DIRIGÍVEIS: UMA ALTERNATIVA PARA O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS Telmo Roberto Machry DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES. Aprovada por: ________________________________________________ Prof. Hostílio Xavier Ratton Neto, Dr. ________________________________________________ Prof. Amaranto Lopes Pereira, Dr. Ing. ________________________________________________ Prof. Respício Antônio do Espírito Santo Júnior, D. Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL DEZEMBRO DE 2005 MACHRY, TELMO ROBERTO Dirigíveis: uma alternativa para o transporte de cargas especiais [Rio de Janeiro] 2005 XII, 77 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M. Sc., Engenharia de Transportes, 2005) Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Dirigíveis no transporte de cargas 2. Transporte de cargas excedentes I. COPPE/UFRJ II. Título (série) ii DEDICATÓRIA À minha esposa Tânia, pela paciência, incentivo e apoio incondicional, nunca esmorecido nesses últimos vinte e cinco anos de convívio e aos meus queridos filhos Lívia e Hugo para que esse esforço sirva de incentivo ao contínuo aprimoramento intelectual de cada um. iii AGRADECIMENTOS Ao Professor Hostílio pela dedicação, seriedade e profissionalismo empenhados na nobre atividade da pesquisa cientifica e pela orientação de altíssimo padrão que possibilitou a confecção deste trabalho. Ao Professor Amaranto pelos exemplos de vida e dedicação ao ensino, dignos de serem seguidos por todos, e pela honra de compor a banca examinadora. Ao Professor Respicio pelo privilégio de fazer parte da banca. Aos meus superiores da Escola de Comando e Estado-Maior da Força Aérea por terem proporcionado a oportunidade ímpar de cursar o Mestrado do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE. Aos professores do PET por todas as competências que demonstraram, facilitando a assimilação do conhecimento transmitido de uma forma agradável e produtiva. Aos funcionários do PET André, Luciano, Helena, Jane, Cássia e Rose pelo apoio proporcionado e pela convivência harmoniosa e alegre. Aos engenheiros Wallace e Marco de Furnas Centrais Elétricas por terem disponibilizado dados relativos ao problema dos deslocamentos das cargas excedentes daquela companhia, fundamentais para a complementação deste trabalho. iv Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) DIRIGÍVEIS: UMA ALTERNATIVA PARA O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS Telmo Roberto Machry Dezembro/2005 Orientador: Hostílio Xavier Ratton Neto Programa: Engenharia de Transportes Este trabalho tem como objetivo demonstrar a viabilidade de um sistema de transporte aéreo baseado no emprego de dirigíveis de grande porte. Partindo da hipótese de usar essas aeronaves como uma alternativa ao transporte de superfície, nos casos de deslocamentos de cargas excedentes, procurou-se analisar os aspectos econômicos, operacionais, ambientais e estratégicos dessa modalidade de transporte. Para testar o sistema proposto foram apresentados casos específicos de movimentação de volumes e pesos excedentes nos quais os resultados calculados comprovam a viabilidade da proposta e onde ficam evidenciadas as vantagens dos dirigíveis nesse segmento específico da logística de transporte. v Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.). AIRSHIPS: AN ALTERNATIVE FOR THE TRANSPORT OF THE SPECIAL LOADS Telmo Roberto Machry December/2005 Advisors: Hostílio Xavier Ratton Neto Department: Transport Engineering The purpose of this dissertation is to demonstrate the viability of an air transport system based on the use of airships. Starting from the premises that airship is a reliable alternative to surface transportation of additional loads, specific analysis of economic, operational, strategic, environmental and logistic aspects of the airship analysis of this mean of transportation was held. In order to evaluate the proposal system efficiency, a serie of cases of additional freights analysis have been conducted, which have proved the viability of the system proposal, a well as emphasized the advantages of using airships in this specific field of air transport logistic. vi ÍNDICE LISTA DE FIGURAS...................................................................................... ix LISTA DE TABELAS..................................................................................... xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS...................................................... xii CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO……………………………………………………….… … 1 1.1 JUSTIFICATIVA..................................................................................................2 1.2 RELEVÂNCIA DA PESQUISA............................................................................3 1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .......................................................................5 1.4 OBJETIVOS........................................................................................................5 1.5 HIPÓTESES .......................................................................................................7 1.6 DELIMITAÇÃO....................................................................................................7 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO……………………………………………….…..…8 CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA ...........................10 2.1 METODOLOGIA ...............................................................................................12 CAPÍTULO 3 - A GLORIOSA ERA DOS GIGANTES DOS CÉUS…………………….17 3.1 NOÇÕES BÁSICAS..........................................................................................17 3.2 OS DIRIGÍVEIS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL.......................................19 3.3 OS DIRIGÍVEIS ALEMÃES...............................................................................21 3.4 OS DIRIGÍVEIS AMERICANOS .......................................................................24 3.5 AS TENTATIVAS INGLESAS ...........................................................................25 3.6 OS DIRIGÍVEIS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ......................................26 vii CAPÍTULO 4 - O ESTADO DA ARTE DOS DIRIGÍVEIS MODERNOS……………….27 4.1 ALEMANHA ......................................................................................................27 4.2 INGLATERRA ...................................................................................................31 4.3 OUTROS PROJETOS ......................................................................................34 CAPÍTULO 5 - O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS......................................38 5.1 LEGISLAÇÃO ...................................................................................................38 5.2 O PROBLEMA DO TRANSPORTE DE CARGAS INDIVISÍVEIS .....................39 5.3 CUSTO DAS OPERAÇÕES .............................................................................43 CAPÍTULO 6 - UMA ALTERNATIVA PARA O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS…………………………………………………………………………...52 6.1 ASPECTOS OPERACIONAIS ..........................................................................52 6.2 ASPECTOS ECONÔMICOS ............................................................................55 6.3 ASPECTOS AMBIENTAIS................................................................................61 6.4 ASPECTOS ESTRATÉGICOS .........................................................................65 6.5 DESVANTAGENS............................................................................................ 67 6.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS DIRIGÍVEIS...... 68 CAPÍTULO 7 - CONCLUSÃO ......................................................................................70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................75 viii LISTA DE FIGURAS Figura 3.1: Controle Aerostático…………………………………………..………… 18 Figura 3.2: Graf Zeppelin………………………………………………………..…… 21 Figura 3.3: Sala de Jantar do Hindenburg ………………………………………... 23 Figura 3.4: US Macon………………………………………………………………… 24 Figura 3.5: Curtis F9C no Macon …………………………………..………….. …... 25 Figura 4.1: Zeppelin NT 07……………………………………………………… …... 27 Figura 4.2: CargoLifter CL-160…………………………………………………. …… 29 Figura 4.3: Skyship 500…………………………………………………………. …… 30 Figura 4.4:Protótipo do SkyCat…………………………………………………. …… 32 Figura 4.5: Lighships da Goodyear …………………………….…………………... 34 Figura 4.6: Rosaerosystem MD-900…………………………………………… …… 36 Figura 5.1: Autorizações Especiais de Trânsito………………………………. …… 41 Figura 5.2: Mapa do PBTC nas Rodovias Federais …………..…………….. …… 41 Figura 5.3: Restrições Físicas nas Rodovias Federais……………………………. 42 Figura 5.4: Obras de Arte Especiais Cadastradas…………………………………. 42 Figura 5.5: Restrições Físicas nas Rodovias Federais (RJ) ……………………… 43 Figura 5.6: Primeira Etapa da Operação 1 …………………………………………. 44 Figura 5.7: Itinerário Urbano Inicial…………………………………………………… 45 Figura 5.8: Itinerário pelo Centro do Rio …………………………..………….. ……. 46 ix Figura 5.9: Itinerário Rodoviário…………………………………………………….… 47 Figura 5.10: Segunda Etapa da Operação 1 …………………..…………….. ……. 48 Figura 5.11: Transporte de Equipamento da REFAP…………………………….… 50 Figura 5.12: Transporte de Cargas Excedentes……………………………… ……. 51 Figura 6.1: Cabine do Zeppelin NT …………………………………….…………… 54 Figura 6.2: Projeção de Custos do Projeto SkyCat…………………………... …… 57 Figura 6.3: Potencial de Mercado……..………….…………………..………... …… 60 Figura 6.4: Área de Estacionamento…………………………………………........… 64 Figura 6.5: Projeto Walrus………………………………………………………. …… 66 x LISTA DE TABELAS Tabela 4.1: Características do Zeppelin NT 07………………………………… 28 Tabela 4.2: Características do CargoLifter CL-160…….................................. 30 Tabela 4.3: ABC Lightship………………………………………………………… 35 Tabela 4.4: Características dos Dirigíveis Russos Rosaerosystems………… 36 Tabela 6.1: Custos Comparados com outras Aeronaves……………………… 57 Tabela 6.2: Projeção de Custos do Projeto SkyCat……………………………. 58 xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATG Advanced Technologies Group CTA Centro Tecnológico Aeroespacial DARPA Defense Advanced Research Projects Agency (Agência de Pesquisa Avançada de Projetos de Defesa) DNIT Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes EFIS Eletronic Flyght Instruments System (Sistema Eletrônico de Instrumentos de Vôo) EICAS Engine Indication And Alerting System (Sistema de Indicação e Alerta de Funcionamento dos Motores) GPS Global Position System (Sistema de Posicionamento Global) ITA Instituto Tecnológico da Aeronáutica LCD Liquid Crystal Display (Mostrador de Cristal Líquido) LTA Lighter-than-air (Mais leve que o ar) NASA National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço) PBTC Peso Bruto Total Combinado REFAP Refinaria Alberto Pasqualine RNC Radio Navigation Charter (Cartas de Rádio Navegação) SIVAM Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia UNIFA Universidade da Força Aérea VANC Veículo Aéreo Não Convencional xii CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Durante a Primeira Guerra Mundial, em meados de novembro de 1917, uma das colônias do Império Germânico no leste da África encontrava-se sofrendo forte ataque de forças britânicas superiores. A guarnição clamava por medicamentos e suprimentos bélicos para manter a posição. Decidiu-se, então, enviar apoio aéreo partindo da base de dirigível mais próxima, que se encontrava a uma distância de 5.800 km da guarnição. Para tal missão foi empregado o dirigível LZ 59, transportando onze toneladas de suprimento bélico e três de medicamentos, que partiu de Jamboli, Bulgária, para uma viagem planejada de quatro dias, com uma velocidade média prevista de 65 km/h. A aeronave já se encontrava sobrevoando o território africano quando recebeu ordem de retornar. A guarnição havia se rendido (WHITE, 1978). Apesar de ter fracassado como missão de apoio, o dirigível havia transportado 14 toneladas de carga e uma tripulação de 22 homens por uma distância de 6.758 km, durante 95 horas e, ao pousar, ainda tinha autonomia para voar mais 65 horas (WHITE, 1978), comprovando a capacidade dos grandes dirigíveis para viagens intercontinentais, naquela época. Após o término da Primeira Guerra Mundial, os dirigíveis retornam aos céus de vários países como um meio alternativo de transporte rápido e seguro para passageiros e cargas. Quando foi proposta a construção do tragicamente famoso Hindenburg, o Graf Zeppelin já havia completado 108 travessias do Atlântico Sul, com destino ao Brasil e a Argentina, e sete do Atlântico Norte (BROOKS, 1983), transportando passageiros com conforto semelhante ao proporcionado pelos navios de cruzeiro daquele tempo. Durante a Segunda Guerra Mundial, essas aeronaves foram empregadas em missões de patrulha marítima e escolta de comboios. Segundo registros da US Navy, conforme menciona White (1978), nenhum navio foi afundado pelo inimigo enquanto esteve sob a escolta dos dirigíveis. Após a guerra, entretanto, os dirigíveis foram progressivamente desativados, sob o pretexto de serem aeronaves demasiadamente frágeis para o emprego militar. 1 1.1 JUSTIFICATIVA O exercício da atividade profissional na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica exige dos oficiais a busca permanente de conhecimentos no campo das ciências militares e aeroespaciais que os habilite a difundir e a propor novas doutrinas de emprego dos meios aéreos. Nas pesquisas realizadas sobre a evolução da doutrina de emprego do poder aéreo na Primeira Guerra Mundial, o episódio citado na introdução e, mais tarde, a demonstração da capacidade do Zeppelin e do Hindenburg para transportar cargas e passageiros com conforto semelhante ao proporcionado pelos transatlânticos, em uma época que a aviação ainda se encontrava no seu estágio inicial de desenvolvimento, conduzem a uma indagação sobre as razões pela qual essa modalidade de transporte não evoluiu. Apesar da suspensão das viagens de transporte de passageiros, após o acidente do Hindenburg, dirigíveis menores de estrutura não-rígida, – os “blimps” – continuaram a prestar relevantes serviços em missões de vigilância e escolta de comboios na Segunda Guerra Mundial. Atualmente essas aeronaves continuam prestando relevantes serviços à sociedade, com potencialidade para estender a sua participação à outros segmentos dos transportes, conforme será demonstrado neste trabalho. A Goodyear Aeroespace Corporation, a mais tradicional fábrica de dirigíveis da América, chegou a produzir centenas deles para a US Navy. Segundo o informativo Notícias Goodyear (2003), como empresa operadora, em mais de oitenta anos, nunca registrou nenhum acidente nas operações civis. Na Alemanha, a Zeppelin Luftschifftecnick Gmbh, descendente da antiga fábrica do Conde Ferdinand von Zeppelin, produz e opera, na atividade turística, o NT LZ N07, com capacidade para transportar doze passageiros e dois tripulantes, conforme encontra-se divulgado na sua página eletrônica (http://www.zeppelin-nt.com, 2005). A maior operadora de “blimps” da atualidade, presente em todos os continentes, exceto na Antártica, a American Blimps Corporation (ABC), já acumulou mais de 100.000 horas de vôo. Com uma frota de dezesseis dirigíveis, doze do tipo A-60 2 Lightships e quatro do tipo A-150 Lightships a companhia voa, em média, 2.000 horas por mês, conforme é relatado no informativo Notícias Goodyear (2003). No Brasil, durante vários anos, a ABC operou um “blimp” do tipo A-60 para publicidade e cobertura de televisão. Essa aeronave, em 2002, operou, por um curto período, em missão de policiamento na cidade do Rio de Janeiro. Foi substituída por uma do tipo A-150, que se encontra, atualmente, baseado na cidade de São Paulo. Empreendimentos audaciosos de aeronaves “mais leve que o ar” (LTA) vêm despertando a atenção do setor de transporte aéreo. São projetos que visam ressuscitar a era dos grandes dirigíveis para o transporte de passageiros e de carga, como o americano Aeros ML da Aeros Airship Company, disponível em http://www.aeros-airships.com (2004). No Reino Unido, a Advanced Technologies Group (ATG) investe no futuro das suas aeronaves em vários campos de atividades. A ATG está desenvolvendo três séries diferentes de produtos: o AT-10, para vigilância policial, publicidade e cobertura de televisão; o StratSat, para servir como plataforma de equipamentos de comunicações e vigilância; e a série SkyCat com suas três versões de LTA: o SkyCat 20, SkyCat 200 e SkyCat 1000, com as capacidades respectivas de vinte, duzentas e vinte e mil toneladas de carga útil (http://www.worldskycat.com, 2004). Contudo, o projeto mais interessante se encontra na Alemanha, com a companhia CargoLifter AG (http://www.cargolifter.com, 2002), que planejava a construção do CL-160 para o transporte de cargas com capacidade de cento e sessenta toneladas, alicerçada nos princípios básicos dos LTA. O CL-160 possui a característica peculiar de possibilitar o processo de carga e descarga flutuando na vertical do local de operações, o que inovaria o transporte de cargas especiais. Esse projeto, entretanto, foi interrompido por falta de recursos financeiros, fato que não o desqualifica como objeto de análise dessa pesquisa. 1.2 RELEVÂNCIA DA PESQUISA O fato histórico, citado anteriormente, do dirigível alemão LZ 59 que, em 1917, transportou quatorze toneladas de carga, percorrendo uma distância de 6.758 km, e mais tarde, a demonstração da capacidade do Zeppelin e do Hindenburg para transporte de cargas e passageiros com conforto semelhante ao proporcionado pelos navios de cruzeiro, 3 em um período em que a aviação ainda se encontrava no seu estágio inicial de desenvolvimento, são exemplos de êxito comprovado que conduzem a indagações sobre as razões pela qual essa modalidade de transporte não evoluiu. O desenvolvimento atual da indústria aeroespacial possibilita a construção de modernas aeronaves mais leves que o ar, capazes de revolucionar o transporte de cargas volumosas. A possibilidade de se dispor de um veículo com capacidade para içar cargas pesadas e volumosas no local de produção e movimentá-las diretamente até o destino final, sem a necessidade de transbordos, é uma idéia que merece especial atenção. Uma análise preliminar das vantagens dessa modalidade de transporte permite verificar que, a despeito do elevado custo do desenvolvimento de um projeto dessa magnitude, os benefícios econômicos, sociais e estratégicos seriam compensadores. Basta imaginar a gama de serviços que poderiam ser executados, tais como o transporte de cargas volumosas, apoio às plataformas marítimas ou continentais de exploração de petróleo, bem como apoio às comunidades isoladas da região Norte e ao projeto SIVAM, transportando suprimento, plantas de antenas de comunicações, meios de detecção, etc. O emprego dos dirigíveis no transporte de cargas volumosas nas áreas industriais evitaria todos aqueles transtornos nas rodovias provocados pelas enormes carretas utilizadas para essa finalidade, que, além disso, aceleram o desgaste das vias, pontes e viadutos, quando é possível utilizá-los. Entretanto, para tornar realidade um projeto dessa natureza é necessário quebrar paradigmas. O primeiro deles é a crença de que os dirigíveis são perigosos. Essas aeronaves ficaram estigmatizadas por causa do acidente do Hindenburg e outros ocorridos naquela época, quando ainda se utilizava o hidrogênio como gás flutuante. É preciso recordar que os acidentes com aviões, na época, eram muito mais comuns. Atualmente, os dados relacionados à segurança das operações dos dirigíveis são totalmente favoráveis. A American Blimps Corporation já voou mais de cem mil horas sem registrar nenhum acidente grave. Outro paradigma a ser quebrado é o da fragilidade dessas aeronaves, que seriam muito vulneráveis às variações climáticas. Para solucionar esse problema existem técnicas e equipamentos adequados para se evitar as áreas inadequadas para o vôo. A 4 tripulação do Zepellin, na década de trinta, já tomava todas as precauções a esse respeito, aproveitando ao máximo as limitadas informações meteorológicas que dispunha. Todos os receios e os temores relacionados ao uso comercial dos dirigíveis só desaparecerão com o resultado de pesquisas e estudos voltados para a recuperação, para o desenvolvimento e para a divulgação do conhecimento, a fim de esclarecer a sociedade sobre os aspectos positivos da operação desses veículos. Como um desses aspectos positivos, pode-se citar o impacto ambiental. É provável que os dirigíveis constituam a modalidade de transporte menos prejudicial ao meio ambiente, tanto no aspecto do uso do solo, como no da poluição sonora e atmosférica. 1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Tendo em vista as limitações enfrentadas pelos sistemas convencionais de transportes, seria interessante conhecer: em que medida um modelo de sistema de transporte baseado no emprego de dirigíveis de grande porte contribuirá no deslocamento de cargas especiais e volumosas adotando-se o conceito de transporte ponto a ponto? Certamente, o pesquisador é instigado a vislumbrar o emprego dos dirigíveis como uma solução ideal, entretanto, é preciso analisar os fatores que irão influenciar no novo sistema e a sua relação com os atuais, além de identificar as possíveis restrições do veículo. 1.4 OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é desenvolver uma pesquisa voltada para a exploração das potencialidades de emprego dos dirigíveis de grande porte no deslocamento de carga aérea de pesos e volumes excedentes, adotando-se o conceito de transporte ponto a ponto. O desenvolvimento e o emprego de novas tecnologias na construção de dirigíveis para transporte de cargas deverão solucionar o problema do deslocamento das cargas indivisíveis, que sofrem restrições para serem movimentados por via terrestre, em função das limitações das ferrovias, rodovias, pontes, túneis, viadutos, etc. Para tanto, poderão ser empregados dirigíveis especiais que, pairados sobre o local de operação, 5 terão condições de içar a carga por meio de guindastes, transportá-la suavemente pelo espaço aéreo, na altura que for mais conveniente e, no final do percurso, entregá-la diretamente no local de consumo. Dessa forma, os inconvenientes e as limitações do transporte terrestre poderão superados. Embora a possibilidade da oferta futura dessas aeronaves, baseada nos projetos atualmente em desenvolvimento, permita vislumbrar seu uso em vários campos da atividade humana, o objetivo desta pesquisa é apresentar argumentos que indicam um potencial de emprego dos dirigíveis no mercado específico do transporte de cargas excedentes. 1.4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Como objetivos específicos, que concorrem para alcançar o objetivo geral do trabalho de pesquisa, foram estabelecidos os seguintes: - Apresentar uma retrospectiva histórica sobre os dirigíveis; - Estudar os relatórios das pesquisas científicas realizadas pela Universidade de Houston e pelo CTA e a bibliografia disponível sobre o tema; - Descrever as principais características operacionais das aeronaves mais leves que o ar; - Pesquisar os projetos mais significativos de dirigíveis de grande porte em desenvolvimento na indústria aeronáutica mundial; - Chamar a atenção dos meios científicos e institucionais para a relevância das pesquisas sobre o tema; - Mostrar as potencialidades de emprego de aeronaves mais leves que o ar no transporte de carga aérea; - Realizar um levantamento dos problemas enfrentados pelos meios de transporte de superfície no deslocamento de cargas excedentes; - Ressaltar as vantagens e desvantagens do emprego das aeronaves mais leves que o ar no transporte cargas volumosas; - Levantar o potencial de mercado para a operação comercial das aeronaves mais leves que o ar no Brasil; e 6 - Analisar aspectos de impacto ambiental na operação desse tipo de aeronaves. 1.5 HIPÓTESES Como hipótese básica vislumbra-se a possibilidade de empregar as aeronaves mais leves que o ar com características específicas para o transporte de carga aérea como solução que contemple um determinado segmento da logística de transporte, de uma forma rápida e segura, economizando tempo e minimizando os custos dos meios convencionais, encarecidos por inúmeras operações, durante as várias fases das viagens, principalmente quando se trata de cargas de grandes volumes. As hipóteses secundárias decorrentes podem ser resumidas nos seguintes termos: - A indústria aeronáutica tem condições de construir dirigíveis de grande porte com capacidade para transportar volumes e pesos superiores a cem toneladas; - A incorporação de novas tecnologias na concepção e na construção de modernos dirigíveis proporcionará operações seguras em vôo e nos procedimentos de carga e descarga; - O impacto ambiental provocado pelas aeronaves mais leves que o ar deverá ser mínimo, se comparado com os demais meios de transportes; e - A relação custo versus benefício das operações com dirigíveis proporcionará vantagens econômicas, sociais e estratégicas. 1.6 DELIMITAÇÃO As possibilidades de emprego dos dirigíveis no segmento do transporte aéreo são consideravelmente amplas. Para que se tenha uma visão panorâmica do quadro de serviços nos quais os dirigíveis do tipo “blimps” já estão sendo empregados com sucesso podem ser mencionadas as seguintes atividades: policiamento, patrulha, turismo, comunicações e publicidade. 7 A versatilidade dessas aeronaves é grande, como mostra o desempenho do “blimp” tipo A-150 Lightships, que opera no Brasil. Por um curto período de tempo esteve a serviço da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, no final de 2002. Guarnecido com sofisticados equipamentos de comunicações, de visão noturna e sensores infravermelhos de longa distância, era uma arma poderosíssima para o serviço de inteligência policial e para o apoio direto às operações de combate ao tráfego de drogas. Ao encerrar o contrato com o governo carioca, a aeronave passou a ser explorada nas atividades de comunicações e publicidade. Em função da versatilidade que vem demonstrando as dezenas de “blimps” em operação em vários países, aliada à incorporação de novos materiais e tecnologias na construção de aeronaves “mais leve que o ar” (LTA), acredita-se a que a era dos gigantes dos céus está renascendo. Projetos de dirigíveis com elevadas capacidades de cargas, como o SkyCat, o CargoLifter, o Aeros ML e outros, deverão abrir um novo mercado no segmento do transporte aéreo. No campo militar, os dirigíveis podem ser empregados em várias atividades, tais como: plataforma de equipamentos militares para o cumprimento das missões de patrulha marítima, busca e salvamento, alarme aéreo antecipado, sensoriamento remoto e transporte logístico, entre outras. Embora a possibilidade da oferta futura dessas aeronaves permita antever seu uso em vários campos de atividade, vislumbra-se a possibilidade de empregar as aeronaves mais leves que o ar com características específicas para o transporte de carga aérea como solução que contemple um determinado segmento do transporte logístico. Os dirigíveis deverão ser empregados na lacuna de oferta de meios que existe entre o rápido e caro transporte por aviões e o lento e menos dispendioso, porém limitado, transporte de superfície, principalmente quando se trata de cargas especiais de grandes volumes. Assim, o corte temático desta pesquisa está direcionado para o estudo da viabilidade do emprego dos dirigíveis no transporte ponto a ponto de cargas excedentes. 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO O primeiro capitulo contém os elementos introdutórios deste trabalho de pesquisa. 8 O segundo capítulo aborda os fundamentos teóricos e descreve a metodologia empregada na coleta e no tratamento dos dados da pesquisa, bem como as limitações do método utilizado. No capítulo seguinte são apresentadas algumas noções básicas sobre os dirigíveis e uma retrospectiva histórica sobre a gloriosa era dos gigantes dos céus, onde é descrita a participação dessas aeronaves nas duas guerras mundiais e a sua importante contribuição no desenvolvimento do transporte aéreo intercontinental nas décadas de vinte e trinta. O capítulo quatro descreve o estado da arte dos modernos dirigíveis, apresentando as características técnicas e operacionais das principais aeronaves mais leves que o ar em uso atualmente e aborda os projetos de construção dos grandes dirigíveis de carga que se encontram em desenvolvimento com perspectivas de serem empregados no transporte de cargas. No capítulo que segue foram registrados os dados levantados relacionados com os problemas e as dificuldades enfrentados nos deslocamentos das cargas excedentes no Brasil, bem como uma avaliação dos custos dessas complexas operações, por meio da análise de alguns casos reais. O capítulo seis apresenta uma solução para o problema levantado, através da utilização de dirigíveis de grande porte que poderiam deslocar determinados tipos de cargas excedentes dos locais de origem e transportá-los até o destino final, sem a necessidade de transbordos, eliminando as limitações dos transportes de superfície. Nessa parte do trabalho são analisados os aspectos operacionais, econômicos e as implicações ambientais e estratégicas do emprego dos dirigíveis no transporte de cargas, assim como as desvantagens. Conclui-se o trabalho rememorando os aspectos mais relevantes da argumentação em defesa da proposta apresentada, ocasião em que também foram registradas algumas recomendações julgadas oportunas. 9 CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA O tema escolhido como objeto do plano de pesquisa não se apresenta muito rico em bibliografias atualizadas. No Brasil, são raros os textos que abordam o assunto e, quando encontrados, são antigos ou muito superficiais. As poucas referências significativas encontram-se no acervo da biblioteca do ITA e na Universidade da Força Aérea. Mesmo na literatura estrangeira, publicações atuais não são facilmente encontradas. O referencial teórico em que se baseia o desenvolvimento deste trabalho encontra-se nos relatórios originados das pesquisas levadas a efeito por instituições científicas mundialmente consagradas que, embora tenham sido originados na década de setenta, apresentam fundamentos válidos para a atualidade. Uma dessas pesquisas foi conduzida por uma equipe de professores doutores na University of Houston, patrocinado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), em cooperação com a American Society for Enginnering Education. Constituída por vinte membros multidisciplinares, representando dezesseis Universidades, a equipe analisou vários aspectos no campo da engenharia, com o objetivo de verificar a viabilidade do emprego de dirigíveis no transporte aéreo, bem como, a sua relação com outros setores da atividade humana. O trabalho apresenta o esboço de um sistema de transporte com aeronaves mais leves que o ar (LTA). Ao analisar as características específicas da proposta, tais como: custo de implantação; implicações sócio-econômicas, principalmente aquelas relacionadas com o impacto ambiental, uma preocupação que, hoje, apresenta um peso considerável em qualquer projeto; aspectos operacionais, como as necessidades de apoio em terra e em vôo; treinamento do pessoal e segurança das operações, os cientistas mostraram a viabilidade de um sistema de transporte aéreo de carga baseado nos veículos LTA. Tudo isso foi condensado em um documento compilado por Dalton e Huang (1976) que aborda, ainda, de uma forma bastante detalhada, os aspectos técnicos de performance, aerodinâmica, controle, estabilidade e estrutura dessas aeronaves, considerando a tecnologia então disponível. Atento às tendências mundiais da época, quando o término do período do petróleo barato impulsionou as pesquisas de veículos mais eficientes, o Centro 10 Tecnológico da Aeronáutica (CTA) executou um estudo de viabilidade do emprego de balões dirigíveis para o transporte de cargas pesadas no Brasil (Projeto CTA-520 CT, 1981). Após examinar os fatores técnicos, operacionais e econômicos que influenciam na implantação de um sistema dessa natureza, os técnicos do CTA concluíram que “teoricamente não existem óbices a esse tipo de veículo aéreo, cujas características operacionais são extremamente atraentes”. A exploração do espaço aéreo por veículos mais leves que o ar, em um futuro próximo, leva a crer que esse fenômeno seja uma tendência natural no desenvolvimento dos sistemas de transportes. Entretanto, a implantação de um sistema de transporte de carga baseado nos dirigíveis pressupõe a existência de veículos com capacidade para tal, o que não ocorre no momento. Os projetos que apresentam melhores perspectivas de viabilidade encontram-se na Alemanha e na Inglaterra. Na página eletrônica http://www.cargolifter.com/ se encontram os projetos da empresa alemã CargoLifter AG. Baseados no emprego de inovações técnicas revolucionárias, os alemães procuram mostrar que um sistema de transporte ponto a ponto, fundamentado no uso do dirigível CargoLifter CL-160, seria a solução para o deslocamento rápido de cargas pesadas e volumosas. Essa aeronave não seria apenas um grande dirigível com seus 260m de comprimento, mas o maior do mundo (o Graf Zeppelin media 232m e o Hindenburg 245m), com um volume de 550.000 m3 de gás hélio e com capacidade para transportar 160 toneladas de carga, suportada por uma estrutura semi-rígida, na qual se instalaria um complexo de guindastes que integra o sistema de carga e descarga. Enquanto paira na vertical do local da operação, a carga poderia ser içada ou baixada de acordo com a necessidade. Segundo o fabricante, o campo de emprego é vasto, abrangendo desde o deslocamento de peças mecânicas pesadas, plantas industriais, operações “off-shore”, até operações de ajuda humanitária. O volume da carga poderá apresentar dimensões de até 50m X 8m X 8m. O projeto inglês, em desenvolvimento pela Advanced Technology Group, mostra as potencialidades do SkyCat, um revolucionário projeto de veículo aéreo que combina as vantagens dos mais leves que o ar – derivadas do emprego do gás hélio – com 11 as características aerodinâmicas do seu formato físico, proporcionando excepcional versatilidade, capacidade de carga paga e autonomia. Além disso, vai empregar um novo sistema – o hover-cushion landing system – que possibilitará pousos e decolagens em superfícies não preparadas de terra, água, areia ou neve. “Uma nova fase na evolução dos dirigíveis teve início com a criação da Advanced Technologies Group e da CargoLifter”, assegura o correspondente inglês do periódico Jane’s Defency Weekely, John Christopher (2001), ao ressaltar as vantagens do emprego dos dirigíveis no campo militar, o que pode configurar uma grande vantagem para a “decolagem” dessas aeronaves, ainda estigmatizadas pelo acidente do Hindenburg, em 1933, nos Estados Unidos. Grandes avanços tecnológicos, em vários segmentos, ocorreram em decorrência de investimentos voltados para o emprego militar. O Brasil, com as suas peculiaridades de dimensões continentais e uma deficiente infra-estrutura de transportes na maior parte do território, notadamente na região Norte, apresenta um cenário de boas oportunidades para o desenvolvimento dessa modalidade de transporte, principalmente, se for considerado também o aspecto estratégico do emprego dessas aeronaves nas áreas de fronteira da Região Amazônica, com objetivo de marcar a presença naquelas regiões remotas e servir como fator de integração e desenvolvimento nacional. 2.1 METODOLOGIA A classificação da pesquisa terá como fundamentação a taxionomia defendida por Vergara (2004) que define o método “como um caminho, uma forma, uma lógica de pensamento” e a qualifica em relação a dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. Exploratória na medida em que o tema é pouco debatido e a bibliografia atualizada é escassa, portanto, há pouco conhecimento acumulado disponível para estudo. Descritiva por pretender expor as características técnicas e operacionais dos dirigíveis como meio de transporte, bem como a opinião do autor. Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica e de campo. Bibliográfica porque teve a sua fundamentação teórica nos relatórios de pesquisas realizadas pela Universidade de Houston e pelo CTA, acrescido de dados obtidos nos registros do 12 Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT). A pesquisa de campo foi concretizada por meio do levantamento dos custos e das dificuldades do transporte de cargas excedentes realizadas junto às transportadoras e as organizações que utilizam tais serviços, nomeadamente, a PETROBRAS e Furnas Centrais Elétricas. 2.1.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA O cenário atual apresenta boas perspectivas para o renascimento dos dirigíveis de grande porte em função das suas características e vantagens operacionais, tais como, a pouca exigência de infra-estrutura aeroportuária, a possibilidade de transportar a carga da origem diretamente ao destino, economia de combustível e baixo impacto ambiental. O universo dos projetos de aeronaves mais leves que já foram citados no Jane’s – All the World’s Aircraft (2002/2003), nas últimas três décadas, ultrapassa o número de trinta. São projetos de dirigíveis dos mais diversos tamanhos e finalidades. A maior parte deles, entretanto, ainda não saiu das pranchetas dos projetistas. Entre os vários projetos de veículos mais leves que o ar existentes, foram selecionados os dois que se encontram em fase de desenvolvimento mais adiantada e que apresentam melhores perspectivas de êxito, para servirem como objeto de estudo: o projeto da companhia britânica Advanced Technologies Group (ATG) da série SkyCat, nas três versões de LTA: o SkyCat 20, SkyCat 220 e SkyCat 1000, com as capacidades respectivas de vinte, duzentas e vinte e mil toneladas de carga útil; e o projeto alemão CargoLifter CL-160, com capacidade para cento e sessenta toneladas de carga. Essas duas amostras foram escolhidas por serem aquelas que mais se prestam ao objetivo de desenvolver um projeto de pesquisa sobre as potencialidades de emprego dos dirigíveis de grande porte no transporte de carga aérea. São os projetos mais ricos em detalhes técnicos e operacionais disponíveis, o que proporciona boas condições para uma análise das possibilidades de emprego. 2.1.2 COLETA DOS DADOS Os dados históricos que fazem parte do trabalho foram obtidos por meio das pesquisas bibliográficas individuais realizadas pelo autor. As informações técnicas e operacionais dos projetos das aeronaves objeto da 13 pesquisa foram proporcionados pelas páginas eletrônicas das próprias empresas que mantêm atualizados os avanços dos respectivos projetos e no periódico especializado Jane’s All the World Aircrafts (2002/2003). Na página eletrônica do DNIT, foi possível colher dados estatísticos importantes sobre a movimentação de cargas especiais baseado nas autorizações de trânsito emitidas no período compreendido entre os anos de 1997 e 2001. Como o foco da pesquisa está direcionado para o problema do transporte de cargas excedentes, foram considerados somente os dados relacionados com as autorizações especiais de trânsito emitidas em conformidade com a Resolução n° 2.264/81 do Conselho de Administração do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que trata da regulamentação do transporte das cargas indivisíveis que excedem os limites previstos no Código Nacional de Trânsito. Na pesquisa de campo, feita junto às transportadoras especializadas no transporte de cargas excedentes, foram realizadas entrevistas com representantes das empresas Transpesa, Superpesa e Irga, todavia, os resultados não foram promissores porque os funcionários dessas empresas foram evasivos no fornecimento de informações relacionadas aos custos dos transportes de cargas excedentes. Por outro lado, na pesquisa de campo realizada, junto aos clientes, como foi o caso de Furnas, houve total colaboração. Essa empresa, disponibilizou alguns relatórios recentes dos serviços de transportes de cargas excedentes, o que possibilitou o equacionamento do problema da pesquisa. A refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, também colaborou, fornecendo informações sobre o deslocamento de uma peça de grande volume do porto de Rio Grande para a sede, na região metropolitana de Porto Alegre. A companhia ATG, por meio da sua página eletrônica forneceu as informações relativas às projeções dos custos operacionais dos projetos SkyCat 20 e Skycat 220. A CargoLifter apesar de não manter mais a sua página eletrônica, possibilitou a impressão dos dados técnicos do projeto CargoLifter CL-160, em 2002. As projeções dos custos operacionais desse empreendimento foram obtidas por meio das informações divulgadas em palestras proferidas no Brasil, em 2001, por representantes da companhia alemã. 14 2.1.3 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS Concluída a coleta de dados foi possível proceder a uma análise sistemática do conteúdo com o objetivo de apresentar respostas ao problema de pesquisa proposto: em que medida um modelo de transporte baseado no emprego de dirigíveis de grande porte contribuirá no deslocamento de cargas excedentes, baseado no conceito de transporte ponto a ponto? De acordo com Gil (1991), “o tratamento dos dados, a inferência e a interpretação, por fim, objetivam tornar os dados válidos e significativos”. Assim, para o equacionamento do problema, foram filtrados dos registros do DNIT os dados relativos às autorizações especiais de trânsito especificas para o transporte de cargas excedentes, conforme prevê a legislação que trata sobre o assunto. Junto aos clientes Furnas Centrais Elétricas e PETROBRÁS (Refinaria Alberto Pasqualine) foram levantados os valores gastos no transporte de quatro peças de pesos, dimensões e formatos enquadrados na legislação mencionada. Com as informações obtidas foi possível quantificar o número médio de viagens anuais executadas nos deslocamentos de cargas excedentes no Brasil, os custos dos casos analisados e a descrição dos principais obstáculos enfrentados nessas tarefas, o que implica em gastos adicionais indiretos difíceis de serem dimensionados. Comparando os custos operacionais projetados para os dirigíveis no deslocamento das cargas dos casos analisados, foi possível identificar as vantagens que esse veículo proporcionará quando for empregado no transporte de cargas excedentes. Ainda, com relação ao sistema proposto, são apresentadas considerações sobre os aspectos técnicos, operacionais e as implicações ambientais. Para tanto, são consideradas as avaliações fornecidas pelo relatório da Houston University comparadas com os meios tradicionais de transporte atualmente em uso. Para além destes, as implicações estratégicas e sociais, mais difíceis de serem mensuradas, foram consideradas com base em trabalhos apresentados nas Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército e da Aeronáutica, por se tratar de um meio de transporte ideal para o apoio às unidades de fronteiras e às comunidades isoladas pela ausência de infra-estrutura de transporte, notadamente nas regiões da fronteira do Norte e 15 na Zona Econômica Exclusiva. 2.1.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO Os dados econômicos relacionados com a operação de dirigíveis de grande porte como o Graf Zeppelin e o Hindenburg são muito antigos, portanto, mesmo com uma adequada correção de valores, não corresponderiam à realidade dos dias atuais. Desta forma, as informações fornecidas pelas companhias CargoLifter e ATG tratam-se de projeções ou estimativas que poderão sofrer alterações. Assim, diante da ausência de um modelo real de sistema de transporte baseado nos dirigíveis, a avaliação dos aspectos econômicos, técnicos e operacionais foi baseada nos resultados das referidas projeções ou estimativas. Embora existam projetos como o Aeros, o RoseaeroSystems, o SkyCat e o CargoLifter voltados para o desenvolvimento de dirigíveis, trata-se, ainda, de um tema pouco discutido nos meios acadêmicos e que demanda pesquisas mais aprofundadas, a fim de possibilitar conclusões embasadas em fundamentos científicos sobre a viabilidade de emprego no transporte aéreo. Na continuação do desenvolvimento do tema é importante que se faça uma breve retrospectiva da evolução dos principais fatos históricos que envolveram o desenvolvimento desses veículos que, outrora, foram denominados os gigantes dos céus. 16 CAPÍTULO 3 A GLORIOSA ERA DOS GIGANTES DOS CÉUS Os maiores avanços em direção às novas invenções e tecnologias ocorreram ligadas, de alguma forma, à guerra e às idéias de destruição. O dirigível, como tantas outras invenções, teve seu maior desenvolvimento no período da Primeira Guerra Mundial, com a Alemanha pesquisando novos equipamentos de emprego bélico. Mas, afinal, o que é um dirigível? 3.1 3.1.1 NOÇÕES BÁSICAS O que é um dirigível? A definição mais comum de dirigível é: “uma aeronave mais leve que o ar, munida de hélices e de um sistema de direção” (FOUILLOUX, 1987). No idioma inglês, emprega-se o termo “airship”, definido como “a form of mechanically driven aircraft, lighterthan-air, having a means of controlling the direction of its motion” (WHITE, 1978). É comum, também, se encontrar os termos “blimp” e “zeppelin” referindo-se ao mesmo engenho. O campo das aeronaves “mais leve que o ar” encontra-se dividido em duas categorias: os balões e os dirigíveis. Embora possam ser semelhantes na forma e na construção, o dirigível possui controle dos movimentos enquanto que o balão voa à mercê dos ventos. Existem três tipos básicos de dirigíveis, conforme a sua estrutura: não-rígidos, rígidos e semi-rígidos. Os não-rígidos, ou “blimps”, como o próprio nome indica, não possuem estrutura rígida. Eles apresentam a forma do desenho do envelope que contém o gás. No interior do dirigível existem sacos de ar, chamados balonetes (Figura 3.1), com bombas e válvulas de alívio, que servem como lastro e reguladores da pressão interna, a fim de manter a sua forma. Quando a aeronave se encontra no nível do mar os balonetes estão cheios de ar, forçando o hélio a preencher o remanescente do envelope. À medida que o “blimp” ascende o gás se expande e menos ar é necessário nos balonetes para manter a sua forma. Como não existe uma superfície rígida para suportar o compartimento de passageiros, o seu peso é distribuído por um sistema de cabos tensos na parte interna de 17 maneira tal que a forma do “blimp” não seja alterada. O que determina a capacidade de carga é o volume de hélio (GOMES, 2000). Figura 3.1: Controle Aerostático Fonte: Gomes (2000) Os dirigíveis de estrutura rígida possuem certas características comuns comparadas aos “blimps”. Possuem um enorme envelope, células de gás, leme e estabilizadores para o controle direcional e motores para a propulsão. São fantásticas obras de engenharia, cujo tamanho gigantesco da aeronave requer uma complexa estrutura metálica para sustentar a sua forma. A estrutura é formada por uma série de imensos anéis circulares de treliças de alumínio e duralumínio ligados por vigas e cabos de aço, e mantidas juntas ao longo do comprimento do dirigível por meio de imensas longarinas. Grupos de anéis são isolados, constituindo as células de gás e as cabines e gôndolas são ligadas diretamente na estrutura metálica da aeronave (GOMES, 2000). A maioria dos grandes dirigíveis do passado, incluindo o Graf Zeppelin e o Hindenburg eram do tipo rígido. Os dirigíveis podem ser designados semi-rígidos, combinando as características básicas de um não-rígido com alguma forma de estrutura rígida, como o italiano Norge, que transportou o famoso explorador norueguês, Roald Amundsen, em sua expedição ao Pólo Norte, conforme relata Brooks (1973). 3.1.2 Os gases Empregados Três tipos de gases têm sido usados para possibilitar a ascensão das aeronaves mais leves que o ar desde os primórdios até a atualidade: ar aquecido, hidrogênio e hélio. 18 Enquanto o ar quente é mais empregado na atividade esportiva do balonismo, o maior potencial comercial encontra-se nos gases hidrogênio e hélio, e entre estes, a preferência encontra-se no hélio, por uma série de vantagens. O hidrogênio, por ser mais leve que hélio, apresenta uma eficiência dez por cento superior na capacidade ascensional. Além de ser barato de produzir, encontra-se em abundância na natureza. Porém, possui a desvantagem de ser altamente inflamável. O hélio, ao contrário, é um gás sem cor, odor ou sabor, não é venenoso e não é um elemento combustível. Pertence à família dos gases raros e pode ser encontrado na atmosfera, minas, vulcões e na água do mar. Está presente em quase todas as rochas e minerais em pequenas quantidades, na ordem de uma parte por duzentas mil. Alguns gases naturais contêm de um a oito por cento de hélio, sendo esta a única fonte conhecida de onde grandes quantidades podem ser extraídas a um custo razoável. Possui uma capacidade ascensional de 1,02 kg por m3 (GOMES, 2000) Os dirigíveis alemães, entretanto, usavam hidrogênio porque na época os americanos, que detinham o monopólio da produção de hélio, por motivos políticos, não autorizavam o fornecimento do gás ao governo alemão (WHITE, 1978). 3.2 OS DIRIGÍVEIS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Quando iniciou a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha possuía quatro fábricas de dirigíveis, cuja produção foi toda requisitada para o esforço de guerra. A mais expressiva, a Luftschiffbau Zeppelin, fundada pelo Conde Ferdinand von Zeppelin, construiu um total de 88 dirigíveis rígidos para o esforço de guerra. A Schütte-Lanz, produziu 18 rígidos, mas, por alguma razão, insistiu no uso de estrutura de madeira ao invés de usar ligas de zinco e alumínio como a Zeppelin. A madeira apresentava a desvantagem de se deteriorar sob o efeito da umidade e a companhia acabou perdendo competitividade. Os não-rígidos, fabricados pela Percival e Siemans-Schuret, tiveram pouco emprego nesse conflito (WHITE, 1978). No início da guerra, só a Alemanha possuía dirigíveis com capacidade de reconhecimento e ataque aos objetivos estratégicos localizados a grandes distâncias. No entanto, no decorrer do conflito, a maior parte das nações envolvidas passou a usar dirigíveis em algum tipo de atividade (WHITE, 1978). O mais dramático emprego militar dos dirigíveis na Primeira Guerra foi campanha de bombardeios aéreos levado a efeito pela Alemanha. Os primeiros bombardeios aconteceram no cerco da Antuérpia, em seguida estenderam-se para a frente russa e, em 1915, tiveram início os reides sobre Londres, efetivados por dirigíveis do 19 Exército e da Marinha germânica. O mais significativo dos reides foi comandado por Heinrich Mathy, que em ataque noturno às docas de Kingston, destruiu 40 lojas e residências, matando ou ferindo 64 pessoas. O sucesso da missão levou os alemães a incrementar os ataques aéreos. Entretanto, o Kaiser limitou os ataques a objetivos militares (WHITE, 1978). A precisão, porém, estava muito além da capacidade das tripulações; os alvos selecionados normalmente saíam ilesos dos bombardeios. O efeito maior estava no dano que provocava no moral da população do que nos prejuízos causados na economia e no esforço de guerra britânico. Os gigantes alemães chegavam sorrateiramente à noite, descarregavam suas bombas e metralhadoras e em seguida ganhavam altitude para fugir dos aviões enviados para abatê-los. Durante a guerra os alemães chegaram a ultrapassar o teto de 20.000 ft (6.500 m) na tentativa de fugir dos caças. Muitos, entretanto, não tiveram tempo suficiente para fugir e foram abatidos, muitos outros foram perdidos devido ao mau tempo. Mesmo quando conseguiam fugir para grandes altitudes, a tripulação sofria os efeitos das baixas temperaturas e da falta de oxigênio (WHITE, 1978). A vantagem dos dirigíveis como armamento ofensivo nunca se concretizou. Mesmo naquela época as suas vulnerabilidades para a guerra ficaram evidentes. A Alemanha, conforme relata Brooks, perdeu 51 dirigíveis: 17 abatidos por aviões; 19 pela artilharia e 08 destruídos no solo pela atividade do inimigo. Até o Conde von Zeppelin, antes de morrer em 1917, já havia percebido que o futuro viável para os dirigíveis estava no transporte em tempo de paz (WHITE, 1978). O emprego dos dirigíveis na Primeira Guerra foi mais efetivo como arma defensiva. Pequenos “blimps” patrulhavam áreas do litoral. A Marinha usou com sucesso dirigíveis rígidos na escolta e vigilância de navios. Na batalha naval de Jutland forneceram informações essenciais para salvar a frota alemã da destruição (WHITE, 1978). Ao final da guerra a companhia Zeppelin estava na iminência de encerrar as suas atividades, a essa altura já reduzida a fábrica de panelas e canecas de alumínio. Entretanto, os EUA ao se recusarem a ratificar o Tratado de Versailles, indiretamente beneficiaram a companhia: para encerrar as hostilidades entre Alemanha e Estados Unidos foi negociado um tratado em separado, como parte da compensação por danos de guerra, o governo americano exigiu um dirigível rígido com capacidade para cruzar o Atlântico. A tarefa de construir a aeronave coube à Zeppelin, que se encontrava sob a direção do Dr. Hugo Heckner. O dirigível designado LZ 126 foi concluído e entregue em 20 segurança nos EUA, mostrando que, mesmo derrotada, a Alemanha manteve a sua reconhecida capacidade tecnológica (WHITE, 1978). O interesse no emprego de dirigíveis para transporte de passageiros e serviço postal, ora subia, ora decrescia, dependendo do governo em exercício e da soma de recursos financeiros disponíveis para o projeto. Após o término da Primeira Guerra, a Inglaterra foi a nação mais ativa na questão dos dirigíveis, mas a hegemonia retornou para a Alemanha, a partir de 1928, com a construção do Graf Zeppelin – LZ 127 (WHITE, 1978). 3.3 OS DIRIGÍVEIS ALEMÃES 3.3.1 O Graf Zeppeilin O LZ127 foi batizado com nome Graf Zeppelin (Figura 3.2) em homenagem ao 90° aniversário de nascimento do Conde von Zeppelin. Em outubro de 1928, ele fez a sua primeira viagem transoceânica para os Estados Unidos, onde uma multidão entusiasmada esperava a chegada do histórico vôo. Pela primeira vez uma aeronave cruzava o Atlântico transportando passageiros pagantes (WHITE, 1978). Figura 3.2: Graf Zeppelin Fonte: www.zeppelin-nt.com (2004) O Graf Zeppelin tinha a forma alongada e aerodinâmica, estava equipado com 5 motores Maybach VL II de 12 cilindros, com potência de 550 hp, capazes de impulsionálo a uma velocidade de cruzeiro de 115 km/h. Media 232 m de comprimento por 30 m de largura e seu peso bruto era de 138.306 kg (WHITE, 1978). 21 3.3.2 O Hindenburg Quando o Graf Zeppelin já havia completado 108 travessias do Atlântico Sul e 07 do Atlântico Norte, foi planejada a construção do LZ 128, um sósia do LZ 127. Porém, esse plano foi abandonado em 1934, quando foi proposta a construção do LZ 129, maior e mais rápido. Dez vôos para os EUA já estavam planejados para o seu primeiro ano de operação. Foi batizado de Hindenburg em oposição aos que desejavam batizá-lo com o nome Hitler. Seu casco, medindo 245 m de comprimento por 41,2 m de largura, era constituído por quilômetros de vigas de duralumínio entrelaçadas, de diversas formas e tamanhos, que suportavam o peso do seu gigantesco tamanho, proporcionando-lhe a resistência necessária para enfrentar as turbulências e as variações de temperatura e pressão dos vôos transatlânticos (WHITE, 1978). O volume de gás planejado para fazer flutuar o gigante totalizava 200.000 m3 de hélio. Entretanto, o governo americano, que detinha o monopólio da produção do hélio, não autorizou o fornecimento do gás ao governo alemão controlado pelos nazistas. Restou, portanto, como única alternativa, o emprego do altamente inflamável hidrogênio (WHITE, 1978). O peso básico do Hindenburg, que consiste na soma dos pesos das suas diversas partes, tais como: estrutura do casco, revestimento, células de gás, sistema de propulsão, acomodações de passageiros e tripulantes, depósito de óleo, combustível e lastro, totalizava 118.4 toneladas, equivalente a 54% do seu peso bruto. Tinha, portanto, uma disponibilidade de carga paga equivalente a 100 toneladas, de acordo com o relato de White (1978). O sistema de propulsão consistia de 4 gôndolas, cada uma alojando um motor diesel Daimler-Bendz V-16, que juntos desenvolviam uma potência total de 1320 hp . Os passageiros viajavam instalados em 25 confortáveis cabines, com duas camas. Tinham, ainda, para o seu conforto, sala de estar, restaurante (Figura 3.3), sala de escrita, sala especial para fumantes, cozinha, banheiros e até chuveiro, além de um passadiço com janelas panorâmicas para os privilegiados passageiros se deleitarem com a paisagem sob seus pés (WHITE, 1978). As instalações eram distribuídas em “decks”, como nos navios, e cada um deles era mantido com diferencial de pressão superior ao ambiente externo para impedir a entrada inadvertida do perigoso gás inflamável (WHITE, 1978). 22 Figura 3.3: Sala de Jantar do Hindenburg Fonte: Owen (1999) A imensa aeronave requeria uma tripulação de 55 homens, cada qual com uma tarefa específica, alguns com seus postos de trabalho situados até 150 m da cabine de comando, onde o capitão, sem dispor dos modernos recursos tecnológicos de navegação como computadores, radares e sensores, procurava manter-se em permanente contato com os diversos postos de serviço por meio de telefones internos. Os homens checavam continuamente a pressão das células de gás, o funcionamento dos motores, a navegação e o sistema de lastro, qualquer alteração da normalidade era comunicada ao capitão para as providências necessárias. É interessante ressaltar que, diferentemente dos primeiros dirigíveis cujo sistema de lastro era composto de sacos de areia, o Hindenburg passou a usar água no sistema de lastro (WHITE, 1978). A cabine de comando instalada na parte dianteira inferior, aerodinamicamente enclausurada no corpo do dirigível, toda de metal e vidro, possuía anexa sala de navegação, sala de rádio e um depósito de equipamentos de emergência com sinalizadores e bombas de fumaça que podiam ser lançadas pela sua parte inferior. Junto ao capitão ou oficial em comando ficava um homem encarregado de dirigir a aeronave (elevatorman). Sentado em frente aos instrumentos como altímetro, variômetro, inclinômetro, além de manômetros e termômetros, o elevatorman, sob as ordens do oficial em comando, acionava as diversas válvulas das células de gás e dos tanques de lastro ao longo da imensa estrutura quando era instruído para alterar a altitude ou o curso (WHITE, 1978). 23 3.4 OS DIRIGÍVEIS AMERICANOS 3.4.1 O Shenandoah Os EUA, nessa época, não empregaram dirigíveis em propósitos comercias, entretanto, no campo militar três merecem destaque. O primeiro dirigível construído na América foi o ZR1, batizado de Shenandoah. Construído a partir do design do LZ 96, capturado intacto na França, em 1917, a aeronave foi comissionada em 04 de setembro de 1923, desfrutando de um relativo sucesso em sua breve carreira de 37 vôos, que incluiu uma viagem transatlântica (WHITE, 1978). A única inovação incorporada foi a introdução de mastros de ancoragem para estacionar a aeronave entre os vôos, no lugar dos enormes hangares até então utilizados pelos alemães (WHITE, 1978). O Shenandoah encerrou suas atividades em 23 de setembro de 1925, acidentado ao enfrentar uma tempestade no Sul do Estado americano de Ohio. A aeronave, que se partiu ao meio durante o mau tempo, poderia ter sobrevivido se os procedimentos de emergência tivessem sido corretamente obedecidos. A tripulação, na vã tentativa de salvar o precioso hélio, não usou adequadamente as válvulas de segurança (WHITE, 1978). 3.4.2 O Akron e Macon O USS Akron e o USS Macon (Figura 3.4) foram construídos para a Marinha americana pela Goodyear Zeppelin Company, oriunda da sociedade entre a American Goodyear Tire & Rubber Company e a Luftschiffbau Zeppelin, que havia recebido permissão para continuar o desenvolvimento da patente da Zeppelin, devido à proibição da construção de dirigíveis na Alemanha ao fim da Primeira Guerra (WHITE, 1978). Figura 3.4: US Macon Fonte: Owen (1999) 24 Esses dirigíveis mediam 240 m de comprimento, podiam desenvolver uma velocidade de até 120 km/h e possuíam uma capacidade de carga de 72.930 kg. Além da tarefa de reconhecimento foi incorporada outra interessante função: serviam como uma espécie de porta-aviões. Cada um tinha capacidade para transportar até 5 aviões de caça do tipo Curtiss F9C, pendurados em espécies de trapézios instalados na “barriga” do dirigível (Figura 3.5). Os aviões podiam ser lançados e recolhidos em pleno vôo, conforme relata White (1978), “at one time six pilots made 104 takeoffs ande hook-ons from the Akron in three hours”. Figura 3.5: Curtis F9C no Macon Fonte: Owen (1999) O Macon, por sua vez, executou mais de 3.000 operações de lançamentos e recolhimentos durante seus 54 vôos realizados (WHITE, 1978). 3.5 AS TENTATIVAS INGLESAS No pré-guerra a marinha inglesa tentou desenvolver seu próprio dirigível: o Mayfly. Entretanto, a equipe responsável pelo projeto não possuía nem a tecnologia, nem a experiência necessária para imitar o sucesso germânico. Após várias alterações nos planos iniciais, foi finalmente construído, porém nunca voou. Em setembro de 1911, após ter sido retirado do seu hangar flutuante para testes foi atingido por uma tempestade repentina que provocou danos irreparáveis na sua estrutura. Com esse fiasco a Inglaterra, temporariamente, abandonou o projeto dos dirigíveis até o início da Primeira Guerra (WHITE,1978). Durante a guerra o projeto foi reativado e, após várias tentativas infrutíferas, foi construído o dirigível R 29, responsável pelo afundamento de um submarino alemão, em 25 29 de setembro de 1918, ao localizar e marcar a posição do submergível, facilitando a ação dos navios de superfície britânicos que o afundaram (WHITE,1978). Os britânicos, entretanto, obtiveram mais sucesso com a construção do R 33, cujo design foi baseado no alemão LZ 76. Com as mesmas especificações foi construído o R 34, que fez história ao completar com sucesso o primeiro vôo transatlântico de uma aeronave “mais leve que o ar”. A epopéia, que durou 108 horas, teve início em East Fortune, Escócia, com destino a Roosevelt Field, Long Island, New York, distante 5.200 km. O retorno, três dias após, foi completado em 75 horas (WHITE,1978). O sucesso desse vôo incentivou a construção de uma aeronave bem maior, o R 38, que se acidentou devido a falhas no projeto, interrompendo mais uma vez o desenvolvimento dos dirigíveis na Inglaterra (WHITE,1978). Em 1928, o projeto dos dirigíveis ressuscitou com a construção do R 100 e do R 101. O primeiro financiado pela iniciativa privada e o segundo pelo governo, ambos com as mesmas especificações. Entretanto, o R 100 possuía melhor desempenho, tendo cruzado o Atlântico duas vezes sob condições meteorológicas adversas severas. O R 101 foi vítima da burocracia governamental e insuficientes ensaios, na tentativa apressada de colocá-lo em operação. O previsível desastre ocorreu em outubro de 1930, na França, matando a maioria das pessoas que estavam a bordo. As notícias foram tão desmoralizantes que o R 100 foi desmanchado em pedaços, encerrando mais uma vez o esforço britânico no campo dos dirigíveis rígidos (WHITE,1978). 3.6 OS DIRIGÍVEIS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Na década de quarenta, a Goodyear construiu uma série de dirigíveis sob encomenda da marinha americana para a proteção do litoral e da frota mercante, servindo como aeronaves de alarme aéreo antecipado, vigilância e escolta (OWEN 1999). Após a guerra, o interesse pelos dirigíveis foi lentamente diminuindo. Entretanto, a Goodyear chegou a construir mais de 300 dessas aeronaves em oito décadas de atividades, até passar os direitos para a American Blimp Corporation, na década de setenta, quando o interesse por essas aeronaves reacendeu, em função das sucessivas crises do petróleo, dando início à nova geração das companhias direcionadas para o ramo da construção de dirigíveis modernos (OWEN 1999). 26 CAPÍTULO 4 O ESTADO DA ARTE DOS DIRIGÍVEIS MODERNOS 4.1 ALEMANHA A Alemanha mantém a tradição pioneira, herdada do Conde Ferdinand von Zeppelin, no que diz respeito ao estado da arte dos dirigíveis e visão prospectiva do potencial de emprego dos veículos mais leves que o ar no transporte aéreo com a Zeppelin Luftschiftechnik GmbH e a CargoLifter AG, juntamente com a Inglaterra e os Estados Unidos que nunca abandonaram completamente esse meio de transporte. 4.1.1 Zeppelin Luftschiftechnik GmbH A Zeppelin Luftschiftechnik GmbH, descendente da antiga indústria do Conde von Zeppelin, foi criada em setembro de 1993, para projetar, construir e operar um dirigível semi-rígido com as novas tecnologias disponíveis, o que originou o “NT Programme”. A primeira aeronave do programa, batizada Friedrichshafen, foi certificada em abril de 2001. Essa aeronave, de acordo com o relato de Nayler (2003), já prestou inusitados serviços à sociedade, como a inédita operação de caça-minas na Croácia. Figura 4.1: Zeppelin NT 07 Fonte: www.zeppelin-nt.com (2005) O Zeppelin NT 07 (Figura 4.1) tem capacidade para transportar doze passageiros em missões de vôo panorâmico, além dos dois tripulantes, que pilotam uma aeronave modernamente equipada com radar meteorológico, comandos de vôo fly-by-wire, 27 LCD flight deck avionics, incluindo equipamento EFIS, EICAS, rádios de navegação e comunicação, além de GPS (NAYLER, 2003). Na cidade alemã de Friedrichshafen, durante o verão europeu, é possível realizar um vôo de trinta minutos sobre o lago Constance pagando-se cento e noventa euros por uma passagem (www.zeppelin-nt.com). As principais características do Zeppelin NT 07, cujo custo de aquisição, segundo o Jane’s – All the World’s Aircraft (2002/2003), é de sete milhões de Euros, encontram-se na tabela seguinte. Tabela 4.1: Características do Zeppelin NT 07 Dimensões do Zeppelin NT 07 Comprimento 75m Diâmetro 14m Altura 17m Volume 8.225m3 Módulo de carga Carga total 1.900 Kg Dimensões da gôndola 10,7m X 2,25m Peso Peso vazio 8.7900 Kg Peso max. decolagem 10.690 Kg Performance Velocidade máxima 67 kt Velocidade de cruzeiro 62 kt Altitude de cruzeiro 3.000 ft Máximo alcance 486 nm Fonte: Jane’s – All the World’s Aircraft (2002/2003) 4.1.2 CargoLifter AG A CargoLifter AG foi fundada, em setembro de 1996, com o objetivo de desenvolver o projeto de um dirigível multifuncional para transportar cargas de peso elevado e de volumes excedentes. Para tanto foi construído, em Brand, sul de Berlim, na área de uma antiga base soviética, um enorme hangar, com 360m de comprimento, 210 m de largura e 107 m de altura, com capacidade para abrigar dois dirigíveis CL-160 (http://www.cargolifter.com, 2002). O CargoLifter CL-160 seria o primeiro dirigível gigante desde a década de trinta e também o maior de todos já construídos, com seus 250m de comprimento e um volume de 550 m3 de gás hélio no seu bojo (Figura 4.2). Patrocinado pelo governo de 28 Brandenburg, esse projeto tem a intenção de oferecer ao mundo uma aeronave de custo operacional inferior aos dos aviões convencionais, velocidade superior à dos meios de superfície, mínima necessidade de infra-estrutura de apoio e a possibilidade de oferecer um serviço ponto a ponto para cargas pesadas e volumosas (http://www.cargolifter.com, 2002). O projeto apresenta uma estrutura semi-rígida na qual se encontra integrado um sistema de guindastes para possibilitar o processo de carga e descarga, sem a necessidade de pousar. Enquanto a aeronave paira na vertical do local da operação, a carga poderá ser içada ou baixada por meio de cabos e ganchos adequadamente dimensionados para tal. Durante a operação, o equilíbrio estático e aerodinâmico da aeronave será mantido por meio de um processo de lastreamento, utilizando-se, para isso, água ou mesmo a troca de uma carga por outra (http://www.cargolifter.com, 2002). Figura 4.2: CargoLifter CL-160 Fonte: (http://www.cargolifter.com, 2002) Novos materiais, tecnologia e maquinário empregados no processo de construção possibilitam transformar a concepção do velho dirigível em um moderno sistema de transporte de alta tecnologia. O desenvolvimento de um sistema de transportes baseado no emprego do CL160 proporcionaria uma inovação no cenário atual do transportes de cargas especiais. Segundo a CargoLifter (http://www.cargolifter.com, 2002), uma análise preliminar no mercado indica que o tempo e o custo dos meios convencionais aumentam, principalmente, em função das ações pré e pós a operação de transporte. Por essa razão, a empresa alemã desenvolveu o projeto de um produto multifuncional que possibilitará o 29 tráfego de carga da origem ao destino, o que vem despertando o interesse de vários potenciais clientes, interessados na aeronave como uma solução inovadora para muitos problemas relacionados com o transporte de cargas volumosas. A característica operacional do proporcionará a oferta de serviços para os deslocamentos de peças mecânicas e plantas industriais que, de outra forma, não poderiam ser atendidas, superando os obstáculos dos meios terrestres e aquáticos. Além disso, apresenta outras características, conforme foi descrito pela CargoLifter em http://www.cargolifter.com (2002): - Poderá operar tanto no interior como em operações “off-shore”; - Independerá da complexa infra-estrutura dos demais meios de transporte, tais como aeroportos, portos, rodovias, ferrovias, etc.; - Deverá ser o meio de transporte que menos agride o meio ambiente; - Eliminará os custos e o tempo gastos nas operações de transbordo de cargas, uma vez que oferece um serviço porta-à-porta; - Reduzirá os prazos de conclusão do serviço, aumentado a garantia de entrega; e - Proporcionará um serviço de melhor qualidade no transportes de produtos sensíveis à trepidação provocadas pelas vias em mau estado de conservação. Tabela 4.2: Características do CargoLifter CL-160 Dimensões do CL-160 Comprimento 260m Diâmetro 65m Altura 82m Volume 550.000m3 Módulo de carga Carga paga 120.000 – 160.000 Kg Dimensões da carga 50m X 8m X 8m Peso Peso vazio 260.000 Kg Peso max. decolagem 400.000 Kg Performance Velocidade máxima 72 kt Velocidade de cruzeiro 49 kt Altitude de cruzeiro 3.000 a 6.500 ft Máximo alcance 5.400 nm Fonte: CargoLifter AG, 2002. 30 Segundo a CargoLifter Network GmbH, empresa subsidiária da Cargo Lifter AG, criada com a finalidade de comercializar os produtos, serviços e prestar assistência técnica aos futuros clientes, em 2002, foi registrado mais de trinta intenções de utilização oriundas de empresas de várias regiões do mundo, interessadas nas potencialidades do CL-160, cujas características são apresentadas na Tabela 4.2. 4.2 INGLATERRA Poderia ser esperado que o sonho britânico de construir dirigível tivesse se encerrado com a perda do R-101 e o desmantelamento do R-100, entretanto, passados 50 anos os planos para reativar essas aeronaves ressurgem fortalecidos. Em 1979, foi construído o protótipo de um dirigível não-rígido que deu início à série Skyship, cujas aeronaves vêm operando regularmente em vários países. 4.2.1 Airships Industries Em 1976 foi constituída a Airships Developments para desenvolver um dirível não-rígido, designado AD500, cujos ensaios foram considerados um sucesso. A partir daí, foi constituída a Airships Industries, em Cardington, onde se passou a fabricar os dirigíveis da série Skyship. O Skyship 500 trata-se de um dirigível com capacidade para transportar até nove passageiros e três tripulantes. Na década de noventa, seis dirigíveis foram construídos. O primeiro deles foi adquirido pela empresa japonesa Fuji (Figura 4.3) para fins publicitários. Os demais têm sido empregados em atividades de patrulha policial, cobertura de televisão e vôos panorâmicos, além da publicidade (DONE, 2001). Figura 4.3: Skyship 500 Fonte: Owen (1999) 31 O sucesso do Skyship 500 incentivou a Airships Industries a lançar o Skyship 600, com inovações no projeto original, tais como a adoção de motores Lycoming com empuxo direcionado. Desse modelo de aeronaves foram construídas sete, até a companhia ter seu controle adquirido pela Global Skyships Industries, uma subsidiária da britânica Aviation Suport Group Ltd (DONE, 2001). 4.2.2 Advanced Technologies Group (ATG) Em 1996, foi criada a Advanced Technologies Group, marca comercial da Airship Technologies Services Ltd, para dar continuidade às atividades da antiga Airship Industries Company, responsável pelos dirigíveis britânicos da série designada Skyship 500/600 (www.worldskycat.com, 2004). Os trabalhos atuais estão direcionados para dois projetos inéditos de veículos mais leves que o ar: trata-se do SkyCat (Figura 4.4) – um dirigível híbrido – e do StratSat – um dirigível estratosférico não-tripulado para servir como plataforma de telecomunicações. A equipe responsável pelos projetos, segundo o Jane’s - All the World’s Aircraft (2002/2003), é a mais experiente do mundo em certificações de dirigíveis na categoria de transportes de passageiros e cargas (www.worldskycat.com, 2004). Figura 4.4:Protótipo do SkyCat Fonte: Advanced Technologies Group (2004) Ao combinar as vantagens de veículo “mais leve que o ar” derivadas do emprego do gás hélio com as características aerodinâmicas, proporcionadas por um ambicioso projeto, que emprega sofisticada tecnologia, constituído por um corpo de estrutura elipsoidal dupla, aliado a um sistema de pouso e decolagem do tipo colchão de ar 32 (hover-cushion landing system), semelhante ao sistema usado pelos “hovercrafts”, o SkyCat poderá realizar pousos e decolagens em qualquer superfície plana, quer seja de terra, de grama, de pântano, de neve, de rio e de lagos ou, até mesmo, em mar aberto. Esse sistema, além de proporcionar pousos macios, possibilita manter a aeronave firmemente estacionada na superfície, por meio da reversão do empuxo dos motores, enquanto é conduzida a operação de carga e descarga. Após isso, novamente o empuxo é revertido para auxiliar a quebra da inércia na decolagem (www.worldskycat.com, 2004). De acordo com a World SkyCat Ltd. (www.worldskycat.com, 2004), subsidiária da Advanced Tecnologies Group, criada para comercialização, suporte técnico e apoio logístico do projeto, o SkyCat está sendo desenvolvido em três séries, para o transporte de 20, 220 e 1000 toneladas, basicamente com a mesma configuração, variando apenas no volume. De acordo com as informações disponíveis na página eletrônica da companhia (www.worldskycat.com, 2004), essas aeronaves terão condições de operar nas mesmas condições meteorológicas que as modernas aeronaves comerciais operam atualmente. Cada modelo deverá apresentar características próprias, em função da missão para a qual foram especificadas, mas, basicamente, apresentam as seguintes características: - Capacidade de carga: o SkyCat 20 possui a flexibilidade e a penetração de um helicóptero, porém, com uma considerável superioridade em relação à capacidade de carga paga; enquanto o SkyCat 220 é, significativamente, fora da curva de comparação com os meios aéreos comerciais convencionais; - Alcance e autonomia: o alcance do SkyCat 20, operando com dezesseis toneladas de carga será de 2.400 milhas, na velocidade de cruzeiro, o que habilita a aeronave a realizar vôos de duração de até dez dias, se necessário. A previsão de alcance do SkyCat 220 é de 3.250 milhas, habilitando-o para viagens intercontinentais; - Manutenção: programada para ser executada em apenas duas semanas por ano, podendo ser conduzida no campo, sem a necessidade de hangaragem, o que deverá resultar em baixos custos de manutenção; - Eficiência energética: com dois motores de impulsão, operando na parte traseira na aeronave, o SkyCat consegue uma elevada eficiência no consumo 33 de combustível devido ao baixo arrasto e o fato do gás hélio ser o principal responsável pela capacidade ascensional da aeronave; - Infra-estrutura: habilitado para pousar e decolar em superfícies razoavelmente planas, sólidas ou líquidas, sem a necessidade pistas de pouso, hangares, tripulação ou equipamento de apoio de solo, o SkyCat se apresenta como o meio de transporte ideal para emprego em regiões remotas, sem provocar danos ao meio ambiente. 4.3 OUTROS PROJETOS Vários países possuem projetos de construção de dirigíveis para diferentes finalidades e empregos, entretanto, para efeitos desta pesquisa, merecem ainda ser destacado o estado da arte nos Estados Unidos e na Rússia. 4.3.1 Estados Unidos Os Estados Unidos têm uma longa tradição na construção e operação de dirigíveis não-rígidos – os “blimps”. Tradição que, atualmente, tem sido mantida pela American Blimp Corporation com a produção das séries Lighship A-60 e A-150 (Figura 4.5 - modelo que atualmente opera no Brasil). Figura 4.5: Lighships da Goodyear Fonte: www.goodyearblimp.com (2005) Segundo o Jane’s – All the World’s Aircraft (2002/2003), até o ano 2002, já haviam sido produzidos 32 dirigíveis Lighships (Tabela 4.3), que se encontram em operação 34 na Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Alemanha, Itália, China, Japão e Turquia, além dos EUA. Três deles já ultrapassaram a marca de dez mil horas de vôo. Tabela 4.3: ABC Lightship Dirigível A-50 Dimensões Comprim. 39,01 m Diâmetro 10,01 m Altura Volume 12,90 m 1.926 m3 Carga Cap ascen. 680 kg Peso P Vazio 1.216 kg P Max Dec 1.993 kg Performance Vel Max 46 kt Vel Cruz 35 kt Altit Cruz 3.000 Alcance 600 nm A-150 50,29 m 13,11 m 16,76 m 4.814 m3 2.225 kg 2.863 kg 4.981 kg 52 kt 33 kt 3.000 ft 580 nm Fonte: Jane´s 2002/2003 Outra companhia que atua em projetos, construção, pesquisa e desenvolvimento e comercialização de dirigíveis é a World Aeros Corporation, que foi constituída na Ucrânia, em 1988, tendo transferido as suas atividades para a Califórnia, em 1993. Produz uma variedade de veículos “mais leve que o ar”, tripulados e não-tripulados, para aplicações militares e civis. Em 1999 foi criada a Aeros Airship Company com a finalidade de desenvolver dirigíveis de grande porte: o Aeros D-1, com capacidade para 14 toneladas e o Aeros D-4 para 124 toneladas de carga (www.aerosml.com, 2005). 4.3.2 Rússia Em outubro de 1997, foi fundada a RosAeroSystems, um consórcio formado pela Avgur, Moscow Aviation Institute e a Russian Aeronautical Society, com o objetivo de combinar esforços em projetos de construção e operação de aeronaves mais leves que o ar. A empresa, que conta com parcerias estrangeiras como a tcheca Kubicek e as americanas Worldwide Aeros e a General Aeronautics Corporation, apresenta uma variada gama de projetos de dirigíveis tripulados e não-tripulados, conforme menciona o (www.worldskycat.com, 2004), cujas características se encontram na Tabela 4.4. 35 O Rosaerosystems Au-12 trata-se de um dirigível não-rígido direcionado para o emprego em publicidade, patrulha e comunicações. É conduzido por apenas um tripulante. Tabela 4.4: Características dos Dirigíveis Russos Rosaerosystems Dirigível Au-12 PD-300 MD-900 DPD-5000 DTs-N1 Dimensões Comprim. 31,4 m 45, 4 m 60 m 126,8 m 268 m Diâmetro 7,8 5m 11,3 m 17 m 28,2 m 54 m Altura 11,3 m 14,0 m 22 m 32,0 m 59 m Volume 996 m3 3.001 m3 9.050 m3 50.150 m3 500.000 m3 Módulo de carga Carga 50 kg 1.200 kg 3.170 kg 15.200 kg 180.000 kg Peso P Vazio 620 kg 1.500 kg 4.680 kg 22.250 kg P Max Dec 870 kg 3.350 kg 8.630 kg 43.200 kg Performance Vel Max 54 kt 59 kt 70 kt 81 kt 91 kt Vel Cruz 32 kt 49 kt 54 kt 59 kt 65 kt Altit Cruz 3.000 ft 3.000 ft 3.000 ft 5.000 ft 5.000 ft Alcance 324 nm 540 nm 1.620 nm 4.697 nm 8.100 nm Fonte: (www.worldskycat.com, 2004). O PD-300 é um dirigível semi-rígido planejado para o emprego em missões de patrulha marítima, vigilância, transporte de carga e passageiros, busca e salvamento, reconhecimento e outras atividades civis e militares. É conduzido por dois tripulantes. O MD-900 (Figura 4.6) possui características técnicas semelhantes ao PD-300, diferindo apenas no tamanho e, consequentemente, na capacidade de carga que está estimada em três toneladas. Figura 4.6: Rosaerosystem MD-900 Fonte: (www.worldskycat.com, 2004) O dirigível DPD-5000, de estrutura semi-rígida, foi projetado para vigilância marítima e terrestre de longo alcance, com acomodações para quatorze tripulantes. Pode 36 ser equipado com radares de vigilância, vídeos, câmeras infravermelhas, sonares e outros equipamentos de vigilância ou armamentos. Por fim, a Roseaerosystems apresenta o DTs-N, um dirigível de estrutura semirígida projetado para o transporte de cargas de 180 toneladas, cujos detalhes técnicos e operacionais não foram, ainda, divulgados com riqueza de detalhes. Assim, foram apresentados neste capítulo os projetos de aeronaves mais leves que o ar mais signifcativos para o desenvolvimento desta pesquisa. A partir desse ponto torna-se importante conhecer algumas particularidades do transporte das cargas excedentes para que se possa melhor avaliar as potencialidades de emprego dos dirigíveis nesse segmento de serviços. 37 CAPÍTULO 5 O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS 5.1 LEGISLAÇÃO As instruções que regulamentam o uso das rodovias nacionais por veículos destinados ao transporte de cargas indivisíveis e excedentes em peso e dimensões, que extrapolam os limites estabelecidos pelo Código Nacional de Trânsito, encontram-se expressas na Resolução n° 2264, de 07 de dezembro de 1981, do Conselho de Administração do antigo DNER, atual DNIT. Carga indivisível, conforme define a Resolução n° 2264, é “a carga unitária representada por uma única peça estrutural ou por um conjunto de peças fixadas por rebitagem, solda ou outro processo, para fins de utilização direta como peça acabada ou, ainda, como parte integrante de conjuntos estruturais de montagem ou de máquinas ou equipamentos, e que, pela sua complexidade, só possa ser montado em instalações apropriadas”. Tal categoria de transporte somente poderá ser realizada mediante uma prévia autorização, específica para o trânsito de veículos adequados ao cumprimento da missão, conforme dita a referida resolução: “[...] estrutura, estado de conservação e potência motora compatíveis com a força de tração a ser desenvolvida, assim como uma configuração de eixos da forma que a distribuição de peso por eixo fique a mais próxima possível dos limites estabelecidos no RTCN”. No caso dos deslocamentos de cargas que extrapolem o número de eixos e os limites de peso por eixo, estando o veículo estruturado de forma a respeitar as distâncias mínimas entre os eixos, as autorizações dependerão, ainda, do cumprimento de uma seqüência de procedimentos: - Viabilidade do percurso; - Identificação e vistoria das obras de arte especiais; - Exame dos projetos estruturais, de suas memórias de cálculos e do detalhamento; e 38 - Relatório conclusivo permitindo o transporte da carga, ou indicando providências necessárias para possibilitar o transporte. As ações listadas têm o objetivo de evitar que o conjunto transportador provoque esforços superiores aos previstos no dimensionamento das obras de arte, e devem ter a participação de engenheiros de reconhecida capacidade técnica, com conhecimentos em estruturas e previamente submetidos à apreciação da Divisão de Pontes e Edificações e da Divisão de Estudos e Projetos do DNIT. A legislação impõe outras limitações para o trânsito de veículos transportando cargas excedentes, tais como: os deslocamentos só podem ser realizados durante o período compreendido entre o nascer e o pôr-do-sol; os veículos devem obedecer a velocidade estipulada na autorização; e não podem parar, nem estacionar nos acostamentos das rodovias, somente em áreas próximas que ofereçam condições para tal. Além disso, se o veículo com a carga excedente for cruzar perímetro urbano, somam-se a essas exigências, as imposições municipais. Nessas situações, muitas vezes, é necessário realizar a operação à noite, a fim de minimizar os transtornos provocados no trânsito. 5.2 O PROBLEMA DO TRANSPORTE DE CARGAS INDIVISÍVEIS No transcurso das pesquisas que deram origem a este trabalho, foi realizado um levantamento das inúmeras dificuldades relacionadas ao transporte de cargas indivisíveis no Brasil. Para se ter uma idéia da grandiosidade do volume de cargas excedentes movimentadas no país, é interessante citar o relatório do CTA (1978): “a Eletrobrás [...] tem um planejamento para o transporte de cargas excepcionais cujo peso unitário varia de 50 a 296 toneladas, até 1985, totalizando 371 peças e um total de 49.388 toneladas, que atingem, em certos casos, o volume de 690 m3”. Todas essas cargas e muitas outras foram transportadas pelos meios disponíveis de transporte de superfície. A problemática que envolve esse tipo de transporte pode ser avaliada no exemplo do deslocamento de um gerador da Usina de Itaipu no trecho Paranaguá à Foz do Iguaçu, que exigiu um veículo cujo peso vazio foi estimado em 39 217 toneladas, o que implicou na necessidade de serem efetuados várias obras de reforço das vias utilizadas. As cargas de dimensões e peso que extrapolam os parâmetros previstos no Código Nacional de Trânsito exigem modificações nos trechos por onde é planejada a viagem, a fim de evitar danos irreversíveis nas vias e nas obras de arte. Tais exigências implicam na realização de estudos prévios de viabilidade do transporte pretendido, o que acarreta em elevados investimentos por parte das empresas responsáveis pela tarefa. Nesses estudos são avaliados as capacidades das rodovias, pontes, viadutos e túneis de suportarem os deslocamentos das cargas planejadas. Do resultado dessas avaliações surge a necessidade, ou não, de modificações nos pontos críticos e, até mesmo, mudança total de itinerário. Todo o planejamento é, então, submetido à aprovação das autoridades competentes do Ministério dos Transportes. Somente após terem sido realizadas todas as obras necessárias, de acordo com a situação, o transporte poderá ser realizado. Além disso, após concluído o transporte, é exigido que os trechos das rodovias utilizadas sejam novamente avaliados quanto a possíveis danos provocados pela operação. É de se esperar, portanto, que o custo de uma viagem transportando cargas dessa natureza, da origem do produto até a entrega no destino final, seja efetivamente mais elevado do que uma viagem com uma carga normal por via rodoviária. A Itaipu Binacional, em fevereiro de 1979, firmou contrato de CR$ 1,2 bilhões apenas para o transporte de 18 unidades geradoras da usina. Esse valor corrigido para a moeda atual equivaleria a aproximadamente 16 milhões de reais. 5.2.1 Dados do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes De acordo com as informações fornecidas pelo DNIT, o número total de autorizações especiais de trânsito (AET) emitidas no período compreendido entre os anos de 1997 a 2001 foi de 110.939 e o montante arrecadado com as taxas de emissão de AET e as taxas de utilização de vias totalizou R$ 3.120.003,01. Considerando apenas as autorizações especiais de trânsito emitidas em conformidade com a Resolução n° 2.264/81 do Conselho de Administração do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, foram registrados, no período de 1997 a 2001, 3.604 AET, distribuídas conforme o gráfico da Figura 5.1. 40 Figura 5.1: Autorizações Especiais de Trânsito Fonte: DNIT (2004). A partir dos dados obtidos o DNIT definiu os trechos rodoviários com maior Peso Bruto Total Combinado (PBTC) por quilômetro, em toda a malha rodoviária federal nos anos 2000 e 2001, conforme mostra o mapa da Figura 5.2, que mostra em destaque os 12.000 km rodovias onde o número de AET tem maior incidência. Figura 5.2: Mapa do PBTC nas Rodovias Federais Fonte: DNIT, 2004. Nas regiões Sul e Sudeste, foi realizado um levantamento das restrições encontradas, no qual foram registrados 428 restrições físicas e 3.513 obras de arte especiais nos trechos concedidos, conforme pode ser visualizado nas Figuras 5.3 e 5.4. 41 Figura 5.3: Restrições Físicas nas Rodovias Federais Fonte: DNIT (2004). Figura 5.4: Obras de Arte Especiais Cadastradas Fonte: DNIT (2004). Na Região Sul e Sudeste, o Estado do Rio de Janeiro é o que apresenta o maior número de restrições físicas ao deslocamento das cargas enquadradas na Resolução n° 2.264/81 e é, também, na rodovia BR-116, no trecho Rio de Janeiro – São Paulo, que se encontra o maior número de obras de arte especiais que oferecem algum tipo de restrição. Na Figura 5.5 encontram-se ilustrados todos os tipos de restrições levantados nas rodovias federais que cortam o Estado do Rio de Janeiro, onde é possível perceber, claramente, que são poucos os trechos livres. Com todas as limitações físicas das vias e as imposições das legislações federais, estaduais e municipais, além das exigências das concessionárias para autorizar o trânsito de veículos com cargas excedentes, é facilmente perceptível que o resultado de tudo isso ficará registrado no custo das operações de transporte das referidas cargas. 42 Figura 5.5: Restrições Físicas nas Rodovias Federais (RJ) Fonte: DNIT (2004). 5.3 CUSTO DAS OPERAÇÕES Nas seções anteriores foram apresentadas as restrições legais e físicas enfrentadas pelos clientes e pelas empresas transportadoras especializadas. Entretanto, os problemas enfrentados para o deslocamento das cargas indivisíveis não se limitam apenas àqueles. Na prática as dificuldades enfrentadas são inúmeras e não obedecem a um padrão previsível, uma vez que as dimensões, peso e volume podem variar em cada operação, tanto que são tratados individualmente pelo órgão fiscalizador. Para se entender melhor a dimensão do problema do transporte de cargas indivisíveis será apresentada, a seguir, a descrição de uma operação rotineira de transporte de equipamento para manutenção da companhia Furnas Centrais Elétricas S.A. 5.3.1 O caso de Furnas A empresa Furnas Centrais Elétricas S.A. é um complexo parque energético composto por dez usinas hidroelétricas, três termoelétricas, quarenta e três subestações e dezoito mil quilômetros de linhas de transmissão, responsável pela distribuição de 43% de toda a energia consumida no País. O folheto institucional da Assessoria de Comunicação Social da Presidência de Furnas destaca que, desde 1992, a empresa vem apresentando um índice de confiabilidade do serviço na ordem de 99,99%. Para manter a qualidade do serviço prestado, a manutenção dos equipamentos 43 é uma preocupação constante, o que exige a movimentação rotineira de peças indivisíveis de grande volume e peso. Tais equipamentos, em função da sua especificidade e elevado custo, normalmente, não possuem sobressalentes em almoxarifados, por isso, ao serem removidos para manutenção, deixam a unidade de origem vulnerável. Por essa razão, é muito importante que o tempo gasto entre a retirada e a reposição do equipamento seja o mínimo possível. A maior parte do tempo de ausência do equipamento é despendida nas operações de transporte que, além de complexas e envolverem vários órgãos públicos, causam transtornos à sociedade e elevados custos à operadora. 5.3.1.1 Operação 1 O relatório RS 057.2003 da Divisão de Apoio Logístico de Furnas relativo ao transporte de uma unidade transformadora da subestação de Grajaú – RJ com destino à fábrica da Toshiba em Contagem – MG, para manutenção, dá uma idéia da complexidade da tarefa. Segundo relata o responsável técnico, Eng. Wallace de Castro Cunha, a operação foi dividida em duas etapas. A primeira teve início no dia 30 de março de 2004, com o carregamento do transformador de 160 toneladas, 9,5m de comprimento, 3,9m de largura e 4,7m de altura, na carreta hidráulica de doze eixos, tracionada e impulsionada por dois cavalos mecânicos. O primeiro obstáculo foi remover parte do muro das instalações da subestação a fim de possibilitar a saída da carreta transportando o transformador em equipamento do tipo linha de eixos (Figura 5.6), com altura de 5,6 m. Figura 5.6: Primeira Etapa da Operação 1 Fonte: Furnas Centrais Elétricas (2004). 44 No dia 03 de maio foi iniciada a travessia urbana, que obedeceu o seguinte percurso: Rua Borda do Mato (1); Praça Francisco D´áurio; Rua Barão de Bom Retiro (2) e Teodoro da Silva (3), conforme mostra a Figura 5.7. Figura 5.7: Itinerário Urbano Inicial Fonte: Adaptação do Autor O comboio prosseguiu pela Av. Prof. Manuel de Abreu; Rua Francisco Xavier (4); Largo da Segunda-Feira; Rua Hadock Lobo (5); contorno na Rua Barão de Itapagipe (6) – (altura do viaduto 6,50 m e da luminária 5,90 m); contorno pela Av. Paulo de Frontin, pegando novamente a Rua Hadock Lobo até o Largo do Estácio (7); Rua Hélio Beltrão, Visconde Duprat, Afonso Cavalcante e Amoroso Lima; Avenida Presidente Vargas (8); Central do Brasil; Av. Marechal Floriano (9); Rua do Acre; Praça Mauá (10); Av. Rodrigues Alves (11) e Av. Prof. Pereira Reis, no Santo Cristo (12), conforme pode ser acompanhado na Figura 5.8. Nesse ponto, onde o equipamento foi transferido para um conjunto transportador do tipo viga, a fim de proporcionar uma altura menor para o transporte rodoviário (5,0 m), foi encerrada a fase inicial da operação, onde foram gastos seis dias de trabalho: quatro na remoção e carregamento do transformador no veículo para a realização do transporte urbano e dois para percorrer um percurso de apenas 15 km. Toda a primeira etapa da operação foi planejada em conjunto com os seguintes órgãos municipais: Secretaria Municipal de Transportes de Janeiro – SMTR, Secretaria Municipal de Obras – SMO, Guarda Municipal do Rio – GM-Rio, Coordenadoria de Vias 45 Especiais – CVE, de acordo com as exigências da AET municipal; e foram, ainda, contratadas as empresas TELEMAR, LIGHT, NET-RIO, Rio-Luz e SITRAN, para viabilizar a desobstrução das vias. Figura 5.8: Itinerário pelo Centro do Rio Fonte: Adaptação do Autor “Com a finalidade de reduzir o impacto social causado pela passagem do transporte pelas vias urbanas”, relata o Eng. Marco Antônio, “a prefeitura solicitou a Furnas a disponibilização de galhardetes, panfletos e cartazes, para serem distribuídos com antecedência”. No dia 09 de abril, teve início a segunda etapa da operação com a troca do equipamento transportador para a operação de transporte rodoviário, a fim de atender as exigências da legislação. Essa etapa, que teve a duração de dez dias, iniciou com o percurso noturno (Figura 5.9) pela Avenida Prof. Pereira Reis, Rodrigues Alves e Brasil (1) até Nova Iguaçu (2), onde houve uma parada para troca de escolta da Polícia Rodoviária Federal (PRF). 46 Figura 5.9: Itinerário Rodoviário Fonte: Adaptação do Autor No dia seguinte outra parada, em função de uma alteração na programação da concessionária Nova Dutra para a subida da Serra das Araras (3). Com mais duas paradas por problemas mecânicos e a quebra de motor de um dos veículos, após dois dias, o comboio chegou a Volta Redonda (4), onde foi necessário aguardar autorização da Prefeitura para a travessia do perímetro urbano até alcançar a BR-393 (Figura 5.10), na direção de Pinheiral (5). Nessa travessia, foram percorridos onze quilômetros em oito horas e meia. De Pinheiral a Vassouras (6) foram percorridos sessenta e dois quilômetros em nove horas. E assim, o comboio prosseguiu em etapas para Três Rios (7), Juiz de Fora (8), Santos Dumont (9), Cristiano Otoni (10) e Congonhas (11), fazendo uma média de sessenta quilômetros por dia, até chegar a Belo Horizonte (12), onde houve a necessidade de programar a travessia noturna até a fábrica da Toshiba em Contagem (13). 47 Figura 5.10: Segunda Etapa da Operação 1 Fonte: Furnas Centrais Elétricas (2004). A operação foi encerrada com o descarregamento do equipamento no destino, em 19 de abril, dez dias após a saída do Santo Cristo, depois de terem sido percorridos 567 km, 110 km além da distância normal entre Rio de Janeiro e Contagem, em decorrência dos desvios impostos. No percurso, além do DNIT, que aprova a operação, foram envolvidos a PRF, as concessionárias das rodovias e diversos órgãos das prefeituras municipais, nas quais foi necessário atravessar perímetros urbanos. Além disso, foram enfrentadas dificuldades com o equipamento de transporte, tais como: quebra do bloco do motor e mangueira de água do cavalo mecânico Oshkoh, quebra da mangueira de água e vazamento na caixa de marcha do cavalo mecânico Huais, quebra da cruzeta do eixo cardam do cavalo mecânico Volvo e troca de três pistões hidráulicos com vazamento, que contribuíram para aumentar o tempo gasto na viagem. O custo do transporte rodoviário dessa carga no trecho Grajaú-ContagemGrajaú, incluindo o carregamento e descarregamento, conforme se encontra registrado no relatório da Requisição de Serviço n° 057.2003 de Furnas, somou a quantia de R$ 632.000,00. O valor do seguro contratado para a operação de transporte do equipamento foi de R$ 10.000.000,00. 48 5.3.1.2 Operação 2 O segundo caso analisado, conforme consta no relatório RS 045.2004, trata da contratação da remoção e transporte rodoviário de um autotransformador da fábrica da AAB, em Guarulhos (SP) para a subestação de Samambaia (DF). Os problemas enfrentados na área urbana e nas rodovias são semelhantes aos descritos no Caso 1, portanto, são apresentados apenas os dados numéricos da operação. Características da peça: 125 toneladas de peso com as dimensões de 6,92 m de comprimento; 4,72 m de largura; e 4,47 m de altura. O custo da operação de transporte no trecho Guarulhos-Samambaia ficou em R$ 110.000,00 e o valor do seguro R$ 6.000.000,00. 5.3.1.3 Operação 3 O terceiro caso analisado trata do relatório RS 027.2003, trata da contratação da remoção e transporte rodoviário de um autotransformador da subestação de Jacarepaguá até a fábrica da AAB, em Guarulhos (SP). Características da peça: 80 toneladas de peso com as dimensões de 8,50 m de comprimento; 3,48 m de largura; e 4,75 m de altura. O custo total dessa operação ficou em R$ 32.000,00 e o valor do seguro R$ 3.500.000,00. 5.3.2 Outros casos O caso comentado se refere a cargas de pesos elevados de uma distribuidora de energia elétrica, porém, os clientes para esse mercado de transporte também se encontram nas refinarias, usinas de açúcar e álcool, empresas de telecomunicações e vários outros segmentos que necessitam deslocar cargas volumosas, como foi o caso do transporte da torre de craqueamento T-30001 do porto de Rio Grande até Refinaria Alberto Pasqualine (REFAP), na área metropolitana de Porto Alegre. A peça, de formato cilíndrico, mede de 50 m de comprimento por 09 m de diâmetro e pesa 245 toneladas (Figura 5.11). A maior parte dos 400 km da viagem foi realizada por balsas via Lagoa dos Patos até um estaleiro na foz do Rio dos Sinos, onde 49 foi transferida para uma carreta, a fim de completar o deslocamento nos 22 km restantes realizados em área urbana. Figura 5.11: Transporte de Equipamento da REFAP Fonte: REFAP (2004). O custo da operação de transporte do equipamento no trecho do porto de Rio Grande até Canoas (RS), sede da REFAP, foi de R$ 890.880,68, de acordo com informações fornecidas pelo Eng. Mauro da Silveira, funcionário da refinaria responsável pelo acompanhamento da operação. O valor segurado do equipamento foi de U$ 4.000.000,00. É interessante ressaltar que, como o equipamento é de origem espanhola, o custo total do transporte soma um valor muito superior ao que foi apresentado, uma vez que não foi possível levantar os custos das outras etapas do transporte. Os casos comentados se referem a cargas de peso bastante elevados, entretanto, a grande maioria das solicitações de AET registradas no DNIT é destinada a cargas de pesos bem inferiores aos casos descritos. O problema maior nesses casos é a dimensão da carga (Figura 5.12). Segundo levantamentos realizados junto ao DNIT, noventa por cento das solicitações de autorização de trânsito para cargas excedentes tratam de cargas com pesos inferiores a cinqüenta toneladas. Nesses casos, a operação é semelhante à que foi descrita anteriormente, pois, envolvem os mesmos órgãos e causam os mesmos transtornos, por onde passam, exceto aqueles provocados pelo peso. 50 Figura 5.12: Transporte de Cargas Excedentes Fonte: Irga (2004). A existência de um veículo que tivesse a capacidade de transportar as peças desde a sua origem até o local de utilização evitaria os contratempos e as limitações impostas pelo transporte de superfície e reduziria sensivelmente os prazos de execução e os custos diretos e indiretos deste tipo de transporte. 51 CAPÍTULO 6 UMA ALTERNATIVA PARA O TRANSPORTE DE CARGAS ESPECIAIS Considerando as limitações enfrentadas nos deslocamentos das cargas excedentes, torna-se interessante verificar como um sistema de transporte baseado no emprego de dirigíveis contribuirá para a solução do problema. Tais veículos, aos quais estão sendo incorporadas as tecnologias de ponta atualmente disponíveis, configuram o resgate de um antigo meio de transporte aéreo, com particularidades que são potencialmente úteis nesse segmento de mercado. A seguir serão analisados vários aspectos relacionados ao emprego dos dirigíveis, a fim de se determinar os pontos positivos e desvantagens dessa modalidade de transporte. 6. 6.1.1 ASPECTOS OPERACIONAIS Apoio de solo Durante a gloriosa era dos grandes dirigíveis eram necessários cerca de duzentos homens para auxiliar na operação de atracação. Para os modernos dirigíveis do tipo CargoLifter CL-160, está previsto o uso de mastros com cabos acionados hidraulicamente para a fixação da aeronave no solo, que limitam a necessidade de apoio de para cinco trabalhadores (www.cargolifter.com, 2002). O projeto SkyCat, por apresentar uma característica híbrida, em função do aircushion-system adotado para pousos e decolagens, dispensa a necessidade de mastros para atracação, uma vez que o próprio sistema será suficiente para mantê-lo fixo à superfície. Entretanto, nesse projeto, não se vislumbra a viabilidade de efetuar operações de carga e de descarga de volumes elevados, com vôos pairados, em locais inóspitos. Doravante, a pretensão é explorar mais detalhadamente as características operacionais de projetos do tipo CargoLifter, a fim de estreitar a discussão sobre o tema. A hangaragem dos dirigíveis está prevista apenas para o propósito de conduzir as operações de manutenção que requeiram equipamentos específicos. Nesses casos, um mastro móvel, instalado sobre trilhos, é movido para fora do hangar a fim de prender o dirigível e conduzi-lo para o interior da instalação (www.cargolifter.com, 2002). O reabastecimento será realizado com a aeronave no mastro ou durante a 52 operação de carga e descarga, mantendo o equilíbrio estático da aeronave. Abastecimentos em vôos pairados sobre a terra ou sobre a água poderão ser realizados para aumentar o alcance. Também o lastreamento poderá ser necessário quando ocorrer a situação em que a carga a ser transportada for menor que a capacidade útil do dirigível. O lastro será o próprio ar dos balonetes, instalados no interior; combustível; ou água (www.cargolifter.com, 2002). O conceito de manutenção progressiva preventiva deverá ser aplicado a fim evitar longos períodos de indisponibilidade. Inspeções de rotina nos motores, nas estruturas e nos equipamentos serão efetuadas quando a aeronave estiver mastreada, no intervalo entre os vôos. As experiências do passado mostraram que o hélio no interior do casco, com o tempo, tem a tendência de ficar contaminado pelo ar e pelo vapor d’água. Isso acontecendo, a característica de flutuabilidade do gás fica deteriorada. Para contornar esse problema, são empregados, desde na década de cinqüenta, unidades portáteis de purificadores de ar. Atualmente, o material de revestimento deverá apresentar qualidades de impermeabilidade que reduzem a contaminação. 6.1.2 Operação em vôo Uma análise das características de vôo dos dirigíveis é importante para se compreender as peculiaridades dessa aeronave, a fim de garantir o sucesso de um empreendimento dessa natureza. 6.1.2.1 Características de vôo Ao contrário dos aviões, que apresentam respostas rápidas aos comandos de vôo, os dirigíveis respondem lentamente. Para minimizar os efeitos dessa característica a tripulação contará com equipamentos de pilotagem automática (auto pilot) e controle manual com comandos acionados por manches do tipo joystick, assistidos por sistemas de vôo fly-by-ware, o que proporcionará efetivo controle da aeronave sem maiores dificuldades. Durante o vôo, o ângulo de arfagem (inclinação longitudinal) poderá variar em função da aplicação de comandos das superfícies aerodinâmicas, por meio da variação do empuxo vetorado ou por mudança do equilíbrio estático, variando o volume de ar nos 53 balonetes da proa ou da parte posterior do dirigível. Esse tipo de aeronave irá operar em baixas altitudes, portanto, nunca voará acima das condições de mau tempo. Assim, para enfrentar as condições meteorológicas adversas será necessário um bom monitoramento das variações climáticas na rota. O radar meteorológico será de fundamental importância para o planejamento das alterações de rota. 6.1.2.2 Cabine de comando A cabine de comando dos modernos dirigíveis é semelhante à dos aviões comerciais (Figura 6.1), equipados com todos os instrumentos de navegação e comunicação exigidos nos requisitos de aeronavegabilidade previstos na homologação da aeronave. Além desses, deverá ter instrumentação específica para monitorar o gás hélio e os balonetes do sistema de pressurização. Figura 6.1: Cabine do Zeppelin NT Fonte: www.zeppelin-nt.com (2005) 6.1.2.3 Tripulação Os dirigíveis de carga deverão ser operados por uma tripulação constituída por piloto, co-piloto, mecânico e loadmaster. Durante as operações de decolagem, pouso e vôo pairado todos os tripulantes deverão estar atentos nas suas posições de controle e monitoramento. Em rota, equipamentos automáticos proporcionarão auxílio à tripulação nos vôos de longa duração. Sob condições de mau tempo a tripulação contará com o auxílio de sistemas de navegação e de pilotagem automática (auto pilot). Mesmo voando sob controle manual, 54 com comandos acionados por manches do tipo joystick, assistidos por sistemas de vôo flyby-ware a tripulação poderá controlar a aeronave sem nenhuma dificuldade. O piloto e o co-piloto, como em qualquer aeronave comercial, deverão estar habilitados segundo as exigências do Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA-61 Subparte Q – Habilitação de Dirigíveis), que estabelece os requisitos mínimos para tripulantes. 6.1.3 Segurança Por usar hélio para prover a sustentação, o perigo de incêndio está afastado, uma vez que este gás é totalmente inerte. A estrutura dos dirigíveis é sempre planejada de forma a manter a pressão interna ligeiramente superior à pressão atmosférica. O veículo é altamente tolerante a danos físicos e, até mesmo, a ataques de armas de fogo de pequeno calibre. Em função do tamanho da sua estrutura a aeronave não sofrerá tanto os efeitos de turbulência à semelhança do que ocorre com os transatlânticos em mar turbulento e os equipamentos de monitoramento meteorológicos proporcionarão as informações necessárias para evitar as áreas de mau tempo, da mesma forma que procedem as aeronaves comerciais. O Graf Zeppelin não tinha os recursos de navegação, de comunicações, de controle e de informações meteorológicas em tempo real, para prover a segurança da navegação aérea, e nem por isso consta qualquer registro de situação de perigo nas cento e quarenta e três travessias do Atlântico realizadas (BROOKS, 1983). 6.2 ASPECTOS ECONÔMICOS A análise econômica do modelo deve levar em consideração os efeitos em longo prazo, dos investimentos, custos e o retorno do capital investido. Como os custos diretos geralmente não refletem a lucratividade em prazos dilatados e, nem mesmo, os benefícios sociais auferidos com a implementação do sistema, uma análise econômica deve considerar uma completa identificação de todos os fatores. A viabilidade de um sistema de transporte de dirigíveis, como qualquer negócio, requer uma razoável taxa de retorno do capital investido, independentemente se o capital seja estatal ou privado. 55 A análise desse aspecto foi conduzida de forma a se determinar o potencial de comercialização do serviço, partindo-se do estudo da oferta de mercado para o transporte de cargas volumosas. Desconhecendo-se os reais valores dos custos operacionais dos dirigíveis de grande porte, foi necessário trabalhar com as estimativas de custos apresentadas pelos fabricantes. 6.2.1 Custos Os projetos atuais de dirigíveis convencionais não são muito ricos no aspecto da avaliação de custos. Dos projetos pesquisados, o SkyCat foi o único que divulgou projeções mais detalhadas e comparativas sobre os custos operacionais. Portanto, na ausência de outras fontes, foram utilizados os dados econômicos fornecidos pela companhia inglesa para se realizar uma comparação dessa modalidade com os meios tradicionais de transporte de superfície. 6.2.1.1 Custos do Projeto SkyCat O capital necessário para a aquisição de um SkyCat 20 básico encontra-se entre os valores de 25 a 28 milhões de dólares e o custo operacional previsto de 3.850 dólares por hora. O SkyCat 220 terá um custo estimado entre 80 a 92 milhões, com um custo operacional de 6.350 dólares por hora de vôo. Quando a velocidade é um fator relevante, esses custos são altamente favoráveis ao se comparar com outros meios de transporte (Figura 6.2). Na verdade, o SkyCat preencheria uma lacuna do mercado de transporte que se encontra entre o rápido e caro transporte por aviões e o lento, porém de baixo custo do transporte de superfície. Figura 6.2: Projeção de Custos do Projeto SkyCat Fonte: World SkyCat Ltd. (2003) 56 Segundo a World, o SkyCat 220 é a aeronave ideal para o transporte comercial, por apresentar uma capacidade de carga de 220 toneladas, em operações STOL (pousos e decolagens curtas), e assim, oferecer um serviço de transporte de baixo custo com flexibilidade para operar em diferentes regiões do mundo. A Tabela 6.1 apresenta os custos operacionais do SkyCat 20, SkyCat 220 e CargoLifter CL-160 comparados com os custos de aeronaves de capacidades semelhantes, de acordo com os critérios fornecidos pela World SkyCat. Tabela 6.1: Custos Comparados com outras Aeronaves Aeronaves Carga (ton.) Custo/hora (US$) Bandeirante C-95 1,5 900,00 Búffalo C-115 7,50 2.350,00 Hércules C-130 18,0 3,950,00 SkyCat 20 20,0 3,850,00 Boeing 747-200 95,0 7.450,00 Boeing 747-400 110,0 9.300,00 Antonov 124 120,0 6.750,00 SkyCat 220 220,0 6.350,00 Fonte: World SkyCat Ltd. (2003) Custo ton/h (US$) 600,00 313,00 219,00 192,00 78,00 85,00 56,00 29,00 O capital inicial, os custos de “leasing” e custos operacionais sugeridos pelo representante da World SkyCat podem ser acompanhados na tabela seguinte. Tabela 6.2: Projeção de Custos do Projeto SkyCat Fonte: World SkyCat Ltd. (2003) 57 6.2.1.2 Custos do CargoLifter CL-160 A companhia CargoLifter AG não disponibilizou detalhes sobre os custos operacionais do CL-160. A única fonte encontrada, contendo informações neste sentido, foi a cópia de uma palestra proferida por representantes da empresa em visita ao Brasil, em fevereiro de 2001, que efetivamente não contribuíram para uma análise conclusiva no aspecto econômico. Como uma alternativa, para possibilitar uma estimativa de valores dos custos operacionais do CargoLifter CL-160, adotou-se como referência os valores projetados pela companhia inglesa ATG, relativos ao projeto SkyCat 220. Como o CL-160 se encontra numa faixa intermediária entre o SkyCat 20 e o SkyCat 220, cujos custos de hora de vôo são, respectivamente, US$ 3.850,00 e US$ 6.350,00, o custo operacional da hora projetado para o dirigível alemão ficará entre estes valores. Portanto, para as comparações seguintes, considerou-se que o CargoLifter CL160, com menor capacidade de carga que o SkyCat 220, irá operar com um custo de, no máximo, o valor deste: US$ 6.350,00 a hora. Dessa forma, comparando os custos do transporte de superfície, dos casos citados anteriormente, com os custos do transporte aéreo das referidas peças, empregando-se um dirigível para o deslocamento da carga, foi possível verificar que existem vantagens nesse aspecto. 6.2.2 Análise Comparativa dos Custos Para viabilizar uma análise comparativa dos custos do transporte de cargas excedentes, executados pelos meios tradicionais de superfície, com os valores que seriam despendidos se tais cargas fossem deslocadas por dirigíveis foram usados como teste o modelo da Operação 1, citada na seção 5.3.1.1. 6.2.2.1 Teste da Operação 1 Nessa operação foi descrito o caso do transporte por via terrestre da unidade transformadora da companhia Furnas, cuja operação durou vinte dias e o custo do deslocamento da peça do Rio de Janeiro para Contagem (MG) foi de R$ 316.000,00. Considerando a possibilidade de se realizar esse serviço usando um dirigível 58 do tipo CL-160, o cenário que se vislumbra para o cumprimento da missão seria viabilizado em cinco etapas: 1 – remoção da peça do local original para o pátio das instalações; 2 – na seqüência, o CL-160 voaria até a vertical do local e iniciaria o processo de carregamento, empregando os equipamentos adequados para içar a peça; 3 – deslocamento da peça até o destino previsto; 4 – descarregamento do transformador no pátio da empresa de manutenção; e 5 – remoção para o interior das instalações da empresa. De acordo com o Relatório Técnico de Transporte nº 005/2004 da Divisão de Apoio Logístico de Furnas Centrais Elétricas S.A., a operação de remoção do transformador durou treze horas e meia e o carregamento, oito horas. Empregando-se o dirigível CL-160, com o seu sistema de guindastes para o içamento e o uso de “palets” apropriados, o tempo gasto na operação seria de três a quatro horas. A distância, em linha reta, do bairro Grajaú até a cidade de Contagem, medida na Carta de Navegação Aérea – L2 (RNC-L2) é de 125 milhas náuticas, que o CL-160 poderia cobrir em duas horas e meia, mantendo a velocidade de 49 kt (Tabela 4.2). Para efeito do presente cálculo foi considerado o tempo de três horas. Para o descarregamento no pátio da empresa de manutenção, onde a peça seria depositada em uma plataforma pneumática para facilitar o movimento para o interior das instalações, estima-se que o tempo gasto seria, na pior das hipóteses, semelhante ao do processo de carregamento, portanto, somam-se mais três horas. Perfazendo o tempo gasto de dez horas. Considerando, ainda, que o operador incluirá no orçamento os custos das viagens da base até o local de operação e o retorno para a base, seriam mais três horas: meia hora para o deslocamento até o ponto de carregamento, supondo que a aeronave esteja baseada na área do Rio de Janeiro, e duas horas e meia para o retorno à base. Assim, o tempo total gasto na operação de transporte do transformador seria de treze horas. Então, quanto custaria transportar esse transformador, utilizando um dirigível com capacidade para cumprir a missão? Considerando o valor de US$ 6.350,00 a hora de vôo do CargoLifter CL-160 (6.2.1.2), o custo de treze horas de operação seria de US$ 82.550,00, equivalente a aproximadamente R$ 190.000,00 (com o câmbio a R$ 2,30) . Mesmo que se tivessem subestimado os tempos e os valores empregados no 59 cálculo, os montantes calculados para a operação com o CL-160 somam um pouco mais da metade do R$ 316.000,00 gastos no transporte pelos meios tradicionais de superfície. Portanto, nesse caso, as vantagens econômicas diretas são evidentes. 6.2.3 Análise do Potencial de Mercado De acordo com o resultado de estudos apresentado pela CargoLifter AG, anualmente são movimentados 4,9 bilhões de toneladas de carga pelos meios tradicionais de superfície – aquáticos, rodoviários e ferroviários. Por aeronaves e pelos meios de superfície que comportam veículos de velocidades mais elevadas foi estimado um movimento de 50 milhões de toneladas transportadas (Figura 6.3). Figura 6.3: Potencial de Mercado Fonte: CargoLifter AG (2001) A empresa calcula que existe uma oferta de 30 milhões de toneladas de cargas especiais excedentes movimentadas anualmente. Visando uma pequena parcela desse mercado, equivalente a dez por cento do volume estimado, resultaria em três milhões de toneladas que poderiam ser transportadas de forma mais eficiente empregando-se dirigíveis do tipo CargoLifter CL-160. Isso significa, de acordo com a companhia, que o mercado comporta o emprego de aproximadamente 200 dirigíveis com a capacidade do CL-160 (the market will need approx. 200 airships with the carrying capacity of the CargoLifter CL-160 (www.cargolifter.com, 2002)). No Brasil, a companhia estimou que existe mercado de carga para operação permanente de duas aeronaves desse tipo. Tal prognóstico pode ser confirmado ao se confrontar com o número de solicitações de Autorizações Especiais de Trânsito apresentadas na Figura 5.1, que representam a oferta de transporte de cargas excedentes. No ano de 2001, foram emitidas 866 AET. Considerando-se apenas a metade 60 dessa oferta, ou seja, 433 serviços de transporte de cargas excedentes, e supondo-se que o tempo para o cumprimento de cada serviço dure, em média, dois dias, isso resultaria em um total de 866 dias de serviço, o que excederia a capacidade dos dois dirigíveis sugeridos pela CargoLifter AG. Assim, fica também demonstrado o potencial nacional de mercado para essas aeronaves. 6.3 ASPECTOS AMBIENTAIS A qualidade do meio ambiente nas áreas urbanas é uma preocupação mundial. Uma das principais causas do contínuo processo de deterioração da qualidade do ar nas grandes cidades é o uso sistemático dos atuais sistemas de transportes baseados no consumo energético de derivados de petróleo. A sociedade percebe a importância do problema e exige, cada vez mais, o compromisso com a preservação ambiental nos produtos e serviços que demanda. Em decorrência, a legislação ambiental torna-se mais rigorosa. Os sistemas de transportes já foram mais poluentes do que são atualmente. Entretanto, a preocupação em oferecer serviços de transporte seguros e competitivos mantém sistemas que ainda consomem muita energia, lançam na atmosfera enormes quantidades de resíduos e provocam elevados níveis de ruídos. A modalidade de transporte aéreo exige enormes áreas de terrenos urbanos para a instalação de aeroportos. Os aviões requerem longas pistas para as operações de pouso e decolagens; e extensas áreas para as manobras de rolagem e estacionamento de aeronaves. O intenso movimento aéreo sobre os perímetros urbanos provoca transtornos à população devido ao elevado nível de ruídos e à emissão de poluentes. O afastamento dos aeroportos para áreas com menor densidade populacional, além de encarecer o transporte, resolve o problema por tempo limitado, uma vez que tais instalações são pólos geradores de desenvolvimento. Isso significa que em pouco tempo os novos aeroportos já estarão envolvidos pela expansão da área urbana. Os dirigíveis se apresentam como uma solução para esse problema, uma vez que não necessitam de grandes áreas para operação. Pequenos aeroportos em aéreas urbanas, ou mesmo áreas com pouca infra-estrutura, podem receber essas aeronaves com 61 a vantagem de serem capazes de operar com motores de baixo consumo de energia e de não produzirem poluição sonora. A possibilidade de operar em áreas urbanas sem a infra-estrutura de aeroportos será uma inovação sem precedentes. Ao possibilitar o carregamento da carga e a entrega diretamente no destino, reduzirá consideravelmente o trânsito de pesados tratores e caminhões pelos perímetros urbanos. Esse meio de transporte possibilitará a descentralização dos empreendimentos com a conseqüente dispersão das viagens. A sociedade moderna está conscientizada para a importância da preservação ambiental. A viabilidade dos empreendimentos baseada em fatores econômicos, que consideravam apenas os prazos de retorno financeiro dos investimentos já não é mais uma realidade. Atualmente, os empreendimentos devem, necessariamente, se adequar ao conceito de desenvolvimento sustentável. A poluição do ar e dos mananciais, bem como a destruição das plantas e dos animais silvestres, não têm preço. 6.3.1 Qualidade do ar Com exceção do Brasil, que se encontra em um estágio que se pode considerar avançado no uso da energia renovável e não poluente, como é o caso do álcool e do biodiesel, a maioria dos países adota, como a matriz energética dos seus sistemas de transportes, os combustíveis derivados do petróleo, com todas as conseqüências danosas que acarretam ao meio ambiente. Comparados com os outros meios de transportes, os dirigíveis são os que menos afetam a qualidade do ar. Em relação aos aviões, apresentam a vantagem de não requerer grandes quantidades de combustível para elevar a carga até a altitude de cruzeiro; nos dirigíveis, o que sustenta o peso é a propriedade física de flutuabilidade do gás hélio. Os motores serão usados somente para conduzir os deslocamentos horizontais. Para se ter idéia do consumo de energia, tomando como referência as informações fornecidas pelo 1º/2º GT (Grupo de Transportes) da Base Aérea do Galeão, são gastos 6.300 litros de querosene somente para conduzir um Boeing 707 até o nível médio de cruzeiro. Na Tabela 6.3 é possível acompanhar os desempenhos das aeronaves Boeing 707 e Hércules C-130 comparados com o CargoLifter CL-160 no planejamento de uma 62 viagem do Rio de Janeiro a Manaus, cuja distância, em aerovia, é de 1.570 milhas náuticas (2.826 km). Tabela 6.3: Desempenho das Aeronaves Fonte: 1º/1º GT (2004), 1º/2º GT (2004), CargoLifter AG (2001) *Obs: De acordo com a concepção do projeto CargoLifter, não há necessidade de áreas preparadas para o processo de carga e descarga, contudo, para o parqueamento da aeronave será necessária uma área conforme é apresentado na Figura 6.4. Para se calcular o consumo provável de combustível do CL-160, uma vez que a companhia alemã não fornece esse tipo de informação, considerou-se a possibilidade dessa aeronave ser equipada com quatro motores equivalentes ao Pratt Whitney PT6, que equipam aeronaves como os Bandeirantes e os Tucanos da Força Aérea. O consumo horário médio desses motores é de 100 litros por hora. No caso da rota Rio-Manaus, o consumo ao longo de 31:00 hs de vôo seria de 12.400 litros, um pouco mais de um terço do consumo do Boeing 707 e próximo do consumo de um C-130. O diferencial se encontra na capacidade de carga deslocada: o CL-160 transporta cinco vezes a capacidade do Boeing 707 e mais de oito vezes a capacidade do Hércules, com restrições mínimas quanto ao volume de carga. É possível que a queima de combustível possa ser, ainda, mais reduzida e com menor impacto ambiental. Em março de 2005, conforme noticiou o jornal Gazeta Mercantil, a Indústria Aeronáutica Neiva entregou o primeiro avião com motor movido a álcool para emprego na aviação agrícola. Tais motores, segundo relata Virgínia Silveira, apresentam desempenho 5% superior ao motor a gasolina e uma economia de 20% no custo operacional, poderiam ser utilizados nos dirigíveis. Com baixo consumo de energia e um combustível não poluente, os efeitos na qualidade do ar seriam mínimos. 6.3.2 Uso do solo Os dirigíveis não necessitam de pistas para pouso e decolagem, portanto, não haverá necessidade de indisponibilizar grandes áreas para os terminais de operação. Um Boeing 707 necessita de 3.150 m de pista adequada para operar com seu peso total, no nível do mar, enquanto um Hércules requer 2.400 m (Tabela 6.3), mais as áreas de manobras, facilidades e zonas de proteção no prolongamento das pistas, resultando na 63 ocupação de dezenas de hectares de áreas urbanas. Para o estacionamento do CargoLifter 160 será necessário disponibilizar uma área livre de 400 m de raio, em cujo centro deverá ser instalado o mastro de atracação (Figura 6.4), de forma que a aeronave possa se manter aproada com o vento, à semelhança do que ocorre com os navios atracados fora dos portos. Fig. 6.4: Área de Estacionamento Fonte: www.cargolifter.com (2002) Outra vantagem proporcionada pelos dirigíveis seria a redução do tráfego de caminhões nas cercanias dos aeroportos, uma vez que dispensariam esse transporte intermediário, por possibilitarem o recolhimento das cargas na origem e a entrega diretamente no destino final. Além disso, os dirigíveis poderão operar em pequenos aeroportos já existentes ou em áreas sem infra-estrutura. Entretanto, essas aeronaves não dispensarão bases de apoio, que poderão ser instaladas em locais mais afastados. As bases centrais dos dirigíveis do futuro não necessitarão de grandes hangares e pátios concretados como os aeroportos que impermeabilizam grandes áreas com concreto e asfalto, geralmente em perímetros urbanos nobres. A manutenção, segundo a companhia Aeros, poderá ser realizada a céu aberto. 64 6.3.3 Poluição Sonora O problema da poluição sonora nas redondezas dos aeroportos é tão grave que, para reduzir os ruídos a níveis aceitáveis no período noturno, foi necessário, em muitas localidades, adotar medidas para minimizar os efeitos danosos à população, tais como decolagens e pousos em direções pré-estabelecidas, ou o fechamento para as operações noturnas, como acontece nos aeroportos de Congonhas (SP), da Pampulha (MG) e de Bacacheri (PR). As novas aeronaves de transporte já atendem aos rigorosos limites de emissão de ruídos, mas, mesmo assim, continuam com restrições para operar em aeroportos rodeados por bairros residenciais, como aqueles citados no parágrafo anterior, em função das exigências municipais. Contudo, os protótipos dos grandes dirigíveis – os “blimps” – vêm demonstrando que a poluição sonora não é um problema para essas aeronaves, uma vez que os motores empregados são de concepção moderna e de potência reduzida. O “blimp” que operou no Rio de Janeiro a serviço do governo do Estado voava rotineiramente na vertical da cidade, durante o período noturno, sem chamar a atenção. Não se tem conhecimento de nenhum registro de transtorno à população que tenha sido provocado pela operação do dirigível, o que comprova a característica de baixa emissão de ruídos desse modelo de aeronave. Além do reduzido impacto ambiental na operação, essas aeronaves poderão contribuir na preservação do meio ambiente, servindo como plataforma ideal para o controle e o monitoramento de fontes de poluição das mais variadas naturezas. 6.4 ASPECTOS ESTRATÉGICOS As características operacionais dos projetos CargoLifter CL-160 fazem dessas aeronaves, também, os veículos ideais para o emprego nos cenários distantes, inóspitos e acidentados, e até mesmo, nas plataformas marítimas. Os projetos estudados também podem servir como plataformas para equipamentos de vigilância e de comunicações, em função da grande autonomia, baixo custo da hora de vôo, baixo nível de vibrações e reduzida assinatura radar, que é inferior à dos aviões, devido a forma, a densidade e o material absorvente que envolve essas aeronaves, conforme explica o Engenheiro Aeronáutico Sérgio Varella Gomes (1997). 65 Na Segunda Guerra Mundial, quando a Marinha Americana passou a empregar “blimps” na escolta dos comboios nenhum navio mais foi afundado por submarinos inimigos, segundo White (1978). Mais recentemente, em 2000, conforme já foi citado, um “blimp” equipado com um radar de varredura e detecção foi utilizado com sucesso como caça minas na Guerra do Kosovo. A grande vantagem do uso do dirigível é a possibilidade de permanecer parado por longo tempo sobre o local, permitindo uma identificação eficaz com elevada segurança e reduzido custo. No Rio de Janeiro, em 2002, a Secretaria de Segurança Pública também utilizou um “blimp” da American Blimp Corporation para tarefas de vigilância policial. Como aeronave de apoio na implantação de estações de radar, de comunicações, de informações meteorológicas ou, até mesmo, nos projetos de prospecção mineral na selva ou na plataforma marítima, os benefícios são gritantes quando comparados aos helicópteros nos aspectos relacionados com a capacidade de carga, alcance e custos. O potencial de exploração comercial dos dirigíveis se mostra promissor, contudo, trata-se de um empreendimento que exige grandes capitais para finalizar os projetos em desenvolvimento. Capitais que a iniciativa privada tem receio de aplicar, devido às incertezas e os longos prazos de retorno do investimento. Figura 6.5: Projeto Walrus Fonte: Jane´s Defence Weekly (2004) A maioria dos meios de transporte, bem como, grande parte das inovações tecnológicas do mundo moderno tiveram o seu desenvolvimento inicial voltado para a aplicação militar, principalmente as aeronaves. Nesse sentido, o projeto Walrus (Figura 66 6.4) pode representar a grande oportunidade dessas aeronaves efetivamente retornarem aos céus para reafirmar as qualidades e vantagens dos veículos mais leves que o ar. A agência de pesquisa Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) do Departamento de Defesa Norte-Americano, conforme relata Koch (2004), tem a intenção de iniciar esforços no sentido de desenvolver um veículo com capacidade para transportar 500 toneladas, o suficiente para deslocar uma unidade de ação rápida do tamanho de uma brigada, em distâncias intercontinentais. Tal veículo, necessariamente, deverá ter capacidade para operar em locais desprovidos de infra-estrutura. Para atender a esse requisito o DARPA adianta que deverá ser “a hybrid aircraft concept that generates lift through ligh-than-air gas buoyancy, as well as aerodynamic and propulsive methods”, descrição que se enquadra nas características do projecto SkyCat. Mas é necessário registrar também que, no desenvolvimento dessa pesquisa, foram observadas algumas desvantagens e limitações que não poderiam deixar de ser mencionadas. 6.5 DESVANTAGENS Torna-se importante salientar que os futuros fabricantes de dirigíveis têm uma visível tendência de evidenciar os seus benefícios e vantagens e, convenientemente, omitir os aspectos desfavoráveis. A generalidade das fontes consultadas são omissas nesse aspecto, contudo, é possível inferir alguns obstáculos que naturalmente deverão ser enfrentados. O maior desses obstáculos está relacionado com os custos de desenvolvimento de tais projetos. A CargoLifter no momento encontra-se parada por falta de recursos, sem condições de dar continuidade às investigações, portanto, as previsões iniciais de pôr em operação um CargoLifter, em 2003, não se concretizou. A World SkyCat prossegue nas pesquisas, porém, continua em rítimo lento, até o momento, de concreto, só existe um protótipo do SkyCat, em escala reduzida, que vem sendo ensaiado na Inglaterra. Quanto ao problema da manutenção, esta deverá ser modular e progressiva, podendo ser realizada a céu aberto, de acordo com os fabricantes, contudo vai requerer uma infra-estrutura específica para a manutenção da célula e da estrutura. Além disso, exigirá a disponibilidade de grandes quantidades de hélio, cujo preço é elevado, e 67 equipamentos para purificar o gás, que por ser muito volátil pode facilmente ser contaminado com outros gases, perdendo eficiência na característica física de flutuabilidade. Pouco se sabe sobre o comportamento esperado do material de revestimento dessas aeronaves, resultantes dos vôos em condições de elevadas variações de temperatura, umidade e pressão. É de se supor que problemas poderão surgir nesse sentido. No aspecto operacional as dificuldades que poderão surgir estão relacionadas com a manobrabilidade dos LTA, devido a lentidão nas respostas aos comandos de vôo, principalmente nas operações de pouso e decolagens, o que exigirá a adoção de sistemas de comando de vôo mais complexos para possibilitar operações seguras. Com relação a segurança, pouco se sabe sobre o comportamento dos LTA, em condições meteorológicas adversas. Os americanos perderam vários dirigíveis em decorrência de mau tempo, mas, curiosamente, não se tem registro de nenhuma perda do lado alemão nessas condições. Contudo, há que se aprofundar as pesquisas nesse sentido, a fim de garantir a segurança de vôo. Apesar de algumas desvantagens e limitações, não há dúvidas sobre as possibilidades de emprego dos dirigíveis na logística de transporte, principalmente no deslocamento das cargas excedentes, conforme foi demonstrado. 6.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS DIRIGÍVEIS É importante relembrar que as pesquisas já realizadas, como as da Houston University (1975) e do CTA (1981), recomendam que a estratégia para a efetivação de um sistema de transportes baseado nos dirigíveis deverá obedecer três fases distintas de planejamento, cada uma delas servindo de suporte para a etapa posterior. Na fase inicial, ou Fase I, deverá ter início com a operação de aeronaves com capacidade até vinte e cinco toneladas de carga segundo a Houston University ou, conforme sugere o CTA, o emprego de aeronaves com capacidade de até vinte toneladas. O projeto do SkyCat 20, com capacidade para transportar vinte toneladas confirma essa tendência. Depois de consolidada a fase inicial, teria inicio segunda fase, ou Fase II, num 68 período de tempo estimado de dez anos, com a operação de dirigíveis de até cem toneladas, conforme indicam os cientistas de Houston; ou oitenta toneladas, como sugerem os cientistas do CTA. Entretanto, o projeto alemão da CargoLifter saltaria direto para cento e sessenta toneladas, enquanto a sugestão inglesa, para essa fase, seria o SkyCat 220, com capacidade para transportar duzentas e vinte toneladas. A terceira fase, não foi objeto de estudo da Houston University. O CTA considera que seria caracterizada pelo emprego de dirigíveis com capacidade superior a duzentas toneladas, utilizando a tecnologia de última geração e tomando como base os conhecimentos adquiridos nas fases anteriores. Sob essa óptica, o projecto Walrus apresentado no capítulo anterior, estaria pulando as duas fases iniciais de consolidação, o que não seria recomendável, na opinião dos cientistas. Além do faseamento planejado para a consolidação do empreendimento, para que a aeronave se torne viável deve ser projetada para uma missão específica, que esteja relacionada com as atividades nas quais os demais meios de transporte apresentem dificuldades em atender de forma mais eficaz. Assim, nesta altura, é oportuno rememorar os principais aspectos que serviram como argumentos em defesa da proposta apresentada neste trabalho. 69 CAPÍTULO 7 CONCLUSÃO A concepção inicial do criador dos grandes dirigíveis do passado, o Conde Ferdinand von Zeppelin, estava voltada para o emprego como plataforma de armamento. Contudo, foi no transporte de passageiros e cargas, na década de trinta, que essas aeronaves ficaram notabilizadas, tanto no sucesso temporário auferido como na desgraça protagonizada pelo Hindenburg, em 1937. Em que pese esse meio de transporte ficar relegado a planos secundários nos anos seguintes, ele nunca foi totalmente abandonado e, a partir da década de setenta, com a primeira crise do petróleo, o interesse pelo tema reascendeu. Trabalhos científicos interessantes foram publicados em vários países mostrando os benefícios do emprego de dirigíveis na lacuna que se encontra entre o rápido e dispendioso transporte por aviões e o de menor custo, porém lento, transporte de superfície. Nessa época, na University of Houston teve lugar uma pesquisa, patrocinada pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) em cooperação com a American Society for Enginnering Education, por uma equipe de cientistas de diferentes universidades, que considerou vários aspectos no campo da engenharia, com o objetivo de verificar a viabilidade do uso dessas aeronaves no transporte aéreo, bem como, a sua relação com outros setores da atividade humana. Posteriormente, em São José dos Campos, os cientistas CTA chegaram a conclusões semelhantes. Verificou-se, no desenvolvimento da pesquisa, que o problema do transporte das cargas de peso e volumes excedentes é complexo e dispendioso. As exigências legais para movimentar essas cargas são muitas e demandam inúmeras ações a serem executadas a fim de viabilizar a tarefa, tanto nos deslocamentos urbanos como nas rodovias. Nos perímetros urbanos, as movimentações normalmente só recebem autorizações para serem realizadas à noite e é exigido o acompanhamento dos órgãos responsáveis pelos serviços que podem ser afetados pelo deslocamento da carga, tais como: as companhias de energia, telefone e internet; as secretarias de obras e trânsito; a guarda municipal; e órgãos de sinalização, entre outros. Esses envolvimentos exigem tempo para o planejamento e a execução e implicam em custos adicionais. 70 Para as viagens nas rodovias são exigidas autorizações especiais de trânsito que dependem de estudos de viabilidade dos percursos nos quais devem ser apresentados relatórios conclusivos sobre a identificação e a vistoria das obras de arte, permitindo o transporte ou indicando as providências necessárias para tal. Além disso, os deslocamentos só podem ser realizados no período diurno e devidamente acompanhados pela Polícia Rodoviária. Nos levantamentos realizados, verificou-se que as rodovias federais das regiões Sul e Sudeste são as que apresentam o maior número de solicitações de autorizações especiais de trânsito para cargas excedentes e também as que possuem maior número de restrições físicas e obras de arte. As exigências impostas visam preservar as vias e minimizar os transtornos provocados no trânsito, porém, os resultados dessas ações ficam registrados nos custos finais das operações de transporte das referidas cargas, conforme ficou evidenciado nos casos analisados. Contudo, isso poderia ser diferente se fosse empregado um meio de transporte que contornasse os obstáculos legais e físicos, inevitáveis no transporte rodoviário. Neste contexto, foi proposto o emprego do dirigível como uma solução para superar as dificuldades e os custos dos meios de superfície, nos casos específicos de movimentação de cargas excedentes. Um dirigível com capacidade para transportar cargas volumosas poderá realizar tal tarefa com tempos reduzidos de entrega e de forma economicamente mais vantajosa. Comparando-se com os aviões as aeronaves “mais leves que o ar” requerem menos potência para voar, pois a sustentação aerostática a isenta da necessidade de despender potência para a decolagem aerodinâmica, resultando em economia de combustível. O advento de novas tecnologias em materiais e equipamentos eletrônicas veio, nos últimos anos, oferecer às aeronaves flutuantes um novo alento com a possibilidade de utilizações comerciais em segmentos nos quais o transporte rodoviário apresenta limitações e onde tanto aviões quanto helicópteros jamais conseguiram operar com eficiência e eficácia. As fibras de vidro e carbono, como materiais estruturais básicos, a incorporação do kevlar e aramídicos como materiais estruturais, o aperfeiçoamento da microeletrônica e 71 da informática, permitindo automatismo do vôo e dos procedimentos operacionais de pousos e decolagens, vieram propiciar aos dirigíveis novos campos de emprego. A modalidade apresentada como alternativa para o transporte de cargas excedentes possibilitará a execução desse tipo de serviço com uma relação benefício/custo superior aos meios tradicionais de transporte. O emprego de aeronaves “mais leves que o ar” no transporte de cargas de dimensões e peso excedentes dos locais de origem diretamente para os destinos finais, eliminando as necessidades de transbordos e reduzindo as operações pré e pós o processo de transporte, será possível graças às características de concepções específicas de certos dirigíveis, como é o caso do guindaste aéreo do projeto da companhia alemã CargoLifter. Dirigíveis com tal concepção apresentam características próprias que capacitam a sua utilização em áreas desprovidas de infra-estrutura terrestre, permitindo executar o processo de carga e descarga pairados no local da operação. Além de apresentarem a vantagem de realizar vôos de longa duração, graças à autonomia elevada proporcionada pelo baixo consumo de combustível. Conforme foi apresentado, na comparação dos custos operacionais, dirigíveis do tipo guindaste aéreo apresentam-se como potencialmente vantajosos, com uma relação positiva comparada com o transporte de superfície, no caso particular das cargas excedentes. Aeronaves com capacidade entre cem e duzentas toneladas possibilitariam o transporte de inúmeras peças que, atualmente, são movimentadas por rodovias, enfrentando os obstáculos legais e físicos, conforme foram descritos no desenvolvimento da pesquisa. Analisando-se casos como o do transporte de uma unidade transformadora do Rio de Janeiro para Contagem (MG), verificou-se que a economia direta que um dirigível proporcionaria foi estimada na ordem de 50% do custo do transporte efetuado por rodovia. Além disso, o tempo de 20 dias gasto na operação ficaria reduzido para apenas um dia, eliminando, ainda, os custos indiretos da operação e os transtornos que o movimento dessas cargas provoca no trânsito. Outro aspecto relevante está relacionado com a qualidade do meio ambiente uma preocupação de âmbito mundial – onde a pesquisa mostra dados indicando que os 72 dirigíveis se apresentam como a modalidade de transporte que menos agride o ambiente, tanto no aspecto de uso do solo, como no da poluição sonora e atmosférica. Diante do exposto, observa-se que as condições brasileiras relacionadas com o transporte de cargas excedentes, quando confrontadas com as características de emprego dos dirigíveis de carga concebidos com as novas tecnologias disponíveis, comprovam a existência de um potencial de mercado específico para essas aeronaves. Para fundamentar tal conclusão, buscou-se nos registros do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes os dados relativos às cargas especiais movimentadas no país. Dessa forma, baseado no número de autorizações especiais de trânsito para cargas excedentes, a pesquisa revelou que existe no Brasil um potencial de mercado para o emprego de, pelo menos, duas aeronaves dessa categoria. Contudo, para viabilizar um empreendimento dessa natureza, em primeiro lugar, é necessário quebrar paradigmas. O principal deles está relacionado com a crença de que os dirigíveis são perigosos, uma vez que essas aeronaves ficaram estigmatizadas por causa do acidente do Hindenburg, quando ainda se utilizava hidrogênio como gás flutuante. Nesse sentido, a melhor arma a ser empregada é a informação, para tanto deverão ser incentivadas as discussões e os debates, tanto nos meios militares como nos setores acadêmicos e científicos. O conhecimento sobre o tema deverá dirimir muitas das dúvidas comuns a respeito das capacidades e potencialidades desse meio de transporte. Os receios e os temores relacionados ao uso comercial dos dirigíveis só desaparecerão com o resultado de pesquisas e estudos voltados para a recuperação, para o desenvolvimento e para a divulgação do conhecimento, a fim de esclarecer a sociedade sobre os aspectos positivos da operação desses veículos. Faz-se necessário, então, aprofundar-se o estudo dos custos de desenvolvimento de projetos dessa nova modalidade, realizando o cômputo da demanda da logística empresarial frente aos problemas de implantação e de manutenção de um sistema dessa natureza. A questão dos custos de seguros das cargas especiais transportadas necessita ser pesquisada com maior profundidade, uma vez que as seguradoras, desconhecendo as peculiaridades operacionais dos dirigíveis, ainda não têm condições de estabelecer valores por completo desconhecimento do tema. É necessário, 73 ainda, manter um acompanhamento contínuo da evolução da tecnologia na arte de fabricação de novos modelos de aeronaves “mais leves que o ar”, principalmente naquilo que respeita às particularidades do transporte de cargas excedentes. Pelo estudo realizado, concluiu-se que o emprego de dirigíveis do tipo guindaste aéreo semelhantes ao concebido pela companhia alemã CargoLifter é perfeitamente viável nas condições propostas. Dado o estágio atual alcançado pela tecnologia aeronáutica, a utilização futura desse tipo de aeronave deverá ocorrer em patamares de confiabilidade seguramente aceitáveis, além de permitirem valores de frete reduzidos para os casos especificamente apresentados. Assim, conclui-se finalmente este trabalho, com a convicção de que todos os esforços foram feitos no sentido de se atingir os objetivos propostos para a pesquisa e no entendimento que o emprego dos dirigíveis se apresenta como uma solução viável para o nicho de mercado específico do transporte de cargas excedentes. 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEROS-ML partially bouyant aircraft. Disponível airships.com/aeros-ml_hybrid.asp. Acesso em: 10 Out. 2004. em: http://www.aeros- AIRSHIPS News. Disponível em: http://www.myairships.com/news/index.html. Acesso em: 27 Set. 2002. BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Departamento de Aviação Civil. Comissão de Estudos e Coordenação da Infra-estrutura Aeronáutica. Análise de mercado para veículos não convencionais: Estudo comparativo de custos e Estudo de caso. Rio de Janeiro, 1980. _____ . Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Departamento de Aviação Civil. Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica – 61. Rio de Janeiro, 2001. _____ . 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