Os patrimónios museológicos extra-europeus e o imaginário ultramarino português dos últimos 150 anos Com o Projecto EXPLORA, financiado pela FCT (2005-2008), demos início a um ciclo de estudos com os quais pretendemos avaliar em que medida os contextos de recolha das colecções extra-europeias realizadas por Portugal, entre os meados do séc. XIX e a os finais do séc. XX, contribuíram para a construção do nosso imaginário colonial. Neste sentido, e dando sequência à investigação já realizada com o projecto supracitado, propomo-nos desenvolver, no âmbito da Iniciativa Portuguesa a actividade “Os patrimónios museológicos extraeuropeus e o imaginário ultramarino português dos últimos 150 anos” cujos resultados poderão contribuir para levar a bom termo, no IICT, a tarefa hercúlea de estudar e divulgar os patrimónios coloniais junto dos CPLP. Se por um lado podemos equacionar a existência de uma relação ambígua entre a História, a Museologia, a Arquivística e a Antropologia, que corresponde no fundo ao meu percurso de formação académica, especialização e actividade profissional ao longo de mais de três décadas, por outro, julgo que os constrangimentos que eventualmente se poderiam colocar à investigação que tenho vindo a desenvolver são meras ilusões teóricas. A experiência adquirida numa instituição vocacionada para a problemática colonial, que guarda no seu seio acervos arquivísticos e artefactuais que resultam de séculos de convívio luso-africano, permite-me equacionar as diferentes ambiências da produção do conhecimento, latentes na visão que os portugueses foram construindo do Outro, de um modo mais abrangente e (des)apaixonado. Aparente ambiguidade, que resulta finalmente numa vantagem, que pretendo utilizar num momento em que a instituição IICT traçou a sua visão estratégica, a qual deverá assentar numa perspectiva multidisciplinar na produção do conhecimento. Dada a especificidade desta temática, iremos promover um contacto sincrético entre o eixo matricial das actividades do IICT PAT/MEM e AHU, e os patrimónios coloniais existentes noutras instituições, nomeadamente as colecções museológicas extra-europeias à guarda dos museus portugueses. Pretende-se revelar, através de um conjunto de acções concertadas entre o IICT e a SGL, que parte do imaginário ultramarino e científico subjacente às construções discursivas que emanam dos sistemas de objectos, dos documentos produzidos ou da dinâmica organizacional de algumas instituições, resulta do modo como construímos os sistemas artefactuais do Outro, como os classificámos, interpretámos ou expusemos. A constituição, exposição e divulgação das colecções museológicas bem como a documentação produzida tanto pela administração colonial, como por intelectuais, exploradores, cientistas, militares, missionários ou comerciantes, durante o período em apreço evidenciam as políticas coloniais, científicas, económicas e sociais da História Colonial portuguesa, e porque não dizê-lo, europeia. Nesse sentido, pretende-se caracterizar a experiência portuguesa na construção desse imaginário, reavaliando as distâncias no processo de aproximação às sociedades exóticas. Destacamos como prioritário para este estudo, o acervo museológico existente no Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL), dado o período que cobre, bem como, o envolvimento que esta instituição teve na construção do imaginário ultramarino português durante os últimos cento e trinta anos. Sendo que a abordagem teórica de contextualização irá incidir cronologicamente em três instituições, Museu Colonial de Lisboa (1870-1892), Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa (1884-2006) e Museu Nacional de Etnologia (1965-1992). A realidade museológica do IICT alterada, a partir de 1989, permite-nos caracterizar um eixo fundamental da política científica colonial da segunda metade do séc. XX, enquadrando assim o imaginário científico e ultramarino da última fase do nosso período colonial. Este ciclo, que teve início em 1870, com a criação do Museu Colonial de Lisboa na então Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar, fecha-se com a mudança do então Museu de Etnologia (ME) para a tutela do IPM em 1989. Manuela Cantinho Investigadora responsável do Projecto EXPLORA e da actividade da Iniciativa Portuguesa “Os patrimónios museológicos extra-europeus e o imaginário ultramarino português dos últimos 150 anos”.