Uma certa Aracy
Ela era paranaense e foi
morar com uma tia na
Alemanha, após a sua
separação matrimonial.
Por dominar o idioma
alemão, o inglês e o
francês, fácil lhe foi
conseguir uma nomeação
para o consulado brasileiro
em Hamburgo.
Acabou sendo encarregada da
seção de vistos.
No ano de 1938, entrou em
vigor, no Brasil, a célebre
circular secreta 1.127, que
restringia a entrada de judeus
no país.
É aí que se revela o coração
humanitário de Aracy.
Ela resolveu ignorar a circular
que proibia a concessão de
vistos a judeus.
Por sua conta e risco, à revelia
das ordens do Itamaraty,
continuou a preparar os
processos de vistos a judeus.
Como despachava com o cônsul
geral, ela colocava os vistos entre
a papelada para as assinaturas.
Quantas vidas terá salvo das
garras nazistas?
Quantos descendentes de judeus
andarão pelo nosso país, na
atualidade, desconhecedores de
que devem sua vida a essa
extraordinária mulher?
Cônsul adjunto à época, seu
futuro segundo marido, João
Guimarães Rosa, não era
responsável pelos vistos.
Mas sabia o que ela fazia e a
apoiava.
Em Israel, no Museu do
Holocausto, há uma placa
em homenagem a essa
excepcional brasileira.
Fica no bosque que tem o
nome de Jardim dos
justos entre as nações.
O nome dela consta da
relação de 18 diplomatas
que ajudaram a salvar
judeus, durante a Segunda
Guerra.
Aracy de Carvalho
Guimarães Rosa é a única
mulher nesta lista.
Mas seu denodo, sua
coragem não pararam aí.
Na vigência do infausto AI 5,
já no Brasil, numa reunião
de intelectuais e artistas, ela
soube que um compositor
era procurado pela ditadura
militar.
Dispôs-se a ajudá-lo, dando
abrigo, além dele, a outros
perseguidos pela ditadura.
Com muita coragem, digase de passagem.
Reservada, Aracy enviuvou
em 1967 e jamais voltou a se
casar.
Recusou-se a viver da glória
de ter sido a mulher de um
dos maiores escritores de
todos os tempos.
Em verdade, ela tem suas
próprias realizações para
celebrar.
Hoje, aos 99 anos, pouco se
recorda desse passado, cheio
de coragem, aventura,
determinação, romance,
literatura e solidariedade.
Mas a sua história, os seus
feitos merecem ser lidos por
todos, ensinados nas escolas.
Nossas crianças, os cidadãos do
Brasil necessitam de tais
modelos para os dias que
vivemos.
Aracy desafiou o nazismo, o
Estado Novo de Getúlio Vargas e
a Ditadura Militar dos anos 60.
Uma mulher que merece nossas
homenagens.
Uma brasileira de valor.
Uma verdadeira cidadã do
mundo.
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Uma Certa Aracy