Imprimir () 01/09/2014 - 05:00 Taxa de investimento volta ao nível de 2006 e complica retomada Por Denise Neumann, Catherine Vieira e Alessandra Saraiva A recessão por que passa a economia brasileira - confirmada pela divulgação do segundo trimestre consecutivo de queda no Produto Interno Bruto (PIB) - terá reflexos sobre a atividade além de 2014. A queda do PIB está sendo muito influenciada pelo investimento, pois a formação bruta de capital fixo, componente do PIB que mede o quanto o país investe em máquinas e equipamentos e na construção civil, caiu expressivos 5,3% no segundo trimestre, a quarta queda seguida, segundo dados divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa retração - a maior desde 2009 - fez a taxa de investimento na economia recuar para 16,5% do PIB, a menor desde 2006. Sem investir em novas fábricas e em obras de infraestrutura, o Brasil acumulou menos capacidade de crescer nos últimos anos, situação que pode impedir uma recuperação mais consistente da atividade quando o país voltar a avançar, o que os economistas só consideram possível após ajuste na política econômica. Diante dos dados atuais, dizem os economistas, o chamado PIB potencial (medida do quanto o país pode crescer sem pressionar a inflação) do país passou para algo como 1,5% ou 2%. É praticamente um consenso que a acelerada perda do nível de confiança de empresários e consumidores foi o elemento-chave para a paralisação dos investimentos e, consequentemente, da atividade. Os especialistas divergem, no entanto, sobre o ritmo da capacidade de reação da economia no momento em que essa confiança for retomada. Para o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Armando Castelar, somente por meio de um impulso no investimento a economia brasileira poderia voltar a crescer de forma sustentável novamente. "Eu não acho que esse resultado condene o Brasil a um crescimento baixo. Existem fatores de natureza cíclica, que também pesaram bastante, mas os números vêm mostrando que o potencial de crescimento [do PIB] do Brasil caiu", diz ele, ponderando que hoje em dia se trabalha com números perto de 1,5%, quando, alguns anos, atrás se falava em 3,5% a 4%. Por isso, diz ele, não dá para esperar que a recuperação traga números brilhantes em pouco tempo. "Existem barreiras em relação a investimento, infraestrutura e produtividade, que precisam ser atacadas. Mas você pode perfeitamente voltar a crescer em ritmo mais forte quando o investidor voltar a ter mais segurança e confiança em relação ao futuro", argumenta. Para isso ocorrer, contudo, é preciso, primeiro, mudar a política econômica e criar outro ambiente para o investidor, pondera Castelar. O economista e presidente do Banco BRP, Nelson Rocha Augusto, tem pensamento um pouco diferente. Para ele, o movimento de virada da confiança pode ser mais rápido e já animar um novo ciclo de investimentos após o fim das eleições, independentemente do resultado, o que poderia trazer algum alento já no fim deste ano. Um sinal de que o cenário pode mudar seria o rali recente que se viu na bolsa de valores - que costuma antecipar o que ocorre na economia real - na qual houve uma mudança de humor no momento em que os investidores passaram a acreditar na mudança nas políticas atuais. "Em relação a taxa de investimentos, acho que batemos no fundo do poço" diz Augusto. "Com a recuperação da confiança, o investimento privado deve voltar, mas isso não será suficiente. É preciso buscar o ajuste fiscal, não apenas pelo lado da demanda, para combater a inflação, mas pelo lado da oferta, para recuperar a capacidade de poupança do governo", completa. O presidente do BRP também avalia, no entanto, que os dados atuais apontam para uma redução do PIB potencial do país. "Talvez para uns 2%, não sei, não fizemos as contas exatas", afirma. Porém, o país não está fadado a esse nível e ele vislumbra boa chance de retomada no próximo ano, que pode ter ajuda do cenário externo. Para o economista-chefe da corretora Tullet Prebon Brasil, Fernando Montero, existe um problema adicional gerado pelo longo período de baixo volume de investimentos no país. Antes de criar oferta, lembra ele, a formação bruta de capital fixo cria uma demanda por máquinas e equipamentos e materiais de construção civil, além de exigir uma mão de obra capaz já escassa, mas a economia está limitada para atender essa oferta. "O investimento que impulsiona nosso PIB futuro precisa antes caber no nosso PIB presente", resume. E o ainda pleno emprego, a inflação alta e o déficit externo criam restrições macroeconômicas para fazer essa "acomodação'. Samuel Pessoa, também pesquisador do Ibre-FGV, concorda que a sucessiva e profunda queda no investimento afetou o PIB potencial, que hoje é menor do que era quando Dilma Rousseff assumiu a presidência, no início de 2011. Para ele, contudo, essa retração não necessariamente será um obstáculo para a retomada do crescimento. "O investimento é importante, mas ele não é motor do crescimento. O que vai detonar esse movimento é uma boa política econômica e ganhos de produtividade", diz. Ele acredita que a "arrumação da casa" dará fôlego ao crescimento e o investimento virá na sequência. A formação bruta de capital fixo, diz Samuel Pessoa, despencou porque "as expectativas dos empresários foram para o chão". As empresas perderam qualquer horizonte de planejamento diante da política econômica atual. Na sua avaliação, a recuperação da boa gestão macroeconômica permitirá recuperação das expectativas e devolverá capacidade de planejamento às empresas, abrindo espaço à retomada do investimento produtivo e do crescimento.