“ A FALSA DICOTOMIA ENSINO-APRENDIZADO OU COMO INTEGRAR MELHOR ALUNOS, PROFESSORES E INSTITUIÇÃO” AUTOR Alexander Berndt Professor RESUMO Quero endereçar a nossa conversa de hoje ao desafio de melhorar a eficácia do ensino de Administração. E a minha proposição básica é : “com uma integração das três entidades: alunos, professores e instituição, em torno dos conteúdos das disciplinas de administração, todos crescem.” Em primeiro lugar, ao organizar os três elementos em forma de um triângulo, privilegio o topo para os alunos e na base coloco os professores e a instituição. ALUNOS a b e f c PROFESSORES INSTITUIÇÃO d A razão para este privilegio é simples: os alunos são os clientes, os compradores do serviço educacional. Mesmo em cursos gratuitos, estes o são apenas pela despersonalização dos impostos que custeiam estas instituições. Os alunos nessas instituições tem redobrada obrigação de exigirem o serviço de ensino correspondente ao seu custo para a sociedade. De certa maneira, privilegiar um dos outros elementos com o topo da pirâmide não seria um mal em si, desde que esse elemento percebesse o seu papel educacional específico. Por exemplo, uma escola com jeito de uma cooperativa de professores, pode ser uma opção interessante. O risco nesse caso pode ser a exclusiva ênfase no ensino, como se o aluno fosse um mal necessário no processo. No caso de instituições particulares quando o lucro deixa de ser um meio para se tornar um fim em si mesmo verificamos uma situação crítica. Neste caso, comunidade, pais e alunos tem de assumir um papel mais influente na instituição. Uma primeira explicação para miopia que existe em muitas instituições é a não identificação do que é o serviço educacional completo. Isto é, é preciso incluir além do ensino, a pesquisa e a prestação de outros serviços a comunidade. “Pesquisa” pode ser entendida no seu sentido lato, desde trabalhos escolares até pesquisas formais patrocinadas por órgãos públicos. “Serviços a coletividade” por parte da instituição de ensino envolvendo palestra, seminários, simpósio e consultoria as empresas e a coletividade em geral. A escola que se vê apenas como provedora do local de encontro entre professores e alunos, para aqueles “ensinarem” estes, perde extraordinárias oportunidades de seu próprio desenvolvimento. As três funções que se complementam principalmente na área de Administração. As escolas que percebem isto acabam assumindo papel de destaque. Passamos analisar as relações, dois a dois, dos três elementos: professores, alunos e instituição. Desejo provar com exemplos que existe grande miopia entre as partes. Estes não percebem o extraordinário beneficio coletivo quando um passa a ver o outro como um parceiro e não como um elemento distante. Parto do pressuposto de que a área de administração é privilegiada quanto ao “locus” de ensino. Todas as nossas relações ocorrem dentro e entre organizações. A família, uma multinacional ou um país, são organizações onde exercemos todas as funções administrativas. E, curiosamente, não aterrisamos o ensino na nossa própria realidade. Talvez ainda esteja faltando uma leitura mais atenta de Paulo Freire, ou as escolas não percebem que são organizações administradas. Também a velocidade das modificações da sociedade não tem sido acompanhadas pelo ensino. Nas revistas, jornais, colunas especializadas, televisão, etc, assunto de administração estão sempre presentes e poderiam servir para uso em sala de aula. O tipo de aula deveria ser modificado. A quantidade de informações recebidas pelos alunos fora da escola permite a estas preocuparem-se mais com a organização, sistematização dessas informações do que com a “transmissão” de novas informações. E com isto a atitude do professor muda. Na relação “a” do triângulo, o professor deixa de despojar informações. Primeiro ouve o que os alunos trazem consigo é parte desses elementos para o conteúdo da sua matéria. O professor que “dá aula” perde a perspectiva do essencial que é o aprendizado. Tenho a certeza de que a nota que o professor dá a um aluno numa prova sobre a “matéria dada”, mede apenas isso: “informação devolvida”. Daí a dizer que o aluno aprendeu algo que lhe é significativo e faz sentido, vai uma grande distância. Não é à toa que os alunos reclamam que “querem mais prática” . Na verdade querem um ensino mais perto da realidade deles. Por que os professores não mandam os alunos literalmente “para a rua”, para as empresas ? Em toda pesquisa fica patente que os alunos lembram mais das situações reais que eles viveram do que os conceitos abstratos. Os professores que mudam sua didática para o factual ganham também. Além da satisfação de verem os olhos dos seus alunos brilharem pela alegria de um aprendizado efetivo, eles próprios aprendem com a realidade trazida pelos alunos. Insisto, temos de romper a velha relação “professor – ensina / aluno - aprende” para ambos se integrarem em atividades vivenciais de Administração. Tenho experimentado uma forma de relação informal extra-classe que beneficia ambos: professores e alunos. A idéia é simples: um pequeno grupo de alunos é um professor desenvolvem atividades fora da sala-de-aula de maneira que os dois lados ganhem experiência. Este “grupo de interesse” gira em torno de um assunto de conhecimento do professor que desenvolve atividades programadas de comum acordo. Estas podem ser pequenas pesquisas, resumos, relatórios de visitas, etc. Diferem de trabalhos escolares na medida em que o ponto em comum é o benefício mútuo, e não uma avaliação escolar. E penso que a relação fora de sala-de-aula e sim crédito formal para o curso, aproxima o professor dos alunos e torna o resultado desejado, negociado entre as partes. Há outras maneiras de se integrar a dicotomia “ensino - aprendizado” em algo mais efetivo. Existem variados recursos a disposição da instituição. Por exemplo, técnicas de psicodrama pedagógico, principalmente com professores, auxiliam estes na “descoberta” de novos aspectos educacionais. As discussões em grupo, com alunos, permitem a identificação de conhecimentos e habilidades diferenciadas. E hoje, estas e tantas outras técnicas de desenvolvimento de recursos humanos valem-se do suporte de vídeos, microcomputadores, etc. Mas na relação inversa “b” (alunos- professor) também existem miopias. Freqüentemente percebemos a posição aparentemente cômoda dos alunos exigindo que os professores os faça aprender. A posição passiva dos alunos tem sido um grande impecílio no esforço de um melhor aproveitamento do horário de aula. Por que não trazer para a classe as informações, artigos, livros ? Por que não assumir uma posição mais pró-ativa ? Será que a espada Democles (as notas do professor) os intimida ? Se sim voltamos as dificuldades de melhoramento de relação professor- aluno. Vejamos agora a relação professor -instituição (“c” no gráfico). De certa forma é semelhante a relação “b”: alunoprofessor. Os docentes freqüentemente julgam a instituição pouco colaborativa para seus objetivos. E não são apenas aspectos de remuneração para seu trabalho, mas também a falta de maior apoio logístico do ensino. E da mesma forma que os alunos manifestam sua insatisfação passiva, os professores também reclamam e justificam certa inoperância por falta de melhores condições da escola. A meu ver isto pode ser mudado. Quais foram as ocasiões em que alguns professores foram a direção da escola oferecendo soluções aos problemas que perceberam ? E as soluções deveriam melhorar aspectos dos três elementos, alunos, professores e instituição. Tem havido uma tendência de criação de “associação dos professores” dentro das escolas. Mas freqüentemente ao invés de um grupo cooperativo, resulta apenas em um grupo de pressão. E aí, a meu ver, a relação professoresinstituição se torna mais difícil. Uma associação facilitadora das relações pode ser uma importante contribuição a integração dos três elementos em discussão. A relação oposta a que acabamos de discutir, isto é, o da instituição para o professor (relação “d” no gráfico) pode ser significantemente melhorada. Deixando de lado as escolas que vêem o professor como “um mal necessário” para o seu negócio (assim como alguns professores vêem o aluno, como um mal necessário para o seu status de professor), instituições de ensino precisam compreender que o professor transcende o conteúdo, ou melhor, o conteúdo só existe através do professor. Mc Luhan, quando disse a celebre frase “o meio e a mensagem” poderia ter dito para o nosso caso que o “professor é a disciplina”. Se as instituições entenderem corretamente o papel do professor, deixarão de aplicar questionários que estimulam o esfriamento de relações entre os avaliadores (alunos) e os avaliados. E quando o fizerem, usarão instrumentos mais apropriados para um efetivo “feed-back” as três partes: todos avaliando todos. Aqui sim estaremos indo em direção a uma sadia integração entre as partes. E o termo “avaliar” lamentavelmente parece apenas a função de controle, quando o fato deveria ser a função realimentadora de solução dos problemas. O envolvimento maior dos professores na administração de instituições também e muito bem vista. Nenhum argumento, nem mesmo o do “caixa 2” deveria ser um impecílio a participação efetiva dos professores. E sem duvida estou falando de funções não-decorativas como coordenação de estágios, de trabalhos de formatura, de aprimoramento pedagógico, etc. A escola que ensina administração tem que praticá-la. Caso contrário será percebida como “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. E este é o pior exemplo possível para todos. Se as instituições entenderem corretamente o papel do professor, deixarão de aplicar questionários que estimulam o esfriamento de relações entre os avaliadores (alunos) e os avaliados. E quando o fizerem, usarão instrumentos mais apropriados. E os alunos como vêem a instituição, principalmente quando pagam sua mensalidade ? Dificilmente conseguem avaliar se o beneficio vale o preço. E depois de se formarem, vêem-se obrigados a valorizar a escola pois esta está no seu currículo. Greves e boicotes de pagamento são soluções que a longo prazo não contribuem para uma melhoria de relações. Pelo contrário, a piora na qualidade de ensino passa a ser justificada pelas reivindicações conquistadas. È difícil exigir maior maturidade dos jovens e a experiência de vida política os leva ás vezes a soluções extremadas. Mas minha experiência ame diz que a via negociada, e negociada em benefício de todos, e o melhor caminho. Se isto não é possível internamente, pois pode-se argumentar que santo de casa não faz milagre, contrata-se fora da escola elementos hábeis em conduzirem em boa negociação. A propósito este assunto já não está no currículo do curso de administração. Na última relação, a discussão da ótica da instituição e a relação dos alunos, muitas coisas podem ser feitas além de uns bons exemplos da própria administração da escola. Quantas mantenedoras efetivamente usam os alunos para complementar ou ilustrar o aprendizado destes e terem um resultado para si próprios ? Entendendo que o envolvimento dos alunos em projetos de pesquisa que levam o nome da instituição aos jornais e um exemplo clássico. Por exemplo, o levantamento periódico de preços de certos bens ou serviços (e porque não um índice de custo de vida completo ?) serviria aos três: ao professor de métodos quantitativos, aos alunos que teriam a tão desejada prática e a instituição que teria sua imagem projetada na sociedade. A guisa de conclusão, fico surpreso com o exemplo de miopia das instituições de ensino. E por outro lado, vivi várias experiências bem sucedidas para a eliminação de certas miopias, o que reforça em mim a idéia da possibilidade de beneficio coletivo através do estreitamento de relações entre as partes consideradas. A minha receita sumária seria: 1. Realizar um esforço de redução das distâncias existentes hoje entre os três elementos. Isto implica na percepção de uma complementação entre as partes. 2. Buscar internamente interesses comuns que tragam benefícios palpáveis para os três. 3. Buscar externamente oportunidades de mercado que auxiliam na obtenção de resultados financeiros para os três. Entendo que minha receita pressupõe confiança entre as partes para se atingir os objetivos propostos. É esta parece ser uma variável que tem de ser inxorporada por todos, antes de qualquer tentativa de maior integração entre as partes.