Apresentação: Susana Oliveira
Grupo de Estudos do Trauma
Sumário
1 – PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO NA PPST
1.1 – HIPER-EXCITAÇÃO E PROBLEMAS COM DISCRIMINAÇÃO DE
ESTÍMULOS
1.2 – DISSOCIAÇÃO
1.2.1 – Dissociação Primária
1.2.2 – Dissociação Secundária
1.2.3 – Dissociação Terciária
2 – PSICOBIOLOGIA DA DISSOCIAÇÃO
3 – HISTÓRIA DA DISSOCIAÇÃO EM PSIQUIATRIA
4 – VISÕES CONTEMPORÂNEAS DO TRAUMA E DOS PROCESSOS
DISSOCIATIVOS
Existem três problemas críticos que afectam o processamento da informação
em indivíduos que sofrem de PPST:
•
Sobrei-nterpretação dos estímulos correntes como recordações do
trauma (estímulos menores com capacidade de activar reminiscências
intrusivas do trauma);
. Hiper-excitação generalizada e dificuldade em distinguir o que é
relevante do que não é;
•
Após
a
dissociação
no
momento
do
trauma,
muitas
pessoas
traumatizadas continuam a utilizar a dissociação como forma de lidar
com intrusões relacionadas com o trauma e com outras experiências de
vida stressantes.
“Indivíduos com PPST desenvolvem sérias distorções na
forma como processam a informação porque eles estreitam o
seu foco de atenção nas fontes de ameaça potencial.
Permanecem de “guarda” para o retorno do trauma e deste
modo, num estado psicológico de super-excitação crónica.”
Abram Kardiner
A hiper-excitação cria um ciclo vicioso:
Estado de dependência de resgate de memórias
Maior acesso a memórias traumáticas e a intrusões involuntárias do trauma
Aumento da excitação/alerta
Consequências do aparente esforço em evitar sentimentos que possam desencadear memórias do
trauma:
•
Organização da vida em torno do evitamento de compromissos emocionais
•Tentativas
de controlo
evitamento de pessoas ou situações que funcionem como “gatilho”
• ingestão de drogas e álcool para entorpecer a consciência de estados emocionais penosos
• dissociação para banir experiências desagradáveis da consciência clara
•
Adultos e crianças com PPST não só têm dificuldade em gerir emoções penosas
como em atender a estímulos neutros ou agradáveis.
Desatenção”, que os priva de sentir prazer com o aqui e agora e interfere na construção de
aptências específicas e sentimentos de poder e domínio.
•
Incapacidade em integrar e resolver o trauma em si mesmo ou de fazer alguma coisa a esse respeito
(devido à incapacidade para saber o que sentem e de imaginar um leque de opções sem que sintam
intensa excitação emocional).
•
Tendência a serem esmagados por emoções difusas e, no entanto, grande parte das vezes, ficam sem
saber de que tratam afinal estes sentimentos intensos.
•
Falha na construção de um armazém de experiências restritivas e gratificantes (são justamente
estas recompensas que ajudam os indivíduos a lidar com as feridas da vida do dia-a-dia.
•
Trata-se de uma forma de organizar a informação.
Refere-se à compartimentalização da experiência: elementos do trauma não são
integrados num todo unitário ou num sentido de self integrado.
Na perturbação dissociativa existe apenas uma personalidade, no entanto
várias ideias de self, do mundo e da relação com o mundo.
O domínio dos sintomas dissociativos inclui praticamente qualquer estado
modificado de consciência.
Constitui um fenómeno biopsicossocial que vai muito para além da divisão da
consciência. Pode dizer respeito a um processo, estrutura intrapsíquica, defesa
psicológica, deficit ou uma ampla variedade de sintomas e não apenas como
definido no DSM IV (disrupção nas normalmente integradas funções de
consciência, memória, identidade ou percepção do ambiente).
É muitas vezes confundida com estado de choque temporário.
A dissociação
ocorre
tanto
no
momento do
evento traumático
como
pós-
traumaticamente, como consequência a longo prazo da exposição ao trauma.
As partes dissociativas podem ser entendidas como subsistemas da personalidade,
insuficientemente integradas e podem ser resultado de:
•
exposição a eventos extremamente stressantes ou potencialmente traumatizantes;
•
insuficiente capacidade para integrar a experiência;
•
suporte social insuficiente para auxiliar na síntese e realização da experiência traumática.
A falha em manter uma personalidade adaptativa e integrada leva a uma divisão da personalidade em pelo
menos duas partes e é esta divisão que pode caracterizar PPST:
Parte aparentemente normal
Parte emocional
• Focalização na vida diária
• Fixação
nas
• Evitamento de memórias traumáticas
sentimentos
memórias
traumáticas
e
Quando Dominante
Tentativa de agir, pensar e sentir como se
Fixação
em
a vida pudesse continuar apesar de ter
reactivadas; não concentração na vida diária;
tido a experiência traumática.
tendência a reviver a experiência traumática
(experiências
memórias
de
alucinação,
traumáticas
solidão
e
experiências involuntárias (imagens visuais,
emoções veementes, sensações, pensamentos
“eu
vou
morrer”
e
acções
físicas
como
medidas de protecção…).
É normal flutuar entre uma e outra divisão da personalidade. O que caracteriza a
Dissociação é o facto destas duas partes não estarem suficientemente integradas.
Algumas partes parecem relativamente não-emocionais (partes aparentemente
normais), enquanto outras estão arrasadas ou paralisadas pela emoção e na
verdade nada separadas dela (partes emocionais).
Dissociação pós-traumática envolve com frequência fortes emoções e sensações
corporais mas os sentimentos tendem a ser excluídos da consciência quando a
pessoa está a funcionar como uma parte aparentemente normal.
“A essência do trauma reside no facto de os indivíduos serem incapazes de o
integrar nos seus estados de personalidade normais. Ao invés, estas memórias
traumáticas são armazenadas separadamente das outras memórias, em estados
de personalidade discretos. (…) O normal foi sendo substituído por aquilo a que
podemos chamar de «personalidade emocional». Gradual ou subitamente uma
personalidade aparentemente normal regressa.”
Charles Myers
Durante estados dissociativos de fuga “ o sujeito age como se a situação
traumática original ainda existisse e embate nos dispositivos de segurança que
falharam pela ocasião original.”
Abram Kardiner,
(a propósito do seu trabalho com veteranos de guerra)
Psicoformes
Sintomas Dissociativos Negativos
Perda
de
funções
ou
outro
fenómeno psico-biológico numa
parte da personalidade que está
acessível numa outra parte
Perda de memória
Perda de afecto
Perda da função crítica
Perda necessidades, desejos e fantasias
Somatoformes
Perda aparente da função sensorial
Perda aparente da função perceptiva
Perda aparente da função motora
Psicoformes
Memórias traumáticas
Pesadelos com componente afectiva,
cognitiva e somato-sensorial
Sintomas Dissociativos Positivos
Somatoformes
Fenómeno de intrusão. Diversos
sintomas de esquizofrenia são
comuns
Intrusão de aspectos sensoriomotores
de re-experiências traumáticas: dor,
comportamento descontrolado…
o que implica que
muitos “esquizofrénicos” podem
estar mal diagnosticados.
Dissociação somatoforme é mensurada por SDQ – 20 e está associada com:
•
•
•
•
exposição a eventos potencialmente traumatizantes
ameaça à integridade do corpo
ameaça à própria vida por outra pessoa
dor intensa
•
Refere-se à incapacidade em integrar a totalidade do que está a acontecer na consciência.
•
Elementos sensoriais e emocionais do evento podem não ser integrados na memória e na
identidade pessoal e permanecerem isolados da consciência vulgar.
•
Pode haver experiência separada em elementos somato-sensoriais isolados, sem ocorrer
integração na narrativa pessoal.
•
Pode ocorrer fragmentação acompanhada por estados de ego que são distintos dos estados
de consciência normais.
•
A dissociação primária é característica da PPST, na qual os sintomas mais dramáticos são
expressões de memórias traumáticas dissociadas – lembranças intrusivas intensamente
perturbadoras, pesadelos, flashbacks.
•
Inventário de Memória Traumática (TMI). Trata-se de uma entrevista estruturada com 60 itens, que
compara o resgate de uma memória traumática com o de uma memória de um evento emocionalmente
significante mas não traumático.
Os imprints da experiência traumática estão inicialmente dissociados e são recuperados como
fragmentos sensoriais que têm uma pequena ou nenhuma componente linguística (imagens,
olfacto, sensações cinestésicas…). À medida que o traumatizado vai tomando consciência de
mais e mais elementos da sua experiência, vai construindo uma narrativa que “explica” o que se
passou com ele, utilizando os fragmentos de memórias que estão disponíveis.
Em contraste, as experiências não traumáticas do dia-a-dia não são registadas na consciência
como elementos sensoriais separados, mas são automaticamente integradas numa narrativa
pessoal coerente.
•
Refere-se uma dissociação entre Ego Observador e Ego Experienciador.
•
Sintomas que ocorrem durante ou imediatamente após a experiência traumática.
•
Relatos de pacientes que deixaram mentalmente os seus corpos no momento do trauma e que
observaram o que se passava, distanciados.
•
Permite ao indivíduo observar a sua experiência como espectador e limitar a sua dor ou angústia.
Fica protegido da consciência da totalidade do impacto do evento.
•
Enquanto que a dissociação primária limita as cognições dos indivíduos relativamente à realidade da
sua experiência traumática e habilita-os a seguirem em frente como se nada tivesse acontecido, a
dissociação secundária coloca o indivíduo fora do alcance dos sentimentos e emoções relacionados
com o trauma, anestesia-os.
•
Vítimas de trauma frequentemente relatam alterações na experiência do tempo (acelerado, lentificado);
lugar e pessoa, o que lhes confere uma sensação de irrealidade.
•
Despersonalização, percepção dolorosa alterada, alteração da imagem corporal, visão do túnel e
experiências dissociativas imediatas (Noyes and Kletit 1977; Wilkinson 1983; Siegel 1984).
•
Estudos recentes apontam para a dissociação durante o trauma como um forte preditor para um
subsequente desenvolvimento de PPST (mas não inequivocamente, e, devido à falta de clareza acerca da
construção da dissociação peritraumática, torna-se difícil determinar se esta correlação existe devido aos
sintomas dissociativos originais, às alterações de consciência que diferem dos sintomas dissociativos
originais ou a ambos).
•
Forte relação entre severidade do trauma, sintomas dissociativos e PPST (Carlson e Rosser-Hogon,
1991).
•
Veteranos com PPST reportaram maiores níveis de sintomas dissociativos que os homens que não
desenvolveram PPST (Bremmer et al).
Estes achados eram a início surpreendentes, quando se acreditava que a
dissociação conferia protecção e sentido de distância às vítimas.
Apesar do uso de “fora do corpo” ou outras respostas peritraumáticas
dissociativas no momento do trauma poderem defender de um estado de
desesperança e terror ainda mais catastrófico, a dissociação no momento
do trauma é um dos mais importantes factores de risco para o
subsequente desenvolvimento de PPST crónico.
•
Mede a dissociação peritraumática
•
Consiste em 9 itens:
-
Momentos de perder o rumo - “blanking out”
-
Dar-se conta que está em “piloto automático”
-
Sensação de tempo a mudar durante o evento
-
Evento parece irreal
-
Flutuando acima da cena
-
Sentir-se desconectado do corpo ou experiência de distorção corporal
-
Confundir o que se passa consigo próprio e com os outros
-
Não tomar consciência de coisas que estão a acontecer durante o evento, que numa situação
normal teriam sido percebidas
-
Não sentir dor aquando dum dano físico
Conclusão: quanto maior a dissociação durante o evento traumático, maior a probabilidade de
encontrar critérios para PPST.
•
Experiência de eventos traumáticos na infância e adolescência que baixaram o limiar para a
dissociação
maior propensão para dissociar durante o evento traumático.
•
Em indivíduos com PPST ocorrem flashbacks em resposta a níveis mais elevados de excitação.
•
Pacientes com distúrbios de pânico frequentemente evidenciam reacções dissociativas no auge dos
seus ataques de ansiedade.
•
Progressão desde ataques de pânico até estados dissociados em mulheres com partos complicados e
que mais tarde desenvolveram PPST
Relação entre dissociação peritraumática e PPST pode
ser mediada por níveis crescentes de ansiedade
durante o trauma.
•
Estudos contemporâneos puderam ainda comprovar que Janet estava correcto quando defendeu que
emoções veementes formam a base do fenómeno dissociativo.
•
Marmar, Weiss, Metzler e Delucchi descobriram que os seguintes factores estão associados a níveis
maiores de dissociação peritraumática:
•Idade
jovem
•Níveis
elevados de exposição
•Maior
ameaça subjectiva percebida
•Ajustamento
•Formação
•Níveis
psicológico geral empobrecido
de idade pobre
de ambição e prudência diminuídos, como definido pelo inventário de personalidade de Hogan
•Aumento
do locus externo de controle
•Aumento
do uso de fuga/evitamento e coping focalizado na emoção
•Maior experiência profissional
•Estruturas de personalidade mais vulneráveis
•Recurso crescente ao mundo externo para sentido de segurança
•Aumento do uso de estratégias de coping mal adaptadas
Maior vulnerabilidade à dissociação peritraumática
•
É a mais complexa das perturbações dissociativas, em que ocorre divisão das partes
emocionais que estão fixadas na experiência traumática e subsequentemente dá-se a divisão
das partes aparentemente normais que estão envolvidas na vida diária.
•
Desenvolvimento de estados de ego distintos que contêm a experiência traumática, consistindo em
identidades complexas com padrões cognitivos, afectivos e comportamentais distintos.
•
Alguns estados de ego podem conter a dor, o medo, a raiva relacionados com experiências
traumáticas particulares, enquanto outros estados de ego permanecem desconhecedores do trauma e
dos seus efeitos concomitantes, continuando a desempenhar as funções de rotina da vida diária.
•
Exemplos: fragmentos de identidade múltipla (alter) no DID (distúrbio de identidade dissociativa)
•
Na medida em que a sua amnésia dissociativa lhes permite, estes pacientes relatam tipicamente
crónicos e intensos abusos sexuais, físicos e psicológicos numa idade muito precoce.
•
A dissociação continuada:
•
interfere com o processamento consciente da informação coerente
•
impede a exploração de meios de coping alternativos
Interferência com a adaptação geral
•
DES: mede a utilização de respostas dissociativas no dia-a-dia
•
DDIS (dissociative disorder interview scale) ou
•
SCID-D (structured clinical interview for DSM –III-R dissociative disorders): encapsulamento
de experiências traumáticas em estados de consciência distintos
•
MID (Multiaxial Inventory of Dissociation)
•
SDQ (Somatoform Dissociation Questionnaire)
•
Indivíduos traumatizados podem agir como se estivessem a ser novamente traumatizados e
experienciar estados mentais como se estivessem presentes no momento do trauma, em resposta a
certos estímulos aparentemente neutros, mesmo que eles não evoquem explicitamente o evento
traumático quando se comportam dessa forma.
•
Podem manter as suas memórias dissociadas num estado de ego do qual não têm consciência.
•
McDougall: memórias traumáticas são sempre parte de alguma personalidade. No entanto é comum
existir algum grau de consciência entre diferentes estados de ego.
•
Dissociação permite manter o esquema existente enquanto distintos estados de ego processam o
evento traumático.
Exemplo: no estado normal: “eu não fui abusado”, ao passo que o sistema cognitivo dissociado contém a crença de que
“eu sou um fraco e inútil” ou “sou forte e agressivo”.
A cognição actual depende do estado que é reactivado!
Se o trauma pode ser contido em diferentes estados de ego
a personalidade pode continuar
a desenvolver-se com relativamente pouca interferência da memória traumática.
Consequências: dependem do nível mental em que o trauma ocorre.
Se na idade adulta
Se em idades anteriores
PPST
sintomatologia bem mais complexa, que pode ser em parte
entendida como resultado duma fixação do desenvolvimento em
estágios anteriores de maturação psicológica.
A fenomenologia da DID mostra que a fragmentação pode ocorrer em vários níveis diferentes:
•
fragmentação da memória do trauma em si mesma
•
fragmentação da identidade do ego comprometido no acto de relembrar
Desenvolvimento de vários centros de processamento de informação capazes de pensamentos,
emoções e memórias relativamente independentes, capazes de agir e assumir o controle do
comportamento;
Estados de self em DID são construções mentais e não pessoas distintas habitando um corpo;
A personalidade do ser humano é feita por todos os estados de self juntos;
Indivíduos com DID muitas vezes avaliam-se como um sistema de selfs que estão
variavelmente presentes e que interferem, dominam e/ou entram em conflito uns com os
outros.
DSM IV-TR
•
Presença de duas ou mais identidades distintas ou estados de personalidade, cada uma com
o seu relativamente duradouro padrão de percepção, relacionando com, e pensando acerca
do ambiente e do self;
•
Pelo
menos
duas
dessas
identidades
recorrentemente
assumem
o
controle
do
comportamento da pessoa;
•
A pessoa experiencia incapacidade para evocar informação pessoal importante que é
extensiva de mais para ser explicado pelo esquecimento vulgar.
Estudos:
Forte relação entre trauma infantil e DID:
•Abuso físico e sexual severo e prolongado
•Ameaças à vida
•Lacuna total de sensação subjectiva de segurança, secundária
ao abuso pelo primeiro cuidador
• Procedimentos médicos e cirúrgicos dolorosos
• Guerra
Iatrogenia?
Genética? (DID em vários elementos em múltiplas gerações)
Elevados níveis de trauma e dissociação também em:
• BPD
•Distúrbio somático
•Depressão major
•PTSD
Diagnóstico de DID:
•
Sintomas de Processo de DID
-
Switching (mudança súbita e discreta entre estados de consciência – acesso a memórias, afectos,
sentido de self manifestado por expressões faciais, discurso e actividade motora; experienciam
como múltiplos selfs simultaneamente como mais do que uma idade ou género, por exemplo)
-
Despersonalização severa recorrente (como se um estivesse desconectado do outro, inclui
experiência fora do corpo)
-
Irrealidade (os outros são aliens ou irreais)
Incursão na consciência de pensamentos,
sentimentos, emoções ou acções percebidos
-
Sobreposição subjectiva
como “não meus”; episódios repetidos de
memórias,
emoções
-
Intrusão e interferência subjectiva
sentimentos,
a
serem
impulsos
removidos
da
e/ou
mente;
comportamento ser parado ou inibido como
se por uma força ou presenças interiores.
-
Elevada hipnossensibilidade (regressões espontâneas, transe espontâneo, sujeição extrema, transe
lógico – tolerância à contradição lógica, sinal de olhos revirados, quando em switching)
-
Ouvir vozes e/ou conversações
Geralmente têm:
• Uma qualidade personificada (nomes…)
• Não têm uma perturbação/desorganização do pensamento
• Reticentes à discussão da experiência (pensarem que “sou louco”)
• Descrevem esta experiência de forma metafórica ou personificada
•
Amnésia Crónica Complexa
-
Perda de tempo
-
Blackouts
-
Fuga (pensar que alguém viajou para outro lugar sem dar mais notícias)
-
Possessões inexplicadas
-
Súbita perda breve de memória durante uma experiência corrente
-
Habilidades musicais e artísticas
DID e Esquizofrenia: sintomas semelhantes, duas patologias bem distintas mas que se
podem confundir
•
não desenvolvimento de ilusões/delírios
•
capacidade significativamente maior para pensamento lógico e organizado
•
bons testes de realidade
•
melhor habilidade para estabelecer ligação/relação com outros
Pacientes com DID “caem” dentro do espectro da Perturbação Pós-Stress
Traumático Complexo (PPSTC).
Caracterizado
por
uma
variedade
de
dificuldades com a regulação do humor,
ansiedade,
raiva;
problemas
com
o
sentido de self; lacuna de confiança no
outro
e
múltiplas
formas
destruição, entre outros.
de
auto-
Comorbilidades:
•
Depressão
•
Abuso de substâncias
•
Sintomas obsessivos-compulsivos
•
Tentativas suicidas
•
Auto-mutilação
•
Perturbações alimentares
•
Comportamentos de risco/perigo
•
Revitimização (violação, violência doméstica…)
Erros de Diagnóstico:
•
Perturbações de humor cíclicas
•
Perturbações psicóticas
•
Perturbação melancólica depressiva
•
BPD
•
Funções integrativas podem ser “enganadas” pela libertação de neuroquímicos como
norepinefrina e dopamina devido a ameaça severa.
•
Estes neuroquímicos estão concentrados nas regiões do cérebro envolvidas na
integração psico-biológica, como hipocampo e córtex pré-frontal.
•
Elevada viragem nos níveis de dopamina/norepinefrina no pré-frontal
metabolismo na região
•
Sistema noradrenérgico tem papel activo na criação e reexperienciação de memórias
traumáticas
•
déficit de cognição e memória.
Sintomas dissociativos positivos e negativos.
Severidade da dissociação positivamente associada à reactivação de norepinefrina sob
condições de stress.
•
Reexperienciar assustador que envolve estados corporais alterados e comportamento
anormal (sintoma dissoc. positivo) associado com
metabolismo pré-frontal anormal
perturbação personalidade Borderline
DID
•
Correlação positiva entre mudança nos neuroquímicos do stress no cérebro (glutamato,
norepinefrina, epinefrina, glucocorticóides e opióides endógenos) e severidade dos
sintomas dissociativos
Hipótese: correlação positiva entre grau de sintomas dissociativos e
exposição aos stressores extremos
•
Perturbação dissociativa simples e complexa
volume do hipocampo,
parahipocampo e amígdala.
•
Quanto menor o volume do hipocampo maior a complexidade do trauma.
•
Volume do hipocampo e parahipocampo positivamente correlacionado com dissociação
psicoforme e somatoforme e com traumatização psicológica relatada.
•
DID:
fluxo sanguíneo na área orbito-frontal do córtex pré-frontal, bilateral
fluxo sanguíneo no córtex frontal bilateral e occipital
Resposta compensatória à impulsividade e intrusões dissociativas quando
o córtex orbito-frontal não é suficientemente activado para lidar com
potentes reacções emocionais relacionadas com o trauma.
•
Região orbito-frontal: responsável pela redução da intensidade do sofrimento
emocional.
•
Córtex frontal e occipital: inibição de impulsos intensos e organização da informação
visual.
•
Diferentes ideias de self envolvem diferentes padrões de actividade neural, assim como
reacções subjectivas psicofisiológicas e neuronais muito diferentes perante ameaça
percebida conscientemente.
•
Pacientes com DID diferem pouco dos que padecem de PPST não dissociativa no que
respeita à dinâmica do cortisol.
•
Partes aparentemente normais da personalidade têm
- semelhante frequência cardíaca; variação da frequência cardíaca e pressão
arterial
- reacções corporais, comportamentais e emocionais menos intensas aos scripts
das memórias traumáticas do que as partes fixadas nas memórias do trauma
- aumento do fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal, frontal, parietal e occipital.
•
Partes emocionais fixadas em memórias traumáticas e em reacções defensivas:
- fortes reacções corporais, comportamentais e afectivas
- aumento da frequência cardíaca
•
-
da variação da frequência cardíaca
-
perfusão pré-frontal e parahipocampal
-
fluxo sanguíneo no córtex insular e sensorial e na amígdala
Sintomas dissociativos somatoformes podem estar associados à crescente activação das
regiões límbicas.
•
Myers (1880)
•
Charcot
•
Gilles de la Tourette
•
Janet (1889): A “fobia da memória” impede a integração (síntese) e separa as memórias
traumáticas da consciência vulgar. Enquanto estes pedaços de memória não forem traduzidos
para a narrativa pessoal, continuarão a invadir como terríveis percepções, preocupações
obsessivas e reexperiências somáticas.
Elementos somatosensoriais podem voltar à consciência pela recordação do trauma através de:
• sensações físicas (ataques de pânico)
• imagens visuais (pesadelos)
• ruminações obsessivas
• desajustes comportamentais
•
William James (1894)
•
Breuer e Freud: a revivência dos eventos traumáticos combinada com os afectos associados
conduzem à resolução de certos sintomas (famoso caso de Ana O e os sintomas de histeria múltipla).
•
“Catarse”: técnica de trazer ao estado de consciência memórias traumáticas patogénicas,
verbalizando as emoções penosas relacionadas com esses eventos e descarregando as emoções.
•
Freud: mecanismos de defesa do ego extraem activamente memórias traumáticas do
consciente para proteger a pessoa de memórias dolorosas
Divergência entre o ponto de vista de Janet
Indivíduos dissociam porque as suas capacidades mentais estão enfraquecidas pelas
emoções veementes e não são capazes de integrar as memórias do trauma na
consciência pessoal. Não é pois uma repressão activa. Abreacção não é curativa. O
objectivo deverá ser controlar a dissociação e integrar a experiência traumática.
•
Jung (1921-22): a descarga da emoção excessiva não funciona. Abreacção é inútil e mesmo
prejudicial. Enfatiza o apoio e compreensão do terapeuta que aumenta o nível de clareza e consciência
do paciente, levando memórias traumáticas autónomas dissociadas a ficarem novamente sob controle.
DSM IV: novo diagnóstico de Distúrbio Agudo de Stress (DAS) focaliza na
dissociação no instante imediato do trauma.
Durante ou após o evento traumático, o individuo tem pelo menos 3 dos seguintes
sintomas dissociativos:
1 – sentimento de separação, entorpecimento, falta de responsabilidade emocional
2 – consciência da envolvência diminuída
3 – irrealidade
4 – despersonalização
5 – incapacidade para lembrar um aspecto significativo do trauma
Existem poucas evidências de um processo activo de afastamento da experiência avassaladora. A
desacoplagem parece ter outro mecanismo.
•
Tanto DAS como PPST parecem originar a capacidade de acessos a estados dissociativos
•
Indivíduos que a utilizaram anteriormente parecem estar particularmente vulneráveis a
utilizá-la novamente durante Stress Agudo (não totalmente conscientes e experiência não
assumida como sua)
Falha na integração do trauma no estado agudo torna as pessoas mais vulneráveis a PPST
A longo prazo: combinação de dissociação com outros mecanismos de coping
Largo espectro de distúrbios mentais
O desenvolvimento de alguns distúrbios de Axis I e II (cap. 7 e 9) depende de:
nível de desenvolvimento no qual o trauma ocorre
• severidade e cronicidade do trauma
• temperamento do indivíduo e ambiente pós-traumático
•
Para alguns os fragmentos dissociados podem não interferir marcadamente, enquanto que outros
organizam a totalidade da sua personalidade em torno do lidar com o pós-trauma (provavelmente o
caso de distúrbio de personalidade borderline).
Defesas psicológicas podem ser usadas para lidar com experiências traumáticas e para
manter as divisões dissociadas entre diferentes partes da personalidade, mas a dissociação
por si só não constitui uma defesa psicológica.
Referência Bibliográfica:
Kolk, B. Van Der, Hart, O. Van Der, Marmar, C. (2007).
Dissociation and Information Processing in Posttraumatic Stress.
In B. A. Van Der Kolk, A. C. McFarlane, L. Weisaeth, Traumatic
Stress: The Effects of Overwhelming Experience on Mind, Body,
and Society. (pp.303-327), capítulo 13.New York
Apresentação:
Susana Oliveira - [email protected]
Grupo de Estudos do Trauma
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Dissociação