Como voltar a crescer?
O Brasil precisa voltar a crescer. Independentemente de quem for eleito para governar o País nos
próximos quatro anos, essa questão vai se colocar. Todos desejam o crescimento sustentável da
renda e do emprego. Com a volta do crescimento do PIB, isso ficaria bem mais fácil. Mas como?
Primeiro, é importante reconhecer que o crescimento do PIB já não é mais o mesmo. Houve
desaceleração de uma média de crescimento de 4,4% entre 2004 e 2010 para 2,7%, 1% e 2,5%
nos três anos seguintes. E neste ano o PIB deve crescer aproximadamente zero, com os dois
primeiros trimestres registrando queda. No terceiro trimestre, que terminou na semana passada,
tudo indica que não houve recuperação significativa. Por enquanto, não há sinais consistentes de
retomada da economia.
No curto prazo, uma parte da retomada do crescimento pode vir da recuperação da confiança. O
índice de confiança da indústria calculado pela FGV caiu 23,8% desde janeiro do ano passado. A
volta da confiança ajudaria a retomada do investimento. Projetamos que o investimento deva cair
em torno de 7% neste ano, o que contribuira negativamente para o PIB em 1,2 ponto percentual. Ou
seja, se no ano que vem o investimento parar de cair, teríamos já um crescimento do PIB de mais
de 1% (mantido o crescimento dos outros componentes do PIB).
No médio e longo prazos é fundamental a volta do crescimento da produtividade. Produzir mais e
melhor, com os recursos disponiveis, é essencial para a convergência para os padrões de vida dos
países mais desenvolvidos. Essa tem sido a experiência em casos de sucesso no mundo
contemporâneo.
De fato, o aumento da produtividade (tanto do trabalho, como total) é fator fundamental para o
crescimento sustentável do PIB e da renda. A produtividade do trabalhador depende da melhora na
educação, assim como do aumento dos investimentos no País, os quais se encontram em níveis
baixos como proporção do PIB. A produtividade total da economia depende também de contínuas
melhoras tanto na gestão das políticas públicas quanto na institucionalização da economia. Claro
que, para crescer de forma sustentável, é condição necessária a consistência das políticas
macroeconômicas, como a fiscal e a monetária, entre outras.
O crescimento do PIB, por sua vez, é fundamental para o crescimento do emprego. Difícil tomarem
rumos distintos por muito tempo. No Brasil há uma relevante correlação positiva entre crescimento
da população ocupada e PIB; e os últimos anos não foram exceção. A população ocupada cresceu
3,1% em 2012, mas caiu 0,5% em 2013, e 0,1% em 2014 até agora.
A retomada do crescimento do PIB e do emprego é importante para manter o crescimento da renda
de forma sustentada. Difícil imaginar a renda crescendo no longo prazo, sem criação de emprego
ou retomada do PIB.
Nesse processo, a volta do investimento é parte relevante. Há um consenso de que o Brasil precisa
melhorar sua infraestrutura. Tanto aquela que serve para a produção — como rodovias, ferrovias,
portos e galpões — quanto transporte público, saneamento e outros serviços públicos.
O contexto mundial não pode ser ignorado. Pode ajudar ou dificultar a tarefa no Brasil. Há quatro
questões relevantes para a frente. (i) O crescimento global deve melhorar, mas ainda é fraco. Entre
as maiores economias desenvolvidas do mundo, apenas os Estados Unidos estão numa trajetória
sustentável de recuperação do crescimento, mesmo assim para uma taxa inferior (2% ao ano). A
zona do euro está fragilizada, tanto que o Banco Central Europeu (BCE) vai fazer mais uma rodada
de estímulo monetário quantitativo. O Japão tem dificuldades para sair do seu longo período de
estagnação. No curto prazo, o crescimento externo não contribuirá de forma relevante para a
retomada no Brasil. (ii) A China está desacelerando (para 7% ou abaixo), e as commodities estão
caindo. A queda das commodities leva à piora dos termos de troca do Brasil (só este ano a queda
foi de 2,4%) e da balança comercial. (iii) O período de liquidez excepcional nos EUA está chegando
ao fim. Não deve passar de 2015 o início de elevação das taxas básicas de juro dos Estados
Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). As taxas estão hoje em nível
praticamente zero, o que tem permitido influxos de capital elevados para o Brasil. (iv) Pressão
altista no dólar frente às outras moedas do mundo. A retomada assimétrica no mundo (com os EUA
na frente dos outros países) fortalece o dólar e enfraquece o resto. A depreciação cambial é útil a
países emergentes que querem recuperar sua competitividade externa, como o Brasil. Mas a
depreciação coloca pressão nos países que já têm inflação elevada.
A subida nos juros nos EUA e o fortalecimento do dólar podem ser obstáculos no curto prazo, mas
fazem parte da transição para uma situação global fundamentalmente melhor no longo prazo, com a
normalização da política monetária excepcional nos EUA (em função de seu crescimento
sustentável). O resto do mundo se beneficiaria desse crescimento: a depreciação das moedas é um
canal de transmissão do crescimento norte-americano para os outros países.
A volta do crescimento do PIB e do emprego, com impacto sobre o crescimento sustentável da
renda, será tema fundamental da economia nos próximos anos. A ênfase tem de ser no chamado
lado da oferta da economia: na retomada da produtividade através da eficiência da gestão das
políticas públicas e na institucionalização da economia e na melhora da educação. O contexto
global não deve ajudar muito e pode dificultar no começo. Mas uma maior integração com o resto
do mundo ajuda a catalisar o crescimento no longo prazo. No curto prazo, uma melhora da
confiança na economia pode contribuir para a retomada do crescimento por meio do aumento do
investimento (ou, pelo menos, estancar a sua queda). A tarefa é árdua, mas factível.
Ilan Goldfajn é economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco.
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