XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. BEM-ESTAR ANIMAL E A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO: DE ARISTÓTELES AOS DIAS ATUAIS Ana Paula Monteiro Tenório1, João Marcelo Wanderley de Mendonça Uchôa Cavalcanti2, Hugo César Viana de Souza3, Laurien de Araújo Cavalcante Filho3, Vanessa Alessandra de Barros Portela3, Ingrid Danielle Santos de Souza Brito3, Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho1 Introdução Ao longo da história da humanidade, observa-se a convivência desta com os animais não humanos. Dentre alguns usos podemos pontuar animais de companhia, entretenimento, circo, zoológico, rodeio, vaquejada, tourada, alimentos, pesquisas científicas, ensino, vestuário, transporte, tração, adoração religiosa, ferramentas em terapias, facilitadores psicossociais, dentre outros (Broom & Fraser, 2010). Se voltarmos nosso olhar para alguns filósofos, poderemos comparar vários pensamentos diferentes. Aristóteles (séc. VI a.C.) considerava que as plantas deveriam servir aos animais e que os animais existem para benefício dos humanos (Aristóteles, 1991). Descartes (séc. XVII) em seu pensamento descreveu os animais como máquinas desprovidos de alma, privados de conhecimento e sentimento. Rousseau (1754) preconizou que os humanos também são animais e que um tem o direito de não ser desnecessariamente maltratado pelo outro (Rousseau, 1987). Voltaire (1694-1778) trouxe um olhar mais sensível, considerando o animal do ponto de vista anatômico e fisiológico igual ao humano (Voltaire, 1989). Jeremy Bentham (séc XVIII) reforçando o olhar de Voltaire, conclui um texto sobre os animais com a seguinte pergunta “A questão não é: eles pensam? Eles falam? Mas: eles sofrem?”. Nosso respeito em relação ao animal está ligado ao quanto eles podem se parecer com o humano ou ao quanto eles podem sentir, ficar alegres ou sofrer? (Oliveira, 2006). Schopenhauer (séc XIX) seguindo essa mesma linha diz “amaldiçoada toda moralidade que não veja uma unidade essencial em todos os olhos que enxergam o sol” - os animais têm a mesma essência dos seres humanos. Já Imanuel Kant (1724-1804) disse que os animais são apenas meios para um fim, os humanos. O filósofo contemporâneo Peter Singer trouxe o utilitarismo , onde deixa claro que o uso de animais é necessário e diante disso deve-se fazer o uso o mais refinado possível, evitando-se o sofrimento desnecessário (Singer, 1994). Em contrapartida Tom Regan, filósofo contemporâneo, com sua teoria abolicionista, nos mostra que os animais têm um valor intrínseco e que não se justifica o uso destes pelo homem. É preciso libertar os animais do homem já (Regan, 2001). O objetivo deste trabalho foi traçar uma revisão histórica e a evolução do pensamento a respeito de como o homem lida com o animal desde a antiguidade. Material e métodos As buscas foram realizadas nos periódicos acadêmicos Capes e Google acadêmico com palavras chave relacionadas a bem-estar animal, abolicionismo e utilitarismo animal, bem como alguns livros foram utilizados para referenciar conceitos científicos básicos. Resultados e Discussão É possível abolir o uso de animais hoje? Se a resposta for não, então geremos outra pergunta, o que devemos fazer? Como podemos dar dignidade aos animais, angústia clara e gritante da sociedade humana e por outro continuar utilizando-os? Talvez como um caminho, um meio para um fim possamos responder a essa pergunta com a teoria utilitarista de Singer, trazendo e aplicando os conceitos e práticas em bem-estar animal. E o que é bem-estar animal? Segundo Donald Broom (1986) professor da Cambridge University no Reino Unido “É o estado físico e psicológico de um animal diante de suas tentativas de lidar com o ambiente”. Quanto maior o desafio causado por este ambiente, mais energia o animal vai demandar, gastar para se adaptar ao mesmo. Bem-estar animal é uma ciência jovem, que vem crescendo em todo o mundo através de pesquisa científica e tem como seu objeto de estudo os seres sencientes, senciência é a capacidade de sentir prazer, dor, sofrer, ficar alegre ou triste. Os animais sencientes são os vertebrados mamíferos, aves, répteis e peixes. Aqueles animais que possuem um cérebro encerrado numa caixa craniana e possuem notocorda. O primeiro critério de avaliação de bem-estar animal utilizado amplamente foram as preconizadas pelo Farm Animal Welfare Council do Reino Unido (1997) das cinco liberdades, quais sejam Livre de Fome e sede; Livre de 1 Primeiro Autor é Professor do Curso de Medicina Veterinária pela UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n Dois Irmãos, Recife - PE E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é discente do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias pela UFRPE 3 Terceiro Autor é discente de graduação em Medicina Veterinária pela UFRPE XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. desconforto; Livre de dor, lesões e doenças; Livre para expressar comportamento natural; Livre de medo e estresse. Vários indicadores fisiológicos, imunológicos e comportamentais têm sido estudados e utilizados para avaliação e determinação das boas práticas de bem-estar animal nas diversas áreas de uso animal. Estudar e aplicar o Bem-estar animal pode ser justificado por vários fatores, consideremos alguns: Por respeito aos animais, pelo seu valor intrínseco, pela obrigação moral dos humanos para com os não humanos; Para melhorar as criações e com isso a qualidade da carne e outros produtos de origem animal; por exigências mercadológicas; pelo grito da sociedade que exige melhores condições de vida para os animais, ou seja, por uma demanda social; para melhorar a qualidade das pesquisas envolvendo animais; para evitar o sofrimento desnecessário; para ser um meio para um fim, sendo este fim a abolição do uso de animais (Broom, 2010). Correndo o risco de ser repetitivos, faríamos uma última pergunta: A quem interessa o bem-estar animal? Aos profissionais que lidam diretamente dom animais, que tem como objeto de seu estudo o animal, como biólogos, médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros de pesca, pesquisadores, professores; à sociedade humana; à indústria farmacêutica; à indústria alimentícia; à indústria do entretenimento e indiscutivelmente aos animais, pois como afirmava Darwin (Sec. XIX): “Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais: os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”. Agradecimentos A todos os animais humanos que buscam incansavelmente melhores condições de vida para os animais não humanos, particularmente a todos aqueles que fazem o Grupo PROETICA, Ética e Bem Estar Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Referências Aristóteles. A política. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1991. Broom, D.M. Indicators Of Pool Welfare. 1986. Broom, D.M.; Fraser, A.F. Comportamento e bem-estar dos animais domésticos. Barueri, SP: Manole, 2010. 438p. Oliveira, C.G.B. Experimentação com animais: uma revisão. 2006. http://www.ufv.br/petbio/informativos/novembro2006/artigo01.htm. 20 de Out. de 2013. Regan, T. Defending Animal Rights. Illinois: Ed. Illinois University, 2001. 179 p. Rousseau, J. Do Contrato Social. In: Os Pensadores. Rousseau Vida e Obra. São Paulo: Nova Cultural. 1987. p. 15-145. Singer, P. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes. 1994. Voltaire. A Reply to Descartes. In: Regan, T.; Singer, P. Animal Rights and Human Obligations, New Jersey: Prentice Hall. 1989. p. 20-22.