Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo
Ângelo/RS
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26 a 29 de abril de 2006
DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL
ELTON GILBERTO BACKES
ONG – Políticas Públicas Outro Mundo é Possível
[email protected]
Palavras-chave: Meio ambiente, desenvolvimento, globalização
Considerações iniciais
O meio ambiente constitui uma das mais importantes preocupações dos
diferentes segmentos, grupos e classes sociais que compõem a sociedade
contemporânea. Esta decorre dos riscos ambientais com os quais o homem passou a
conviver e do impacto da constatação alarmante do iminente comprometimento de todas
as formas de vida na Terra.
A partir da Agenda 21 (1992), tanto em nível nacional como internacional,
construiu-se uma avançada legislação de proteção ambiental, bem como vários acordos
entre países foram propostos no sentido de sanar danos já cometidos e evitar estragos
futuros, possivelmente inevitáveis.
O que torna essas ações pouco eficazes é o fato de que, diante do processo de
globalização da economia, as nações perderam sua soberania, tornando-se reféns das
regras impostas pelas grandes organizações transnacionais que têm o controle do
sistema de mercado, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Em
contraposição, o desenvolvimento sustentável requer novos pressupostos teóricos, novos
fundamentos diante da crise do paradigma da modernidade.
O fundamento racional do atual modelo de desenvolvimento, baseado na
dualidade homem-sujeito / natureza-objeto, levou o homem a julgar-se acima da
natureza, com o direito de dominá-la e explorá-la como se fosse inesgotável fonte de
recursos. O novo paradigma ecológico aponta para uma visão de mundo holística, que
visa resgatar o homem como parte integrante da natureza, numa relação de
interdependência com todos os fenômenos que constituem o enorme organismo vivo: a
Terra. Essa nova concepção ética orienta o ser humano em seu reencontro com a
totalidade, construindo relações fundamentadas na cooperação e na solidariedade. Nesse
sentido, a sustentabilidade dos processos de desenvolvimento torna-se uma questão
acima de tudo ética e uma questão central da política.
O desenvolvimento vigente e a sua insustentabilidade
A sociedade global de início do terceiro milênio enfrenta uma crise específica
ao esgotamento de um estilo de desenvolvimento ecologicamente depredador,
socialmente perverso e politicamente injusto, tanto nacional como internacionalmente.
A superação da crise passa pelo questionamento desse modelo de desenvolvimento
determinado pelo processo de globalização da economia.
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Segundo VIOLA e LEIS (1995), a crise atual é conseqüência das duas principais
transformações na ordem mundial ocorridas no final do segundo milênio: o triunfo do
mercado sobre o Estado e o aumento dos problemas socioambientais globais.
Em conformidade com essa visão, BOFF (1995) também nos remete ao modelo
de desenvolvimento capitalista vigente, transgressor de qualquer preocupação com a
natureza, como responsável pela crise ambiental.
O domínio do homem sobre a natureza aumentou com o processo de
industrialização. O mito do progresso e do crescimento econômico propagado pelos
ideólogos neoliberais levou a humanidade a conviver com padrões insustentáveis de
produção e consumo e a condições desiguais no acesso aos recursos naturais que
viabilizam a atividade econômica. ABDALLA (2002) nos dá a dimensão catastrófica da
ameaça posta por esse desenvolvimento predatório e irracional, como conseqüência do
“efeito estufa”: proporções alarmantes do aquecimento da Terra, derretimento de
geleiras, aumento dos níveis dos mares, destruição de cidades litorâneas, enchentes e
secas catastróficas, irrespirabilidade do ar, aumento de doenças e infecções.
O mesmo autor aborda, entre outras, as ameaças da escassez dos recursos
energéticos não renováveis, principalmente a perspectiva de esgotamento do petróleo e
a escassez e poluição das águas potáveis, consideradas junto com o efeito estufa, como
os mais graves.
.
Em diversas conferências mundiais tratando do meio ambiente, nações
propuseram importantes acordos para buscar um desenvolvimento sustentável, como o
protocolo de Kyoto (Japão, 1997). Previam um percentual diferenciado de redução da
emissão de gases-estufa, emitidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis,
até o ano de 2010, de acordo com o tempo em que cada nação já os estava emitindo;
quem estivesse poluindo há mais tempo deveria reduzir em maior percentual a emissão
de gases-estufa na atmosfera. Porém Estados Unidos e as nações mais ricas boicotaram
o protocolo de Kyoto. Esta atitude e a constatação de que nada ou quase nada do que as
nações assumem nas conferências mundiais é posto em prática levam a concluir que a
racionalidade capitalista, a lógica do mercado, jamais admitiria frear o avanço industrial
e minimizar a otimização dos lucros em vista de uma vida de qualidade para todos.
Há, na verdade, uma outra determinação que ultrapassa as fronteiras e soberanias
nacionais e impõe a sua vontade: as empresas transnacionais, que são os agentes
dinâmicos da globalização. Estes, segundo TANTZ (2002), têm uma influência muito
grande na poderosa Organização Mundial do Comércio (OMC), centro de tomada de
poder de fato, e que inviabiliza as decisões das convenções mundiais sobre o meio
ambiente.
O que importa hoje, segundo BOFF (1998), é ultrapassar o paradigma da
modernidade, expressa na vontade de poder sobre a natureza e os outros; buscar um
novo paradigma de desenvolvimento que atenda às demandas sociais globais, incluindo
o bem comum da natureza. E Boff afirma: “[...] impõe-se uma democracia social
ecológica, planetária e cósmica” (1998, p. 34). Só assim é possível construir novos
critérios ético-políticos que orientarão o caminho de um consenso mundial em torno da
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gestão dos bens ambientais, bens públicos de primeira grandeza. Em outros termos, para
resgatar a sustentabilidade, é preciso buscar construir o que BOFF (1998), LOUREIRO
(2003), entre outros, chamam de cidadania planetária.
Considerações finais
A solução da crise ambiental não se limita ao desenvolvimento de novas
tecnologias menos poluentes, nem a mudanças meramente comportamentais. É
necessário, antes de tudo, reorganizar a base civilizacional, o paradigma e o modelo de
desenvolvimento instituídos no período posterior à Revolução Industrial e no marco da
modernidade capitalista.
Está posto o desafio urgente: a sociedade deve agir na mudança radical de seus
processos produtivos e de seus padrões de consumo. É preciso mudar os rumos do atual
modelo de desenvolvimento e buscar, com uma visão de mundo holística, um novo
modelo civilizatório, sustentado nas relações de cooperação e de solidariedade, capaz de
alcançar a utopia da sustentabilidade.
A grande esperança está depositada numa nova educação ambiental alicerçada
na ética do cuidado, como quer BOFF (1999), que leve à construção de uma cidadania
planetária. É possível e é necessário ampliar essa consciência ambiental para fortalecer
o processo de organização da sociedade civil, através dos seus diferentes movimentos
sociais, para que, ao mesmo tempo em que vá desenvolvendo uma prática alternativa,
alcance a força necessária para exigir que os governos assumam estratégias para garantir
políticas públicas que viabilizem o desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDALLA, Maurício. O princípio da cooperação: em busca de uma nova
racionalidade. São Paulo: Paulus, 2002.
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1995.
__ Nova era: a civilização planetária. São Paulo: Ática, 1998.
__ Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 2. ed. Petrópolis (RJ):
Vozes, 1999.
LEIS, Hector R.. Ambientalismo: um projeto realista – utópico para a política mundial.
In: VIOLA, E. J.. Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: desafio para as
ciências sociais. e outros. São Paulo: Cortez, 1995.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. O movimento ambientalista e o pensamento
crítico: uma abordagem política. Rio de Janeiro: Quartet, 2003.
TANTZ, Carlos. A Rio + 10 corre perigo. Ecologia e Desenvolvimento. Rio de Janeiro,
nº 102, ano 12, p. 38-41, agos. 2002.
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