›› Projecto ARTAFRICA € 89 784 “Dentre as várias propostas apresentadas no campo das Artes, foi seleccionado o projecto ARTAFRICA, que visa fazer um levantamento e identificar as práticas artísticas contemporâneas nos países africanos de língua oficial portuguesa e das respectivas diásporas, tanto em Portugal como noutros países. Este trabalho permitirá criar uma base de dados informatizada que assegurará uma visibilidade acrescida numa área praticamente ignorada, senão desconhecida, e contribuirá como factor de estudo e investigação das expressões culturais de sociedades em transformação. A divulgação de informação trará também novas oportunidades para os criadores, tanto de benefício artístico como profissional. Com uma duração prevista de três anos, a avaliação a realizar no decurso do projecto permitirá também fazer os ajustamentos que a descoberta desta realidade vier a aconselhar. Concluído o primeiro ano de trabalho, o que neste momento queria sublinhar, para além da riqueza dos resultados que claramente avaliza a iniciativa, é a importância da valorização da criação artística como factor de desenvolvimento em sociedades que, em primeira linha, têm que vencer bloqueios e carências que mais se evidenciam na política, na economia, na saúde e na educação. Mas manifestações, ainda que incipientes e isoladas, de criatividade, inovação e imaginação traduzem-se numa contaminação positiva em outros domínios e na dinamização de novas práticas sociais que serão igualmente factor de desenvolvimento e abertura.” Emílio Rui Vilar A Fundação Calouste Gulbenkian, através do Serviço de Belas-Artes e do Serviço da Cooperação para o Desenvolvimento, iniciou um levantamento da criação contemporânea em artes plásticas dos países africanos de língua oficial portuguesa e das respectivas diásporas. Este projecto arrancou em 2001, tendo uma duração prevista de três anos, decorrendo em Portugal e noutros países. Não só se passaram a expor internacionalmente obras de artistas africanos com formação artística e que se integram nos debates e nas correntes artísticas modernas e contemporâneas, residentes em África ou nas diásporas; como se alargou o leque de interesses de forma a incluir produções a que se tem chamado “arte transicional”, caracterizada por um carácter híbrido acentuado, entre Se as artes tradicionais africanas, presentes arte tradicional (feita para uso ritual ou em museus ocidentais, têm merecido um doméstico) e arte moderna (no sentido reconhecimento e uma atenção mais ou corrente entre nós) sem, no entanto, menos constante, as práticas artísticas se identificar com nenhuma delas. A presença realizadas no encontro com a modernidade, de obras de artistas africanos nas grandes colonial e pós-colonial, têm sido mais bienais internacionais torna-se assídua frequentemente ignoradas quer pelo mundo (por exemplo, Veneza, onde na última edição da arte quer pela própria antropologia. a representação africana foi particularmente Mas no início dos anos 90, sobretudo a partir visível, São Paulo, Lyon, Documenta da exposição “Magiciens de la Terre” de Cassel); assim como noutras exposições em Paris, a situação começou a alterar-se. de grande prestígio (“Contemporary African 168 169 Artists: Changing Tradition” e “Africa Explores: 20th Century African Art” em Nova Iorque; “Africa Hoy”, “Cocido y Crudo” e “Africas: The Artist and the City” em Las Palmas, Madrid e Barcelona, respectivamente; “Molteplici Culture” em Roma; “Seven Stories. About Modern Art in Africa”, “Big City. Artists from Africa” e “Century City. Art and Culture in the Modern Metropolis” em Londres; “Die Anderen Modernen” em Berlim, e “The Short Century. Independence and Liberation Movements in Africa 1945-1994” que iniciou uma itinerância em Munique, e está agora em Nova Iorque entre outras). Registe-se também a afirmação da já veterana Bienal de Dacar, e a entrada em cena da importante Bienal de Joanesburgo. Sublinhe-se ainda o crescimento recente do volume de publicações, temporárias ou não, dedicadas à história, crítica e teoria da arte contemporânea de artistas africanos, com um número também crescente de autores africanos, a que não é certamente alheia a nomeação de Okwui Enwezor, crítico de arte e curador independente nigeriano, residente em Nova Iorque, e um dos principais responsáveis pelo recente eclodir das artes africanas contemporâneas na cena internacional, como curador geral da XI Documenta de Cassel, a realizar no Verão de 2002. Contudo, esta entrada das práticas artísticas contemporâneas africanas no mundo da arte tem-se restringido maioritariamente a artistas dos países anglófonos e francófonos. Com excepção de raros nomes já reconhecidos, o que acontece nos países lusófonos permanece desconhecido ou muito mal conhecido. Terá sido pelas independências mais tardias? Pelas guerras que na maior parte dos casos se seguiram às independências? Porque a expressão artística é efectivamente aqui menor? Ou simplesmente pela ausência de iniciativas para dar a conhecer essas produções? O projecto da iniciativa do Serviço de Belas-Artes, com autoria, coordenação e responsabilidade científica de José António B. Fernandes Dias (antropólogo e professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa), com a assistência de Maria João F. S. de Abreu Mota (antropóloga e professora do ISCTE), e apoio de Margarida Amaro, propõe quebrar esse silêncio e essa invisibilidade. Através da observação directa e de notas de campo, de visitas a ateliers e oficinas, de entrevistas, registos fotográficos, consulta bibliográfica, e questionários, pretende-se dar conta do estado actual das práticas artísticas nos países africanos lusófonos, e nas respectivas diásporas. São adoptadas duas perspectivas, uma local, encarando as obras nos contextos em que elas são realizadas e utilizadas (nos respectivos países africanos e nas comunidades de emigrantes espalhados pelo mundo); e outra do mundo da arte contemporânea (que vem adoptando um ponto de vista transcultural, abrindo-se a modos de olhar e de pensar de proveniências culturais diversas, para além dos discursos e das práticas ocidentais, hegemónicas). Para isso, a investigação inclui trabalho de campo nos países africanos, e nas comunidades imigradas deles provenientes ou descendentes. O levantamento de formas de criação abrange os artistas que trabalham dentro dos princípios do que no Ocidente chamamos arte, mas considera também outros criadores que, de diferentes maneiras, trabalham no encontro com a modernidade (artistas populares urbanos, artistas gráficos, artesãos, amadores); e que nos seus contextos originários podem ser encarados como arte ou porque é aí que poderão aparecer obras passíveis de integração no mundo da arte contemporânea. Em 2001 realizou-se uma viagem de estudo à República de Cabo Verde, de que resultou a identificação de 65 artistas e criadores, e a reunião de um corpo de conhecimentos indispensáveis para a organização dos dados obtidos e para a elaboração de um dossier sobre a situação e a atmosfera artística no país. Em 2002 serão feitas viagens com objectivos semelhantes à Guiné-Bissau e a São Tomé e Príncipe, bem como a Luanda. Será ainda visitada a Bienal de Dacar, a maior exposição internacional de arte de África, em que participam tradicionalmente artistas oriundos dos PALOP. Moçambique, que terá uma situação artística mais rica e mais complexa, concentrará as atenções no ano de 2003. O trabalho de identificação de artistas e criadores dos PALOP, e seus descendentes, residentes na Área Metropolitana de Lisboa, tem vindo a ser feita sistematicamente, através de entrevistas, de informações fornecidas por Embaixadas, Câmaras Municipais e associações de emigrantes, e de visitas a galerias que têm exposto artistas residentes nesta área. Se bem que de uma forma menos sistemática outros países e regiões estão também a ser contactados, sempre que aí são identificadas comunidades e artistas relevantes para os nossos objectivos, numa primeira fase através de um inquérito escrito, enviado por correio terrestre ou electrónico. É o caso dos Estados Unidos da América, Holanda, Bélgica, França, Suíça, Alemanha, Luxemburgo e Inglaterra, onde as diásporas de africanos lusófonos têm grande presença. Kulturen der Welt – uma instituição paradigmática, a nível europeu, de trabalho multicultural na área das artes em torno das ideias de memória-resistência-reinvenção de identidade; o evento integrará conferências e debates, um programa de leitura, um outro de cinema, artes performativas, e exposições-instalações. Do mesmo modo, o Museum for African Art, de Nova Iorque, após conhecimento do trabalho desenvolvido pela Fundação, prevê o alargamento a Lisboa do projecto de exposição “Contemporary African Artists: Living and Working in New York, London, Paris and Amsterdam”, a realizar nessa cidade na Primavera de 2004. Focando as interacções entre os seus antecedentes africanos e os novos ambientes onde vivem e trabalham, a exposição propõe-se apresentar obras de Tendo em conta o objectivo principal três ou quatro artistas de cada uma dessas do projecto – procurar ultrapassar cidades, de pintura, escultura, fotografia, o desconhecimento e a invisibilidade instalação e vídeo; as modalidades da nossa das práticas artísticas de africanos lusófonos colaboração, não só em Lisboa mas também na cena artística contemporânea – tem sido nas outras cidades onde vivam artistas feito um esforço de divulgação junto africanos lusófonos, serão definidas numa das instituições artísticas e culturais próxima visita da curadora da exposição. internacionais que se têm interessado pelas artes contemporâneas de artistas africanos Está a ser criada uma base de dados e afro-descendentes. Têm sido também informatizada, geral, dos artistas exploradas formas de participação em e criadores identificados pelo projecto, eventos e programas que possam constituir a ser disponibilizada para consulta pólos de ressonância para os resultados de investigadores e outros interessados. do trabalho realizado. Estão a ser A partir dela serão seleccionados artistas negociados possíveis modos de colaboração significativos para o contexto internacional com o projecto “Le Génie et le Pouvoir da arte contemporânea que vão integrar um de l’Eau”, da Associação Leonardo; e com o outro banco de dados, restrito, que poderá programa de Banda Desenhada do projecto ser divulgado através da Internet. Serão “Africa e Mediterrâneo – Cultura e Società”. elaborados dossiers da situação artística em O projecto esteve já presente numa jornada cada um dos cinco países sobre a formação dedicada à lusofonia (“Die portugiesische de artistas, o sistema da arte local Sprache. Ein Ozean der Kulturen”), realizada nas múltiplas dimensões da produção, na Universität der Künste em Berlim, numa apresentação, promoção e venda; organização conjunta com a Embaixada e as atitudes artísticas face à memória de Portugal e as dos PALOP o qual contou e à identidade. com a participação activa do responsável científico do projecto na elaboração Além de reconhecer e mapear o que de do programa, e também na mesa-redonda significativo possa existir, disponibilizando interdisciplinar e multicultural que moderou, esses conhecimentos para outras utilizações e para a qual foram convidados, pelo lado (estudos sectoriais, publicações, organização das artes visuais, quatro personalidades de exposições), o projecto contribuirá indicadas pela Fundação. O projecto foi também para a valorização da Biblioteca ainda convidado a participar, segundo da Fundação nestes domínios, beneficiando modelo ainda a definir, no programa “Black estudantes e motivando novos investigadores Atlantic”, a ter lugar em Outubro-Novembro nas áreas da antropologia, artes plásticas, de 2004, na mesma cidade, na Haus der história da arte e museologia. 170 171 ›› Projecto Gestão das Cidades € 219 471 “A ‘Gestão das Cidades’ é o título de uma iniciativa que a Fundação Gulbenkian lançou em 2001 e que tem como objectivo elaborar, debater, validar e publicar um documento que aborde de uma forma integrada as grandes questões com que estão confrontados os centros urbanos portugueses e que através de um conjunto de conclusões e de recomendações em diversas áreas, e à semelhança do que se passou com o Relatório Rogers, constitua um contributo efectivo para a acção, que os principais intervenientes no processo desempenham na gestão urbana, tendo em vista uma maior racionalização da organização das cidades, e a melhoria da qualidade de vida das suas populações. É um projecto que se insere numa estratégia de actuação da Fundação Gulbenkian que visa dois objectivos essenciais e de grande importância tendo em conta que a Fundação é uma instituição independente que quer participar activamente nos processos de inovação e modernização da sociedade em que está inserida. O primeiro objectivo visa constituir a Fundação como um Centro de Racionalidade onde se debatem os problemas com que se confrontam as sociedades modernas, recorrendo aos académicos, aos investigadores, aos políticos e aos técnicos que estão disponíveis para analisar e debater problemas em confronto com os seus pares vindos do exterior nomeadamente dos países europeus que integram com Portugal o espaço da União Europeia. O segundo visa tornar a Fundação uma entidade que toma iniciativas e conduz projectos cujos resultados, conclusões e recomendações constituem um contributo efectivo para o aperfeiçoamento das políticas, nomeadamente nos sectores que correspondem aos fins estatutários da Fundação e que têm como objectivo último melhorar as condições de vida das populações o que pressupõe uma grande aproximação da Instituição em relação à sociedade onde está inserida. A metodologia e as diferentes fases que foram adoptadas para a realização do Projecto e consequentemente para a elaboração das conclusões e das recomendações que se pretende apresentar publicamente como elemento estruturante das políticas urbanas, foram estabelecidas através de um diálogo com diversas personalidades e entidades que se dedicam ao estudo destas matérias tendo-se definido o seguinte calendário e fases de actuação: › Janeiro de 2001 – constituição de um painel de especialistas que cobre as principais áreas em que se desenvolve o estudo a realizar (Nuno Portas, Porto; Peter Hall, Londres; Bernardo Secchi, Milão; François Ascher, Paris; João Ferrão, José Manuel Viegas e Isabel Guerra, Lisboa). › Março de 2001 – estabelecimento de um acordo entre a Fundação e o Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Departamento Universitário que constitui a estrutura enquadradora das diferentes fases do Projecto e que assegura a coordenação dos trabalhos do painel bem como a realização do relatório e das conclusões e recomendações a apresentar no final do Projecto. O Professor Nuno Portas assegura a ligação entre a Fundação e o Centro ao mesmo tempo que coordena os trabalhos do painel. › Março-Abril de 2001 – realização de um debate sobre os projectos que estão a ser elaborados para dois centros urbanos – Castelo Branco e Viseu –, dentro do Programa de Requalificação de Cidades que está em curso em Portugal e que envolve financiamentos muito consideráveis. › Novembro de 2001 – organização de uma Sessão Aberta do Painel para apreciação do trabalho que o Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto preparou na sequência dos debates internos do painel e dos estudos que se prevê realizar com base na bibliografia existente e nos estudos de caso nacionais e internacionais onde se incluem necessariamente os projectos relativos às cidades de Castelo Branco e Viseu que serão objecto de debate como foi referido no ponto anterior. › Janeiro de 2002 – realização de uma sessão especial do Painel englobando todos os membros e destinada a analisar e debater as propostas e os comentários apresentados pelos membros convidados da Sessão Aberta de Novembro de 2001. › Junho de 2002 – organização de uma conferência para debater as reflexões e as propostas que constituirão a base a partir da qual serão elaboradas as conclusões e as recomendações que terão divulgação pública e que constituem o culminar deste projecto dedicado à Gestão das Cidades. As características de que se deve revestir o relatório final do Projecto e os respectivos termos de referência, foram estabelecidos por consenso entre os membros do Painel e a Equipa nomeada pelo Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, tendo sido aprovados pelo Conselho de Administração da Fundação na sua sessão de 18.01.01.” Eduardo Marçal Grilo 172 173 ›› Projecto A New Type of Strategy in Attempts to Develop a Vaccine Against Malaria € 299 279 “O projecto sobre a imunobiologia da malária foi iniciado em 2001. Os objectivos para este ano eram, essencialmente, recrutar a equipa e constituir o grupo de trabalho, instalar e equipar o laboratório em máquinas, reagentes e materiais biológicos, montar as tecnologias mais frequentemente utilizadas, aferir os sistemas experimentais e lançar as primeiras linhas de investigação. Todos estes objectivos foram atingidos. Recrutaram-se os elementos iniciais da equipa (um consultor, um investigador ‘post-doc’, um estudante de doutoramento angolano e dois técnicos de laboratório). Procedeu-se à formação específica dos três últimos através de estágios em laboratórios competentes no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e no estrangeiro (Londres, Paris e Leiden). Instalou-se o laboratório, montaram-se todas as tecnologias necessárias e fez-se a aferição dos materiais e reagentes biológicos nos sistemas experimentais a utilizar. Foram feitas as primeiras observações experimentais que confirmaram algumas das hipóteses que se pretendiam testar. O projecto terá, em princípio, a duração de três anos, sujeito a avaliações anuais de progressão e resultado. No termo deste período, o Conselho entendeu que deverá efectuar-se uma avaliação de fundo do projecto, cujas conclusões irão ou não determinar o seu prolongamento no tempo. Para o primeiro ano foi aprovada uma dotação de € 299 279. No ano a que respeita este Relatório, registaram-se os seguintes passos significativos neste projecto: Constituição da equipa de investigação e recrutamentos A composição da equipa considerou as necessidades científicas e tecnológicas do plano de trabalhos, mas levou também em consideração o aspecto formativo do projecto, nomeadamente em relação aos países africanos de língua portuguesa, não esquecendo a integração da equipa no contexto geral do IGC. Por outro lado, tratando-se de uma equipa inteiramente nova, pareceu apropriado proceder de maneira progressiva, de forma a poder consolidar o espírito de grupo, bem como as rotinas e responsabilidades de cada um dos primeiros elementos. Foram recrutadas as seguintes pessoas: o Dr. Andrew Waters, da Universidade de Leiden, um dos mais reputados peritos mundiais em genética molecular do parasita e na sua manipulação (parasitas transgénicos e knock-outs); a Dr.ª Elsa Seixas, investigadora doutorada pela Universidade Nova de Lisboa, com uma experiência pós-doutoral de quatro anos no National Institute for Medical Research em Londres (Mill Hill) em malária de roedores, ou seja, no sistema experimental escolhido para a parte laboratorial do projecto (com uma bolsa de pós-doutoramento); Dominique Ostler, técnica superior de laboratório com um grau em tecnologia química (‘Bac+2’) pela Chemieschule Dr. Elhardt de Munique e cinco anos de experiência em laboratórios de biologia (com uma bolsa de técnico de laboratório); a Dr.ª Margarida Cunha, de nacionalidade angolana, licenciada em Bioquímica pela Universidade do Porto (com uma bolsa de doutoramento); e o Dr. Vasco Correia, com um grau BSc em Biotecnologia pela Universidade de Glamorgan (com uma bolsa de técnico de laboratório). Instalação do laboratório Em 2001, iniciou-se a instalação do laboratório, algo retardada pelos atrasos na renovação dos espaços destinados a este grupo de trabalho. Procedeu-se, nomeadamente, à escolha e aquisição de uma variedade considerável de equipamentos necessários aos trabalhos a realizar, bem como à aquisição de reagentes laboratoriais específicos ao projecto. Por outro lado, obtiveram-se, em alguns casos por dádiva de outros grupos no estrangeiro, os instrumentos de trabalho necessários, nomeadamente, os agentes biológicos (parasitas P. berghei e P. chabaudi, bem como as estirpes de ratinhos e ratos a ser utilizadas) e outros reagentes biológicos apropriados (anticorpos, sondas de ADN, etc.). Este aspecto da constituição do laboratório é um processo inacabado, mas sê-lo-á sempre em razão da evolução dos trabalhos e resultados. Como parte integrante da instalação do laboratório, montaram-se uma série de tecnologias de rotina, algumas apenas ‘transferidas’ de outros grupos no IGC, outras especificamente desenvolvidas pela equipa. Hoje, a equipa pratica de forma rotineira uma boa gama de tecnologias, em parasitologia, em imunologia, em biologia celular molecular e mesmo em bioinformática. Algumas destas (culturas de P. berghei, diferenciação parasitária in vitro e transfecção de genes, por exemplo) não eram praticadas em Portugal e foram transferidas para o IGC após formação específica dos jovens membros da equipa em laboratórios estrangeiros. Formação inicial do pessoal em tecnologias específicas Os membros inicialmente recrutados para a equipa receberam formação específica nas tecnologias que deveriam praticar mais frequentemente. Esta formação foi feita on job, quer nos laboratórios do IGC, em Oeiras, quer em Paris, Londres e Leiden. Aferição de sistemas experimentais e primeiras observações Foi ainda possível estabelecer os sistemas experimentais de infecção por P. berghei e P. chabaudi no ratinho e no rato, reproduzindo os dados publicados em parasitemia e em susceptibilidade ao sindroma cerebral de ratinhos na infecção por P. berghei. Finalmente, foram feitas as primeiras observações experimentais no projecto de investigação submetido, nomeadamente, a descrição detalhada de um bom número de parâmetros celulares e moleculares na cinética da resposta à infecção e a confirmação de uma resposta ‘não-específica’. Conclusão e perspectivas para 2002 Em 2002 deverá ser possível proceder à demonstração detalhada da relevância dos agentes mitogénicos parasitários na imunobiologia da infecção, mais particularmente da malária cerebral, e iniciar o seu isolamento bioquímico. Pela utilização de ratinhos mutantes naturais e knock-out para os genes receptores dos mitogénios, poder-se-á avaliar da relevância destes mecanismos na patologia da infecção e lançar as bases, pelo isolamento dos mitogénios respectivos, de uma nova abordagem vacinal. Pretende-se ainda, pela derivação teórica de novos modelos epidemiológicos de malária humana que levam em conta a genética de susceptibilidade e resistência entretanto descrita no IGC em sistemas experimentais, começar a preparar o trabalho de campo que, espera-se, possa vir a ser lançado em São Tomé, nomeadamente com a colaboração da investigadora ‘local’ que virá para Portugal.” António Coutinho 174 175