14/04/2015
Artigos| PAULO BROSSARD | Opinião ZH
Artigos| PAULO BROSSARD
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14 de abril de 2015
UM DOS ÚLTIMOS
FABIO BRUN GOLDSCHMIDT
Advogado
Fui neste domingo me despedir do Dr. Paulo Brossard, quando me dei conta de que não era ele quem estava
sendo enterrado. Kafkianamente, era como se cada um dos presentes pedisse licença para entrar no caixão. Um
passinho à frente, por favor. Fazendo força para ocupar o seu lugar e tirá‐lo de lá. Morria ali um dos últimos,
um dos grandes. Parece estranho imaginar que nosso Congresso já contou com homens assim. A política
brasileira se tornou um livro escrito em voz baixa, como diria Ortega y Gasset. Enterramos Rui Barbosa,
Joaquim Nabuco, Raul Pilla, entre outros exemplos da política com P maiúsculo e em negrito, com orgulho da
representação.
Como advogado, acompanho, diariamente, ao longo dos já quase 20 anos de profissão, o avanço e o
fortalecimento de uma série de instituições brasileiras. A Polícia Federal, a Receita Federal, o Banco Central, o
Ministério Público, os órgãos de defesa ambiental, o Judiciário, todos bons exemplos de instituições que se
robusteceram desde a Constituição de 1988. Não vejo isso se repetir no parlamento. Onde estão nossos grandes
homens públicos? Não se trata de uma pergunta retórica, mas de uma dúvida concreta. Criamos um sistema que
rejeita ou escarra os bons. Os muitos brasileiros bons, moral e tecnicamente. E o desgosto que criamos acaba
por perpetuar o erro, numa reiteração que faz olvidar que não há nada que seja maior evidência de insanidade
do que fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes, na palavra de Einstein.
Brossard foi também um dos últimos juristas completos, num mundo hoje repleto de especialistas, carentes de
uma cultura geral e ampla. O Direito é a convergência da história, da política, da sociologia, da economia, da
experiência dos outros países e de cada uma das distintas facções da realidade versadas nos atos normativos.
Não há como se pretender _ verdadeiramente _ conhecê‐lo sem enxergar o todo. E ele conhecia.
Tive o orgulho de privar da companhia e da intimidade desse homem incrível por vários anos. Aprendi de tudo
um pouco, do Direito Constitucional ao número exato de pedras no whisky. Ele sempre foi amigo dos seus
amigos. Tornei‐me tributarista por sugestão sua e a ele devo a satisfação dessa escolha. Com ele, morre um
pouco de todos nós, ávidos que estamos por uma política melhor. Um passinho à frente, por favor.
***
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