Horizonte São Paulo 65,3 Rodoviário Curitiba Belo Horizonte 50,0 Rodoviário Aracaju 25,2 Rodoviário Rio de Janeiro Brasília Governador Valadares 43,1 25,1 Rodoviário Rodoviário Campinas Goiânia 28,1 Rodoviário Salvador São Paulo 25,1 Rodoviário Total MODO PRINCIPAL 648,2 FONTE: Matriz OD do Plano Multimodal de Transportes, 1994. Esse conjunto de fluxos de maior representatividade volumétrica responde por cerca de 1/3 da demanda total de transporte de papel e papelão no sistema de transporte mineiro. 6.2.6. Carga geral A demanda de transporte de carga geral correspondeu, em 1992, a 28% da tonelagem total de mercadorias movimentadas no sistema de transporte mineiro, estando toda ela, naquela ocasião, concentrada na modalidade rodoviária. Essa movimentação ocorre de duas formas básicas: como carga solta ou como carga unitizada (em contêineres ou paletes), ainda com predominância da primeira, em carregamentos fracionados ou como carga completa. Contudo, a tendência é de crescimento mais acelerado da unitização, devido aos seus impactos positivos na cadeia logística, principalmente em termos de redução de custo e tempo, em especial nas operações de transbordo intra e intermodal. Por não se dispor de dados precisos sobre a movimentação de contêineres em Minas Gerais, e pela sua importância cada vez maior na logística da carga geral, esse segmento relevante dos serviços de transporte está a merecer uma investigação mais ampla e consistente quanto ao seu impacto na infra-estrutura de transportes, magnitude e natureza das quantidades movimentadas e distribuição espacial das mesmas. Sabe-se, contudo, que o segmento de contêineres movimenta cerca de 17 milhões de toneladas anuais nos portos brasileiros, equivalentes a 1,8 milhões de unidades padrão de contêiner (TEU, ou contêiner de 20 pés), com os portos de Santos, Rio de Janeiro e Vitória respondendo, juntos por quase 60% dessa movimentação. O Estudo dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (Consórcio Brasiliana, 2000) estimou que os fluxos de contêineres, nos dois sentidos, entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte e entre Vitória e Belo Horizonte correspondem, respectivamente, a 7% e 5% da movimentação total de contêineres na Região Sudeste do Brasil. É importante considerar que o crescimento das importações, a instalação de estações aduaneiras de interior (EADIs) e a perspectiva de incremento do transporte multimodal reforçam a tendência de aumento da movimentação de contêineres no sistema de transporte de Minas Gerais, em substituição ao procedimento de sua desova nos terminais portuários e o transporte de seu conteúdo para o destino final no interior na forma de carga geral solta. 108 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 7. Transporte urbano na Região Metropolitana de Belo Horizonte 7.1. Mudanças nos Padrões de Mobilidade Seguindo a tendência que se observa em quase todas as metrópoles brasileiras, os padrões de mobilidade da população na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) estão passando por grandes transformações, principalmente a partir de meados da década de 90. Ao mesmo tempo em que se observa um forte crescimento das viagens por modos individuais, sobretudo por automóveis e motocicletas, e os caminhamentos a pé, a procura pelo transporte coletivo vem decrescendo acentuadamente desde 199548 . É também marcante o aumento da competição no mercado de transporte coletivo, com presença crescente do transporte informal por kombis e vans (contida recentemente no Município de Belo Horizonte, mas ainda significativa na Região como um todo) e, provavelmente, dos ônibus fretados. Do ponto de vista da distribuição espacial, o padrão que dominava até alguns atrás, das viagens pendulares da periferia residencial para a Área Central de Belo Horizonte, está sendo progressivamente alterado para incorporar grandes fluxos de deslocamentos por motivo de trabalho e de compras em direção aos centros secundários de serviços, muitas vezes polarizados pelos shopping centers ou centros comerciais dos municípios periféricos. Esses novos pólos de atração e emprego nem sempre apresentam boas condições de acessibilidade pelo transporte coletivo, cujas redes ainda estão muito presas à estrutura radio-concêntrica tradicional. Por outro lado, as rotas diárias das pessoas estão se tornando cada vez mais complexas, constituindo-se em verdadeiras cadeias de viagens que somam motivos de compras, lazer, ensino etc. ao deslocamento diário principal por motivo trabalho. Esse novo padrão, por sua vez, reforça a atração pelo transporte individual, mais flexível, embora de custo social elevado. 7.2. Desafios O padrão de mobilidade que vem se impondo nos últimos anos, apoiado sobretudo no transporte privado por automóvel, apresenta desafios sociais consideráveis. Os principais, entre eles, são os congestionamentos no sistema viário urbano, os acidentes e a poluição do ar, todos se manifestando de maneira crescente na RMBH e representando custos sociais cada vez mais importantes. Os congestionamentos acarretam enormes externalidades negativas para os usuários do transporte coletivo ao reduzir a velocidade operacional dos ônibus e exigir maiores frotas e tripulações para executar o mesmo serviço, o que significa custos e tarifas mais elevados para a população, geralmente de baixa renda, que utiliza esse modo de locomoção. 48 Somente após a divulgação dos resultados finais da pesquisa origem-destino domiciliar de transporte urbano da RMBH, ora em curso, poder-se-á conhecer em detalhes, e com a devida consistência estatística, os padrões atuais de distribuição das viagens. Porém, informações parciais, oriundas de pesquisas operacionais e de levantamentos de rotina feitos por órgãos gestores, já confirmam a tendência de marcantes transformações no comportamento da demanda e nos padrões modais e espaciais das viagens. Uma pesquisa com ex-usuários do sistema de transporte público da RMBH, que fazem suas viagens a pé ou de automóvel, realizada em março de 2000, mostra que 66,7% dos ex-usuários que agora se deslocam a pé e 41,4% dos ex-usuários que passaram a utilizar o automóvel em seus deslocamentos, abandonaram o sistema de transporte coletivo há menos de um ano. Segundo os entrevistados, as principais razões para essa mudança foram o custo( 54,6% dos que passaram a se deslocar a pé) e a economia do tempo de viagem( 50,7% dos que hoje se deslocam de carro). (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos. Estrutura tarifária do sistema de transporte público da RMBH. Belo Horizonte: TECTRAN, 2001, Relatório Final, p.70). Capítulo 1 - Transporte e logística 109 BDMG 40 anos A possibilidade de reverter os problemas da mobilidade por meio de investimentos maciços na ampliação do sistema viário, compatíveis com as altas taxas de crescimento da frota de veículos privados, é muito pequena, não só devido ao grande volume exigido de recursos financeiros, como pelo impacto negativo dessas obras no meio ambiente urbano e, sobretudo, pelo fato desses investimentos realimentarem, em patamares cada vez mais elevados, a demanda de espaço viário que o modelo de transporte privado requer. A experiência internacional mostra que políticas de transporte urbano centradas apenas em investimentos no sistema viário, ao invés de reduzir significativamente os congestionamentos, acabam por estimular a motorização privada e a pressionar ainda mais a demanda por espaço viário, num processo retro-alimentado. 7.3. Prioridade para o transporte coletivo A alternativa mais eficaz e que proporciona maiores benefícios sociais parece ser a de revalorização do transporte coletivo. MOTIVOS PARA A PRIORIDADE NO TRANSPORTE COLETIVO Os congestionamentos crescentes, os elevados índices de emissão de poluentes por veículos e as altas taxas de mortalidade e invalidez por acidentes de trânsito são as manifestações mais aparentes e dramáticas do que está acontecendo com a mobilidade das pessoas nas cidades brasileiras. Já muito graves nas maiores metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, esses problemas estão se propagando rapidamente para as metrópoles secundárias, a exemplo de Belo Horizonte, e os outros grandes pólos urbanos nacionais. Eles significam perdas na qualidade de vida e na eficiência da economia urbana. Por trás desses problemas está um modelo de expansão da mobilidade fortemente apoiado no transporte individual, sobretudo nos automóveis e motocicletas. O índice de motorização privada nas cidades brasileiras aumentou de 9 veículos por 100 habitantes, em 1980, para cerca de 17 em 2000. Para o futuro, a tendência é de crescimento, tendo em vista o aumento das vendas. De 1990 a 2001, as vendas de automóveis aumentaram 128%, enquanto as de motos triplicaram num período bem mais curto, de 1996 a 2000. O transporte coletivo ainda é o responsável pela maioria dos deslocamentos motorizados nas cidades (59% dos passageiros/dia contra 41% do transporte privado). Mas essa participação vem caindo de ano para ano. A continuar essas tendências, as condições inadequadas de congestionamentos, acidentes e poluição podem piorar sensivelmente. Além disso, é de se esperar perdas substanciais na eficiência social das cidades, pois o transporte coletivo apresenta menor consumo de combustível, energia e espaço viário por passageiro, assim como taxas muito menores de emissão de poluentes do que as do transporte privado, como se vê na tabela seguinte. INDICADORES COMPARATIVOS ENTRE ÔNIBUS, MOTOCICLETAS E AUTOMÓVEIS MODO ÍNDICES RELATIVOS POR PASSAGEIRO/KM 1 Energia 2 Ônibus Poluição 3 Custo total 4 Área de via 1 1 1 1 Motocicleta 4,6 32,3 3,9 4,2 Automóvel 12,7 17,0 8,0 6,4 FONTE: ANTP (2002. p11) (1) Ocupação de 50 pessoas por ônibus, 1 por moto e 1,3 por automóvel. (2) Base calculada em gramas equivalentes de petróleo (diesel e gasolina). (3) Monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado (MP). (4) Custos totais, fixos e variáveis. 110 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Observa-se que as motocicletas poluem 32 vezes mais e gastam 5 vezes mais energia por passageiro do que os ônibus. Os automóveis poluem 17 vezes mais e gastam 13 vezes mais energia do que os ônibus. Os ônibus apresentam também maior eficiência do que os automóveis e vans quando se considera a relação entre o espaço viário consumido e a quantidade de passageiros transportados. É o que indicam as cifras seguintes, apuradas pela CNT - Confederação Nacional dos Transportes, para os corredores de transporte de onze grandes cidades brasileiras. ÁREA UTILIZADA E PASSAGEIROS TRANSPORTADOS MODO PASSAGEIROS TRANSPORTADOS POR ÁREA DE VIA ÍNDICE DE EFICIÊNCIA Automóvel = 1,0 Automóvel 1% de via → 0,35% dos passageiros 1,0 Vans e peruas 1% de via → 1,00% dos passageiros 2,8 Ônibus 1% de via → 2,80% dos passageiros 7,9 FONTE: Pesquisa CNT - passageiros nos corredores de transporte, CNT, 2002, p.23. Mas a implementação dessa política de prioridade para o transporte coletivo não é simples. Em função das externalidades negativas dos congestionamentos no sistema viário, de deficiências do modelo institucional de concessões e de ineficiências no processo de gestão e produção de serviços, os custos operacionais e as tarifas do transporte coletivo estão em nível muito elevado em relação à renda da população que se utiliza desse tipo de serviço. Por outro lado, a produtividade - seja medida em passageiros/veículo, seja em termos de passageiros/ quilômetro produzido - tem caído consideravelmente. Por trás desse quadro e, em parte, por causa dele, a demanda está caindo bastante, principalmente nos dois maiores sistemas de transporte por ônibus da RMBH, o municipal de Belo Horizonte (gerido pela BHTRANS) e o intermunicipal metropolitano (gerido pelo DER/MG). Paradoxalmente, do lado da oferta, o que tem acontecido é um incremento constante da quilometragem produzida (apesar das taxas decrescentes nos últimos anos). A maneira usual de atenuar os impactos desse desequilíbrio entre a oferta e a demanda de serviços é o aumento de tarifas. Contudo, devido à alta elasticidade da demanda em relação à tarifa, esse tipo de política acarreta um efeito inibidor ainda maior sobre a quantidade de passageiros transportados. No caso de remuneração dos operadores pelo custo dos serviços prestados, como ocorre no sistema municipal de Belo Horizonte e ocorria até recentemente no sistema gerido pelo DER/MG, o desequilíbrio entre a oferta (e custos) e a demanda dos serviços gerou fortes déficits nas câmaras de compensação tarifária, sob a responsabilidade dos governo municipal e estadual, respectivamente. PROBLEMAS NA ECONOMIA DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE A estrutura tarifária do sistema de transporte público coletivo da RMBH apresenta-se hoje como o resultado de uma desagregação não planejada da antiga estrutura metropolitana. Não há uma política tarifária metropolitana nem mecanismos de compensação entre subsistemas. A integração tarifária ônibus/metrô é um acordo de repartição de receitas entre operadores, no qual cada operador contabiliza a receita que arrecada em suas roletas. Os preços de passagem atualmente em vigor nos principais subsistemas da RMBH estão representados na tabela seguinte: Capítulo 1 - Transporte e logística 111 BDMG 40 anos PREÇOS DE PASSAGEM NO SISTEMA DE TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - JUNHO/2002 Subsistema Gerenciador Tarifas (R$) Belo Horizonte BHTRANS 0,30 a 1,15 Contagem TransCon 1,10 a 1,25 Betim TRANSBETIM 1,10 Sistema intra-municipal demais cidades Pref. Locais ou DER/MG 1,00 a 1,20 Sistema intermunicipal metropolitano DER/MG 1,15 a 4,60 Metrô (unitário) Integração Metrô/Ônibus BH DEMETRÔ-STU/BH - 0,70 1,15 Integração Metrô/Ônibus Contagem - 1,25 Integração Metrô/Ônibus DER/MG - 1,25 a 3,10 FONTES: GECET/BHTRANS (2002) e AMBEL (Deliberação 3/01. Minas Gerais, Belo Horizonte, 21 dez.2001. p.40-43). As receitas arrecadadas têm sido permanentemente insuficientes para cobrir os custos dos serviços especificados. O único subsistema onde existe subsídio é o Trem Metropolitano, uma vez que a diferença entre o custo operacional do serviço e a receita arrecadada pela cobrança de passagens é coberta pelo Governo Federal. A média dessa cobertura, em 1999, foi de 41%. Quanto aos demais subsistemas, a forma de delegação dos serviços às empresas operadoras pelos dois maiores órgãos gestores é diferenciada. O subsistema gerenciado pela BHTRANS, na medida em que se baseia em um contrato que garante a cobertura de custos planilhados, não pressupõe a operação das empresas em regime de mercado. Esse modelo se traduz em um sistema com custos contratados altos, o que, associado à impossibilidade de se definir tarifas compatíveis, leva ao acúmulo de déficits contábeis como o atual, da ordem de R$ 75 milhões (além dos R$53 milhões, arrecadados na licitação dos serviços e que foram canalizados para custeio). No subsistema gerenciado pelo DER-MG, a forma de delegação dos serviços era, até recentemente, bastante semelhante à praticada pela BHTRANS no sistema municipal de Belo Horizonte, com a exceção de não ter sido precedida de processo licitatório. Também nesse subsistema os déficits contábeis foram acumulando, até totalizar R$ 129 milhões, quando foi então modificada a forma de contratação dos serviços. Atualmente, como possíveis déficits não são assumidos pelo poder público, a busca pela eficiência econômico-financeira do sistema provoca mudanças na qualidade do serviço prestado. Qualquer que seja o modelo de contratação dos serviços e, conseqüentemente, de fixação de tarifas, se estas estiverem em patamares elevados, a população mais pobre a que mais necessita de transporte coletivo pode perder sua capacidade de utilizá-lo. Há, portanto, que se encontrar novas formas de contratação de serviços e fixação de tarifas. A evolução da demanda no sistema de transporte coletivo por ônibus dos dois maiores subsistemas da RMBH (BHTRANS e DER/MG) tem se caracterizado pelas quedas sucessivas do número de passageiros pagantes, como pode ser observado na tabela seguinte. Observe-se que, além dos passageiros pagantes, o sistema ainda transporta, gratuitamente (atendendo a disposições diversas), o equivalente a cerca de 12% desses passageiros. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE PASSAGEIROS PAGANTES NOS SUBSISTEMAS MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE E INTERMUNICIPAL METROPOLITANO (GERENCIADO PELO DER/MG) 1995 a 2001 (em mil passageiros/ano) Sistema 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 B. Hte. 556.458,4 548.880,0 532.276,8 518.934,3 480.892,8 446.188,9 417.722,9 DER/MG 285.000,0 288.000,0 292.000,0 286.832,5 256.901,5 236.148,5 221.039,4 TOTAL 841.458,4 836.880,0 842.276,8 805.766,8 737.794,3 682.337,4 638.762,3 FONTES: BHTRANS (2001: 9) para Belo Horizonte e TRANSPORTE...(1998: 7), DER/MG (1999: 47), DER/MG (2001: 21) para DER/MG. 112 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Essa situação, longe de ser uma característica local, tem sido verificada em diferentes regiões e cidades do País. Da análise dos problemas econômicos e institucionais do setor dos transportes coletivos, realizada pela Associação das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em 1998, a partir de pesquisas realizadas em onze das maiores cidades brasileiras, entre elas, Belo Horizonte com sua região metropolitana, pode-se categoricamente afirmar que: Depois de quase três décadas de crescimento, a demanda de transporte público vem apresentando tendência de queda a partir da segunda metade dos anos 80, apenas interrompida em 1995 quando o crescimento da renda decorrente do Plano Real provocou uma súbita expansão da mobilidade urbana (NTU, 1998. 57p.). E a NTU vai um pouco mais longe em sua análise, ao afirmar que parece haver um longo período de perda de mercado do transporte coletivo para o individual, não só nas grandes cidades [brasileiras] como nos principais centros urbanos do mundo (idem). A recuperação de passageiros observada na RMBH a partir de agosto de 2001, graças ao fim dos perueiros, não foi suficiente para interromper a tendência de queda anual constante da demanda. Essa redução de passageiros no sistema de transporte coletivo da RMBH resulta de uma série de questões endógenas e exógenas ao setor, podendo destacar, dentre outros, os seguintes fatores: investimentos insuficientes no transporte sobre trilhos; escassez de investimento nos sistemas sobre pneus; incentivos ao uso indiscriminado do automóvel; o aumento das tarifas acima da capacidade de pagamento; e, a dinâmica de ocupação do solo urbano. Esses fatores vêm estimulando a transferência de passageiros para outros modos como carro, moto, bicicleta ou a pé. Só nas viagens a pé, estima-se que o Brasil tenha dado um salto, em dez anos, de patamares de 20 a 25% para 30 a 50%. Com efeito, as condições atuais de planejamento e operação dos sistemas de transporte e trânsito nas cidades brasileiras não contribuem para a melhoria do transporte coletivo. Por exemplo, a quantificação das deseconomias geradas pelos congestionamentos urbanos em dez cidades brasileiras, entre elas Belo Horizonte, é um alerta para os gerenciadores, conforme pode ser observado em estudo concluído em 1998, coordenado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com a ANTP - Associação Nacional de Transporte Público (ANTP, 1998, 90p.). O congestionamento causa grande impacto no custo do sistema de ônibus, levando à necessidade de se ter em circulação um número adicional elevado de veículos para cumprir a especificação de viagens que precisa ser realizada. No caso de Belo Horizonte, o número adicional de veículos foi estimado em 315, o que equivale a 11,73% da frota total. O impacto estimado no custo operacional é da ordem de 6%, que tem reflexo direto na tarifa e onera, desnecessariamente, a todos os usuários. Fazendo uma comparação com outras cidades, vê-se que a situação em Belo Horizonte é muito pior que a observada em Brasília, por exemplo, onde o impacto do congestionamento é de menos de 1%. Por outro lado, a situação da capital mineira ainda é, de longe, melhor que a observada em São Paulo, onde acontece um impacto de 15,8% no custo operacional e um excesso de frota (3.342 ônibus) que, sozinho, é maior que toda a frota gerenciada pela BHTRANS. Comparando a área relativa que um passageiro de automóvel ocupa com a área relativa ocupada por um passageiro de ônibus, a pesquisa mostra Belo Horizonte e o Rio de Janeiro nas primeiras posições. Para comparar, vale destacar a situação de Campinas, onde o passageiro do automóvel ocupa 6,73 vezes mais espaço (relativo) que o do ônibus, enquanto que em Belo Horizonte esta proporção é de 25,63 vezes e no Rio de Janeiro de 27,60. A partir de uma metodologia especial, no citado estudo foram monetarizadas as deseconomias decorrentes dos congestionamentos nas cidades pesquisadas. Além do impacto no custo operacional acima Capítulo 1 - Transporte e logística 113 BDMG 40 anos relatado, o relatório indica a ocorrência em Belo Horizonte de deseconomias da ordem de R$ 22,5 milhões/ ano, relativas a tempo de viagem, consumo de combustível, poluição e sistema viário. A saída para esse conjunto de problemas e desafios parece estar numa política que, de um lado, proporcione a redução dos custos operacionais e, de outro, estimule o crescimento da demanda por meio da maior atratividade do transporte coletivo. A medida-chave para obter a redução dos custos operacionais é separar a infra-estrutura viária utilizada pelo transporte coletivo das vias destinadas ao tráfego geral e que, atualmente, são ocupadas sobretudo pelo transporte privado. Isso é possível por meio da implantação de uma rede de vias exclusivas para o transporte coletivo, o que permitiria aumentar a velocidade operacional dos coletivos e evitar os impactos negativos, sobre eles, dos congestionamentos. Além de reduzir custos, essa medida contribui para aumentar a atratividade do transporte coletivo ao proporcionar menores tempos de viagem para os usuários. Há muitas maneiras de aumentar a atratividade do transporte coletivo mas, sem dúvida, as principais entre elas implicam em reduzir tempos de viagem, melhorar a regularidade dos serviços e aumentar a cobertura espacial das redes de serviços. Esse último objetivo é particularmente importante e resulta em maior acessibilidade para os usuários dos diferentes setores espaciais da RMBH. A implantação de vias exclusivas para o transporte coletivo no sistema viário urbano tem se mostrado uma medida eficaz para resolver os problemas apontados, aumentar a eficiência dos serviços de ônibus e dotá-los de maiores vantagens competitivas no mercado de transporte urbano. Ao criar infra-estruturas viárias exclusivas para a circulação do transporte coletivo aumenta-se a velocidade dos ônibus, com impactos positivos sobre os tempos de viagem e conforto dos usuários, os custos operacionais, as tarifas e a regularidade/confiabilidade dos serviços. Uma das grandes vantagens das medidas de prioridade para o transporte coletivo por ônibus é o seu baixo custo por quilômetro, quando comparadas, por exemplo, aos metrôs e ferrovias de subúrbio. Entretanto, a questão do custo de investimento não diz respeito apenas à tecnologia modal, mas está relacionada com o grau de segregação da via (e, portanto, de eficiência operacional), com sua capacidade de transporte e com a disponibilidade de terrenos, o que condiciona os gastos com desapropriação. 7.4. Rede metropolitana integrada Atualmente, os serviços de transporte coletivo estão organizados na RMBH em várias redes independentes, de caráter quase autárquico. Cada uma delas é gerida por organizações governamentais que não se articulam entre si e são pertinentes a diferentes sistemas políticoadministrativos. Isso faz com que os usuários do transporte coletivo tenham que se valer de diferentes redes e serviços, muitas vezes sem qualquer coordenação operacional, para atingirem seus objetivos no espaço metropolitano. Como as tarifas são cobradas por linha e uma viagem pode exigir a utilização de várias linhas de sistemas diferentes, a presença de vários serviços independentes acaba por onerar bastante o orçamento de transporte das famílias. 114 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento O sistema de transporte público coletivo da RMBH é constituído por um subsistema sobre trilhos (Trem Metropolitano) e nove subsistemas sobre pneus. Sete são os subsistemas municipais (de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ibirité, Santa Luzia, Pedro Leopoldo e Ribeirão das Neves), enquanto dois subsistemas são gerenciados pelo DER/MG (o subsistema intermunicipal e um subsistema intra-municipal, incluindo todos os municípios metropolitanos que não municipalizaram os serviços locais). BDMG 40 anos ESTRUTURA ATUAL DO TRANSPORTE COLETIVO NA RMBH Vale observar que o único subsistema de maior relevância que não dispõe de um plano estratégico para a orientação das intervenções do órgão gestor é o intermunicipal, gerenciado pelo Estado, embora já tenha sido iniciada a sua elaboração (METROPLAN). Não se considerando os subsistemas de menor expressão, tem-se hoje na RMBH a seguinte distribuição de passageiros transportados por dia útil: DISTRIBUIÇÃO DOS PASSAGEIROS DO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO, POR SUBSISTEMA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - NOVEMBRO DE 1999 SUBSISTEMA (GESTOR) Belo Horizonte (BHTRANS) N.º PASSAGEIROS/DIA ÚTIL 1.544.875 % PASSAGEIROS 61,2 Contagem (TransCon) 69.129 2,7 Betim (TRANSBETIM) 63.784 2,5 Intramunicipais (DER/MG e outros) 49.169 1,9 704.222 27,9 93.373 2.524.552 3,7 100,0 Intermunicipal (DER/MG) Trem Metropolitano (CBTU) TOTAL RMBH FONTE: ESTRUTURA... (2001: 27, 40, 41). Conforme se pode observar, o transporte público coletivo da RMBH é preponderantemente baseado no transporte sobre pneus, responsável por mais de 96% dos passageiros. Sua operação está delegada a agentes privados, em sua quase totalidade, visto ser o Trem Metropolitano o único serviço diretamente operado pelo poder público. Os subsistemas sobre pneus são gerenciados pelo poder público (estadual e municipais), dentro de um espectro organizacional bastante diversificado. O gerenciador pode ser uma empresa pública da administração indireta (como em Belo Horizonte) ou um órgão da administração direta (como em Contagem). Os dois grandes subsistemas da RMBH, que juntos respondem por quase 90% dos passageiros transportados são o subsistema municipal de Belo Horizonte, gerenciado pela BHTRANS, e o subsistema intermunicipal metropolitano, gerenciado pelo DER/MG. Entre eles há uma grande diferenciação de modelos gerenciais, apresentando um quadro bastante complexo que inclui a disputa por passageiros em determinados trechos. Do ponto de vista legal, os subsistemas que promoveram licitação para delegação dos serviços de transporte coletivo por ônibus foram os municípios de Belo Horizonte, Betim e Pedro Leopoldo. Os demais municípios, assim como o subsistema intermunicipal metropolitano, encontram-se, na sua quase totalidade, com contratos vencidos, dependentes de tomada de decisão acerca do início dos respectivos processos licitatórios. O município de Contagem iniciou o seu processo licitatório, mas este foi interrompido por decisão judicial. Capítulo 1 - Transporte e logística 115 BDMG 40 anos No subsistema municipal de Belo Horizonte, as empresas operadoras são subconcessionárias, têm a atribuição de operar lotes de veículos até o ano de 2008 e estão sob a gerência e fiscalização da BHTRANS, que é a concessionária municipal. As tarifas são estabelecidas pelo Poder Executivo Municipal e a compensação de custos e receitas entre as empresas subconcessionárias é feita pelo mecanismo de câmara de compensação tarifária (CCT), gerenciado pela BHTRANS. As intervenções no sistema municipal de Belo Horizonte decorrem do Plano de Reestruturação do Sistema de Transporte Coletivo de Belo Horizonte (BHBUS), que vem sendo implementado pela BHTRANS desde 1998. O BHBUS foi concebido como um sistema tronco-alimentado, com os passageiros das chamadas bacias de alimentação sendo transportados até terminais ou pontos de integração para, daí, serem transportados para os pólos principais de interesse. Por sua vez, a reestruturação do subsistema intermunicipal metropolitano, gerido pelo DER/MG, aguarda a conclusão do Plano Metropolitano de Transportes (METROPLAN), que, como já dito, encontra-se em fase inicial de elaboração. Duas decisões recentes da Assembléia Metropolitana (AMBEL), de dezembro de 2001, alteraram bastante o cenário de gerenciamento do subsistema intermunicipal de transporte. A primeira foi a extinção da CCT metropolitana (transporte intermunicipal), até então administrada pelo DER/MG. Pelos termos da deliberação, o mecanismo de compensação tarifária entre linhas metropolitanas fica substituído pelo mecanismo de equilíbrio interno das regiões operacionais e empresas delegatárias. A medida, acompanhada de realinhamento e reajustamento tarifário das linhas é, na prática, a adoção do modelo em vigor em grande parte do Brasil: a receita auferida nas roletas pertence às empresas e não há mais déficits ou superávits a serem compensados entre empresas e períodos. A segunda decisão da AMBEL relaciona-se à extinção da gratuidade a determinadas categorias de pessoas com deficiência e doença. Tal decisão, que ainda vem sendo interpretada, põe em cheque o único mecanismo metropolitano que ainda resiste funcionando apenas com ajustes técnico-operacionais desde que foi implementado pela METROBEL na década de 1980. Os únicos usuários que ainda utilizam os diversos sistemas de transporte por ônibus de toda a RMBH como uma rede são as pessoas credenciadas com o Cartão Metropolitano de Transporte (CMT). No tocante aos aspectos operacionais de controle dos serviços de transporte coletivo especificados e realizados, ressalte-se que o ano de 2001 foi marcado pelo início da implantação da bilhetagem eletrônica em Belo Horizonte, compatível com o sistema implantado nas estações do Trem Metropolitano. Também em 2001, Betim inaugurou seu sistema de bilhetagem eletrônica, estando o DER/MG e a Prefeitura de Contagem em fase de especificação dos seus. A solução para isso consiste em constituir uma rede metropolitana integrada de serviços de transporte, mesmo que de sua operação participem diferentes categorias modais (ônibus, trens, vans etc.) e organizações. Os serviços seriam tarifados com base no tempo de acesso a essa rede de transporte (e não mais por linha) e, sempre que possível, seriam implantados mecanismos de coordenação operacional entre linhas e sub-sistemas modais. A integração tarifária da rede poderia ser feita com base num sistema de bilhetagem automática (como o que se encontra em implantação em Belo Horizonte), dispensando os grandes investimentos em terminais fechados geralmente requeridos pelas soluções convencionais. Uma rede integrada de tais dimensões pressupõe uma certa hierarquização operacional, a fim de evitar excessiva superposição de linhas em determinados eixos viários, o que aumenta os custos totais do sistema de transporte e reduz a velocidade comercial dos coletivos, mesmo com a implantação de vias exclusivas. Assim, ao lado da implantação de uma sub-rede mínima de corredores metro-ferroviários de alta capacidade (programa já em desenvolvimento, envolvendo as linhas Eldorado-Venda Nova, em fase de conclusão, e CalafateBarreiro, em obras), deve ser necessário um conjunto articulado de linhas-tronco rodoviárias nos principais eixos das bacias de transporte, alimentadas por linhas de menor capacidade nas áreas periféricas de demanda mais rarefeita. 116 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento A implantação de uma rede integrada como a descrita envolve um amplo acordo entre as áreas e esferas de governo que administram os serviços de transporte e entre os concessionários privados vinculados a cada uma delas. Para que esses acordos sejam viáveis, é possível que o número de gestores e operadores tenha que ser reduzido por meio da constituição de consórcios, fusões e convênios, o que, por si só já resulta em economia de custos operacionais. Nessa reforma institucional, é de fundamental importância rever o papel das organizações estatais - que devem se constituir como reguladores e definidores dos objetivos estratégicos a serem alcançados pelo sistema de transporte - e das empresas privadas concessionárias, que precisam ganhar maior autonomia para as decisões operacionais e, em contrapartida, assumir, em maior proporção, os riscos de demanda. De qualquer maneira, haverá necessidade de uma entidade governamental, de caráter executivo, que faça a coordenação geral das políticas de transporte. Há várias soluções para isso, mas todas elas supõem a existência de um sólido sistema de apoio à tomada de decisões, nos moldes de um colegiado, no qual se assegure a participação efetiva das Prefeituras Municipais nas decisões da política de transporte. BDMG 40 anos 7.5. Mudanças na gestão do transporte coletivo 7.6. Coordenação transporte-trânsito Qualquer atuação governamental relativa à reestruturação do transporte coletivo na RMBH não se viabilizará sem um sistema coordenado de planejamento e operação do trânsito, hoje tarefas à cargo das Prefeituras Municipais, com o apoio de organizações estaduais (Polícia Militar, DETRAN, etc.). Isso porque o transporte coletivo opera no sistema viário e, mesmo dispondo de vias exclusivas e segregadas para parte de suas linhas, sempre terá a maior parte de suas ligações em tráfego misto, além de muitas interfaces das vias exclusivas com as vias onde flui o tráfego geral. Além disso, metas sociais importantes como a redução dos acidentes e o controle da emissão de gases poluentes pelos veículos dependem estreitamente das políticas de operação e fiscalização do trânsito. A eficiência de tais políticas se vê bastante reduzida quando as municipalidades adotam critérios conflitantes para a sua intervenção, principalmente tratando-se do controle do tráfego no sistema arterial metropolitano. 7.7. Articulação do transporte urbano com os sistemas de longa distância Outro foco importante na tentativa de integrar as estratégias de mobilidade na RMBH é a articulação dos sistemas municipais e metropolitanos de transporte urbano de passageiros com os sistemas de transporte de longa distância (sobretudo rodoviários e aéreos). Nesse sentido, é da maior importância a implantação de uma rede descentralizada de terminais (estações rodoviárias, terminais aeroviários, etc.), articulada com os eixos principais da rede metropolitana de transporte coletivo. A implantação de grandes terminais deve ser evitada, sempre que possível, não só pelas dificuldades de acesso e gestão, mas, sobretudo, pelos impactos negativos que trazem para a circulação nos trechos lindeiros do sistema viário metropolitano. Capítulo 1 - Transporte e logística 117 BDMG 40 anos 8. Questões setoriais e perspectivas 8.1. Questões setoriais relevantes A análise comparada das características e condicionantes atuais da oferta e demanda de infraestrutura e serviços de transportes evidencia um conjunto de questões setoriais que se encaixam em cinco diferentes dimensões e que têm repercussões significativas no cenário futuro do setor. Evolução espacial da demanda de transporte O objetivo-síntese de um sistema de transporte é a equalização do diferencial econômico e espacial entre demanda e oferta de bens e serviços, ou seja, fazer a conexão de centros de produção e de consumo, geograficamente separados. A interiorização do desenvolvimento econômico, a expansão e modernização da agricultura nos cerrados, a reconfiguração da rede de cidades e a abertura de novos mercados, características marcantes da nova geografia econômica brasileira (e que se reproduzem, em escalas distintas, em Minas Gerais), intensificam o comércio inter-regional e modificam as densidades e a conformação espacial dos fluxos de transporte. Como a infraestrutura viária, com seus atributos de indivisibilidade e baixa flexibilidade, costuma responder com lentidão aos requerimentos dessa nova demanda, passa a se constituir um forte obstáculo ao desenvolvimento regional. Nesses casos, a formulação e implementação de um planejamento regional integrado, levando em conta, de maneira pró-ativa, as demandas de transporte, constitui um dos maiores desafios para os governos e agentes regionais envolvidos. É sabido que, quando a infra-estrutura de transporte não funciona adequadamente, isso se reverte nas atividades econômicas, provocando perda de competitividade para os produtos da região e reduzindo suas vantagens locacionais para atração de novos empreendimentos. É nesse contexto que, dentre outras, se inserem as demandas infra-estruturais presentes no Noroeste Mineiro, nos pólos de fruticultura e agricultura irrigada do Norte de Minas, no Pontal do Triângulo, etc., dentre outras áreas de fronteira, relacionadas à pavimentação de rodovias, abertura ou dinamização de ferrovias, acesso às hidrovias com implantação em curso, dentre outras necessidades. Ademais, como já ressaltado, cerca de 263 sedes municipais ainda não dispõem de acesso pavimentado à rede rodoviária principal do Estado, dificultando, sobremaneira, a acessibilidade de seus habitantes aos serviços sociais básicos que, quase sempre, se concentram nos pólos microrregionais, além do escoamento da produção local e o acesso de insumos. Estado de conservação e operação da infra-estrutura instalada Demonstrou-se, anteriormente, as condições precárias de conservação e operação da infraestrutura de transporte, em diferentes regiões e modalidades. No modal rodoviário, a degradação dos pavimentos e a redução dos níveis de serviço espelham, além de um padrão de gastos com manutenção rodoviária aquém da magnitude da rede: a já avançada idade dos pavimentos, principalmente nas rotas principais mais carregadas; as deficiências construtivas de muitos trechos rodoviários; 118 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento a utilização inadequada dos caminhões que, em muitos casos, circulam com sobrecarga; BDMG 40 anos o peso elevado de grande parte das cargas geradas pelo setor produtivo mineiro; as limitações de capacidade viária nos segmentos mais demandados; a falta de adequado planejamento para o gerenciamento da rede, a centralização das decisões e as freqüentes descontinuidades dos programas de adequação e recuperação viária, que fazem com que as condições dos pavimentos se degradem em curto espaço de tempo49 . Assim sendo, é imperativo que se estruturem e implementem modelos de gestão rodoviária mais competentes e eficazes, viabilizando ações permanentes de manutenção corretiva e preventiva da rede rodoviária, de modo a aumentar a vida útil da infra-estrutura viária, para seu aceitável desempenho econômico, além de reduzir os custos operacionais dos veículos e garantir condições de segurança e conforto aos usuários. Do lado do modal ferroviário, apesar das intervenções já levadas a efeito pelas novas concessionárias, no sentido da recuperação do sistema, persistem problemas localizados, principalmente em rotas de menor densidade, a exemplo de: linhas com deficiências de traçado e perfil, incompatíveis, muitas vezes, com o material rodante utilizado, restringindo a capacidade de vazão do sistema; deficiências de tração e altas taxas de imobilização de locomotivas e vagões, reduzindo a capacidade de transporte do sistema; vias, equipamentos, sistemas de controle e instalações operacionais com problemas de manutenção, também contribuindo para reduzir a capacidade de transporte. Um estudo divulgado durante as comemorações dos dez anos do Programa Nacional de Desestatização (BNDES, 2000b), elencou uma série de ações que, além dos investimentos em modernização infra-estrutural, precisarão ser implementadas pelas concessionárias de ferrovias para que esse modal possa alcançar uma participação mais representativa na matriz de transporte de cargas: gestão comercial agressiva, visando alcançar novos clientes e negócios, incluindo o segmento de carga geral unitizada; desenho e implementação de esquemas operacionais adequados às reais necessidades logísticas dos clientes; uso de equipamentos apropriados para conferir maior produtividade às operações; garantia de maior confiabilidade e regularidade nas operações; acordos de parceria com outros agentes (empresas do setor rodoviário, operadores logísticos, terminais portuários, etc.) para viabilizar e incrementar operações door-to-door (coleta e entrega). No tocante à infra-estrutura aeroportuária, é importante destacar os problemas de sobrecarga que ocorrem no aeroporto de Belo Horizonte Pampulha, concomitantemente a uma situação crônica de ociosidade no aeroporto internacional de Confins Tancredo Neves. Esse problema exige uma solução integrada e com foco ampliado, que leve em conta os novos conceitos de gestão e uso de instalações aeroportuárias, e permita um equacionamento definitivo dessa questão, atendendo aos 49 No curto espaço de um ano (entre 2000 e 2001), as rodovias federais mineiras passaram de 23,6% em más condições para 46%, enquanto aquelas classificadas em bom estado caíram de 30,6% para apenas 10,9% (conforme demonstra o sistema de gerência de pavimentos do extinto DNER). Capítulo 1 - Transporte e logística 119 BDMG 40 anos diferentes interesses dos setores produtivos e do trade turístico de Minas Gerais e contribuindo para o desenvolvimento regional de seus entornos. Ademais, também o aeroporto de Uberlândia está a requerer adequações infra-estruturais no sentido de compatibilizar a oferta instalada ao aumento da demanda de transporte aéreo de passageiros e cargas em sua área de influência. Ineficiências logísticas e dificuldades de integração intermodal A preocupação mais recente com a competitividade de indústrias e regiões tem levado a reavaliação das estruturas de divisão modal de cargas e passageiros, colocando na ordem do dia o transporte multimodal, enquanto elemento de estruturação de cadeias logísticas mais eficientes e de menor custo50 . Embora já se possa observar alguns exemplos de arranjos logísticos intermodais no atendimento a algumas cadeias produtivas mineiras, essas iniciativas ainda esbarram em questões infra-estruturais e regulatórias que levam a persistência de custos elevados e a processos complexos de transporte. Essas questões decorrem da inexistência ou deficiências nas interfaces modais, envolvendo a infra-estrutura viária, equipamentos e sistemas, bem como das dificuldades de integração de diferentes modalidades nos planos físico-operacional, gerencial e documental. Como já ressaltado anteriormente, dificuldades de conexão entre as malhas ferroviárias regionais, pelas diferenças de bitola, que impõem custos adicionais de transbordo que nem sempre podem ser internalizados, ou por aspectos operacionais e comerciais envolvidos no relacionamento entre concessionárias, restringem o transporte ferroviário a distâncias médias inferiores ao economicamente recomendado, minimizando ou mesmo eliminando as vantagens de custo inerentes a esse modal e inviabilizando operações intermodais rodo-ferroviárias nas rotas de maior distância. A efetiva regulação do trackage right, ou seja, o direito de uma concessionária de ferrovias usar a linha de uma outra, com regras claras e firmes quanto a preço e ordem de prioridade, certamente contribuiria para tornar o transporte ferroviário mais competitivo, pois a distância média entre operações de carga e descarga poderia ser bem maior do que a atual. Por outro lado, deficiências e burocracia, ainda não de todo eliminadas, em operações portuárias, realizadas em outros estados, e em terminais internos de transbordo e armazenagem de cargas, além do não equacionamento de aspectos processuais e tributários associados à atuação do Operador de Transporte Multimodal (OTM), continuam ou a desestimular operações dessa natureza ou a elevar os custos logísticos a níveis inaceitáveis. Tais problemas são verificados em diferentes cadeias produtivas, mas impactam sobremaneira aquelas cadeias geradoras de cargas de menor valor agregado, comuns na economia mineira, reduzindo a competitividade de seus produtos nos mercados doméstico e internacional. Em síntese, as principais dificuldades relacionadas a uma maior eficiência nas operações logísticas, em especial naquelas envolvendo mais de um modal de transporte, tem sido: custos elevados e processos operacionais, regulatórios e documentais complexos; indisponibilidade ou ineficiência dos sistemas de informação e comunicação associados às operações de transporte e armazenagem; equipamentos inadequados e insuficientes, em especial nos terminais intermodais. 50 120 Dentre os pré-requisitos para a exploração das vantagens econômicas potenciais da multimodalidade, se incluem a oferta de trens unitários dedicados; contêineres e trailers especializados; terminais e equipamentos funcionalmente apropriados; tecnologia da informação e recursos gerenciais devidamente motivados e treinados e distância de transporte adequada. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento Investimentos em infra-estrutura e serviços de transporte normalmente requerem longo tempo de maturação dos projetos e elevada disponibilidade de recursos financeiros, o que levou a uma forte e crescente presença governamental na provisão e manutenção das redes físicas e mesmo na operação de serviços. Contudo, a partir da crise macroeconômica que marcou o início da década de 80, provocando uma drástica queda do crescimento econômico e dos investimentos, o setor de transportes foi cada vez menos beneficiado na repartição dos recursos públicos destinados à infraestrutura econômica. A necessidade do controle inflacionário, por outro lado, BDMG 40 anos Financiamento dos investimentos setoriais .... levou à adoção de rígidos controles de preços e tarifas públicas, bem como à desvinculação de impostos e taxas anteriormente destinados ao setor, com a conseqüente redução da capacidade de manutenção do patrimônio em todos os subsetores de transporte. A deterioração setorial também se estendeu do patrimônio físico para o aparato institucional governamental, que não se estruturou para lidar com as novas questões e desafios setoriais, advindos das mudanças de prioridades e de forma de atuação governamental em curso na década de 90, a partir das novas definições constitucionais de 1998 (Castro, 2001: p. 35). Assim, com os investimentos públicos em queda, as redes infra-estruturais e de serviços em processo de degradação e os custos logísticos em alta, iniciou-se no País um processo de reestruturação do setor de transportes, o qual se intensificou a partir da segunda metade dos anos 90. As reformas empreendidas visam modificar o padrão de organização e financiamento setorial, aumentando a participação privada na provisão de serviços e descentralizando a gestão de infraestruturas e serviços para os governos estaduais e municipais. Passados quase dez anos de seu início, consolidado o processo de reestruturação setorial, chegou-se à situação atual, em que toda a rede de transporte ferroviário de cargas se encontra transferida para concessionárias privadas, com muitas implicações na organização e no funcionamento do sistema de transportes de Minas Gerais. A operação portuária já é quase inteiramente privada e está se concluindo o processo de arrendamento das principais áreas nos portos públicos a operadores privados, além de se permitir o uso misto em terminais portuários privativos. As mudanças nas estratégias organizacionais e de financiamento das operações portuárias, levadas a efeito a partir da Lei de Reforma e Modernização Portuária de 1993, têm gerado impactos, quase sempre positivos, nos setores produtivos mineiros que fazem uso dos principais portos e terminais portuários da região Sudeste em suas operações de comércio exterior. Por outro lado, os programas de concessão rodoviária, com cobrança de pedágio, avançaram em alguns eixos rodoviários federais e em malhas estaduais (principalmente em São Paulo e no Paraná), proporcionando a recuperação da infra-estrutura viária e elevando o padrão operacional das rodovias incluídas. Porém, não se verificam impactos positivos diretos dessa política na malha rodoviária de Minas Gerais, pois apenas o pequeno trecho entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro, da rodovia BR 040, está incluído nos programas de concessão já implantados. Concluída a primeira fase do processo de reestruturação setorial em curso, encontram-se consolidados os mecanismos alternativos que permitiram a recuperação das condições operacionais de sistemas e segmentos específicos e, a partir daí, a busca do autofinanciamento setorial e de ganhos de eficiência proporcionados pela gestão privada. Por outro lado, a par de se prosseguir nessa diretriz de política, expandido-a e aperfeiçoando-a, há que se considerar duas questões pendentes, da mais alta relevância no que se refere ao financiamento setorial, quais sejam: será preciso criar condições adequadas, transparentes e estáveis para a atuação privada na provisão infra-estrutural de transportes, enquanto pré-requisito indispensável para atrair novos agentes e recursos financeiros para permitir a expansão da capacidade do setor. Para Castro (2001: p. 34), Capítulo 1 - Transporte e logística 121 BDMG 40 anos ..... passada a atual fase de privatização de ativos existentes, em que os riscos de mercado são relativamente menores e os riscos das fases de implantação ou construção quase inexistentes, o sucesso de novos projetos (greenfield projects) vai depender essencialmente do correto desempenho público. Em particular, os novos projetos de transportes parecem exigir condições de atratividade diferenciadas vis-à-vis outros setores de infra-estrutura, tais como os setores de energia e telecomunicações 51 . Em muitas situações, poderão vir a ser necessárias alternativas novas de parcerias públicoprivado para o financiamento de projetos, permitindo aos agentes privados alcançar uma determinada e atrativa rentabilidade financeira, compatível com os riscos assumidos, e, ao setor público, a rentabilidade econômica e social do projeto. Nesses casos, trata-se de distribuir riscos e benefícios entre todos os agentes direta ou indiretamente intervenientes no financiamento do empreendimento 52 ; a alternativa de autofinanciamento do setor faz com que as decisões de expansão da capacidade infra-estrutural, de oferta de serviços e de preços sejam determinadas por uma lógica privada e pelas condicionantes e estratégias próprias de cada empresa concessionária. Assim não se resolve a questão do financiamento dos investimentos em expansão e manutenção da maior parte da rede de transporte, notadamente da rede de rodovias que, pelo menor volume de tráfego ou por desempenharem funções de suporte à expansão de áreas de fronteira, não se mostram atrativas para a exploração privada, devendo permanecer sob a tutela direta do poder público 53 . De fato, para as redes viárias interurbanas, e mesmo para as redes de transporte metropolitano, que, não obstante as vantagens do modelo de auto-financiamento, devem permanecer sob a tutela governamental direta, pelos motivos antes expostos, será preciso garantir fontes seguras e consistentes de recursos públicos. Esses recursos devem permitir sua manutenção e expansão no ritmo requerido pela demanda de transporte, ao mesmo tempo possibilitar que se estruture modelos mais eficazes de gerenciamento da infra-estrutura viária e serviços de transportes. A contribuição de intervenção no domínio econômico e o financiamento de programas de infra-estrutura de transporte Mesmo ocorrendo uma maior participação do financiamento privado na provisão e manutenção da infra-estrutura e serviços de transportes, os governos, certamente, continuarão sendo uma importante fonte de recursos para o setor. O modelo de financiamento com recursos públicos vinculados, criado, em 1945, no Brasil, e que permitiu a expansão e manutenção da infra-estrutura de transportes de um modo geral, e o 51 52 53 122 Vale ressaltar que os riscos de exploração de rodovias concedidas podem ser aumentados caso se concretizem mudanças significativas nas características da atual matriz de distribuição intermodal do transporte de cargas, acarretando perdas expressivas de participação do modal rodoviário. Um modelo dessa natureza poderá ser a alternativa para se garantir a implementação de alguns projetos importantes em Minas Gerais, a exemplo da ligação ferroviária Pirapora-Unai, beneficiando o Noroeste Mineiro e porções do Planalto Central, ou da duplicação da rodovia de ligação de Belo Horizonte ao Vale do Aço. Esses dois são exemplos de projetos que não têm demonstrado viabilidade sob a ótica exclusivamente privada, a par de sua elevada importância econômica e social. A ausência de mecanismos de financiamento público para a provisão e manutenção da infra-estrutura de transporte de regiões ou segmentos modais que não atraem o investimento privado, tem também implicações indesejáveis quando se busca uma estratégia de desenvolvimento regional equilibrado, pois, como alerta Diniz (2000: p. 34), tendo as privatizações da infra-estrutura ocorrido principalmente nas regiões mais desenvolvidas, a possibilidade de modernização e expansão desta ampliaria a quantidade e qualidade da oferta, facilitando a atração de novos investimentos para a região. Ao contrário, as regiões pobres ou vazias, para as quais não há interesse na privatização, tenderiam a aumentar o fosso na oferta de infra-estrutura, contribuindo para manter ou aumentar as desigualdades regionais . Para maiores detalhes, ver DINIZ, Clélio Campolina. A nova geografia econômica do Brasil: condicionantes e implicações. Rio de Janeir: XII Fórum Nacional, 2000. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos subsetor rodoviário em particular, se esgotou a mais de uma década. No período de sua vigência, o governo federal e muitos governos estaduais implementaram programas de reestruturação setorial, nos quais buscou-se ampliar a participação do setor privado na provisão da infra-estrutura e dos serviços de transporte, por meio de contratos de concessão de serviços e ou de arrendamento de ativos, principalmente nos modais ferroviário e aquaviário de transporte e na infra-estrutura portuária, além de trechos de rodovias exploradas sob pedágio. Porém, a maior parte da rede rodoviária, sob jurisdição dos governos federal e estaduais, assim como os sistemas de transporte metro-ferroviários, além de outros segmentos da infra-estrutura aquaviária, ferroviária, portuária e multimodal, que não apresentam atratividade para viabilizar o empreendimento privado, continuam dependentes da alocação de recursos públicos orçamentários, disputados por diferentes setores econômicos e sociais, com suas mais variadas demandas. Um modelo alternativo para o financiamento da infra-estrutura de transporte, baseado na vinculação de recursos específicos, está sendo gestado a partir da instituição da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool etílico combustível, nos termos previstos nos artigos 149 e 177 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional no. 33, de 11 de dezembro de 2001. Segundo seus idealizadores, esse modelo alternativo de financiamento setorial baseia-se no princípio da contribuição do usuário, recolhida para pagamento dos serviços que lhe são prestados. Tudo de acordo com extensa literatura sobre a matéria e a longa e bem sucedida experiência internacional. Consideram que a alternativa viável de contribuição dos usuários para ressarcir o Poder Público dos custos de conservação, operação, e adequação da malha rodoviária e de outras infra-estruturas de transporte que se enquadrem no mesmo caso, é a cobrança de tributos, taxas e contribuições sobre os insumos utilizados por esses mesmos usuários. Dos insumos, os principais são os combustíveis, tanto em razão do volume utilizado, como pelo fato de serem aqueles que melhor representam a quantidade de uso das vias, conforme demonstra fartamente a experiência internacional e brasileira (Resende, 2001). O art. 177, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda no. 33, e o § 1o. do art. 1o. da Lei n . 10.336, de 19 de dezembro de 2001, estabelecem que o produto da arrecadação da CIDE será destinado, na forma da lei orçamentária, ao: i) pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo; ii) financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; iii) financiamento de programas de infra-estrutura de transportes. A citada Lei no. 10.336, de 19 de dezembro de 2001, que instituiu a CIDE, passou a produzir efeitos a partir de 1o. de janeiro de 2002. Dessa data em diante, iniciou-se a arrrecadação pertinente, ainda sem contar com critérios e diretrizes formais para orientar a aplicação dos recursos arrecadados, tudo com base no § 2o. da mesma lei, que estipula que durante o ano de 2002, será avaliada a efetiva utilização dos recursos obtidos da CIDE, e, a partir de 2003, os critérios e diretrizes serão previstos em lei específica. O valor estimado da arrecadação da CIDE, em 2002, é da ordem de R$ 7,25 bilhões. o Por iniciativa da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, foi elaborado, e encontrase em tramitação, em regime de prioridade, o Projeto de Lei no. 6.770, de 9 de maio de 2002, que estabelece os critérios e diretrizes para a aplicação dos recursos arrecadados por meio da CIDE e cria o Fundo Nacional de InfraEstrutura de Transportes FNIT, destinado a financiar programas de infra-estrutura de transportes. O projeto de lei dispõe que os recursos do FNIT, basicamente originários de uma parcela do total arrecadado pela CIDE (estimada em R$ 6,35 bilhões/ano, tomando como base uma arrecadação anual total de R$ 8,0 bilhões), se destinam ao pagamento de despesas relacionadas com investimentos, inclusive estudos e projetos, inversões financeiras e atividades de fiscalização e regulação, devendo os mesmos ter aplicação multimodal, na forma da Lei Orçamentária Anual e atendendo aos objetivos e prioridades estabelecidos na lei que o criou. Segundo o projeto de lei ora em tramitação na Câmara dos Deputados, a aplicação de recursos do FNIT terá como objetivo essencial a redução do consumo de combustíveis automotivos, o atendimento mais econômico da demanda de transporte de pessoas e bens, a segurança e o conforto dos usuários, a diminuição do tempo de deslocamento dos usuários do transporte público coletivo, a melhoria da qualidade de vida da população, a Capítulo 1 - Transporte e logística 123 BDMG 40 anos redução das deseconomias dos centros urbanos e a menor participação dos fretes e dos custos portuários e de outros terminais na composição final dos preços dos produtos de consumo interno e de exportação. Estabelece também que os recursos do FNIT serão aplicados em programas de infra-estrutura aquaviária, ferroviária, portuária, rodoviária e multimodal, de responsabilidade da União, inclusive nos seus componentes delegados a Estados, ao Distrito Federal e a Municípios, na seguinte ordem de prioridade: i) atividades de planejamento, pesquisas, estudos e projetos, regulação e fiscalização; ii) manutenção, restauração e reposição do patrimônio constituído por ferrovias, hidrovias, rodovias, sistemas ferroviários metropolitanos, portos e terminais; iii) eliminação de pontos críticos quanto à segurança, na rede viária e terminais; iv) melhoramento e ampliação da capacidade de vias e terminais existentes; v) construção e instalação de novas vias e terminais, priorizando a conclusão de empreendimentos iniciados. Prevê, ainda, que recursos do FNIT poderão ser também aplicados na complementação de investimentos em projetos de infra-estrutura metropolitana e urbana de transportes, de responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em percentual não inferior a 25%, mediante convênios que estabeleçam as contrapartidas locais e formas de execução dos respectivos empreendimentos. O Projeto de Lei no. 6.770, de 9 de maio de 2002, estabelece também uma importante diretriz de política setorial. Estipula que a administração da infra-estrutura viária federal e a operação dos transportes sob controle da União serão exercidas preferencialmente de forma descentralizada, promovendo-se sua transferência, sempre que possível, a entidades públicas e outros entes da Federação, mediante delegação, ou à iniciativa privada, mediante regime de concessão, permissão ou autorização. Outro ponto importante proposto pelo legislador no citado projeto de lei é a vedação de quaisquer limitações ou contigenciamentos orçamentários ou financeiros dos recursos decorrentes da CIDE e destinados aos fins especificados no inciso II do § 4o. do art. 177 da Constituição Federal. Modelos institucional e regulatório do setor Em todo o mundo, a gestão dos transportes vem passando por profundas transformações, basicamente visando a redução das impedâncias ao fluxo contínuo e desimpedido de pessoas e mercadorias, principalmente ..... através da integração de operadores, por intermédio de fusão entre empresas ou de alianças estratégicas, assim como de investimentos em terminais e equipamentos especializados em agilizar as mudanças de modo e/ou veículo, nas interfaces entre os diferentes sistemas de transporte. Ferrovias, portos, empresas aéreas, rodoviárias e de navegação estão abandonando suas práticas modais tradicionais para se integrarem a sistemas de prestação de serviços multimodais, com uso intensivo dos recursos modernos de comunicação (Castro, 2000: p. 3). No Brasil, esse processo, que chegou mais tarde, já na década de 90, acontece impulsionado pelo movimento recente de ampliação do papel do setor privado na provisão da infra-estrutura e dos serviços de transporte e se insere em um ambiente de integração econômica mundial em que a minimização dos custos logísticos e o aumento da eficiência operacional dos serviços passaram a ser elementos determinantes de competitividade. Contudo, mesmo nesse novo ambiente organizacional, persistem certas características econômicas dos transportes que fazem com que o setor continue a demandar algum tipo de intervenção governamental, seja provendo ou mesmo operando infra-estruturas, como fez de forma intensiva no passado recente, seja regulando as atividades privadas no setor, que agora se renovam e ampliam. É importante repetir que a instituição e administração de novos marcos regulatórios será, daqui para frente, um dos principais papéis do governo no setor de transportes, devendo-se essa regulação se voltar 124 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos ..... principalmente para os segmentos com características monopolísticas dessa rede de serviços, e ser entendida tanto no sentido clássico de controles sobre a estrutura de propriedade, entrada de novas empresas, condições de oferta e de preços, mas também no sentido mais amplo de procurar atenuar falhas de mercado, principalmente oriundas de externalidades de rede e ambientais (Castro, 2000: p. 4). Ademais, tendo em vista a multiplicidade de participações e interesses na propriedade e exploração das redes de transporte e o grande número de ligações de competitividade e complementaridade dos diversos segmentos que caracterizam os sistemas de transporte, à função pública de regulação deve-se incorporar a missão de monitoramento da dinâmica do mercado de transportes, com o intuito de buscar elementos de indução dos agentes privados a decisões mais próximas do interesse público, como ressalta Castro (2000: p.5). Castro também destaca que o planejamento multimodal indicativo e o estabelecimento de mecanismos de apoio ao financiamento privado são fundamentais para que se possa atenuar os riscos de interdependências associados aos novos projetos de investimento. No plano federal, com profundas implicações no sistema de transporte de Minas Gerais, tendo em vista a forte presença de infra-estruturas e serviços de propriedade e, ou regulados pela União em sua estrutura físico-operacional, a edição da Lei no. 10.233, de 5 de junho de 2001, que dispõe sobre a ordenação dos transportes terrestre e aquaviário, nos termos do art. 178 da Constituição Federal, reorganiza o gerenciamento do Sistema Federal de Viação e regula a prestação de serviços de transporte. Essa Lei cria o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, o que constitui o primeiro passo no sentido da reestruturação dos modelos institucional e regulatório do setor. Por outro lado, tendo em vista as implicações diretas das transformações em curso no plano estadual, e mais, com a plausibilidade de se intensificar o programa de estadualização de infraestruturas e serviços que ainda se encontram sob a responsabilidade da União, a exemplo do Trem Metropolitano de Belo Horizonte e de grande parte da rede rodoviária federal, há que se viabilizar o necessário rebatimento do processo de reestruturação dos modelos institucional e regulatório no aparelho estadual encarregado da provisão e do gerenciamento do setor transporte. 8.2. Recomendações para uma nova política estadual de transportes Para a formulação e a condução de uma nova política estadual de transportes, além de um consistente diagnóstico das condições atuais de oferta e demanda, há que se levar em conta o profundo relacionamento do setor de transportes com os macrossistemas socio-econômico e político, o perfil setorial e espacial da economia mineira e sua inserção nos mercados nacional e internacional, além do padrão de desenvolvimento das diferentes regiões do Estado. Será também necessária uma prévia e clara definição dos papéis do Estado e dos demais agentes públicos e privados envolvidos com as atividades de transporte54 . Ademais, há que se conceber estratégias e processos novos, seja para garantir a provisão e manutenção da infra-estrutura, seja para a regulação dos serviços de transportes delegados, sempre em conformidade com as melhores práticas. Cinco idéias-força condicionam as diretrizes de política adiante propostas para orientar a gestão setorial, quais sejam: 54 Mesmo com a consolidação do processo em curso de reestruturação setorial, em que se reservam importantes papéis para os agentes privados, o Estado continuará desempenhando papéis relevantes, na regulação econômica, técnica e ambiental e, em muitos casos, no provimento e no financiamento direto do sistema infra-estrutural, particularmente naqueles em que as externalidades e as complexidades econômicas e institucionais desencoragem os investimentos privados. Capítulo 1 - Transporte e logística 125 BDMG 40 anos 1. ao Governo Estadual cabe, além de sua responsabilidade precípua na provisão e manutenção da infra-estrutura e na regulação dos serviços delegados, que lhe compete por imposição legal, o papel complementar, mas não menos importante, de responsável pela coordenação setorial e integração sistêmica, articulando e harmonizando suas ações com as iniciativas dos demais níveis de governo e agentes privados envolvidos; 2. apesar da importância e premente necessidade de investimentos novos na infra-estrutura de transportes, a recuperação e manutenção dos ativos fixos disponíveis deve ser a primeira preocupação de política55 ; 3. a valorização dos sistemas integrados, das complementaridades infra-estruturais e da multimodalidade, deve ser o principal balizador da política de transporte, ultrapassando a perspectiva modal prevalente, como forma de aumentar a eficácia das operações56 ; 4. os papéis do Estado e do mercado, na provisão da infra-estrutura e prestação dos serviços de transporte, devem ser claramente definidos, observadas as condições em que a regulação pelo mercado deve ser complementada pela ação de agência reguladora independente; 5. a preocupação ambiental deve ser uma constante nas ações dos agentes públicos e privados envolvidos com o provimento da infra-estrutura e com a organização e operação dos serviços de transporte. Nesse contexto, o objetivo estratégico da política proposta é a estruturação de um sistema multimodal de transportes, capaz de oferecer, aos cidadãos e setores produtivos de Minas Gerais, serviços de qualidade, com segurança e sustentabilidade econômico-financeira, ambiental e social. A questão da sustentabilidade do sistema multimodal de transportes pretendido se estrutura em três níveis distintos, porém complementares, quais sejam: econômico-financeiro, por meio do uso economicamente eficiente dos recursos alocados e da adequada e permanente manutenção da infra-estrutura instalada; ambiental, que impõe a limitação das externalidades negativas associadas ao uso da infraestrutura e à operação dos serviços, assim como a incorporação do valor monetário dessas externalidades nos custos de transporte; social, que exige que os benefícios da melhoria dos transportes possam ser devidamente apropriados pelas diferentes camadas da sociedade, em especial por aquelas de menor renda e ou localizadas em áreas de acessibilidade reduzida. O objetivo estratégico enunciado refere-se explicitamente à questão da segurança das operações de transporte, que se traduz, na modalidade rodoviária, no alarmante problema dos acidentes de trânsito57 e, mais recentemente, no crescimento do roubo de cargas durante as viagens. Nas demais modalidades, a questão também vem à tona, na medida que o aumento da sinistralidade tem profundas implicações negativas nos custos logísticos. 55 56 57 126 Vale lembrar que a degradação da infra-estrutura instalada não só agrava as condições de segurança do tráfego e reduz a capacidade de vazão, como aumenta os custos operacionais dos transportadores, constituindo-se um desperdício inaceitável de recursos escassos. Isso pode ser evitado com processos de alocação otimizada e com a estruturação de sistemas gerenciais mais competentes. Cada vez mais, na economia global, a atividade de transporte tende a ser compreendida, pelo lado da oferta, como uma oportunidade para a organização de serviços porta-a-porta, a partir de combinações ótimas de modos de transporte, em termos de custo, confiabilidade, segurança e prazo, em resposta a uma demanda que é cada vez mais exigente. Para tanto, há que se ter, no âmbito de cada modal de transporte, condições de interconectividade e, entre modos, de intermodalidade, o que impõe o provimento de soluções de continuidade nos transbordos intramodais e a existência de cadeias de transporte e de plataformas logísticas de articulação intermodal. Estudos especializados em segurança viária reconhecem a existência de um complexo de causas, que vão desde fatores comportamentais relacionados com os condutores de veículos, mas que também são explicados por fatores relacionados com as condições objetivas da infra-estrutura viária: deficiência e inconsistência da sinalização, deficientes padrões de qualidade da geometria das vias e reduzidos níveis de manutenção. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Outro aspecto relevante a ser destacado é a qualidade dos serviços de transportes, pois, sabese, hoje, que as operações que produzem benefícios mais sustentados são justamente as que garantem graus de confiabilidade e níveis de serviço que melhor correspondem à natureza da demanda. O objetivo estratégico da nova política também aponta os transportes como um meio e não um fim em si mesmo, ao colocá-los a serviço dos cidadãos e das empresas. Significa dizer que compete ao sistema de transportes contribuir para o aumento da produtividade e da competitividade dos setores produtivos mineiros e, por outro lado, para a melhoria da qualidade de vida da população. Tendo em vista as restrições atuais da oferta, assim como as características setoriais e espaciais da demanda, cinco grandes desafios se colocam hoje para o setor de transportes em Minas Gerais: 1. a reorganização institucional do setor, com prioridade para a estruturação ou reforço dos sistemas gerenciais de manutenção da infra-estrutura, de planejamento setorial e promoção do desenvolvimento multimodal e de regulação dos serviços públicos delegados a agentes privados; 2. a viabilização de um esforço concentrado e eficaz de recuperação da infra-estrutura viária degradada no curto prazo; 3. a estruturação e a operação de corredores multimodais de integração e desenvolvimento; 4. a necessidade de ampliação dos níveis de acessibilidade na rede urbana mineira, para reforço da capacidade competitiva e atrativa dos centros principais e de regiões de fronteira; 5. a aposta prioritária no desenvolvimento das operações de logística integrada. Para enfrentar tais desafios e em consonância com as idéias-força, cinco diretrizes de política são apresentadas para implementação no curto e médio prazos: 1. garantir os meios e os recursos organizacionais e financeiros necessários para viabilizar a imediata recuperação da infra-estrutura instalada, com prioridade para as rotas troncais de transporte; 2. contribuir para o aumento da produtividade e competitividade dos setores produtivos mineiros, facilitando sua inserção nos mercados nacional e internacional, por meio de soluções modais ou multimodais mais racionais, visando a redução dos custos logísticos e a melhoria do nível de serviço em operações de transporte; 3. viabilizar o desenvolvimento em Minas Gerais de uma rede de plataformas logísticas, localizadas nos principais centros nodais de rede multimodal de transporte, vocacionandoos para efetivamente desempenhar o papel de rótula de articulação e racionalização dos fluxos de transporte de média e longa distância; 4. contribuir para a melhoria da qualidade de vida urbana, em especial nas regiões metropolitanas e cidades médias, por meio de uma abordagem integrada da mobilidade de pessoas e bens, com respeito ao meio ambiente e orientada para a adequada ordenação territorial; 5. elevar os níveis de acessibilidade da população mineira aos serviços básicos e aos mercados, principalmente em regiões de baixa densidade viária e ou desprovidas de serviços regulares de transporte. A formulação da diretriz 1 realça a necessidade premente do Governo do Estado liderar um esforço articulado de recuperação da infra-estrutura viária e, concomitantemente, garantir a consecução de programas sustentados de gerenciamento e manutenção das redes infra-estruturais, envolvendo diferentes níveis de governo e agentes públicos e privados. Capítulo 1 - Transporte e logística 127 BDMG 40 anos A diretriz 2 aponta para a importância da abordagem integrada da localização e mobilidade da produção, com base em corredores multimodais de integração e desenvolvimento, incluindo, além da infra-estrutura de transporte, a oferta de recursos energéticos, de telecomunicação e tecnologia da informação, além de instalações de armazenagem e distribuição de mercadorias 58 . Com a consecução da diretriz 3, pretende-se um maior desenvolvimento das atividades logísticas em Minas Gerais, por meio de ações de promoção, de fomento e de apoio às iniciativas empresariais de implantação de plataformas logísticas, além de ações governamentais para a complementação de elos infra-estruturais faltantes em corredores multimodais. Buscar-se-á, assim, potencializar regiões e cidades como alternativas locacionais atrativas para investimentos produtivos que necessitam, cada vez mais, de custos logísticos minimizados. A diretriz 4 se refere ao sistema de transportes como elemento indutor do desenvolvimento urbano qualificado, minimizando custos de deslocamento e tempos de viagem e assim contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, principalmente nos centros urbanos de maior densidade populacional. Foca também a necessidade da minimização das externalidades ambientais, privilegiando opções modais mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental59 , e da articulação dos investimentos em transporte com as políticas e programas de desenvolvimento urbano e regional. A consecução da diretriz 5 visa, objetivamente, orientar a implantação e pavimentação de ligações faltantes na rede rodoviária secundária, contribuindo para o aumento da mobilidade intra e inter-regional, por meio da redução dos tempos e custos médios das viagens, e facilitação do acesso aos serviços sociais hierarquicamente diferenciados, além da potencializar novas atividades econômicas e alternativas micro-regionais de turismo e lazer. É importante deixar claro que a aposta prioritária no desenvolvimento da logística integrada é um desafio presente e transversal às diretrizes de política aqui enunciadas. A logística integrada é indispensável para garantir a multimodalidade e a minimização das externalidades ambientais, bem como para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação dos níveis de acessibilidade e mobilidade da população e da coesão e integração territorial de Minas Gerais. 58 59 128 A qualidade e eficiência desses corredores passa pela promoção do desenvolvimento da multimodalidade e da estruturação de uma rede de infra-estruturas e atividades logísticas em Minas Gerais, que, possibilitando maior racionalização da atividade transportadora e a prestação de serviços às empresas (através de processos de outsourcing) em condições mais vantajosas, contribui para a redução de seus custos logísticos e conseqüente para o aumento de sua competitividade no mercado global. É importante destacar que a multimodalidade, ao promover o uso de meios de transporte de maior eficiência energética e ambiental, contribuirá de forma decisiva para a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento setorial que se propõe. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento SÍNTESE DAS RECOMENDAÇÕES PARA UMA NOVA POLÍTICA DE TRANSPORTES PARA MINAS GERAIS DESAFIOS DIRETRIZES DE POLÍTICA Capítulo 1 - Transporte e logística 1. Ao governo estadual cabe, além da responsabilidade precípua, decorrente de imposições legais, o papel complementar de coordenador setorial e integrador sistêmico, em articulação com outros níveis de governo e agentes privados envolvidos com os transportes. 1. Reorganização institucional do setor, priorizando a implementação ou reforço dos sistemas gerenciais de manutenção dos ativos instalados, de planejamento e promoção da multimodalidade e de regulação dos serviços. 1. Garantir os meios e recursos organizacionais e financeiros requeridos para a recuperação e manutenção da infra-estrutura instalada. 2. Apesar da importância e necessidade de investimentos novos, a primeira preocupação de política deve ser a recuperação e manutenção dos ativos fixos infra-estruturais. 2. Esforço concentrado e eficaz de recuperação da infra-estrutura instalada. 2. Aumentar os níveis de acessibilidade aos serviços básicos e mercados produtores, priorizando regiões de baixa densidade viária e ou desprovidas de serviços regulares de transporte. 3. Os papéis do Estado e do mercado, na provisão da infra-estrutura e prestação dos serviços, devem ser claramente definidos, cabendo à agência reguladora independente complementar a regulação pelo mercado em situações específicas. 3. Estruturação e operação de corredores multimodais de integração e desenvolvimento. 3. Desenvolver uma rede integrada de plataformas logísticas localizadas nos principais centros nodais de rede de transporte, capaz de vocacionar Minas Gerais para efetivamente desempenhar o papel de rótula de articulação dos fluxos interestaduais de transporte. 4. A preocupação ambiental deve permear todas as ações inerentes à implantação infraestrutural e operação dos serviços de transporte. 4. Ampliação dos níveis da acessibilidade da rede urbana, para aumento de sua capacidade competitiva e atrativa. 4. Contribuir para o aumento da produtividade e competitividade dos setores produtivos, garantindo sua adequada inserção nos mercados nacional e internacional, por meio de serviços de transporte de menor custo e prazo. 5. A valorização dos sistemas integrados, das complementaridades infra-estruturais e da multimodalidade deve ser o principal balizador da política de transporte, ultrapassando a perspectiva modal prevalente. 5. Aposta prioritária no desenvolvimento da logística integrada. 5. Contribuir para a melhoria da qualidade de vida, em especial nas regiões metropolitana e cidades médias, com uma abordagem integrada da mobilidade de pessoas e bens, respeitando o meio ambiente e visando a adequada ordenação territorial. OBJETIVO ESTRATÉGICO Estruturação de um sistema multimodal de transportes, capaz de oferecer, aos cidadãos e setores produtivos, serviços de qualidade, com segurança e sustentabilidade econômico-financeira, ambiental e social. 129 BDMG 40 anos IDÉIAS-FORÇA BDMG 40 anos 8.3. Investimentos para solução de gargalos no sistema de transportes A identificação de gargalos e missing links no sistema de transporte de Minas Gerais, mais precisamente na infra-estrutura viária e de terminais, incluindo suas interfaces com sistemas estaduais vizinhos, parte de uma visão sistêmica e se baseia no em amplo estoque de estudos e projetos acumulados nos últimos anos. De uma forma geral, buscou-se identificar investimentos que se mostram capazes de viabilizar demandas atuais e potenciais dos serviços de transporte, não desconsiderando que, em algumas regiões, a provisão de infra-estrutura pode se tornar indutora de desenvolvimento e geradora de novas demandas de transporte. Embora a listagem a seguir apresentada contemple apenas investimentos infra-estruturais, deve-se lembrar que, muitas vezes, questões institucionais e regulatórias não resolvidas constituem obstáculos ao desenvolvimento setorial tão relevantes quanto os gargalos físico-operacionais e missing links da rede de transporte. 130 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento QUADRO 3 PORTFÓLIO DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA SOLUÇÃO DE GARGALOS E ELOS FALTANTES NO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 2002 GRUPO DE PROJETOS Eixos rodoviários de integração interna e interestadual IDENTIFICAÇÃO AGRUPAMENTOS MAIS IMPACTADOS DA DEMANDA DE TRANSPORTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES Capítulo 1 - Transporte e logística CARACTERIZAÇÃO JUSTIFICATIVA Recuperação de rodovias federais e estaduais Levantamentos oficiais indicam que 89% das rodovias federais pavimentadas e 56,5% das rodovias pavimentadas conservadas pelo DER/MG encontram-se em estado regular ou mau de conservação, além de apresentarem deficiências de engenharia (ausência de 3a.s faixas em aclives, de acostamentos e sinalização). As condições indesejáveis da rede elevam os custos operacionais dos veículos e pioram os níveis de segurança, afetando o escoamento da produção agrícola e as demandas de insumos e distribuição de produtos industrializados em diferentes regiões do Estado. Há necessidade premente de intervenções para restauração e ou recapeamento dos pavimentos e, em alguns casos, para aumentos localizados de capacidade viária. Minero-siderúrgico (++); granéis agrícolas (++); energéticos (+); materiais de construção (+); carga geral (+++), além do transporte de passageiros (+++). Programa de Gerenciamento da Malha Rodoviária de Minas Gerais (PRODER) negociado com BIRD prevê componente específico para recuperação de rodovias estaduais. A expansão do Programa Integrado de Recuperação e Conservação da Rede de Rodovias Federais (CREMA) constitui alternativa relevante de intervenções na rede federal. As rodovias BR 116, entre Divisa BA/MG e Divisa MG/ RJ; BR 262, entre João Monlevade e a Divisa MG/ES; e BR 040 / 135, entre Belo Horizonte, Curvelo e Montes Claros; estão incluídas na 3a. etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais (lotes 25/26, 21 e 34, respectivamente), sem definição de prazo para licitação. Adequação da BR 040 - Trecho Belo Horizonte - Juiz de Fora A capacidade de tráfego dos segmentos em pista simples, predominantes na maior parte do trecho, equipara-se à demanda atual na hora de pico, constituindo um forte gargalo operacional no sistema de transportes do Sudeste brasileiro. Queda do nível de serviço da rodovia, devido às restrições de capacidade de tráfego, com geração de externalidades negativas (aumento dos custos operacionais e dos índices de acidentes, principalmente). Minero-siderúrgico (++); materiais de construção (++); energéticos (±); granéis agrícolas (-); além de carga geral (+++), inclusive veículos e autopeças, contêineres (+) e transporte de passageiros (+++). Rodovia incluída na 3ª etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais (Lote 31), sem definição de prazo para licitação. O projeto beneficia sobremaneira o transporte de cargas de alto valor agregado que, para trajetos relativamente curtos, é mais apropriado ao modal rodoviário. Adequação da BR 262/381 Trecho Belo Horizonte Monlevade Ipatinga Trata-se de rodovia em pista simples, com duas faixas de tráfego, com intenso volume de tráfego e elevada participação de veículos comerciais, constituindo um dos mais fortes gargalos do sistema de transportes. A capacidade de tráfego desse trecho rodoviário é severamente afetada por suas condições de engenharia e pelas características do fluxo de tráfego, provocando elevadas deseconomias que afetam, sobretudo, a logística do complexo metal-mecânico. Os impactos na segurança viária são fortemente negativos. Minero-siderúrgico (+++); materiais de construção (+); energéticos (±); granéis agrícolas (+); além de carga geral (++) e transporte de passageiros (+++). Rodovia com inclusão indefinida no Programa de Concessão de Rodovias Federais, devido à sua pouca viabilidade sob a ótica privada (em função do nível de investimento previsto). Há proposta do GMG de aplicação de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Área de Influência da CVRD (administrado pelo BNDES) para viabilização parcial desse projeto. Ministério dos Transportes apresentou présolicitação de financiamento a agências multilaterais de crédito. Continua BDMG 40 anos 131 132 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento QUADRO 3 (continuação) PORTFÓLIO DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA SOLUÇÃO DE GARGALOS E ELOS FALTANTES NO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 2002 GRUPO DE PROJETOS Eixos rodoviários de integração interna e interestadual AGRUPAMENTOS MAIS IMPACTADOS DA DEMANDA DE TRANSPORTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES O desempenho operacional do transporte rodoviário entre o sul de Goiás, Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba e São Paulo encontra-se bastante comprometido pelas características atuais do sistema viário. As deseconomias geradas oneram sobretudo o transporte de grão agrícolas e fertilizantes, além da carga geral industrializada, que tem em Uberlândia um de seus principais pólos de distribuição regional. Minero-siderúrgica (-); materiais de construção (+); energéticos (+); granéis agrícolas (+++), fertilizantes (+++); além de carga geral (+++) e transporte de passageiros (++). Rodovia incluída na 3a. etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais (Lote 33), sem definição de prazo para licitação. O projeto beneficia sobremaneira o setor atacadista do Triângulo Mineiro. Rodovia em pista simples, com elevada participação de veículos pesados na corrente de tráfego. Faz parte da rodovia Transbrasiliana, que interliga as regiões Sul e Sudeste com estados do Centro-Oeste e Norte do Brasil. O desempenho operacional desse corredor é comprometido pela inadequação entre as características da infra-estrutura e o volume e composição do tráfego, provocando externalidades indesejáveis, principalmente aumento dos custos operacionais dos veículos e do número de acidentes. Minero-siderúrgica (-); materiais de construção (+); energéticos (+); granéis agrícolas (+++), fertilizantes (+++); além de carga geral (++) e transporte de passageiros (++). Rodovia incluída na 3a. etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais (Lote 18), sem definição de prazo para licitação. Construção de um novo anel rodoviário na RMBH, interligando, no sentido SW/NE, as rodovias BR 381 (Fernão Dias), BR 040 (Belo Horizonte / Brasília), MG 010 (Belo Horizonte / Confins) e BR 381 (Belo Horizonte – João Monlevade), e atravessando os municípios de Betim, Contagem, Ribeirão das Neves, Vespasiano e Santa Luzia. Os eixos rodoviários interestaduais que convergem para Belo Horizonte canalizam para o anel rodoviário existente (inserido na área densamente urbanizada) um elevado volume de veículos, com participação significativa de veículos pesados, que disputam a capacidade instalada com fluxos tipicamente urbanos. Tal situação provoca rotineiros congestionamentos, que elevam os custos de transporte e o tempo das viagem na travessia da região metropolitana, além de aumentar o número de acidentes de trânsito. Minero-siderúrgica (+++); granéis agrícolas (+); energéticos (++); materiais de construção (++); carga geral (+++), inclusive veículos e autopeças e contêineres; além do transporte de passageiros (+++), de caráter metropolitano e interregional. Já se encontra concluído o projeto executivo das obras do novo anel rodoviário da RMBH. Há também projeto de recuperação do atual anel rodoviário, adequando-o para atendimento aos fluxos urbanos, existindo inclusive estudo de viabilidade de sua recuperação, administração e exploração através de concessão ao setor privado. IDENTIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO JUSTIFICATIVA Adequação das rodovias BR 050 e BR 365 - Trechos Divisa GO/MG Divisa MG/SP e Entr. BR 153 Uberlândia Patos de Minas Trata-se de duas rodovias em pista simples, com volume intenso de veículos e grande participação de caminhões na corrente de tráfego, que se entroncam em Uberlândia, um principais pólos geradores de cargas do Brasil Central. Adequação da BR 153 - Trecho Divisa GO/MG Prata - Divisa MG/SP Implantação / pavimentação do Novo Anel Rodoviário de Belo Horizonte Continua QUADRO 3 (continuação) PORTFÓLIO DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA SOLUÇÃO DE GARGALOS E ELOS FALTANTES NO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 2002 GRUPO DE PROJETOS Eixos rodoviários de integração interna e interestadual Corredor ferroviário Centro-Leste IDENTIFICAÇÃO AGRUPAMENTOS MAIS IMPACTADOS DA DEMANDA DE TRANSPORTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES Capítulo 1 - Transporte e logística CARACTERIZAÇÃO JUSTIFICATIVA Adequação das rodovias BR 262 e MG 050 - Trecho Betim Juatuba Divinópolis Trechos em pista simples, com características técnicas incompatíveis com a funcionalidade atual. Configura-se como eixo de interligação dos pólos industriais do Centro-Oeste de Minas com a RMBH. O estado de conservação associado às deficiências de traçado impõe custos operacionais elevados aos usuários e reduz os níveis de segurança viária. A capacidade de tráfego no segmento entre Betim e Juatuba equipara-se à demanda nas horas mais carregadas, reduzindo sensivelmente o nível de serviço. Minero-siderúrgico (+++), energéticos (+), indústria da construção (+), carga geral (++) e transporte de passageiros (++). Este trecho constituía o Lote 2 do Programa Estadual de Concessão de Rodovias (cuja implementação encontra-se suspensa). O projeto básico para recuperação e adequação deste trecho rodoviário encontra-se elaborado. Implantação / pavimentação da BR 364 Trecho São Simão (Divisa GO/MG) - Frutal (Entro. BR 153) O escopo do projeto consiste na implantação rodoviária em pista simples, com características técnicas compatíveis, e sua pavimentação, numa extensão de 210 km. Trata-se de um missing link do corredor de integração das economias das regióes Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Sua implementação contribui para a redução dos custos de transporte em rotas interregionais, além de benefeciar sobremaneira o Pontal do Triângulo, promovendo sua articulação interna. Granéis agrícolas (+++), fertilizantes (++), carga geral (+) e transporte de passageiros (+). Projeto incluído no Programa Avança Brasil, com progresso reduzido. Ramal ferroviário Pirapora - Unai Implantação e operação de um ramal ferroviário ligando Unaí ao terminal de Pirapora (na linha da FCA), permitindo a integração de sua área de influência direta com o Corredor de Vitória e a Hidrovia do São Francisco. Trata-se projeto pioneiro de suporte logístico à região de fronteira agrícola do Noroeste de Minas e Entorno do DF, visando a redução dos custos de escoamento da produção agrícola e suprimento de insumos. Granéis agrícolas (+++), fertilizantes (++), outros granéis (+). Projeto incluido no Programa Brasil em Ação. A CVRD, antes de sua privatização, elaborou estudos de viabilidade técnicoeconômica e projeto básico de engenharia para esse ramal ferroviário. Complementação da transposição ferroviária de Belo Horizonte Construção de variantes entre as estações do Horto e Matadouro e entre o Matadouro e Capitão Eduardo, totalizando 18 km de linhas simples, aliviando o gargalo existente na travessia da zona Leste da RMBH. A configuração física e condições operacionais atuais da travessia ferroviária de Belo Horizonte impõem a redução da velocidade das composições, criando uma forte restrição de capacidade e aumentando o transit time na rota Brasília - Belo Horizonte - Vitória. Minero-siderúrgica (++); granéis agrícolas (+++); energéticos (++); petroquímicos (+); materiais de construção (+); carga geral em contêineres (potencial de crescimento). Obras parciamente executadas, em função de acordos celebrados entre a CVRD e RFFSA no período anterior à "privatização ferroviária". O segmento Horto - Matadouro, paralelo ao Trem Metropolitano, encontrase concluído; o segundo segmento encontra-se paralizado. Construção de variante na travessia ferroviária da serra do Tigre Construção de uma variante em linha simples, com 42 km de extensão, entre Tapiraí e Pratinha, aliviando um forte gargalo na rota ferroviária Belo Horizonte - Brasília. A travessia ferroviária da serra do Tigre, assentada sobre maciço instável, apresenta péssimas condições de traçado em planta e perfil, provocando fortes restrições de capacidade de vazão e comprometendo, principalmente, o escoamento de grãos do Centro-Oeste para os terminais portuários exportadores. Granéis agrícolas (+++); petroquímicos (+); carga geral em contêineres (potencial de crescimento). Existe projeto de engenharia para a construção dessa variante. Continua BDMG 40 anos 133 134 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento QUADRO 3 (continuação) PORTFÓLIO DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA SOLUÇÃO DE GARGALOS E ELOS FALTANTES NO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 2002 GRUPO DE PROJETOS AGRUPAMENTOS MAIS IMPACTADOS DA DEMANDA DE TRANSPORTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES IDENTIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO JUSTIFICATIVA Corredor de Sepetiba Adequações físicooperacionais na Ferrovia do Aço, entre Jeceaba (MG) e Barra Mansa (RJ), para aumento de capacidade na rota ferroviária BH - Rio - São Paulo Execução de obras físicas (passagens laterais em cinco segmentos da linha) e atualização dos sistemas de sinalização e de comunicação da Ferrovia do Aço, para eliminação do gargalo criado pelo retorno atual dos trens pela Linha do Centro (antiga "Central do Brasil"). O número reduzido de pátios de cruzamento, e a grande distância entre eles, impõe limitações ao número de trens / dia que podem circular nessa linha, levando a sua utilização apenas no sentido de Jeceaba para Barra Mansa,e preferencialmente para trens de minério. Estes, em seu retorno, sobem vazios pela Linha do Centro, contribuindo para o seu congestionamento. As medidas propostas devem elevar a capacidade atual de 9 trens / dia em sentido único para 18 trens / dia nos dois sentidos. Minero-siderúrgica (+++); materiais de construção (++); carga geral em contêineres (grande potencial de crescimento). Esse projeto precisa ser complementado com: i) execução de melhoramentos nos pátios de classificação e atualização do sistema de comunicações do trecho entre Barra Mansa e Barra do Piraí (no Rio de Janeiro); ii) construção de uma linha simples, com 10 km de extensão, conectando a Ferrovia do Aço à Linha de São Paulo ("Alça de Floriano"), com uma configuração geométrica que permita o encaminhamento direto dos trens com origem em Minas e destino em São Paulo, eliminando as manobras hoje requeridas, que aumentam o transit time e o custo das viagens. Corredor de Santos Melhoramentos na ferrovia entre Araguari (MG) e Santos (SP) Recuperação da via permanente na linha tronco, acrescida de melhorias localizadas no sistema de sinalização e inclusão de passagens laterais. O estado de conservação e as características de traçado de diferentes segmentos da linha tronco impõem restrições de desempenho e capacidade na interligação ferroviária de São Paulo / Santos com o Triângulo Mineiro e, através de sua conexão com a FCA em Araguarí, com a região de Brasília / Goiânia. Granéis agrícolas (+++), fertilizantes (+++) e carga geral (potencial de crescimento do transporte de contêineres). Na área de influência imediata de Uberlândia e Uberaba, apenas 80% da demanda de transporte ferroviário no sentido de São Paulo / Santos tem sido atendida, devido às limitações aqui destacadas. Melhoramentos no ramal ferroviário entre Poços de Caldas (MG) e Aguaí (SP) Restauração de 40 km e realinhamento de 35 km desse ramal. O estado de conservação desse ramal de 75 km, entre Poços de Caldas e a linha tronco Araguari – Santos, impõe custos operacionais elevados, impactando o escoamento de bauxita para a fábrica de alumínio de Mairinque (SP) e inviabilizando o transporte ferroviário do café do Sul de Minas para o porto de Santos. Mínero-siderúrgico (+++) e granéis agrícolas (++). Continua QUADRO 3 (continuação) PORTFÓLIO DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA SOLUÇÃO DE GARGALOS E ELOS FALTANTES NO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTES - MINAS GERAIS - 2002 GRUPO DE PROJETOS AGRUPAMENTOS MAIS IMPACTADOS DA DEMANDA DE TRANSPORTE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES CARACTERIZAÇÃO JUSTIFICATIVA Integração Ferroviária Sudeste Nordeste Melhoramentos na ligação ferroviária entre Monte Azul (MG) e Iaçu (BA) Restauração de 577 km de linha simples, na ligação ferroviária entre Belo Horizonte e Salvador. Trata-se de um extenso trecho da única ligação ferroviária entre as regiões Sudeste e Nordeste do País, estabelecendo a conexão entre as cidades de Monte Azul, no Norte de Minas, e Iaçu, passando por Brumado, na Bahia. O projeto visa recuperar a infra e a superestrutura da via permanente, que se encontram em condições precárias, restringindo principalmente o incremento dos fluxos ferroviários entre os complexos petroquímico de Camaçari e mínero-químico de Sergipe e plantas industriais do Sudeste. Minero-siderúrgica (+); materiais de construção (+); energético (+); produtos da indústria petroquímica e carga geral de menor valor agregado (ambos com grande potencial de crescimento dos fluxos). Aeroportos de Integração Regional Adequações no Aeroporto de Belo Horizonte Pampulha Ampliação das instalações do aeroporto, incluindo os terminais de passageiros e carga doméstica e a pista de pouso e decolagem, de modo a evitar que o crescimento esperado da demanda intensifique os problemas atuais de congestionamentos nos períodos de pico de embarque e desembarque. O aeroporto da Pampulha apresenta, principalmente nos períodos de pico, restrições de capacidade operacional de pousos e decolagens; de processamento de passageiros e bagagens; e, de processamento de carga aérea doméstica Passageiros e carga aérea (basicamente produtos industrializados de maior valor agregado). A Infraero tem planos para execução de melhoramentos no aeroporto da Pampulha. Ampliação do Aeroporto de Uberlândia Ampliação da pista de pouso, nova pista de taxiamento e novo pátio de aeronaves; novos terminais de passageiros e cargas. As atuais instalações aeroportuárias de Uberlândia apresentam, nos períodos de pico, restrições de capacidade operacional de pousos e decolagens; de processamento de passageiros e bagagens; e, de processamento de carga aérea doméstica. Passageiros e carga aérea (basicamente produtos industrializados de maior valor agregado). A Infraero tem planos para ampliação e modernização do Terminal de Passageiros. Implantação dos terminais rodohidroviários de Chaveslândia e Iturama Construção de instalações portuárias nos rios Paranaíba e Grande, próximo às barragens de São Simão e de Água Vermelha, respectivamente. O projeto visa a plena integração da rede rodoviária do Triângulo Mineiro com a Hidrovia Paraná-Tietê, criando alternativa de menor custo para escoamento da produção agrícola regional. Granéis agrícolas (+++), fertilizantes (++), outros granéis (+). Existem estudos preliminares de engenharia elaborados pela CDI-MG. Integração com a Hidrovia Tietê-Paraná Fontes: Plano Multimodal de Transportes (SEPLAN-MG, 1994); Estudo dos Eixos Nacionais de Desenvolvimento e Integração (Consórcio Brasiliana, 2000); levantamentos da Consultoria. 135 BDMG 40 anos Capítulo 1 - Transporte e logística IDENTIFICAÇÃO BDMG 40 anos 8.4. Desenvolvimento de uma rede integrada de plataformas logísticas 8.4.1. Proposta de política para o desenvolvimento logístico Conceitualmente, uma plataforma logística é um conjunto pontualmente localizado de instalações, equipamentos e processos relativos ao transporte, à logística e à distribuição de mercadorias, com escopos de atuação regional, nacional ou internacional, suportado por redes infraestruturais de transporte e telecomunicações e conduzidos por operadores privados especializados, que vendem serviços logísticos ajustados às necessidades particulares de cada empresa-cliente. Considerando o diagnóstico apresentado a respeito das ineficiências logísticas e das dificuldades de integração intermodal no sistema de transportes de Minas Gerais, propõe-se aqui subsidiar a formulação de uma política pública de atração, fomento e suporte ao investimento privado em plataformas logísticas. Tal política deverá, por um lado, criar mecanismos de incentivo e sustentação para o investimento produtivo em um setor - a logística que se mostra hoje estratégico para a competitividade das empresas e das cadeias produtivas em que essas se inserem; por outro, buscar-se-á sustentar estratégias de desenvolvimento regional, através de medidas de ordenação territorial numa perspectiva logística, contribuindo para otimizar fatores locacionais e, assim, garantir a competitividade de lugares e regiões. Tendo em vista as características de funcionalidade e organização espacial da economia de Minas Gerais, é de todo conveniente que o desenho da política pública de desenvolvimento logístico seja feito segundo recortes regionais, dando-se especial atenção às regiões fronteiriças a outros estados. Contudo, que fique claro que, ao se adotar tal estratégia metodológica e programática, não se desconsiderará a óbvia inserção de cada região no contexto mais amplo da economia mineira, assim como as linkages de suas cadeias produtivas com os mercado nacional e internacional. Com efeito, nas últimas décadas estão ocorrendo significativas mudanças na ênfase funcional dos sistemas de gestão da produção. Nesse contexto, a logística integrada, envolvendo os sistemas empresariais de transporte, armazenagem e gestão de estoques, de manuseio de materiais e embalagens, além do gerenciamento da informação, tem desempenhando um papel essencial, tornando-se parte integrante das estratégias de produção e de marketing das empresas. Por outro lado, sabe-se que as condições de oferta e localização de redes e instalações logísticas, dentre elas as de transporte, armazenagem e telemática, geram impactos significativos não apenas sobre a performance das empresas e cadeias produtivas, mas também sobre o crescimento econômico e a competitividade das regiões. Apresentam, assim, efeitos diretos e indiretos sobre a geração de emprego e renda e sobre as decisões locacionais de indivíduos e empresas, afetando o nível de desenvolvimento regional, ao estimular ou restringir as disparidades regionais e ao atuar como elemento decisório na reorganização espacial da economia. Devido à sua forte vinculação com o ordenamento geográfico da atividade econômica, é recomendável que as políticas públicas de suporte e fomento ao investimento em infra-estrutura logística sejam formuladas e implementadas sob uma ótica integrada e com foco regionalizado, revertendo postura tradicional de intervenções segmentadas e espacialmente dispersas. A motivação fundamental dessas políticas deve ser o incremento da conectividade dos elos das cadeias logísticas (intra e intersistêmicas), de modo a reduzir os custos logísticos da movimentação de insumos e produtos finais e, assim, assegurar a competitividade sistêmica não só dos setores produtivos envolvidos más também das regiões em que os mesmos se localizam. Com efeito, é sabido que a repartição dos custos logísticos entre setores e regiões tem sido determinante para as decisões de investimento e de localização das atividades econômicas. 136 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Nesse sentido, uma estratégia de sucesso, adotada em diferentes países e amplamente estudada na literatura especializada, é a do ordenamento territorial logístico, através do qual busca-se garantir menores custos logísticos para uma dada região, aumentando, assim, a sua competitividade locacional. Para tanto, existe uma variedade de instrumentos de ordenação territorial, envolvendo esforços coordenados de governos e da iniciativa privada. Dentre eles se inclui a implantação dos chamados suportes logísticos de plataforma, ou simplesmente plataformas logísticas, preferencialmente em entroncamentos multimodais da rede de transporte. 8.4.2. O conceito de rede de plataformas logísticas A oferta de eficientes sistemas de suprimento e a distribuição de bens e serviços têm sido um dos parâmetros definidores do desenvolvimento econômico desde o início da civilização. Contribuem para a ampliação dos mercados e facilitam as escolhas dos consumidores e, assim, influenciam os níveis de competitividade, a geração de empregos e os padrões de bem-estar social. Atualmente, o termo logística tem sido comumente utilizado para descrever o processo de planejamento e gerenciamento da cadeia de suprimento em sentido amplo. Logística pode envolver o movimento de pessoas, assim como o de bens finais, informações e matérias-primas, assegurando que os recursos necessários para trabalhar e produzir estejam posicionados nos lugares certos, no tempo correto, na quantidade e qualidade requeridos, ao menor custo possível. Tornou-se portanto um ponto crítico nos processos econômicos, seja na indústria ou nos serviços, tanto nos setores privados quanto no público. Além disso, a logística por si só tornou-se um importante setor econômico, gerando renda e empregos e adicionando valor aos bens e processos envolvidos. Nesse sentido, a logística integrada tem permitido a indústria se adaptar com sucesso para explorar economias de escopo e de escala e para aumentar as vantagens de práticas do tipo just-intime, principalmente nos setores de fabricação e no varejo/distribuição. Ao mesmo tempo, a indústria tem progressivamente se reestruturado para focar sua atuação no gerenciamento eficiente de suas funções básicas (core functions), transferindo processos subsidiários (na realização de uma cadeia produtiva) para fornecedores de bens e serviços que se especializam nestes campos, num relacionamento de colaboração mútua e interdependência. A visão contemporânea (outsourcing) das melhores práticas dessa natureza tem ido além das práticas rotuladas de sub-contratação ou terceirização. Outsourcing significa, inclusive no campo da logística, essencialmente uma opção por uma relação de parceria e cumplicidade com um ou mais fornecedores da cadeia produtiva, numa decisão tipicamente estratégica, abrangente e de longo prazo. Ao transferir para agentes especializados a execução de seus serviços logísticos, quando esses não constituem core functions, as empresas mais avançadas em termos de gestão e de modelos de produção fazem-no de forma integrada, contratando pacotes que incluem, cada vez mais, serviços de maior valor agregado, com forte conteúdo informacional. Segundo Novaes (2001), estes novos agentes especializados em logística surgiram da redefinição ou diversificação de seus antigos negócios (as empresas transportadoras, por exemplo), dando origem a prestadores de serviços logísticos. Outras empresas, por outro lado, nasceram mais recentemente na onda da tecnologia, e oferecem serviços logísticos baseados principalmente na larga utilização da informação e da comunicação, bem como na administração de serviços. Essa última categoria de prestadores de serviços vem ganhando maior importância à medida que as cadeias de suprimento abandonam a estrutura vertical, o que aumenta a necessidade de coordenação das atividades interfirmas. A literatura especializada tem utilizado o termo prestador de serviços logísticos para abarcar todo tipo de atividade logística, por mais simples que seja. Ao contrário, o operador logístico, de acordo com a definição mais específica, é o prestador de Capítulo 1 - Transporte e logística 137 BDMG 40 anos serviços logísticos que tem competência reconhecida em atividades logísticas, desempenhando funções que podem englobar todo o processo logístico de uma empresa-cliente, ou somente parte dele, ficando implícito no uso deste termo um grau de sofisticação e avanço compatível com o observado nas modernas cadeias de suprimento (Novaes, 2001). Sob um outro foco relevante, é preciso considerar que os serviços logísticos, compreendendo essencialmente processos de transporte e de gestão de estoques, envolvem, por um lado, a ruptura de barreiras espaciais para permitir a circulação de mercadorias em uma área de mercado, e, por outro, o consumo de espaço físico para possibilitar a localização das instalações de armazenagem e de prestação de atividades subsidiárias. Portanto, têm os serviços logísticos uma referência territorial clara e direta (Savy, 1993). Para Bowersox (2001), ao considerar que os diferenciais de custos de transporte e de localização de instalações eram inexistentes ou iguais entre os concorrentes, a economia clássica negligenciou a importância da localização de instalações e do projeto da rede [logística], quando é sobejamente sabido que o número, o tamanho e as relações entre instalações utilizadas para executar as operações logísticas afetam diretamente o custo e a capacidade de prestação de serviços aos clientes. Uma rede de instalações logísticas constitui, assim, uma estrutura geograficamente definida e conexa a partir da qual as operações são executadas por agentes especializados. As instalações logísticas incorporam capacidades relacionadas com a informação e o transporte. Todas as tarefas específicas, associadas ao processamento de pedidos dos clientes, à manutenção de estoques e ao manuseio de mercadorias são executadas dentro da estrutura do projeto da rede [de instalações logísticas], o que deixa claro que a seleção de uma melhor rede [de instalações] em termos locacionais pode significar o primeiro passo para a obtenção de vantagem competitiva (Bowersox, 2001), seja do ponto de vista microeconômico (empresarial/individual) ou macroeconômico (global/regional). Para o desenvolvimento de uma moderna e eficiente rede de instalações logísticas, nos moldes e com os objetivos aqui propostos, torna-se necessária a determinação do que pode e deve ser feito pelo capital privado e do que precisa de financiamento com recursos públicos. Nesse contexto, um papel chave dos governos é o de implantar ligações para a conexão e a expansão do alcance das redes infra-estruturais de suporte às atividades logísticas, principalmente no segmento dos transportes. 8.4.3. Tipologias espaciais e funcionais de plataformas logísticas De um ponto de vista espacial, Fabbe-Costes (1994) construiu, a partir da experiência européia contemporânea, uma tipologia de instalações logísticas que compreende três modelos básicos: i) a instalação logística isolada, que corresponde a um local fisicamente delimitado, no qual uma única empresa privada executa atividades logísticas, simples ou complexas, para si própria ou para terceiros; ii) a plataforma logística, que também é um espaço fisicamente delimitado, otimizado e organizado por governos e/ou empresas privadas, no contexto de uma política de ordenação espacial e desenvolvimento regional, envolvendo várias instalações logísticas individuais que fazem uso comum de redes de infra-estrutura, particularmente recursos de telemática e de transporte multimodal; iii) o pólo logístico, que é um espaço não tão bem delimitado do ponto de vista físico, necessariamente multimodal, de emergência espontânea, no qual concentram-se, por justaposição, atividades logísticas como as anteriormente discriminadas. Em estudo recente acerca do estado da arte de implantação de suportes logísticos de plataforma em alguns países europeus (principalmente na Espanha, França e Itália), Hernández et al. (2000) demonstram múltiplas experiências, com diferentes características de escala e funcionalidade. Concluem que os suportes logísticos de plataforma constituem uma ferramenta 138 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos de grande utilidade para o desenvolvimento da competitividade empresarial em uma dada região, já que estudos secundários mostraram as melhorias qualitativas que se obtém ao implementar este tipo de instrumento logístico. Em Minas Gerais, assim como no Brasil como um todo, o processo de desenvolvimento das atividades e das redes de instalações logísticas, segundo padrões condizentes com as melhores práticas internacionais, encontra-se, de um modo geral, em estágio inicial, embora tenha enorme potencial de expansão. Como em toda indústria nascente, o setor de logística integrada apresenta problemas e oportunidades. Evidentemente, já existem experiências bem sucedidas, principalmente a partir da metade dos anos 90, com a entrada no mercado brasileiro de alguns importantes operadores logísticos internacionais e de grandes empresas, a exemplo de montadoras de veículos e de grandes distribuidoras e varejistas, já acostumadas a fazer uso de serviços e instalações logísticas de ponta em suas matrizes. Outro fator relevante tem sido a expansão das estações aduaneiras de interior (EADIs), ao redor das quais estão se implantando terminais e centros de distribuição de cargas, constituindose verdadeiros embriões de plataformas logísticas regionais. Neste caso, um exemplo que se destaca é a USIFAST: um sistema integrado de logística e operações aduaneiras localizado em importante entroncamento rodo-ferroviário da região metropolitana de Belo Horizonte. Compõese de uma divisão de transportes, uma estação aduaneira de interior, uma divisão de logística industrial e um terminal para armazenagem de cargas e contêineres - Usicon. Formada por uma associação das empresas Usiminas, Fasal e Tora Transportes, o Usifast realiza cerca de 65% do movimento de transporte e distribuição da Usiminas e 30% da Cosipa (siderúrgica do sistema Usiminas). Construído com o objetivo principal de atender à Fiat Automóveis, o Usifast é responsável pela movimentação de 50% de seus contêineres. Além disso, o Usifast armazena (em 72.000/m2) e transporta (num sistema just-in-time) suprimentos e peças da Fiat e de seus fornecedores. A Fiat, como cliente do complexo, representa 10% do faturamento da divisão de transporte e 40% do faturamento da estação aduaneira (Silva Júnior et al., 2001). 8.4.4. Vantagens competitivas das plataformas logísticas Diferentes indústrias e setores produtivos, para incrementar sua competitividade no mercado global, estão praticamente obrigados a reduzir ao máximo os custos logísticos e de transporte que gravam os preços de seus produtos, os quais devem estar disponíveis para os consumidores no momento preciso. A experiência acumulada em muitos países, nos últimos anos, tem demonstrado que a existência e o desenvolvimento de plataformas logísticas contribuem precisamente para a redução dos custos implícitos na cadeia logística. Por isso, e de forma progressiva, é cada vez maior o número de empresas especializadas nos diferentes subsetores da logística60 que, nesses países, decidem se instalar em plataformas logísticas. Dentre as muitas vantagens desse modelo de organização produtiva, destacam-se: instalações físicas especialmente projetadas para o desenvolvimento das atividades logísticas; oferta de vias de acesso e áreas de manobra e estacionamento com a suficiente capacidade para a circulação de veículos de carga; 60 Dentre outros, recepção e controle de qualidade de mercadorias; gerenciamento de estoques, preparação de pedidos (picking); pesagem, etiquetagem e classificação; empacotamento e embalagem; fracionamento e troca de embalagens; centrais de controle de informação em tempo real; operações de suprimento em regime just in time; distribuição urbana e regional; recepção de devoluções, garantias e substituições (logística reversa). Capítulo 1 - Transporte e logística 139 BDMG 40 anos localização otimizada em relação às áreas industriais e residenciais e à presença de redes viárias multimodais; oferta de infra-estruturas e serviços de telecomunicações com capacidade suficiente e com disponibilidade de conexões telemáticas imediatas; serviços de vigilância e segurança comuns a todas as instalações, prescindindo de sistemas individualizados; serviços coletivos de manutenção, limpeza, iluminação, saneamento e controle ambiental, etc., e, portanto, de menor custo; disponibilidade de serviços complementares como agências bancárias, seguradoras, correios, restaurantes, etc.; localização conjunta de empresas do setor, o que facilita o inter-relacionamento e a maior sinergia entre elas. A instalação de uma empresa de serviços de transporte e logísticos em uma plataforma com as características pretendidas pode gerar sensível redução de seus custos totais de operação. Por outro lado, a relocalização de empresas especializadas em logística nas plataformas, com a desocupação de terrenos urbanos, muitas vezes em áreas densas, provoca a revalorização dos terrenos, recupera áreas degradadas, gera novas acessibilidades, etc., com a conseqüente melhoria do meio ambiente. No âmbito sócio-econômico, os serviços logísticos têm influência direta e indireta sobre a economia. As trocas experimentadas pelos fluxos de cargas e o desenvolvimento contínuo dos diferentes serviços logísticos incidem sobre: as inversões em infra-estrutura, material de transporte, instalações, etc., com impactos positivos na geração de emprego e renda; o emprego estrutural, em função do aumento dos fluxos de mercadorias processadas e transportadas; as receitas públicas, pois o incremento das atividades econômicas na área de influência da plataforma logística aumenta o valor adicionado, levando ao crescimento dos recursos fiscais 61 . 61 140 Estudos realizados na Espanha acerca da geração de empregos em plataformas logísticas chegaram a taxas médias entre 30 e 40 empregos por hectare, o que, com a estimativa de uma manipulação média de 30 mil toneladas por hectare, resulta numa média de 1.000 empregos por um milhão de toneladas de carga (fonte: <http: //www.puntolog.com>). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 9. 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INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 149 ENERGIA EM MINAS GERAIS ............................................................................................................................. 150 2.1. Estrutura das fontes energéticas .............................................................................................................................. 150 2.2. Demanda e oferta de energia por fonte e setor consumidor ............................................................................... 150 2.3. Características tecnológicas tornam inelástica a oferta de energia no curto prazo ....................................... 151 3. 4. ENERGIA ELÉTRICA - CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DAS FONTES ........................ 154 ENERGIA ELÉTRICA EM MINAS GERAIS: ESTRUTURA DO MERCADO ................................ 156 4.1. Determinantes da oferta de energia elétrica .......................................................................................................... 156 4.2. Consumo de energia elétrica: Minas Gerais x Brasil ............................................................................................. 158 5. NOVO MODELO DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA ....................................................................... 163 5.1. Introdução .................................................................................................................................................................... 163 5.2. Objetivos do novo modelo ....................................................................................................................................... 163 5.3. Novas Instituições ...................................................................................................................................................... 164 5.4. Consumidores Livres .................................................................................................................................................. 166 5.5. Principais segmentos do negócio de energia elétrica ............................................................................................ 166 5.6. Monopólio natural ...................................................................................................................................................... 169 5.7. Conseqüências nas tarifas .......................................................................................................................................... 171 5.8. Características do custo de investimento e vida útil do sistema e necessidade de capital a custos compatíveis com a rentabilidade do setor ................................................................................................................. 173 5.9. Economia de escala no setor .................................................................................................................................... 175 5. CONCLUSÕES ................................................................................................................................................................ 177 BDMG 40 anos 1. Introdução Este capítulo procura dar uma visão geral da energia em Minas Gerais, com ênfase na energia elétrica. Atualmente, o setor de energia elétrica brasileiro passa por uma profunda modificação e o novo modelo em implantação tem implicações significativas para o setor como um todo e para Minas Gerais em particular. Embora ainda não se tenha uma experiência mais longa com este novo modelo, tentou-se estimar as suas conseqüências para o Estado, analisando-se as ameaças e oportunidades que se configuram. Este capítulo segue a seguinte estrutura: Descrição geral da matriz energética de Minas Gerais. Os dados atualmente disponíveis se referem ao ano de 1999. Algumas mudanças pontuais podem ter ocorrido nos últimos anos, mas os dados disponíveis permitem uma visualização geral do quadro. Descrição e análise do setor elétrico no Estado. Apresentação do atual modelo do setor elétrico e, quando possível, identificação de suas conseqüências para Minas Gerais. Identificação de ameaças e oportunidades associadas ao novo modelo do setor de energia elétrica. Capítulo 2 - Energia 149 BDMG 40 anos 2. Energia em Minas Gerais1 2.1. Estrutura das fontes energéticas A demanda de energia em Minas Gerais representou, em 1999, 35 milhões de tEP2 . Em termos de participação relativa, a participação de Minas Gerais em relação a Brasil caiu de 14,5%, em 1978, para 13,6% em 1999. A TAB. 1 apresenta a estrutura energética de Minas Gerais, quanto às fontes primárias de energia. TABELA 1 MINAS GERAIS - DEMANDA DE ENERGIA POR FONTE - 1999 FONTES ENERGÉTICAS % DO TOTAL Energia hidráulica 37,8 Petróleo, gás natural e derivados 25,3 Lenha e derivados 21,6 Carvão mineral e derivados 9,4 Outras fontes 5,9 FONTE: CEMIG As seguintes observações podem ser feitas a partir da estrutura das fontes energéticas e de outros dados não mostrados na tabela: A energia hidráulica, em sua totalidade usada para geração de eletricidade, é a principal fonte, representando mais de um terço do total. As fontes renováveis de energia representam 65% do total da demanda estadual. O Estado de Minas Gerais importa todos energéticos não renováveis que consome, e parte dos renováveis. Existe um potencial de gases siderúrgicos do qual 65% são aproveitados. Os 35% restantes, ainda não aproveitados, totalizam 637 mil tEP, valor pouco inferior ao GLP consumido. Apenas em 1992, a energia hidráulica (em sua totalidade usada para produção de eletricidade) ultrapassou a lenha e derivados como energético primário. 2.2. Demanda e oferta de energia por fonte e setor consumidor A FIG. 1 mostra o fluxo entre as fontes energéticas primárias e o consumo final por setor. 1 2 150 Os dados deste item foram obtidos no home-page da Cemig (www.cemig.com.br). tEP , ou tonelada equivalente de petróleo é uma unidade utilizada para permitir comparações e agregações, uma vez que existe uma gama variada de unidades usadas para cada tipo de energético, e para cada tipo de aplicação: quilo calorias (kcal), quilowatt-hora (kWh), british thermal unity (BTU), Joule (J), etc. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos FIGURA 1 FONTE: CEMIG O setor industrial é responsável pela maior parcela do consumo, 20.015 mil tEP, correspondendo a 58% do total. A principal fonte desse setor é a energia elétrica de origem hidráulica. A lenha e derivados são a segunda fonte primária, aí incluído o carvão vegetal para uso siderúrgico. A terceira fonte importante é o carvão mineral e derivados, aí se destacando o uso siderúrgico. No consumo residencial, lenha e derivados ainda representam um peso importante, aproximadamente igual ao da energia elétrica. Os transportes têm o petróleo como fonte primária predominante, como era de se esperar. É interessante notar o peso da energia elétrica de origem hidráulica no setor agropecuário, superando o uso tradicional de lenha e derivados. Os dados apresentados aqui se referem a 1999 e o dinamismo de crescimento do consumo de eletricidade no setor agropecuário, nos últimos anos, pode ter intensificado o peso dessa fonte de energia. Ressalte-se ainda que a capacidade instalada para produção de energia elétrica em Minas Gerais supera a demanda local. O Estado apresenta um parque gerador com 11.435 MW (dados de 2000) enquanto sua demanda é de aproximadamente a metade desse valor. O Estado se caracteriza como um exportador de energia. 2.3. Características tecnológicas tornam inelástica a oferta de energia no curto prazo A capacidade de produção de energia elétrica do parque de geração existente é limitada por dois fatores: potência instalada e disponibilidade de fonte primária de energia. Capítulo 2 - Energia 151 BDMG 40 anos No caso das usinas termelétricas, a produção de energia depende da disponibilidade de combustível fóssil ou nuclear. Para as usinas hidrelétricas a produção fica limitada pelo volume de água das vazões afluentes e pelo volume de água armazenada nos reservatórios a montante das usinas. Em caso de ocorrência de hidrologia crítica, inferior àquela mínima utilizada para o dimensionamento energético das usinas, o parque gerador poderá ser insuficiente para atender à demanda prevista. Neste caso, ou quando não se expande adequadamente o parque gerador, pode ocorrer uma insuficiência de geração de energia para o atendimento da demanda, como aconteceu em 2001. Novas usinas não podem ser instaladas no curto prazo por dois fatores: tempo de construção de usinas termelétricas, menor que de hidrelétricas, é de no mínimo dois anos, incluindo a fabricação dos equipamentos, sem considerar o licenciamento ambiental; tempo para obtenção das licenças ambientais tem se estendido por até dois anos. Devido a esta inelasticidade para aumento da oferta no curto prazo, eventuais erros de planejamento ou fortes secas têm que ser enfrentadas com a redução da demanda, de forma a se ajustar à limitação da oferta. Para assegurar Expansão da Oferta os estudos realizados pelo Comitê de Revitalização do Setor Elétrico estão propondo o desenvolvimento de mecanismos que assegurem um suprimento confiável, tais como a criação de uma reserva de geração através do pagamento de encargos por capacidade e a agilização do processo de licenciamento ambiental. A expansão da oferta de energia elétrica para atender, em quantidade e qualidade, o crescimento do consumo depende de ações em diversas frentes, envolvendo agentes privados, que passam a ter um papel fundamental na realização dos investimentos, dentro de um ambiente competitivo de compra e venda de energia, e agentes institucionais responsáveis pela definição de políticas de desenvolvimento do setor, pelas atividades relacionadas com o planejamento da expansão, pelas atividades de regulação e concessão, e pelas atividades de licenciamento ambiental dos empreendimentos. Em especial, a prática atual dos licenciamentos ambientais, realizada pelos órgãos estaduais e federais competentes, tem inserido prazos e requisitos adicionais que inviabilizam metas de implementação de empreendimentos. Nesse caso, torna-se necessário estabelecer diretrizes e mecanismos, com atribuição de responsabilidades claras pela condução dos processos, para agilização e consecução das análises realizadas pelos órgãos competentes pelos licenciamentos ambientais, associados aos empreendimentos de energia elétrica. O Ministério do Meio Ambiente colaborará com o Ministério das Minas e Energia ajudando na articulação com os órgãos e entidades responsáveis pelo licenciamento ambiental, regulando o uso de recursos hídricos, no sentido de viabilizar um conjunto de projetos que possam vir a integrar o catálogo, com um total de energia assegurada de pelo menos 150% do incremento da demanda para os próximos cinco anos. Os órgãos competentes, nos processos de autorização ou de licença dos empreendimentos necessários ao incremento da oferta de energia elétrica do País, atenderão ao princípio da celeridade. Os empreendimentos referidos compreendem, dentre outros, linhas de transmissão de energia; gasodutos e oleodutos; usinas termelétricas e hidrelétricas; fontes alternativas e importação de energia. 152 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Observado o disposto nos artigos. 3º, inciso II, e 225 da Constituição, o licenciamento ambiental dos citados empreendimentos deverá ser decidido pelos órgãos competentes, com todas as suas formalidades, incluída a análise do relatório de impacto ambiental, quando for o caso, no prazo de até: três meses para linhas de transmissão; quatro meses, para gasodutos, oleodutos e fontes alternativas; seis meses para hidrelétricas. O Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA estabelecerá procedimentos específicos simplificados de licenciamento, com prazo máximo de sessenta dias de tramitação, para os empreendimentos, referidos acima, de impacto ambiental de pequeno porte. Além das medidas acima, foi proposto que o MME deverá manter um catálogo atualizado de projetos hidrelétricos e termelétricos com estudos de dimensionamento, localização e licenciamento ambiental concluídos, permitindo sua execução em prazo relativamente curto por parte de investidores interessados. Capítulo 2 - Energia 153 BDMG 40 anos 3. Energia elétrica - características tecnológicas das fontes Neste item são analisadas as características tecnológicas do parque gerador de eletricidade no Brasil e em Minas Gerais. A energia elétrica, no Brasil, foi desenvolvida com forte predominância da energia de origem hidráulica, em função da disponibilidade dessa fonte de energia em todo o território nacional e, particularmente, na Região Sudeste, onde se encontrava (e ainda se encontra) a maior parte do mercado consumidor. Além disso, outras fontes primárias de geração apresentavam limitações. O País não possuía reservas adequadas de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) e, mais tarde, com o surgimento da energia nuclear, era carente de tecnologia e capacidade industrial. A opção hidráulica foi, assim, a alternativa mais óbvia e, por décadas, se mostrou uma opção eficaz. A legislação básica para a exploração da energia elétrica foi criada na década de 1930 e é representativo desse viés hidrelétrico o fato de as regras de exploração do serviço estarem consubstanciadas em um corpo de normas chamado Código de Águas. Durante décadas, esse modelo prevaleceu, permitindo ao país o desenvolvimento de qualificação industrial adequada à sua exploração, mormente no que diz respeito à manufatura de equipamentos e à engenharia civil. Ainda hoje, essa tendência se manifesta no perfil de produção de eletricidade do país. A TAB. 2 Mostra o perfil do parque gerador brasileiro em função do tipo de usina. TABELA 2 BRASIL- PARQUE GERADOR DE ELETRICIDADE POR TIPO DE USINAS TIPO PARTICIPAÇÃO NO TOTAL % Hidráulicas 88,4 Térmicas 11,6 FONTE: CEMIG A opção por usinas hidráulicas apresenta uma vulnerabilidade às condições meteorológicas, o que ficou evidente em 2001/2002, com o racionamento de energia, o apagão. Além disso, as opções hidráulicas mais econômicas, particularmente na Região Sudeste, já estão quase totalmente exploradas, e as grandes fontes restantes se localizam longe dos centros de carga, na Amazônia, principalmente. O desenvolvimento dessas fontes implicam em custos elevados de transmissão a longa distância e em problemas ambientais. Atualmente, abre-se, então, a perspectiva de incentivo a outras fontes de geração, destacandose o gás natural, como será abordado mais adiante. Em Minas Gerais, o peso da energia hidráulica é ainda maior que a média nacional, como se pode ver pela estrutura do seu parque gerador, na TAB. 3 154 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos TABELA 3 MINAS GERAIS- PARQUE GERADOR DE ELETRICIDADE POR TIPO DE USINAS TIPO PARTICIPAÇÃO NO TOTAL % Hidráulicas 98,8 Térmicas Eólica3 1,2 <0,1 FONTE: CEMIG Esse perfil de geração, em Minas Gerais, tem os mesmos motivos que definiram o perfil nacional. Ressalte-se, ainda, que Minas Gerais apresenta um potencial hidráulico privilegiado devido a bacias hidrográficas particularmente apropriadas à exploração hidrelétrica, especialmente os Rios Grande e Paranaíba, estando a maioria desse potencial já explorada. 3 Usina Experimental Eólio-elétrica de Morro do Camelinho Capítulo 2 - Energia 155 BDMG 40 anos 4. Energia elétrica em Minas Gerais: estrutura do mercado Neste item, procura-se apresentar o panorama do consumo de energia elétrica em Minas Gerais, e compará-lo a outros estados da federação. Será abordada também a situação geral da disponibilidade de energia elétrica no Estado. As fontes principais de dados deste item foram o SIESE Sistema de Informações Empresariais do Setor de Energia Elétrica (disponível no site eletrobras.gov.br) e a Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig. Os dados da Cemig são de 2001, enquanto os do SIESE são de 2000. Os dados da Cemig abrangem a área do Estado sob sua concessão. 4.1 Determinantes da oferta de energia elétrica A oferta de energia apresenta alguns fatores que são determinantes, na construção e expansão do parque gerador. Os principais determinantes são apresentados a seguir. determinantes físicos e geográficos Como acontece no resto do país, Minas Gerais tem seu parque gerador predominantemente hidráulico e, por isso, determinado pela localização geográfica de seus potenciais. Por apresentar uma altitude média elevada e nascentes de rios caudalosos, nomeadamente Rios S. Francisco, Grande e Paranaíba, o Estado dispõe de potencial hidráulico significativo. Com exceção do Rio S. Francisco, com posição central e cortando o Estado na direção sul/norte, os principais potenciais hidrelétricos se localizam a oeste, nos Rios Paranaíba e Grande. A TAB. 4 mostra o peso das usinas localizadas nesses rios, em relação à capacidade instalada de Cemig:4 TABELA 4 PRINCIPAIS USINAS DA CEMIG POR BACIA HIDROGRÁFICA CAPACIDADE MW % Total Cemig Paranaíba 1.710 28,5 Paranaíba Araguari Paranaíba Paranaíba 1.192 510 19,9 8,5 Araguari Paranaíba Usina Rio Bacia São Simão Paranaíba Emborcação Nova Ponte Miranda Total Rio Paranaíba 398 6,6 3.810 63,5 Jaguara Grande Grande 424 7,1 Volta Grande Grande Grande 380 6,3 Igarapava Grande Grande 210 3,5 Itutinga Grande Grande 52 0,9 Camargos Grande Grande 48 0,8 Total Rio Grande 1.114 18,6 Total Rios Grande e Paranaíba 4.924 82,1 FONTE: CEMIG 4 156 Apresentou-se apenas a situação das usinas da Cemig, uma vez que, em sua quase totalidade, se destinam ao fornecimento de energia elétrica a Minas Gerais, que é o objeto de análise deste capítulo. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento Já, o mercado consumidor do Estado se localiza na sua parte central e no leste, particularmente no Vale do Aço. Como conseqüência, existe um fluxo líquido de energia na direção oeste-leste, através de um pesado sistema de transmissão. BDMG 40 anos Pode-se observar que mais de 80% da capacidade total instalada da Cemig está localizada nessas duas bacias. As bacias hidrográficas de Minas Gerais ainda apresentam potencial de exploração energética, mas essa exploração não deve apresentar o mesmo dinamismo do passado, por vários motivos. Em primeiro lugar, os melhores aproveitamentos já estão sendo explorados, restando aqueles menos econômicos. Em segundo lugar, o novo modelo do setor permite às empresas de energia elétrica a construção de usinas em qualquer local do país, não as limitando às suas áreas de concessão. Nesse caso, a existência e exploração de recursos eletro-energéticos dentro do estado perde a importância estratégica que teve no passado. Outro fator que deverá afetar a expansão do parque gerador de energia elétrica é a disponibilização do gás natural, que deverá ter impacto na matriz energética do País e de Minas Gerais. Determinantes econômico-financeiros Após um início baseado em capital privado nacional e estrangeiro, o sistema elétrico brasileiro (geração, transmissão e distribuição) se desenvolveu, após a Segunda Guerra, basicamente a partir de empresas estatais5 e com recursos financeiros públicos ou de instituições internacionais de financiamento (IBRD e BID, principalmente). A partir da década de 1960, esse fato se acentuou com a encampação das últimas grandes empresas privadas estrangeiras: Light Rio, Light S. Paulo e, mais tarde, a Companhia Força e Luz de Minas Gerais. Esse modelo se caracterizava, ainda, por uma forte regulamentação tarifária, muitas vezes usada pelos governos para controle da inflação, com conseqüências negativas no desempenho econômico-financeiro das empresas. Esse modelo se esgotou já na década de 1990, e os recursos antes disponíveis, quer governamentais, quer internacionais já não estão disponíveis nos níveis necessários. O novo modelo vem, então, modificar esse quadro, procurando viabilizar o investimento privado no setor. Surgem, então, novos atores nesse cenário, entre os quais se destacam o consumidor livre, o produtor independente, o comercializador e outros, como abordados em maior detalhe mais adiante neste texto. Ressalte-se que Minas Gerais apresenta uma situação peculiar nesse quadro, por ter uma empresa estatal explorando o negócio de energia elétrica em todos os seus aspectos: geração, transmissão, distribuição e comercialização (este último em implantação). O novo modelo se ressente, entretanto, da definição de regras claras e permanentes que lhe permitam alcançar seus objetivos. Essa deficiência é o seu principal ponto de estrangulamento atualmente. Determinante tecnológico A tecnologia não tem sido um limitador no desenvolvimento energético do país. Ao longo das décadas, a indústria e a engenharia de projeto e construção nacionais, ou estrangeiras instaladas aqui, se desenvolveram o suficiente para atender nossas necessidades e ainda vender equipamentos e serviços no exterior. A própria Cemig tem fornecido serviços de planejamento, projetos e outros em diferentes países. 5 A Chesf, Centrais Elétricas do S. Francisco, foi criada no final dos anos 40, a Cemig em 1952 e Furnas Centrais Elétricas na década dos 60. A Cemig foi um marco de eficiência e de planejamento de empresa integrada de energia elétrica, explorando a geração, a transmissão e a distribuição. Capítulo 2 - Energia 157 BDMG 40 anos A utilização de gás natural para geração elétrica poderá modificar um pouco este quadro, uma vez que a indústria de equipamentos para esse tipo de tecnologia é fortemente oligopolizada, concentrando-se em quatro grandes fabricantes: General Electric, Mitsubishi, Alstom e Siemens. Deve-se ainda considerar o uso de fontes alternativas de energia, tais como biomassa, energia eólica e solar. A biomassa parece promissora em Minas Gerais, principalmente pela disponibilidade de bagaço de cana e de maciços de reflorestamento. Seu uso poderá ser particularmente interessante na co-geração, mas o potencial total não passa de uma fração da demanda global de energia elétrica no estado. A tecnologia envolvida não deverá apresentar problemas. As energias eólica e solar ainda não representam níveis significativos de potencialidade, limitando-se a usos específicos tais como propriedades rurais isoladas da malha do sistema elétrico, ou usos experimentais, como é o caso da usina eólica do Morro do Camelinho. Determinante estratégico As décadas pós-guerra consolidaram a tendência existente, na década de 1930, e determinaram o crescimento do parque gerador para as décadas seguintes. Houve uma clara opção pela energia hidráulica em função da ausência de fontes nacionais de combustíveis fósseis e inexperiência na então incipiente tecnologia nuclear. Destaca-se, nesse período, o trabalho conjunto entre o Brasil e consultorias americanas e canadenses na elaboração de um planejamento energético de longo prazo, que incluiu um levantamento exaustivo dos potenciais hidráulicos do país. Num primeiro momento, esse projeto, conhecido como Canambra6 , planejou e levantou o potencial energético da Região sudeste, sendo posteriormente estendido às outras regiões do País. Minas Gerais representou um papel preponderante nesse projeto, não só por tê-lo iniciado (Grupo de Trabalho ONU-Cemig, que deu origem à Canambra), como por ter fornecido recursos humanos qualificados que participaram do desenvolvimento de modelos energéticos então inéditos no mundo, uma vez que a combinação de características do sistema brasileiro não encontrava paralelo em outros países: sua extensão territorial e a grande predominância de energia hidráulica com grandes reservatórios de regularização. Hoje, o determinante estratégico já não é mais a identificação de fontes energéticas ou desenvolvimento de qualificação tecnológica para enfrentamento da questão. Trata-se, agora, de uma estratégia de viabilização do negócio energia elétrica para o capital privado em substituição ao investimento estatal e implantação de competição entre os exploradores do negócio, com aumento do poder de escolha do consumidor. Outro fator estratégico a ser levado em conta é o fator ambiental, com a crescente conscientização da sociedade. Embora ainda presentes e importantes, a disponibilidade de fontes sejam hidráulicas, nucleares ou fósseis perdem a importância relativa que já tiveram no passado. 4.2. Consumo de energia elétrica: Minas Gerais x Brasil O consumo de energia elétrica de Minas Gerais representa 12,8% do consumo total do País, e é inferior somente ao de S. Paulo. O fluxo energético em Minas Gerais, em 1999, é apresentado na FIG. 2 6 158 Canambra é uma sigla decorrente dos três países envolvidos no projeto: Canadá, Estados Unidos (América) e Brasil. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS – FLUXO ENERGÉTICO DA FONTE ENERGIA HIDRÁULICA E ELETRICIDADE - 1999 BDMG 40 anos FIGURA 2 Mil GWh Combustíveis FONTE: CEMIG A TAB. 5, mostra o consumo das Unidades da Federação e a sua participação percentual no consumo total do Brasil. O mercado de energia elétrica de Minas Gerais apresenta como principal característica um intenso consumo industrial e, como conseqüência, a sua participação no consumo industrial do País é bem maior que sua participação no consumo global. Enquanto Minas representa 12,8% do consumo total do País, o seu consumo industrial representa mais de 17% do consumo industrial nacional. O consumo total de Minas Gerais corresponde a 80% do consumo total de toda a Região Sul. Essa característica é resultado da existência, no Estado, de indústrias eletro-intensivas. Capítulo 2 - Energia 159 BDMG 40 anos TABELA 5 CONSUMO TOTAL DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL - 2000 Região Norte Rondônia Consumo GWh % do Total Brasil 15.993 1.059 5,2 0,3 Região Nordeste Maranhão 352 0,1 2.882 0,9 Acre Amazonas Roraima Consumo GWh % do Total Brasil 49.457 8.265 16,2 2,7 Piauí 1.390 0,5 Ceará 5.916 1,9 0,9 315 0,1 Rio Grande do Norte 2.737 10.227 3,3 Paraíba 2.588 0,8 Amapá 437 0,1 Pernambuco 7.637 2,5 Tocantins 721 0,2 Alagoas 3.387 1,1 Sergipe 2.176 0,7 Bahia 15.361 5,0 Região Centro-Oeste 16.555 5,4 Mato Grosso do Sul Mato Grosso 2.962 3.156 1,0 1,0 Goiás 6.653 2,2 Distrito Federal 3.784 1,2 TOTAL BRASIL 305.603 100,0 Pará Região Sudeste 174.595 57,1 39.080 12,8 Espírito Santo 6.727 2,2 Rio de Janeiro São Paulo 31.686 97.102 10,4 31,8 Região Sul 49.003 16,0 Paraná 17.158 5,6 Santa Catarina 12.141 4,0 Rio Grande do Sul 19.704 6,4 Minas Gerais FONTE: CEMIG O perfil de consumo de energia elétrica de Minas Gerais se diferencia do resto do país, com um peso mais significativo do consumo industrial. A TAB. 6 mostra a participação relativa das classes de consumo para o Brasil e Minas Gerais. TABELA 6 CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA POR CLASSE DE CONSUMO CLASSE DE CONSUMO BRASIL% DO TOTAL MINAS GERAIS% DO TOTAL Industrial 43 58 Residencial 27 21 Comercial 16 10 Outros 14 11 FONTE: CEMIG Enquanto que para o País, como um todo, o consumo industrial representa 43%, este percentual é de 58% em Minas Gerais. Apenas o Pará e o Maranhão apresentam participações percentuais do consumo industrial superiores ao de Minas. Esses estados, além de ter um consumo total inferior ao mineiro, apresentam umas poucas indústrias com alto consumo: a Alumar, de alumínio, no Maranhão e a mineração Carajás, no Pará. Os pesos relativos do consumo industrial para cada unidade da federação são mostrados na FIG. 3 abaixo. 160 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos FIGURA 3 PARTICIPAÇÃO DO CONSUMO INDUSTRIAL CONSUMO TOTAL EM % 90 80 70 MA PA 60 50 MG AL ES BA SE SC SP PR 40 30 Média nacional: 43% RS PB AM CE RN RJ PE GO 20 MT MS RO TO DF 10 PI AC AP RR 0 FONTE: CEMIG No ano 2001, o mercado da Cemig, responsável por aproximadamente 90% do consumo no Estado, apresentava o seguinte perfil de consumo industrial (indústria de transformação), por tipo de consumidor: TABELA 7 PERFIL DO MERCADO INDUSTRIAL DA CEMIG -2001 TIPO DE INDÚSTRIA CONSUMO ANUAL % DO MERCADO INDUSTRIAL GWh simples acumulado Metalúrgica ( Siderurgia, não ferrosos, Ferroligas e outras) 10.346 56 56 Química 2.466 13 69 Minerais não metálicos (cimento e outras) 1.535 8 78 Outras 4.138 22 100 Total 18.485 100,0 FONTE : CEMIG Três tipos de indústria são responsáveis por 78% do consumo industrial na área de concessão da Cemig, o que é um indicador da característica de consumo eletro-intensivo. O consumo médio por consumidor também reforça essa característica: TABELA 8 MERCADO INDUSTRIAL CEMIG: CONSUMO ANUAL MÉDIO - 2001 TIPO DE INDÚSTRIA Metalúrgica ( Siderurgia, não ferrosos, Ferroligas e outras) CONSUMO GWH/ANO NÚMERO DE CONSUMIDORES CONSUMO MÉDIO ANUAL MWH/CONSUMIDOR 10.346 8.024 1.289 Química 2.466 671 3.675 Minerais não metálicos (cimento e outras) 1.535 5.130 299 (Continua...) Capítulo 2 - Energia 161 BDMG 40 anos TABELA 8 MERCADO INDUSTRIAL CEMIG: CONSUMO ANUAL MÉDIO - 2001 CONSUMO GWH/ANO TIPO DE INDÚSTRIA Outras Total NÚMERO DE CONSUMIDORES CONSUMO MÉDIO ANUAL MWH/CONSUMIDOR 4.138 38.022 109 18.485 51.847 357 FONTE: CEMIG, 2001. Por outro lado, o consumo residencial em Minas Gerais apresenta valor médio inferior à média nacional, como mostra a FIG. 4. FIGURA 4 CONSUMO RESIDENCIAL / CONSUMIDOR POR kWh / ANO 3.500 DF 3.000 RR 2.500 2.000 SP AP MT RJ Média nacional: 2.063 kWh/ano AMSC MSRS RO ES PR AC PA GO MG 1.500 PE TO RN BA AL CE SE PI PB MA 1.000 500 - DF Apenas 10 estados têm consumo médio residencial inferior ao de Minas Gerais e todos eles, com exceção de Tocantins, na Região Nordeste. 162 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 5. Novo modelo do setor de energia elétrica 5.1. Introdução Para a compreensão do que está acontecendo hoje no Setor de Energia Elétrica Brasileiro, é necessário fazer um breve retrato desse Mercado que começou a se reestruturar a partir de 93, mas que somente dois anos mais tarde, com a aprovação da lei que trata da concessão dos serviços públicos, obteve as condições necessárias para se organizar de forma competitiva. Os anos 90 reuniram todos os fatores que poderiam contribuir para o agravamento de uma crise no Setor Elétrico: o esgotamento da capacidade de geração de energia elétrica das hidrelétricas existentes, o aquecimento da economia provocado pelo Plano Real, a necessidade de novos investimentos e a escassez de recursos do Governo para atender a esta necessidade diante de outras prioridades. É representativo desse novo papel do Governo o fim do Imposto Único sobre Energia Elétrica (IUEE) que, no passado, foi fonte importante de recursos para financiamento da expansão do setor. Fazia-se necessário encontrar alternativas que viabilizassem a reforma e expansão do setor, com capitais privados e a entrada de novos Agentes. O Governo deixa a sua condição de Estado empresário, não mais compatível com o novo modelo de desenvolvimento de uma economia globalizada, para assumir o papel de agente orientador e fiscalizador dos serviços de energia elétrica. Assim, em 1996, iniciou-se a fase de concepção do novo modelo, sob a coordenação da Secretaria Nacional de Energia do Ministério de Minas e Energia, chegandose a conclusão que era preciso criar uma Agência Reguladora (ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica), um operador para o sistema (ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico) e um ambiente (MAE - Mercado Atacadista de Energia Elétrica). Antes da reforma, praticamente todos os segmentos do setor elétrico eram de propriedade pública (federal e estadual, no caso de geração e transmissão; estadual e municipal, no caso de distribuição e comercialização), sendo que apenas 0,1% dos ativos de geração e/ou distribuição eram explorados por empresas privadas de abrangência geográfica limitada, várias delas de âmbito municipal. 5.2. Objetivos do novo modelo O novo modelo tem, entre outros, os seguintes principais objetivos: assegurar os investimentos necessários para a expansão da oferta de energia, uma vez que havia uma percepção de esgotamento da capacidade do Estado de investir em infra-estrutura na escala necessária para atender ao aumento da demanda; assegurar que o setor fosse economicamente eficiente, utilizando os recursos disponíveis para garantir um suprimento confiável de energia elétrica ao menor custo possível; estabeler a competição nos segmentos de geração e comercialização para consumidores livres, com o objetivo de estimular o aumento da eficiência e redução dos preços; Capítulo 2 - Energia 163 BDMG 40 anos estabelecer os monopólios regulados nas atividades de transmissão, distribuição e comercialização para consumidores cativos. A coexistência de setores regulados e competitivos é um dos principais desafios na implementação de reformas no setor elétrico. Seu equacionamento requer a adoção das seguintes medidas: regulação por incentivos dos segmentos de monopólio natural, através de ações que estimulem a eficiência e modicidade dos preços dos segmentos regulados. defesa da concorrência, por meio da regulação de conduta e da estrutura. A primeira visa coibir o exercício de poder de mercado e a segunda promover o livre acesso às redes de transmissão e distribuição, de forma a permitir efetivamente a competição na geração e comercialização. A garantia de livre acesso em geral requer a desverticalização, ou seja, separação entre as atividades de geração, transmissão e comercialização. Finalmente, o modelo regulatório foi construído dentro de uma perspectiva de privatização generalizada da geração e da distribuição, com exceção das geradoras nucleares (parcela relativamente pequena do sistema) e Itaipu. A principal motivação técnica para a privatização é a separação entre atividades empresariais e atividades típicas de governo, equalizando as condições de atuação dos agentes no mercado competitivo. 5.3. Novas Instituições A reforma do setor provocou o surgimento de novas funções e modificou o conteúdo e a forma de outras atividades, como, por exemplo, a regulamentação. Isto tornou necessária a criação de novas entidades. Dentre estas, são especialmente relevantes para o dia-a-dia das empresas do Setor: Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL é o órgão regulador e fiscalizador do Setor Elétrico. Além das suas competências básicas, à ANEEL foi atribuído, por delegação da União, o papel de Poder Concedente. Suas atribuições incluem, dentre outras, promover as licitações destinadas à contratação de concessionárias de serviço público para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos; celebrar e gerir os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso de bem público, expedir as autorizações, bem como fiscalizá-los; além de regular as tarifas e estabelecer as condições gerais de contratação do acesso e uso dos sistemas de transmissão e de distribuição de energia elétrica por concessionário, permissionário e autorizado, bem como pelos consumidores livres. Finalmente, cabe à ANEEL definir as regras de participação no MAE, homologar o Acordo de Mercado e autorizar as atividades do ONS. Mercado Atacadista de Energia Elétrica MAE foi definido como o ambiente onde se realizariam as transações de compra e venda de energia elétrica no Sistema Interligado Brasileiro, incluindo as atividades de contabilização dessas transações e liquidação das diferenças verificadas entre os valores contratados e verificados por medição. O MAE é uma pessoa jurídica do direito privado, sem fins lucrativos, submetido à regulamentação e fiscalização da ANEEL, integrado por titulares de concessão, permissão ou autorização e agentes com a finalidade de viabilizar a compra de energia elétrica nos sistemas interligados. O MAE é regido por uma Assembléia Geral, composta por representantes de Produção e Consumo. O MAE, da forma como estava constituído, apresentava conflitos de interesses, resultando em paralisia do Mercado e a falta de credibilidade, e não estava 164 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos desempenhando as funções que lhe foram atribuídas, comprometendo, assim a expansão da oferta de energia elétrica. Assim, com a publicação da Medida Provisória n.º 29, de 07 de fevereiro de 2002, foi autorizada a criação do MAE como pessoa jurídica de direito privado, submetido à regulamentação por parte da ANEEL. São membros obrigatórios do MAE - Mercado Atacadista de Energia Elétrica: Titulares de concessão ou autorização para exploração de serviços de geração que possuam central geradora com capacidade instalada igual ou superior a 50 MW; Titulares de concessão, permissão ou autorização para exercício de atividades de comercialização de energia elétrica com mercado igual ou superior a 300 GWh/ano; Titulares de autorização para importação ou exportação de energia elétrica em montante igual ou superior a 50 MW; Será facultativa a participação, no MAE, dos titulares de autorização para auto-produção e co-geração com central geradora de capacidade instalada igual ou superior a 50 MW, desde que suas instalações de geração estejam diretamente conectadas às instalações de consumo e não sejam despachadas centralizadamente pelo ONS, por não terem influência significativa no processo de otimização energética dos sistemas interligados. Será também facultativa a participação no MAE dos demais titulares de concessão ou autorização para exploração de serviços de geração; para exercício de atividades de comercialização de energia elétrica; para importação e exportação de energia elétrica e consumidores livres. Operador Nacional do Sistema Elétrico ONS foi instituído como personalidade jurídica de direito privado, responsável pelo planejamento e programação da operação. O ONS atua mediante autorização e fiscalização da ANEEL e tem como objetivos: promover a otimização da operação do sistema eletro-energético, visando alcançar o menor custo; garantir que todos os agentes do setor elétrico tenham acesso à rede de transmissão de forma isonômica; incentivar a expansão do sistema a um menor custo, através da sinalização eficiente dos preços de transmissão; operar as instalações elétricas da Rede Básica; despachar as gerações integradas (acima de 50 MW), buscando a otimização energética em nível nacional; cobrar os encargos pelo uso da Rede Básica de Geradores e Comercializadores. Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão - CCPE está estabelecido no âmbito do Ministério de Minas e Energia, tendo como objetivos principais: 1 - orientar as ações de governo para assegurar o fornecimento de energia elétrica nos padrões de qualidade e quantidade demandados pela sociedade, em conformidade com a Política Energética Nacional definida pelo Conselho Nacional de Política Energética CNPE; 2 - oferecer aos agentes do mercado de energia um quadro de referência para seus planos de investimentos (planejamento indicativo); 3 - estabelecer a expansão mais adequada da rede de transmissão, em consonância com os aspectos operacionais do sistema. Capítulo 2 - Energia 165 BDMG 40 anos 5.4. Consumidores Livres No Novo Modelo do Setor Elétrico, foi criada pela Lei 8987, de 13/02/95, a figura do consumidor livre que, respeitados os contratos de fornecimento vigentes, poderá optar pela compra de energia elétrica junto a qualquer concessionária ou agente comercializador do sistema interligado, para o atendimento da totalidade ou parte da sua demanda de energia elétrica. As condições para que o consumidor tenha opção de compra de energia elétrica são as seguintes: consumidores ligados antes de 08/07/95, cuja demanda contratada seja no mínimo de 10 MW, atendidos em tensão igual ou superior a 69 KV; consumidores ligados após 08/07/95, cuja demanda seja no mínimo de 3 MW, atendidos em qualquer tensão; consumidores ligados antes de 08/07/95, cuja demada contratada seja no mínimo de 3 MW, atendidos em tensão igual ou superior a 69 KV, poderão, a partir de 08/07/2000 ter opção de compra de energia. Os consumidores que atendam uma das condições acima, mas cujo contrato vigente não contenha cláusula de tempo determinado de fornecimento, só poderão optar por outro fornecedor após o prazo de 36 meses, contados a partir da manifestação formal ao concessionário. O Comitê de Revitalização considera que a presença de consumidores livres é fundamental para o desenvolvimento do mercado. É a livre busca de alternativas de suprimento por parte destes consumidores que efetivamente cria um mercado de energia elétrica, no qual preço é resultado do equilíbrio entre oferta e demanda. Nesse sentido, foi proposto que se considere livre todo consumidor com demanda contratada igual ou superior a 3 MW e a ampliação do número de consumidores livres de acordo com o seguinte cronograma: 1 MW, em 2004, e todos consumidores em alta tensão em 2005. 5.5. Principais segmentos do negócio de energia elétrica No novo Modelo do Setor Elétrico existirão unidades de negócios independentes para atuar em cada uma dos segmentos do negócio, geração, transmissão, distribuição e comercialização. Para as atividades de geração e comercialização será introduzida a concorrência, criando-se regras para competição pelo mercado. Para a transmissão e distribuição, que continuarão em regime de monopólio, existirão fórmulas regulatórias para incentivar a redução dos custos de operação e de expansão, com garantias de qualidade do serviço. Foi criada a figura do consumidor livre, que passa a ter a opção de compra de energia de qualquer gerador através de qualquer comercializador. A regulamentação e fiscalização do serviço prestado pelos agentes do Setor Elétrico fica a cargo da Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL. Ao Operador Nacional do Sistema Elétrico ONS compete a operação da Rede Básica de Transmissão e despachar as usinas geradoras integradas ao sistema; o Mercado Atacadista de Energia MAE é o ambiente onde ocorre a negociação de energia elétrica. 166 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Cada uma dessas unidades de negócio é descrita a seguir. Geração O segmento de geração abrange todas as atividades de produção de energia (usinas hidrelétricas, térmicas e outras fontes alternativas), incluindo a importação de países de fronteira, exercidas atualmente por Concessionários de Serviço Público de Geração e por Produtores Independentes de Energia PIEs, que podem ser subdivididas em dois grupos principais: operação inclui tudo o que for relacionado com o atendimento da demanda a cada instante, utilizando os recursos de geração disponíveis expansão abrange as decisões de investimento em nova capacidade, com o objetivo de assegurar o atendimento futuro da demanda. A geração atualmente existente passará, de forma gradual, a ser negociada livremente no mercado, o qual regulará os preços. Os contratos de suprimento entre as empresas geradoras e as empresas distribuidoras serão mantidos inalterados em 2002, e com os preços fixados pela ANEEL. A cada ano, a partir de 2003, 25% do volume de energia desses Contratos Iniciais serão liberados para ser livremente negociados, até atingir toda a geração . Em 2006, estará então plenamente implantada a competição na geração de energia elétrica, com os comercializadores vendendo a energia dos geradores para os consumidores livres e para as concessionárias atenderem seus consumidores cativos. Um problema que pode limitar a introdução da competição na geração é o fato de que as empresas concessionárias de distribuição podem comprar energia de empresas a elas associadas e vendê-la a seus consumidores. O Art. 7º da Resolução ANEEL nº 278/2000 estabelece um limite de auto-contratação de 30% para as distribuidoras. Entretanto, esse limite não se aplica à energia comprada de Itaipu, à proveniente de pequenas centrais hidrelétricas, às fontes alternativas de geração e às centrais cogeradoras. O limite também não se aplica às usinas termelétricas que iniciem sua operação, em 2002, e às usinas hidrelétricas que antecipem sua entrada para 2002. A conjugação desses três fatores, o limite de 30%, as diversas exceções a essa regra e o porte do parque gerador existente podem limitar a participação dos produtores independentes, não associados às distribuidoras. O Comitê de Revitalização propôs que as distribuidoras contratem energia para seus consumidores cativos através de licitações públicas. Além das vantagens de transparência e eficiência, um benefício adicional da licitação é impedir os efeitos indesejáveis da auto-contratação. Quando o processo de licitação for implantado, a Câmara de Gestão do Setor Elétrico analisará eventuais ajustes no limite hoje definido para a auto-contratação. Transmissão O segmento de transmissão se refere às atividades de transporte da energia produzida até os grandes centros de consumo. Assim como o segmento de geração, as atividades de transmissão podem ser subdivididas em operação e expansão. É garantido o livre acesso ao sistema de transmissão e as empresas transmissoras, detentoras de ativos de transmissão na tensão igual ou superior a 230KV, salvo algumas exceções, não cobrarão seu serviço de transporte diretamente dos clientes. O Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS cuidará da tarifação do serviço de transporte de toda esta rede. Capítulo 2 - Energia 167 BDMG 40 anos Os comercializadores contratarão o serviço de transporte do ONS, de acordo com as tarifas definidas por esse órgão e homologadas pela ANEEL. O ONS pagará a cada detentor de concessão de transmissão um valor definido em contrato com a receita arrecadada dos usuários do sistema de transmissão. As tarifas de transporte serão calculadas com base nos custos marginais de transmissão e serão aplicadas tanto à geração quanto à carga, e serão diferenciados pelos estados. Distribuição O segmento de distribuição se encarrega do transporte final da energia a partir dos pontos de entrega na rede de alta tensão até os consumidores finais. As funções das redes de transmissão e distribuição são análogas às das rodovias interestaduais e das estradas vicinais: as primeiras fazem o transporte por atacado da energia ao longo de grandes distâncias, e integram todo o país; as últimas fazem a distribuição no varejo da energia a partir das junções com as rodovias principais. As distribuidoras serão as empresas detentoras de ativos em tensão igual ou inferior a 138 KV, cuja função será prestar serviços de transporte a partir da operação e expansão do sistema elétrico de sub-transmissão e distribuição. As distribuidoras cuidarão da expansão dos seus sistemas e definirão os seus próprios preços de transporte, por nível de tensão, com base em metodologia definida pela ANEEL. Comercialização O último segmento, comercialização de energia, está encarregado das atividades de contratação da geração e revenda aos consumidores, sendo exercidas de maneira competitiva, por conta e risco dos empreendedores, mediante autorização da ANEEL. Os comercializadores comprarão energia dos geradores, contratarão com o ONS o serviço de transmissão e pagarão às distribuidoras pelo serviço de sub-transmissão e distribuição, dentro das limitações de autocontratação descritas acima. Os preços finais para o fornecimento aos consumidores livres serão negociados entre a comercializadora e o cliente final. Da receita da transação, após a cobertura dos custos de geração, transmissão e distribuição, acima mencionados, o resultado será destinado ao pagamento das despesas de comercialização (inclusive encargos e impostos) e o saldo restante será a margem de comercialização obtida pelo agente comercializador. Para atender aos consumidores livres não existe controle do Poder Concedente na fixação dos preços que serão resultado da concorrência entre a comercializadora local e outros comercializadores . Por outro lado, a comercialização de energia entre a comercializadora e o consumidor cativo (todo aquele que não é livre) é regulamentada pela ANEEL. O novo modelo prevê a desverticalização das quatro atividades descritas acima, o que ainda está em processo de implementação. A Cemig prevê a sua desverticalização para outubro de 2002, estruturando-se em forma de holding. Essa desverticalização terá como conseqüência maior transparência da estrutura de custos, evitando eventuais subsídios cruzados. Além disso, o novo modelo minimizará a concepção de monopólio natural, por décadas associado ao negócio de energia elétrica. Esses dois pontos são analisados a seguir. 168 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento O negócio energia elétrica tem sido abordado como um monopólio natural. Porém ao se analisar mais detalhadamente o setor, pode-se dizer que esse conceito não é inteiramente correto. As várias partes ou segmentos que constituem o negócio de energia elétrica têm características diferentes em relação ao conceito de monopólio natural. BDMG 40 anos 5.6. Monopólio natural Geração Nesse segmento, o novo modelo prevê a total liberdade de investimento em unidades geradoras, quer das empresas existentes, quer de auto-produtores, quer de produtores independentes.7 No modelo anterior existia uma tendência a limitar o parque gerador das concessionárias estaduais à sua área geográfica de concessão. Assim, por exemplo, o parque gerador da Cemig foi construído, historicamente, todo dentro de Minas Gerais ou nas sua divisas com outros estados. Empresas regionais, como Furnas, Eletronorte, Chesf e Eletrosul, construíram em vários estados, mas sempre na sua região de atendimento. No novo modelo essas limitações já não mais existem. Em maio de 2001, foi criada a Horizontes Energia com o objetivo de gerar e comercializar energia elétrica na modalidade de produção independente. A Horizontes Energia é uma das Empresas com Propósitos Específicos SPE da CEMIG. A empresa gerencia atualmente as usinas de Machado Mineiro e Salto Paraopeba em Minas Gerais, e Salto Voltão e Salto do Passo Velho , em Santa Catarina. No futuro, outros empreendimentos de geração que venham a ser adquiridos e/ou construídos com a participação da CEMIG serão geridos pela empresa. Transmissão O investimento em transmissão que constitui a Rede Básica, formada pelas instalações que operam em tensão igual ou superior a 230KV, no novo modelo, permite a abertura ao capital privado, reservando-se aos órgãos institucionais a regulação da atividade. As linhas de transmissão são licitadas pela ANEEL, a partir de planejamento elaborado pela ONS, e o grupo ganhador se encarrega de sua construção. As decisões de programação da operação do sistema fica a cargo do ONS. Uma tarifa mínima é garantida ao investidor, que é encarregado da operação e manutenção da linha. A tarifa cobre esses custos bem como permite uma remuneração do capital investido. Os custos de operação e manutenção são limitados a custos padrões estabelecidos pela ANEEL, funcionando no regime receita permitida ( price cap). As transmissoras (detentoras de ativos de transmissão8 ), definidas como sistema elétrico até o nível de tensão de 230kV não cobrarão o seu serviço de transporte diretamente dos clientes. O ONS, além de operar o despacho centralizado de geração e transmissão (ao mínimo custo), cuida da tarifação do serviço de transporte de toda essa rede básica. O acesso livre ao sistema de transmissão é garantido pelo ONS. As expansões dessa rede serão definidas pelo ONS e as novas instalações de grande investimento são colocadas em licitação pela ANEEL. As comercializadoras e os geradores contratam o serviço de transporte do ONS, através de preço definido por ele (e homologado pela ANEEL). De um lado o ONS recebe destes clientes e de outro paga as transmissoras. O ONS paga a cada detentor de concessão de transmissão um valor (anuidade ou 7 8 Auto-produtores são aqueles que geram energia para consumo próprio e eventualmente para venda de excedentes no mercado; produtores independentes são aqueles que investem em geração para sua exploração comercial. Cemig transmissora, Eletrosul transmissora, etc. ou novo proprietário de nova instalação elétrica de transmissão colocada em licitação. Capítulo 2 - Energia 169 BDMG 40 anos mensalidade), definido em contrato, ou seja a receita arrecadada dos clientes será repartida entre as transmissoras. A anuidade acertada com cada transmissora será no máximo igual à sua Receita Anual Permitida (revenue cap) definida em uma fórmula de incentivo, abandonando-se também a concepção do serviço pelo custo. A atividade de transmissão mantém, então, um alto nível de regulamentação quanto a operação e tarifas. O conceito de monopólio natural fica restrito, uma vez que qualquer investidor pode usar seus recursos para explorar o negócio transmissão. Porém, como não existirão linhas paralelas ligando os mesmos pontos, cada caminho será um monopólio. Comercialização A comercialização também sofreu um processo de abertura, permitindo a atividade de vários agentes que se qualifiquem junto à ANEEL. No atual modelo coexistem vários comercializadores no mesmo mercado, quebrando o antigo processo monopolista existente nas várias áreas de concessão e criando a competição comercial entre os atores. A viabilização da comercialização nesses moldes está vinculada à criação dos consumidores livres, que são aqueles que podem escolher a comercializadora de quem comprar energia. O Comitê de Revitalização considera que a presença de consumidores livres é fundamental para o desenvolvimento do mercado. É a livre busca de alternativas de suprimento por parte desses consumidores, o que efetivamente cria um mercado de energia elétrica, no qual preço é resultado do equilíbrio entre oferta e demanda. Nesse sentido, foi proposto que se considere livre todo consumidor com demanda contratada igual ou superior a 3 MW e a ampliação do número de consumidores livres de acordo com o seguinte cronograma: 1 MW em 2004 e todos consumidores em alta tensão em 2005. A empresa Tradener, com maioria de capital pertencente à Copel, é um exemplo de comercializadora em funcionamento: é a fornecedora da montadora Volkswagen, no ABC paulista, antiga área de concessão da Eletropaulo. No início da implantação do modelo, em 1998, foram fechados contratos iniciais entre empresas supridoras9 e as distribuidoras. A partir de 2003, a energia vendida pelas geradoras (nesse caso, no papel de comercializadoras) deverá ser disponibilizada para o mercado, em ritmo de 25% ao ano. Essas parcelas serão levadas a leilão e vendidas às comercializadoras. Em quatro anos, toda a energia disponível estará comercializada em regime de mercado livre. Atualmente, existem 35 empresas comercializadoras registradas na ANEEL e é de se ressaltar que nenhuma delas é de Minas Gerais. A comercializadora da Cemig está em processo de implementação e deverá se concretizar e entrar em operação no segundo semestre de 2002. A figura da comercializadora representa, assim, uma grande oportunidade de negócio, antes monopolizado pelas concessionárias. Minas Gerais está especialmente qualificada para a exploração desse negócio, dentro e fora de sua área geográfica, uma vez que tem profundo conhecimento do setor de energia elétrica. Porém, o quadro de comercializadoras já formalizadas na ANEEL mostra uma certa timidez da iniciativa mineira. 9 170 Empresas supridoras são aquelas que atuam no mercado de venda de energia em grosso. São típicas, na Brasil, a Chesf, Furnas e Eletronorte, que vendem em grosso para empresas distribuidoras. A Cemig é uma empresa distribuidora mas, também supridora, uma vez que fornece em grosso para outras empresas (Cataguases-Leopoldina e outras). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Durante alguns anos, existirá, ainda, a figura do consumidor cativo. Embora a filosofia do modelo seja que todo tipo de consumidor venha a ser livre, não há uma tendência ao monopólio regional dos consumidores residencial, comercial10 e rural. As comercializadoras compram energia das geradoras; contratam com o ONS o serviço de transmissão e pagam às distribuidoras pelo serviço de subtransmissão e distribuição. Esses custos, agregados ao custo próprio da comercialização, definem os preços finais ao mercado (seja livre ou cativo). Existe também uma fórmula de incentivo para definição de uma Receita Permitida (revenue cap) para o fornecimento, isto é, o valor máximo que pode ser repassado ou obtido do mercado cativo. A discriminação por unidades de negócio visa também tornar transparentes os custos de cada serviço, pois só assim é possível administrá-los. A diferenciação entre a distribuição como serviço de transporte e a comercialização como serviço de compra e venda visa, além disso, separar os custos de sistema elétrico dos custos comerciais. Distribuição A atividade de distribuição deverá apresentar o menor nível de competição e é a que mais se aproxima do monopólio natural. As redes de distribuição urbanas e rural dificilmente poderão ser construídas por diferentes empresas, nos mesmos locais (cidades ou áreas rurais). Esta atividade, no novo modelo, está separada da comercialização. Em resumo, o consumidor livre poderá optar pela comercializadora que o atenda, mas a energia fornecida fluirá pelo sistema de distribuição, pertencente à empresa de distribuição. O sistema físico de distribuição será operado e mantido pela distribuidora que cobrará da comercializadora tarifa que cubra suas despesas e remunere o capital imobilizado no sistema. Por se tratar de um monopólio, as empresas de distribuição terão tarifas altamente regulamentadas pelo poder concedente. As distribuidoras são definidas como empresas detentoras de ativos em tensão igual e inferior a 138KV. Entende-se como distribuidora a empresa que presta serviços de transporte, isto é, opera e expande o sistema elétrico de subtransmissão e distribuição - diferente da comercializadora que faz o serviço de comprar e vender. As distribuidoras cuidarão da expansão dos seus sistemas e definirão os seus próprios preços de transporte com base em metodologia ou linhas conceituais definidas pela ANEEL. Esses preços aplicados ao mercado deverão garantir, no máximo, uma arrecadação igual à Receita Anual Permitida para a distribuidora, definida também por fórmula que incentiva a redução de custos, a boa confiabilidade e qualidade do sistema e a redução de perdas. A fórmula da Receita Permitida (revenue cap) para a distribuidora mostra mais claramente o afastamento entre este modelo tarifário e o anterior, baseado no serviço pelo custo. As comercializadoras contratarão o serviço de transporte, em subtransmissão e distribuição, das distribuidoras. 5.7. Conseqüências nas tarifas As conseqüências do novo modelo nas tarifas são particularmente importantes para Minas Gerais, uma vez que uma parcela significativa de sua indústria é eletro-intensiva (siderurgia, ferroligas, alumínio, etc.) Atualmente, existe uma diferença expressiva entre os vários tipos de consumidores, com as tarifas de energia variando segundo a tensão de fornecimento (TAB. 9). 10 Consumidores comerciais de pequeno e médio porte. Os shopping centers já apresentam qualificação para serem livres. Capítulo 2 - Energia 171 BDMG 40 anos TABELA 9 TARIFA POR NÍVEL DE TENSÃO CLASSE DE TENSÃO DE FORNECIMENTO Tensão de fornecimento (kV) Geração Transmissão e Distribuição Total A1 A2 >230 88 a 138 58,8 9,6 68,4 A3 A3a A4 Baixa tensão 69 30 a 44 2,3 e 25 <220V 63,2 67,0 72,4 76,6 94,0 18,4 25,5 35,7 57,8 105,0 81,6 92,5 108,1 134,4 199,0 FONTE: CEMIG Os dados da tabela fazem supor a existência de subsídios cruzados, o consumo de alta tensão recebendo subsídios da baixa tensão. Um estudo mais profundo da existência ou não desses subsídios cruzados foge ao escopo deste trabalho, mas a suposição pode ser considerada válida. O novo modelo deverá eliminar subsídios cruzados, uma vez que a comercializadora comprará energia de geradoras que competem entre si e pagará tarifas de transmissão e distribuição regulamentadas pela ANEEL. O desaparecimento dos subsídios cruzados tornará impossível, ou quase, às empresas de energia elétrica manter os níveis atuais de preço. Como conseqüência, os consumidores eletrointensivos, os maiores beneficiados pelo subsídio cruzado, deverão partir para uma política de auto-produção. É emblemático dessa tendência o fato de o mais recente leilão de energia da ANEEL ter sido vencido, em sua maioria, por indústrias eletro-intensivas (alumínio e outras) Os consumidores que não são livres são chamados consumidores cativos. No médio prazo, esses não poderão escolher a sua comercializadora para adquirir energia elétrica. Exemplo desse tipo são os consumidores residenciais, comerciais de médio e baixo consumo e os consumidores rurais (excluídas, é claro, as agro-indústrias de alto consumo). São consumidores ligados às redes de distribuição urbanas e rurais. Nesse caso, a empresa distribuidora será também comercializadora e sua tarifa será regulamentada pelo poder concedente, através da ANEEL. Atualmente, o preço da energia comprada pelas distribuidoras para repasse aos consumidores cativos é regulamentado pelo Valor Normativo (VN) que estabelece um valor máximo para repasse. Esse valor é estipulado pela ANEEL, com base no custo de energia de uma nova hidrelétrica competitiva. A tarifa de energia elétrica para os consumidores cativos é constituída pelos seguintes componentes: Custos gerenciáveis, que são aqueles incorridos pelas empresas na operação e manutenção do sistema de distribuição. Essa parcela cobre também a remuneração do capital imobilizado no sistema. Essa parcela é revista anualmente e renegociada a cada período estabelecido no contrato de concessão, em geral 5 anos. No caso de se observar ganho de produtividade, estes são distribuídos entre os consumidores e a concessionária no período seguinte. Normalmente se espera ganho de produtividade, devido à melhoria de métodos de trabalho, adensamento de carga (kWh por km de linhas de distribuição, economia de escala em subestações de distribuição maiores, etc.). Custos não gerenciáveis, que são aqueles independentes da performance das empresas. Cobre custos da energia comprada, conta de consumo de combustível (CCC)11 , novos impostos, etc. 11 172 A CCC, Conta de Consumo de Combustível, é uma conta, rateada entre as empresas interligadas ao sistema, destinada a cobrir os custos de combustível das usinas térmicas interligadas ao sistema. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos A experiência atual tem mostrado que o conceito do VN não tem atendido seus propósitos originais. Já se discute sua substituição por leilões de energia. Em resumo, as tarifas de energia elétrica para os consumidores cativos são reguladas e devem cobrir as quatro atividades básicas nas quais o setor elétrico se divide: geração, transmissão, distribuição e comercialização. Para os consumidores livres, o preço da geração e comercialização não é regulado sendo formado pelo mercado, mas as tarifas para uso dos sistemas de transmissão e distribuição são reguladas. 5.8. Características do custo de investimento e vida útil do sistema e necessidade de capital a custos compatíveis com a rentabilidade do setor O setor se caracteriza por ser de capital intensivo com longo período de retorno do capital investido. No modelo antigo, o setor apresentava rentabilidade baixa e um baixo nível de risco, uma vez que as empresas eram monopolistas em suas áreas de concessão. Com o atual modelo, o risco nos segmentos sujeitos à competição aumentou devido à competição entre empresas na geração de energia elétrica e à crescente liberdade de escolha dos consumidores pela comercializadora de energia elétrica. Após o início da implementação do novo modelo, observou-se uma queda significativa nos custos de investimento, mormente na área de geração. Os custos de usinas hidráulicas construídas na década de 80, que eram acima de US$ 2.000 por KW instalado, hoje estão em torno de US$ 800/kW. Diferentemente do passado, quando instituições de financiamento nacionais (Eletrobrás, BNDES e bancos de desenvolvimentos estaduais) e internacionais (IBRD e BID) eram fontes seguras dos recursos necessários para empresas estatais do setor, o novo modelo se concentra em fontes privadas e recursos do BNDES destinados exclusivamente para empresas privadas. Por outro lado, os investidores privados no segmento de geração esperam taxas de retorno do capital investido significativamente superiores às praticadas no setor, no modelo antigo: nunca superior a 12% e freqüentemente bastante inferior. Além disso, apesar da longa vida útil das instalações e equipamentos do sistema elétrico (principalmente das usinas hidráulicas que supera 50 anos), os investidores privados esperam o retorno do capital investido bem mais rápido por estar vinculado ao período de financiamento em torno de 10 a 15 anos. O poder do atual modelo de incentivar o capital privado a investir no setor ainda é muito limitado, em função de incertezas na definição de regras claras consistentes e seguras. Atualmente, 33 medidas estão submetidas ao Comitê de Revitalização , a saber: Aperfeiçoamento do despacho e formação de preço; Implementação de oferta de preços; Regulamentação da Comercialização da Energia de Serviço Público; Fontes alternativas de energia; Universalização do atendimento; Continuação da reestruturação do MAE; Desverticalização; Capítulo 2 - Energia 173 BDMG 40 anos Reestruturação do MME; Reforço do sinal locacional nas tarifas de transmissão; Governança do ONS; Revisão dos certificados de energia assegurada; Estímulo à contratação bilateral; Estímulo à contratação de reserva de geração; Mudanças no valor normativo (VN); Subsídio ao gás natural; Estímulo à existência de consumidores livres; Eliminação dos subsídios cruzados; Limites para auto-contratação e participação cruzada; Aperfeiçoamento dos procedimentos de rede do ONS; Finalização e aperfeiçoamento dos modelos computacionais utilizados pelo ONS; Procedimentos de alerta quanto a dificuldades de suprimento; Supervisão por parte do MME das condições de atendimento; Estímulo à expansão da capacidade de suprimento de ponta; Aperfeiçoamento das metodologias para expansão da rede de transmissão; Estímulo à conservação e uso racional da energia; Aperfeiçoamento das regras do MAE; Aperfeiçoamento do processo de definição de submercados; Aperfeiçoamento das regras do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE); Separação das componentes de comercialização e rede nas tarifas de distribuição; Aperfeiçoamento e definições nas revisões tarifárias das distribuidoras; Agilização do processo de licenciamento ambiental; Tarifa social de baixa renda; Regularização dos contratos de concessão; Os resultados das medidas acima propostas pelo Comitê de Revitalização podem ser classificados em oito temas gerais: Normalizar o Funcionamento do Setor Conjunto de medidas de curto prazo visando normalizar o funcionamento do mercado. Aperfeiçoamento do Mercado Conjunto de medidas estruturais de reforço à livre competição no segmentos de geração e comercialização. 174 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Assegurar Expansão da Oferta Os estudos realizados pelo comitê mostraram que as características do sistema brasileiro, em particular a volatilidade dos preços de curto prazo e as dificuldades para que geradores hidrelétricos gerenciem seus riscos individuais, criam obstáculos importantes para a expansão competitiva da oferta que assegure de maneira consistente a confiabilidade de suprimento. Monitorar Confiabilidade de Suprimento Como indicado no relatório da Comissão de Despacho do Sistema Hidrotérmico e confirmado nos estudos deste Comitê, há deficiências no processo de acompanhamento das perspectivas de suprimento e na criação de instrumentos de ação preventivos e corretivos por parte do governo no caso de falhas de mercado. Aperfeiçoar Interface entre Mercado e Setores Regulados EsSe conjunto de medidas tem como objetivo assegurar que os sinais econômicos dos setores regulados para os competitivos induzam o desenvolvimento mais eficiente dos recursos Defesa da Concorrência Conjunto de ações visando evitar poder de mercado em segmentos competitivos ou entre segmentos competitivos e regulados Realidade Tarifária e Defesa do Consumidor Conjunto de medidas visando: (a) que as tarifas sejam aderentes aos custos de cada segmento de consumo (residencial, industrial e comercial); (b) que determinados segmentos de consumo não paguem desproporcionalmente pelo custo de medidas de interesse geral do país, tais como o estímulo a fontes alternativas de energia; (c) evitar a ocorrência de aumentos excessivos de tarifas, que não reflitam a perspectiva de preços a longo prazo; (d) universalizar o atendimento aos consumidores; e (e) regulamentação de uma tarifa social para consumidores de baixa renda. Aperfeiçoamento Institucional Reforçar a eficácia e transparência de atuação dos agentes institucionais do setor através do aperfeiçoamento de seus quadros técnicos e de seus procedimentos operacionais. Em junho de 2002, os trabalhos e estudos coordenados pela Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE) passaram a ser conduzidos pela Câmara de Gestão do Setor Elétrico (CGSE), criada para esse fim, vinculada ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A CGSE é presidida pelo Ministro de Minas e Energia e deve propor ao CNPE diretrizes para a elaboração da política do setor elétrico, além de gerenciar o Programa Estratégico Emergencial para aumento da oferta de energia. Os trabalhos da CGSE já estão resultando em profundas mudanças nas regras de funcionamento do Setor Elétrico e deverão continuar produzindo alterações nos próximos anos. 5.9. Economia de escala no setor A economia do setor elétrico apresenta uma série de vantagens econômicas, entre elas a de escala. O custo unitário de instalações do sistema é fortemente sensível à escala. O custo do kW instalado em usinas cai significativamente com o tamanho destas. Da mesma forma os custos de operação e manutenção (R$ por MWh) são sensíveis ao tamanho do mercado atendido. Também o nível de utilização do sistema pode contribuir para redução de custos unitários. No caso de energia elétrica esse nível pode ser medido pelo fator de carga, que é a relação entre a demanda média de energia, em um determinado intervalo de tempo e a demanda máxima. Uma vez que se trata de uma atividade intensiva em capital investido, o fator de carga é fundamental na definição dos custos globais unitários. Fatores de carga baixos implicam em parcelas crescentes de Capítulo 2 - Energia 175 BDMG 40 anos capital investido ocioso, o oposto ocorrendo com altos fatores de carga . Esse fenômeno tem sido considerado no setor elétrico em todo o mundo, pela criação de tarifas de incentivo ao consumidor, que procuram induzi-lo a um padrão temporal (e sazonal) de consumo que contribua para o aumento do fator de carga global do sistema. A integração de equipamentos de geração e transmissão em um macro-sistema também pode gerar economias de escala, como por exemplo a complementaridade entre usinas térmicas e usinas hidráulicas, pelo aproveitamento da energia sazonal excedente dos períodos chuvosos. Merecem destaque os grandes reservatórios que contribuem também para a elevação da produtividade do parque gerador, aumentando a energia garantida de outras usinas hidráulicas localizadas a jusante. Ressalte-se, ainda, a diversidade hidrológica que, num sistema elétrico da abrangência geográfica do brasileiro, também permite ganhos de escala. 176 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 6. Conclusões O novo modelo do setor de energia elétrica brasileiro representa uma mudança significativa nas regras que norteiam o setor. Aqui se destacam algumas conseqüências do novo modelo e seus prováveis impactos em Minas Gerais: a possibilidade de atuação fora do Estado e o surgimento da figura do consumidor livre abre perspectivas novas. A empresa concessionária do Estado, Cemig, poderá ampliar o seu mercado e área de atuação. Isto seria benéfico a Minas, uma vez que o centro de decisão de uma empresa de âmbito nacional permaneceria no Estado, com todas as conseqüências positivas associadas, tais como aquisição de bens e serviços disponíveis aqui, oferta de oportunidades para pessoal de alta qualificação profissional, etc. Por outro lado, a existência de um grande número de consumidores livres ou em condição de o ser, permite que outras empresas sediadas em outras unidades da federação, usufruam desses benefícios em detrimento da Cemig. o novo modelo deverá eliminar os subsídios cruzados, de que se beneficiam os consumidores em altas tensões e, particularmente, aqueles de consumo elétrico intensivo. Uma vez que uma das características de Minas Gerais é a existência, aqui, desse tipo de consumidor industrial, o impacto nos custos industriais deste Estado deverá ser mais significativo que em outros. A tendência atual de os grandes consumidores investirem em auto-produção, que não é o seu core business, pode abrir a oportunidade, para a Cemig, de parcerias ou prestação de serviços especializados de planejamento, projeto, gestão de construção, operação e manutenção, entre outros. a tendência a privilegiar a iniciativa privada poderá prejudicar a estatal mineira. Capítulo 2 - Energia 177 BDMG 40 anos 178 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI VOLUME III INFRA-ESTRUTURA: SUSTENTANDO O DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO 3 TELECOMUNICAÇÕES Cláudio Caetano Machado (Doutor e Professor Adjunto III do Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial / PUC Minas) Caio Bonilha (Professor e Consultor - Brampton Telecon) SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 183 EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO NOVO MODELO .................................... 184 2.1. Arcabouço jurídico que serviu de base para a reestruturação do Sistema Brasileiro de Telecomunicação .... 184 2.2. Quadro geral do STFC (Serviço de Telefonia Fixo Comutado) no Brasil ....................................................... 185 2.3. Quadro geral da telefonia móvel no Brasil ............................................................................................................. 189 2.4. Quadro geral da Internet no Brasil .......................................................................................................................... 193 2.5. Quadro geral da TV por assinatura no Brasil ......................................................................................................... 197 2.6. Quadro geral das Infovias no Brasil ........................................................................................................................ 200 3. GRAU DE UNIVERSALIZAÇÃO DO SERVIÇO DE TELEFONIA DOMICILIAR .................... 202 3.1. Densidade histórica de telefones nos EUA: um comparativo com o Brasil .................................................... 203 3.2. Projeção para 2002 da teledensidade e do percentual de domicílios que possuem telefone ........................ 205 3.3. Comparação da posse de bens e serviços: posição relativa da telefonia fixa ................................................... 205 3.4. Posse de telefone por características do chefe de domicílio ............................................................................... 206 3.5. Taxa de crescimento anual da posse de telefone por característica sócio-demográfica do chefe do domicílio ................................................................................................................................................ 207 4. OFERTA REGIONALIZADA DE SERVIÇOS E INFRA-ESTRUTURA POR SEGMENTO .... 216 4.1. STFC (Sistema de Telefonia Fixa Comutada) ....................................................................................................... 216 4.2. Telefonia móvel ........................................................................................................................................................... 217 4.3. Acesso a Internet ........................................................................................................................................................ 217 4.4. TV por assinatura ........................................................................................................................................................ 217 4.5. Redes de transporte e de acesso (INFOVIAS) ...................................................................................................... 218 5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ...................................................................................................................... 228 5.1. Perspectivas do setor como um todo para o Brasil nos próximos anos ............................................................ 228 5.2. Diagnóstico da posição relativa de Minas Gerais em relação ao Brasil à luz dos resultados encontrados . 229 5.3. Empresas e órgãos estaduais vinculados à Economia da Informação ............................................................... 229 5.4. Sugestão de ações ........................................................................................................................................................ 231 6. ANEXOS ............................................................................................................................................................................ 235 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 243 BDMG 40 anos 1. Introdução O presente trabalho tem dois objetivos: em primeiro lugar, fazer um diagnóstico da situação atual do setor de telecomunicações no Brasil e em Minas Gerais. Este diagnóstico inclui a legislação pertinente, os movimentos de investimentos e os players envolvidos no setor, com ênfase na infraestrutura instalada nos principais setores, a saber: STFC (Sistema de Telefonia Fixa Comutada); Telefonia Móvel (SMC - Serviço Móvel Celular) e SMP(Serviço Móvel Pessoal); Rede Internet e TV por Assinatura. À luz deste diagnóstico, a situação relativa de Minas Gerais neste contexto é analisada e, por fim, são elencadas diversas ações que podem ser tomadas pela sociedade mineira Governo Estadual - visando o desenvolvimento sócio-econômico do Estado. A importância das telecomunicações para o desenvolvimento econômico-social e o papel do Estado. Estamos vivendo o estabelecimento da sociedade da informação. Castells, 1999 inclui como as tecnologias da informação, o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. Segundo Castells, (op. cit.) meu ponto de vista, e não estou sozinho nesta conjectura, é que no final do Século XX estamos vivendo um desses raros intervalos na história. Um intervalo cuja característica é a transformação de nossa cultura material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação. O exagero profético e a manipulação ideológica que caracteriza a maior parte dos discursos sobre a revolução da tecnologia da informação não deveria levar-nos a cometer o erro de subestimar sua importância verdadeiramente fundamental. Esse é, (...), no mínimo um evento histórico da mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII, induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. A importância de uma boa infra-estrutura de telecomunicações é um requisito para a inclusão da sociedade nesta nova ordem. O perigo de ficar a margem desta sociedade é grande. As exclusões não se darão mais por blocos sul x norte; pobres x ricos, etc., podem acontecer em um mesmo lugar coexistindo os excluídos e os incluídos. Daí a importância do papel do Estado para que, dadas estas características, incentive e garanta os investimentos necessários, garanta o bem-estar da sociedade e a proteção do meioambiente sem prejudicar a saúde financeira das Empresas. Citando novamente Castells, Embora não determine a tecnologia, a sociedade pode sufocar seu desenvolvimento principalmente por intermédio do Estado. Ou então, também principalmente pela intervenção estatal, a sociedade pode entrar num processo acelerado de modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem-estar social em poucos anos. Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou a sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. Capítulo 3 - Telecomunicações 183 BDMG 40 anos 2. Evolução do processo de implantação do novo modelo 2.1. Arcabouço jurídico que serviu de base para a reestruturação do Sistema Brasileiro de Telecomunicação1 Iniciada em janeiro de 1995, pelo Governo Federal, a reestruturação do Sistema Brasileiro de Telecomunicações conseguiu privatizar 26 empresas de telefonia celular e 27 operadoras de telefonia fixa e uma de longa distância. Adicionalmente, autorizou o funcionamento de empresas de telefonia fixa e móvel nas mesmas áreas cobertas pelas antigas empresas estatais, com o objetivo de incentivar a competição no setor. Para abrir o mercado e deslanchar esse processo, foi necessário, antes, construir um arcabouço regulatório. O primeiro marco da nova fase das telecomunicações brasileiras veio em agosto de 1995, quando o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional Nº 8, que extinguiu o monopólio estatal nas telecomunicações. Paralelamente, todos os esforços eram desenvolvidos no Ministério das Comunicações para elaboração da primeira edição do PASTE, então denominado Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de Telecomunicações e do Sistema Postal. Vencidas essas etapas, o Ministério das Comunicações elegeu como alvo a aprovação da chamada Lei Mínima. Uma legislação pensada para encurtar o caminho no rumo da abertura do mercado, antes da formulação de uma Lei Geral, que seria mais demorada. Aprovada em 1996, a Lei nº 9.295, ou Lei Mínima, como ficou conhecida à época, organizou os serviços (Móvel Celular, de Transporte de Sinais de Telecomunicações por Satélites e os Limitados) e a utilização da rede pública de telecomunicações para a prestação de Serviço de Valor Adicionado. Com a Lei Mínima, estava montada, também, a estrutura para se colocar à venda as autorizações para exploração da Banda B da telefonia celular, por empresas nacionais e estrangeiras. Com a promulgação da Lei Mínima, que possibilitou a entrada de novos prestadores neste serviço, foi delineado um modelo para o estabelecimento da competição. Esse modelo teve como objetivo a implantação da competição plena e definiu, como forma de atingi-la, uma transição da fase de monopólio para uma de duopólio na telefonia local e, só depois, para a plena competição. A LGT Lei Geral das Telecomunicações aprovada pelo Congresso Nacional em 16 de julho de 1997, foi a lei que autorizou a privatização do Sistema Telebrás e definiu a feição do novo modelo das telecomunicações brasileiras. Tinha o objetivo de sinalizar para os mercados, nacional e internacional, o início de uma nova fase que pressupunha regras claras e confiáveis. Foi a mesma LGT que criou a Agência Nacional de Telecomunicações, pensada para, numa primeira etapa, viabilizar as privatizações e, depois, desenvolver os trabalhos permanentes e abrangentes de regulamentar, outorgar e fiscalizar. A par da LGT, cinco outros textos implementados pela Anatel, em 1998 formam a estrutura básica regulamentar do novo modelo das telecomunicações brasileiras no que tange à telefonia fixa. Além desses cinco instrumentos, no Anexo I são descritos ainda outros que tratam dos serviços de uma forma geral. 1 184 Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações, PASTE 2002, Perspectivas para Ampliação e Modernização das Telecomunicações. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 2.2. Quadro geral do STFC (Serviço de Telefonia Fixo Comutado) no Brasil O processo de privatização e a criação da competição O primeiro passo para a privatização e, posteriormente, o lançamento das bases para a existência da competição direta na telefonia fixa foi a entrada em vigor, desde abril de 1998, do Plano Geral de Outorgas (PGO), que dividiu o Brasil em quatro regiões (Mapa 1). MAPA 1 ÁREAS DO PGO FONTE: ANATEL, PASTE 2002 O PGO foi fundamental para a privatização. Concebido com base no binômio maior benefício ao usuário e justa remuneração da empresa operadora, foi esse Plano que garantiu a política de universalização dos serviços de telecomunicações e estabeleceu as linhas de competição entre as empresas do setor. A Agência promoveu diversos processos licitatórios (28/07/98) que culminaram com as vendas das concessões, no STFC, em cada região telefônica definida pelo Plano Geral de Outorgas (PGO). Esse foi o processo de privatização das estatais. Essas empresas por deterem 100% do mercado no início da operação e ter grande quantidade de rede já instalada, ficaram sujeitas ao Plano Geral de Metas de Universalização, logo têm um compromisso muito maior que as concorrentes. No tocante à competição direta na telefonia fixa, o primeiro passo foi iniciado, em 29 de janeiro de 1999, com o processo de concessão e de celebração dos Termos de Autorização com as empresas-espelho que foi encerrado em 30 de setembro do mesmo ano. Essas são chamadas empresas-espelho, por suas áreas de autorização espelharem as mesmas áreas de concessão das empresas incumbentes. O Anexo II apresenta um quadro dos players do STFC, com área de atuação, composição acionária e participação no mercado. Em termos de competição direta, outro fato importante foi a introdução da concorrência no segmento de chamadas de longa distância, nacional e internacional, no início de julho de 1999. Capítulo 3 - Telecomunicações 185 BDMG 40 anos Com o modelo adotado, com raros similares em todo o mundo, o usuário tem a possibilidade de escolher a prestadora de serviço a cada chamada de longa distância (Anexo II Área IV). Desde janeiro de 2002, o STFC foi aberto para novos interessados na prestação do serviço. As operadoras incumbentes e espelhos, que queiram atuar fora da área de prestação de serviço original, deverão antecipar as metas de universalização determinadas anteriormente para 2003. As empresas-espelho, por operarem nas mesmas áreas e com o mesmo tipo de serviços das atuais concessionárias, obedecem a regras mais flexíveis. Como compensação pela grande vantagem desfrutada pelas empresas já em atividade marca, estrutura, clientela , as empresas-espelho também podem utilizar, sem restrições e com exclusividade por quase dois anos, a tecnologia WLL Wireless Local Loop. Com essa tecnologia, as empresas-espelho não dependem do cabeamento, que é demorado e oneroso, para chegar ao ponto comercial ou à casa do assinante, resida ele nos centros urbanos ou na zona rural. Outra vantagem é que a obrigatoriedade de atendimento foi imposta somente às cidades com mais de 100.000 habitantes, teoricamente aquelas com melhor mercado. Em Minas Gerais, a Vésper atende a somente 26 municípios, que representam 48% da população mineira. Com o Circuito Deliberativo n.º 177, de 2 de agosto de 2000, a Anatel procedeu às licitações para exploração do Serviço Telefônico Fixo Comutado destinado ao uso do público em geral (STFC), em áreas específicas, onde a autorizada, da respectiva Região, não tinha previsão de atendimento até 31 de dezembro de 2001. Essas licitações foram feitas por município, por isso e, em analogia, às empresas-espelho, são chamadas espelhinhos. Para otimizar o uso das redes de telecomunicações, a agência licitou primeiro as localidades onde existe ou havia previsão de existir serviços de TV por assinatura, por cabo ou por microondas. Os três editais da primeira licitação, correspondem às regiões definidas pelo Plano Geral de Outorgas PGO. Como o preço pela autorização era único para qualquer concorrente, variando somente em relação ao tamanho do Município, ganhou o proponente que ofereceu uma maior teledensidade (acessos por cem habitantes). Ou seja, quem se comprometeu em disponibilizar um maior percentual de linhas em relação à população do município. Além de oferecer o número de linhas proposto, as empresas-espelhinho foram obrigadas a seguir todas as normas previstas para as concessionárias e as empresas-espelho, com exceção das metas de universalização. A segunda fase envolveu um total de 1.017 municípios, incluídos os 185 municípios da primeira rodada de licitações que, vencidos pela Commware, ficaram sem a alternativa de uma segunda prestadora de Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC ou telefonia convencional) devido à desistência dessa empresa de assinar o termo de autorização. Em Minas, 30 cidades que representam 11% da população do Estado, contam com a possibilidade de operação das espelhinhos, já que nenhuma delas iniciou a operação. 186 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento A competição na telefonia local falhou no mundo todo. Nos EUA, Europa e América Latina (GRAF.1) em média, apenas 5% da população é usuária das empresas entrantes. No Brasil, as teles fixas detêm menos de 94% do mercado de voz. (Revista Teletime; julho de 2001). BDMG 40 anos Análise crítica dos gargalos do sistema GRÁFICO 1 QUADRO COMPETITIVO INCUMBENTES X ESPELHOS (AMÉRICA LATINA) FONTE: Revista Teletime, jul. 2001. O ponto crítico se refere ao unbundiling, que é o compartilhamento da rede das empresas incumbentes. Ocorre que Incumbentes e Espelhos não se entendem nas negociações, principalmente no que se refere a preço. Existem as seguintes categorias de unbundiling: Bistream: a tele não compartilha a rede, mas presta um serviço, detendo tanto os equipamentos DSL da rede quanto o terminal do assinante; Line sahring; compartilhamento das linhas da operadora incumbenet e Full unbundiling: compartilhamento total da rede da operadora incumbente. Em mercados importantes como a França ou a Inglaterra, continua a ausência quase total de unbundiling. Mesmo na Alemanha, onde o processo de unbundiling foi introduzido há três anos, as empresas concorrentes têm menos de 2% do market share. O que demonstra que, apesar das diretrizes da União Européia obrigando as agências reguladoras dos países membros a abrirem as redes locais das incumbentes terem entrado em vigor no começo de 2001, pouco progresso foi feito. No Brasil, três anos após privatização no mercado mais nobre do país, o Estado de São Paulo, a competição local não chega a 2%. Nas demais regiões, a Telemar domina 97% do mercado em que atua e o market share da Brasil Telecom é ainda superior a 99%. Capítulo 3 - Telecomunicações 187 BDMG 40 anos GRÁFICO 2 MARKET SHARE DO STFC LOCAL NO BRASIL FONTE: Revista Teletime, jul. 2001. O problema do fracasso do modelo competitivo é que o usuário, afinal, não tem opção. A espelho quando consegue atendê-lo está limitada à cidades de grande porte e dentro dessas, a área mais rentável. As empresas-espelhinho, que poderiam ser uma alternativa, também estão frustrando as expectativas. Estão com dificuldades de obter financiamento e, conseqüentemente, atrasam ainda mais o início da sua operação. A Agência Nacional de Telecomunicações estuda a flexibilização das normas para reverter esse quadro. Apesar dos contratos das concessionárias vencerem no final de 2005, a Anatel pode, a partir de dezembro de 2002, ensaiar mudanças para o setor. TABELA 1 FONTE: Anatel Paste/IDG NOW! Conforme a TAB. 1, os números projetados no PASTE frente aos números reais de terminais disponibilizados foram subestimados. A Telemar (Região I) e, Telefônica (Região III), com objetivo em ampliar sua área de atuação e/ou iniciarem operações em segmento de telefonia celular ou serviço de rede, contribuíram para que as projeções contidas no PASTE fossem atingidas e até superadas. 188 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Enquanto o PASTE previu 40 milhões de acessos, em dezembro de 2001, o mercado atingiu a marca de 47,8 milhões de acessos instalados. Porém, o fato de haverem 47,8 milhões de telefones fixos instalados, não significa que todos estejam em serviço. Existem mais de 10 milhões de acessos ociosos, ou 21,8% dos acessos instalados. Há, no PGMU, uma meta que estabelece que novas instalações devem ser atendidas em no máximo duas semanas. Para que as operadoras consigam cumprir esse prazo, tem que haver linhas disponíveis. De qualquer forma, se considerarmos os 10 milhões de acessos ociosos estamos nos referindo a 37,8 milhões de telefones fixos ativados, o que significa um mercado atendido menor que o projetado. Apesar do enorme avanço da telefonia fixa no Brasil, nesses últimos anos a capacidade de crescimento da oferta está sendo contida pelo baixo poder aquisitivo e pela má distribuição de renda vigente no Brasil, sendo que a taxa fixa mensal mínima cobrada é fator impeditivo de maior disseminação do uso de telefones. 2.3. Quadro geral da telefonia móvel no Brasil A privatização e a concorrência ocorreram na telefonia móvel antes da telefonia fixa. A partir de 1997, o duopólio foi estabelecido, com a licitação da exploração do SMC (Serviço Móvel Celular) na banda B da faixa de 800 MHz em dez áreas, nas quais o País foi dividido (Mapa 2). As empresas vencedoras são conhecidas como empresas da Banda B. As empresas da Banda A continuaram estatal até julho de 1998, quando foi realizado o leilão que privatizou as empresas celulares do antigo Sistema Telebrás. MAPA 2 ÁREAS DE EXPLORAÇÃO DO SMC – SERVIÇO MÓVEL CELULAR FONTE: Anatel Diferentemente da telefonia fixa, em quatro anos de mercado as empresas da banda B conseguiram crescer significativamente sua parcela de assinantes, utilizando-se principalmente planos de assinatura pré-pagas. No Anexo III, apresenta-se um quadro completo dos players do SMC, com a área de atuação e número de assinantes. Capítulo 3 - Telecomunicações 189 BDMG 40 anos Devido ao sucesso da concorrência no sistema de duopólio na telefonia móvel, a Anatel promoveu o surgimento do SMP Serviço Móvel Pessoal que veio para competir com as operadoras de celular existentes. O novo serviço é prestado localmente, mas os operadores recebem licenças para prestar serviço de longa distância nacional e internacional. O primeiro passo para a implantação do serviço foi a partir da Resolução n.º 227, que destina faixas de radiofreqüência para implantação de sistemas de telecomunicações móveis terrestres. A faixa de freqüência escolhida, depois de muitos meses de análise, foi a de 1,8 GHz, o que praticamente (mas não exclusivamente) condiciona o SMP ao uso da tecnologia digital GSM, que é predominante no mundo (GRAF. 3). GRÁFICO 3 TECNOLOGIA GSM NO MUNDO FONTE: Revista Teletime, jul. 2001 Foram licitadas, no total, nove autorizações de SMP, então divididas em três bandas, chamadas de C, D e E (seguindo a mesma nomenclatura das bandas A e B). Para as operadoras das bandas A e B foi prevista a possibilidade de migração para o novo serviço sem a necessidade de mudança da faixa de freqüência. Para cada uma das bandas foram licitadas três autorizações, uma para cada uma das três regiões em que o país foi dividido pelo Plano Geral de Outorgas (PGO), as mesmas das teles fixas. A possibilidade de participação nas licitações foi quase irrestrita. No caso das concessionárias do serviço fixo incumbentes, a única restrição ficou por conta do cumprimento das metas de qualidade e universalização até o fim de 2001. Na prática, elas não puderam participar das licitações de banda C, porque estas teriam que entrar em operação até julho de 2001. 190 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Na realidade, as licitações foram um fracasso. O leilão da Banda C foi considerado deserto, pois não houve candidatos em duas rodadas de leilão. A Anatel quer, agora, utilizar o espectro de freqüência para forçar a migração das empresas de SMC para SMP. A convocação pública para a venda do espectro de freqüência da banda C, está prevista ainda para 2002. Um dos principais fatores para o relativo fracasso do SMP, foi o alto endividamento das empresas estrangeiras que gastaram aproximadamente US$ 500 bilhões em licenças da telefonia celular de terceira geração na Europa, no final de 2000 e início de 2001. Quanto as Bandas D e, E, a situação atual está apresentada no Anexo III. A Oi começou a operar no final de junho de 2002. Para começar a operar, a TIM precisa que a Brasil Telecom antecipe as metas de universalização (a TIM é sócia na Brasil Telecom). Como obrigação legal a TIM devolveu as licenças para as áreas (3, 4, 5, 9 e 10), onde opera empresas das Bandas A e B. As licenças que restaram dos leilões das Bandas D e E, inclusive as que foram devolvidas pela TIM, foram licitadas novamente sem sucesso, e esperam por uma nova licitação, que deverá ocorrer ainda em 2002. Cenário Atual As empresas do Serviço Móvel Celular, antes mesmo do início do leilão do Serviço Móvel Pessoal, iniciaram uma corrida de fusões (Telefônica/Portugal Telecom) e incorporações (Telecom Américas) a fim de ganhar escala e competitividade (Mapa 3). Com o resultado do leilão do SMP, a telefonia móvel no Brasil ficou dividida entre cinco grandes grupos mais três (TIW; BCP e CTBC celular). O cenário aponta ainda que a BCP e a Telecom Américas estejam negociando uma fusão das operações no Brasil, a reboque da parceria já operada pelas empresas nos EUA. A situação da canadense TIW, não é diferente a da BCP. A empresa possui como acionistas o Opportunity e a Previ, e está presente nas regiões 8 e 4. A briga dos sócios está retardando sua venda, que desperta interesses da TCO e da Telecom Américas. Por fim, a CTBC Celular que já vendeu sua participação na ATL (Banda B-Rio de Janeiro) para Telecom Americas, deverá manter suas operações em parte de Minas e São Paulo, por também operar o STFC através da CTBC. O desaquecimento do setor de telecomunicações, iniciado nos primeiros meses de 2001 e acentuado após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, juntamente com o baixo poder aquisitivo da população brasileira, são os principais responsáveis pelo desacerto entre a projeção de mercado celular, feita no PASTE, e o mercado realizado. Capítulo 3 - Telecomunicações 191 BDMG 40 anos MAPA 3 CENÁRIO DA CONCORRÊNCIA NA TELEFONIA NO BRASIL FONTE: TELETIME, Anuário brasileiro de telecomunicações, 2001 Importa notar que o Estado de Minas Gerais concentra cerca de 10% do número de telefones celulares do Brasil (TAB. 2). Porém os valores realizados em Minas Gerais tiveram um desempenho muito menor do que na previsão do PASTE. Até dezembro de 2001, existiam em Minas Gerais, 2,2 milhões de assinantes de telefonia celular. (Em julho de 2002, esse número deve estar chegando aos 2,9 milhões projetados para dezembro de 2001). TABELA 2 FONTE: Anatel Paste/IDG NOW! 192 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Outro motivo da diferença entre o previsto e o realizado, no caso, está na telefonia fixa. Minas Gerais, ao contrário de estados como Rio de Janeiro e outras capitais, não tinha em seu mercado uma demanda reprimida tão alarmante. Demanda essa que passaria a utilizar eventualmente a telefonia celular a fim de minimizar os problemas de acesso ao telefone. O cenário ainda é de pessimismo para as operadoras que enfrentam diversos problemas financeiros e também societários. Cabe ainda lembrar que os números do mercado tiveram um impacto negativo direto, devido ao fracasso do leilão da banda C. A Anatel acreditava que, em julho de 2001, haveria três operadoras de telefonia celular operando no Brasil. Hoje, para fazermos uma análise do mercado de telefonia móvel, devemos lembrar que as operações das empresas de 2,5G, o GSM foram de alguma forma retardadas. TIM, que ainda não iniciou sua operação GSM, depende de um acordo com a ANATEL. A OI (Telemar) teve sua licença atrasada em seis meses. Vemos na TAB. 3 a divisão entre o número de operadoras de serviços celulares de acordo com a área de operação. TABELA 3 OPERADORAS DE TELEFONIA MÓVEL POR ÁREA E BANDA Licença mantida Licença devolvida Não foram expedidas licenças FONTE: Anatel, 2002 2.4. Quadro geral da Internet no Brasil Diversos atores compõem um conjunto que se chama Internet. Esses atores é que vão permitir ao usuário final acessar a rede internet, e, portanto, em cima deles é que se deve atuar para aumentar o acesso do cidadão a esse serviço. Capítulo 3 - Telecomunicações 193 BDMG 40 anos Provedor de backbone O Brasil tem duas redes de Internet de alcance nacional: a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e a Embratel. Enquanto a primeira não concorre no mercado maciço de Internet, voltandose para instituições de ensino e de pesquisa, o grande player nacional é mesmo a Embratel, com 85% de market share durante o ano de 1999. Empresas de redes metropolitanas, como a Netstream (AT&T) e a Metrored, também fazem parte desse mercado, embora seu foco principal acabe sendo as redes corporativas. São as empresas de serviço limitado especializado SLE. Provedor de Acesso O Provedor de acesso à Internet (também chamado de Internet Service Provider ISP) é uma empresa que permite que indivíduos ou empresas acessem a Internet. Para isso, mantem uma central de linhas telefônicas exclusivas ligadas aos seus servidores de Internet. As linhas são conectadas a um provedor de backbone, ou seja, ligam a residência ou comércio ao backbone que por sua vez está ligado à nuvem Internet. Estes provedores oferecem serviços de Banda Estreita e Banda Larga. TABELA 4 DIFERENTES TIPOS DE ACESSO A INTERNET FONTE: Teletime, 2001 Banda Estreita: Velocidade de download limitada a 56 Kbps e velocidade de upload limitada a 33,6 Kbps. Acesso por meio discado; ex. telefone residencial. Banda Larga: é termo descritivo envolvendo tecnologias que oferecem facilidades comutadas com acesso integrado de voz, dados a alta velocidade, vídeo sob demanda e serviços interativos. A faixa larga de freqüência que, utilizando-se de tecnologias adequadas, pode transportar informações integrando voz, dados e vídeo em um mesmo sistema com inúmeras facilidades como altas taxas de transmissão, alto padrão de qualidade, grande quantidade de informações transmitidas simultaneamente, configuração de múltiplos canais e interatividade. (TAB. 5) 194 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos TABELA 5 PROVEDORES DE ACESSO RÁPIDO NO BRASIL FONTE: Atlas brasileiro de telecomunicações - Teletime 2002 Dados: dez/2001. Provedor de conteúdo Em contraste com os provedores de acesso, os chamados provedores de conteúdo não oferecem acesso à Internet, a pessoas ou a empresas. Em vez disso, disponibilizam, em seus sites, conteúdo (conjunto de informações), de produção própria ou não; de acesso restrito a assinantes ou gratuito; além de serviços de busca ou notícias. Esses conteúdos podem ainda ser, negociado, para inserção em outros sites. O Brasil possui hoje 1.241 provedores de conteúdo do serviço Internet, que promovem um tráfego total de 6,9 bilhões de pulsos telefônicos por mês. Com o mercado de Internet em expansão, a Anatel busca soluções que beneficiem o consumidor, sem prejudicar a expansão das empresas de telefonia e os provedores de conteúdo.(Fonte: Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações APC, Assessoria de Imprensa, Brasília, 1º de março de 2002). TABELA 6 FONTE: ANATEL, março 2002 Capítulo 3 - Telecomunicações 195 BDMG 40 anos Movimentos recentes e dificuldades do setor Uma das dificuldades do modelo atual de acesso à Internet é a indisponibilidade de provedores em todo o território nacional. Hoje, apenas 6% dos municípios brasileiros possuem provedores de acesso, os denominados ISPs (Internet Service Providers), ou seja, cerca de 350 dos mais de 5,5 mil municípios existentes no País. É grande a desigualdade de provedores no Brasil. Hoje, 77% deles se encontram no eixo Sudeste Sul, predominantemente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (11%). Dos outros 23% de provedores de acesso à rede mundial existentes no País, 11% estão na região Nordeste; 7% na região Centro-Oeste; e 5% na região Norte. Esta situação tem obrigado muitos usuários de Internet a realizarem ligações de longa distância para se conectar à rede mundial de computadores, encarecendo o serviço e impossibilitando o acesso de milhões de pessoas. A Anatel tem buscado meios de otimização do uso da rede telefônica para que o usuário possa ter melhor acesso a diferentes tipos de serviço. Porém, não é atribuição da Agência regular os provedores de Internet. Em vista disso, a Agência tem realizado uma série de discussões entre suas áreas técnicas e as prestadoras de telefonia, provedores de acesso e com os usuários de Internet, sempre procurando maneiras de solucionar a indisponibilidade que o modelo vigente de acesso proporciona. Modelos foram estudados e desenhados com a intenção de uniformizar o acesso à rede telefônica, criando propostas de tarifas flat (preço único pago para uso da rede telefônica para acesso à Internet por tempo pré determinado), e de uso de código não-geográfico (o 0i00, que segue mesmo padrão para todo o País como, por exemplo, funcionam o 0800, o 0500 e o 0300). (Fonte:Agência Nacional de Telecomunicações APC Assessoria de Imprensa, Brasília, 21 de março de 2002). O serviço de acesso à Internet no Brasil foi marcado pela entrada no mercado de grandes operadores mundiais, acirrando a concorrência e melhorando a qualidade do conteúdo vinculado à rede. O lançamento do acesso gratuito, no final de 1999, transformou radicalmente o serviço de acesso durante o ano 2000, dando um novo perfil para o mercado de acesso e de conteúdo. O acesso gratuito influenciou o crescimento dos grandes e o desaparecimento dos pequenos provedores. Vale lembrar que alguns provedores, que oferecem acesso gratuito, são controlados por empresas de telefonia fixa, como a IG, controlada pela Telemar; o iBest da Brasil Telecom, ou seja, aumentam o uso de suas linhas não sendo, nesse sentido, totalmente gratuitos. Em relação aos provedores de conteúdo, devido ao aumento vertiginoso do mercado e suas projeções futuras sofreram também uma grande mudança, principalmente conceitual. Surgiram então o Business to Consumer (B2C) e o Business to Business (B2B). O B2C, é um portal interativo entre empresas e seus clientes, vieram assim os shoppings virtuais, sites de leilão e serviços de utilidade pública via web. O B2B, emprega o conceito de portal de interação entre empresas, relacionamento com fornecedores e clientes, sempre visando o público das corporações. O número de usuários de Internet no Brasil é impreciso, mas sabe-se que tem crescido extraordinariamente desde 1995, quando o serviço começou a ser oferecido comercialmente. 196 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos GRÁFICO 4 FONTE: IBOPE, set 2002 O número de internautas no Brasil já ultrapassa a marca de 14 milhões (meados de 2002) e a grande maioria desse grupo (98%) tem acesso por meio discado à velocidade de no máximo 56 Kbps. A tecnologia ADSL fechou o ano 2001 com 262 mil assinantes, contra 75 mil de cable modem. Ou seja, o que se convencionou chamar de Internet Banda Larga ainda não deslanchou no Brasil. 2.5. Quadro geral da TV por assinatura no Brasil Para entender a dinâmica da TV por Assinatura devemos conhecer a Lei do Cabo que possibilitou a concorrência no setor e, também, as diversas tecnologias, as quais vão determinar o acesso do usuário a este tipo de serviço. Lei do Cabo Antes mesmo da Lei Geral das Telecomunicações, o Ministério das telecomunicações através da Lei nº 8.977, havia publicado lei no Diário Oficial da União, de 09 de janeiro de 1995, que dispõe sobre o serviço de TV a cabo e de outras providências, que transformou o setor de TV por assinatura. De acordo com a Lei nº 8.977, ou Lei do Cabo, o Serviço de TV a Cabo passou a obedecer a preceitos da legislação de telecomunicações. Estabeleceu também as obrigações e os direitos dos concessionários e assinantes de TV a cabo. Tecnologias da TV por assinatura TV a Cabo O Serviço de TV a Cabo usa uma topologia que pode ser observada na FIG. 1. Capítulo 3 - Telecomunicações 197 BDMG 40 anos FIGURA 1 TV A CABO FONTE: Anatel Consiste na distribuição de programas, a partir de um cabeçal, por meio de redes de cabos até a residência dos assinantes. O cabeçal é um conjunto de equipamentos que tem a função de gerar, armazenar ou receber, via satélite ou sistemas terrestres, programas e de prepará-los para distribuição. Multichannel Multipoint Distribution Service - MMDS O Serviço MMDS tem uma topologia similar à anterior, com a diferença de que a programação é oferecida aos usuários por meio de ondas eletromagnéticas, conforme FIG. 2. FIGURA 2 - MMDS FONTE: Anatel Direct to Home - DTH FIGURA 3 - DTH FONTE: Anatel 198 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos No Serviço DTH a programação é enviada ao assinante diretamente do satélite, e é recebida por uma antena em sua residência, como mostrado na figura. Alcança, normalmente, todo o território nacional (FIG. 3). Cenário competitivo A competição, estimulada e regulamentada pela Anatel, promoveu avanços significativos no segmento Comunicação de Massa, onde, novas licitações abriram o mercado para mais 121 operadoras de TV a cabo e 53 na modalidade MMDS microondas terrestres. As outorgas para a exploração do Serviço de Televisão a Cabo, agora, abrangem áreas urbanas com 16,1 milhões de domicílios e as relativas ao MMDS, 14,2 milhões de domicílios em todo o País (GRÁF. 5 e 6). GRÁFICO 5 OUTORGAS DE SERVIÇO DE TV POR ASSINATURA POR STATUS DE OPERAÇÃO SEGUNDO TECNOLOGIA FONTE: Anatel GRÁFICO 6 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE MUNICÍPIOS ATENDIDOS POR SERVIÇOS DE TV POR ASSINATURA SEGUNDO A TECNOLOGIA Apenas MMDS Apenas TVC MMDS e TVC FONTE: Anatel Capítulo 3 - Telecomunicações 199 BDMG 40 anos Até 1997, apenas três grupos econômicos detinham mais da metade das outorgas para prestação de Serviços de TV por Assinatura nas modalidades de TV a Cabo e MMDS - gráfico abaixo. No final de 2001, fruto das licitações promovidas pela Anatel, que proporcionaram a entrada de novos operadores no mercado, aquele percentual de outorgas já estava distribuído entre mais de 8 grupos (GRAF. 8). Apesar de toda esta movimentação, o serviço de TV por assinatura tem baixa penetração no Brasil vis-à-vis outros países da América Latina e, Minas Gerais tem uma penetração ainda menor. O número de assinantes estacionou em 3,6 milhões (mesmo a classe econômica A possui aproximadamente 30% dos domicílios sem TV por Assinatura). Só recentemente algumas empresas têm utilizado a sua rede para fornecer Internet banda larga. O uso destas redes para acesso local na telefonia fixa é ainda mais incipiente. GRÁFICO 7 DISTRIBUIÇÃO DE OUTORGAS DE TV POR ASSINATURA POR GRUPO ECONÔMICO. 1997 2001 FONTE: Anatel 2.6. Quadro geral das Infovias no Brasil O Serviço de Rede Especializado permite o provimento de soluções em serviços de telecomunicações a clientes finais, em âmbito corporativo. O público alvo são as corporações que necessitam de soluções de telecomunicações baseadas em redes virtuais privadas, podendo ter serviços diferenciados e a custos menores. As empresas autorizadas a proverem Serviço de Circuito Especializado podem fornecer infra-estrutura básica de telecomunicações utilizando seus próprios meios, inclusive disponibilizando capacidade de fibras óticas ativadas. Os Serviços de Rede Especializado e Circuito Especializado são submodalidades do Serviço Limitado Especializado. O Serviço de Rede Especializado é conceituado como: Serviço destinado a prover telecomunicação entre pontos distribuídos, de forma a estabelecer redes de telecomunicações distintas a grupos de pessoas jurídicas que realizam uma atividade específica (Anatel, 2001). O Serviço de Circuito Especializado é entendido como: Serviço destinado a prover telecomunicação ponto a ponto ou ponto a multiponto mediante a utilização de circuitos colocados à disposição dos usuários (Anatel, 2001). 200 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos A revolução tecnológica que envolveu o serviço de comunicação de dados nos últimos anos relaciona-se a uma série de fatores como, por exemplo, o desenvolvimento de protocolos de comunicação cada vez mais velozes, flexíveis e de maior eficiência de uso de rede. Com isso, as linhas dedicadas, que representavam a alternativa mais comum há alguns anos, começaram a ser rapidamente substituídas por técnicas de comutação de circuitos e de comutação por pacotes. O surgimento dessas plataformas permitiu o grande desenvolvimento do setor devido à sua maleabilidade para a acomodação de uma série de serviços que antes não poderiam ser viabilizados. Nesse ambiente, as tendências tecnológicas se voltam para plataformas multisserviços baseadas em tecnologias como Frame Relay, SDH, xDSL, ATM e IP. A consolidação, no Brasil, do novo modelo institucional, definido a partir da reestruturação do setor, incentivou a competição para os serviços de comunicação de dados e deverá estimular a oferta de serviços com níveis de preço, qualidade e atendimento adequados. As forças de mercado resultantes da introdução da competição estão estendendo os serviços de comunicação de dados a praticamente todo o território nacional. Entre 1998 e o final de 1999, foram expedidas 58 autorizações para Serviços de Rede Especializado e 36 autorizações para o Serviço de Circuito Especializado e, à medida que novas autorizações forem emitidas pela Anatel, o consumidor estará em posição mais vantajosa para exigir melhores condições para o serviço de comunicação de dados. Nesse setor, a situação atual também não é confortável. O grande crescimento do mercado previsto não aconteceu. Grande parte das redes estão ociosas. Capítulo 3 - Telecomunicações 201 BDMG 40 anos 3. Grau de universalização do serviço de telefonia domiciliar Essa seção visa dar uma idéia do grau de penetração, nas residências, dos serviços de telefonia no Brasil, sua evolução recente e o posicionamento relativo de Minas Gerais neste contexto. Parte da idéia original de Fiúza, E.P.S & Néri, M.C. (1998). Foram feitas adaptações, atualizações e, um aprofundamento para Minas Gerais. Fala-se de telefonia domiciliar e não de teledensidade ou STFC (Serviço de Telefonia Fixa Comutada), pois as informações são baseadas em dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio) cuja unidade de análise é o domicílio. Em um domicílio pode haver mais de um acesso telefônico bem como a solução de atendimento pode não ser exclusivamente o STFC, ou seja, um domicílio pode ser atendido, por exemplo, por um celular, como ocorreu em algumas regiões quando a lista de espera por um telefone fixo era grande e as empresas de celulares disponibilizavam rapidamente um aparelho para os clientes. Ademais, o STFC extrapola o atendimento domiciliar atendendo ao comércio, à indústria e aos serviços. A teledensidade é o número de terminais por 100 habitantes incluindo no numerador todos os tipos de terminais, residenciais ou não, e no denominador os habitantes no lugar de domicílios. Não é, por isso, o melhor indicador quando o objetivo é medir a universalização dos serviços. A fim de melhor balizar a implementação de políticas de universalização de acesso, toda a análise é desagregada por nível de renda dos domicílios, segundo classificação de Target, 1999. Analisam-se os anos de 1993, 1995, 1999, 2000. O primeiro ano (1993) é um retrato do grau de cobertura que o modelo anterior atingiu antes do Plano Real. O segundo ano (1995) ainda retrata o grau de cobertura do modelo anterior, todavia inclui a melhoria da cobertura que surgiu após o Plano Real principalmente em função do aumento da demanda (houve nos primeiros anos do plano, um aumento de consumo em função do aumento da renda individual com a eliminação do imposto inflacionário.). O ano de 1999 é o último ano onde os micro-dados da PNAD estão disponíveis. Não houve PNAD em 2000 em função da existência do Censo de 2000 que contempla as questões existentes na PNAD. Tabulações avançadas do Censo 2000 foram disponibilizadas em CD pelo IBGE e, embora, não permitam cruzamentos mais detalhados como os que podem ser obtidos com os micro-dados das PNADs, são os dados mais recentes e dão uma visão geral da situação de Minas Gerais e do Brasil em 2000. Finalmente, uma estimativa para o início de 2002 é feita, através de uma análise de regressão do grau de cobertura domiciliar com a teledensidade (número de telefones fixos por 100 habitantes) que é conhecida para o Brasil e Minas Gerais através de pesquisa do IDC (junho 2002) publicada na imprensa. Em primeiro lugar, compara-se a evolução recente (de 1993 a 2000) do percentual de domicílios atendidos no Brasil com a evolução ocorrida nos Estados Unidos no século passado. Quando os Estados Unidos atingiram o grau de penetração que alcançamos em 1993? E, o que alcançamos em 2000? Quanto tempo precisaram para percorrer este caminho que fizemos em 7 anos? E, Minas Gerais, neste contexto? Essas são algumas perguntas que são respondidas neste item. 202 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Em seguida, o grau de cobertura é comparado com o acesso a serviços públicos de Eletricidade, Esgoto e Coleta de Lixo, assim como acesso a bens de consumo duráveis básicos (Geladeira, fogão, rádio e filtro) e aparelhos domésticos tidos como de luxo (Freezer, máquina de lavar e televisão). Finalmente, é feita uma análise de diferenciais do grau de cobertura por característica do chefe do domicílio como sexo e idade, nível de renda, setor de atividade, anos de estudo, posição na ocupação, raça e situação (urbano e rural). 3.1. Densidade histórica de telefones nos EUA: um comparativo com o Brasil O GRAF. 8 ilustra a percentagem de lares com telefone e o número de telefones por 100 habitantes desde 1920 até 1999, nos Estados Unidos. Em 1920, já havia um telefone para cada 3 lares americanos. Em 1970, alcança-se o índice de 90% de lares com telefones e hoje é voz corrente que a cobertura telefônica seja de 100%, embora o Censo de 1999 do FCC tenha apresentado um índice de 94,2%. Quanto à teledensidade, essa parte de um valor de 9 telefones por 100 habitantes para algo como 75 telefones por 100 habitantes em 1999. Observa-se que a teledensidade continua a aumentar embora a cobertura nos domicílios seja quase a mesma desde 1970. Este fato ilustra o que foi previamente mencionado sobre a não representatividade da teledensidade para medir o grau de universalização da telefonia fixa. A TAB. 7 abaixo resume estes mesmos índices para o Brasil em dois momentos no tempo. Os percentuais de domicílios com telefone são referentes a 1993 (PNAD) e 2000 (Resultados Preliminares do Censo Demográfico de 2000).Os índices de número de linhas por 100 habitantes são referentes a 1994 (PASTE 2000, p. 62) e a 2000 (Censo Demográfico op. cit.). TABELA 7 BRASIL - % LARES COM TELEFONE E TELEDENSIDADE (LINHAS/100 HABITANTES) % Lares com telefone (1993) Terminais por 100 habitantes(1994) 1993/1994 2000 18 9 40 21 FONTE: Dados trabalhados a partir de PNAD 1993, PASTE 2000 (número de terminais em 1994) e dados preliminares do Censo de 2000. A comparação entre os índices desses dois países, ressalvadas todas as especificidades das respectivas economias e das diferenças temporais, nos remetem a conclusões surpreendentes: Em 1993 o percentual de lares com telefones no Brasil (18%) era inferior ao encontrado, em 1920, nos Estados Unidos. Isto é, há menos de 9 anos atrás tínhamos uma cobertura igual a do princípio do século passado nos Estados Unidos. A teledensidade do Brasil, em 1993 era a mesma de 1920 nos Estados Unidos. Capítulo 3 - Telecomunicações 203 BDMG 40 anos GRÁFICO 8 DENSIDADE HISTÓRICA DE TELEFONES – COMPARATIVO EUA X BRASIL EUA – 1920/1999 BRASIL – 1993 E 1999 BRASIL 1999 BRASIL 1993 FONTE: EUA (FCC); BRASIL (PNADs) Em 1999, alcançamos um percentual de lares com telefones que os Estados Unidos tinham em 1930, diminuem esse percentual nos difíceis anos 30 e nos anos de guerra e, voltam a ter esse índice novamente logo após a segunda guerra. Ou seja, tínhamos em 2000 no Brasil a mesma cobertura americana de finais dos anos 1940. O número de linhas por 100 habitantes do Brasil em 1999, alcança o índice americano existente no anos 1950. Se a primeira constatação verificável é o nosso atraso em relação aos Estados Unidos, é inegável a rapidez dos avanços que conquistamos nesses últimos anos. Em 9 anos avançamos o que os Estados Unidos fez em mais de 30 anos. Finalmente, uma comparação entre os dois países da teledensidade vis-à-vis o percentual de lares com telefone pode indicar uma idéia da pior distribuição de renda brasileira. Para uma mesma teledensidade, o percentual de lares com telefone é muito maior nos Estados Unidos. Para uma teledensidade de 9 telefones por 1.000 existiam, aproximadamente, 33% dos lares com telefone, em 1920, nos Estados Unidos. No Brasil, para a mesma teledensidade, em 1993, apenas 18% dos lares tinham telefone. Com uma teledensidade de 21 telefones por 100 habitantes, em 1950, os americanos atingiram 61% de lares com telefones. No Brasil, com a mesma teledensidade apenas 40% dos lares tinham telefone em 2000. Embora tenha que se tomar algum cuidado com estas comparações como, por exemplo, a relação habitante por domicílio que tem caído sistematicamente e as transformações dos negócios durante o tempo uma vez que a presença do telefone é muito mais intensiva com o passar dos anos, não resta dúvida da dificuldade que teremos para atingir a universalização, no Brasil, dada a dificuldade de atingir lares com níveis de renda bastante baixos. 204 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 3.2. Projeção para 2002 da teledensidade e do percentual de domicílios que possuem telefone A evolução da cobertura de telefones fixos no Brasil, nos últimos anos, tem sido tão rápida que, a luz de alguns dados mais recentes, temos a obrigação de fazermos uma estimativa da teledensidade e do percentual de lares com telefone. O trabalho mais recente é o do IDC publicado na imprensa em 06/06/2002 que estima a existência de 49 milhões de linhas telefônicas fixas disponíveis, em fevereiro de 2002. O mesmo trabalho indica que 10,4 milhões dessas linhas estavam ociosas. Supondo 38,6 milhões de terminais ativos e uma população de aproximadamente 170 milhões de habitantes, a teledensidade era de 23 telefones por 100 habitantes. Considerando-se as linhas ociosas este valor chega a 29 linhas por 100 habitantes. Quanto ao percentual de domicílios com posse de telefone fixo, o mesmo relatório indica que 73% das linhas eram residenciais. Supondo que alguns domicílios têm mais de um telefone usamos um redutor de 0,9 e encontramos 25,3 milhões de lares com telefone em um total aproximado de 46 milhões de domicílios, isto é, 55% dos domicílios teriam telefone. O percentual de pessoas que possuem telefone em casa é um pouco menor, pois o número de habitantes por domicílio nas classes de renda mais baixas é ligeiramente maior e é, nessas classes, que a cobertura é menor. 3.3. Comparação da posse de bens e serviços: posição relativa da telefonia fixa Os GRAF. 9 a 12 e a TAB. 8 objetivam mostrar a posse de bens e serviços dos domicílios brasileiros, fazer uma comparação com Minas Gerais, ver a evolução recente da posse desses bens e serviços e ver como a telefonia fixa, que é objeto de universalização pelo governo brasileiro, se situa. Os dados de 1993 e 1999 são obtidos nas PNADs e os dados de 2000 são provenientes da tabulação avançada do Censo. Nas duas primeiras linhas são apresentadas as participações das classes econômicas na população mineira e brasileira nos anos de 1993 e 1999. Pode-se observar uma melhoria das classes de renda de 1993 para 1999 e, também, que Minas tem uma distribuição de renda pior do que a média do Brasil. A melhoria da renda se dá em termos de salários mínimos. Por exemplo, em 1993 16,3% da população brasileira ganhavam mais de 10 salários mínimos (classes A e B), passando para 19,9 % em 1999 (Não verificamos o poder de compra do salário-mínimo nesses dois pontos no tempo, mas intuitivamente, parece que o poder de compra não deve ter caído principalmente devido aos efeitos do Plano Real). Em relação a bens e serviços essenciais o telefone é o que tem menor penetração com apenas 40%, em 2000 - eletricidade: 93% (2000); água 77% (2000); esgoto 44% (1999) e lixo (79%) (1999). Entretanto, é o que mais cresceu, pois em 1.993 tinha apenas 18% de cobertura, enquanto a eletricidade já tinha 89,9%, esgoto 38,5% e lixo 64,4%, por exemplo. Em relação a bens de consumo tradicionais como geladeira, fogão, filtro e televisão, o telefone tem, também, menor penetração. O telefone vai ter uma penetração maior somente em relação a bens considerados de luxo como vídeo cassete, automóvel, freezer, microondas, microcomputador e ar condicionado. Capítulo 3 - Telecomunicações 205 BDMG 40 anos Os GRAF. 11 e 12 ilustram a posição relativa de Minas Gerais quanto à posse de bens e serviços em relação à média do Brasil, nos anos de 1999 ou 2000. Observa-se que Minas Gerais, em relação a bens básicos como fogão, energia elétrica, esgoto e telefone, por exemplo, encontrase ligeiramente acima da média nacional. Quanto a bens que precisam de um maior poder aquisitivo para sua posse, como automóvel, freezer, ar condicionado, por exemplo, encontra-se abaixo da média. Depreende-se que existe um esforço para que o Estado seja bem atendido em relação aos bens básicos, esforço esse que historicamente foi feito pelo Estado. Por outro lado, os bens tidos como de luxo não são adquiridos na mesma proporção pela população mineira, o que denota o baixo poder aquisitivo da população. O GRAF. 9 mostra a posição relativa de Minas Gerais em relação às outras Unidades da Federação no que diz respeito à posse de telefones residenciais. Minas tinha uma excelente posição relativa em 1993 ficando atrás somente do Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Em 1999, Minas perde posição relativa para Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, ultrapassando ligeiramente o Rio de Janeiro. GRÁFICO 9 BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO* PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM TELEFONE - 1993 E 1999 FONTE: PNAD 1.993 e 1.999 * Não foram consideradas as unidades da federação RO, AC, AM, RR, PA, AP, pois a população rural destas UF’s contempladas pelas PNADs. não são 3.4. Posse de telefone por características do chefe de domicílio Neste item, visando dar uma idéia dos principais segmentos da população a serem atacados para a universalização dos serviços de telefonia fixa, apresenta-se o grau de penetração da telefonia fixa nos domicílios classificados pelo nível de renda e por algumas características sócio-demográficas do chefe de domicílio. As TAB. 9, 10 e 11 apresentam respectivamente a situação em 1993, 1999 e a variação percentual do grau de posse pelas diversas características do chefe do domicílio. Minas Gerais tem uma posse de telefones, em média, ligeiramente superior ao Brasil, 19% contra 18% em 1993; 38% contra 36% em 1999 e, 41% contra 40% em 2000. Entretanto, se 206 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos dividirmos por região metropolitana, outras áreas urbanas e, área rural, verificamos uma concentração muito maior na Região Metropolitana de Belo Horizonte do que na média das outras 9 regiões metropolitanas brasileiras - 61%(MG) e 52%(BR) em 1999. Em 1993, a diferença não era tão grande (27% e 26%), isto é, essa concentração se deu nos últimos anos. O urbano não metropolitano de Minas é ligeiramente superior à média: 23%(MG) e 20%(BR) em 1.993 e 41%(MG) e 38%(BR) em 1999. Em contrapartida, na área rural, Minas Gerais (2,9%) tem uma cobertura muito abaixo da média brasileira que é de somente 6,5% dos domicílios com telefone. A segunda diferença importante é em relação à raça. Os brancos têm o dobro da cobertura dos de raça preta e parda (47% para brancos e 23% para pretos e pardos). Minas não é significativamente diferente da média. Quanto à ocupação, o empregador é aquele que tem maior percentual de posse (71% em 1999) seguido pelo funcionário público (60% em 1999). É interessante observar a diferença de posse de telefone dos empregados com carteira (40%) em relação aos sem carteira ou sem declaração (19%). Em resumo, os destaques positivos são: Pessoas com 12 ou mais anos de estudo, têm 90% de posse de telefone (ter entre 9 e 11 anos de estudo = 63%); Empregador (71%); Funcionário Público (60%) e, trabalhar na administração pública (55%); Morador da região metropolitana (51%). Em resumo, os destaques negativos são: No que diz respeito à raça, os brancos têm o dobro do percentual de pretos e pardos (46,7% e 23,3%); a diferença diminui drasticamente, pois em 1993 era o triplo (26% e 9%); Analfabetos ou com menos de um ano de estudo (10%); Empregados sem carteira ou sem declaração (19,4%) e os que trabalham para consumo próprio (15,2%). Os grandes problemas são: Telefonia rural, atividade agrícola e aqueles com menos de um ano de estudo ou analfabeto: como o rural representa 20% da população brasileira e tem somente 6,5%, se fosse feito um esforço para que o rural brasileiro atingisse a média brasileira, esta passaria dos 36% para 43,4 %. Em Minas Gerais o maior problema é a zona rural. Apenas 6,5% da população brasileira cujo chefe vive em domicílios situados na zona rural possuem telefone. Minas fica muito abaixo da média da zona rural brasileira tendo apenas 2,9% de posse. Aí está um dos grandes desafios da universalização em Minas Gerais. 3.5. Taxa de crescimento anual da posse de telefone por característica sócio-demográfica do chefe do domicílio A TAB. 12 apresenta as taxas anuais de crescimento, verificadas entre 1993 e 1999, da posse de telefones pelas diversas classes de renda e por características sócio-demográficas do chefe do domicílio. O que se pretende aqui é verificar como tem se dado essa melhoria no atendimento de telefonia fixa pelos diversos segmentos da sociedade. Capítulo 3 - Telecomunicações 207 BDMG 40 anos Na coluna participação tem-se a variação percentual anual de cada elemento (masculino e feminino) dentro da característica sócio-demográfica (sexo). Embora ultrapasse a nossa análise relativa à posse de telefones, essa evolução das características dos chefes de domicílios brasileiros é importante para se ter uma idéia das principais tendências sócio-demográficas que vêm ocorrendo no Brasil: Existem cada vez mais, domicílios chefiados por mulheres; A idade média do chefe do domicílio vem aumentando; Há um crescimento do chefe de domicílio trabalhando no setor serviços em detrimento, principalmente, dos setores agrícola e industrial; Há uma melhoria significativa dos anos de estudo dos chefes de família brasileiros; Contraditoriamente à melhoria dos anos de estudo, os não-remunerados, inativos e desocupados crescem em detrimento, principalmente, dos empregados com carteira. Minas Gerais segue um padrão semelhante ao brasileiro podendo-se destacar somente um ligeiro aumento relativo da participação de trabalho para consumo próprio no que diz respeito a ocupação e, um crescimento ligeiramente maior dos domicílios chefiados por pessoas de 60 anos e mais. No que diz respeito ao crescimento percentual da posse de telefone pode-se observar que existem diferenciais importantes de crescimento em relação à média nacional de 12,3% a.a. que em si só já é um marco importante no grande passo que já foi dado para a universalização dos serviços. Crescimentos significativamente acima da média ocorrem nas classes de renda mais baixas e nas características sócio-demográficas que, intuitivamente, representam pior qualidade de vida ou de oportunidades na sociedade. Não se pode desprezar nesta análise a característica assintótica dos índices de posse de bens que, na prática, têm um valor máximo que é 100%. Assim, 88% dos chefes de famílias mineiros que tinham 12 ou mais anos de estudo e, nível de renda A/B, possuíam telefone em 1993. Embora alcançasse a surpreendente marca de 97% de posse em 1999, o percentual cresceu somente 1,5% a.a. , neste período. A taxa de crescimento geométrica máxima, se tivesse alcançado 100% de posse, seria 2,1% a.a. Cientes dessa característica que limita a análise, ainda assim consideramos pertinente destacar o crescimento do percentual de posse de algumas categorias que representam camadas importantes da população. Merecem destaque, as seguintes características sócio-demográficas dos chefes de domicílio que tiveram mais de 20% de crescimento anual do grau de posse de telefones: Idade entre 15 e 24 anos (26,1%); Analfabetos ou com menos de um ano de estudo (23,1%); Empregados sem carteira ou sem declaração (21,7%); 208 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento Em Minas Gerais, os desocupados também tiveram um crescimento acima de 20% (22,9%). BDMG 40 anos Residentes na área rural (20%); Esses crescimentos se deram principalmente nas classes D e E (uma média de 19%,enquanto na classe C, ficou na média nacional (12%) e nas classes A e B somente 6%). Destacam-se os seguintes crescimentos nas classes D e E dos chefes de domicílio com as seguintes características: De 15 a 24 anos (32%); Trabalhando no setor público (28,2%); Trabalhando na administração pública (22,9%); Analfabeto ou com menos de um ano de estudo (26%); 5 a 8 anos de estudo (21,7%); Empregado com carteira (26,9%); Empregado sem carteira ou sem declaração (29%); Empregado desocupado (21,2%); Raça preta ou parda (25,7%); Situação rural (30,9%); Situação metropolitana (23,7%). Embora as diferenças entre classes de renda e, entre características sócio-demográficas continuem, houve um grande aumento da posse de telefones de uma maneira geral e, especificamente, nas camadas mais baixas. Isso ocorreu, não só pela maior oferta, mas principalmente, pela redução do desembolso inicial necessário para se adquirir uma linha telefônica. O telefone que era um ativo (tinha que ser declarado na Declaração de Ajuste do Imposto de Renda e, chegou a valer US$ 5,000.00, em algumas regiões) passou a ser um serviço, com uma taxa de ativação média de R$ 75,00. O grande avanço e esforço ocorrido nos últimos anos para a universalização dos serviços de telefonia fixa tirou o Brasil de uma situação semelhante a dos Estados Unidos no princípio do século passado. Estima-se que hoje mais de 50% dos lares brasileiros têm telefone e, que, 40% de todos os telefones da América Latina estejam no Brasil. Além disso, as camadas mais pobres da sociedade tiveram um maior crescimento percentual de posse, embora como já explicado acima, partiram de uma base muito pequena. Estima-se que dos mais de 30 milhões de terminais acrescidos à base existente em 1993, 12,4 milhões foram para a classe A/B; 12,8 milhões para a classe C e, 5 milhões para as classes D,E e sem rendimentos. Capítulo 3 - Telecomunicações 209 BDMG 40 anos TABELA 8 EVOLUÇÃO DA POSSE DE BENS POR CLASSE ECONÔMICA (*)BRASIL E MINAS GERAIS 1993 A/B C 1999 D/E/SR TOTAL A/B Participaçao da Classe econômica no Total da População Minas Gerais 12,3% 23,4% 64,3% 100,0% 16,3% Brasil 16,3% 25,4% 58,4% 100,0% 19,9% Percentual da Classe econômica que possui o bem: C 2000 D/E/SR TOTAL Taxa anual TOTAL de Crescimento 28,4% 28,2% 55,3% 100,0% 100,0% 51,9% 100,0% 100,0% n.a. n.a. TELEFONE Minas Gerais Brasil 64,3% 56,5% 28,1% 22,0% 5,5% 4,4% 18,9% 82,9% 18,0% 79,6% 49,5% 44,7% 15,9% 12,6% 38,0% 36,0% 41,0% 39,7% 11,7% 2,0% 96,7% 95,8% 97,2% 98,1% 83,3% 84,6% 88,2% 99,2% 89,8% 99,2% 98,8% 99,1% 92,3% 90,7% 95,3% 94,8% 95,7% 93,0% 1,2% 0,5% 83,4% 59,7% 77,4% 51,4% 48,5% 27,0% 59,5% 87,6% 38,5% 65,6% 81,5% 53,7% 55,6% 29,7% 68,2% 43,6% -O-O- 2,3% 2,1% 84,6% 82,1% 76,8% 80,1% 46,2% 45,6% 58,1% 87,9% 64,4% 88,0% 80,6% 84,0% 57,2% 59,5% 68,8% 72,1% 78,4% 79,0% 4,4% 3,0% 93,8% 92,0% 90,0% 92,5% 51,5% 56,6% 65,7% 97,4% 71,5% 97,5% 94,3% 96,1% 69,3% 69,9% 81,0% 82,8% 84,4% 83,2% 3,7% 2,2% 99,7% 99,3% 99,7% 99,8% 99,6% 97,2% 99,6% 99,9% 98,2% 99,8% 99,8% 99,8% 99,3% 98,3% 99,6% 99,0% -o-o- 0,0% 0,1% 95,8% 95,1% 94,1% 94,1% 81,0% 77,5% 85,9% 97,2% 85,0% 97,3% 95,5% 94,8% 43,5% 42,8% 90,7% 89,9% 89,6% 87,4% 0,6% 0,4% 94,4% 74,8% 90,6% 64,8% 76,3% 50,0% 81,9% 93,8% 57,8% 71,7% 87,7% 60,2% 38,7% 24,3% 82,1% 55,6% -o-o- 0,1% -0,6% 32,5% 39,0% 9,4% 16,3% 1,3% 4,0% 7,0% 40,8% 13,0% 47,5% 13,4% 21,9% 2,3% 5,1% 12,3% 19,6% -o-o- 9,8% 7,2% 59,4% 61,2% 30,9% 34,9% 8,2% 8,3% 19,8% 63,0% 24,1% 72,2% 30,0% 41,6% 6,8% 9,0% 24,2% 32,8% 26,6% 33,1% 4,3% 4,6% 94,4% 92,6% 93,8% 92,9% 63,1% 61,6% 74,1% 97,9% 75,6% 98,1% 95,7% 97,5% 79,9% 79,1% 87,3% 87,7% 89,3% 87,0% 2,7% 2,0% -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- 14,1% 19,4% -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- 1,6% 7,5% -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- 35,5% 35,3% -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- 9,0% 10,6% -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- -o-o- 31,8% 32,7% -o-o- ELETRICIDADE Minas Gerais Brasil ESGOTO Minas Gerais Brasil LIXO Minas Gerais Brasil GELADEIRA Minas Gerais Brasil FOGAO Minas Gerais Brasil RADIO Minas Gerais Brasil FILTRO Minas Gerais Brasil FREEZER Minas Gerais Brasil MAQUINA DE LAVAR ROUPA Minas Gerais Brasil TV Minas Gerais Brasil FORNO DE MICROONDAS Minas Gerais Brasil AR CONDICIONADO Minas Gerais Brasil VIDEO CASSETE Minas Gerais Brasil MICROCOMPUTADOR Minas Gerais Brasil AUTOMÓVEL USO PARTICULAR Minas Gerais Brasil FONTE: IBGE, PNAD 1993 e 1999 e Tabulações Avançadas do Censo Demográfico 2002 (*) Critério definido pela TARGET – Pesquisas e Marketing, exclusivamente de classes econômicas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de classes sociais. Rendimentos mensais: Classes E: até 2 salários mínimos – Classe D: entre 2 e 4 sm – Classe C entre 4 e 10 sm – Classe B entre 10 e 25 sm – Classe A acima de 25 sm (**) Classes D, E e sem remuneração 210 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TABELA 9 POSSE DE TELEFONE POR CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DO CHEFE DE DOMICÍLIO - MINAS GERAIS E BRASIL - 1993 CATEGORIA Sexo Idade Atividade Anos de Estudo Ocupação Situação TOTAL Masculino Feminino 15-24 25-44 45-59 60 e mais Agrícola Industrial Comercial Serviços Administração Pública Outras ou mal definidas Sem instr. e - de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos e mais Empregador Empregado com carteira Militar Funcionário público Empregados sem carteira ou sem declaração Conta- própria Consumo Próprio Não remunerado Inativo Desocupado Branca Preta e Parda Outras ou mal definidas Urbano não metropolitano Rural Metropolitano A/B 64,4% 63,6% 21,8% 64,1% 61,3% 70,6% 37,2% 66,9% 73,8% 74,5% 76,7% 75,2% 15,8% 50,2% 59,2% 76,9% 88,1% 72,8% 69,3% 70,9% 80,0% C 28,0% 28,5% 14,9% 28,4% 27,1% 29,8% 13,5% 23,2% 36,8% 33,0% 27,2% 36,9% 9,7% 23,4% 33,6% 43,8% 63,6% 46,5% 21,4% 48,5% 31,4% MINAS GERAIS D/E/SR TOTAL 5,0% 19,0% 8,2% 18,7% 2,3% 4,2% 4,7% 16,1% 6,5% 21,5% 7,4% 24,5% 1,7% 6,5% 3,8% 16,6% 15,2% 33,1% 7,7% 26,8% 2,7% 23,7% 5,7% 45,9% 1,1% 3,2% 5,4% 13,8% 8,0% 22,1% 21,5% 47,5% 47,4% 78,8% 20,1% 51,8% 4,1% 16,6% 0,0% 60,0% 5,6% 32,1% 44,3% 50,9% 67,9% 100,0% 60,9% 67,2% 70,1% 50,2% 100,0% 71,9% 6,6% 70,9% 64,3% 13,2% 29,5% 22,8% 46,5% 35,2% 22,5% 33,0% 20,8% 22,6% 32,2% 0,8% 28,5% 28,1% 1,2% 6,0% 5,2% 27,2% 10,5% 7,1% 8,6% 3,0% 0,0% 7,9% 0,5% 7,1% 5,5% 5,3% 16,8% 12,5% 49,8% 23,8% 11,2% 26,5% 10,6% 45,2% 23,3% 0,9% 26,7% 18,9% PARTICIPAÇÃO 84,0% 16,0% 2,9% 48,7% 30,4% 17,9% 33,5% 25,7% 10,0% 24,0% 5,3% 1,6% 22,1% 49,1% 15,0% 8,7% 5,1% 6,6% 26,5% 0,2% 4,7% A/B 56,6% 55,6% 22,6% 56,8% 57,0% 57,0% 21,9% 55,2% 64,0% 64,9% 71,0% 74,9% 10,2% 37,4% 51,2% 68,8% 84,7% 74,6% 60,1% 72,8% 76,7% C 21,1% 27,4% 8,4% 20,9% 22,2% 26,8% 8,7% 15,5% 28,7% 24,5% 26,3% 35,0% 7,9% 17,3% 20,8% 34,7% 57,8% 41,8% 15,9% 29,7% 31,7% BRASIL D/E/SR TOTAL 3,9% 17,9% 6,8% 18,3% 1,4% 3,9% 3,7% 16,0% 5,0% 21,3% 7,0% 21,6% 1,0% 4,5% 2,3% 14,9% 7,6% 26,6% 6,7% 24,5% 4,9% 26,7% 7,7% 47,0% 1,2% 2,9% 4,2% 11,6% 5,6% 17,4% 15,9% 39,3% 34,1% 74,4% 15,8% 53,8% 3,5% 17,1% 7,1% 42,2% 7,8% 36,8% 16,6% 24,4% 3,1% 0,2% 16,0% 1,7% 52,2% 47,6% 0,1% 55,2% 22,7% 22,1% 37,3% 36,9% 49,8% 62,8% 61,0% 34,3% 63,7% 36,7% 86,1% 60,5% 11,6% 64,6% 56,5% 14,4% 20,1% 17,8% 43,5% 31,3% 29,4% 25,8% 14,9% 64,9% 24,2% 5,7% 23,5% 22,0% 1,4% 3,7% 3,0% 23,5% 8,7% 6,3% 7,1% 2,3% 14,2% 5,8% 0,4% 6,7% 4,4% 6,0% 13,0% 9,8% 39,8% 23,1% 10,2% 25,8% 8,6% 57,3% 19,8% 2,2% 26,1% 18,0% PARTICIPAÇÃO 84,3% 15,7% 4,1% 50,2% 29,2% 16,5% 27,7% 26,5% 11,9% 26,0% 5,8% 2,0% 24,6% 38,4% 18,9% 11,1% 6,9% 5,3% 28,0% 0,3% 4,7% 14,7% 27,4% 1,7% 0,2% 15,4% 2,3% 52,8% 46,5% 0,7% 48,5% 21,2% 30,4% FONTE: PNAD, 1993 211 BDMG 40 anos Capítulo 3 - Telecomunicações Raça CLASSIFICAÇÃO 212 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TABELA 10 POSSE DE TELEFONE POR CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DO CHEFE DE DOMICÍLIO - MINAS GERAIS E BRASIL - 1999 CATEGORIA Sexo Idade Atividade Anos de Estudo Ocupação Raça Situação TOTAL FONTE: PNAD, 1999 CLASSIFICAÇÃO A/B 82,1% 86,5% 62,4% 84,9% 82,9% 80,1% 37,6% 87,6% 87,5% 91,4% 92,3% 96,9% 34,9% 71,6% 83,3% 90,4% 96,6% 88,3% 89,6% 96,9% 93,2% Masculino Feminino 15-24 25-44 45-59 60 e mais Agrícola Industrial Comercial Serviços Administração Pública Outras ou mal definidas Sem instr. e - de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos e mais Empregador Empregado com carteira Militar Funcionário público Empregados sem carteira ou sem declaração 67,5% Conta- própria 70,9% Consumo Próprio 77,0% Não remunerado 79,0% Inativo 87,7% Desocupado 90,1% Branca 86,4% Preta e Parda 72,9% Outras ou mal definidas 100,0% Urbano não metropolitano 88,6% Rural 12,8% Metropolitano 90,5% 82,9% C 48,8% 51,8% 49,0% 50,9% 48,9% 46,9% 13,5% 47,8% 66,9% 57,7% 56,6% 80,1% 24,8% 42,7% 57,4% 73,1% 88,9% 55,2% 51,7% 84,6% 61,2% MINAS GERAIS D/E/SR TOTAL 14,6% 37,6% 20,7% 39,3% 10,4% 21,0% 15,6% 35,3% 15,7% 42,3% 18,1% 39,6% 2,9% 8,3% 15,2% 38,1% 33,2% 59,4% 24,6% 51,9% 15,5% 53,7% 21,6% 73,4% 6,6% 12,2% 14,5% 29,9% 22,7% 44,1% 43,7% 71,4% 72,8% 94,0% 28,8% 67,3% 18,1% 40,6% 91,2% 15,4% 56,2% 34,0% 47,2% 21,2% 94,4% 53,9% 71,6% 53,1% 44,8% 75,7% 50,3% 4,0% 68,1% 49,5% 5,6% 18,2% 3,7% 61,4% 22,0% 26,2% 21,3% 11,9% 62,6% 17,0% 1,7% 36,5% 15,9% 16,7% 37,6% 12,7% 78,9% 43,0% 38,5% 47,8% 27,2% 82,1% 41,1% 2,9% 61,4% 38,0% Participação 80,5% 19,5% 3,1% 45,5% 30,9% 20,5% 29,7% 24,4% 10,5% 29,1% 4,9% 1,3% 18,8% 45,0% 18,8% 11,0% 6,4% 6,2% 23,7% 0,2% 4,9% A/B 79,4% 80,2% 57,4% 78,9% 81,2% 78,9% 40,1% 78,8% 82,7% 83,3% 85,9% 91,7% 35,0% 67,9% 76,1% 84,8% 94,2% 87,9% 81,9% 77,5% 87,4% C 43,5% 49,6% 30,3% 44,6% 45,1% 46,4% 18,7% 38,9% 51,5% 49,3% 51,4% 61,4% 24,0% 38,5% 45,9% 61,9% 76,4% 57,4% 43,2% 51,0% 55,9% BRASIL D/E/SR 11,5% 16,5% 7,8% 12,1% 13,0% 14,9% 2,7% 10,3% 20,8% 19,0% 17,0% 11,4% 4,8% 11,7% 18,3% 31,8% 54,1% 22,7% 14,8% 20,4% 20,1% TOTAL 35,8% 36,8% 15,5% 33,4% 41,8% 37,7% 8,3% 34,0% 48,0% 47,2% 54,8% 63,2% 10,0% 27,2% 38,4% 63,0% 89,3% 70,6% 39,8% 63,1% 60,0% Participação 80,7% 19,3% 4,0% 47,5% 30,5% 18,0% 25,0% 24,5% 12,3% 30,9% 5,5% 1,9% 20,9% 34,8% 22,6% 13,8% 7,9% 5,2% 24,1% 0,3% 4,8% 16,2% 23,3% 3,9% 0,2% 18,3% 3,2% 51,5% 48,3% 0,2% 56,0% 20,6% 23,4% 68,7% 69,8% 72,8% 80,5% 83,6% 75,6% 84,1% 66,2% 90,8% 82,6% 32,2% 83,7% 79,6% 33,8% 40,6% 31,3% 71,8% 51,7% 54,8% 49,1% 37,9% 67,5% 46,2% 15,7% 50,6% 44,7% 6,5% 9,7% 5,5% 28,9% 18,3% 19,9% 17,3% 9,2% 24,7% 13,8% 2,1% 24,2% 12,6% 19,4% 28,9% 15,2% 57,5% 41,3% 30,0% 46,7% 23,3% 66,4% 37,8% 6,5% 51,5% 36,0% 14,6% 27,2% 1,9% 0,3% 18,0% 4,5% 53,1% 46,2% 0,7% 49,7% 19,3% 31,0% TABELA 11 POSSE DE TELEFONE POR CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DO CHEFE DE DOMICÍLIO - MINAS GERAIS E BRASIL - TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL (1993 - 1999) CATEGORIA Sexo Idade Atividade Anos de Estudo Ocupação Situação TOTAL Masculino Feminino 15-24 25-44 45-59 60 e mais Agrícola Industrial Comercial Serviços Administração Pública Outras ou mal definidas Sem instr. e - de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 11 anos 12 anos e mais Empregador Empregado com carteira Militar Funcionário público Empregados sem carteira ou sem declaração Conta-própria Consumo Próprio Não remunerado Inativo Desocupado Branca Preta e Parda Outras ou mal definidas Urbano não metropolitano Rural Metropolitano A/B 4,1% 5,2% 19,2% 4,8% 5,1% 2,1% 0,2% 4,6% 2,9% 3,5% 3,1% 4,3% 14,1% 6,1% 5,9% 2,7% 1,5% 3,3% 4,4% 5,3% 2,6% C 9,7% 10,4% 21,9% 10,2% 10,4% 7,9% -0,1% 12,8% 10,5% 9,8% 13,0% 13,8% 16,9% 10,5% 9,4% 8,9% 5,7% 2,9% 15,8% 9,7% 11,8% 7,3% 5,7% 2,1% -3,9% 6,3% 5,0% 3,5% 6,4% 0,0% 3,5% 11,6% 4,1% 4,3% 17,1% 8,1% -1,2% 12,5% 7,4% 21,3% 8,3% 13,7% 22,3% 7,8% 30,8% 15,6% 9,9% MINAS GERAIS D/E/SR TOTAL 19,7% 12,0% 16,6% 13,1% 28,2% 30,6% 22,3% 13,9% 15,7% 11,9% 16,1% 8,3% 9,6% 4,3% 26,2% 14,8% 14,0% 10,2% 21,3% 11,7% 33,9% 14,6% 25,0% 8,2% 34,3% 25,0% 17,9% 13,8% 18,9% 12,2% 12,5% 7,1% 7,4% 3,0% 6,2% 4,5% 27,9% 16,1% 7,2% 18,3% 9,8% 30,1% 20,4% -5,4% 14,5% 13,2% 24,2% 16,3% 26,1% 13,5% 24,3% 31,4% 19,3% 21,0% 14,3% 0,3% 8,0% 10,3% 22,9% 10,3% 17,0% 10,5% 9,9% 21,8% 14,9% 12,3% Participação -0,7% 3,4% 1,2% -1,2% 0,3% 2,2% -1,9% -0,8% 0,9% 3,2% -1,1% -3,4% -2,6% -1,4% 3,8% 4,0% 3,8% -1,1% -1,8% 1,6% 0,7% -0,4% -0,8% 3,8% 0,8% 2,2% 11,1% -0,2% 0,2% 7,7% 0,2% -1,6% 0,9% A/B 5,8% 6,3% 16,8% 5,6% 6,1% 5,6% 10,6% 6,1% 4,4% 4,3% 3,2% 3,4% 22,7% 10,5% 6,8% 3,6% 1,8% 2,8% 5,3% 1,0% 2,2% C 12,8% 10,4% 23,9% 13,5% 12,5% 9,6% 13,5% 16,6% 10,2% 12,3% 11,8% 9,8% 20,4% 14,3% 14,1% 10,1% 4,8% 5,4% 18,2% 9,5% 9,9% BRASIL D/E/SR TOTAL 19,5% 12,2% 16,0% 12,3% 32,4% 26,1% 21,7% 13,0% 17,4% 11,9% 13,4% 9,7% 17,1% 10,6% 28,2% 14,7% 18,3% 10,3% 19,0% 11,6% 22,9% 12,7% 6,9% 5,1% 26,0% 23,1% 18,8% 15,2% 21,7% 14,1% 12,3% 8,2% 8,0% 3,1% 6,2% 4,6% 26,9% 15,1% 19,3% 6,9% 17,1% 8,5% 10,7% 11,2% 6,5% 4,2% 5,4% 14,1% 4,7% 10,3% 0,9% 5,3% 18,5% 4,4% 5,9% 15,3% 12,4% 9,9% 8,7% 8,7% 10,9% 11,4% 16,8% 0,6% 11,4% 18,6% 13,6% 12,5% 29,0% 17,4% 11,1% 3,5% 13,2% 21,2% 15,9% 25,7% 9,7% 15,7% 30,9% 23,7% 19,0% 21,7% 14,2% 7,6% 6,3% 10,2% 19,6% 10,4% 18,1% 2,5% 11,4% 20,0% 12,0% 12,3% Participação -0,7% 3,5% -0,4% -0,9% 0,7% 1,5% -1,7% -1,4% 0,6% 2,9% -0,8% -1,3% -2,7% -1,7% 3,0% 3,8% 2,3% -0,2% -2,4% 0,6% 0,2% -0,1% -0,1% 1,2% 4,1% 2,6% 11,6% 0,1% -0,1% -0,3% 0,4% -1,5% 0,3% FONTE: Dados Trabalhados a partir de PNAD, 1993 e 1999 e Resultados Preliminares Censo 2000. 213 BDMG 40 anos Capítulo 3 - Telecomunicações Raça CLASSIFICAÇÃO BDMG 40 anos GRÁFICO 10 EVOLUÇÃO DO GRAU DE POSSE POR DOMICÍLIO BRASIL – 1993 / 2000 FONTE: PNAD 1993 e Resultados preliminares Censo 2000. GRÁFICO 11 TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL DO GRAU DE POSSE DE 1995 / 2000 BRASIL FONTE: PNAD 1995 e Resultados preliminares Censo 2000. 214 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento POSSE DE BENS E SERVIÇOS POR DOMICILIO MINAS EM RELAÇÃO AO BRASIL – 1999/2000 BDMG 40 anos GRÁFICO 12 ACIMA DA MÉDIA FONTE: PNAD 1999 e Resultados preliminares Censo 2000. GRÁFICO 13 POSSE DE BENS E SERVIÇOS POR DOMICILIO MINAS EM RELAÇÃO AO BRASIL – 1999/2000 ABAIXO DA MÉDIA FONTE: PNAD 1999 e Resultados preliminares Censo 2000. Capítulo 3 - Telecomunicações 215 BDMG 40 anos 4. Oferta regionalizada de serviços e infra-estrutura por segmento Este item pretende dar uma visão da distribuição espacial dentro do Estado de Minas Gerais da infra-estrutura e do grau de concorrência dos segmentos de telecomunicações analisados neste trabalho (STFC, SMC, Internet e TV por assinatura). A primeira constatação de nível geral é a de que, após a privatização, verifica-se com grande ênfase a existência da assimetria de informação. Embora os números mais agregados, principalmente quando são favoráveis às operadoras, sejam alardeados na imprensa, tivemos grande dificuldade em obter informações em nível de desagregação maior. Embora tenhamos estimativas, para os 853 municípios mineiros, baseadas em premissas bem fundamentadas, preferimos trabalhar com o nível de desagregação relativo às regiões de planejamento, separando, na Região Central, a Região Metropolitana de Belo Horizonte do restante da Região Central. A Região Central é uma mescla de regiões, com características bem distintas, tendo a Região Metropolitana de Belo Horizonte ao centro, com características bem específicas e divergentes do resto da Região Central. Se não separarmos a RMBH do restante, corre-se o risco de não se perceber a grande concentração de bens, serviços e infra-estrutura existente nessa região, camuflando as grandes desigualdades existentes em Minas Gerais. Os valores e índices encontrados para o setor de telecomunicações, em linhas gerais, não são diferentes dos encontrados para os outros setores de infra-estrutura: existe uma grande desigualdade, indo de melhores condições de infra-estrutura na RMBH, e no Triângulo e, no lado oposto da lista de classificação, o Norte de Minas e, por último, os piores índices, encontrados no Mucuri/Jequitinhonha. 4.1. STFC (Sistema de Telefonia Fixa Comutada) A TAB. 12, GRAF. 14 e Mapa 4 apresentam a evolução tanto do número de terminais ativos como da teledensidade de 1999 (verificado) para fevereiro de 2002 (estimado) por região de planejamento e o percentual de municípios com duas operadoras. O primeiro percentual equivale aos municípios onde a segunda operadora é a VESPER (Espelho das incumbentes que são a TELEMAR e a CTBC) e o segundo percentual inclui esses municípios mais aqueles onde já teve a licitação das espelhinhos (chamam-se espelhinhos as autorizadas a operar em municípios onde a espelho não se interessou em atender). Em termos de concorrência, embora saibamos que a Vésper não decolou no setor residencial e no atendimento às pequenas e médias empresas, e que, as espelhinhos nem começaram a operar, por falta de financiamento, entre outros motivos, a análise feita mostra, como esperado que, a população da RMBH, quase toda ela, teoricamente, pode escolher a operadora e, no outro extremo, apenas 17% da população do Mucuri/Jequitinhonha tem, também, essa prerrogativa. Quanto ao número de terminais e teledensidade, também, pode-se verificar os mesmos diferenciais entre as regiões. Como curiosidade, em relação aos EUA, o Mucuri/Jequitinhonha tinha em 1999, a teledensidade americana de 1920, e a RMBH, hoje em 2002, tem a de 1965. Crescemos muito após 1997, fazendo em 5 anos o que os americanos demoraram décadas, entretanto a desigualdade interna e em relação aos EUA, ainda é grande. Como visto anteriormente, o estado como um todo está ligeiramente acima da média do Brasil. 216 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento A TAB. 13, GRAF. 15 e Mapa 5 mostram a população e o número de municípios de Minas Gerais, por região de planejamento, atendidos por telefonia móvel e a parte dessa população atendida onde os usuários podem optar pela operadora. Em seguida, é fornecida a penetração do celular que é o mesmo conceito da teledensidade da telefonia fixa, isto é, terminais por 100 habitantes. Como o celular é um bem de posse individual, no nosso modo de ver esse índice faz mais sentido para a telefonia móvel. BDMG 40 anos 4.2. Telefonia móvel Minas Gerais está abaixo da média do Brasil (15% e 17%). Um pouco mais de 78% da população mineira estão em área coberta pelo serviço de telefonia móvel, sendo que, 70% estão em área com concorrência, isto é, a TIM (segunda operadora) atende praticamente às mesmas cidades onde a TELEMIG e CTBC Celular já atendiam. Não acreditamos que a OI, que começou a operar em junho de 2002, vá aumentar o tamanho da área coberta e de clientes atendidos. Provavelmente, ocorrerá a divisão do mercado, diminuindo a escala das operadoras ou ocorrendo fusões. Novamente, os diferenciais regionais são importantes: enquanto praticamente toda a região metropolitana de Belo Horizonte é atendida por esse serviço, somente 40% da população do Jequitinhonha/Mucuri são atendidos. 4.3. Acesso a Internet A TAB. 14, GRAF. 16 e Mapa 6 apresentam o valor verificado em 2000 e a estimativa para 2002 dos domicílios com computador, desses domicílios aqueles que estão conectados à internet e o número de internautas, isto é, a população que acessa a Internet tendo ou não computador em casa. Observa-se que Minas Gerais está abaixo da média do Brasil. (7,4% e 8,3%) e que as diferenças regionais se mantêm. Um dos problemas a ser atacado é o da minimização da exclusão digital. O custo de aquisição do computador e mesmo o custo mensal de acesso são os maiores impeditivos para a expansão. Dados do IBOPE publicados na imprensa mostram que, em dezembro de 2000, somente 2% das classes D/E tinham computador em casa porém, 21% da população dessa classe, acessavam a Internet seja no trabalho, na escola ou qualquer outro lugar fora de casa. De qualquer forma, a penetração é muito pequena. O percentual de domicílios que tem computador é maior do que o percentual de posse de TV por Assinatura no Brasil, porém o percentual que tem computador com Internet é um pouco menor. Resumindo: o preço do computador não pode ser fator limitante para o acesso. Ações importantes para diminuição da exclusão digital: disseminação de Internet pública (escola, serviço, associações de bairro, orelhões, etc.); outras fontes de acesso (celular, televisão, etc) e, finalmente, computadores mais baratos. 4.4. TV por assinatura A TAB. 15, GRÁF. 17 e Mapa 7 apresentam a população dos municípios que tem TV a Cabo ou MMDS, em operação e em implantação bem como o número de usuários. Observa-se que é o serviço onde Minas tem a pior cobertura em relação à média nacional (4,7% MG e 8% Brasil). Capítulo 3 - Telecomunicações 217 BDMG 40 anos Belo Horizonte, Uberlândia e Araguari possuem sistemas antigos (construídos no inicio dos anos 90 e fins dos anos 80) com grande cobertura. Divinópolis, Governador Valadares, Juiz de Fora, Caratinga e outras cidades, são municípios que têm sistemas operando há mais tempo, porém com redes de baixa qualidade e pouca cobertura, pois a licença não era oficial. O restante, só agora após as licitações iniciadas em 1999, ou estão construindo suas redes ou estão no início de operação. A grande maioria não começou a operar por falta de financiamento ou, dada a penetração atual de TV a Cabo em todo o país, por apresentarem planos de negócio não rentáveis. O sistema DTH (Direct to Home), principalmente da SKY e DirectTV, cobre todo o Brasil. O fator limitante, nesse caso, não é o investimento em redes e equipamentos dos prestadores de serviços, mas o desembolso inicial a que o usuário deve submeter-se para comprar o equipamento receptor (em torno de R$ 400,00 em agosto de 2002). O grande problema de TV a Cabo no Brasil não é sua pequena penetração que, dada às características atuais da programação, não é o fundamental. O problema é que ela não atuou ainda como motivador do acesso local na telefonia fixa, acesso à Internet, etc. como aconteceu em outros países. 4.5. Redes de transporte e de acesso (INFOVIAS) Assim como no caso das outras infra-estruturas, existe uma desigual distribuição espacial das redes de transporte (entre cidades) e de acesso (dentro das cidades). No hiper-centro de Belo Horizonte, quatro ou cinco redes de fibra óptica coexistem nas principais avenidas, em cidades como Uberlândia e Juiz de Fora, com certeza, têm mais de uma rede no centro. Já no Mucuri/ Jequitinhonha não tem redes de longa distância, tampouco, de acesso. Nesse caso, a Empresa de Infovias de propriedade da CEMIG pode ser fator de diferenciação para o Estado de Minas Gerais. A CEMIG, como comercializadora e distribuidora de energia, tem grande capilaridade e está presente em quase todo Estado de Minas Gerais. Isto é, a Infovias ao construir soluções para a CEMIG estará construindo redes nos locais onde está o mercado de telecomunicações e, portanto, pode capitalizar seu negócio com vendas para esses clientes ao mesmo tempo em que pode ser um agente de desenvolvimento do Estado, pois apresenta uma capilaridade que outras empresas, à luz somente das necessidades do mercado, não apresentariam. TABELA 12 TELEFONIA FIXA - PERCENTUAL DA POPULAÇÃO EM MUNICÍPIOS COM DUAS OPERADORAS, NÚMERO DE TERMINAIS ATIVOS E TELEDENSIDADE - MINAS GERAIS - REGIÕES DE PLANEJAMENTO DEZ 1999 E JUN 2002 REGIÃO DE PLANEJAMENTO % DA POPULAÇÃO COM CONCORRÊNCIA VÉSPER % DA POPULAÇÃO COM CONCORRÊNCIA VÉSPER + ESPELHINHOS DEZEMBRO - 1999 TERMINAIS ATIVOS JUNHO - 2002 TELEDENSIDADE TERMINAIS ATIVOS TELEDENSIDADE Alto Paranaíba 21,0% 46,8% 85.310 14 125.346 Central 71,3% 76,7% 1.255.032 20 1.677.247 21 27 RM Belo Horizonte 89,8% 90,6% 1.012.716 23 1.293.045 30 Restante Central 29,7% 45,5% 242.316 13 384.202 20 Centro-oeste de Minas 26,4% 32,8% 148.954 15 217.805 22 Jequitinhonha/Mucuri 13,2% 16,9% 82.894 8 133.502 14 Mata 22,5% 32,9% 299.262 15 425.784 21 0,0% 20,9% 34.560 10 53.479 16 Noroeste (Continua...) 218 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TELEFONIA FIXA - PERCENTUAL DA POPULAÇÃO EM MUNICÍPIOS COM DUAS OPERADORAS, NÚMERO DE TERMINAIS ATIVOS E TELEDENSIDADE MINAS GERAIS - REGIÕES DE PLANEJAMENTO DEZ 1999 E JUN 2002 REGIÃO DE PLANEJAMENTO % DA POPULAÇÃO COM CONCORRÊNCIA VÉSPER % DA POPULAÇÃO COM CONCORRÊNCIA VÉSPER + ESPELHINHOS DEZEMBRO - 1999 TERMINAIS ATIVOS JUNHO - 2002 TELEDENSIDADE TERMINAIS ATIVOS TELEDENSIDADE Norte de Minas 20,6% 43,2% 143.225 10 222.848 15 Rio Doce 30,0% 41,0% 179.261 12 273.157 18 Sul de Minas 10,3% 24,8% 350.793 15 486.608 20 Triângulo 58,8% 69,4% 225.909 18 309.071 24 MINAS GERAIS 40,3% 50,7% 2.805.200 16 3.924.846 22 27.765.900 16 39.000.000 23 BRASIL BDMG 40 anos TABELA 12 FONTE: Dados trabalhados a partir : População de Minas Gerais e Brasil para cálculo de teledensidade - IBGE, Censo Demográfico 2000; Terminais ativos em 1999, no Brasil, Minas Gerais e principais municípios de MG - dados verificados, PASTE 2000; Terminais ativos em junho de 2002, no Brasil e Minas Gerais - Pesquisa IDC publicada na imprensa. GRÁFICO 14 TELEFONIA FIXA TELEDENSIDADE Capítulo 3 - Telecomunicações 219 220 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TABELA 13 -TELEFONIA MÓVEL POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS ATENDIDOS - COM E SEM CONCORRÊNCIA - E NÚMERO DE USUÁRIOS - MINAS GERAIS REGIÕES DE PLANEJAMENTO MAIO DE 2002 POPULAÇÃO MUNICÍPIOS Atendida Região de Planejamento ALTO PARANAÍBA TOTAL TOTAL COBERTURA Atendidos Com concorrência Usuários TOTAL TOTAL Penetração Com concorrência celular TOTAL Com concorrência 589.864 524.483 493.510 91.678 31 17 13 16% 89% 84% CENTRAL 6.278.865 5.773.840 5.527.216 1.293.037 158 72 51 21% 92% 88% RM Belo Horizonte 4.349.425 4.312.071 4.240.215 1.042.541 33 27 22 25% 99% 97% Restante Central 1.929.440 1.461.769 1.287.001 250.496 125 45 29 19% 76% 67% CENTRO-OESTE DE MINAS 987.765 832.443 772.884 148.199 56 29 22 15% 84% 78% JEQUITINHONHA/MUCURI 977.779 391.772 237.659 45.144 66 10 4 5% 40% 24% 2.030.856 1.278.511 1.122.934 268.681 142 27 16 13% 63% 55% MATA NOROESTE 334.509 238.646 186.617 35.155 19 7 3 11% 71% 56% NORTE DE MINAS 1.492.715 1.076.393 830.933 125.187 89 30 15 8% 72% 56% RIO DOCE 1.534.268 898.248 785.940 166.450 102 15 8 11% 59% 51% SUL DE MINAS 2.384.851 1.727.712 1.490.753 337.384 155 56 40 14% 72% 63% TRIÂNGULO 1.280.022 1.255.004 1.146.109 239.085 35 29 13 19% 98% 90% 17.891.494 13.997.052 12.594.555 2.750.000 853 292 185 15% 78% 70% Minas Gerais Brasil 169.590.693 29.000.000 FONTE: Dados trabalhados a partir de informações agregadas de TELETIME, junho de 2002 e Dados fornecidos por TIM 17% GRÁFICO 15 TELEFONIA MÓVEL - TELEDENSIDADE Capítulo 3 - Telecomunicações BDMG 40 anos 221 222 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TABELA 14 DOMICÍLIOS COM COMPUTADOR E ACESSO À INTERNET E NÚMERO DE PESSOAS COM ACESSO À INTERNET - MINAS GERAIS - REGIÕES DE PLANEJAMENTO DEZEMBRO DE 2000 - JUNHO DE 2002 REGIÃO DE PLANEJAMENTO DOMICÍLIOS COM COMPUTADOR 2000 ALTO PARANAÍBA DOMICÍLIOS COM ACESSO A INTERNET 2002 2000 2002 INTERNAUTAS 2000 2002 14.041 8,3% 18.033 7.965 4,7% 10.230 34.435 5,8% 44.227 7,5% CENTRAL 177.025 10,4% 227.368 106.628 6,3% 136.952 401.389 6,4% 515.537 8,2% RM Belo Horizonte 138.427 11,6% 177.793 85.289 7,2% 109.544 304.625 7,0% 390.783 9,0% 6,5% Restante CENTRAL 38.598 7,6% 49.575 21.339 4,2% 27.408 96.764 5,0% 124.754 CENTRO-OESTE DE MINAS 20.414 7,3% 26.219 11.099 4,0% 14.255 52.236 5,3% 67.092 6,8% JEQUITINHONHA/MUCURI 13.189 5,6% 16.940 6.430 2,7% 8.259 38.438 3,9% 49.369 5,0% MATA 45.662 8,1% 58.647 25.759 4,6% 33.085 113.348 5,6% 145.582 7,2% 6.464 7,2% 8.302 3.511 3,9% 4.510 16.680 5,0% 21.423 6,4% NORTE DE MINAS 21.018 6,0% 26.996 10.627 3,0% 13.650 58.877 3,9% 75.621 5,1% RIO DOCE 31.460 7,8% 40.407 17.516 4,3% 22.498 79.070 5,2% 101.557 6,6% SUL DE MINAS TRIÂNGULO 58.881 40.036 8,8% 10,6% 75.626 51.422 33.978 24.161 5,1% 6,4% 43.641 31.032 140.392 89.639 5,9% 7,0% 180.317 115.131 7,6% 9,0% MINAS GERAIS 428.190 8,9% 549.960 247.676 5,1% 318.111 1.024.505 5,7% 1.315.856 7,4% 4.748.780 11,0% 2.915.749 6,5% 10.900.179 6,4% 14.000.000 8,3% NOROESTE BRASIL FONTE: Dados trabalhados a partir de informações sobre percentuais de domicílios com computador, acesso a Internet e número de internautas divulgados na imprensa pelo IBOPE; domicílios com computador em Minas Gerais e Brasil, IBGE: Tabulações Avançadas do Censo de 2000 GRÁFICO 16 INTERNET - PERCENTUAL DE INTERNAUTAS Capítulo 3 - Telecomunicações BDMG 40 anos 223 224 BDMG 40 anos Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento TABELA 15 TV POR ASSINATURA - DOMICÍLIOS EM MUNICÍPIOS ATENDIDOS POR TV A CABO OU MMDS, EM OPERAÇÃO OU EM IMPLANTAÇÃO E NÚMERO DE USUÁRIOS - MINAS GERAIS - REGIÕES DE PLANEJAMENTO DEZEMBRO DE 2001 REGIÃO DE PLANEJAMENTO ALTO PARANAÍBA DOMICÍLIOS TOTAIS DOMICÍLIOS EM MUNICÍPIOS ATENDIDOS TOTAL Em implantação Em operação Com concorrência USUÁRIOS 169.906 77.962 46% 42.232 25% 35.730 21% 0 0% 0 0,0% CENTRAL 1.696.648 1.271.148 75% 317.630 19% 953.518 56% 636.515 38% 119.784 7,1% RM Belo Horizonte 1.189.609 1.097.535 92% 252.092 21% 845.438 71% 636.515 54% 117.694 9,9% Restante CENTRAL 507.039 173.613 34% 65.538 13% 108.080 21% 0 0% 2.090 0,4% CENTRO-OESTE DE MINAS 280.068 90.992 32% 18.522 7% 72.470 26% 0 0% 1.390 0,5% JEQUITINHONHA/MUCURI 237.363 33.813 14% 33.813 14% 0 0% 0 0% 0 0,0% MATA 565.415 240.994 43% 106.229 19% 134.765 24% 134.765 24% 2.753 0,5% NOROESTE NORTE DE MINAS 89.404 349.452 19.357 76.603 22% 22% 19.357 0 22% 0% 0 76.603 0% 22% 0 0 0% 0% 0 780 0,0% 0,2% RIO DOCE 405.160 208.139 51% 9.672 2% 198.467 49% 123.548 30% 2.824 0,7% SUL DE MINAS 667.175 226.743 34% 156.725 23% 70.018 10% 0 0% 637 0,1% TRIÂNGULO 376.705 276.031 73% 0 0% 276.031 73% 145.517 39% 27.121 7,2% Total Global 4.837.296 2.521.782 52% 704.180 15% 1.817.602 38% 1.040.345 22% 155.289 3,2% DTH 4.837.296 70.320 1,5% MINAS GERAIS Brasil 4.837.296 225.609 4,7% 44.721.434 3.558.666 8,0% FONTE: Dados trabalhados a partir de IBGE - Censo Demográfico de 2000 e Relatório PTS Dezembro 2001 GRÁFICO 17 CATV - PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM TV POR ASSINATURA EXCETO DTH Capítulo 3 - Telecomunicações BDMG 40 anos 225 BDMG 40 anos MAPA 4 MAPA 5 226 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos MAPA 6 MAPA 7 Capítulo 3 - Telecomunicações 227 BDMG 40 anos 5. Conclusões e perspectivas 5.1. Perspectivas do setor como um todo para o Brasil nos próximos anos É inegável o grande avanço conquistado, nos últimos anos, pelo setor de telecomunicações no Brasil. De 19 milhões de terminais fixos instalados em 1997, hoje temos 49 milhões disponíveis. Se, em 1995, 23% dos lares brasileiros tinham acesso a telefones, hoje esse número foi dobrado estando acima dos 50%. A qualidade dos serviços melhorou e o custo de aquisição de uma linha telefônica despencou, deixando de ser caracterizado como um ativo. A telefonia celular se desenvolveu enormemente no país e, hoje, contamos com 29 milhões de usuários. Se a concorrência não deslanchou, na telefonia local, ela é uma realidade nas chamadas de longa distância nacional e internacional e na telefonia celular; 14 milhões de pessoas acessam a internet no Brasil e quase cinco milhões de lares brasileiros possuem computador e, portanto podem acessar a internet. À exceção de parte da região amazônica, podemos dizer que o país é todo coberto por redes de fibras ópticas e as grandes e médias cidades, quase todas elas, possuem redes de acesso de alta capacidade que permitem transmissão de voz, dados e imagens em alta velocidade facilitando e aumentando a produtividade de nossos negócios. Apesar dos avanços, muito ainda está por se fazer. O novo modelo de telecomunicações, moldado na Lei Geral de Telecomunicações está assentado em dois pilares: universalização e competição. No quesito universalização dos serviços de telefonia fixa, existem ainda 22 milhões de residências sem telefone, embora haja mais de 10 milhões de acessos instalados e fora de serviço. A Internet ainda é pouco popular nas camadas menos favorecidas, acentuando-se a divisão dos mais ricos para os mais pobres, fenômeno conhecido como digital divide. O aumento desses números depende essencialmente do aumento do poder de compra ou queda dos preços das tarifas de acesso aos serviços (telefonia básica e internet). Aí entra o segundo quesito: a competição no serviço de acesso fixo não foi bem sucedida, com amplo domínio das teles imcumbentes que, sem competição, cobram os preços permitidos pela ANATEL, carregando a inflação passada, algo que não tem acontecido com os salários. O maior prejudicado, entretanto, é o acesso à internet, tanto residencial quanto das pequenas e médias empresas (PMEs). O momento atual não é favorável. Passada a euforia da segunda metade dos anos 90, o setor de telecomunicações passa em todo mundo por um momento de crise e desconfiança como ocorre em todos os setores da economia. Principalmente na área de tecnologia da informação e telecomunicações, o mercado extrapolou para o futuro o ritmo aceleradíssimo de alguns segmentos (30% a.a.) bem como generalizou esta expectativa para o conjunto das empresas, fazendo vista grossa para o fato de que apenas algumas firmas líderes poderiam, eventualmente, sustentar tal desempenho (Luciano Coutinho, 2000). A falta de confiança que partiu desta constatação ampliouse, mormente nos Estados Unidos, após o atentado de 11 de setembro e das diversas bancarrotas de empresas americanas que eram ícones da robustez da economia americana como Enron e Worldcom, entre outras, e refletiu imediatamente nas economias dos países emergentes como é o caso do Brasil. Esses países que estão dependentes como nunca do capital estrangeiro, têm a sua situação agravada pelos problemas internos de suas próprias economias e de exemplos que minam ainda mais a confiança do investidor como a crise de nosso vizinho, Argentina. A capacidade de investimento e, conseqüentemente, o crescimento destes países tornam-se reduzidos. Nesses momentos o mais importante é não deixar todo o investimento e conquistas ocorridas nos bons tempos serem sucateados e voltarmos a níveis inferiores aos que já havíamos conquistado. O 228 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos capital ainda disponível internacionalmente, e, mesmo aquele gerado internamente, deve ser eficientemente utilizado na manutenção do sistema existente, na ampliação eficaz dos serviços e, principalmente, no investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia tropicalizada para obtermos soluções baratas para a continuidade da ampliação dos serviços. Momentos bons virão, pois o capitalismo internacional bem como o Brasil encontrarão seu rumo. Quando isto ocorrer, não poderemos despender grandes esforços e capital para recuperar o que já havia sido feito em outros tempos. 5.2. Diagnóstico da posição relativa de Minas Gerais em relação ao Brasil à luz dos resultados encontrados Minas Gerais manteve sua posição relativa dentro do Brasil, nos últimos anos, em relação ao desenvolvimento ocorrido nas telecomunicações. Contando com aproximadamente 10% da população brasileira, Minas, exceto raras exceções, mantém-se em diversos setores como sendo 10% da economia brasileira. Isso ocorre também nas telecomunicações uma vez que o número de terminais fixos, telefones celulares e lares que possuem computadores contam com aproximadamente 9% do volume total brasileiro. A única exceção é TV por assinatura. Nesse caso, temos apenas 6% do total do Brasil. Antes da privatização, a TELEMIG tinha um dos melhores quadros de profissionais do Brasil e, relativamente ao resto do Brasil, o Estado de Minas tinha um dos melhores sistemas de telefonia fixa não havendo significativos gargalos na oferta de acessos como ocorria em outros Estados como Rio de Janeiro e São Paulo (obviamente, a demanda não era grande pelo alto custo de aquisição da linha que era tida como um ativo). Além disso, o novo modelo descola as empresas das unidades da federação. A TELEMAR atende 16 estados brasileiros e os interesses locais de Minas Gerais podem não ser mais o da Empresa que vê a sua região como um todo. Essas transformações, se por um lado, impulsionaram os serviços de telecomunicações nos últimos anos, trouxeram às sociedades locais, na figura principalmente dos governos estaduais, desafios para garantirem os seus interesses na área de telecomunicação. Nos tempos difíceis em que vivemos e que estão por vir, o Governo de Minas como já fez no passado, com grande sucesso, com a criação da CEMIG e, posteriormente, a criação do INDI e BDMG, deve adotar uma política agressiva de obter ganhos relativos em relação à média do país, através de uma política eficiente de captação de recursos e tecnologia para o Estado. Se naquele momento o objetivo era obter ganhos relativos no processo de substituição das importações com a criação de uma forte indústria de base, hoje, Minas deve necessariamente se inserir na sociedade da informação, criar condições para que empresas de ponta se instalem e gerem riqueza aqui, que o Estado seja um centro de desenvolvimento tecnológico, e que mantenha a vantagem competitiva das Empresas instaladas em MG, propiciando condições para sua inclusão nos vários market places que estão sendo criados nos vários segmentos econômicos. A seguir, descrevemos, sucintamente, os órgãos e empresas estaduais que têm algum vínculo com a Economia da Informação e, posteriormente, listamos algumas ações do governo estadual que podem contribuir para o desenvolvimento de Minas Gerais nesta área. 5.3. Empresas e órgãos estaduais vinculados à Economia da Informação No nosso ponto de vista, a estrutura atual do Governo Estadual que tem algum vínculo com a Economia da Informação e, portanto, deve ser considerada em qualquer política que se venha a fazer no futuro, é: Capítulo 3 - Telecomunicações 229 BDMG 40 anos O DETEL Departamento Estadual de Telecomunicações do Estado de Minas Gerais vinculado à Secretaria de Comunicação Social, tem por objetivo formular, executar e fiscalizar a política estadual de telecomunicações. Como competências legais destacam-se: integrar as funções, serviços e atividades concernentes às telecomunicações do Estado; planejar, complementar, executar ou implantar planos estaduais de telecomunicações; proporcionar a integração das diferentes regiões do Estado através de redes de radiodifusão de sons e imagens; planejar e executar projeto de sistema de comunicações oficiais do Estado; elaborar e executar plano, programa e projeto referentes à repetição e a retransmissão de sinais de televisão, comunicação de dados, telefonia rural e radiodifusão sonora, bem como os referentes às comunicações oficiais e centrais de comunicações privativas do Estado; promover processo de licitação para aquisição, arrendamento mercantil, locação e alienação de equipamento e material utilizado em telecomunicação, destinado a órgão público da administração direta; prestar serviços de assessoria em engenharia de telecomunicações aos órgãos e entidades da Administração Pública em todas as fases de execução de programa de telecomunicações; auxiliar e assessorar os órgãos e entidades municipais em assuntos de telecomunicações quando solicitado; participar da execução de atividade ligada às telecomunicações do Estado, quando compatível com suas finalidades; gerenciar, por meio de convênio, sistemas de telecomunicações dos órgãos da administração pública estadual. A PRODEMGE Companhia de Processamento de Dados do Estado de Minas Gerais, subordinado diretamente a Governadoria do Estado, atua, desde sua origem, em 1967, na informatização dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Seus objetivos operacionais são: executar, em caráter privativo, por processos mecânicos, eletromecânicos ou eletrônicos, serviços de processamento de dados e tratamento de informações para os órgãos da Administração Direta e Indireta; executar, mediante convênios ou contratos, serviços de processamento de dados para órgãos ou entidades da União e dos Municípios; prestar assistência técnica aos órgãos da Administração Pública em geral. A EMPRESA DE INFOVIAS foi fundada em 1999 e, recentemente, a CEMIG comprou a parte da AES no negócio tornando-se a controladora da Empresa. A Infovias obteve licença de Serviços Limitados Especializados, nas modalidades de circuitos e redes especializadas. O objetivo da Empresa é aproveitar a imensa capilaridade das redes de transmissão e distribuição da CEMIG e lançar redes de fibra óptica em redes de acesso, nas cidades e, redes de longa distância, entre as 230 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos cidades, atuando como uma carrier of carrier no mercado de telecomunicações de Minas Gerais. Como carrier of carrier, a Empresa não pretende competir no mercado final de telecomunicações, seja no mercado corporativo, seja no mercado residencial. O objetivo inicial é vender acessos para as empresas que atendem os usuários finais, principalmente aquelas entrantes que não possuem rede própria e precisam concorrer com as incumbentes para alcançar com rapidez o cliente final. Ou seja, fornecer infra-estrutura que permita o aumento da competição no acesso ao usuário. 5.4. Sugestão de ações A Empresa de Infovias da Cemig pode ser um elemento indutor do desenvolvimento econômico-social para o Estado? Como toda empresa integrada de energia elétrica (geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia), a CEMIG é uma grande consumidora de ser viços de telecomunicações. A INFOVIAS como o braço de telecomunicações da CEMIG deve atender a esta demanda. Além de funcionar como um contrato âncora garantindo uma receita mínima para a INFOVIAS, as redes construídas para atender a CEMIG não são exclusivas e permitem a I NFOVIAS atender a um mercado consumidor que se situa próximo ou no caminho deste atendimento. A CEMIG tem grande capilaridade e está presente em quase todo Estado de Minas Gerais. Isto é, a INFOVIAS ao construir soluções para a CEMIG estará construindo redes nos locais onde está o mercado de telecomunicações e, portanto pode capitalizar seu negócio com vendas para esses clientes ao mesmo tempo em que pode ser um agente de desenvolvimento do Estado, pois apresenta uma capilaridade que outras empresas, à luz somente das necessidades do mercado, não apresentariam. Colocam-se como desafios para o futuro da Empresa, além da manutenção e ampliação de sua posição de provedor de circuitos de acessos e de longa distância no mercado de Minas Gerais: aproveitar o momento pelo qual o setor de telecomunicações brasileiro passa, onde as diversas operadoras ficarão livre para atuar em todos os mercados. Esse processo tem sido atrasado por diversas demandas judiciais entre as entrantes e as empresas locais que dificultam ao máximo o acesso local para evitar a concorrência. Esse é exatamente o nicho onde a INFOVIAS pode atuar uma vez que suas redes podem ser disponibilizadas para esses entrantes acelerando o processo de concorrência em Minas Gerais; a atuação conjunta de Empresas de energia elétrica (CEMIG), gás (GASMIG), telecomunicações(INFOVIAS) e soluções energéticas (EFICIENTIA), todas pertencentes a holding CEMIG, cria sinergias que fortalecem de forma extraordinária cada um dos negócios bem como pode ser um elemento de diferenciação para atração de empreendimentos em Minas Gerais; a INFOVIAS deve garantir o seu crescimento sustentado como negócio. Não deve porém esquecer seu papel de agente catalisador do desenvolvimento. Na sociedade da informação na qual nos encontramos o acesso a esta informação é básico para o desenvolvimento da sociedade. A INFOVIAS é essencialmente uma empresa de alta tecnologia para o transporte dessa informação. Uma política consistente de incentivo a atendimentos, principalmente na área de educação e saúde, direcionada para o desenvolvimento sustentado do Estado pode fazer a diferença para o futuro de Minas Gerais. Capítulo 3 - Telecomunicações 231 BDMG 40 anos A criação de uma agência regulatória forte pode gerar diferenciais? Ao propor a privatização das telecomunicações no Brasil, o Governo definiu duas premissas para evitar que o desenvolvimento do setor fosse apenas orientado pela ação do mercado. As premissas estão inseridas na Lei Geral de Telecomunicações (LGT). Em primeiro lugar, foram definidas metas de universalização postas em contrato pelo próprio governo e, para incentivar a antecipação dessas metas, o governo ofereceu um prêmio: a possibilidade de competir em outros mercados. O cumprimento dessas metas, tanto de universalização como de qualidade dos serviços, é supervisionado pela ANATEL. A criação de uma agência estadual regulatória forte, no sentido da capacidade técnica e de fazer cumprir as metas, pode ajudar a agência nacional a supervisionar o cumprimento dessas metas em Minas Gerais. Nos Estados Unidos, a legislação de telecomunicações tem instância nacional (FCC), estadual e municipal, exigindo das concessionárias negociações nos três níveis e tendo supervisão nos mesmos níveis. Segundo Almeida, (2001) a divisão de responsabilidade sempre foi percebida como um processo ineficiente, pois os objetivos bem como o poder dos incentivos da regulação federal e estadual nem sempre estiveram alinhados. O Rio Grande do Sul, no processo de privatização de sua infra-estrutura, criou uma Agência específica para supervisionar os serviços públicos de concessionárias privatizadas. Esta Agência (AGERGS) está bastante atuante na supervisão das rodovias e empresas de energia elétrica, atuando como órgãos auxiliares às agências nacionais (ANEEL). É pouco atuante na área de telecomunicações por falta de acordo com a ANATEL. Aprendendo com a experiência dos outros, acreditamos que os objetivos gerais da regulação devem ser determinados pela ANATEL. A agência estadual trabalharia de forma complementar para que Minas tenha uma qualidade dos serviços e um nível de universalização dos serviços acima da média nacional, simplesmente sendo mais eficiente no processo de supervisão. Além disso, as condições específicas de Minas Gerais, levadas a cabo por políticas públicas mais abrangentes, nas quais as telecomunicações fazem parte, podem ser preservadas desde que não contraponham aos objetivos gerais da ANATEL. Finalmente, no campo político, esta agência poderia atuar no passo anterior ao cumprimento das leis, isto é, contribuindo na fase de sua elaboração, sejam nas comissões, nas discussões parlamentares ou nas consultas públicas. Podemos trazer mais recursos para Minas Gerais sendo mais eficientes na captação de Fundos Setoriais? Como segunda providência, foi criado o Fundo de Universalização das Telecomunicações (FUST) para investimentos que não poderiam ser recuperados com a exploração eficiente do serviço. Após muita discussão, três anos e meio depois de aprovada a Lei Geral (LGT), as empresas de telecomunicações começaram o recolhimento do FUST no inicio de 2001. Originariamente, os recursos do FUST deveriam ser aplicados em programas pré-estabelecidos tais como: Programa de educação - O primeiro projeto é o de educação, que já tem inclusive edital em consulta pública para os dois primeiros projetos: universalização dos serviços de telecomunicações em escolas públicas de ensino médio e universalização dos serviços de telecomunicações em escolas públicas de ensino profissionalizante. Os dois projetos tem um custo aproximado de R$ 1 bilhão. O projeto prevê a instalação de 290 mil computadores em 13,5 mil escolas de ensino médio e profissionalizante. Ao mesmo tempo, 232 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos precisarão ser ativadas conexões dedicadas com velocidades de 64 kbps ou 128 kbps, em todas as regiões do Brasil em que houver alguma escola atendida pelo projeto. Saúde - O programa para a área da saúde deverá abranger as instituições vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o País. A meta é a implantação de acessos individuais e de serviços de redes digitais de informação ao público em condições favorecidas a instituições de saúde, com o objetivo de contribuir para a implementação de um sistema que assegure a integralidade das ações e o acesso da população aos serviços de saúde. O objetivo é integrar, por meio eletrônico, todas as Entidades Assistenciais em Saúde (EAS), ou seja, hospitais, postos de saúde, centros facilitadores de atendimento em saúde e centrais de atendimento indígena. Estão previstos dentro deste programa os projetos saúde da família, central de informação e regulação em saúde, central de transplante de órgãos e cartão nacional de saúde. Defesa - O programa de defesa prevê a implantação de serviços de telecomunicações em postos de fronteira e unidades da União, localizadas em áreas remotas do território nacional. O programa beneficiará organizações militares que prestam assistência à populações carentes e à comunidade científica responsável pelo desenvolvimento de pesquisas em regiões remotas. Conforme o ministério, o programa foi subdividido em quatro projetos, sendo que um deles dará suporte aos profissionais que prestam atendimento médico-odontológico às populações ribeirinhas isoladas. Outros projetos serão baseados na ligação entre a base brasileira na Antártica e o território nacional. Telefonia para Baixa Renda - O objetivo do projeto é atender às localidades com menos de 100 habitantes, propriedades rurais isoladas, famílias de baixa renda e pessoas carentes portadoras de deficiência, disponibilizando terminais de uso coletivo e individual de forma a complementar as metas de universalização das operadoras de telefonia fixa. É importante lembrar a deficiente cobertura de telefonia fixa na área rural de Minas Gerais. Como visto no item 3, em 2000, apenas 2,8% dos domicílios rurais tinham telefones fixos instalados. Um programa de telefonia rural, como o já desenvolvido com sucesso para energia elétrica (CEMIG RURAL), poderia ser usado para captação de recursos não só do FUST como de outros organismos de financiamento nacional e internacional. Programa de segurança pública - O objetivo é a construção de uma rede on line que permita a comunicação entre todos os órgãos de segurança. Os fatos recentes mostram uma outra realidade. Em janeiro de 2002, o governo subtraiu R$ 300 milhões do FUST para o ajuste fiscal. Em meados de Julho de 2002, chegou ao congresso o projeto do governo redistribuindo os recursos do FUST. Dos R$ 480 milhões originalmente destinados à Educação, sobraram apenas R$ 67 milhões. Os R$ 227,7 milhões da saúde foram reduzidos a R$ 60,7 milhões, ficaram ainda R$ 7 milhões para os militares aplicarem nos postos de fronteira e R$ 14 milhões para segurança pública. As únicas beneficiadas com a redistribuição serão as empresas incumbentes. O projeto de subsídio às tarifas, que receberia R$ 100 milhões, receberá nada mais que 75% do total do fundo, R$ 370,1 milhões. Percebe-se que o papel do Estado de Minas é árduo. Deve-se, inicialmente, participar da política nacional para que esse fundo seja efetivamente aplicado nos projetos originalmente desenhados para ele e, uma vez garantida sua devida aplicação, ter uma equipe criando projetos de real valor, dentro das áreas supracitadas, de tal forma que haja um diferencial com maior aplicação proporcional destes recursos em Minas Gerais. Capítulo 3 - Telecomunicações 233 BDMG 40 anos Um programa de pesquisa avançada em nossas universidades (com o apoio da FAPEMIG) pode criar um ambiente de conhecimento que, por exemplo, atraia empresas de ponta para o Estado que, por sua vez, necessitam de mais pesquisa realimentando o processo? A outra preocupação com o desmonte da Telebrás era de que a capacidade brasileira de pesquisa em telecomunicações fosse reduzida. Para que isto não acontecesse, foi criado um outro fundo, Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel). O Funttel tem como objetivo estimular a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, incentivar a capacitação dos recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de pequenas e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competição na indústria de telecomunicações. O Funttel conta, basicamente, com parcela dos recursos do fundo de pensão dos funcionários da Telebrás (Fistel) 0,5% sobre a receita bruta das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações nos regimes público e privado. Qualquer empresa, universidade ou centro de pesquisa poderá ter acesso a esses recursos para o desenvolvimento de projetos, os interessados deverão procurar os órgãos gestores e submeter seus projetos ao conselho gestor. O Fundo é administrado por um conselho gestor, formado por representantes de diversos órgãos do poder Executivo, como agentes financeiros, BNDES e Finep. Os recursos do fundo são aplicados exclusivamente no interesse do setor de telecomunicações. Desde 1º de agosto de 2001, 20% dos recursos do fundo são alocados diretamente à Fundação CPqD. O papel da FAPEMIG aqui é fundamental. A FAPEMIG deve criar um fundo semelhante no Estado que complementasse projetos que fossem financiados pelo Funttel. Assim, seriam deslocadas para Minas diversas pesquisas por encontrarem aqui mais aporte para suas atividades. Outra prática interessante seria criar condições para que o CPqD tivesse uma filial em Minas Gerais, em uma cidade com perfil adequado. A partir deste centro seriam criados outros centros e empresas de alta tecnologia realimentando um ciclo virtuoso de progresso tecnológico. O BDMG como órgão financiador pode induzir investimentos em maior número e maior retorno econômico-social para o Estado? O desenvolvimento tecnológico está assentado em dois pilares: recursos humanos adequados somados com capital de risco com baixo custo. Nos últimos anos, a partir do CPqD da Telebrás criou-se pólos de desenvolvimento tecnológico em diversos Estados brasileiros, incluindo Minas Gerais. Esses pólos permitiram a criação de empresas, que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do país no setor. Nos últimos tempos, entretanto, a grande maioria foi absorvida por Empresas maiores, como foi o caso da Batik em Contagem, comprada pela Lucent, ou desapareceram. Entre as razões, destacamos duas: a concentração dos compradores, as grandes operadoras de Telecom e seus acordos mundiais com os fabricantes e, a falta de capital de risco para criarem novos produtos e buscarem novos mercados. O apoio de um Banco de Desenvolvimento, que possa suportar um projeto de desenvolvimento para o Estado conjugado com uma agência como a FAPEMIG, pode ser vital para o aparecimento de novas Empresas focadas em produtos de ponta e escala. O BDMG já tem o FUNDESE/Base Tecnológica, bem como o BNDES tem outros programas para o desenvolvimento tecnológico, é, portanto, uma questão de eficiência a busca de racionalização do uso destes recursos. 234 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 6. Anexos ANEXO I LEGISLAÇÃO BÁSICA Plano Geral de Outorgas PGO: Em vigor desde abril de 1998, dividiu o Brasil em quatro regiões (Ver Mapa 1) para a exploração do Serviço Telefônico Fixo Comutado, fixou o número de operadoras deste serviço para cada uma delas e estabeleceu os prazos de vigência de contratos e de admissão de novas prestadoras de serviços de telecomunicações, com vistas à competição. Plano Geral de Metas de Universalização PGMU: Aprovado pelo Decreto n° 2.592, de maio de 1998, definiu as obrigações das empresas concessionárias do serviço telefônico fixo comutado, no tocante às exigências para universalização dos serviços. Em síntese, é a aplicação do princípio constitucional de isonomia que, visando atender às necessidades e direitos do usuário de telefonia, pode ser assim compreendida: a obrigação de cada concessionária de telefonia fixa oferecer, em sua área de operação, acesso a qualquer pessoa aos seus serviços, com qualidade, quantidade e diversidade adequadas e preços justos, independente de sua localização geográfica ou de condição econômica, na zona rural ou em pequenas localidades e áreas de urbanização precária. Plano Geral de Metas de Qualidade PGMQ: Estabelece as metas de qualidade a serem cumpridas pelas prestadoras de serviço de telefonia fixa, em regime público ou privado, tendo sempre como referência primeira as necessidades e interesses do usuário. Esse conjunto de metas, tal como ocorre com o PGMU, é de cumprimento obrigatório pelas operadoras e não existia antes da privatização. Aprovado pelo Conselho Diretor da Anatel, por meio da Resolução nº 30, de 29 de junho de 1998, o Plano Geral de Metas de Qualidade completou o conjunto de regras básicas a serem seguidas pelas concessionárias e, a partir de 2000, no que couber, também pelas autorizadas empresas-espelho que operam no segmento da telefonia fixa. Contrato de Concessão para Prestação do Serviço Telefônico Fixo Comutado: Tratase do instrumento jurídico que estabelece prazo de duração das concessões, condições de prestação do STFC pelas concessionárias, direitos e obrigações destas, obrigações do Estado e prerrogativas da Anatel. Os Contratos de Concessão estabelecem, de outra parte, os direitos dos usuários, bem como as sanções aplicáveis às concessionárias em caso de descumprimento de seus compromissos; garantem a aplicação de normas e regulamentos assumidos pela concessionária, além do provimento de um serviço com qualidade. Constitui, ainda, instrumento à disposição da Agência e da sociedade para a cobrança de resultados. Protocolo de Compromisso: Instrumento criado para permitir o gerenciamento mensal do andamento da prestação dos serviços, entre julho de 1998 quando as estatais foram privatizadas e dezembro de 1999, visando o cumprimento das metas de universalização e de qualidade, entre outras consideradas significativas no âmbito da telefonia fixa. O Protocolo garante à Anatel meios de controle mais efetivos na busca e na manutenção de serviços de melhor qualidade, universalizados e em linha com as necessidades e os direitos do usuário. Capítulo 3 - Telecomunicações 235 BDMG 40 anos Além desses cinco instrumentos, cabe lembrar ainda outros que tratam dos serviços de uma forma geral. São eles: Regulamento dos Serviços de Telecomunicações: Regulamentação complementar à Lei nº 9.472, de 1997, que veio caracterizar os condicionamentos gerais a que estarão sujeitas as prestadoras e os usuários de serviços de telecomunicações, em função do regime de prestação (público ou privado) e da abrangência do interesse (restrito ou coletivo) a que os serviços atendem. Este instrumento está articulado com regulamentos específicos de cada serviço, planos estruturais e normas técnicas, compondo o arcabouço regulamentar que disciplina as atividades relativas à prestação e à fruição de serviços de telecomunicações no Brasil. Regulamento para Apuração de Controle e de Transferência de Controle em Empresas Prestadoras de Serviços de Telecomunicações: Disciplina a apuração e a transferência do controle acionário das empresas prestadoras dos serviços de telecomunicações, visando atender às exigências legais. Objetiva regular o processo de controle, prevenção e repressão das infrações da ordem econômica no setor de telecomunicações. Regulamento de Licitação para Concessão, Permissão e Autorização de Serviço de Telecomunicações e Autorização de Uso de Radiofreqüência: Instrumento que regula o processo público de seleção de prestador para obtenção de concessão, permissão ou autorização necessária à exploração dos serviços de telecomunicações. Regulamento Conjunto de Compartilhamento de Infra-Estrutura entre os Setores de Energia Elétrica, Telecomunicações e Petróleo: Garante o uso compartilhado de servidões administrativas, postes, condutos, dutos, torres, cabos metálicos e coaxiais e fibras ópticas não ativados, de forma não discriminatória e a preços e condições justos e razoáveis. 236 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos ANEXO II QUADRO GERAL DO STFC NO BRASIL Região I Região II Região III FONTE: Área de atuação e market share (Teletime – julho de 2001); Acionistas (site da Anatel www.anatel.gov.br). Capítulo 3 - Telecomunicações 237 BDMG 40 anos Região IV FONTE: Teletime , mar. 2002. O consórcio que adquiriu as licenças para operar nas regiões I (fevereiro de 99) e III (maio de 99), em abril de 2000, anunciou a unificação da gestão da Vésper S.A. (Região I) e da Vésper São Paulo (Região III). Em novembro de 2000, foi concluída uma nova reestruturação, com a Qualcomm passando a ser a maior acionista da Vésper. 238 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos ANEXO III QUADRO GERAL DO SMC E STFC NO BRASIL Capítulo 3 - Telecomunicações 239 BDMG 40 anos 240 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Capítulo 3 - Telecomunicações 241 BDMG 40 anos Subfaixa Banda D (13/02/01) FONTE: Anatel Subfaixa Banda E (13/03/01) FONTE: Atlas brasileiro de Telecomunicações 2002, participação no mercado (Fonte: Atlas brasileiro de Telecomunicações 2002), acionistas (Fonte: www.anatel.gov.br) e também informações gerais sobre os leilões de privatização (Fonte: www.anatel.gov.br). 242 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 7. Referências Bibliográficas AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Resolução n. 30, de 29 jun. 1998. Aprova o Plano Geral de Metas de Qualidade paras o Serviço Telefônico Fixo Comutado. Diário Oficial, Brasília, 30 de jun. 1998. AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Perspectivas para Ampliação e modernização do setor de telecomunicações PASTE. Brasília, 2000. 154 p. ALMEIDA, Bernardo Tavares. A regulação econômica no setor de telefonia fixa e o caso brasileiro. 2001. 151 f. Dissertação (Mestrado em Economia) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES POR ASSINATURA. TV por Assinatura: panorama da indústria 2000. São Paulo, 2001. 68 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES POR ASSINATURA. TV por Assinatura: mídia fatos 2000. São Paulo, 2001. 72 p. Atlas brasileiro de telecomunicações 2002. Revista TELETIME, São Paulo, nov. 2001. Edição Especial. 133 p. BRASIL. Decreto n. 2534, de 2 de abril de 1998. Aprova o Plano Geral de Outorgas de Serviço de Telecomunicações prestado no regime público. Diário Oficial, Brasília, 03 de abr. 1998. BRASIL. Decreto n. 2592, de 15 mai. 1998. Aprova o Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado. Diário Oficial, Brasília, 18 mai. 1998. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 617p. FIÚZA, Eduardo P. S., NÉRI, Marcelo C., Reflexões sobre os mecanismos de universalização do acesso disponíveis para o setor de telecomunicações no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, Textos para discussão n. 573, 1998. 62 p. Informe anual 2000 telecomunicações e tecnologias da informação. WOHLERS, Márcio, PLAZA, Crisanto (Org.) São Paulo: CELAET Centro Latino-Americano de Estudos da Economia das Telecomunicações, 2000. 289 p. (Série Telecomunicações, 1/2000) PIRES, José Cláudio L., PICCININI, Mauricio S. A Regulação de setores de infra-estrutura no Brasil, in: A Economia brasileira nos anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999, p. 217-60. Diversas notícias foram retiradas de Serviços Eletrônicos PAY-TV Real Time News www.paytv.com.br e TELETIME NEWS < www.teletime.com.br> e da RNT Revista Nacional de Telecomunicações, desde janeiro de 2000 até outubro de 2002. Capítulo 3 - Telecomunicações 243 BDMG 40 anos 244 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI VOLUME III INFRA-ESTRUTURA: SUSTENTANDO O DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO 4 SANEAMENTO Léo Heller (Prof. Doutor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental / UFMG) Nilo Oliveira Nascimento (Prof. Doutor do Departamento de Engenharia Hidraúlica e de Recursos Hidrícos / UFMG) José Eustáquio Machado de Paiva (Arquiteto, mestre em Tecnologia Prof. do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo / UFMG) Agradecemos a colaboração dos Professores João Francisco de Abreu; José Irineu Rangel Rigotti e aos Bolsistas Izabella Faria Carvalho e Danny Zahreddine. SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 249 PRESSUPOSTOS ............................................................................................................................................................ 251 2.1. Abrangência temática ................................................................................................................................................. 251 2.2. Abastecimento de água .............................................................................................................................................. 251 2.3. Esgotamento sanitário ............................................................................................................................................... 252 2.4. Limpeza pública .......................................................................................................................................................... 253 2.5. Drenagem urbana ........................................................................................................................................................ 253 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS ........................................................................................................................... 255 4. A SITUAÇÃO SEGUNDO OS LEVANTAMENTOS ESTATÍSTICOS DISPONÍVEIS ................. 257 4.1. Abastecimento de água .............................................................................................................................................. 257 4.2. Esgotamento sanitário ............................................................................................................................................... 262 4.3. Limpeza pública .......................................................................................................................................................... 267 5. DRENAGEM URBANA ............................................................................................................................................. 273 6. O SETOR E SUAS DIMENSÕES EXTRA-SETORIAIS ................................................................................ 277 6.1. Indicadores econômicos ............................................................................................................................................ 277 6.2. Saúde ............................................................................................................................................................................. 280 6.3. Gestão ........................................................................................................................................................................... 283 7. COMPROMISSO COM A UNIVERSALIZAÇÃO, A EQÜIDADE E A INTEGRALIDADE: AS METAS DO SETOR SAÚDE (RE)VISITADAS ......................................................................................... 286 8. FINANCIAMENTO: A NECESSIDADE DE REPOSICIONAMENTO DA QUESTÃO ............. 288 8.1. Os contornos do problema ....................................................................................................................................... 288 8.2. O subsídio cruzado: benefícios e questões ............................................................................................................. 288 8.3. Equilíbrio financeiro dos serviços ........................................................................................................................... 289 8.4. Privatização dos sistemas .......................................................................................................................................... 290 8.5. Taxas e tarifas .............................................................................................................................................................. 291 8.6. As fontes de financiamento ...................................................................................................................................... 292 9. O QUADRO LEGAL E INSTITUCIONAL: MARCHAS, CONTRA-MARCHAS E DESAFIOS .... 294 9.1. 9.2. 9.3. 9.4. 9.5. O sistema estadual de saneamento .......................................................................................................................... Desenvolvimento institucional ................................................................................................................................ Mecanismos integrativos ........................................................................................................................................... Desenvolvimento tecnológico .................................................................................................................................. Marco legal ................................................................................................................................................................... 294 295 295 296 297 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................... 298 1 1 . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 299 BDMG 40 anos 1. Introdução A avaliação das condições ou da situação de saneamento em um dado território ou população necessariamente depara-se com imprecisões conceituais e metodológicas de diversas ordens. Inicialmente, a despeito da existência de definições consagradas para o termo saneamento, como a da Organização Mundial da Saúde1 , cada qual com as correspondentes conseqüências para o objetivo pretendido, pode-se sugerir que o saneamento acompanha o homem desde que passou a se organizar de forma gregária. Obras, instalações e práticas visando ao afastamento das águas de chuva e residuárias, o tratamento domiciliar da água, a drenagem de pântanos e o abastecimento público de água acompanharam o desenvolvimento de várias civilizações desde a Antigüidade. No Brasil pós-descobrimento, diferentes ações de saneamento cumpriram um papel na formação inicial da sociedade nacional: tiveram realce na segunda metade do século XIX e na primeira década do século XX, mediante a conscientização acerca da interdependência sanitária; foram assumidas pelo Estado entre 1910 e 1950; passaram a se tornar independentes de outras políticas setoriais e a encontrar nos municípios um espaço institucional nas décadas de 1950 e 60 e ingressaram nos domínios do Plano Nacional de Saneamento - PLANASA a partir dos anos 1970. Do ponto de vista da ação governamental em nível federal, o saneamento encontra-se, hoje, envolto em um dramático contexto de carências, no qual coexistem as ausências de um marco legal e institucional, de orientações globais, de planejamento de longo ou médio prazos, de políticas integrativas interna e externamente ao setor - e de mecanismos estáveis de financiamento. Discussões descoordenadas e erráticas sobre uma possível privatização do setor têm criado sobressaltos e colaborado com mais instabilidade. A trajetória do saneamento em Minas Gerais não diferiu em essência daquela observada no País, tendo tido papel central no próprio planejamento da capital. É notável a relação entre o intenso processo de urbanização do Estado e a decorrente necessidade de provimento de serviços de saneamento, destacando-se, nesse aspecto, a quase heróica construção do grande sistema Rio da Velhas, na década de 1960, para o fornecimento de água à população de Belo Horizonte. A avaliação dessas trajetórias e da atual situação do setor, sobretudo visando mirar para o futuro, para que apreenda todas as dimensões do saneamento, necessitaria procurar enxergar suas múltiplas interfaces temáticas e institucionais: com os recursos hídricos, com o meio ambiente, com a saúde pública, com o desenvolvimento urbano e rural. Necessitaria ainda visualizar os diversos atores envolvidos: o Poder Executivo, com sua desejável função de planejamento, regulação e coordenação; o Poder Legislativo, com seu papel legislador e fiscalizador; e a Sociedade, mediando as ações políticas e contribuindo para a prevalência de um ambiente de justiça nas ações do Estado, seja exercendo o fundamental controle social, seja em legítimos movimentos reivindicatórios. Importante discussão que ainda perpassaria uma metodologia de avaliação dessa natureza é a de caráter tecnológico, em que avaliar eficiência, eficácia ou efetividade pressuporia identificar padrões tecnológicos possíveis e desejáveis, bem como conceituar a tecnologia apropriada às realidades em análise. 1 Controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem-estar físico, mental ou social. Capítulo 4 - Saneamento 249 BDMG 40 anos 250 Por fim, deve-se destacar que, classicamente e muitas vezes na indisponibilidade de instrumentos mais adequados, as avaliações recorrem a indicadores. Esses, ao mesmo tempo reunindo a virtude da síntese e a fragilidade do empobrecimento da informação, podem esconder realidades e ressaltar significados enviesados, exigindo, em seu uso, a adequada qualificação em sua interpretação. Assim ocorre com o mais tradicional dos indicadores de grande parte das ações de saneamento o de cobertura populacional pelos serviços aqui adotado e que, por valorizar a dimensão quantitativa, oculta a forma como se procede o atendimento. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 2. Pressupostos 2.1. Abrangência temática Para a definição das sub-áreas do saneamento a comporem o presente texto, uma possível metodologia poderia ser a de situar tal escolha no contexto da rica discussão conceitual sobre o significado do termo e de outros a partir dele adjetivados, como saneamento básico e saneamento ambiental. Evitando, contudo, aprofundar nesse campo, que muitas vezes resvala na defesa de áreas de competência institucional e até mesmo em vieses corporativos, optou-se por adotar como referência o diploma legal vigente no Estado2 , ressalvando a exclusão da sub-área controle de vetores, habitualmente inserida como uma atribuição da área, mas em termos práticos raramente por ela assumida. Assim, foram adotados como campos de análise as sub-áreas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e drenagem urbana. Procura-se, nesta seção, delimitar o significado dos termos e seu contorno conceitual. 2.2. Abastecimento de água Em relação ao abastecimento de água para consumo humano, a legislação vigente3 permite extrair que compreende o conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinados à produção e à distribuição de água potável para populações. Pode-se estender a definição, incluindo, além do consumo humano residencial, o consumo comercial, industrial e público. A mesma legislação estabelece uma distinção entre sistema de abastecimento de água, composto por solução em que se verifica a distribuição canalizada de água potável e a responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de concessão ou permissão, e as soluções alternativas, definidas como toda modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo, entre outras, poço comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações condominiais horizontal e vertical. Admite-se que um sistema de abastecimento de água necessita assegurar o atendimento de dois requisitos fundamentais: o fornecimento do produto em quantidade suficiente para as necessidades básicas de consumo e a higiene individual e doméstica e com qualidade compatível com a proteção da saúde da população. Para tanto, integram os sistemas de abastecimento de água: as unidades de captação, transporte e tratamento, em seu conjunto denominadas de produção de água, e reservação e redes de distribuição, classificados como distribuição de água. A origem dos sistemas de abastecimento são os mananciais, superficiais ou subterrâneos, e aí se localiza uma importante interface com a gestão dos recursos hídricos, além desses se constituírem em fatores determinantes para o atendimento dos requisitos de quantidade e qualidade a serem cumpridos pelos sistemas de abastecimento. O abastecimento de água guarda relação não apenas com a área de recursos hídricos. Sua relação com a saúde pública é claramente reconhecida, em vista da clássica associação entre a 2 3 Lei Estadual 11.720/94 dispõe sobre a política estadual de saneamento básico e dá outras providências. Portaria nº 1469/2000 do Ministério da Saúde Controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Capítulo 4 - Saneamento 251 BDMG 40 anos água de abastecimento e os riscos à saúde humana, tema que mantém sua atualidade e que modernamente não se restringe à realidade dos países em desenvolvimento, envolvendo os denominados riscos biológicos, químicos e radioativos. Além disso, importante interface manifesta-se com as ações de gestão ambiental, da qual o abastecimento de água depende quanto à adequada proteção da bacia hidrográfica e a gestão dos freqüentes conflitos de uso do seu território, com a resultante qualidade da água do manancial, ao mesmo tempo em que a ela deve uma satisfatória disposição dos resíduos de seus processos, como as descargas líquidas e sólidas geradas pelas estações de tratamento. Saliente-se a crescente importância de garantia da qualidade dos mananciais para assegurar riscos aceitáveis à saúde humana. Especialmente em realidades como a brasileira, caracteriza riscos inaceitáveis à saúde humana, confiar nos sistemas de abastecimento e em suas unidades de tratamento a tarefa definitiva de remover toda e qualquer substância deletéria à saúde humana presente nos mananciais. Sob o ponto de vista econômico, de controle e qualificação operacional e tecnológico, substituir o adequado manejo das bacias contribuintes aos mananciais pela eficiência das instalações de tratamento em remover contaminantes resultaria atitude pouco responsável com a saúde da população, além de prováveis deseconomias. 2.3. Esgotamento sanitário A opção tecnológica formalmente adotada no Brasil para o esgotamento sanitário é o denominado sistema separador absoluto, que consiste na existência de sistemas independentes para o escoamento e a disposição dos esgotos sanitários e das águas pluviais. Especificamente, vem predominando, no País, a opção pelo chamado sistema dinâmico, constituído pelas unidades de coleta, interceptação, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários. O sistema convencional de esgotamento sanitário é orientado pelo propósito de afastar os dejetos dos seus locais de geração e de tratá-los, reduzindo seu potencial poluidor, antes do lançamento no ambiente. Alternativamente, existem as denominadas soluções estáticas de disposição de esgotos, reguladas por normas da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. São constituídas por dispositivos de infiltração dos efluentes no subsolo por meio de soluções apropriadas, a mais conhecida delas sendo o conjunto fossa séptica sumidouro. Embora de uso relativamente restrito no Brasil, sendo cogitadas apenas para populações particulares, as soluções estáticas podem se revelar técnica e ambientalmente adequadas, tendo ampla aplicação em alguns países. Pelo seu próprio conceito, o esgotamento sanitário guarda estreita relação com as áreas de recursos hídricos, meio físico preferencial para recebimento dos efluentes; ambiental, especialmente quanto ao meio aquático e biótico; saúde, em vista do impacto potencial sobre a saúde representado pelos efluentes; e desenvolvimento urbano, pela relação entre a rede coletora e o sistema viário e entre os interceptores e os fundos de vale. Aspecto fundamental relacionado ao esgotamento sanitário refere-se ao seu impacto ambiental. Para a realidade brasileira, em particular a mineira, o lançamento dos esgotos nos cursos de água representa a maior fonte de poluição orgânica, seja pelo elevado volume de despejos, seja pela quase insignificante parcela dos efluentes submetidos a tratamentos adequados antes do lançamento. Saliente-se que, via de regra, as instalações de tratamento implantadas apresentam baixa eficiência na remoção de microrganismos patogênicos, pouco atenuando, portanto, o potencial impacto sobre a saúde das populações expostas às águas do corpo receptor, inclusive na forma de seu uso para fins de irrigação. 252 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento Diversas das definições e considerações apresentadas para o esgotamento sanitário podem ser trasladadas para a limpeza pública, que consiste na limpeza dos logradouros, a coleta, o tratamento e a disposição final dos resíduos sólidos. BDMG 40 anos 2.4. Limpeza pública O sistema convencional de limpeza pública também é orientado pelo propósito de afastar os resíduos dos seus locais de geração e de tratá-los, reduzindo seu potencial poluidor, antes do lançamento no ambiente, em geral a superfície do solo ou o subsolo. Enfoque alternativo é aquele que privilegia a redução, a reutilização e a reciclagem dos resíduos, tecnologicamente mais adequado na medida em que propicia o retorno da matéria ao seu ciclo natural, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais e sobre as áreas urbanas a serem destinadas a receberem os resíduos. Pode-se afirmar que são estratégias ainda muito incipientemente adotadas no País. Também a área de limpeza pública guarda relação com as áreas de recursos hídricos, meio físico freqüentemente afetado pela disposição inadequada dos resíduos; ambiental, quanto ao físico e biótico; saúde, pelo impacto potencial representado pelos resíduos; e desenvolvimento urbano, pela relação entre coletora e varrição e o sistema viário e entre disposição final e espaço urbano. 2.5. Drenagem urbana A drenagem urbana regulamentar e de controle de processos físicos relacionados com a presença e o escoamento de águas pluviais em contexto urbano, conjunto de atividades de caráter gerencial, tem por finalidade primeira a captação, o eventual armazenamento, a condução e o destino final de águas provenientes de chuvas. As soluções tradicionais de drenagem urbana preconizam a rápida remoção das águas pluviais do meio urbano, de forma a reduzir os riscos de inundação, de transmissão de doenças de veiculação hídrica, de proliferação de mosquitos e incômodos como maus odores e perturbações à circulação de pedestres e veículos. A técnica corrente para atingir tal objetivo emprega, tradicionalmente, a concentração dos escoamentos em sarjetas, sua captação por estruturas conhecidas por bocas de lobo e sua condução por redes subterrâneas de tubulações implantadas sob o espaço público (sistema viário), capazes de conduzir as águas pluviais, sempre que possível, por meio de escoamento gravitacional. Os cursos dágua naturais são utilizados como vias preferenciais de drenagem, para onde convergem as redes de drenagem pluvial, quando o sistema é separador absoluto. Nesse caso, interceptores destinados à drenagem do esgoto sanitário e sua condução a estações de tratamento de esgotos devem ser implantados nos fundos de vale. A esse tipo de tratamento são freqüentemente associados os sistemas viários, a combinação dos três sistemas viário, de esgotamento sanitário (interceptores) e de drenagem pluvial sendo conhecida por avenida sanitária. Como mencionado, em Minas Gerais, tanto quanto no Brasil, há carências significativas de coleta, interceptação e tratamento de esgotos sanitários. Em conseqüência, é elevada a poluição orgânica dos corpos dágua urbanos e dos que se situam a jusante das cidades. O sistema de drenagem pluvial é comumente classificado, segundo seu porte e finalidade, em sistemas de microdrenagem e de macrodrenagem. O sistema de microdrenagem drena pequenas vazões e volumes provenientes de pequenas áreas urbanizadas, ou seja, sub-bacias com superfície da ordem de 1 ha ou inferiores. Compõem o sistema de microdrenagem as vias, as sarjetas, as bocas de lobo, os tubos e conexões e os poços de visita. Recentemente, algumas soluções alternativas Capítulo 4 - Saneamento 253 BDMG 40 anos visando à redução dos impactos da urbanização sobre os processos hidrológicos têm sido adotadas, embora ainda pouco difundidas no Brasil, como os reservatórios domiciliares de águas pluviais, as trincheiras de infiltração, os valos de armazenamento, o armazenamento em coberturas, o armazenamento e a infiltração em áreas de estacionamento, entre outras, que integram, igualmente, o sistema de microdrenagem. O sistema de macrodrenagem é responsável pelas vazões mais significativas, provenientes de áreas de drenagem maiores, ou seja, sub-bacias com superfície da ordem de alguns hectares a alguns km2. Compõem os sistemas de macrodrenagem as galerias pluviais, os cursos dágua (córregos, ribeirões, riachos, etc.), canalizados ou não, os bueiros, as pontes, etc. Entre as técnicas alternativas de macrodrenagem encontram-se as bacias de detenção, outras áreas pré-dimensionadas para o armazenamento e, eventualmente, a infiltração de águas pluviais (grandes áreas de estacionamento, praças, terrenos de esporte, etc.), os parques lineares implantados em fundos de vale, as áreas úmidas naturais ou artificiais. A carência de sistemas de drenagem pluvial resulta em problemas consideráveis relacionados com o aumento do risco associado a processos naturais, como os riscos de inundação e de deslizamento de encostas, e de suas conseqüências físicas, econômicas, políticas e sociais. Aumentam, igualmente, os processos de degradação ambiental, como processos erosivos em encostas e cursos dágua, assoreamento e poluição de corpos dágua. Esses impactos podem acarretar graves conseqüências para a saúde coletiva (doenças de veiculação hídrica, contaminação por contato direto com águas poluídas, estresse e intranqüilidade associados a riscos, entre outros) e em transtornos, desconfortos e prejuízos à vida nas cidades. Por outro lado, a urbanização em si é fonte de vários impactos sobre processos naturais com conseqüências importantes para as condições de saneamento e para o meio ambiente, podendo ser agravadas tanto em função da carência de sistemas de drenagem como pela adoção de soluções inadequadas de drenagem. A urbanização, sobretudo em grande escala, interfere sobre a circulação atmosférica e sobre o balanço local de radiação, podendo resultar em aumentos na precipitação anual, na temperatura ambiente e na evapo-transpiração. A impermeabilização de áreas altera profundamente os processos de intercepção, infiltração e geração de escoamentos de águas pluviais, resultando em aumentos consideráveis nas vazões máximas e nos volumes de escoamento superficial e, em conseqüência, também em aumentos na freqüência e na gravidade das inundações. As águas pluviais são poluídas, podendo conter hidrocarbonetos, lubrificantes, graxas, metais pesados, matéria orgânica, pesticidas, resíduos sólidos. Essa poluição tem origem na atmosfera, em depósitos de resíduos, na circulação veicular, em depósitos da construção civil e em deficiências ou carências de serviços de limpeza urbana e esgotamento sanitário. Compreende-se, portanto, que a drenagem urbana encontra-se estreitamente relacionada com outros serviços de infra-estrutura urbana, com a regulamentação do uso do solo e com a gestão urbana, de forma geral, com impacto sobre o meio ambiente, os recursos hídricos em particular. 254 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 3. Aspectos metodológicos O trabalho adota os procedimentos da análise espacial4 , com o tratamento dos dados e geração de informações estatísticas e cartográficas considerando também a perspectiva teórica adotada para o saneamento. A abordagem desenvolve-se com base nos aspectos de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e coleta de lixo e drenagem urbana, para os anos de 1991 e 2000, em termos de cobertura, heterogeneidades intra e inter-regionais e evolução, em seguida focando, no ano de 2000, em termos das carências e da situação dos serviços em relação à renda, ao modelo de gestão e à saúde. Incorpora ainda análises gerais envolvendo os recursos hídricos, os mecanismos estaduais de financiamento e os aspectos regulatórios e institucionais, bem como indicativos gerais para uma política estadual de saneamento. Tendo em vista as finalidades deste trabalho e sua inserção no conjunto da obra, optou-se por abordar cada serviço separadamente, construindo-se, depois, um quadro descritivo geral do conjunto e da situação estadual. As variáveis foram trabalhadas na base desagregada Município, sendo que as análises foram desenvolvidas tendo como base a Região de Planejamento; para tanto, os mapas temáticos foram gerados na base mais desagregada, superpondo-se a ela os limites das diversas Regiões de Planejamento, de modo a que o objeto pôde ser visto tanto na sua composição interna quanto num todo, mantendo a visão conjunta do estado. Para as análises, os procedimentos de classificação forneceram o suporte para a caracterização pretendida, tendo em vista o ordenamento e a hierarquização do espaço através do agrupamento sistemático das unidades em classes5 . De modo geral, pretendeu-se usar um elenco de indicadores que possibilitaram trabalhar com os aspectos mais imediatos de cobertura e qualidade dos serviços, bem como a avaliação das carências, além das associações com a saúde e os recursos hídricos. Neste caso, os indicadores foram organizados em dois grupos, o primeiro, contribuindo para as análises das coberturas e das carências e o segundo, complementando as associações pretendidas. Assim, tanto o levantamento e a avaliação da situação das condições gerais do saneamento, nos dois momentos considerados, quanto suas relações com a saúde e os recursos hídricos, foram tratados com recursos integrativos, que possibilitaram a geração de mapas e a construção de quadros avaliativos necessários aos objetivos pretendidos, fundamentando, ao final, os indicativos estratégicos para uma política estadual de saneamento. Adotaram-se como fontes principais de dados os Censos/IBGE de 1991 e 2000, a PNSB/ 2000 (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico/IBGE) e o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos-2000 (IPEA, 2001). Para a cobertura dos serviços, adotou-se a caracterização por domicílio, tendo em vista a indisponibilidade do dado por habitante no Censo/IBGE/2000. Para abastecimento de água, em 1991, foi utilizado o somatório dos indicadores abastecimento de água em rede geral COM canalização interna e abastecimento de água SEM canalização interna e, para 2000, abastecimento de água em rede geral. Para esgotamento sanitário, utilizou-se instalação sanitária - rede geral tanto para 1991 quanto para 2000. Para limpeza urbana e coleta de lixo utilizou-se para 1991 e 2000 o indicador destino do lixo coletado diretamente. Os dados sobre drenagem urbana foram extraídos da PNSB/2000. Aqueles relativos à mortalidade 4 5 BERRY e MARBLE (1968). CERON (1997). Capítulo 4 - Saneamento 255 BDMG 40 anos infantil, em 1998, adotado como indicador de saúde, e o VAF - Valor Agregado Fiscal, em 2000, adotado como proxy para renda, foram obtidos em Simões (1999) e na Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais, respectivamente. Os dados foram formatados em planilha eletrônica, georeferenciados e compatibilizados, e armazenados em um SGBD (Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados), sendo que seu tratamento e integração, bem como a geração de mapas temáticos, empregaram os recursos da Cartografia Digital e dos GIS/Sistema de Informações Geográficas6 . A parte analítica teve como base as informações por Município, tendo sido também usada a descrição de distrito sempre que as informações foram oriundas da PNSB. As informações para as coberturas dos serviços foram tratadas considerando o total dos domicílios municipais, não se trabalhando com a classificação rural/urbano devido à indisponibilidade desses dados no Censo de 2000. Para a determinação das diferenças regionais utilizou-se um Índice de SobreCarência do Atendimento à População Total/ISC, representado pelo quociente entre a carência da região em análise e a carência da região com maior atendimento. As análises das carências regionais foram complementadas com cruzamentos das carências dos serviços e os indicadores de saúde (mortalidade infantil) e de renda (VAF/Valor Adicionado Fiscal per capita), nos quais, para cada Região de Planejamento e segundo cada tipo de carência, os municípios foram classificados conforme o indicador, utilizando-se a relação Cn=100 x ΣDna/SDt, na qual o numerador corresponde à carência nominal, ou seja, ao somatório dos domicílios dos municípios classificados não atendidos pelo serviço, e o denominador ao somatório do total dos domicílios de cada um desses municípios, sendo Cn o percentual de municípios da Região de Planejamento correspondente à uma determinada classe do indicador. 6 256 ABREU (1995). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 4. A situação segundo os levantamentos estatísticos disponíveis 4.1. Abastecimento de água Segundo o Censo Demográfico do IBGE, de 1991, 72,2% da população total e 93,2% da população urbana do Estado estavam conectados à rede geral de distribuição. Tal nível de cobertura não era homogeneamente distribuído entre os municípios (Mapa M1), podendo-se perceber uma tendência de clivagem do Estado segundo um eixo noroeste-sudeste, formando dois grupos de nível de atendimento, obviamente com a maior carência situada à nordeste deste. Na análise por domicílios, constata-se que 74,3% do total de domicílios do Estado estavam conectados à rede geral. MAPA M1 Quanto à distribuição por Região de Planejamento, ao se aplicar o Índice de Sobre-Carência/ ISC, obtém-se os seguintes resultados: TABELA 1 ABASTECIMENTO DE ÁGUA - 1991 ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Jequitinhonha/Mucuri Norte 3,57 3,21 Rio Doce 2,71 Noroeste 2,64 Mata 2,29 Sul 2,00 (Continua...) Capítulo 4 - Saneamento 257 BDMG 40 anos TABELA 1 (Continuação) ABASTECIMENTO DE ÁGUA - 1991 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Alto Paranaíba 1,86 Centro-Oeste 1,50 Triângulo 1,07 Central 1,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico. 1991. O índice revela que, efetivamente, em 1991, o Estado exibia uma importante heterogeneidade na distribuição das coberturas municipais por abastecimento de água, com o maior índice de sobre-carência, de 3,57, exibido pelo Jequitinhonha/Mucuri. Por outro lado, é importante enfatizar a limitação do indicador cobertura, uma vez que não revela a natureza qualitativa do atendimento (O atendimento é regular? Existe racionamento? Existem cortes de fornecimento por inadimplência? O volume fornecido é suficiente?) e, naturalmente, não descreve a qualidade da água fornecida e seus riscos à saúde da população e nem se é a água da rede geral a utilizada pela família para ingestão. No caso específico do presente texto, privilegiou-se o índice de cobertura em termos do total de domicílios, e não somente dos urbanos, já que reflete mais amplamente as carências de atendimento da população do estado; porém deve-se ter em conta de que nem sempre a solução por conexão à rede canalizada representa aquela mais apropriada para a população rural. No ano 2000, o Censo do IBGE(2000) revela a distribuição de cobertura por Município expressa no Mapa M2, com os índices de atendimento de 83% para o total de domicílios. MAPA M2 258 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Observa-se, além da grande defasagem dos municípios delimitada pelo eixo noroestesudeste, a presença de diversos outros municípios com baixa cobertura de atendimento, espalhados por outras partes do território estadual. De modo geral, observa-se que a maioria absoluta dos municípios mineiros apresenta cobertura do serviço inferior a 80% dos seus domicílios, sendo que apenas 25% deles estão classificados nas faixas superiores. Quando se considera a classe mais alta (90 a 100%) de atendimento, somente 64 municípios, cerca de 7,5% do total, aparecem. Considerando as Regiões de Planejamento, obteve-se um ISC 2000 máximo de 4,38, correspondendo à Região Jequitinhonha/Mucuri, bem como uma grande variação entre elas, conforme demonstrado na tabela a seguir. TABELA 2 ABASTECIMENTO DE ÁGUA - 2000 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Jequitinhonha/Mucuri 4,38 Rio Doce Norte Noroeste Mata Sul Alto Paranaíba Centro-Oeste Triângulo CENTRAL 3,63 3,38 3,00 2,88 2,63 2,25 1,75 1,25 1,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Com relação às carências, o Mapa M3, a seguir, ilustra melhor a situação estadual. MAPA M3 Capítulo 4 - Saneamento 259 BDMG 40 anos Por ele pode-se verificar que 294 municípios, correspondendo a cerca de 34% do total estadual, apresentam níveis de carência em abastecimentos de água superiores a 40%. Outro aspecto relevante diz respeito à distribuição espacial desses municípios, os quais, apesar de apresentarem-se em maior número na metade nordeste do estado, são também encontrados nas diversas outras regiões, nas quais, excetuando-se Triângulo, Alto Paranaíba, Centro-Oeste e Noroeste, tanto o número de municípios em tal situação quanto os níveis de carência são bastante elevados. Nessas situações, verifica-se a ocorrência de verdadeiros conglomerados de municípios com altos níveis de carência e cujos limites extrapolam aos das próprias Regiões de Planejamento. Segundo o Censo/IBGE, em 2000, 811.862 domicílios não se encontravam ligados à rede geral de abastecimento de água, representando cerca de 17% do total de domicílios do Estado. A distribuição percentual dessas carências pelas Regiões de Planejamento foi verificada conforme a TAB. 3. TABELA 3 DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR ABASTECIMENTO DE ÁGUA - 2000 REGIÃO DE PLANEJAMENTO % Central 17,0 Sul de Minas 16,9 Mata 15,5 Rio Doce 13,8 Norte de Minas 11,3 Jequitinhonha/Mucuri 10,0 Centro-Oeste 4,8 Triângulo 4,4 Alto Paranaíba 3,7 Noroeste de Minas TOTAL 2,6 100,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. A tabela ressalta duas classes para as Regiões de Planejamento: a primeira reunindo níveis de carências inferiores a 5% (Centro-Oeste de Minas, Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas) e a segunda com os níveis de carências variando entre 10 e 17% (Central, Mata, Sul de Minas, Norte de Minas, Jequitinhonha/Mucuri e Rio Doce). Contrariando as expectativas iniciais, as maiores carências foram verificadas na Região Central, Sul de Minas e Mata, nessa ordem, seguidas de Rio Doce, Norte de Minas e Jequitinhonha-Mucuri. Note-se que essa análise ressalta que, quanto mais populosa a região, maior a dívida social acumulada. Quando tomados segundo as classes de carências adotadas no Mapa M3, os domicílios não atendidos apresentam-se conforme a TAB. 4. 260 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR ABASTECIMENTO DE ÁGUA POR CLASSE DE CARÊNCIA - 2000 CLASSES DE CARÊNCIA BDMG 40 anos TABELA 4 DOMICÍLIOS (%) unidades (%) 90 - 100 1.301 0,03 80 - 90 4.969 0,10 60 - 80 74.791 1,57 40 - 60 222.137 4,65 0 - 40 TOTAIS 508.664 811.862 10,7 17,05 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Verifica-se que a grande maioria dos municípios contém carências inferiores a 60%, e, especialmente, aqueles que apresentam os níveis de carências mais baixos, entre 0 e 40%, encontram-se, conforme o Mapa M3, disseminados por todo o Estado. Em relação à natureza do atendimento, a PNSB/Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (2002) indica que 1.017 dos 1.522 distritos abastecidos do Estado (66,8%) utilizam-se de água de mananciais de superfície, alguns deles declaradamente poluídos por esgotos sanitários (14,4%), despejos industriais (5,9%), lixo (7,3%) ou agrotóxicos (15,6%). Dos 1.522 distritos atendidos, apenas 794 (52,2%), correspondendo a 78,1% do número de distritos que captam de manancial superficial, empregam o sistema completo de tratamento da água. Dos distritos abastecidos, 54,6% controlam a qualidade da água tratada, mas sobretudo quanto aos parâmetros bacteriológicos e físico-organolépticos, pois apenas 11,4% realizam análises de substâncias químicas. Deste total, 63,9% monitoram a qualidade da água distribuída, mas nem sempre com a freqüência exigida pela legislação que define a potabilidade da água. Sob o ponto de vista do modelo institucional, o PNSB informa que 987 distritos têm seus serviços prestados por entidades municipais e 611 por estadual (a COPASA-MG), embora se saiba que esta Companhia opera 522 (61,2%) municípios7 , representando um contingente muito elevado da população do Estado. A participação da COPASA-MG em Minas Gerais apresenta uma distribuição espacial relativamente uniforme dos municípios operados pela empresa, com ligeira predominância nas regiões Norte de Minas, Noroeste de Minas e Jequitinhonha/Mucuri. Não são evidenciadas tendências como uma eventual predominância de concessões em regiões mais ricas do Estado ou uma forte correlação entre a participação da empresa e o mapa de a distribuição de cobertura por Município (Mapa M2). 7 Programa de Modernização do Setor Saneamento. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento SNIS. Diagnóstico dos serviços de água e esgotos 2000. Brasília: SEDU/PR: IPEA, 2001. Capítulo 4 - Saneamento 261 BDMG 40 anos Informação complementar importante, obtida no SNIS, refere-se à tarifa média praticada pela COPASA-MG em 2000, equivalente a R$ 0,84/m3, que, associada ao consumo médio mensal de 14,6 m 3/mês.economia, conduzia a um dispêndio familiar médio mensal de R$ 12,26 ou R$ 24,52, quando há serviço de esgotos sanitários prestados e este é cobrado como 100% da tarifa de água. Este último valor correspondia a 13,6% do salário-mínimo da época e pode representar um constrangimento importante para as populações de mais baixa renda, embora a tarifa e o consumo para esse estrato populacional possam ser inferiores às médias adotadas na estimativa. De qualquer forma, o impacto da tarifa na decisão sobre aderir ou não à rede de água (e, talvez com maior importância, de esgotos), além de sua influência sobre inadimplência e cortes, não deve ser negligenciada. Saliente-se ainda que não há homogeneidade das tarifas médias entre os prestadores. Dos 15 prestadores municipais que declararam informações ao SNIS, as tarifas médias apresentaram um valor médio de R$ 0,44 (0,02-0,87), resultando em um dispêndio familiar médio mensal com valor médio de R$ 7,84 (4,68-11,45), considerando apenas a tarifa de água. Comparando-se os dois cenários 1991 e 2000 , observam-se: uma elevação global da cobertura no estado em cerca de nove pontos percentuais; o acirramento dos diferenciais inter-regionais das carências, conforme avaliado pelo ISC; a aparente manutenção dos diferenciais intra-regionais; a permanência da estrutura regional das carências. Outra importante discussão em relação aos serviços de abastecimento de água é a nítida tendência de refreamento do ritmo de expansão da cobertura populacional, observado nesta última década. Tal fenômeno pode estar revelando a dificuldade encontrada pelo país na conquista da universalização, já que, atendida a população que habita as regiões convencionalmente urbanizadas e com maior capacidade de pagamento pelos serviços, permanece um residual de excluídos pelo atendimento, que o padrão hegemônico, em termos tecnológicos e de gestão, impede de incluir entre os beneficiários dos serviços. 4.2. Esgotamento sanitário Em 1991, o Censo do IBGE indicava que 53,3% da população total e 70,1% da população urbana do Estado estavam conectados à rede coletora. Esses números elevam-se para 55,0 e 71,4%, respectivamente, quando se inclui o atendimento por fossas sépticas. Analisando o atendimento domiciliar, verifica-se que 55,8% do total de domicílios estavam conectados à rede. De forma semelhante ao abastecimento de água, esse nível de cobertura não era homogeneamente distribuído entre os municípios (Mapa M4), reproduzindo-se o mesmo eixo diferencial de clivagem. Importante relembrar que o presente texto privilegiou o índice de cobertura em termos do total de domicílios, e não apenas dos urbanos, por refletir mais amplamente as carências da população do estado, lembrando-se, porém, que nem sempre o sistema dinâmico é apropriado para a população rural. 262 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos MAPA M4 Quanto à distribuição por Região de Planejamento, tem-se um ISC91 máximo de 3,11 para a Região Norte de Minas, revelando que, também no esgotamento sanitário, o Estado exibia, em 1991, uma importante heterogeneidade na distribuição das coberturas municipais: TABELA 5 ESGOTAMENTO SANITÁRIO - 1991 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Norte 3,11 Jequitinhonha/Mucuri Noroeste Rio Doce Centro-Oeste Mata Alto Paranaíba Sul Central Triângulo 2,89 2,59 2,00 1,52 1,52 1,41 1,30 1,30 1,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 1991. Da mesma forma que para o abastecimento de água, o indicador cobertura contem uma informação parcial, pois não fornece indicações sobre o destino dos efluentes, aqui é importante discutir a ambigüidade do indicador, pois a mera existência de cobertura por rede não necessariamente proporciona uma efetiva melhoria nas condições de saúde e ambientais. A rede Capítulo 4 - Saneamento 263 BDMG 40 anos coletora em locais desprovidos de interceptores e tratamento de esgotos pode até provocar uma acentuação dos problemas de saúde humana, caso a solução anteriormente prevalente, invariavelmente de infiltração dos efluentes no subsolo por diferentes tipos de fossas, se mantivesse funcionando medianamente. Nesse caso, a rede termina por concentrar os esgotos nos corpos dágua do meio urbano, expondo as populações e aumentando a circulação ambiental de microrganismos patogênicos. A própria presença de interceptores e estações de tratamento, em vista da freqüentemente reduzida eficiência desses em remover microrganismos patogênicos, não constitui garantia de proteção à saúde humana e à qualidade da água dos corpos receptores. No ano 2000, o Censo do IBGE apresenta a distribuição de cobertura por município expressa no Mapa M5. Os índices de atendimento eram de 68,2% considerando-se o total de domicílios e o ISC2000 máximo era de 5,07, ainda para a Região de Planejamento Norte. TABELA 6 ESGOTAMENTO SANITÁRIO - 2000 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Norte 5,07 Jequitinhonha/Mucuri 4,07 Noroeste 3,73 Rio Doce 2,60 Mata 1,93 Centro-Oeste 1,67 Sul Central 1,67 1,67 Alto Paranaíba 1,47 Triângulo 1,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. MAPA M5 264 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Aqui também se pode observar que, além da heterogeneidade da cobertura, as defasagens do atendimento também são generalizadas. Apenas 10% dos municípios apresentam uma cobertura considerada satisfatória, acima de 80% de atendimento domiciliar, enquanto que a grande maioria encontra-se abaixo da faixa de 60% de cobertura. Tal situação pode ser mais bem vislumbrada no Mapa M6, que trata da distribuição das carências da cobertura de esgoto nos municípios em 2000. MAPA M6 O mapa ressalta inicialmente a grande quantidade de municípios com elevados níveis de carência de esgoto, distribuídos por todo o território estadual, mas principalmente concentrados na porção a nordeste do eixo de clivagem anteriormente verificado. Este eixo agora se encontra recuado mais para sudoeste, de modo que a área com os déficits maiores corresponde a um grande bloco cobrindo cerca de 2/3 do território estadual; ainda assim, quando comparado com o abastecimento de água, os déficits de esgoto apresentam-se relevantes até mesmo naquelas Regiões de Planejamento onde a cobertura de água encontra-se em melhor situação. A Região de Planejamento Norte apresenta uma situação bastante grave, diferenciando-se completamente das demais Regiões. Nela, os altos níveis de carência de cobertura de esgotos atingem a quase totalidade dos municípios 85 deles, correspondendo a cerca de 95% do total regional, encontrando-se as exceções em apenas 04 municípios, e ainda assim três deles apresentam níveis de carência entre 40 e 60%. Apenas um Município (Montes Claros) conta com um nível de carência menor que 20%. Tomando-se o Estado como um todo, foram relatados 1.515.945 domicílios não conectados à rede geral de esgotos, correspondendo a 31,8% do total estadual, distribuídos percentualmente pelas Regiões de Planejamento conforme demonstrado na TAB. 7. Capítulo 4 - Saneamento 265 BDMG 40 anos TABELA 7 DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR ESGOTAMENTO SANITÁRIO - 2000 REGIÃO DE PLANEJAMENTO % Central 27,8 Norte de Minas 17,2 Mata 10,7 Sul de Minas 10,7 Rio Doce Jequitinhonha/Mucuri 10,2 9,4 Centro-Oeste de Minas 4,6 Triângulo 3,7 Noroeste de Minas 3,2 Alto Paranaíba 2,4 TOTAL 100,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Na tabela pode-se observar a heterogeneidade da distribuição das carências pelas Regiões de Planejamento, destacando-se os altos percentuais das Regiões Central e Norte de Minas, como também aquelas que respondem por percentuais menores, como Alto Paranaíba, Noroeste de Minas e Triângulo. Tomados segundo as classes adotadas para as carências, conforme o Mapa M6, os domicílios não atendidos pelos serviços de esgotos distribuem-se do seguinte modo: TABELA 8 DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR ESGOTAMENTO SANITÁRIO POR CLASSE DE CARÊNCIA - 2000 CLASSES DE CARÊNCIA (%) DOMICÍLIOS unidades (%) 80 - 100 415.606 8,72 60 - 80 182.054 3,82 40 - 60 20 - 40 354.211 335.767 7,43 7,04 0 - 20 TOTAIS 228.307 4,79 1.515.945 31,80 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Pode-se verificar, pela tabela, proporções elevadas em praticamente todas as classes de carência, revelando a grande disparidade estadual. Cabe ressaltar que, no primeiro grupo, situamse 179 municípios, quase que exclusivamente concentrados nas regiões Norte de Minas (47% deles, correspondendo a 85 municípios), Central (22%, correspondendo a 39 municípios) e Jequitinhonha/Mucuri (12%, correspondendo a 22 municípios), as quais respondem juntas por cerca de 82% dos municípios carentes do Estado. Quanto à natureza do atendimento, a PNSB informa que 1.214 dos 1.568 distritos possuem rede coletora, mas que apenas 114 desses distritos têm estações de tratamento (7,3% do total). 266 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Do total de volume coletado de esgotos, apenas 5,2% recebem algum tipo de tratamento, resultando em cerca de 2.800.000 m3 de esgotos brutos diariamente encaminhados aos corpos de água do Estado. É também merecedora de registro a informação de que 1.066 dos 1.214 distritos com rede (87,8%) não possuem qualquer extensão de interceptor, potencialmente provocando a deterioração da qualidade das águas dos corpos receptores situados nas malhas urbanas. Sobre o modelo institucional, o PNSB registra que 1.116 distritos têm seus serviços prestados por entidades municipais e 90 pela COPASA-MG, mas neste último número incluem-se municípios de médio e grande porte, como Belo Horizonte. Comparando-se os dois cenários 1991 e 2000 , podem ser observados: uma elevação global da cobertura no estado (12 pontos percentuais para o total de domicílios); os altos níveis de carência em cobertura de esgotos, com relevo para as Regiões de Planejamento Norte de Minas e Central; a elevação dos diferenciais inter-regionais das carências, avaliado pelo ISC; a aparente manutenção dos diferenciais intra-regionais; a permanência da estrutura regional das carências. 4.3. Limpeza pública A cobertura por coleta de resíduos sólidos domiciliares, segundo o Censo de 1991 do IBGE, era de 53,0% do total de domicílios de Minas Gerais ou de 53,8% da população total e 71,0% da população urbana do Estado. Mesmo se constituindo de serviço de outra natureza, quanto ao modelo predominante de gestão, ao equacionamento financeiro e à própria característica física de prestação do serviço, reproduzse aqui o mesmo perfil de heterogeneidade regional observado para o abastecimento de água e o esgotamento sanitário, tanto em nível municipal (Mapa M7), quanto em regional (Mapa M8). MAPA M7 Capítulo 4 - Saneamento 267 BDMG 40 anos TABELA 9 LIMPEZA PÚBLICA - 1991 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Jequitinhonha/Mucuri 2,89 Norte 2,74 Noroeste 2,44 Rio Doce 2,37 Mata 1,89 Centro-Oeste 1,63 Alto Paranaíba 1,63 Central 1,44 Sul 1,33 Triângulo 1,00 FONTE: IBGE. Censo demográfico, 1991. Igualmente, é importante discutir as ressalvas do indicador, que não informa: a freqüência da coleta; a qualidade do serviço de varrição; o manejo dos resíduos especiais sobretudo os provenientes dos serviços de saúde e os industriais; a preocupação com a reciclagem e o reaproveitamento dos resíduos; o tratamento e a disposição final dos resíduos; o equilíbrio econômico do serviço; a suficiência qualitativa e quantitativa dos recursos humanos. No ano 2000, o Censo do IBGE informa a distribuição de cobertura por município expressa no Mapa M7. Os índices de atendimento eram de 78,4% para o total de domicílios e o ISC2000 máximo de 5,20 para a Região Jequitinhonha/Mucuri. 268 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos MAPA M8 TABELA 10 LIMPEZA PÚBLICA - 2000 - ÍNDICES DE SOBRE-CARÊNCIA REGIONAIS REGIÃO DE PLANEJAMENTO ISC Jequitinhonha/Mucuri 5,20 Norte Rio Doce Noroeste Mata Sul Alto Paranaíba Centro-Oeste Central Triângulo 4,60 3,40 3,00 2,30 2,00 1,90 1,70 1,30 1,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Capítulo 4 - Saneamento 269 BDMG 40 anos Nota-se também no Mapa M7 a grande defasagem entre as metades sudoeste e nordeste do estado, esta em franca desvantagem, apresentando-se como um bloco de municípios com cobertura de coleta de lixo em até 60% dos domicílios, sendo que alguns poucos municípios apresentam níveis de coleta superiores a 80%. Também na porção sudoeste, apesar de concentrar a quase totalidade dos municípios mineiros classificados com cobertura superior a 80%, pode-se notar uma quantidade expressiva de municípios com cobertura desse serviço inferior a 60%, e alguns poucos - não raros com índices abaixo de 40%. Nestes casos, os municípios mais carentes encontram-se principalmente em três aglomerados na porção centronorte e noroeste da Região de Planejamento Mata e na Região de Planejamento Central a sudoeste da RMBH. O Mapa M9 apresenta a forma como são distribuídos os diferenciais de carência por coleta de lixo, segundo os municípios do Estado. MAPA M9 Observa-se a concentração massiva dos municípios mais carentes na porção nordeste, juntamente com os outros aglomerados citados anteriormente. De modo geral, o Estado de Minas Gerais apresentava em 2000 um total de 1.031.593 domicílios não atendidos pelo serviço de coleta de lixo, correspondendo a cerca de 21,6% do total estadual, distribuídas conforme indica a tabela a seguir. 270 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos TABELA 11 DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR COLETA DE LIXO - 2000 REGIÃO DE PLANEJAMENTO % Central 21,0 Norte de Minas Rio Doce Mata Sul de Minas Jequitinhonha/Mucuri Centro-Oeste de Minas Triângulo Alto Paranaíba Noroeste de Minas TOTAL 15,3 13,1 12,6 12,6 11,7 4,5 3,6 3,1 2,5 100,00 FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Tomando-se as Regiões de Planejamento, verifica-se que a distribuição percentual dessas carências ocorre segundo três classes. A Região Central situa-se na classe mais alta, com cerca de 21% dos domicílios não atendidos do Estado. Na classe intermediária, entre 10 e 20%, encontramse as Regiões Norte de Minas, Rio Doce, Mata, Sul de Minas, e Jequitinhonha-Mucuri, em ordem decrescente, e na classe mais baixa, correspondendo a níveis de carências de até 5%, encontramse as Regiões Centro-Oeste de Minas, Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas, esta concentrando a menor carência domiciliar. Tais domicílios, quando tomados segundo as classes de carência de cobertura de lixo, adotadas no Mapa M9, apresentam-se conforme a tabela abaixo. TABELA 12 DOMICÍLIOS NÃO ATENDIDOS POR COLETA DE LIXO POR CLASSE DE CARÊNCIA - 2000 CLASSES DE CARÊNCIA (%) DOMICÍLIOS unidades (%) 80 - 100 72.864 1,53 60 - 80 226.073 4,73 40 - 60 263.967 5,53 20 - 40 264.355 5,54 0 - 20 204.334 4,28 1.031.593 21,61 TOTAIS FONTE: IBGE. Censo Demográfico, 2000. A tabela demonstra que, excetuando-se a classe mais elevada de carência (80 a 100%), a quase totalidade dos domicílios não atendidos pela coleta de lixo (cerca de 93%) encontra-se distribuída por igual percentual de municípios do Estado, correspondendo em termos absolutos a 801 deles. Os domicílios não atendidos por coleta de lixo situados na classe superior, ou seja, aqueles que apresentam os mais baixos níveis de coleta do Estado, correspondendo a 7% do total (52 municípios) encontramse situados nas Regiões de Planejamento Norte de Minas (21 deles), Rio Doce (13 municípios), Jequitinhonha/Mucuri (9 municípios), Central (7 municípios) e Mata (2 municípios). Capítulo 4 - Saneamento 271 BDMG 40 anos Quanto à natureza do atendimento, a PNSB indica 848 distritos-sede com coleta residencial, sendo 643 (75,8%) com freqüência diária, 104 (12,3%) durante três vezes por semana e 103 (12,2%) durante duas vezes por semana ou menos, dado, entretanto, que não informa o percentual da área urbana contemplada com as referidas freqüências. A destinação final dos resíduos revela situação mais preocupante. A própria PNSB reporta, dentre os 1.396 distritos com coleta, 1.170 (83,8%) lançando os resíduos em vazadouros a céu aberto ou em áreas alagadas, correspondendo a 30,6% da massa total de resíduos coletados. Ou seja, 4.800 toneladas de lixo são dispostos inadequadamente a cada dia, poluindo o solo e muitas vezes a água e o ar, além de provocando desequilíbrios no meio biótico. Dos 853 municípios, em 263 deles (30,8%) existem catadores nos locais de destino final, denunciando a relação entre a crise social e as questões ambientais. Grave também é a disposição do lixo séptico. 332 dentre 576 municípios (57,6%) realiza em vazadouros a céu aberto. Institucionalmente, o PNSB confirma que o serviço é predominantemente prestado pela administração direta municipal, com 838 de 912 distritos (91,9%). Ao se comparar o quadro de 1991 com o de 2000, pode-se observar: uma elevação global da cobertura no Estado, ligeiramente superior a 10 pontos percentuais em relação a 1991; o elevado número de domicílios não atendidos pelo serviço; a ampliação das disparidades regionais; a aparente manutenção dos diferenciais intra-regionais; a permanência da estrutura regional das carências. 272 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 5. Drenagem urbana Gestão e regulamentação Dos 853 municípios de Minas Gerais, 671 (79%) relataram oferecer serviços de drenagem urbana. Trata-se de um serviço essencialmente provido pela administração direta do poder municipal (99,5% dos municípios com serviço de drenagem). Também no Brasil, este é o modo de gestão dos serviços de drenagem urbana, onde há apenas 10 casos de entidade prestadora estadual e 2 de entidade particular, nos 4317 municípios equipados em drenagem urbana. Em cerca de 81% dos municípios mineiros com serviço de drenagem, este está vinculado à Secretaria de Obras, o que provavelmente decorre da associação corrente entre os sistemas tradicionais de drenagem e o sistema viário. Nos demais 127 municípios, o serviço de drenagem encontra-se afeito ao SAE, vinculado diretamente ao Gabinete do Prefeito (10% dos casos) ou a Secretarias diversas: de Saneamento, de Saúde, ou de Meio Ambiente. A exigência legal de aprovação e implantação de sistemas de drenagem pluvial para loteamentos novos é parte integrante da regulamentação municipal em apenas cerca de 50% dos municípios com sistema de drenagem. Isso reflete, aproximadamente, a média nacional. A regulamentação do serviço de drenagem urbana por instrumentos de planejamento (Planos Diretores) ou de regulamentação de uso do solo (LUOS) faz-se apenas em 144 municípios mineiros (21% dos municípios com serviço de drenagem). No Brasil, a estatística é 26%. A existência de instrumentos reguladores da drenagem está relacionada à população do município, porém, nota-se serem poucos os municípios, mesmo aqueles com população superior a 20.000 habitantes que contam com tais instrumentos (FIG. 1). Há exigência legal de planos diretores para municípios com população superior ao limite de 20.000 habitantes e é de se esperar que tais documentos de planejamento reflitam-se na regulamentação urbana, inclusive de drenagem pluvial. FIGURA 1 MUNICÍPIOS QUE NÃO POSSUEM INSTRUMENTOS REGULADORES DO SERVIÇO DE DRENAGEM URBANA, POR CLASSE DE POPULAÇÃO, EM MINAS GERAIS FONTE: IBGE. Pesquisa nacional de saneamento básico – PNSB, 2000. Capítulo 4 - Saneamento 273 BDMG 40 anos Financiamento do serviço de drenagem pluvial No Brasil, é extremamente rara a adoção de taxas de drenagem pluvial ou de qualquer outro sistema de cobrança direta associada à oferta do serviço, não se conhecendo, em Minas Gerais, nenhum caso desta natureza. Com isso, os recursos necessários ao serviço de drenagem pluvial provêm diretamente do orçamento municipal. Segundo a PNSB (IBGE, 2002), 70% dos municípios mineiros com serviço de drenagem urbana investem até 5% do orçamento municipal no setor (TAB. 13). A faixa de comprometimento de 5 a 10% do orçamento é composta por 33 municípios e a de 10 a 20% por 13 municípios. Há 131 municípios (20%) que não fazem previsão orçamentária para a drenagem urbana e um município na classe de população de 20.000 a 50.000 habitantes compromete mais de 20% do orçamento com o serviço de drenagem. Os percentuais mais elevados de investimento, superiores a 5% do orçamento, aparecem sobretudo para municípios com população superior a 100.000 habitantes. Esse fato sugere a crescente complexidade dos problemas de drenagem urbana com o aumento da população, requerendo, portanto, maiores investimentos, tanto quanto uma maior capacidade financeira dos municípios mais populosos. TABELA 13 FINANCIAMENTO DO SERVIÇO DE DRENAGEM, EM NÚMERO E PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS COM SERVIÇOS DE DRENAGEM URBANA POR CLASSE DE POPULAÇÃO (obs.: não incluídos os que nada declararam) População Percentual do orçamento destinado a drenagem urbana (classe * 1000 habitantes) < 5% do orçamento >5% a 10% do orçamento >10% a 20% do orçamento não há previsão orçamentária 0a5 131 (69%) 6 (3%) 5 (3%) 5 a 10 134 (71%) 9 (5%) 1 (1%) 47 (25%) 38 (20%) 10 a 20 105 (72%) 8 (6%) 2 (1%) 25 (17%) 20 a 50 65 (75%) 4 (5%) 2 (2%) 13 (15%) 50 a 100 26 (74%) 1 (3%) 2 (6%) 4 (11%) 100 a 200 7 (54%) 2 (15%) 0 3 (23%) 200 a 500 4 (57%) 2 (29%) 0 1 (14%) 500 a 1000 1 (50%) 1 (50%) 0 0 0 0 1 (100%) 0 473 (71%) 33 (5%) 13 (2%) 131 (20%) > 1000 Total de municípios FONTE: IBGE. Pesquisa nacional de saneamento básico - PNSB, 2000. De uma forma geral, pode-se afirmar que o serviço de drenagem pluvial como outros serviços de saneamento apresenta custos elevados de implantação e gestão, repercutindo significativamente no orçamento municipal. Descrição do sistema e sua operação Dos 671 municípios com sistema de drenagem, a grande maioria (669) possui ruas pavimentadas dotadas de estruturas de drenagem. Porém, em todos eles também há ruas pavimentadas sem drenagem, sendo 36% a parcela dos que possuem mais de 50% de suas ruas nessa categoria. 274 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Do total de municípios com sistema de drenagem urbana, 97% possuem rede subterrânea de drenagem. Desses, 15% adotam o sistema unitário. A cifra pode parecer elevada diante da suposição da absoluta prevalência do sistema separador absoluto. Entretanto, deve-se observar que no separador absoluto, embora em ausência de dados sobre o tema, há ocorrência freqüente de interconexão entre os sistemas de drenagem e esgotamento sanitário, com danos para ambos. A conexão pluvial-sanitário resulta em problemas de ruptura de redes e de funcionamento inadequado de ETEs, quando existentes. A conexão sanitário-pluvial contribui para a poluição dos corpos receptores, para o aumento do risco à saúde, para a deterioração física dos condutos e gera maus odores. Ao problema da conexão sanitário-pluvial soma-se a insuficiência de infra-estrutura em interceptores e em tratamento de esgotos. Dos municípios com sistema subterrâneo de drenagem, apenas 20% possuem estruturas de macrodrenagem (FIG. 2). A estatística parece pequena, mas sua interpretação não é simples. É possível que cidades muito pequenas requeiram, em menor grau, estruturas de macrodrenagem. Por outro lado, as obras de macrodrenagem são caras e de projeto e execução mais complexos. Portanto, a cifra pode estar revelando, igualmente, a pequena capacidade financeira e técnica de muitos municípios. FIGURA 2 MUNICÍPIOS QUE NÃO POSSUEM ESTRUTURAS DE MACRODRENAGEM URBANA POR CLASSE DE POPULAÇÃO FONTE: IBGE. Pesquisa nacional de saneamento básico - PNSB, 2000. Praticamente todo o lançamento de efluentes dos sistemas de drenagem é feito em cursos dágua, sendo em 95% dos casos cursos dágua perenes. Esse fato é importante como indicador dos esforços a desenvolver em regulamentação de uso do solo e em concepção, projeto, implementação e operação dos sistemas de drenagem tendo em vista a redução de impactos da urbanização sobre o meio natural. Do universo de 671 municípios com sistema de drenagem, adotam-se bacias de detenção em apenas 34 deles. Deve-se ressaltar que a bacia de detenção é apenas uma entre várias alternativas de técnicas compensatórias de impactos de urbanização sobre escoamentos e poluição difusa, porém é a mais difundida. Capítulo 4 - Saneamento 275 BDMG 40 anos Problemas de assoreamento na rede de drenagem são declarados por 40% dos municípios o que sugere ocorrência de processos erosivos intensos tanto quanto carência de manutenção e problemas de concepção e dimensionamento dos sistemas. Processos erosivos que afetam o sistema de drenagem ocorrem em 28% dos municípios que dispõem do sistema. Fatores de origem técnica relacionados com sistemas inadequados de drenagem foram considerados agravantes dos processos erosivos por 34% dos municípios afetados. Desmatamentos e ocupação desordenada do solo são fatores agravantes da erosão para 85% dos municípios em foco. Apenas 16% dos municípios dispõem de informações pluviométricas e meteorológicas e, desse total, cerca de 70% declaram utilizá-las para a gestão do sistema de drenagem. Apenas 10% dos municípios com sistema de drenagem, portanto, utilizam esse tipo de informação. É sabido que não existem estações fluviométricas em áreas urbanas no estado de Minas Gerais, uma situação corrente também em contexto nacional. A carência de informação hidrológica restringe a atualização e o aprimoramento tecnológico do setor, resulta em incertezas significativas de dimensionamento de sistemas e, em conseqüência, em prejuízos econômicos e financeiros. 586 municípios (87%) afirmam desenvolver atividades de manutenção do sistema de drenagem. As tarefas mais comuns são as de limpeza e desobstrução de dispositivos de captação (71%) e de varrição e limpeza de vias (75%). Estas tarefas contribuem para o bom funcionamento dos sistemas, lembrando-se que a varrição de vias, em particular, reduz as cargas de poluição de origem pluvial. A manutenção de cursos dágua faz-se em um número muito menor de municípios (27%). Os dados permitem notar que a manutenção centra-se em tarefas mais simples associadas às estruturas de microdrenagem. As carências em dragagem e limpeza de canais contribuem para a degradação ambiental dos corpos dágua em contexto urbano, podendo, igualmente, resultar em aumento dos riscos de inundação e à saúde. Os dados da PNSB não permitem conhecer a freqüência com que as tarefas de manutenção são realizadas. Os riscos do sistema e seus fatores agravantes A presença de áreas de risco é mencionada por 245 municípios (29% dos municípios mineiros e 37% daqueles que possuem sistemas de drenagem). A ocupação de áreas sujeitas a deslizamento de encostas é mencionada por 51% dos municípios contendo áreas de risco, seguida por áreas sem infra-estrutura de saneamento (44%), áreas com processos erosivos intensos (26%) e sujeitas a inundações (25%). O número de municípios que sofreram inundações nos dois últimos anos foi de 190, o que representa 22% dos municípios mineiros e 28% dos que dispõem de sistemas de drenagem. Problemas de origem técnica relacionados ao dimensionamento inadequado de sistemas ou obras inadequadas foram considerados fatores agravantes das inundações por 60% dos municípios afetados. Seguem-se os problemas de manutenção (obstrução de bueiros e bocas de lobo), atuando como fatores agravantes em 50% dos casos, bem como o adensamento populacional, relacionado em 30% dos casos. Quando ocorrem inundações, na grande maioria dos municípios, a área inundada é inferior a 50 ha (88% dos municípios). Da mesma forma, os processos erosivos relatados referem-se a áreas degradadas com superfície inferior a 50 ha em 86% dos municípios. 276 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 6. O setor e suas dimensões extra-setoriais 6.1. Indicadores econômicos As FIG. 3 a 5 fornecem indicações sobre a relação entre a distribuição dos serviços de saneamento e os fatores econômicos. Nessas, são associadas, pelas dez regiões de planejamento, o quociente VAF (Valor Adicional Fiscal) per capita com a carência populacional pelos serviços, demonstrados pelos municípios da respectiva região. O VAF per capita, ao mesmo tempo permite uma aproximação com o nível de renda da população do município e com sua capacidade de arrecadação, logo, de investimentos em serviços públicos. FIGURA 3 ABASTECIMENTO DE ÁGUA X VAF PER CAPITA FONTE: IBGE FIGURA 4 ESGOTAMENTO SANITÁRIO X VAF PER CAPITA FONTE: IBGE. Capítulo 4 - Saneamento 277 BDMG 40 anos FIGURA 5 LIMPEZA PÚBLICA X VAF PER CAPITA FONTE: IBGE As figuras permitem verificar uma tendência geral para uma relação inversa entre carência e VAF per capita, para abastecimento de água, esgotamento sanitário e limpeza pública, e para as dez regiões de planejamento, com algumas exceções. Essas se referem em maior grau à faixa de municípios com o VAF per capita situado na maior classe R$ 10.000,00 a 80.000,00/hab apresentando carências maiores que as duas faixas anteriores e, em alguns casos, também a quarta classe com maior carência que a terceira. Essa tendência manifestou-se nas regiões Central, Sul, Triângulo e Alto Parnaíba para abastecimento de água e esgotamento sanitário e para o Triângulo e o Alto Parnaíba para a limpeza pública. Possível explicação para a ocorrência pode ser a arrecadação por parte de indústrias de maior porte, localizadas em municípios dessas regiões de planejamento mais desenvolvidas, que arrecadam VAF, mas não propiciam a reversão dessa arrecadação para o desenvolvimento do próprio município. No entanto, a par das poucas classes que não seguiram a tendência dominante, as distribuições dos gráficos permitem caracterizar parte do perfil da exclusão pelos serviços de saneamento: os municípios mais pobres apresentam maior carência pelos serviços, mesmo aqueles sob a responsabilidade da concessionária estadual e, por terem menor capacidade econômica, têm menor capacidade de investimento e talvez menor força política para assegurar a universalização do atendimento. Um possível viés nessa explicação pode estar no grau de urbanização dos municípios: municípios com maior contingente de população rural teriam menor VAF per capita e também teriam menor cobertura da população total - por terem menor proporção de população urbana, passível de conexão às redes e de atendimento pelos serviços de coleta de resíduos sólidos. Porém, a manutenção do padrão para as classes mais baixas de VAF per capita em todas as regiões de planejamento, que tendem a apresentar homogeneidade no grau de urbanização de seus municípios, atenua o viés destacado. As FIG. 6 a 8, por sua vez, apresentam a associação entre os serviços e a renda, a partir de uma caracterização do município segundo a renda individual, e não por parâmetro econômico municipal agregado. Para tanto, adotou-se, nas abcissas dos gráficos, a variável proporção de pessoas que vivem em famílias em que o chefe tem renda inferior a um salário mínimo, extraída do Censo de 1991 do IBGE. 278 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos FIGURA 6 ABASTECIMENTO DE ÁGUA X RENDA FONTE: SNIU – Sistema nacional de indicadores urbanos (http://www.presidencia.gov.br/sedu) FIGURA 7 ESGOTAMENTO SANITÁRIO X RENDA FONTE: SNIU – Sistema nacional de indicadores urbanos (http://www.presidencia.gov.br/sedu) Capítulo 4 - Saneamento 279 BDMG 40 anos FIGURA 8 COLETA DE LIXO X RENDA FONTE: SNIU – Sistema nacional de indicadores urbanos (http://www.presidencia.gov.br/sedu) As figuras permitem observar uma tendência de associação entre a proporção de pobres no município e o atendimento pelos serviços, refletindo simultaneamente a relação entre os serviços de saneamento com o poder de pagamento das tarifas e com o grau de desenvolvimento municipal. Embora com baixa correlação, as associações informam que cada dez pontos percentuais a mais na proporção de pobres pune o Município com 10 a 20 pontos percentuais a menos de população atendida pelos serviços. A constatação reforça a perversa e sinérgica injustiça social brasileira: mais pobre, logo mais susceptível às enfermidades e com menor acesso à assistência médica, contudo menos protegido por medidas preventivas. As tendências reforçam ainda a hipótese de que o modelo excludente de desenvolvimento do país não se reproduz apenas em nível econômico. A população sem emprego e renda também é aquela excluída do acesso aos bens públicos, aqui traduzidos pelos serviços de saneamento, mas que certamente também inclui a moradia, a assistência médica, o acesso à alimentação adequada. Em outros termos, as tímidas políticas de combate à pobreza e de redução das desigualdades sociais estão longe de conseguirem implementar algum tipo de ação compensatória às populações excluídas. 6.2. Saúde As FIG. 9 a 11 relacionam mortalidade infantil, por classes, e a carência pelos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e limpeza pública, respectivamente, considerando o Estado globalmente. 280 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento ASSOCIAÇÃO ENTRE CARÊNCIA POR ABASTECIMENTO DE ÁGUA E FAIXAS DE MORTALIDADE INFANTIL MINAS GERAIS BDMG 40 anos FIGURA 9 Mortalidade Infantil (por mil) FONTE: IBGE FIGURA 10 ASSOCIAÇÃO ENTRE CARÊNCIA POR ESGOTAMENTO SANITÁRIO E FAIXAS DE MORTALIDADE INFANTIL MINAS GERAIS FONTE: IBGE Capítulo 4 - Saneamento 281 BDMG 40 anos FIGURA 11 ASSOCIAÇÃO ENTRE CARÊNCIA POR LIMPEZA PÚBLICA E FAIXAS DE MORTALIDADE INFANTIL MINAS GERAIS FONTE: IBGE Nas figuras, há uma inequívoca consistência na associação: menor cobertura, maior mortalidade. Resta indagar sobre o sentido em que se dá a relação. Não disponibilidade de saneamento causa mais morte infantil? Ou ser pobre explica simultaneamente a falta de acesso ao saneamento e as mortes infantis? Em relações sociais complexas como essas, talvez a resposta cautelosa explicita que a associação se verifica em ambos os sentidos. Interessa, no entanto, explorar o primeiro. E, nessa perspectiva, alguns estudos epidemiológicos desenvolvidos em Minas Gerais, trabalhando com populações com condições sócio-econômicas homogêneas ou controlando a influência desse fator, corroboram a hipótese da ausência de saneamento como fator de risco para a saúde infantil. Assim, Heller (1995, 1999), avaliando a associação entre diversas exposições de saneamento e diarréia infantil em Betim, concluiu que: inadequada disposição de esgotos conduz a um risco 97% maior de adoecer, sendo que a existência de esgotos escoando livremente pelas vias impõe às crianças moradoras risco 174% maior de adoecer; inadequado acondicionamento domiciliar do lixo acarreta risco 97% maior de adoecer; inadequada freqüência de coleta pública de lixo submete a população infantil a um risco 61% maior de adoecer; inundações no lote implica risco 39% maior de adoecer; presença de vetores acarreta risco 40% maior de adoecer; 282 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos hábitos higiênicos impróprios conduzem a risco de 187% maior de adoecer quando comparados com indivíduos com hábitos adequados. Avaliando o atendimento por serviços de coleta de lixo em populações de favelas de Belo Horizonte, Catapreta e Heller (1999) demonstraram que as crianças que residem em locais sem coleta apresentam risco 40% maior de adoecer por diarréia, doenças de pele e parasitoses, quando comparadas com aquelas que vivem em locais providos de coleta pública. Com metodologia semelhante, Batista (2000), estudando a população infantil que vive na Bacia do Ribeirão da Onça, em Belo Horizonte, sugere que viver próximo a fundos de vale sem intervenções em sistemas de drenagem e/ou em interceptores de esgotos sanitários, implica risco de adoecer entre 43 e 88% maior que a população que vive próxima a fundos de vale beneficiados com essas intervenções. Logo, a par da literatura internacional sobre o tema, há uma indicação consistente de que a melhoria das condições de saneamento da população mineira efetivamente redundará na melhoria do seu quadro de saúde, especialmente da população de baixa renda. Tal melhoria contribuirá para romper o perverso efeito interativo que, ao associar as precárias condições econômicas com a carência de medidas de prevenção coletiva a agravos à saúde, potencializa os riscos. Conforme constatam Hardoy, Cairncross e Satterthwaite (1990), com base em constatações em diversas partes dos países em desenvolvimento, os pobres morrem jovens. 6.3. Gestão Outra importante análise refere-se aos modelos de gestão. A questão que se apresenta é se esses implicam diferenciais na prestação dos serviços, se historicamente os diferentes modelos adotados resultaram em distintos desempenhos. Obviamente, essa análise aplica-se aos sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, os quais, diferentemente dos serviços de limpeza pública e de drenagem urbana, exibem diferentes modelos e não apenas a prestação de serviços com base na gestão municipal, característica daqueles. No caso do abastecimento de água e do esgotamento sanitário, o Plano Nacional de Saneamento Planasa, implementado no início da década de 1970, estabeleceu novos parâmetros para a organização dos serviços, incentivando a sua gestão por meio de concessão à companhia estadual. Tal opção conduziu à coexistência atual de diferentes modelos: aqueles que se organizaram à luz das orientações do Planasa e que são administrados pela COPASA-MG, e aqueles que se mantiveram sob a gestão municipal. Para este último modelo, cabem algumas subdivisões: se o órgão responsável é da administração direta municipal ou autarquia; se a autarquia se mantém (ou manteve) por convênio com o Governo Federal atualmente a Funasa. É importante destacar que, dos modelos praticados, os administrados pela COPASA-MG tiveram prioridade de acesso a financiamentos federais para investimento nas três últimas décadas e os exclusivamente municipais, como regra, tiveram esse acesso bloqueado. Uma análise comparativa muito completa dos modelos de gestão de abastecimento de água e esgotamento sanitário no estado foi desenvolvida recentemente por Coutinho (2001). A TAB 14 sumariza algumas das múltiplas conclusões do estudo. Capítulo 4 - Saneamento 283 BDMG 40 anos TABELA 14 COMPARAÇÃO ENTRE MODELOS DE GESTÃO ADOTADOS NOS SERVIÇOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM MINAS GERAIS COM BASE EM SUAS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES. MODELO DE GESTÃO CARACTERÍSTICAS DOMINANTES Serviços autônomos conveniados com a Funasa Ø Ø Ø Ø Ø Autarquias administradas pelos municípios Ø alta cobertura por rede de distribuição de água; Ø maior cobertura por rede coletora; Ø municípios mais desenvolvidos, ricos e com bons indicadores de saúde; Ø baixos valores de tarifas. COPASA-MG (apenas concessão de água) Ø Ø Ø Ø Ø boa proporção de micromedição; baixa cobertura por rede de esgotos; baixo índice de perdas de água; as mais onerosas tarifas; municípios com piores indicadores sociais e maior contingente de população rural. COPASA-MG (concessão de água e de esgotos) Ø Ø Ø Ø Ø Ø melhor cobertura por rede de distribuição de água; melhor índice de micromedição; baixo índice de perdas de água; as mais onerosas tarifas; quadro de funcionários racionalizado; municípios desenvolvidos e ricos. Administração direta municipal Ø pior cobertura por rede de água; Ø cobertura por esgotos semelhante à dos demais modelos de gestão; Ø pior índice de micromedição; Ø maior consumo de energia elétrica por economia de água; Ø as menores tarifas; Ø elevado número de funcionários. alta cobertura por rede de distribuição de água; melhor cobertura por rede de esgotos; boa proporção de micromedição; maior zelo no combate a ligações clandestinas; maior contingente de trabalhadores, em atividades fim e meio; Ø maior mortalidade de crianças até cinco anos por doenças evitáveis por saneamento. FONTE: Coutinho, 2001 Ao se analisarem as semelhanças e diferenças gerais entre os municípios, pelo método dos componentes principais, Coutinho identifica dois conglomerados: o primeiro constituído pelos serviços administrados diretamente pelos municípios e os segundo por aqueles que mantêm concessão com a COPASA-MG ou convênio com a Funasa. Lembre-se que importante questão de fundo nessa análise é: o único modelo de gestão dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, efetivamente assumido pelo Estado a gestão mediante concessão à companhia estadual , resultou em importantes diferenciais positivos para o atendimento populacional? A resposta é: globalmente, não. Os sistemas administrados pela COPASA-MG destacam-se em alguns indicadores, mas não hegemonicamente em todos. Salientem-se as boas coberturas, os elevados índices de micromedição e o adequado controle de ligações clandestinas que caracterizam alguns grupos de sistemas municipais, a despeito das baixas tarifas e do bloqueio ao acesso à principal fonte de financiamento de investimentos no setor: os recursos do FGTS. 284 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Em relação às duas outras sub-áreas do saneamento, limpeza pública e drenagem urbana, conforme já enfatizado mantêm-se sob gestão municipal desde o momento em que foram assumidos pelo Poder Público no Brasil, sem qualquer registro de ações de coordenação por parte do governo do Estado de Minas Gerais. Tal quadro tem levado a importantes diferenciais na qualidade dos serviços prestados. Devido ao modelo de gestão adotado, pode-se assumir que, em geral, a capacidade financeira, o nível de organização institucional, a capacidade de planejamento e o porte da localidade constituem os fatores que maior influência trazem para o sucesso de um sistema de limpeza pública. Já os sistemas de drenagem urbana apresentam determinantes mais amplos e complexos, adicionando, aos fatores anteriores, características físicas da localidade, como a sua topografia, a conformação de seus fundos de vale, seu regime pluviométrico, a existência de regiões de risco geológico e a forma de ocupação de seus fundos de vale. Em relação a essas duas sub-áreas, é importante destacar a existência de linhas de financiamento estaduais e federais. Aí, novamente, o recorte do porte e do nível de organização do município, muitas vezes, tem se reproduzido, dadas as invariáveis exigências de à saúde financeira municipal para a contratação de financiamento e a freqüente necessidade de preparação de um processo burocrático de solicitação invariavelmente inacessível aos desestruturados municípios pobres e de menor porte. Sobre esse último ponto, não deve passar desapercebido que os pequenos, mas também os maiores, municípios têm sido vítimas contumazes de empresas privadas, que se oferecem para a obtenção do financiamento, assumindo todas as providências burocráticas necessárias, mediante imagináveis contrapartidas. Capítulo 4 - Saneamento 285 BDMG 40 anos 7. Compromisso com a universalização, a eqüidade e a integralidade: as metas do setor saúde (re)visitadas A já mencionada Lei Estadual 11720/1994 estabelece que: A execução da política estadual de saneamento básico (...) condiciona-se aos preceitos consagrados pela Constituição do Estado, observados os seguintes princípios: I. direito de todos ao saneamento básico; II. autonomia do município quanto à organização e à prestação de serviços de saneamento básico (...); III. participação efetiva da sociedade, por meio de suas entidades representativas, na formulação das políticas, na definição das estratégias, na fiscalização e no controle das ações de saneamento básico; IV. subordinação das ações de saneamento básico ao interesse público, de forma a se cumprir sua função social. Por outro lado, princípios que, embora parcialmente incluídos nos anteriores, têm sido tomados como referência para se pensar um outro futuro, socialmente mais justo, para o saneamento, são aqueles adotados no marco legal do setor saúde8 : a universalidade, a eqüidade e a integralidade, esta última entendida como o direito a todos os serviços que compõem o saneamento. Quaisquer que sejam as formulações, o diagnóstico da situação do setor deixa patente a existência de uma importante dívida social, que exclui de um adequado atendimento aos serviços a população pobre, os menores municípios, a população rural, os moradores das periferias das grandes cidades, os modelos de gestão alijados do acesso ao financiamento. Na situação do Estado ficam ressaltadas ainda as grandes disparidades, além de regionais, entre os serviços, indicando uma abordagem fragmentada do saneamento, em detrimento de uma visão integrada dos serviços. Cumpre pensar metas e vislumbrar os correspondentes desafios para a instituição de um quadro que supere as desigualdades observadas, com soluções tecnológicas apropriadas, com um modelo de financiamento eficaz e sob um modelo institucional que propicie o atendimento às metas. Em relação à meta de universalização do atendimento, deve-se assinalar que o abastecimento de água apresenta melhores indicadores de cobertura. O esgotamento sanitário apresenta carências elevadas, em todo o estado, em coleta e interceptação, mas sobretudo em tratamento. Na área de limpeza pública, um dos principais problemas é o da inadequação do destino final dos resíduos, enquanto a ineficiência dos sistemas de coleta e varrição também persiste. Em drenagem pluvial urbana, notam-se problemas de falta de cobertura, embora os indicadores sejam impróprios para uma avaliação mais confiável. Há inadequação e desatualização tecnológicas sérias, carências em planejamento e manutenção, falta de integração com o planejamento urbano e dificuldades de financiamento. 8 286 Lei Federal 8080/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Não se deve perder de perspectiva, nessa discussão, o desafio de atendimento à população de baixa renda. Embora relacionada com a meta da universalização, ressalta-se aqui a necessidade de implementação de políticas específicas para este fim, envolvendo aspectos específicos de caráter tecnológico, de gestão e de financiamento. Outro tópico presente nos desafios futuros refere-se ao necessário aprimoramento da qualidade do serviço. A questão é ampla e envolve aspectos intrínsecos ao prestador do serviço (e.g.: sua eficiência operacional) tanto quanto ao produto ofertado, numa visão a partir do ponto de vista do consumidor, ou seja, por referência ao produto/serviço ofertado/consumido. Tratandose, por exemplo, do serviço de abastecimento de água, é indispensável a adequação dos serviços às novas exigências legais de potabilidade, incluindo a qualidade da água de abastecimento, a regularidade do fornecimento, dentre outros cuidados. Indicadores de qualidade semelhantes aplicam-se aos demais serviços, com ênfase à observância de requisitos ambientais, em particular o controle da poluição hídrica. O sucesso no atendimento às metas, além de depender de esforços internos ao setor de saneamento, apenas será alcançado caso sejam desenvolvidos e implementados mecanismos e procedimentos que promovam a sua integração com os setores de saúde, ambiental, de recursos hídricos, de desenvolvimento urbano e rural, em diferentes esferas - institucional, legal, de planejamento, gerencial, operacional. Obviamente, ações formais do Estado, visando sintonizar os referidos setores com as metas estabelecidas, será providência essencial. Capítulo 4 - Saneamento 287 BDMG 40 anos 8. Financiamento: a necessidade de reposicionamento da questão 8.1. Os contornos do problema Os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, especialmente a partir do Planasa, passaram a operar com a lógica da auto-sustentação financeira, incluindo, nesse conceito, a própria amortização dos valores financiados para os investimentos. Nesse ponto, a tarifa passa a ser basicamente a exclusiva fonte de custeio dos sistemas. Outro importante princípio do modelo é o do subsídio cruzado, no qual os sistemas superavitários subsidiam o déficit dos demais, graças à prática da tarifa única no Estado. Obviamente, ambos os princípios referem-se aos sistemas operados pelas companhias estaduais, ficando à margem do subsídio cruzado aqueles que não aderiram ao modelo estadual, mas que muitas vezes procuram praticar a auto-sustentação tarifária. No caso particular da limpeza pública e da drenagem, as finanças municipais, como regra, têm respondido pela sustentação financeira, recorrendo às vezes ao recolhimento de taxas, com algumas poucas iniciativas de linhas de crédito no plano estadual, federal e até internacional. Em uma nova perspectiva, um desafio inicial relaciona-se com o atendimento à população mais pobre. Nesse caso, os objetivos e os prováveis benefícios ultrapassam aqueles da prestação dos próprios serviços de saneamento, incluindo-se, além dos aspectos de conforto, redução dos riscos à saúde, dos riscos de inundação ou deslizamento de encostas, de redução da poluição e de impactos ambientais, típicos de condições adequadas de saneamento, contribuições à inserção social e à melhoria global da qualidade de vida das pessoas beneficiadas. Ademais, uma política nesse sentido favoreceria a distribuição de renda e deveria ser encarada como um dos mecanismos para tal. Os desafios para a implementação de políticas nesse sentido não se encontram apenas no capítulo dos meios de financiamento. De uma forma geral, o saneamento aparece aqui associado a políticas a serem desenvolvidas em outros setores: habitação, saúde, trabalho, legalização da propriedade do solo urbano, programa de urbanização de vilas e favelas, ambiental, entre outros. Portanto, são políticas que requerem programas de desenvolvimento institucional, legal, tecnológico e gerencial específicos. No aspecto particular do financiamento, poderiam ser desenvolvidas alternativas, como tarifa social, microcrédito, subsídios ao consumo. Mecanismos como esses deveriam dispor de fontes específicas de recursos, não alimentadas, pelo menos integralmente, por meios como tarifas, subsídios cruzados ou taxas. Nesse caso, recursos fiscais para programas de distribuição de renda, combate à pobreza e promoção da cidadania seriam a opção. 8.2. O subsídio cruzado: benefícios e questões O mecanismo do subsídio cruzado inquestionavelmente vem se constituindo meio de viabilizar a oferta de serviços em áreas onde, se praticada a realidade dos preços, revelar-se-iam economicamente inviáveis face à capacidade de pagamento dos habitantes e/ou a problemas econômicos de escala. Por outro lado, a prática tem passado por questionamentos políticos, que poderá exigir uma reflexão em direção a novos contornos. A mais notável prova pela qual vem passando o conceito tem sido a negociação da COPASA-MG com a Prefeitura de Belo Horizonte, por ocasião do encerramento do contrato de concessão. Com legitimidade, a capital pleiteia a 288 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos implantação de uma política municipal de saneamento, na qual seria readquirida sua autonomia de gestão, inclusive de fixação da política tarifária e de acesso a pelo menos parte do superávit financeiro. O desfecho dessa negociação pode trazer conseqüências importantes para a prática do subsídio cruzado no Estado. Outro questionamento possível para o modelo de subsídio cruzado é o da adoção de padrão tarifário único para diversos sistemas, violando o princípio da tarifa como meio de ressarcimento das despesas. Tal questionamento pode ser apresentado pelas cidades de maior porte, que podem ter seus sistemas superavitários e cogitarem a redução da arrecadação, na direção de um maior equilíbrio receita-despesa. Por fim, nos casos em que a companhia estadual beneficia-se de recursos de todos transferência do orçamento estadual, por exemplo ou tratamentos privilegiados em relação aos municípios não concedentes acesso a financiamentos estaduais ou com origem na arrecadação do FGTS, por exemplo o subsídio cruzado pode se revelar injusto para com a população desses municípios. Em uma eventual revisão do mecanismo, há que se indagar se este é operacional e institucionalmente possível na hipótese de múltiplos prestadores de serviços. Nesse cenário, podese considerar tanto a situação da prestação dos serviços pela companhia estadual, quanto a de gestão municipal ou a de que um conjunto de municípios de uma dada região decida, por exemplo, criar uma empresa pública ou um consórcio intermunicipal de caráter regional para a prestação dos serviços apenas àqueles municípios. Outro modelo, a ser explorado é o de subsídio cruzado estadual regulado por uma câmara de compensação financeira, que garantiria o suporte àqueles sistemas claramente inviáveis de se manterem exclusivamente por meio de tarifas. 8.3. Equilíbrio financeiro dos serviços A avaliação do equilíbrio financeiro do setor ou de sistemas particulares requer o conhecimento sobre os aspectos a seguir: Necessidade de investimentos para a expansão de sistemas de forma a atender às metas de universalização de serviços, com eqüidade no atendimento aos diversos extratos populacionais; e de redução da poluição dos recursos hídricos e do solo; Necessidade de investimentos para a recuperação de sistemas envelhecidos e/ou obsoletos; Necessidade de investimentos em desenvolvimento tecnológico, formação, treinamento; Necessidade de investimentos para a modernização de sistemas (infra-estrutura, gestão, monitoramento, atualização cadastral, manutenção, operação), de forma a atender a objetivos progressivamente mais exigentes de qualidade dos serviços e de observância a requisitos ambientais; Custos operacionais. É ilustrativo, na discussão, o exemplo francês de evolução de custos operacionais de esgotamento sanitário e drenagem pluvial, em termos médios, para uma cidade de 50.000 habitantes: de US$35,00 habitante/ano, em 1970, para US$180,00 por habitante/ano, em 1995 (ABDELMAKI, 1999). Caberia avaliar, na evolução desses custos, a progressiva eliminação de subsídios e participação de investimentos públicos para financiar os sistemas, aspectos não abordados na citada referência. Capítulo 4 - Saneamento 289 BDMG 40 anos A tarefa de estimar as necessidades de financiamento dos serviços em escala estadual e mesmo regional é complexa, por diferentes razões, como a diversidade de sistemas tecnológica, data de implantação, cobertura atual, características operacionais, prestador dos serviços , disponibilidade de recursos hídricos, enquadramento de cursos dágua, população urbana e rural. Segundo Barraqué (2002), estudos dessa natureza são dificilmente disponíveis, mesmo em países desenvolvidos. Supondo-se conhecidas, mesmo que aproximativamente, tais necessidades, a análise de equilíbrio financeiro dos serviços, em escalas regional ou estadual, requer uma avaliação complementar das alternativas de financiamento (amortização, juros), da capacidade de pagamento dos usuários, dos modelos de tarifação e taxação, de sistemas de subsídios, de modelos de gestão, entre outros aspectos. Avaliações dessa natureza podem ser desenvolvidas por intermédio de simulações a partir da construção de cenários e podem ser bastante úteis à definição de políticas à formulação do planejamento setorial. Elas fogem, contudo, aos objetivos do presente texto. 8.4. Privatização dos sistemas Constitui tema presente na ordem do dia do setor. Discussões, às vezes calorosas, têm sido travadas entre os defensores da privatização do saneamento, incluindo-o no rol dos serviços passíveis de privatização, em um paralelo com outros serviços de responsabilidade do Estado, como comunicações, fornecimento de energia, correios, transportes, e face a experiências de outros países, e aqueles que defendem a sua manutenção como um serviço de responsabilidade, controle e execução públicos. Claro é que, entre os dois pólos, posições intermediárias são defendidas. A participação da iniciativa privada no saneamento é histórica, mas tem se situado em atividades transitórias elaboração de estudos e projetos e execução de obras ou acessórias terceirização de leitura de hidrômetros, manutenção de redes, segurança. Nesses casos, embora a iniciativa privada tenha desenvolvido competência técnica e gerencial, o poder público não abriu mão da responsabilidade sobre a gestão global dos sistemas, procurando exercer a efetiva fiscalização sobre a prestação dos serviços, sintonizando-a com os interesses públicos. Nas novas modalidades concebidas para a participação privada, localizam-se9 : Quando a propriedade da infra-estrutura é pública Contratos de serviços; Contratos de gestão; Leasing; Concessões. Quando a propriedade é parcial ou totalmente privada: BOOT (construir-deter a propriedade-operar-transferir) e suas variações, como o BOT (construir-deter a propriedade-operar); BOOT reverso (a empresa financia e constrói o empreendimento, além de operar e administrar, com possibilidade de assumir a posse definitiva do ativo); Joint venture (com empresa de capital misto público-privado com participação acionária equânime); Privatização (setor público é afastado totalmente da propriedade dos ativos e da operação). 9 290 Consórcio Graphus, UBS, Engevix, Arthur Andersen, Baoc Advogados Associados. Modelagem de desestatização do setor de saneamento básico: relatório jurídico-institucional, técnico-operacional, metodológico, econômico-financeiro e de proposição de modelos. Rio de Janeiro: BNDES, 1997, apud Coutinho (2001). Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Nessa discussão, em primeiro lugar, reconhece-se a necessidade das referidas complexas avaliações financeiras para uma análise conseqüente, na medida em que a lógica da privatização fundamenta-se em princípios neoliberais de transferir aos usuários a cobertura de todos os custos do serviço, inclusive do lucro das empresas. A questão do equilíbrio financeiro do sistema, sobretudo mantendo-se as metas relacionadas anteriormente para os serviços, é um dos elementos centrais dessa avaliação. Não se pode pressupor que o operador privado conseguirá assegurar as necessidades de financiamento, respeitando a capacidade de pagamento dos usuários e assegurando o alcance das metas, em particular a de universalização. Considerando-se os custos dos serviços e o perfil de distribuição de renda no Brasil isso parece difícil. E as poucas experiências em curso não acenam para uma perspectiva otimista do modelo. O aspecto do equilíbrio financeiro é apenas um dos focos da análise da privatização. Há ainda aspectos relacionados com a regulação do sistema e, especialmente, a avaliação política da questão. Tal deveria ser feito em debates abertos, por meio dos quais seriam explicitadas, avaliadas e debatidas as alternativas de modelo de gestão e suas implicações. A carência desses debates foi notada em todas as iniciativas de privatização no Brasil, nos últimos anos, tanto no setor de saneamento quanto em outros. Nesse ponto, é interessante que se incluam, na análise de viabilidade e alternativas de privatização, as experiências de países estrangeiros. Elas podem ser muito informativas sobre modelos de gestão privada concessão, implicando obrigação de investimento em infra-estrutura e de operação; arrendamento, supondo apenas a operação de sistemas já implantados , evolução de tarifas, capacidade de pagamento, participação do setor público, desenvolvimento tecnológico, cobertura, etc. De qualquer forma, algumas perguntas centrais se apresentam na discussão da gestão privada como meio de financiamento do setor. Poderá a iniciativa privada acelerar, melhorar ou dar mais eficiência ao atendimento das metas estabelecidas, praticando tarifas condizentes com a capacidade de pagamento de todos os extratos populacionais, e aportando novos recursos financeiros para o setor (argumento freqüentemente utilizado pelos defensores do modelo)? Há algo que a iniciativa privada possa agregar, do ponto de vista da gestão dos sistemas, que traga melhores benefícios à sociedade? O Estado estaria aparelhado, ou estaria em condições de se aparelhar, para regular, controlar e fiscalizar a ação das companhias privadas, garantindo os interesses públicos? Não se pode ignorar ainda, no trato do problema, a existência de relevantes questionamentos de ordem ética, por parte de importantes pensadores, críticos do neoliberalismo10 . 8.5. Taxas e tarifas Outro ponto relevante a destacar sobre o financiamento dos serviços de saneamento referese à natureza do bem disponibilizado. O abastecimento de água possui características de bem de mercado, permitindo a tarifação segundo custos de produção e distribuição de água. O esgotamento sanitário e a drenagem pluvial aproximam-se muito do bem público puro e apresentam dificuldades 10 Robert Kurz (Modernidade autodevoradora, Mais!, Folha de São Paulo, 14/07/2002), ao alertar para o risco da privatização dos próprios recursos naturais, denuncia ...a privatização do abastecimento de água da cidade boliviana de Cochabamba, que, por determinação do Banco Mundial, foi vendida a uma empresa de água norte-americana. Em poucas semanas, os preços foram elevados a tal ponto que muitas famílias tiveram de pagar até um terço de sua renda pela água diária. Juntar água da chuva para beber foi declarado ilegal, e ao protesto respondeu-se com o envio de tropas., ao que, em um chamamento ético, conclui: Logo também o sol não brilhará de graça. E quando virá a privatização do ar que se respira? O resultado é previsível: nada funcionará mais, e ninguém poderá pagar. Nesse caso, o capitalismo terá de fechar tanto a natureza como a sociedade humana por escassez de rentabilidade e abrir uma outra... Capítulo 4 - Saneamento 291 BDMG 40 anos de individualização do consumo/uso do serviço, bem como geram externalidades negativas (poluição hídrica, alteração de regime hidrológico) e positivas (redução de riscos à saúde, de riscos de inundação) de quantificação difícil para compor um sistema de cobrança. No Brasil, pratica-se, usualmente, a tarifação do esgotamento sanitário como parcela da tarifa de água. Essa prática refletiria os custos reais da coleta, transporte e tratamento dos esgotos? No caso da drenagem pluvial, a prática corrente no Brasil é o financiamento do serviço com recursos fiscais que alimentam o orçamento municipal. A cidade de Santo André, na RMSP, adota um sistema de taxação baseado na área coberta dos imóveis, conforme estabelecido no cadastro municipal11 . Algumas cidades européias, sobretudo, têm adotado taxas de drenagem associadas a uma base física, normalmente a taxa de impermeabilização de lotes12 . A título de exemplo, Zurique cobra uma taxa de cerca de US$1,05 por m2 impermeabilizado-ano e mais 15% deste valor por áreas não construídas; Munique adota taxa de US$1,17 por m 2 impermeabilizado-ano o que corresponde à mesma ordem de grandeza da tarifa por m3 de esgotamento sanitário. 8.6. As fontes de financiamento Por fim, deve-se avaliar a disponibilidade de fontes de financiamento para os necessários investimentos no setor. Como já referido, a fonte tradicional de financiamento tem origem no FGTS, mas essa vem privilegiando historicamente as ações de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Trata-se de fonte que possivelmente se manterá como uma das mais regulares e importantes em seu volume. Entretanto, não tem sido a fonte exclusiva, observandose, hoje, uma diversidade delas, o que acena para a perspectiva de novos rumos para a concepção de um financiamento massivo do setor, visando superar o déficit historicamente acumulado. A fonte orçamentária Federal, Estadual e Municipal apresenta potencial de colaborar com os investimentos em saneamento. No caso dos recursos do OGU, os aportes não têm sido desprezíveis nos últimos anos. Cite-se o Projeto Alvitrado, administrado pela Funasa, que conta com expressivo orçamento para investimento em municípios com IDH inferior a 0,5. Outra possibilidade, que o país vem aprendendo a praticar, é a negociação de recursos oriundos de financiamento internacional. Esses têm contribuído para viabilizar os denominados Projetos de Despoluição, a exemplo do PROSAM, destinado à recuperação da qualidade ambiental do Rio das Velhas. Têm sido também empregados no financiamento dos sistemas clássicos de saneamento. Exemplo desse caso é o do Programa SOMMA Saneamento Ambiental, Organização e Modernização dos Municípios, administrado pelo BDMG, que aplicou cerca de US$ 120 milhões em saneamento no período 1993-2001, apoiando tanto os serviços municipais quanto a COPASA-MG13 . 11 12 13 292 MARCON, H, Vaz Junior, S.N., Proposta de remuneração dos custos de operação e manutenção de drenagem do município de Santo André a taxa de drenagem. Anais do 20º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro: ABES, p. 3225-3234. BAPTISTA e NASCIMENTO (2002). BDMG. Relatório de conclusão da execução do Programa SOMMA. 2002. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Uma perspectiva adicional de financiamento de parte de sistemas abre-se com a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/1999) e suas congêneres estaduais (em Minas Gerais a Lei 13.199/1999 e o Decreto 41.578/2001). Criam-se instrumentos de gestão importantes que refletem princípios como os do usuário-pagador (cobrança pelo uso da água) e poluidor-pagador (cobrança pelo lançamento de efluentes) e a outorga pelo uso da água. Criam-se, igualmente, novas instituições, como os comitês (órgão normativo, regulador, político) e as agências de bacia (órgão de fomento e de implementação das políticas estabelecidas pelos comitês). A política de recursos hídricos brasileira torna-se um instrumento importante para assegurar o uso racional e a proteção dos recursos com implicações que vão além da água, refletindo-se nas políticas ambiental, de saneamento, urbana, industrial, de ocupação territorial. Ressalta-se, entretanto, ser seu foco o uso dos recursos hídricos e sua proteção. Portanto, embora haja coincidências de objetivos com o saneamento, este possui objetivos e metas que não estão contemplados naquela. Ou seja, podem-se esperar investimentos oriundos de recursos gerados pela cobrança prevista no Sistema de Recursos Hídricos, com o fim de promover a redução de perdas nos sistemas, o reuso de recursos hídricos, a redução da poluição difusa de origem pluvial e da poluição oriunda de sistemas de esgotamento sanitário. Outras interessantes possibilidades figuram no campo das ações afirmativas, visando reorientar prioridades, a exemplo do programa de compra de esgotos tratados, adotado pela Secretaria de Recursos Hídricos/Agência Nacional de Águas, e o ICMS Ecológico do Governo do Estado de Minas Gerais. Capítulo 4 - Saneamento 293 BDMG 40 anos 9. O quadro legal e institucional: marchas, contra-marchas e desafios 9.1. O sistema estadual de saneamento Nos itens anteriores, com base em dados e indicadores de fontes diferenciadas, procurouse estabelecer um quadro do setor de saneamento em Minas Gerais, enfocando as carências do serviço, aspectos de caráter institucional e financeiro, como também construir relações entre o setor e outras dimensões, extra-setoriais, com potencial explicativo sobre carências e deficiências detectadas bem como sobre suas possíveis conseqüências para o desenvolvimento e a qualidade de vida. Ademais, relacionaram-se e discutiram-se metas para o setor, visando a mudança de um quadro ainda desfavorável em atendimento, eficiência, atualização tecnológica e qualidade dos serviços. O sucesso na construção de um novo quadro para o saneamento estadual estará totalmente subordinado a um adequado arranjo jurídico-institucional. Para tanto, mais do que desenvolver novas formulações, deve-se resgatar o já concebido. Assim, a não-regulamentada Lei 11720/1994 delineou as bases de uma política estadual de saneamento para o estado. Em suma, caso implementado o dispositivo legal, o Estado passaria a dispor de um sistema estadual de saneamento, composto pelo conjunto de agentes institucionais que, no âmbito de suas competências, atribuições, prerrogativas e funções, integram-se, de modo articulado e cooperativo, para a formulação das políticas, a definição das estratégias e a execução das ações de saneamento básico. Três instrumentos de gestão integrariam o sistema: O Plano Estadual de Saneamento Básico PESB, quadrienal e destinado a articular, integrar e coordenar recursos tecnológicos, humanos, econômicos e financeiros para a execução da política estadual de saneamento básico, devendo ser o instrumento hábil para orientar a aplicação dos recursos financeiros do Estado em saneamento básico; O Conselho Estadual de Saneamento Básico, já previsto na Constituição Estadual, mas também não regulamentado e constituído, órgão colegiado de nível estratégico superior do sistema e responsável por subsidiar a Assembléia Legislativa na aprovação do PESB; O Fundo Estadual de Saneamento Básico - FESB, criado pela Lei 11719/1994, foi operado apenas com a subconta FAE-MG Fundo de Financiamento para Água e Esgotos, à qual legalmente apenas a COPASA-MG teria acesso, e extinto após a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que veda a contratação de recursos entre entes da Federação. Entende-se que o modelo previsto, fruto de um amplo consenso dos profissionais do setor em Seminário Legislativo realizado em 1992, pode potencializar as ações do Estado na direção das necessárias metas para o setor, privilegiando o planejamento, a coordenação estadual, o controle social e a priorização de recursos. O modelo permite ampliar a atual visão que o estado mantém sobre o saneamento em duas direções: na abrangência geográfico-populacional, ao incluir no sistema os municípios não concedentes e as populações rurais, e na abrangência temática, ao incluir as sub-áreas de limpeza pública, drenagem urbana e controle de vetores. A não implementação da Lei 11720/1994, quase oito anos depois de editada, tem explicações e contou com resistências e forças contrárias. Não cabe, no presente texto, procurar identificá-las, 294 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos ainda que de forma especulativa. Mas é fundamental, caso se mantenha a intenção de implementar o sistema da forma como concebido na Lei, não se negligenciar a ação futura dessas forças, a serem identificadas, como possíveis entraves à sua efetivação. Complementarmente, devem ser abordadas questões sobre como mudar, em qual horizonte, com o concurso de quais meios. Os itens seguintes desenvolvem preliminarmente duas importantes dimensões a serem trabalhadas na perspectiva de um novo quadro jurídico-institucional. 9.2. Desenvolvimento institucional Um primeiro aspecto refere-se à necessidade de programas mais articulados para capacitação e treinamento de profissionais, não apenas dando seguimento aos programas que abordam aspectos tecnológicos, mas também em aspectos gerenciais, legais, institucionais. A formação de profissionais com capacidade para relações interdisciplinares e intersetoriais apresenta-se como um imperativo para a consolidação de uma nova ordem no setor. Por outro lado, há que se cuidar da relação entre os entes federativos. Entre municípios, a promoção da cooperação técnica e gerencial, a formação de consórcios intermunicipais e a capacidade de planejamento regional, tendo por unidade as bacias hidrográficas se impõem necessários. Na organização do quadro estadual, um sistema estadual de saneamento colocará como indispensável a criação de um locus institucional que, entre outras atribuições, enxergue o saneamento em todas as suas dimensões, forneça suporte técnico e administrativo ao Conselho Estadual de Saneamento Básico, promova relações extra-setoriais, articule a imprescindível assistência técnica aos municípios e que o plano plurianual estadual de saneamento o PESB previsto em Lei. Necessário, ainda, será estudar a criação de uma agência reguladora dos serviços. Nesse ponto, é importante dissociar a discussão sobre a regulação do debate sobre a privatização: independente da natureza do gestor público ou privado a prestação dos serviços deve sofrer regulação, visando defender os interesses da população usuária. 9.3. Mecanismos integrativos Nesse campo, o desafio seria a articulação de mecanismos de integração com os setores afins, na perspectiva de: com o setor de recursos hídricos, integrar-se conceitual e politicamente com os novos mecanismos e linhas de financiamento do setor; com a área ambiental, articular-se com sua política e suas iniciativas de mitigação dos problemas ambientais, lembrando-se que a disposição de esgotos corresponde à principal causa de poluição de origem orgânica dos recursos hídricos superficiais e os importantes impactos da disposição de lixo; com a área de saúde, interagir a partir do conceito de saúde ambiental que, nos países em desenvolvimento, têm seus mais importantes determinantes no saneamento 14 e especificamente com a área de vigilância ambiental; com o planejamento urbano, vislumbrando a implantação dos serviços em áreas de urbanização precária, que abriga o maior contingente de excluídos das ações de saneamento. 14 Smith (2000). Capítulo 4 - Saneamento 295 BDMG 40 anos 9.4. Desenvolvimento tecnológico Embora se reconheça que a Engenharia Sanitária nacional detém competência para o equacionamento dos problemas tecnológicos que se apresentam nas diversas áreas do saneamento e para as diversas realidades, necessidades de aperfeiçoamento e atualização sempre existirão. É importante situar que, nesse aspecto, a área atravessa uma espécie de fase de transição, com a coexistência de três gerações profissionais: a formada com uma mentalidade anterior ao Planasa e que mantém uma visão de tecnologia apropriada, porém nem sempre atualizada; a geração formada sob a égide da lógica planasiana, muitas vezes a incorporando fortemente, e uma terceira geração, mais jovem, que conviveu a maior parte da sua vida profissional após o ocaso do Planasa, enfrentando ao mesmo tempo a desarticulação do setor e as novidades de caráter legal e institucional novas Constituição Federal e Estaduais, leis orgânicas municipais, planos diretores, legislação ambiental, nova lei de recursos hídricos, reorganização do setor saúde, Estatuto da Cidade, entre outras. Nesse contexto, cabe pensar um conjunto de programas destinados a enfocar os problemas mais emergenciais de desenvolvimento tecnológico. Esses programas poderiam ser implementados por meio de redes cooperativas envolvendo universidades, centros de pesquisa, prestadores de serviços de saneamento, meio empresarial e municipalidades. Deveria ser coordenado pelo governo do estado e contar, por exemplo, com financiamento da FAPEMIG, além de outras fontes, inclusive federais. Seria necessário, ademais, desenvolver políticas de longo prazo, que assegurassem a inovação tecnológica, sua difusão, a formação e o treinamento, medidas que sempre devem estar associadas aos programas de desenvolvimento tecnológico. Dentre outras necessidades, iniciativas pertinentes seriam: Programa de redução de perdas físicas nos sistemas de abastecimento de água. Programa de adequação dos sistemas de abastecimento de água, face à Portaria 1469/ 2000 do Ministério da Saúde, que dispõe sobre o controle e a vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Programa de otimização de uso e reuso de águas em meio industrial. Programa de monitoramento da qualidade dos serviços. Programa de desenvolvimento de tecnologias apropriadas nos diferentes setores, tendo em mente a garantia de objetivos de qualidade do serviço, ambientais, de saúde pública e operacional, porém visando a redução de custos e menor complexidade operacional. Programa de monitoramento hidrológico em pequenas bacias hidrográficas urbanas bacias representativas e experimentais, objetivando aprimorar o conhecimento sobre processos hidrológicos em meio urbano bem como sobre os impactos da urbanização em termos de alterações de regime hídrico e de poluição hídrica de origem pluvial; reduzir as incertezas de modelagem e do dimensionamento de sistemas de drenagem; possibilitar o desenvolvimento e/ou o aprimoramento de metodologias de dimensionamento de sistemas de drenagem pluvial; permitir a avaliação da efetividade de políticas de controle de cheias e de redução dos impactos da drenagem pluvial sobre processos hidrológicos; possibilitar a construção de critérios e de indicadores que sirvam de referência ao planejamento urbano, facilitando a integração de requisitos de drenagem pluvial em planos e ações de desenvolvimento urbano. 296 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Programa de desenvolvimento tecnológico de soluções compensatórias de drenagem pluvial urbana (bacias de detenção, trincheiras de infiltração, pavimento permeável, valos de armazenamento e infiltração, entre outras) adaptadas ao contexto brasileiro, em termos dos modelos de urbanismo, das práticas de manutenção, das variáveis climatológicas, dos tipos de solo; incluindo avaliação de custos de implantação e operação, efeito demonstrativo e treinamento. Programa de apropriação dos desenvolvimentos tecnológicos pelos quais atravessa ao país, à luz da realidade estadual. Nesse ponto, mencione-se o Programa Prosab, coordenado pela Finep, que, por meio de pesquisa cooperativa, tem propiciado importantes desenvolvimento e aprimoramento tecnológico nas áreas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e manejo de lodo. 9.5. Marco legal Em relação ao quadro legal, seria necessário acompanhar atentamente a evolução da discussão sobre a legislação federal que instituiria o sistema nacional de saneamento. Note-se que tal legislação poderá inclusive trazer novos contornos para o conceito de titularidade municipal, particularmente para os sistemas que extrapolam o território municipal, o que pode ter grande influência na realidade legal e institucional da RMBH. Em nível estadual, esforços para a regulamentação da Lei 11720/1994 mostram-se necessários, prevendo a criação do sistema estadual de saneamento básico, definindo e instalando o Conselho Estadual de Saneamento Básico e passando a praticar o planejamento plurianual. Adequado equacionamento legal deve ser previsto para o financiamento dos sistemas, vis-à-vis com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Capítulo 4 - Saneamento 297 BDMG 40 anos 10. Considerações finais Conforme assinalado ao longo do texto, o atual quadro de saneamento do Estado, coerentemente como o de todo o país, apresenta importantes carências, a despeito do desenvolvimento que verificou nas últimas décadas. Além disso, apresenta diversas fragilidades, não sendo exagerado sugerir que, dentre as diversas políticas públicas, é a que permanece menos estruturada, com graves deficiências jurídico-legais, institucionais e de financiamento. A pesada dívida social e ambiental representada por esse quadro apenas será quitada, fazendo o Estado brasileiro e mineiro cumprirem seu papel constitucional, com mudanças importantes na organização do setor. Para tal, sem negligenciar os obstáculos e resistências, a regulamentação da legislação estadual existente, que cria o Sistema Estadual de Saneamento Básico, mostra-se etapa indispensável e seminal para se abordar de forma diferenciada as necessidades da população do estado pelos serviços. Tal iniciativa possibilitará enfocar as ações a partir de um planejamento plurianual, permitirá a abertura de canais democráticos de participação social e vislumbrar fontes de financiamento, estabelecendo um ambiente de justiça na alocação dos recursos. A vontade política para essas mudanças poderá, efetivamente, trazer uma nova realidade para o atendimento à população mineira, na medida em que exista um adequado substrato institucional, técnico-científico e legal a apoiarem um novo modelo. 298 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 11. Referências Bibliográficas Programa de Modernização do Setor Saneamento. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento SNIS. Diagnóstico dos serviços de água e esgotos 2000. Brasília: SEDU/ PR: IPEA, 2001. ABDELMAKI, L. Les techniques alternatives dassainissement pluvial par infiltration enjeux technico-economiques et perspectives. Relatório técnico. Lyon, 1999 apud BAPTISTA, M. B.; Nascimento, N. O. Aspectos institucionais e de financiamento dos sistemas de drenagem urbana. RBRH, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 29-49, 2002. ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. 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SANEAMENTO .............................................................................................................................................................. 309 3.1. Diretrizes para atuação do Estado para a melhoria das condições de saneamento ........................................ 310 4. ENERGIA .......................................................................................................................................................................... 312 4.1. Diretrizes para atuação do Estado em relação à CEMIG ................................................................................... 313 5. TELECOMUNICAÇÕES ............................................................................................................................................ 314 5.1. Diretrizes para atuação do Governo Estadual em telecomunicações ............................................................... 315 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................... 316 BDMG 40 anos 1 . Infra-estrutura: gargalos e os espaços para intervenção estadual A presença desse conjunto de estudos no MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI partiu da premissa de que a infra-estrutura é elemento estratégico na produção de praticamente todos os bens e serviços de uma economia e que, portanto, a insuficiência e a ineficiência na sua provisão restringem a capacidade de desenvolvimento econômico e social. Os quatro estudos realizados - cobrindo as áreas de transporte e logística, energia, telecomunicações e saneamento - mostraram que a situação infra-estrutural de Minas Gerais é bastante heterogênea, tanto do ponto de vista dos seus diferentes componentes, como em relação às condições de acesso das várias regiões e estratos da população. Conseguiu-se, por um lado, um nível razoável de acesso da sociedade aos serviços básicos de energia e telecomunicações, mas, de outro, agravaramse carências significativas no acesso aos serviços de saneamento, de transporte e logística. Os estudos revelaram também que há, não apenas carências em áreas específicas, mas, principalmente, deficiências graves que estão, efetivamente, impondo restrições severas ao desenvolvimento do Estado. Tal situação exige, portanto, o empenho e a priorização do Poder Público Estadual visando equacioná-los, em um horizonte de curto e médio prazos. Registra-se a esse propósito que, em face da formatação institucional aplicável ao funcionamento dos diferentes componentes de infra-estrutura, algumas dessas deficiências e gargalos na infra-estrutura de Minas Gerais podem ser alvo de intervenção direta do Governo Estadual, não necessariamente na sua construção e manutenção, mas no sentido de viabilizar a sua provisão. Em outros, porém, o poder decisório encontra-se nas esferas federal ou municipal, o que, entretanto, não retira do Poder Público Estadual a capacidade de influenciar e, mesmo, de articular encaminhamentos relevantes. Observa-se no País, a partir do início da última década, uma alteração no papel do Poder Público na infra-estrutura, de um Estado empreendedor, empresário, para um Estado regulador. Essa mudança vem determinando alterações no desenho institucional, regulatório e gerencial para dos setores de infra-estrutura. O Governo Federal está adiantado nessa tarefa, pois já constituiu agências reguladoras e vem implementando os novos modelos setoriais. Alguns Governos Estaduais e Municipais, em especial em Minas Gerais, ainda não implementaram as mudanças requisitadas pelo novo modelo. Na verdade, os três níveis de governos têm importantes participações na missão de prover a infra-estrutura, atuando diretamente ou regulando a oferta privada dos bens e serviços infra-estruturais. O que importa, assim, é ter claro que existem espaços para atuação estadual nos setores de infra-estrutura, seja complementarmente à União, seja na definição de políticas e estratégias próprias para os diferentes segmentos, ou no apoio aos municípios. O ponto de partida deste capítulo conclusivo é relacionar os principais gargalos na infraestrutura que constrangem o desenvolvimento de Minas Gerais, conforme demonstraram as análises específicas sobre cada um de seus componentes para, em seguida, listar as principais diretrizes que possam subsidiar a atuação do poder público estadual nos próximos anos. A ênfase recai, assim, nas questões emergenciais em que o papel do Setor Público Estadual pode ser decisivo. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 305 BDMG 40 anos 2. Transporte e logística Este é, sem dúvida, o segmento da infra-estrutura que, pela magnitude dos problemas acumulados ao longo de vários anos, e pela gravidade de suas conseqüências sobre a dinâmica da economia mineira, está a exigir uma intervenção imediata do Estado. Alinham-se, como principais conclusões do estudo realizado, várias justificativas a esse respeito: A atual situação das diversas modalidades de transporte em Minas Gerais se apresenta como um dos principais gargalos ao desenvolvimento de Minas Gerais. Tal constatação emerge não apenas no estudo realizado no Capítulo 1 deste volume, que os apontou e mensurou, mas também nas análises desenvolvidas em outras partes do MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI, que demonstram a relação direta entre a competitividade industrial, da agropecuária e da mineração mineira, e a oferta e eficiência da infra-estrutura de transporte e logística. Esses estudos chamam a atenção para o fato de que atualmente a grave situação do setor de transporte e logística em Minas Gerais, em seus diferentes modais, vem determinando uma fundamental restrição ao desenvolvimento estadual, na medida em que impõe uma perda relativa de competitividade às empresas aqui instaladas, tanto em relação ao mercado nacional, quanto ao acesso aos portos de cargas destinadas ao mercado externo, imputando custos adicionais aos produtos das empresas mineiras. Ademais, a ausência de uma infra-estrutura de transporte e logística adequada é fator determinante na decisão locacional de empresas no País, além de ter implicações ambientais e de segurança. Ressalte-se que os estados mais dinâmicos das Regiões Sul e Sudeste são aqueles com melhor infra-estrutura de transporte e logística e que os serviços de transporte e logística têm participação crescente na economia nacional. As disfuncionalidades da rede de transportes em Minas Gerais têm determinado piora na qualidade de vida. Conforme demonstra o estudo realizado, grande parte das rodovias de Minas Gerais poderia ser classificada como estradas assassinas, na medida em que suas condições precárias as transformam em roletas-russas, pois os usuários não sabem quando, ou mesmo se chegarão aos seus destinos. Os elevados índices de acidentes levam, obviamente, a mais gastos com hospitalizações e tratamentos dispendiosos e penosos, fazendo desviar recursos que poderiam ser utilizados na melhoria das condições de saúde e do bem-estar da população. Na modalidade ferroviária, o aumento da sinistralidade, além de impactar negativamente os custos e a eficiência logística, tem implicações ambientais altamente indesejáveis. A Região Metropolitana de Belo Horizonte não dispõe de um sistema de transportes compatível com a sua função de metrópole e com seu peso econômico. Apesar de sua dimensão econômica e de seu papel relevante na funcionalidade da economia mineira, a RMBH apresenta atraso significativo em relação a outras regiões metropolitanas do País no tocante ao transporte urbano. As atuações não coordenadas do Estado e dos Municípios no transporte urbano da Região Metropolitana certamente não contribuem para a otimização do sistema, a partir de uma abordagem integrada da mobilidade e acessibilidade de pessoas na região. Registre-se que o transporte metropolitano tem forte relação com a qualidade de vida e com a ordenação territorial. 306 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Atrasos na adaptação do aparato institucional do Estado ao novo modelo de atuação em transporte e logística. Emerge das conclusões anteriores que a situação dramática dos transportes em Minas enseja atuação decisiva do poder público estadual, diretamente ou em articulação com o Governo Federal e agentes privados. Afinal, a infra-estrutura de transporte e logística faz parte da função de produção de diversos setores da economia e, como se trata, em geral, de um bem público, justifica-se a intervenção estatal. Porém, do ponto de vista institucional, a máquina estadual não se encontra alinhada aos preceitos do novo modelo de atuação no setor, que demanda um novo papel regulador, articulador e gerencial do Estado federativo em determinados modais e segmentos, e a busca de parcerias com o setor privado em outros. A propósito, o incipiente desenvolvimento da integração intermodal está, em larga medida, associado aos problemas institucionais que tornam o processo burocrático e oneroso. 2.1. Diretrizes para a atuação do Governo Estadual no setor de transporte e logística Prioridade na recuperação, adequação e manutenção dos ativos fixos, em especial no segmento rodoviário, haja vista as condições absolutamente precárias das rodovias, em praticamente todas as regiões, o que vem onerando os custos logísticos e impondo restrições sérias ao desenvolvimento do Estado. A precariedade da infra-estrutura de transporte mineira torna urgente um reposicionamento do governo estadual, que nesse contexto, pode atuar em três dimensões igualmente importantes: a. atraindo o investimento privado e implementando a necessária regulação nas vias e sistemas operacionais sob sua jurisdição, ou delegados pelo Governo Federal, e que permitem retorno privado suficientemente atrativo; b. pleiteando recursos públicos para adequação, recuperação e manutenção da malha federal; c. investindo diretamente ou através de parcerias público-privado (PPPs) nas infraestruturas estaduais de transporte que se mostram economicamente inviáveis para a atuação do setor privado. Incentivo ao funcionamento de sistemas integrados e a multimodalidade no transporte de cargas, aproveitando as complementaridades infra-estruturais e assegurando a observância dos aspectos ambientais e de segurança envolvidos. Esta é uma tarefa nova e complexa e, em grande medida, de competência do Governo Estadual. Embora já se possam observar exemplos de arranjos logísticos intermodais no atendimento a algumas cadeias produtivas mineiras, essas iniciativas ainda esbarram em questões infra-estruturais e regulatórias que determinam custos elevados e processos complexos relacionados ao transporte, seja pela inexistência ou deficiências nas interfaces modais, envolvendo a infra-estrutura viária, terminais e sistemas de informação e controle, seja pelas dificuldades de integração das diferentes modalidades, nos planos físico-operacional, gerencial e documental. Por exemplo: deficiências e burocracia, ainda não de todo eliminadas, em operações portuárias, realizadas em outros estados e em terminais rodo-ferroviários internos de transbordo e armazenagem de cargas e o não equacionamento de aspectos processuais no transporte multimodal continuam a desestimular operações dessa natureza e a elevar os custos logísticos. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 307 BDMG 40 anos É fundamental uma ação do Poder Público Estadual diretamente, onde lhe couber, e, indiretamente, sensibilizando o governo federal, outros estados da federação, concessionárias de ferrovias e de instalações portuárias e operadores logísticos, para diminuir as distorções regulatórias e solucionar gargalos infra-estruturais, operacionais e viabilizar novos investimentos. Atuação para o encaminhamento de problemas do transporte metropolitano. Nesse caso, o papel do Governo Estadual é o de reorganizar e regular os serviços intermunicipais, incentivar e articular a coordenação entre municípios numa perspectiva integrada e, no caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, atuar no sentido de captar recursos e orientar a expansão do trem metropolitano, como elo de alta capacidade, e de uma rede integrada de serviços de transporte, incluindo diferentes categorias modais e agentes institucionais. Aprimoramento da função regulatória. O marco inicial para ação de um Estado Federativo é a definição (delimitação) de seus papéis e os do mercado na provisão de infra-estrutura e na prestação dos serviços. Deve-se, ainda, identificar nos segmentos operados pelo setor privado, aqueles em que existem racionalidades econômicas para regulação, visando evitar o abuso do poder de mercado, defender a manutenção da qualidade dos serviços prestados e a proteção ambiental. Melhoria da gestão e da qualidade dos gastos públicos. Um ponto fundamental que deve nortear a ação do Estado em todas as suas dimensões diz respeito à qualidade dos gastos, item ligado à sua capacidade de gestão. As formas de licitar contratos e o desenho destes contratos devem incentivar os ganhos de qualidade e a redução de custos que, no limite, independente da forma de provisão, representam um ônus para a sociedade. Nesse aspecto, é necessário um aparato institucional e gerencial que permita ao Poder Público atuar segundo as melhores práticas de gestão de recursos e regulação de serviços. Quando se sugere uma maior participação do setor privado (o que, a propósito, vem ocorrendo também nos demais segmentos de infra-estrutura), o arcabouço institucional e regulatório e o desenho dos contratos são fundamentais. Isso porque a atração de investimentos privados nos serviços de infra-estrutura só será bem sucedida, se os empresários acreditarem que as regras acordadas têm suficiente credibilidade. Por outro lado, é importante lembrar que empresas privadas têm como objetivo principal a maximização de lucros. Desse modo, o governo precisa criar regras críveis e, ao mesmo tempo, estar atento para coibir a geração de lucros extraordinários, resultados de práticas abusivas, em detrimento dos usuários. Para o setor de transporte e logística, portanto, cabe ao Poder Público Estadual viabilizar recursos, articular esforços de múltiplos agentes públicos e privados envolvidos e implementar novos modelos de gestão e regulação que permitam a reconstrução, adequação, manutenção e operação de uma infra-estrutura de transporte e logística que seja efetivamente indutora do desenvolvimento estadual. As políticas propostas no Capítulo 1 deste volume, se bem implementadas, ajudarão, nas palavras dos autores, na (...) estruturação de um sistema multimodal de transportes, capaz de oferecer, aos cidadãos e setores produtivos, serviços de qualidade, com segurança e sustentabilidade econômico-financeira, ambiental e social. 308 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos 3. Saneamento A visão atual de desenvolvimento, ao abarcar a questão da sustentabilidade ambiental e social, situa a ausência ou desigualdade no acesso ao saneamento como outro importante gargalo ao desenvolvimento sustentável em Minas Gerais. Acrescentam-se a grande diversidade entre diferentes regiões e municípios no acesso aos diferentes componentes do saneamento e a relação direta e decisiva entre a disponibilidade de saneamento e as condições de vida. Com base nos estudos constantes nesse volume, que abordou seus componentes principais - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e drenagem urbana pode-se alinhar vários pontos relevantes, que reclamam a participação ativa do Estado: Desigualdade no acesso e situação de carência extrema em algumas localidades. Em geral, as regiões do Jequitinhonha/Mucuri, Norte e Noroeste, apresentam as maiores carências se comparadas com a Região Central, o Triângulo, o Alto Paranaíba e o Sul de Minas. Esse quadro reflete as desigualdades de riqueza entre regiões e tem alta correlação com os indicadores regionais de saúde, principalmente nas doenças evitáveis com o saneamento. Apesar do acesso ao saneamento ter evoluído na última década, a questão ainda é dramática em algumas localidades. No caso do abastecimento de água, observa-se, além da grande defasagem nos municípios delimitada pelo eixo noroeste-sudeste, a presença de diversos outros municípios com baixa cobertura de atendimento, espalhados por outras partes do território estadual. A situação do esgotamento sanitário é ainda mais dramática. Aqui também se observa que, além da heterogeneidade da cobertura, as defasagens do atendimento também são generalizadas. Apenas 10% dos municípios apresenta uma cobertura considerada satisfatória (mais de 80% de atendimento domiciliar), enquanto que a grande maioria encontra-se abaixo da faixa de 60% de cobertura. Relacionam-se, a seguir, alguns aspectos importantes da análise desenvolvida no estudo que compõe este volume, em relação às quais a atuação do Poder Público Estadual pode ser fundamental para a melhoria das condições de saneamento em Minas Gerais. As disfuncionalidades no modelo institucional impedindo uma atuação mais abrangente do Estado. Conforme define a Constituição, o saneamento é de responsabilidade precípua municipal. Tal configuração está alinhada ao princípio da subsidiariedade, mas pode, principalmente em regiões carentes e sem representatividade política, representar um entrave ao desenvolvimento do setor. O marco regulatório federal para o setor ainda não está plenamente definido e, algumas propostas, como a desverticalização do setor, transferência para os estados da concessão metropolitana, estão na agenda federal. Em relação a dois dos componentes água e esgotamento sanitário pode-se dizer que o governo estadual exercita, em alguma medida, uma política de saneamento, através da COPASA, com maior ênfase no abastecimento de água. Esta empresa pública estadual é a concessionária de abastecimento de água em 61,2% dos municípios mineiros. Em relação ao esgotamento sanitário a empresa atua em 6% dos distritos, incluindo Belo Horizonte e outros municípios de médio e grande porte que abrangem boa parte da população mineira. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 309 BDMG 40 anos A atuação da COPASA permite a provisão dos serviços em áreas e a estratos carentes da população, por meio da adoção de um sistema de subsídios cruzados, financiando, por exemplo, regiões ou classes de consumidores carentes com receitas obtidas em regiões e classes de consumidores com maior capacidade de pagamento ou de menor custo. Essa prática de subsídioscruzados, no entanto, não contempla a integridade dos municípios mineiros e sequer todos os serviços de saneamento. Além disso, está sendo questionada pelos municípios penalizados. No caso dos demais segmentos, o Governo Estadual tem estado praticamente ausente. Em denagem urbana, dos 853 municípios de Minas Gerais, 671 (79%) relataram oferecer tais serviços. Trata-se de um serviço essencialmente provido pela administração direta do Poder Público Municipal (99,5% dos municípios com serviço de drenagem). Da mesma forma, na limpeza pública o serviço é predominantemente prestado pela administração direta municipal, em 838 de 912 distritos (91,9%). Concorrem para agravamento das desigualdades de acesso ao saneamento, além das mencionadas disfuncionalidades do modelo institucional, o fato de que a Lei n.º 11.720, de 1994, (que criou o Sistema Estadual de Saneamento) nunca ter sido regulamentada. Tal situação, em alguma medida, tem impedido que o poder público estadual consolide e amplie sua atuação institucional, o que, conforme observado, é feito apenas parcialmente em relação ao abastecimento de água e de esgotamento sanitário. A polêmica em torno do modelo de subsídios cruzados. Conforme observado, essa prática, além de não contemplar a integridade dos municípios e sequer todos os serviços de saneamento, está sendo questionada pelos municípios penalizados. Emblemático é o caso de Belo Horizonte, onde o poder público municipal tenta restabelecer a gestão municipal do abastecimento de água e de esgotamento sanitário. A discussão, de fato, abrange toda a RMBH, pois há opiniões que essa seria área de concessão estadual. A presença de subsídios-cruzados, embora questionada, pode ser o melhor mecanismo disponível para financiamento do saneamento, principalmente em regiões carentes com demandas emergenciais. De outra forma, o Estado ou os municípios teriam de obter ou realocar recursos tributários. Dada a atual situação fiscal do Estado e da maioria dos municípios, a já alta carga tributária vigente e a menor eficiência da arrecadação em relação à cobrança de tarifas, é razoável supor que os subsídios-cruzados são atualmente desejáveis1 . 3.1. Diretrizes para atuação do Estado para a melhoria das condições de saneamento Encaminhamento de mecanismos eficientes para a atuação em todos os municípios mineiros. Optando-se pela manutenção da atual estrutura tarifária da COPASA, deve-se refletir sobre o tratamento aos municípios fora da área de concessão da empresa. Nesses municípios existem grandes desigualdades no acesso à infra-estrutura de saneamento e, a princípio, os municípios carentes não têm como recorrer a subsídios-cruzados. A análise desenvolvida cogita a possibilidade de o governo estadual coordenar uma câmara de compensação para amenizar o problema. 1 310 Tecnicamente, supõe-se, nesse caso, que o custo-sombra dos fundos públicos é superior às distorções geradas pelos subsídios-cruzados. Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento BDMG 40 anos Mapeamento e atuação para a obtenção de recursos federais e internacionais existentes para investimento. Importa ressaltar que o Estado, além de sua ação através da COPASA, atua no financiamento ao saneamento através do Fundo NOVO SOMMA, de propriedade do BDMG, provendo recursos diretamente aos municípios, inclusive para investimentos em drenagem urbana e limpeza pública. Todavia, tal como em outros componentes de infra-estrutura, cabe ao Governo Estadual a viabilização de recursos adicionais para a realização de investimentos em saneamento, em todas as modalidades, por meio do apoio financeiro aos municípios. A concessão de crédito aos municípios poderia, além de obedecer aos trâmites usuais, conter mecanismos que os incentivem a atuarem seguindo as diretrizes estaduais intersetoriais. É necessária, primordialmente, a adoção de critérios claros de priorização dos investimentos, com especial ênfase para o impacto social e sobre a saúde. Outro exemplo está associado à escolha tecnológica. Em regiões esparsas, a tecnologia mais eficiente para esgotamento sanitário pode ser através de dispositivos de infiltração dos efluentes, como a fossa séptica (sumidouro). A concessão do financiamento poderia considerar estes fatores, como forma de evitar desperdício ou mesmo má fé na alocação dos recursos. Incentivo a novas tecnologias para saneamento. Outro importante foco de atuação do Governo Estadual é no desenvolvimento tecnológico e industrial. O Governo Estadual poderia incentivar, através dos seus órgãos de ciência e tecnologia e da COPASA, a formação de redes entre Centros de Pesquisa, empresas e comunidades, com vistas à utilização de novas tecnologias. Em resumo, a estratégia do Poder Público Estadual, em sua atuação no setor de saneamento, está vinculada à gestão empresarial e estratégica da COPASA, à sua articulação com os municípios e órgãos financiadores, incluindo o BDMG e os recursos do NOVO SOMMA. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 311 BDMG 40 anos 4. Energia Com base no estudo realizado no Capítulo 2, podem se alinhar algumas observações relevantes em relação ao setor de energia. A oferta de energia elétrica, em Minas Gerais, pode ser considerada relativamente satisfatória. A última matriz energética de Minas Gerais identifica a energia elétrica de fonte hidráulica como responsável por 38% do consumo mineiro, seguida pelo petróleo, gás natural e derivados, lenha e derivados e carvão mineral e derivados. No caso da energia elétrica, ênfase da análise desenvolvida neste volume, de modo geral, a oferta em Minas Gerais pode ser considerada satisfatória, para consumidores residenciais urbanos e industriais. O Estado ainda não concluiu os trabalhos de adaptação ao novo modelo regulatório. Em termos de políticas regulatórias, o papel do Poder Público Estadual, em especial para o setor de energia elétrica, é residual, haja vista a competência federal de regular o setor. Há, entretanto, algumas importantes peculiaridades, que terão impactos importantes na estrutura de oferta de energia em Minas Gerais. A regulação do setor, de responsabilidade de uma agência federal ANEEL determinou a desverticalização das companhias integradas em geração, transmissão e distribuição, e a criação de empresas comercializadoras. A transmissão e a distribuição, segmentos com características de monopólio natural, serão alvo de regulação para evitar abuso do poder de mercado, enquanto, na geração e na comercialização, a competição será incentivada. A previsão era de que a CEMIG se desverticalizasse em torno de uma holding em outubro de 2002, o que, pelo menos até a conclusão desse trabalho, ainda não havia sido efetivado. Há, assim, alguns desdobramentos importantes a serem encaminhados pelo Estado, visando a adaptação da empresa estatal ao novo modelo institucional. Ademais, o novo modelo regulatório traz conseqüências importantes para o mercado de energia elétrica. Energia elétrica: as restrições do novo modelo à prática de subsídios-cruzados. Um dos principais impactos esperados desse novo modelo para o setor de energia elétrica é o fim dos subsídios-cruzados, que atualmente privilegiam consumidores em alta tensão. Essa nova situação, com certeza, implicará aumento de custos para esse tipo de consumidores, com forte presença em Minas Gerais. A alternativa para esses consumidores poderá ser a autoprodução. Outras conseqüências do novo modelo regulatório para a CEMIG. Uma é a figura da comercializadora de energia que permitirá que consumidores livres escolham qual empresa irá fornecer energia. Essa nova situação, sem dúvida, impõe elementos para a CEMIG em relação a sua competitividade. O arcabouço regulatório do novo modelo não contempla a atuação do governo estadual no despacho de energia, isto é, a definição, por exemplo, das áreas a serem atingidas por um eventual racionamento é de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS). Tal situação e, principalmente, o fim dos subsídios-cruzados que beneficiavam os grandes consumidores, por óbvio, vêm estimulando a autoprodução por parte das empresas de elevado consumo. 312 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento O estudo sobre energia, apresentado no Capítulo 2, conclui que existem oportunidades de negócios para a CEMIG, no contexto do novo modelo regulatório. Importa, assim, assinalar que o Governo de Minas Gerais, como controlador da CEMIG, pode atuar no sentido de promover o crescimento da empresa e o atendimento aos setores produtivos mineiros. BDMG 40 anos 4.1. Diretrizes para atuação do Estado em relação à CEMIG Atuação pró-ativa para o estabelecimento de parceiras A autoprodução de energia está sendo crescentemente estimulada nos casos de empresas de setores eletrointensivos, consumidores em alta tensão, ou mesmo em consumidores de grande porte, uma vez que esses consumidores acabaram por perder parte dos benefícios que possuíam no antigo modelo e não estão dispostos a correr o risco de um novo racionamento. Contudo, como essa não é a atividade-fim dessas empresas e a CEMIG possui expertise singular, o estabelecimento de parcerias através de project finance ou de outros mecanismos representa uma importante oportunidade de negócios para a CEMIG. Todavia, considerando que essa situação pode também se transformar em perda de mercado para a CEMIG - uma vez que as empresas que buscam a autoprodução podem firmar parcerias com outras empresas - é fundamental a atitude pró-ativa, buscando garantir o mercado. Captação de novos consumidores Outra oportunidade para a CEMIG e, no limite, para o Governo Estadual, é a captação de novos consumidores, através da efetivação da comercializadora, em outros Estados. O crescimento da empresa mineira fora das fronteiras estaduais pode proporcionar relevante fonte de recursos para o Governo Mineiro. Diversificação da atuação para o aumento da competitividade mineira Por fim, a ação coordenada da CEMIG, da Infovias (telecomunicações), da GASMIG (companhia de gás)2 e da EFICIENTIA (soluções energéticas) representa um significativo elemento de diferenciação para atração de empreendimentos em Minas Gerais. Cabe, portanto, ao Poder Público Estadual, contribuir para a manutenção da excelência empresarial da CEMIG, e influir, enquanto controlador, em alinhar a estratégia corporativa da empresa com as diretrizes estratégicas do Governo Mineiro. O limite para esse alinhamento é dado pela necessidade de manter a eficiência administrativa e financeira da CEMIG e de atender a regulamentação do setor. Como mencionado, em termos de políticas regulatórias, o papel do Poder Público Estadual para o setor de energia é residual, haja vista a competência federal de regular o setor. Basicamente o Governo Estadual pode atuar tornando o ambiente, no Estado, mais propício ao crescimento do setor. 2 A GASMIG, empresa de gás natural, já possui redes na RMBH, Juiz de Fora e Barbacena e atende consumidores dos segmentos de energia elétrica, industrial e automotivo. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 313 BDMG 40 anos 5. Telecomunicações O estudo desenvolvido no Capítulo 3 deste volume concluiu que, em Minas Gerais, não se reconhecem relativas carências inibidoras do desenvolvimento do Estado do ponto de vista das telecomunicações. Ressalte-se, além disso, que se trata de um setor onde a atuação do Governo Estadual é restrita. De todo modo, é importante a atenção do Poder Público Estadual visando garantir, ao Estado, as vantagens do processo de evolução do setor. Podem ser destacadas, nesse sentido, algumas observações relevantes. Nos últimos anos, a evolução do acesso da população aos serviços de telecomunicações foi surpreendente. É muito expressiva a evolução do acesso da sociedade aos serviços de telecomunicações após a reestruturação do sistema iniciada em 1995. O realinhamento das tarifas e os incentivos à universalização propiciaram, principalmente na telefonia, um aumento na oferta de terminais privados e públicos. Em Minas Gerais, a evolução seguiu a mesma direção. Atualmente, com exceção da zona rural, é possível obter acesso aos serviços de telefonia em praticamente todo o Estado. A posse de telefone que, em 1993, era privilégio de 18,9 % da população, em 2000 alcançou 41% dos domicílios mineiros. Obviamente, a renda das famílias é um fator inibidor da demanda, ainda que, para as faixas de menor renda, a atual disponibilidade de terminais públicos é, em larga medida, indicativo de universalização. O estudo desenvolvido concluiu, adicionalmente, que, em Minas Gerais, há um campo importante que pode ser explorado pelo Estado, no sentido de aprimorar e buscar uma ainda maior universalização do acesso, com vistas à inclusão digital. Há iniciativas interessantes de órgãos estaduais em relação às telecomunicações, mas, o tema ainda não mereceu um tratamento institucional adequado. Ressalte-se, em relação à inclusão digital, a existência do programa Internet Comunitária coordenado pela PRODEMGE, que visa a instalação de terminais de acesso público à internet através de doações de equipamentos de empresas privadas e ONGs. Esse tipo de parceria deve ser aproveitado e ações similares incentivadas. Do ponto de vista institucional, o Estado conta com um órgão estadual no setor de telecomunicações, o DETEL, cujos objetivos principais são a implantação de postos telefônicos rurais através do Plano Estadual de Telefonia Rural - PETR e implantação e manutenção de sinais de TV gerados no Estado, através do Plano Estadual de Repetição e Retransmissão de sinais de TV - PERRTV. Percebe-se tímida atuação desse órgão nos últimos anos, motivada, principalmente, pela mudança no modelo que reduz o papel estadual no setor. O Governo do Estado de Minas Gerais controla, através da CEMIG, a Infovias, empresa de circuitos e redes especializados. O principal objetivo da Infovias é vender acesso a empresas de telecomunicações que atendam aos consumidores finais. Em função da convergência digital, vários serviços telefonia, acesso à Internet em alta velocidade, TV a Cabo, etc. podem utilizar as redes da Infovias. Atualmente a Infovias atende, entre outras, uma operadora de TV a Cabo, a própria CEMIG e outros clientes que utilizam seus circuitos. Seu campo de atuação é grande clientes corporativos e os setores públicos federal, estadual e municipal e as perspectivas são boas, haja vista a existência de economias de escopo entre os serviços da CEMIG e da Infovias que permitem relevantes vantagens competitivas. 314 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento Atuar no sentido de viabilizar a inclusão digital, ou seja, a universalização dos serviços essenciais de telecomunicações, principalmente na zona rural. O Governo Federal, através do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações FUST dispõe de recursos para implantar, entre outros serviços, acesso à Internet em escolas e locais públicos, programas de segurança pública e telefonia para população de baixa renda. A heterogeneidade de Minas Gerais no acesso aos serviços de telecomunicações torna fundamental o papel do Governo Estadual na captação destes recursos. BDMG 40 anos 5.1. Diretrizes para atuação do Governo Estadual em telecomunicações: Maximizar as oportunidades que o avanço das telecomunicações oferecem em relação a novos empreendimentos vinculados ao desenvolvimento tecnológico. O Governo Federal conta, ainda, com outro fundo vinculado aos propósitos de promover a pesquisa e o desenvolvimento da indústria nacional no setor de telecomunicações, o FUNTEL. Minas Gerais, por sua vez, tem relativa expertise nessa área, determinando, desse modo, a oportunidade de se buscar uma eficiente utilização dos recursos, por meio de uma atuação efetiva do BDMG e da FAPEMIG. Em relação a esses dois pontos, é importante assinalar que a lógica para obtenção de recursos, dada a independência político-institucional da agência reguladora federal (ANATEL) e dos agentes repassadores, é a existência de bons projetos. Nesse sentido, é importante a coordenação do governo estadual para identificar junto aos diversos atores da sociedade civil quais são as prioridades na alocação de recursos e, com essas informações, pleiteá-los através da apresentação de bons projetos. Portanto, nesse segmento, cabe ao Poder Público Estadual atuar, principalmente através do BDMG, como articulador de projetos para captar recursos no FUST e FUNTEL e ampliar significativamente a inclusão digital e o desenvolvimento tecnológico. Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 315 BDMG 40 anos 6. Considerações finais A situação atual dos setores de infra-estrutura, em Minas Gerais, é de precariedade no saneamento e no transporte e logística e de melhor situação na energia e telecomunicações. Não obstante, Minas Gerais parece ter uma vantagem comparativa pouco aproveitada em relação a outras unidades federativas, pois tem como articular, diretamente, provisão de infra-estrutura, seja para atrair novas empresas ou aumentar a competitividade das existentes, seja para promover incremento na qualidade de vida. A presença de empresas controladas pelo Estado, em diversos setores de infra-estrutura, permite uma melhor coordenação do Estado, que, ao contrário de outras unidades federativas, não precisa negociar com diferentes atores em cada setor infra-estrutural. Isso proporciona menor risco aos investidores privados, uma vez que a negociação para provisão de um conjunto infraestrutural energia, telecomunicações, saneamento, transporte e logística pode ser feita diretamente com o Governo do Estado e não com múltiplos atores. O menor risco regulatório é fator determinante na decisão locacional das empresas, mas, para isso ocorrer, é fundamental que as empresas estaduais se alinhem em torno das diretrizes do governo, de forma que todos possam, ao final, colher resultados positivos. 316 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento Patronos Frederico Penido de Alvarenga - Secretário de Estado do Planejamento e Coordenação Geral - SEPLAN José Augusto Trópia Reis - Secretário de Estado da Fazenda - SEF Mauro Santos Ferreira - Secretário de Estado de Recursos Humanos de Administração - SERHA Murilo Paulino Badaró - Presidente do Banco de Desenvolvimento S.A. - BDMG BDMG 40 anos MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI Consultor Especial João Camilo Penna Consultores Orientadores Antônio Barros de Castro Caio Márcio Marini Clélio Campolina Diniz João Carlos Ferraz Luis Aureliano Gama de Andrade Paulo Roberto Haddad Consultores Internos do BDMG Camilo Cândido de Araújo Júnior Fernando Lage de Melo Francisco José de Oliveira Iran Almeida Pordeus Ismael Fernando Poli Villas Boas José Lana Raposo Júlio Onofre Mendes de Oliveira Mário José Ferreira Ofir de Vilhena Gazzi Paulo Roberto Petrocchi Ribas Costa Colaboradores como Relatores nos Workshops e Seminário de Integração Alexandre José Pinheiro Neto Alfio Conti Antônio Carvalho Neto Antônio Barros de Castro Caio Márcio Marini Camilo Cândido de Araújo Júnior Cândido Luís de Lima Fernandes Carlos Alberto Teixeira de Oliveira Carlos Aníbal Nogueira Costa Carlos Aurélio Pimenta Carlos Fernando da S. Viana Carlos Maurício Ferreira Cézar Manoel de Medeiros Clélio Campolina Diniz Coronel Severo Augusto Débora Vainer Barenboim Deputado Rafael Guerra Dilma Seli Pena Pereira Capítulo 5 - Garlalos e os espaços para intervenção estadual 317 BDMG 40 anos Evando Mirra de Paula e Silva Fabiana Borges Teixeira Santos Fábio Wanderley Reis Fabrício Augusto de Oliveira Fernando Kelles Fernando Martins Prates Francisco Gaetani Gelmara Gonçalves de Paula Kraft Gilberto Morais Pimenta Gleison Pereira de Souza Heloísa Helena Fernandes Heloísa Regina Guimarães de Meneses Iran Almeida Pordeus Ivan Moura Campos Jacques Schwartzman João Camilo Penna José Cláudio Linhares Pires Juliana Rodrigues de Paula Chiari Juvenil Tibúrcio Félix Luiz Afonso Vaz Oliveira Márcio Damázio Trindade Márcio Favilla Lucca de Paula Maria de Fátima Chagas Dias Coelho Maria Eliana Novaes Maria Luisa Leal Marieta C. A. Vitorino Maurício Borges Lemos Mauro Borges Lemos Nelson Santos Siffert Filho Nuno Monteiro Casassanta Paulo de Tarso Resende Paulo Roberto Haddad Paulo Roberto Rocha Brant Ralfo Edmundo da Silva de Matos Renata Maria Paes de Vilhena Roberto Messias Franco Robson Napier Borchio Rodrigo Ferreira Simões Ronaldo Lamounier Locatelli Saulo Marques Cerqueira Teodoro Alves Lamounier O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. BDMG, agradece a todos aqueles que, de forma direta e indireta, contribuíram para o enriquecimento da obra Minas Gerais do Século XXI, através de suas participações em Workshops e no Seminário de Integração. Agradece ainda, a todas as Instituições públicas e privadas, que auxiliaram na construção dos diversos volumes que compõem este Estudo. 318 Minas Gerais do Século XXI - Volume III - Infra-estrutura: Sustentando o desenvolvimento