Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA EM UMA ESCOLA
DE ENSINO FUNDAMENTAL NA CIDADE DEACOPIARA –CE.
Jones Baroni Ferreira de Menezes (Professor do Curso de Ciências Biológicas/FECLI/UECE)
RESUMO
A degradação ambiental leva a necessidade de mudança de postura e atitude, tendo a
Educação Ambiental (EA) um importante papel, assim, esse tema deve ser trabalhado na
escola, especialmente no Ensino Fundamental que é onde acontece a base da aprendizagem.
Com isso, esta pesquisa visa verificar as metodologias didáticas e a avaliar hábitos e atitudes
dos alunos do 3º ao 5º ano, da EEF Maria Adelina de Oliveira, de Acopiara/CE. Para isso,
aplicaram-se questionários, cujos dadosdemonstraram que os alunos possuíam noções básicas
das questões ambientais, mesmocom uma pouca utilização de metodologias diferenciadas
pelos professores. Dessa forma, mesmo sabendo que a EA é umapossibilidade de formar
cidadão ambientalmente responsável, ainda é pouco trabalhada nessa realidade pesquisada.
Palavras-chave: Educação Ambiental, métodos diferenciados, crianças.
INTRODUÇÃO
A educação ambiental tornou-se lei em 27 de abril de 1999, através da Lei Nº
9.795 – Lei da Educação Ambiental, que em seu Artigo 1º afirma: “Entendem-se por
educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de
vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999).
Diversos membros da sociedade reconhecem a gravidade da crise ambiental, bem
como possuem uma consciência maior da necessidade de ajudar a solucionar esse problema.
Ao verificar a opinião de profissionais da educação, alunos, comunidade escolar e da
sociedade em geral, percebe-se que essas visões consensuais a respeito da gravidade da crise
ambiental e da necessidade de fazer algo geram uma grande expectativa em relação às
possibilidades da Educação Ambiental, a qual vem sendo atribuída a possibilidade de mudar
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hábitos, valores e atitudes da humanidade diante da natureza, sendo colocada como um dos
pilares para a efetivação de um modelo de desenvolvimento sustentável (GUIMARÃES,
2007).
Com isso, Brasil (1999) afirma que a Educação Ambiental é um elemento
essencial à educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não formal, buscando formar cidadãos conscientes e
preocupados com a realidade socioambiental e comprometidos com a vida do planeta
(FONSECA, 2009; LOPES; BISPO; CARVALHO, 2009).
A inclusão dessa questão no currículo escolar é preconizada pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais, nos chamados Temas Transversais. Esses temas buscam uma forma
dinâmica e eficiente de tratar esses assuntos em sala de aula, fazendo com que o aluno
reconheçaos fatores que produzam real bem-estar, ajude-o a desenvolver um espírito de crítica
a tudo que induz ao consumismo, e amplie o senso de responsabilidade e solidariedade no uso
dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua
comunidade, sempre com atitudes sustentáveis, ou seja, sem deixar de consumir, porém, sem
desperdiçar. Fazem parte dos conteúdos procedimentais como, formas de manutenção da
limpeza do ambiente escolar (jogar lixo nos cestos, cuidar das plantas da escola, manter o
banheiro limpo) ou formas de evitar o desperdício (BRASIL, 1997).
A prática ambiental nas séries iniciais do Ensino Fundamental fundamenta-se,
essencialmente, no desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas, assim como no
domínio de procedimentos e não somente na aprendizagem de conceitos. A escola realmente
está interessada em formar cidadãos que se preocupam com a realidade à sua volta, e estão
dispostos a trabalhar na busca por transformações (MENDONÇA, 2010).
A Educação Ambiental trata-se de uma estratégia para uma mudança definitiva, o
que demonstra a importância de ensiná-la especialmente para crianças, consideradas o
público-alvo deste trabalho, pois se acredita que elas têm maior facilidade de aprender, além
da necessidade de mostrar o que aprenderam, o que as tornam disseminadoras de
conhecimento, como corrobora Lopes; Bispo; Carvalho (2009), que sugerem um investimento
na educação ambiental no Ensino Fundamental, pois é onde está a base de nossa
aprendizagem, assim se tem cidadãos conscientes de que se deve utilizar os recursos naturais,
mas para suprir nossas necessidades básicas e dispondo para as gerações futuras o direito de
suprir suas próprias necessidades.
Diante desse cenário, nosso trabalho objetiva verificar o ensino (identificando as
práticas metodológicas utilizadas) e a aprendizagem (conhecimento dos alunos sobre a
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questão ambiental) de Educação Ambiental (EA) na Escola de Ensino Fundamental Maria
Adelina de Oliveira, de Acopiara - CE.
METODOLOGIA
Esta pesquisa possui caráter descritivo, com uma abordagem do tipo qualiquantitativa, cuja população foi composta por professores e alunos da Escola de Ensino
Fundamental Maria Adelina de Oliveira da rede pública municipal de Acopiara – Ceará, tendo
como amostra os alunos do 3º, 4º e 5º anos do turno matutino e seus respectivos professores,
totalizando 35 alunos e 02 professores.
Os dados foram coletados durante os meses de agosto e setembro de 2013.
Inicialmente foi aplicado um questionário anônimo para verificar o conhecimento dos alunos,
e, simultaneamente, os professores responderam outro questionário, também anônimo, sobre
as práticas utilizadas no ensino de Educação Ambiental. Ressalta-se que o questionário para
os alunos foi lido e explicado, para evitar que eles não soubessem responder.
Todos os questionários aplicados para os alunos foram tabulados no programa
Microsoft Excel 10.
A pesquisa foi realizada de acordo com as exigências éticas e científicas
fundamentais, contidas na Resolução 196/96 que regulamenta as Pesquisas Envolvendo Seres
Humanos. Com a exigência da assinatura do Termo de Autorização para Realização da
Pesquisa, assinado pela diretora da Escola, além do Termo de Consentimento Livre
Esclarecido, assinado tanto por professores, como os pais ou responsáveis dos alunos que
participaram da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados apresentados serão analisado em dois bloco, alunos e professores,
respectivamente.
1. Questionário aplicado aos alunos
Ao questionar aos alunos se há aulas de Educação Ambiental na escola, a maioria
dos alunos (97,14%) assegurou que estudam, apenas um (2,86%) afirmou não estudar, o que
se encontra de acordo com os preceitos dos PCN’s, tendo essa problemática locada nos temas
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transversais, no qual deve contemplar as diferentes áreas curriculares, trazendo esses temas
como partes integrantes das áreas e não externos ou acoplados a elas (BRASIL, 1997b).
Também foi questionado acerca dos métodos utilizados pelos professores no
ensino desse tema. Como respostas, obteve-se que dezesseis alunos (45,71%) afirmaram a
utilização apenas da linguagem oral, seis (17,14%) asseguraram a utilização de imagens e
vídeos, dez (28,57%) relataram que o professor fala, faz brincadeiras e mostra figuras e
vídeos, dois (5,71%) responderam que ele fala e utiliza recursos audiovisuais, um (2,86%)
afirmou que o professor não utiliza nenhum desses meios didáticos em sala e nenhum (0%)
citou a realização de aula de campo (GRAFICO 1).
De forma oral
Mostra figuras e vídeos
Faz brincadeiras
Nenhuma das alternativas
Faz aula de campo
28
18
10
1
0
Gráfico1 - Como o professor ensina a cuidar do Meio Ambiente, segundo os alunos.
Identificou-se que nesta Instituição de Ensino, os métodos utilizados para ensinar
aos alunos a cuidar do Meio Ambiente são tradicionais, o que corrobora com Fernandes
(1998), quando afirma que a maioria das escolas disponibiliza ao professor, basicamente, uma
sala de aula, quadro branco, pincel e livro didático, não assegurando uma transformação
cidadã como é preconizado por Santos e Silva (2011), o qual sugere que deva haver um
ensino com dinâmicas, práticas, brincadeiras.
Da mesma forma, Federsoni Júnior (2002) contempla que a melhor maneira de
aprender para sempre é jogando e brincando, pois, a aprendizagem passiva diante da
televisão, computador ou mesmo em aulas formais é mais fácil de ser esquecida.
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Trabalhar com o tema ambiental sempre foi um grande desafio para o professor, e
se torna cada vez mais complexo, pois a humanidade está cada vez mais desvinculada do
meio ambiente, não acreditando haver uma interdependência destes.Reconhece-se a
importância da prática em Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, e percebe-se
que não há um interesse por parte dos professores em fazer da Educação Ambiental um tema
constante em suas aulas, faltam cursos de formação continuada em Educação Ambiental e o
desinteresse de alguns colegas de trabalho, direção, coordenação pedagógica tem atrapalhado
o desenvolvimento dessa prática pedagógica (FERREIRA, 2010).
Outro ponto pesquisado foi a efetividade de assimilação dos conhecimento e sua
aplicação na vida cotidiana do aluno, assim, foram feitos questionamento sobre hábitos
ambientais como local correto de jogar o lixo, reciclagem, hábito de desligar a luz e o
consumo de agua.
No primeiro ponto, trinta e um (88,57%) costumam jogar lixo na lixeira; três
(8,57%) relataram jogar o lixo no chão ou quintal de casa; e um (2,86%) afirmou não
descartá-lo em nenhuma das alternativas lhes oferecidas. Observando que a maioria dos
alunos tem noção de onde deve descartar o lixo, e, essas, devem ser ensinadas pelos pais e
reforçadas na escola,já que a criança tende a copiar o comportamento dos pais, e por isso é
importante que os pais a ensinem como e porquê de agir de um determinado modo
(GALVÃO, 2011).
Quanto ao hábito de reaproveitar objetos, tais como roupas, calçados, brinquedos
e algumas embalagens, dos alunos entrevistados, trinta e um (88,57%) tem o costume de
reaproveitar objetos ao invés de jogar no lixo; e quatro (11,43%) não possuem esse hábito.
Assim, é importante ensinar às crianças que muitas coisas podem ser reaproveitadas ao invés
de descartadas, pois, segundo Trigueiro (2013), nos últimos dez anos, a população brasileira
aumentou 9,65% e, no mesmo período, o volume de lixo cresceu mais do que o dobro disso,
21%, o que denota-se a necessidade de reutilizar, pois ao fazê-lo aumenta-se a vida útil do
produto. Isso nos leva a refletir já que o hábito de reaproveitamento é de fundamental
importância, diante das grandes quantidades de lixo produzidas, devido ao nosso modo de
vida consumista e de desperdícios (BALDON, 2010).
Analisaremos agora o hábito de apagar a luz e de reduzir o consumo de água.
Sobre o primeiro hábito, a maioria dos entrevistados (82,86%) costuma apagar as luzes,
sempre que não há ninguém as utilizando e seis (17,14%) não possuem o hábito de apaga-las.
Já relativo ao segundo hábito, verificou-se que vinte e cinco (71,43%) têm consciência de que
a água potável pode acabar e, por isso, gastam somente a quantidade necessária; sete (20%)
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gastam pouca água, mas não acreditam que ela pode acabar; e três (8,57%) afirmaram gastar
muita água e não acreditam que ela possa acabar
Rianço (2005) assegura que, a preocupação quanto à má utilização da água
aumenta quando se sabe que apenas 1% de toda a água da Terra está disponível para uso, pois
a maior percentagem de água existente é salgada (97,5%) e outra parte encontra-se nos lençóis
freáticos. Neste contexto, o que durante milhares de anos, acreditou-se ser um recurso infinito
e renovável, passa a ser entendido como algo que necessita de cuidados.
Conforme as ideias de Rodrigues (2008), a escola precisa pensar em práticas que
levem os educandos a compreenderem, de forma crítica, as relações da educação ambiental
com a sua vida cotidiana.
2. Questionário aplicado aos professores
Para os professores, foram questionadas a frequência, as práticas pedagógicas e a
importância do ensino de Educação Ambiental.
Quantoao ensino de EA, ambos os professores afirmaram que ensinam, porém,
quanto à frequência de ensino um deles assegurou lecionar “nas aulas de Ciências”; o outro
educa “chamando atenção para a questão do lixo todos os dias e para o desperdício de água na
escola”. É sempre válido fazer uma conexão entre o conteúdo trabalhado e o cotidiano dos
alunos, pois facilita a compreensão das crianças e ajuda a criar um novo modo de pensar sobre
um fato já conhecido.
De
acordo
com
os
PCN’s
a
EA
deve
ser
trabalhada
através
da
interdisciplinaridade, por se tratar de um tema muito complexo, e que exige o conhecimento
de outras áreas de ensino.Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos
conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à
realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participativos
(BRASIL, 1997a).
Quanto às práticas utilizadas em sala um dos professores afirmou: “peço aos
alunos para colocar o lixo na lixeira da sala, fazendo o uso da mesma ao fazer a ponta do
lápis”, o outro afirma ensinar “através de figuras, textos, leitura, cartazes e vídeos”. Sente-se a
necessidade de um maior contato dos alunos com o meio, através de aulas de campo, aulas
práticas que aproximem e possam gerar laços de amor e cuidado com a natureza.
Sobre a falta de material didático para o ensino de Educação Ambiental, Dias
(2010) relata que:
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A falta de recursos didáticos constitui um empecilho,
aparentemente intransponível. Muitas publicações que
chegam aos professores continuam carregadas de uma
visão preservacionista exclusiva, ingênua e desatualizadas
cientificamente. Ainda se confunde ecologia com
educação ambiental. Com isso, os professores são
estimulados a desenvolver atividades reducionistas, ou
seja, procurar aquilo que lhe é mais viável, ficando presos
aos mesmos temas, que na maioria das vezes são:
poluição, desmatamento ou efeito estufa.
Os dois professores afirmam ver a EA como a mais eficaz maneira de “prevenir os
danos ao Meio Ambiente”, porém ressaltam que esse processo exige persistência, pois ocorre
de modo lento: “se trabalha nas escolas tentando conscientizar a sociedade e os educandos,
em especial, e ainda vimos poucos resultados”. Silva (2008) defende a educação ambiental
continuada:
[...] a Educação Ambiental Permanente pode mediar a
transformação de estilos de vida e fomentar uma revisão
dos costumes, da mentalidade e das práticas em relação ao
ambiente. Mais que isso, pode inaugurar um processo
permanente de reflexão da sociedade sobre seus
fundamentos e sobre sua ação, com vistas à busca de
saídas alternativas, responsáveis e sustentáveis de
apropriação da natureza. E, ainda, com vistas à revisão da
relação dos homens com suas alteridades humanas e não
humanas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos resultados apresentados, pôde-se perceber que há um trabalho de
Educação Ambiental na E.E.F. Maria Adelina de Oliveira, porém, não com a frequência e da
maneira desejada, sendo trabalhado somente nas aulas de Ciências, não, sendo como o
preconizado pelo Ministério da Educação, porém, mesmo assim os alunos possuem noções
básicas sobre o tema, mas esse conhecimento poderia ser mais explorado, ampliando seus
horizontes acerca da Educação Ambiental, informando-os da importância do meio ambiente
para a vida.
Pôde-se notar também que, uma barreira para o ensino desse tema na escola
analisada é a falta de recursos didáticos, que faz com que os professores se restrinjam ao mais
básico, desperdiçando o possível potencial das crianças. Dessa forma, surgi a necessidade de
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expandir os métodos utilizados pelos professores, com a utilização de aulas práticas, que
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