PARADIGMA E EPISTEMOLOGIA Márcio Zacarias Lara RESUMO Quando vamos tratar dos princípios éticos que norteiam a construção de teorias e práticas científicas, falamos de paradigmas e de epistemologia. O conceito de paradigma foi desenvolvido por Thomas Khun, físico e historiador das ciências. Segundo o próprio Khun, o conceito é o ponto mais obscuro e mais importante de sua obra. A exemplo do conceito de paradigma, o conceito de epistemologia também carrega consigo algumas dificuldades de definição. Referindo-se a essas dificuldades, Hilton Japiassu diz que “sabemos muito do que ela não é, e pouco sobre o que ela é.” Portanto, é por considerarmos os termos polêmicos no âmbito da filosofia e da ciência contemporânea, é que dedicaremos algumas reflexões, no sentido de compreendê-los, bem como a relação entre eles, antes de, em um segundo momento de escrevermos sobre a sua aplicação. Palavras-chaves: Paradigma, Epistemologia. Dentre os termos polêmicos no âmbito da filosofia e da ciência contemporânea, os conceitos de paradigma e epistemologia ocupam lugar de destaque; são muito utilizados, mas, muitas vezes, com sentidos divergentes. Em decorrência dessa importância, é que dedicaremos algumas reflexões, no sentido de compreender a relação entre eles. O conceito de paradigma, que é amplamente utilizado em toda a literatura científica e filosófica atual, foi desenvolvido pelo físico e historiador da ciência Thomas Khun, em sua conhecida obra A Estrutura das Revoluções Científicas, editada em l962. Tão amplamente trabalhado foi o conceito de paradigma pelo físico, que a partir dessa data passou a ser referência para todos os que trabalham o conceito. Khun (1978) considera paradigmas “as realizações científicas universalmente reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KHUN, 1978, p. 13). Para ele paradigma não é sinônimo de teoria ou de um conjunto de teorias, é mais do que isto. Ele considera apropriado referir-se a paradigmas como um conjunto de crenças e valores subjacentes à prática científica. Embora pareça muito clara a definição do conceito, ele foi objeto de grande polêmica, desencadeada pela publicação da obra de Khun. A definição do conceito de paradigma, segundo o próprio Khun (1978) afirma, é o ponto mais obscuro e mais importante de seu texto original. Para ilustrar a dificuldade, ele relata o caso de uma leitora que lhe escreveu dizendo que, na obra A Estrutura das Revoluções Científicas, observou que o termo é utilizado “em pelo menos vinte e sete maneiras diferentes” (KHUN, 1978, p. 226). Ele então justifica que, em sua maioria, essas diferenças são ocasionadas por “incongruências estilísticas”. Por exemplo, diz ele: “(...) algumas vezes as leis de Newton são um paradigma, em outras, partes de um paradigma, ou, em ainda outras, paradigmáticas” (KHUN, 1978, p. 226). Propõe, então, falar de paradigma em um sentido global, sugerindo a expressão “matriz disciplinar”, que possui como componentes: generalizações simbólicas, que se assemelham em parte a leis da natureza e, em parte, a definições de símbolos que elas empregam; crenças em determinados modelos heurísticos, para interpretação da realidade; e valores que em geral são mais amplamente partilhados por diferentes comunidades do que as generalizações simbólicas ou modelos. É fundamental, acrescenta ele, que um paradigma contribua significativamente para que os cientistas se sintam pertencentes a uma comunidade global. Em seguida, faz uma síntese, colocando um ponto final na polêmica desencadeada. Diz ele, no posfácio da edição de l969, sete anos após a publicação da primeira edição de A Estrutura das Revoluções Científicas: Percebe-se rapidamente que na maior parte do livro o termo paradigma é usado em dois sentidos diferentes. De um lado indica toda a constelação de crenças, valores e técnicas etc. (...) compartilhados pelos membros de uma comunidade determinada.