ENSINO DAS CAPACIDADES FÍSICAS E PERCEPTIVO MOTORAS NO
ENSINO FUNDAMENTAL
Christian Vieira de Souza
RESUMO
O ensino do Movimento e a Corporeidade na Educação Física é essencial para
a tomada de consciência do sujeito a respeito do movimento intencional. As
Estruturas Orgânicas representam parte do conhecimento que possuímos
como espécie e divide-se em: Estruturas Capacitativas e Estruturas Perceptivomotoras. As Estruturas Capacitativas são inatas e representam o potencial
genético ou capacidade que se refere ao potencial do indivíduo para se adaptar
e sobreviver em seu meio ambiente, físico ou social: Força, Resistência,
Velocidade, e Flexibilidade. As Estruturas Perceptivo-motoras são estruturas
que aliam as estruturas capacitativas à percepção sensorial, necessitando de
aprimoramento em qualidade por meio da experiência; não sendo inatas,
necessitam de aprendizagem e adaptações do indivíduo em desenvolvimento:
Coordenação, Lateralidade, Equilíbrio e Organização Espaço Temporal. Os
objetivos do ensino precisam estar coerentes com os objetivos da
escolarização e de acordo com as possibilidades objetivas e efetivas da escola.
Pode-se afirmar claramente que a aula não é espaço de treinamento, mas de
construção de conhecimento. Portanto, na elaboração de planos de aula, os
objetivos para este núcleo de conhecimento precisam estar coerentes com os
objetivos do Projeto Político Pedagógico e com as condições próprias de
efetiva concretização. O tempo/espaço das aulas de Educação Física
apresentam-se insuficientes para promover desenvolvimento de habilidades ou
capacidades físico motoras aos estudantes por meio de treinamento, mas pode
ensinar a respeito do assunto para que o sujeito, se desejar, procure o
aprimoramento de suas capacidades.
Palavras-chave: Ensino de Educação Física; Capacidades Físicas; Estrutura
Capacitativa e Motora.
Cada sujeito é unico e neste sentido, seu movimento tem
singularidades na interação com o meio, natureza e sociedade que também
são estruturados com base em suas vivências no mundo da cultura. Por isso,
cada sujeito tem possibilidade de responder criativamente aos problemas e
situações que lhe são apresentadas em busca de soluções que promovam
melhor adaptação ao meio do qual faz parte, podendo dispensar padrões
estruturados.
As aulas de Educação Física devem ser entendidas como espaços
concretos para a construção da compreensão da motricidade
humana, através da produção de abstrações pela criança,
relacionadas à generalização e esta aos processos de pensamento.
Assim, a motricidade humana não pode ter sentido repetitivo,
compensatório ou preparatório, tampouco pode ter marcas atléticas a
alcançar. deve ser compreendida pelo professor como uma
manifestação viva e complexa da corporeidade (PALMA et. al., 2010,
p. 54)
Dentre os conteúdos ensinados na Educação Física, baseado no
Movimento Humano Culturalmente Construído, o Movimento e a Corporeidade,
o Movimento e os Jogos, o Movimento e os Esportes, o Movimento em
Expressão e Ritmo, e o Movimento e a Saúde, constituem núcleos de
conhecimento (PALMA et. al., 2010). Dentre eles, o ensino da Corporeidade é
essencial para a tomada de consciência do sujeito a respeito do movimento
intencional (SOUZA, 2012).
Nos conteúdos da Educação Física, segundo esta proposta de
Organização Curricular (PALMA et. al., 2010), o Movimento e a Corporeidade,
apresenta-se como o núcleo estruturante que compreende os conhecimentos
sobre o corpo, o esquema corporal, as habilidades motoras, manipulativas,
locomotoras e não locomotoras, e o ensino das Estruturas Orgânicas que
capacitam/possibilitam o movimento.
O estudo do Movimento e a Corporeidade se estende desde o mais
rudimentar movimento humano até a forma mais elaborada de movimento, da
construção de esquemas motores à vivência e reconhecimento exploratório, ao
movimento mais especializado e padronizado dentro de alguma manifestação
cultural como dança, luta, esporte, jogo ou ginástica. Portanto, os conteúdos
deste núcleo valorizarão a tomada de consciência do corpo próprio e das ações
motoras intencionais, interagindo por meio da motricidade e das manifestações
construídas e vividas pelo humano (PALMA et. al., 2010).
As Estruturas Orgânicas representam parte do conhecimento que
possuímos como espécie, aos quais, podemos dividir pedagogicamente em:
Estruturas Capacitativas e Estruturas Perceptivo-motoras (GALLARDO, 2000).
As Estruturas Capacitativas são inatas e representam o potencial
genético ou capacidade que se refere ao potencial do indivíduo para se adaptar
e sobreviver em seu meio ambiente, físico ou social. Podem ser aprimoradas
em qualidade por meio da experiência, vivência ou treinamento. São elas:
Força, Resistência, Velocidade, e Flexibilidade (FOGAÇA JÚNIOR; RAZENTE,
2005; GALLARDO, 2000).
As Estruturas Perceptivo-motoras são estruturas que aliam as
estruturas capacitativas à percepção sensorial, necessitando de aprimoramento
em qualidade por meio da experiência; não sendo inatas, necessitam de
aprendizagem e adaptações do sujeito em desenvolvimento: Coordenação,
Lateralidade, Equilíbrio e Organização Espaço Temporal (FOGAÇA JÚNIOR;
RAZENTE, 2005; GALLARDO, 2000).
Estruturas Capacitativas
Força
A Força Corporal é a energia ou contração muscular necessária para
vencer uma oposição, capaz de movimentar, com ou sem manipulação de
objetos, mantendo a musculatura, o corpo ou membro na execução de uma
determinada tarefa ou habilidade. O músculo é o principal elemento solicitado,
sendo elástico e contrátil. A força pode ser classificada para estudo no Ensino
Fundamental em Força Geral e Específica. No caso da Força Geral, a
contração muscular serve de base para as habilidades motoras; e a Força
Específica é quando a contração muscular é executada em uma ação motora
particular (GALLARDO, 2000).
Resistência
A Resistência é considerada como a estrutura capacitativa que
permite um determinado esforço durante um determinado tempo sem chegar à
fadiga e com a mesma eficiência, classificando-se em Resistência Muscular
Localizada, Resistência Anaeróbica, Resistência Aeróbica.
Resistência Muscular Localizada é a capacidade individual de
realizar durante um período longo a repetição de um determinado movimento
em um mesmo ritmo e com mesma eficiência.
Resistência Anaeróbica permite manter um esforço por um
determinado período em que as necessidades de consumo de oxigênio são
superiores a absorção do mesmo, cujo débito de oxigênio será recompensado
no repouso.
A Resistência Aeróbica, permite um esforço por um determinado
tempo em que há um equilíbrio entre o consumo de oxigênio e a absorção do
mesmo (GALLARDO, 2000).
Velocidade
É a estrutura capacitativa que permite um contínuo esforço
proveniente de ação motora durante um determinado tempo. Em uma
sucessão rápida de gestos que se constituem uma só ação de intensidade
máxima e de uma duração breve ou muito breve.
Velocidade de reação: Tempo requerido para ser iniciada uma
resposta a um estímulo específico.
Velocidade de deslocamento: Capacidade máxima de um indivíduo
deslocar-se de um ponto a outro.
Velocidade de movimento de membros: Habilidade de mover braços
ou pernas tão rápido quanto possível.
Neste contexto, a Agilidade é considerada como condição do sujeito
que possibilita realizar trocas rápidas de direção, sentido e deslocamento da
altura do centro de gravidade do corpo. Seria o mesmo que velocidade de
mudança de direção (GALLARDO, 2000).
Flexibilidade
Capacidade de realizar movimentos em amplitude angular por si
mesmo ou por forças externas. Sinônimo de mobilidade articular. Diferencia-se
da Elasticidade que é o grau de contração e de extensão das fibras musculares
e do Alongamento que refere-se ao grau de distensão das fibras, mas não ao
grau de contração.
A Flexibilidade classifica-se em Flexibilidade Corporal Geral como
capacidade de movimentação dos principais sistemas articulares do corpo; e
Flexibilidade Corporal Específica sendo a capacidade de movimentação de
determinadas articulações (GALLARDO, 2000).
Estruturas Perceptivo-Motoras
Coordenação Motora
Atuação conjunta do sistema nervoso central com a musculatura
para a realização de uma ação voluntária com economia, harmonia e
qualidade.
A Coordenação Motora classifica-se em Coordenação Motora Geral
e Específica. A Coordenação Motora Geral, pode ser estática, quando não há
deslocamento, ou dinâmica, quando há deslocamentos. A Coordenação Motora
Específica classifica-se em Coordenação viso-motora, olho-mão, cinestésica,
tátil e acústica (GALLARDO, 2000).
Lateralidade
O estudo da Lateralidade Corporal está fundamentado basicamente,
no fato do corpo humano ter dois lados, chamados de esquerda e direita,
separados pelo plano sagital. As duas metades tem plena capacidade de
movimento, porém com diferenças naturais de habilidade. A “Predominância
Natural de Lateralidade” (P.N.L.), mais conhecida como Dominância Lateral é o
primeiro fator que desencadeia essa diferença de habilidade entre os membros
do corpo. Vale lembrar que a dominância lateral também é observada para
órgãos sensoriais como olhos e ouvidos, além dos membros. (OCHUCCI,
2004).
A origem da dominância lateral, seria em partes, por uma bagagem
genética,
por
outro,
uma
dominância
espacial
adquirida,
garantindo
prevalências motoras de um lado do corpo graças à plasticidade neural que
confere ao cérebro a habilidade para assumir funções específicas como
resultado da experiência (OCHUCCI, 2004).
Equilíbrio
Estrutura que permite a execução de tarefas motoras que requerem
a manutenção da postura e certo grau de atenção no controle do corpo e/ou no
transporte de objetos, envolvendo superfície de apoio e um centro de
gravidade. O Equilíbrio Corporal classifica-se principalmente em Estático e
Dinâmico, podendo considerar também o equilíbrio de corpos apoiados ou
supensos.
Equilíbrio Estático é a manutenção de uma posição na qual o centro
de gravidade do corpo cai dentro da base de sustentação e se mantém sem
oscilações, ou seja, sem deslocamento.
Equilíbiro Dinâmico é a resposta natural do organismo ao
desiquilíbrio provocado pelo deslocamento dos segmentos corporais que levam
o centro de gravidade para fora da base de sustentação, ou a resposta
automática do sistema nervoso responsável pela recuperação do equilíbrio a
movimentos diferentes dos segmentos corporais (GALLARDO, 2000).
Organização Espaço Temporal
Esta estrutura perceptivo motora tem relação com a capacidade do
ser humano perceber o meio ambiente e a forma com que se relaciona nele
enquanto corpo, com os objetos e com outros seres vivos por meio das ações
motoras, percebendo as estruturas do meio ambiente e com a duração dos
acontecimentos que nele ocorrem, por isso espacial e temporal.
Com relação ao espaço, o estudo desta estrutura pode contemplar
dentro e fora, perto e longe, em cima e embaixo, etc; e com relação ao tempo
deve se considerar duração, sequência, direção, ritmo, etc (GALLARDO, 2000).
Ensinar
ou
desenvolver
as
estruturas
capacitativas
e
perceptivo-motoras?
É bastante recorrente nos objetivos dos professores de Educação
Física para os planejamentos de aulas a questão do desenvolvimento. É
inegável e os estudos demonstram que as Estruturas Orgânicas podem ser
melhoradas em qualidade por meio do treinamento. Mas as aulas de Educação
Física seriam o tempo/espaço ideal ou suficiente para este desenvolvimento?
Como integrar os princípios de treinamento como adaptação, sobrecarga, a
individualidade biológica no contexto da escola? O ideal do estudante/atleta há
muito se desgastou na realidade da desnutrição, subnutrição, e das consições
materiais e estruturais da própria escola, tornando-se inviável manter este tipo
de ideal.
As teorias desenvolvimentistas e de promoção da saúde são
importantes quando se trata da Educação Física por conta do corpo
biofisiológico. Os críticos destas teorias, apontam para a questão da
legitimidade da Educação Física no campo científico, por apoiarem-se na
Medicina por meio do modelo científico positivista que considera o corpo pelo
exclusivo viés biológico. Obviamente que a saúde depende do corpo biológico,
assim como a aprendizagem que possui uma relação de interdependência
aprendizagem-desenvolvimento e desenvolvimento-aprendizagem. Porém, este
corpo que é humano, deve ser entendido como indissociável de uma psique
que se inter-relaciona em um contexto de vida afetiva, cultural e social. O que
se critica é o ponto de vista que considera tais características complexas como
secundárias, pois a saúde não é meramente o funcionamento normal do corpo
anatomo-fisiológico (NOVAES, 2009).
Os objetivos do ensino precisam estar coerentes com os objetivos
da escolarização e de acordo com as possibilidades objetivas e efetivas da
escola. Pode-se afirmar claramente que a aula não é espaço de treinamento,
mas de construção/apropriação de conhecimento. Portanto, na elaboração de
planos de aula, os objetivos para este núcleo de conhecimento, precisam estar
coerentes com os objetivos do Projeto Político Pedagógico.
O tempo/espaço das aulas de Educação Física apresentam-se
insuficientes para promover desenvolvimento de habilidades ou capacidades
físico motoras aos sujeitos por meio de treinamento, mas pode ensinar a
respeito do assunto para que os estudantes, se desejarem, procurem o
aprimoramento de suas capacidades em outros espaços.
REFERÊNCIAS
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contribuições para a Educação Física. Tese de Doutorado. Faculdade de
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FOGAÇA JÚNIOR; O. M.; RAZENTE, D. M. R. Atletismo como conteúdo da
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GALLARDO, J. S. P. (coord). Educação Física: Contribuições à formação
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NOVAES, C. R. B. Ciência e o conceito de corpo e saúde na Educação Física.
Motriz, Rio Claro. v.15 n.2 p. 383-395, 2009.
OCHUCCI JR. G. A. M. Predominância natural de lateralidade: Conseqüências
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mestrado UNICAMP, Campinas, 2004.
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educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2.ed. Londrina: Eduel,
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Universidade Estadual Paulista. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2006.
SÉRGIO, M. Educação Física ou Ciência da Motricidade Humana? Campinas:
Papirus, 1991.
______. Educação Motora: o ramo pedagógico da ciência da motricidade
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Papirus, 1995.
______. Epistemologia da Motricidade Humana. Lisboa: Edições FMH, 1996.
______. Um corte epistemológico: da Educação Física à Motricidade Humana.
Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
______. Alguns olhares sobre o corpo. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.
SOUZA, C. V. Motricidade humana e o ensino da educação física:
estabelecendo relações. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em
Educação. Universidade Estadual de Londrina. Londrina, 2012.
FACESI / UNIESP - Ibiporã - PR
Prefeitura Municipal de Londrina
GEPEF- UEL
[email protected]
Linha 2- Fundamentos teóricos-metodológicos do processo ensinoaprendizagem e avaliação em Educação Física
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