UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PSICANÁLISE, SAÚDE E SOCIEDADE JORGE LUÍS AIRES PEREIRA PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA RIO DE JANEIRO 2012 JORGE LUÍS AIRES PEREIRA PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação – Strictu sensu – Mestrado Profissional em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Área de concentração: Psicanálise e sociedade. ORIENTADORA: PROFª DRª MARIA HELENA MARTINHO RIO DE JANEIRO 2012 DIRETORIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU E DE PESQUISA Rua Ibituruna, 108 – Maracanã 20271-020 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 2574-8834 /2574-8871 FICHA CATALOGRÁFICA Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorial Tijuca I / UVA FOLHA DE APROVAÇÃO JORGE LUÍS AIRES PEREIRA PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação – Strictu sensu - em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Área de concentração: Psicanálise e sociedade. Aprovada em 27 de Abril de 2012. Banca Examinadora __________________________________ Profª Drª Maria Helena Martinho Universidade Veiga de Almeida ___________________________________ Profª Drª Glória Sadala Universidade Veiga de Almeida ___________________________________ Profª Drª Sheila Abramovich Universidade do Estado do Rio de Janeiro Dedico esta dissertação a esta pequena, mas grande família: Maria esposa, mulher e companheira de todos os momentos; Fernanda filha, princesa, amiga e companheira; e ao nosso fiel cão, amigo de todas as horas, Snoopy. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Antonio Quinet. Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Bittencourt. À Profª. Drª. Maria Anita Carneiro Ribeiro. À Profª. Drª. Maria Cristina Poli. À Profª. Drª. Sonia Borges. À Profª. Drª. Vera Pollo. Aos meus amigos. E, em especial, agradeço a minha orientadora, Profª. Drª. Maria Helena Martinho, pela forma dedicada com que me orientou, pelas sugestões, pela leitura do trabalho e por toda compreensão nas horas difíceis. “O desafio mesmo é reconhecer o que não conhecemos. Odiaríamos ir a algum lugar e não ver o que está na nossa frente”. (Mary Voytek - pesquisadora da NASA). RESUMO Essa pesquisa articula diferentes tipos de saber: educação, comunicação, tecnologia e psicanálise; e dialoga com tais saberes para verificar pontos convergentes e divergentes entre eles. Verifica as evoluções da comunicação na história da humanidade. Averigua a importância da internet na comunicação, na educação em geral e na educação à distância. Ressalta os ganhos que a humanidade teve com os avanços tecnológicos e as perdas advindas dessa tecnologia. A pesquisa alerta para o perigo contido na lógica do “comunicar tudo a todos” impressa no discurso capitalista, que se contrapõe radicalmente ao discurso psicanalista. Recorre a um conceito fundamental da psicanálise: a transferência, para interrogar se na educação à distância a transferência se estabelece através da internet. E conclui que a transferência poderá se estabelecer dentro ou fora do processo analítico. Palavras-chave: Comunicação; Educação à distância; Psicanálise; Tecnologia. ABSTRACT This research articulates different types of the knowledge: education, communication, technology and psychoanalysis and deals with such knowledges to verify convergent and divergent points among them. Verify the evolution of communication in the history of humanity. It ascertains the importance of internet communication in education in general and on distance education program. It emphasizes the gains that humanity obtained with technological advances and losses coming from these technologies. The research alerts us to the dangers contained in the logic of “communicate all to everyone” ingrained in the capitalist speech that contradicts itself from the psychoanalyst speech. It recurs to a fundamental concept of psychoanalysis: the transfer, to query if in distance education the transfer establishes itself through internet. It understands that the transfer could be established within or out of the analytical process. Key Words: Communication; Distance Education; Psychoanalysis; Technology. LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1 - Paralelo entre o professor tradicional e o professor educador, p.48-49. QUADRO 2 - Paralelo entre o aluno tradicional e o aluno aprendiz, p.50. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AmBev - Companhia de Bebidas das Américas ARPANET - Advanced Research Projects Agency Network ASIT - Advanced School of Internet CENPES - Centro de Pesquisas da Petrobras CERN - European Organization for Nuclear Research DNA - deoxyribonucleic acid DARPA - Department Advanced Research Projects Agency EaD - Educação à Distância FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz HD - High-definition HTTP - Hypertext Transfer Protocol HTTPS - HyperText Transfer Protocol Secure IHC - Interação Homem Computador IP - Internet Protocol LNCC/MCT - Laboratório Nacional de Computação Científica MEB - Movimento de Educação de Base MILNET - Military Network MOODLE - Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment MSN - Windows Live Messenger PDTIS - Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para a Saúde PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A. POP - Post Office Protocol POP - Procedimento Operacional Padrão SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SESC - Serviço Social do Comércio SMNP - Simple Network Management Protocol TCP - Transmission Control Protocol TI - Tecnologia da Informação UC - Universidade Corporativa UDP - User Datagram Protocol UNIALGAR - Algar Universidade de Negócios WWW – World Wild Web SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 13 2. A REDE DE COMUNICAÇÃO 16 3. EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EaD) 23 3.1. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 23 3.2. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO BRASIL 25 3.3. MODELOS UTILIZADOS NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 28 3.4. A DISTÂNCIA TRANSACIONAL 31 3.5. A EaD NAS UNIVERSIDADES: UMA PESQUISA DE PETERS 35 3.6. A EaD COMO FORMA INDUSTRIALIZADA DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM 3.7. A PROPAGAÇÃO DA EaD 3.7.1. A UNIVERSIDADE CORPORATIVA 38 40 44 3.8. O ENSINO PÓS-MODERNO 47 4. INTERNET: TECNOLOGIAS 53 4.1. O ATUAL E O VIRTUAL 53 4.2. CIBERCULTURA 59 4.3. TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA EaD 64 5. PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO 71 5.1. A TRANSFERÊNCIA 74 5.2. A TRANSFERÊNCIA E O DISCURSO TÉCNICO-CIENTÍFICO 83 6. CONCLUSÃO 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93 13 1. INTRODUÇÃO O interesse em desenvolver uma pesquisa que articula os saberes, educação à distância, tecnologia da internet e psicanálise, decorre do fato de minha formação, tanto no curso de graduação como no de pós-graduação lato sensu, ter se realizado na área de ciências exatas, mais especificamente, a primeira em Física e a segunda em Análise de Sistemas, Redes de Computadores e Advanced School of Internet (ASIT). Contudo, ao escolher um curso de pós-graduação stricto sensu, acabei me decidindo por outra área do saber: as ciências humanas, mais especificamente, a psicanálise. Acredito que a conexão entre essas áreas poderá me levar a desvelar alguns mistérios que se imprimem na relação entre o homem e a máquina. O meu interesse mais específico é o de pesquisar sobre a relação professor-aluno – através da internet – na Educação à Distância (EaD)1. A pesquisa vem interrogar: haveria uma diferença entre a relação professor-aluno no ensino tradicional e na educação à distância? A pesquisa se baseia em uma bibliografia específica sobre o tema, assim como na minha experiência pessoal em Tecnologia da Informação (TI), na área de aprendizado no ambiente virtual e na Interação Homem Computador (IHC). Atualmente, desenvolvo projetos em banco de dados não convencionais para imagens tridimensionais, estudo em distribuição espacial da febre amarela, educação à distância, para ensino de histologia para professores, na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Ao longo da pesquisa recorrerei às obras de diferentes autores das áreas do pensamento e do conhecimento, que se dedicam ao tema, especialmente as de Otto Peters e de Pierre Lévy. Otto Peters, é um grande estudioso da educação à distância e vem acompanhando o desenvolvimento desta na Alemanha e no mundo. Veremos que Otto Peters destaca quatro inovações que justificam o interesse crescente pela EaD: o aperfeiçoamento da tecnologia dos computadores pessoais, a tecnologia multimídia, a tecnologia de compactação digital de vídeo e a tecnologia de internet. O autor observa que a educação à distância apresenta vantagens principalmente para aqueles alunos que possuem uma jornada de trabalho e dificuldades de conciliar o horário profissional com as aulas presenciais na universidade, destacando dentre outras vantagens da educação virtual. 1 Na presente dissertação optamos pelo termo Educação à distância (EaD), mas o termo Ensino à distância também é utilizado por alguns autores. 14 Lévy é um pensador francês, estudioso da Filosofia da Informação, conhecido pelo pioneirismo com que aborda o uso de novas tecnologias na vida cotidiana. Atualmente Lévy tem sido considerado um “antropólogo do ciberespaço”, na medida em que vem estudando e analisando o impacto do digital não só no campo cognitivo, filosófico, mas também no ambiente da economia, da cultura e da educação. Lévy teoriza sobre a revolução na cibercultura, realidade virtual, inteligência coletiva e conexão planetária. Ele considera a internet da atualidade uma geradora de transformações em todas as áreas de nossa sociedade. No que se refere à psicanálise tomarei alguns textos das obras de Sigmund Freud e de Jacques Lacan, assim como os de alguns psicanalistas contemporâneos, na intenção de verificar questões referentes à educação e a transferência. Partindo do pressuposto freudiano de que a transferência ocorre nas diferentes relações estabelecidas pelas pessoas no decorrer da vida, venho interrogar: o que a psicanálise tem a dizer sobre a relação professor-aluno na educação à distância? Poderíamos afirmar que há transferência, através da internet, na EaD? Os computadores e as redes digitais estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. A internet, que interliga milhões de computadores e usuários, não para de crescer. Várias palavras, que faziam parte da ficção científica, foram incorporadas ao nosso vocabulário, tais como: ciberespaço, virtual, digitalização, entre outras. Com os constantes desenvolvimentos de equipamentos e programas destinados à simulação é possível fornecer aos usuários sensações de outras realidades e a comunicação interativa entre eles independentes do espaço-tempo. É inegável a presença e a influência da internet no mundo contemporâneo. Através da internet há um fluxo de conhecimentos, desde os mais simples, até as tecnologias mais sofisticadas. Certamente, é possível afirmar que as tecnologias de informação e de comunicação favorecem a aprendizagem no ambiente virtual utilizado na Educação Aberta e à Distância. Contudo, surgem as seguinte indagações: esse ambiente possibilita uma maior interação professor-aluno? Será que propicia uma mudança no perfil do aluno e do professor? Na tentativa de responder tais questões, no primeiro capítulo dessa pesquisa, intitulado “A rede de comunicação”, é realizado um breve percurso histórico sobre a comunicação a fim de verificar os avanços obtidos nessa área de saber, desde a pré-história até os dias de hoje. 15 No segundo capítulo, intitulado “A Educação à Distância – EaD, a história da educação à distância no mundo e no Brasil é retomada. A obra de Otto Peters (2003), intitulada Didática do ensino à distância: experiências e estágios da discussão numa visão internacional, é utilizada como referência para melhor verificar possíveis evoluções nessa área. No terceiro capítulo, intitulado “A Internet: tecnologias”, são abordadas as questões referentes ao atual e ao virtual, a cibercultura e as tecnologias utilizadas na Educação à Distância, na tentativa de melhor esclarecer termos e aplicabilidades das tecnologias utilizadas na EaD. No quarto capítulo, intitulado “Psicanálise e educação”, são utilizados textos de Sigmund Freud que abordam questões referentes à educação e a transferência para interrogar: o que a psicanálise tem a dizer sobre a relação professor-aluno na educação à distância? 16 2. A REDE DE COMUNICAÇÃO Nesse capítulo nos propomos a abordar o que se refere a rede da comunicação na Idade Contemporânea. Antes, porém, decidimos fazer um breve retorno à Pré-história para verificar os avanços que se imprimiram na comunicação ao longo da história da humanidade. Vale lembrar que a periodização clássica divide os períodos históricos da seguinte forma: Pré-história: das origens do homem até 4000 a.C.; Antiguidade: de 4000 a.C. a 476; Idade Média: de 476 (século V) a 1453 (século XV); Idade Moderna: de 1453 (século XV) a 1789 (século XVIII); Idade Contemporânea: do século XVIII aos dias atuais. Nos primórdios da civilização o homem conseguiu vencer as barreiras impostas pela natureza, inventando objetos e soluções a partir das necessidades. A Préhistória pode ser dividida em três fases: Paleolítica, Mesolítica e Neolítica. Na primeira fase, a Paleolítica ou Idade da Pedra Lascada, o homem habitava as cavernas, muitas vezes tendo que disputar este tipo de habitação com animais selvagens. Quando acabavam os alimentos da região em que habitavam, as famílias tinham que migrar para outra região. Os homens tinham uma vida nômade. Viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Usavam instrumentos e ferramentas feitos a partir de pedaços de ossos e pedras. Os bens de produção eram de uso e de propriedade coletivas. Nesta fase, os homens se comunicavam com uma linguagem pouco desenvolvida, baseada em pouca quantidade de sons, sem a elaboração de palavras. Uma das formas de comunicação era a pintura rupestre. Através deste tipo de arte o homem trocava ideias e demonstrava sentimentos e preocupações cotidianas. Na segunda fase, a Mesolítica, o homem conseguiu dar grandes passos rumo ao desenvolvimento e à sobrevivência de forma mais segura. O domínio do fogo foi o maior exemplo disso. Com o fogo, o ser humano pode espantar os animais, cozinhar a carne e outros alimentos, iluminar sua habitação, além de conseguir calor nos momentos de frio intenso. Outros dois grandes avanços foram o desenvolvimento da agricultura e a domesticação dos animais. Cultivando a terra e criando animais, o homem conseguiu diminuir sua dependência com relação à natureza. Com esses avanços foi possível a sedentarização, pois a habitação fixa tornou-se uma necessidade. Nesta fase, ocorreu a divisão do trabalho nas 17 comunidades. Enquanto o homem ficou responsável pela proteção e sustento das famílias, a mulher ficou encarregada de criar os filhos e cuidar da habitação. Na terceira fase, a Neolítica ou Idade da Pedra Polida, o homem atingiu um importante grau de desenvolvimento e estabilidade. Com a sedentarização, a criação de animais e a agricultura em pleno desenvolvimento, as comunidades puderam trilhar novos caminhos. Um avanço importante foi o desenvolvimento da metalurgia. Com a criação de objetos de metais, tais como: lanças, ferramentas e machados, o homem pode caçar melhor e produzir com mais qualidade e rapidez. Os primeiros agrupamentos familiares se transformaram em vilas, aldeias e, após diversas evoluções, em cidades nas quais os seus habitantes recebiam informações de outros lugares através dos mascates. Por essa razão, os melhores lugares para se obter informações eram nos mercados, nas feiras, nas praças e nas ruas, na medida em que as informações eram passadas oralmente. Com o passar do tempo as informações passaram da forma oral para a forma escrita. Contudo, as informações escritas em mensagens eram somente para a elite e para os senhores, uma vez que o ensino e o envio de mensagens tinham custos muito altos. Por este motivo, naquela época, pouquíssimas pessoas sabiam ler e escrever, somente as classes mais ricas da comunidade tinham professores e mensageiros, que transportavam as mensagens a pé, a cavalo e através de outros meios de locomoção. Com os avanços tecnológicos de cada época novos meios de envio das correspondências passaram a serem utilizados. No século XV, por exemplo, através das caravelas; no século XIX, através das locomotivas e o revolucionário telégrafo utilizando o código Morse, que “encolheu” o mundo, por ter a capacidade de levar mensagens através de continentes e mares; no XX, através dos aviões. Na segunda metade do século XX, as tecnologias digitais, propiciaram o envio de mensagens eletrônicas, os e-mails. No século XXI, as tecnologias da informação e da comunicação, proporcionaram as mensagens multimídias. É curioso verificar que o “correio foi copiado da China pelo imenso Império Mongol do século XIII (...). A partir do século XV, alguns estados europeus implantaram sistemas de correios a serviço do governo central” (LÉVY, 1999, p.124). O império Chinês era dividido em várias províncias administrados pelos senhores da guerra conhecidos como Shoguns. Para manter essas alianças eram necessários diversos investimentos inclusive em mensageiros, que levavam as mensagens do 18 centro para as periferias e destas para o centro. Para manter essas mensagens em movimento eram necessários, homens de confiança, cavalos, hospedarias, barcos e assim por diante. Muito dinheiro era utilizado para manterem essas infraestruturas, devido a esses investimentos os mensageiros eram somente para a elite. Contudo, as pessoas que eram conhecidas dos mensageiros passaram também a utilizá-los através de subornos, ou seja, davam algo em troca para que esses mensageiros também levassem as suas mensagens clandestinamente para os seus familiares, que estavam ao alcance de seus trajetos. Sabedores desses procedimentos os senhores passaram a aceitá-los e a cobrar uma taxa para que seus mensageiros levassem as mensagens de outras pessoas. Foi assim que nasceu, nesse momento, a ideia dos correios. Vale ressaltar que alguns historiadores divergem quanto ao país que merece o título daquele que fez o primeiro envio de mensagens através de territórios. Para alguns, o envio mais antigo é dos egípcios, enquanto para outros, é os dos chineses. Como os últimos são mais bem documentados pelas companhias ocidentais, optei por considerar a China. Segundo Lévy (1999), a verdadeira inovação social, a que afetou as relações entre as pessoas, “só iria chegar ao século XVII, com a distribuição do correio ponto a ponto, de indivíduo para indivíduo distante, e não mais apenas do centro para a periferia e da periferia para o centro” (idem, ibidem, p.124). No Brasil, conforme o Ministério das Comunicações, o Serviço Postal foi instituído oficialmente em 1663, com o objetivo de possibilitar a comunicação entre Portugal e o então Brasil Colônia. Verifica-se assim, que o envio de mensagens com infraestrutura técnica existe há séculos, não é uma invenção atual. Nova é a forma como enviamos as mensagens na Idade Contemporânea. Além de utilizarmos pessoas, animais, carros, estradas, também usamos os recursos da eletrônica, dos softwares, dos cabos, das fibra óticas e das ligações por satélites. Estes ainda não estão ao alcance da maioria das pessoas, dado os seus altos custos de investimentos. A informação virtual está à disposição daquele que tem a possibilidade de adquirir um computador, conectá-lo a rede de comunicação (internet) e arcar com as despesas das assinaturas para obter acesso a rede. Grande parte do tráfego na rede é de mensagens entre as pessoas, geradas pelos e-mails, facebooks (rede social), tweeters (rede social baseada em mensagens curtas como nos telégrafos). O Google, por exemplo, é um centro de consulta de informações coletadas de diversos pontos da rede e WWW 19 (World Wide Web) um serviço da internet – que é um hipertexto interativo baseado em navegação. Com estas trocas de mensagens e informações o significado social da internet foi completamente modificado. Vale lembrar que a rede de comunicação eletrônica foi criada durante a chamada “guerra fria”, que, segundo historiadores, teve início após a explosão nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Na Segunda Guerra Mundial, durante a conferência de Potsdam, ficou demonstrado que a aliança dos anos de guerra entre os Estados Unidos, Inglaterra e a Rússia, não sobreviveria em tempos de paz. A fase da diplomacia parecia definitivamente encerrada. Nesta conferência Stalin (1879-1953) não se intimidou com o anúncio da bomba atômica americana, porque o serviço secreto soviético já sabia sobre o Projeto Manhattan e a União Soviética também tinha o seu projeto nuclear. Para demonstrar o poderio bélico americano, poupar a vida dos soldados americanos e com a justificativa de acabar com a guerra no pacífico rapidamente, Harry Truman (1884-1973) autoriza, cinco dias após o encerramento da conferência de Potsdam, em seis de agosto de 1945, um ataque nuclear à cidade portuária japonesa de Hiroshima, que foi arrasada por uma bomba de urânio. Três dias depois, em nove de agosto, foi realizado um segundo ataque à cidade de Nagasaki, que foi destruída por uma bomba de plutônio. Com o ataque inesperado, o governo japonês não teve alternativa a não ser a rendição incondicional às forças norte-americanas. Estes ataques foram, na realidade, um recado a Stalin: os norte-americanos não hesitariam em usar a arma toda vez que seus interesses políticos fundamentais estivessem em jogo. Foi assim que na década de 1960, durante a “guerra fria”, o governo dos Estados Unidos, temendo um ataque russo às bases militares americanas e que as comunicações entre elas fossem destruidas, iniciou um projeto para proteger essas comunicações. Para atender o projeto de proteção às comunicações, o Department Advanced Research Projects Agency (DARPA) iniciou a rede Advanced Research Projects Agency Network (ARPANET). A partir dessas pesquisas militares e do desenvolvimento de novas tecnologias, outras bases militares americanas foram acrescentadas a ARPANET que foi crescendo e sendo aprimorada. Com a diminuição da tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos, o governo americano permitiu que pesquisadores que desenvolvessem estudos na área de defesa pudessem acessar a ARPANET de suas respectivas universidades. 20 A partir desse momento, novos usuários da rede puderam começar a desenvolver suas aplicações e serviços. Em março de 1972, Ray Tomlinson criou o correio eletrônico (e-mail), com as funções send/read. Ainda em 1972, o cientista Tim Berners-Lee, do European Organization for Nuclear Research (CERN), desenvolveu a World Wide Web (WWW) e a empresa norte-americana Netscape criou o protocolo HyperText Transfer Protocol Secure (HTTPS), que possibilita o envio de dados criptografados para transações comercias pela internet. Em 1983, para atender ao crescente número de solicitações de acesso, o governo dividiu o sistema em dois: a Military Network (MILNET), para os militares, e a ARPANET, para as universidades e para os centros de pesquisas civis. Dessa forma, professores, pesquisadores e alunos passaram também a ter acesso à rede. A rede global composta pela MILNET e ARPANET, passou a se chamar inicialmente inter-Net e, posteriormente, internet. Em 1990, a designação ARPANET foi formalmente extinta, em detrimento da designação internet, já largamente utilizada. A partir de 1988, a internet iniciou a sua expansão mundial. No Brasil teve inicio em 1988, por iniciativa da comunidade acadêmica de São Paulo, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCT). No Rio, se conectaram a institutos de pesquisa dos Estados Unidos por meio de uma rede chamada Bitnet, que permitia o uso do correio eletrônico por pesquisadores. Posteriormente o Brasil migrou para a internet. A internet tem como unidade básica de funcionamento a troca, o compartilhamento e o fluxo contínuo de informações. O que se pode notar é que o interesse mundial aliado ao interesse comercial, que evidentemente observava o potencial financeiro e rentável daquela “novidade”, proporcionou o boom e a popularização da internet na década de 1990. Através do navegador Web, é possível acessar todas as informações disponíveis na grande rede. A internet é uma interconexão de redes em escala mundial que interliga milhões de computadores através de acordos. Esses acordos são chamados tecnicamente de protocolos de comunicação, sendo o principal Transmission Control Protocol (TCP) / Internet Protocol (IP) e outros como User Datagram Protocol (UDP), Hypertext Transfer Protocol (HTTP), Post Office Protocol (POP), Simple Network 21 Management Protocol (SMNP) entre outros que permitem o acesso a informações e a transferência de dados entre os computadores, independente do hardware utilizado por diversos fabricantes. Vale lembrar que a internet é a parte física: os fios, as fibra óticas, os computadores, os disco rígidos, os roteadores e assim por diante. Enquanto a Web é a parte lógica que utiliza programas para acessarem as informações que estão nos servidores disponíveis nas extremidades da rede. A internet é totalmente descentralizada e não existe um centro de controle único. A sua inteligência/conteúdo está nas extremidades e não no seu núcleo. Nenhuma organização a controla. A internet funciona com uma variedade de recursos, serviços e infraestruturas que permitem suportar correio eletrônico, comunicação ponto a ponto, compartilhamento de arquivos, processamento de dados a distância, voz sobre IP (Internet Protocol) entre outros. Os serviços fornecidos pela internet mais conhecidos são os e-mails, as postagens e a Web (World Wide Web), que são os documentos interligados por meio de links, que permitem o que chamamos de navegação, que consiste em ir de uma informação para outra através dos links que são ligações entre as informações. A navegação, ou seja, ir de uma página/informação para outra, através dos links, pode ser de dois tipos: caça e pilhagem. A caça é quando se procura uma informação já definida. A pilhagem é quando se navega a deriva, pelos links compatíveis, até encontrar uma informação de interesse. Foi a partir dos termos de navegação, caça e pilhagem, que surgiu também o termo pirata da rede. Tais termos – caça e pilhagem – foram utilizados por Pierre Lévy (1999), no seu livro Cibercultura. As inovações da internet passaram a revolucionar o conceito de relacionamentos, de laços sociais, de comunidades e assim por diante. Na internet, o conceito de relacionamento se traduz em rede e em ciberespaço2. O ciberespaço é definido por Lévy (ibidem) como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos 2 Termo criado por William Gibson, em 1984, em seu livro de ficção científica, intitulado Neuromancer. Esse termo designa a interconexão das redes digitais, nas quais são travadas batalhas entre multinacionais. Alguns heróis são capazes de entrar nesses espaços de dados para viver todos os tipos de aventuras. 22 computadores” (LÉVY, 1999, p.92). Trata-se de um novo meio de comunicação estruturado. Tal termo foi rapidamente incorporado pelos usuários e criadores de redes digitais. “Existe hoje no mundo uma profusão de correntes literárias, musicais, artísticas e talvez até políticas que se dizem parte da ‘cibercultura’” (idem, ibidem, loc.cit.). Um fator relevante na internet é a sua integração global. Ou seja, além de permitir a interação local, permite também a integração com outras sociedades de diferentes culturas. Tal integração possibilitou a inserção do homem em diversas comunidades distantes de forma virtual. A comunicação globalizada trouxe inúmeras vantagens para a humanidade. Contudo, como todo progresso, tem seu preço. Destacamos aqui um dos problemas causados pela internet: a diminuição dos professores nas salas de aulas do mundo globalizado, através da educação à distância, proposta por diversas universidades. Na contemporaneidade, verifica-se que muitas universidades deixam de contratar professores para contratar organizações que desenvolvem um “ensino industrializado” e vendem seus cursos para centenas de alunos através da internet. Qual seria a razão disso? A relação custo-benefício? Antes de tentar responder a essas questões precisamos percorrer um caminho: o da história da educação à distância. 23 3. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – EaD Nesse capítulo nos propomos a trabalhar a obra de Otto Peters – fundador e primeiro reitor da Fernumiversität, Universidade a Distância, na cidade de Hagen, Alemanha – intitulada, Didática do ensino a distância: experiências e estágio da discussão numa visão internacional, na qual o autor aborda a modalidade de ensino não-presencial. Vale ressaltar que Peters vem acompanhando o desenvolvimento do ensino a distância na Alemanha e no mundo todo desde 1963. Antes, porém vejamos, brevemente, um pouco da história da Educação à Distância. 3.1. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA O primeiro marco da Educação à Distância, segundo Lobo Neto (1995), foi o anúncio publicado na Gazeta de Boston, no dia 20 de março de 1728, pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips: “Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston” (idem, ibidem). Mais de um século após a publicação desse anúncio, no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, novas iniciativas de educação à distância surgiram devido à repressão na educação e ao recrutamento de jovens durante a guerra. O desenvolvimento tecnológico no campo da comunicação e da informação, obtido durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, influiu decisivamente no destino da educação à distância. Em 1938, a França iniciou um serviço de ensino por via postal para os estudantes deslocados pelo êxodo. O rádio também foi utilizado no ensino formal, nos programas de educação à distância, em países da Américas Latina, como Brasil, Colômbia, México, Venezuela, entre outros. O rádio obteve muito sucesso em experiências nacionais e internacionais, devido ao custo de implantação. Na década de 1970, houve outra evolução na educação à distância, aos kits de materiais escritos, passaram a integrar o cassete de áudio e o videocassete. Posteriormente, a televisão demonstrou a sua importância na educação a distância, com os telecursos. Vale lembrar que no Brasil, o Telecurso 2º grau, da Rede Globo de Televisão, fez um enorme sucesso. A educação a distância também foi lançada 24 no computador com os tutoriais How to e, mais recentemente, com a tecnologia de multimídia. Segundo Moraes (2010): “Há muitas décadas, fala-se da correspondence education no Reino Unido, pátria da primeira Open University, que popularizou o uso do distance teaching. Nos Estados Unidos, são usuais, desde o século XIX, os experimentos de independent study ou home study. Na França, o télé-enseignement e a formation a distance não são novidade. Na Alemanha, Fernstudium e Fernunterricht já ganharam respeitabilidade” (idem, ibidem, p.28). Atualmente a educação à distância está se expandindo rapidamente para inúmeros países. Em alguns deles já existem instituições que só oferecem cursos nessa modalidade de ensino, como a Open University, na Inglaterra, e a Universidade Nacional à Distância, na Espanha. Um caso interessante é o da Austrália, um dos países que mais investe em EaD, mas que não possui nenhuma universidade especializada nesta modalidade. Nas universidades de Queensland, New England, Macquary, Murdoch e Deakin, a proporção de estudantes a distância é maior ou igual à de estudantes presenciais. A internacionalização é uma tendência natural, que apresenta um obstáculo, conforme relata Moraes (ibidem): “A internacionalização parece uma tendência natural da EaD, desde seu nascimento e pela sua própria definição. Afinal, como dizem alguns de seus entusiastas, ela é uma oportunidade de eliminar distancias na educação e, por extensão, desfazer fronteiras. No entanto, alguns obstáculos parecem óbvios: os idiomas, as leis nacionais (quanto a certificações, por exemplo) e os hábitos institucionalizados” (idem, ibidem, p.53). Atualmente, o ensino não presencial mobiliza os meios pedagógicos de quase todo o mundo, tanto em nações industrializadas quanto em países em desenvolvimento. Novos e mais complexos cursos são desenvolvidos, tanto no âmbito dos sistemas de ensino formal quanto nas áreas de treinamento profissional, principalmente nas plataformas de petróleo que estão sempre implementando novas tecnologias. A EaD foi utilizada, inicialmente, como recurso para superação de deficiências educacionais, na qualificação profissional e no aperfeiçoamento ou atualização de 25 conhecimentos. Hoje, ela é cada vez mais utilizada nos programas que complementam as formas tradicionais e é vista por muitos como uma modalidade de ensino alternativo que pode complementar parte do sistema regular de ensino presencial. 3.2. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO BRASIL Em 1904, no Brasil, escolas internacionais, que eram instituições privadas, ofereciam cursos pagos, por correspondência. Em 1934, Edgard Roquette-Pinto instalou a Rádio Escola Municipal no Rio de Janeiro, um projeto para a então Secretaria Municipal de Educação do Distrito Federal, dirigida por Anísio Teixeira, integrando o rádio com o cinema educativo, a biblioteca e o museu escolar, numa pioneira proposta de educação à distância. Estudantes tinham acesso prévio a folhetos e esquemas de aulas. Eram utilizadas também correspondências para contato com estudantes. Em 1939, surgiu em São Paulo o Instituto Rádio Técnico Monitor, atualmente denominado Instituto Monitor. Em 1941, o Instituto Universal Brasileiro. Dois anos mais tarde, surgiu a primeira Universidade do Ar, que durou até 1944. Em 1947, surgiu a Nova Universidade do Ar, patrocinada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Social do Comércio (SESC) e emissoras associadas. Durante a década de 1960, com o Movimento de Educação de Base (MEB), a Igreja Católica e o Governo Federal, utilizaram um sistema radio-educativo: educação, conscientização, politização, educação sindicalista, etc. Em 1970 surgiu o Projeto Minerva, um convênio entre Fundação Padre Landell de Moura e Fundação Padre Anchieta, para produção de textos e programas. Dois anos mais tarde, o Governo Federal enviou à Inglaterra um grupo de educadores, tendo à frente o conselheiro Newton Sucupira. Seu relatório final marcou uma posição reacionária às mudanças no sistema educacional brasileiro, colocando um grande obstáculo à implantação da Universidade Aberta e à Distância no Brasil. Outras experiências de educação à distância foram iniciadas e levadas a termo com relativo sucesso. Na década de 1970, a Fundação Roberto Marinho implementou um programa de educação supletiva à distância para o ensino fundamental e o ensino médio. 26 Entre as décadas de 1970 e 1980, fundações privadas e organizações nãogovernamentais iniciaram a oferta de cursos supletivos a distância, no modelo de telecurso, com aulas via satélite complementadas por kits de materiais impressos, demarcando a chegada da segunda geração da EaD no país. Foi somente na década de 1990 que a maior parte das Instituições de Ensino Superior brasileiras mobilizou-se para a EaD, com o uso de novas tecnologias da comunicação e da informação. Em 1992, foi criada a Universidade Aberta de Brasília (Lei n°403/92), que poderia atingir três campos dis tintos: a ampliação do conhecimento cultural, com a organização de cursos específicos de acesso a todos; a educação continuada; a reciclagem profissional às diversas categorias de trabalhadores e àqueles que já haviam passado pela universidade; o ensino superior, englobando tanto a graduação como a pós-graduação. As experiências brasileiras, governamentais e privadas, foram muitas e representaram, nas últimas décadas, a mobilização de grandes contingentes de recursos. O governo brasileiro criou leis e estabeleceu normas para a modalidade de educação à distância no país. No Brasil, em 1994, teve início a expansão da internet no ambiente universitário. Dois anos depois, surgiu a primeira legislação específica para educação à distância no ensino superior. As bases legais para essa modalidade foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, regulamentada pelo decreto n° 5.622 de 20 de dezembro de 2005. Tal decreto dita que, ficam obrigatórios os momentos presenciais para avaliação, estágios, defesas de trabalhos e conclusão de curso. Classifica os níveis de modalidades educacionais em educação básica, de jovens e adultos, especial, profissional e superior. Os cursos deverão ter a mesma duração definida para os cursos na modalidade presencial. Em 1999 surgiram os primeiros cursos superiores à distancia regidos por lei no Brasil. Com base nas leis anteriormente descritas, os cursos de EaD, puderam aceitar transferência e aproveitar estudos realizados em cursos presenciais. Os cursos presenciais puderam aproveitar estudos realizados em cursos à distância. Dessa forma, se regulariza o credenciamento de instituições para oferta de cursos e programas na modalidade à distância (básica, de jovens e adultos, especial, profissional e superior). 27 Vale aqui destacar que no Brasil a maior parte das instituições que oferecem cursos à distância também o fazem no ensino presencial, sendo esse o modelo atual predominante. Atualmente em algumas universidades brasileiras temos as três modalidades de ensino, a presencial, semipresencial (parte presencial/parte a distância) e a EaD. A implantação da EaD no Brasil, em todos os níveis sociais e educacionais, tem que ser gradativa, pois há uma desigualdade econômica e regional que dificulta o acesso às tecnologias. Tanto a distribuição de renda quanto a desigualdade regional, dificultam a mudança. Embora alguns grupos sociais estejam preparados para a inovação, a grande maioria ainda não está. Atualmente, a maior parte da população brasileira ainda não tem acesso aos recursos tecnológicos. Esta enorme parcela da população só terá acesso a tecnologia de ponta, com a intervenção do governo, através da democratização da informação. Segundo Levine & Sun (apud MORAES, 2010), uma preocupação com os custos levaram os fundadores da University of Phoenix: “a oferecer um número limitado de cursos de especialização, graduação e pós-graduação, com poucas eletivas e instrução por meio de um corpo docente que trabalha em tempo parcial a partir de um currículo padronizado em horários e lugares convenientes aos alunos” (idem, ibidem, p.32). Essa situação, lembra Bates (apud MORAES, 2010), colocará os formuladores de políticas públicas perante situações novas, desafiadoras e complexas: “Não obstante, a ameaça ao setor público é real. O setor privado se concentrará naquelas áreas em que os lucros são obtidos mais facilmente, como nos programas voltados para área de negócios e nos cursos de tecnologia da informação. No entanto, deixará para o setor público aquelas áreas que não geram lucros, como muitos programas de artes, ciências sociais e possivelmente as ciências da saúde, em razão de seu alto custo. Com a perda do subsídio cruzado (em que uma atividade lucrativa subsidia outra que dá ‘prejuízo’), o ensino superior terá cada vez mais problemas financeiros” (idem, ibidem, p.33). 28 Será que a EaD irá de fato se popularizar? Será que esta forma de ensino possibilita uma diminuição de custos? Uma abrangência na transmissão da cultura e educação? 3.3. MODELOS UTILIZADOS NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA Professor e aluno sempre tiveram proximidade física. Tal ideia consolidou-se na consciência das pessoas e perdura por um longo período de tempo. Para Peters (2003), essa imagem de ensino presencial, na qual o professor e o aluno ocupam o mesmo espaço físico, está sendo desconstruída, justamente, com o surgimento da educação à distância. Na educação à distância, professor e aluno estão fisicamente separados. Devido a essa distância física, criou-se o conceito de que a EaD não pode ser comparada ao ensino presencial, modelo desejável e necessário a educação. Na EaD é difícil ensinar e aprender. Peters (2003) ressalta que para tentar reduzir a distância física entre professor e aluno, a didática da educação à distância se concentrou essencialmente em cinco modelos: “nos da correspondência, da conversação, do professor, dos tutores e do modelo tecnológico de extensão” (idem, ibidem, p.48). O primeiro modelo sugere diminuir a distância através da comunicação por correspondência entre professor e aluno. A ideia principal deste modelo é que a correspondência por escrito substituiria a comunicação oral do ensino presencial. Segundo Peters (ibidem), a cultura da correspondência é utilizada há muito tempo, para transmissão de pensamentos, epístolas pelos romanos, pelos eruditos, divulgação de conhecimentos científicos e assim por diante. Os elementos didáticos utilizados nas cartas eram conversações por escrito. Através das respostas recíprocas se estabelece um diálogo, a locução direta e o tom pessoal nas cartas. Uma especialista em educação à distância fundamentou os dois últimos elementos da seguinte maneira: “dirigindo-se direta e informalmente aos estudantes, o escritor se apresenta como uma pessoa que compreende suas necessidades e seus interesses. O estabelecimento desse tom pessoal permite ganhar a confiança dos estudantes” (ERDOS apud PETERS, 2003, p.49). Para Peters (2003) esse modelo de educação à distância, foi aprovado na prática por ser uma invenção didática de algum modo natural e tem como objetivo vencer o sentimento de isolamento dos 29 alunos. No século XIX ele contribuiu para o sucesso dos cursos por correspondência em diversos países. O segundo modelo, o da conversação, é uma abordagem complexa em que o professor tem que imaginar um aluno se dirigindo a ele, com o intuito de obrigá-lo a escrever na medida do possível a linguagem falada. Por outro lado, os alunos imaginam os professores durante a leitura e mantém um diálogo silencioso com ele. Desse modo, “a leitura dos textos didáticos e assimilação dos conteúdos neles oferecidos se transformam em conversação interior e virtual” (PETERS, 2003, p.51). Neste modelo a leitura deveria ser um prazer para o aluno, só assim ele atingiria o objetivo do curso. Mas, para isso, o professor “deveria criar uma atmosfera de um diálogo amigável e levar em conta suas convenções, criar sentimento de uma relação pessoal entre docentes e discentes e assim aumentar a alegria no estudo e a motivação” (idem, ibidem, loc.cit.). Peters (ibidem) se interroga se nesse modelo o diálogo pode ser utilizado em termos gerais, para a apresentação de conteúdos científicos no ensino superior. Considera que nesta apresentação faz-se necessário oferecer estruturas e formas organizadas de pensamento e métodos que apresentem resultados específicos dentro da respectiva disciplina, que dificilmente podem ser conciliados com a forma de conversa casual. O terceiro modelo, o professoral, sugere que os professores transfiram suas habilidades e arte para o texto didático. O texto deverá exercer substitutivamente todas as funções didáticas importantes, típica do ensino e aprendizagem na sala de aula. Para Peters (ibidem) ao seguir esse modelo os docentes: “despertam e direcionam a atenção dos discentes; despertam e aumentam o interesse; nomeiam e fundamentam os objetivos; trazem a memória conhecimentos preliminares que se relacionam com o objeto que está sendo estudado; expõem o conteúdo em partes e numa sequência que facilitam a recepção e a compreensão; expõem assuntos difíceis com exagerada clareza e reiteradas vezes; dão conselhos sobre como melhor estudar os conteúdos expostos; por meio do retorno, certificam-se do resultado do processo ensinoaprendizagem; fazem exercícios com os alunos; os ajudam a empregar o que aprenderam”.(idem, ibidem, p.55). 30 Peters (2003) postula que: “Existe possibilidade de transferir essas funções para o papel impresso. Para tanto se desenvolveu bons textos didáticos, com efeito, se esforçam para despertar a atenção, dirigir e fixar, por exemplo: títulos que chamam a atenção, apresentação gráfica ou por meio de formulações surpreendentes e impressionantes. Emprega-se todo um arsenal de medidas com o intuito de fomentar e garantir sua aprendizagem”. (idem, ibidem, p.55) Peters (ibidem) defende a tese de que todo esse esforço é empregado para superar a distância entre o professor e o aluno. Esse modelo exige do aluno uma implicação considerável e um engajamento acima da média para que o objetivo seja atingido. O quarto modelo, o tutorial, propõe um texto didático que simula uma conversa de aconselhamento. Esse tutorial por escrito “é considerado equivalente a um diálogo de aconselhamento real. Esse modelo vem da Inglaterra – origem da tradição da tutoria”, (ROWNTREE, apud PETERS, 2003, p.58), onde os tutores não eram docentes e sim conselheiros, algo como amigo mais velho. Por outro lado, esse modelo também associa o tutor a uma pessoa que dá assistência ao estudo. Assim sendo, nesse modelo o professor assume a responsabilidade por cada passo no estudo dos alunos. Esses são motivados a ler, reproduzir pensamentos e ideias e aplicá-los. Os alunos devem ainda desenvolver atividades correspondentes e despertar a ideia de um diálogo com um tutor imaginário. Tal diálogo se propõe a ajudar o aluno a não se entregar a sensação de estar trabalhando isolado da universidade, simulando assim proximidade. O quinto modelo, o tecnológico de extensão, sugere que o ensino utilize como auxilio os meios técnicos de informação e comunicação. Ao fazer isso, o aluno passaria a ter acesso ao que lhe falta, a apresentação oral, suprida pelos audiocassetes. Nesse kit também são enviados livros didáticos usados no estudo com presença. Neste modelo os custos são menores e o número de estudantes pode ser ampliado consideravelmente. Peters (2003) considera que neste modelo “não se reduz apenas a distância física, mas, sim, além disso, a distância entre educação à distância e ensino com presença. Neste sentido consegue-se uma proximidade muito peculiar” (idem, ibidem, p.61). Os críticos desse modelo 31 contrapõem os argumentos do autor alegando que tais estratégias são apenas uma ampliação do alcance do clássico ensino com presença. 3.4. A DISTÂNCIA TRANSACIONAL Ao longo da história da educação à distância, o conceito de “distância” tem sido alvo de inúmeras discussões. O conceito de “transação” foi definido por Dewey & Bentley (apud MOORE, 2006), como “a interação entre o ambiente, os indivíduos e os padrões de comportamentos, numa dada situação” (idem, ibidem). A EaD é um modelo educativo que proporciona aprendizado sem limites de tempo, de espaço, e pressupõe uma separação geográfica e temporal entre professores e alunos, separação essa que conduz a padrões e comportamentos específicos, que afetam os alunos, os professores e o aprendizado. Para intermediar essa comunicação, recorreu-se à tecnologia como instrumento mediador, a comunicação mediada por computador facilita e reforça a interação. Moore (2006) identifica três formas de interação: interação aluno/conteúdo, interação aluno/instrutor e interação aluno/alunos. A primeira tem a ver com o processo de interação intelectual, com o conteúdo. A segunda refere-se ao diálogo entre o professor e o aluno. E a terceira interação, ao diálogo dos alunos com os colegas, com o objetivo de desenvolver análise crítica, partilhar ideias e experiências. Northrup (apud MOORE, 2006), defende a tese de que na EaD, a interatividade é “crucial para o sucesso de um curso, pois promove o envolvimento dos alunos na aprendizagem” (idem, ibidem). Peters (2003) considera que Michael Moore – da Penn State University – tem o mérito de ter esclarecido e reduzido a um conceito aquilo que foi tentado com os modelos da correspondência, do diálogo, do professor, dos tutores e da transmissão eletrônica, ou seja, reduzir as distâncias entre os alunos e professores. “Moore distingue entre distância física e distância comunicativa, isto é, psíquica, e introduz, para designar a última, o conceito de distância transacional, dependendo se os estudantes são abandonados a sua própria sorte com os materiais de estudos ou se podem comunicar com os docentes. Portanto, a função transacional é determinada pela medida em que docentes e discentes podem interagir (dialogue)”. (idem, ibidem, p.63). 32 Verifica-se assim que para esses autores a distância transacional atinge sua maior intensidade quando alunos e professores têm pouco ou nenhuma intercomunicação. Ou seja, o aluno está praticamente a sua própria sorte ou o ensino está pré-programado em todos os detalhes. Ao contrário, a menor intensidade é atingida quando o professor enseja frequentes diálogos, nos quais o aluno pode expressar os pré-conhecimentos, desejos, interesses e assim ambos determinam o andamento do ensinar e aprender. É através da frequência de oportunidades para a comunicação entre o professor e o aluno, que a distância é verdadeiramente reduzida. Ou seja, a proximidade é quem deve ser reduzida e não da distância. Na realidade, o grau de transacionalidade pode ser expresso através de três concepções: o diálogo didático, o estudo estruturado e a autonomia do aluno. Vejamos a seguir, mais detalhadamente, tais concepções: O diálogo didático, postulado por Peters (2003) é a interação positiva da linguística direta e indireta entre professores e alunos. Este tem como objetivo aperfeiçoar a compreensão do aluno. O diálogo entre o professor e o aluno tem importância central, desde que transcorra sem estruturas, sem fim predeterminado e se desenvolva, especialmente, em situações de aconselhamento. Essa aprendizagem dialogal exige dos estudantes, na concepção de Reinhard Taush e Anne-Marie Taush, “parceria, respeito, calor humano, consideração, compreensão empática, sinceridade e autenticidade” (TAUSH & TAUSH apud PETERS, 2003, p.73). Dessa maneira esse diálogo enfrenta dificuldades no sistema de ensino, porque é influenciado por vários fatores: as personalidades do professor e do aluno; a filosofia educacional e os conteúdos programáticos subjacentes à aprendizagem; o ambiente de aprendizagem, nomeadamente o meio que suporta à comunicação; o número de alunos por professor; a frequência de oportunidades para a comunicação; o ambiente emocional estabelecido entre professor e aluno, ou seja, a relação de respeito e consideração mútua. Outro fator importante, observado por Peters (2003), nas escolas e universidades, é se houve interferência no diálogo, se este foi negligenciado em favor dos métodos de exposição monológica ou no atendimento a grupos grande de alunos. Peters (ibidem) chama atenção para o fato de que em universidades tidas de massas, o diálogo foi avaliado negativamente. Peters (ibidem) observa que “o dialogo não apenas desempenha funções auxiliares, 33 mas, sim, é também uma forma “autônoma” de ensino e aprendizagem, com funções pedagógicas e didáticas especificas” (PETERS, 2003, p.75). Peters (ibidem) verifica alguns fatores relevantes que podem diminuir as dificuldades objetivas, mencionadas anteriormente, na EaD de segunda e terceira geração, tais como: as tecnologias da informação e da comunicação, que permitem um diálogo/comunicação diretos, fator mais determinante para a redução da distância transacional; aumento do diálogo didático através da utilização dos meios de comunicação, tais como, os computadores pessoais (PC) e a videoconferência, na medida em que estes permitem uma interatividade linguística mais dinâmica, diálogo mais individualizado, personalizado e intenso, propiciando a transposição da distância transacional, para determinadas fases da educação à distância. É oportuno recorrer à tese de Hartmut Von Henting, na qual aponta com clareza a estreita ligação entre saber e comunicação, que fundamentou do seguinte modo: “se a comprobabilidade intersubjetiva de conhecimentos científicos vale como conditio sine qua non para o trabalho científico, então a comunicação se torna uma parte integrante constitutiva e integral do saber e da ciência. Por essa razão, quem apenas armazena saber na sua memória não participa no processo científico. Por isso, a ligação necessária de conhecimento e comunicação, vale como princípio didático” (HENTING apud PETERS, 2003, p.76). O estudo estruturado é uma concepção de ensinar e aprender diferente da aprendizagem dialógica. “Ela não está aberta a intervenções espontâneas e desdobramentos imprevistos, mas, sim, é fechada, por estar voltada de modo consequente para a consecução de um objetivo, planejada passo a passo, regulamentada quanto ao tempo, bem como controlada e avaliada uniformemente” (PETERS, 2003, p.86). Peters (ibidem) constatou que este instrumento é aplicado principalmente em cursos impressos ou pacotes de estudos multimídias, que contém um ensino cuidadosamente desenvolvido, otimizado e dirigido a um objetivo específico. A estrutura do curso reflete a organização dos elementos que o constitui, a rigidez dos objetivos, dos conteúdos, das estratégias e metodologias do processo ensinoaprendizagem, dos testes e dos critérios de avaliação do curso. Pode ter uma 34 organização fixa e uma coordenação total entre atividades e documentação. Por outro lado, é flexível permitindo que o aluno progrida ao seu ritmo, estudando o material quando lhe convier, submetendo as respostas quando considerar oportuno, adequando à flexibilidade do aluno: quanto maior a distância transacional, maior autonomia é exigida ao aluno. Assim, num programa muito estruturado, com meios como a televisão ou o gravador, a distância transacional é grande pela ausência de diálogo entre o professor e o aluno. O caso dos cursos por teleconferência já permitem um diálogo entre o professor e os alunos, exigem menos estrutura e diminuem a distância transacional. Tal como o diálogo, a estrutura é uma variável qualitativa. A sua extensão depende dos meios de comunicação utilizados e das características individuais do aluno e do professor. Peters (2003) defende a tese de que em um curso com pouca distância transacional, o diálogo é mais forte permitindo que os alunos obtenham instruções e informação diretamente do professor. Já num curso com distância transacional elevada, estas instruções são derivadas da estruturação. Desse modo, a distância transacional é inversamente dependente do diálogo e diretamente dependente da estrutura. Sendo assim, a adequação da estrutura do programa exige da equipe pedagógica um elevado grau de atenção às características de aprendizagem do público-alvo e ao tipo de interações a usar. A desvantagem desses cursos é que eles se concentram nas funções de ensino e aprendizagem e desconsideram outras funções importantes como, por exemplo, a participação dos estudantes no processo de ensino e, assim, “escolarizam” tendenciosamente a aprendizagem. “O modelo estruturado poder ser explicado pela época dos anos 1970 e 1980, onde as pessoas eram mais receptivas e todos acreditavam que a ciência e a tecnologia, poderiam resolver com sucesso, tarefas pedagógicas e didáticas” (idem, ibidem, p.91). Atualmente, este modelo estruturado de ensino não se aplica muito bem para a educação à distância. A autonomia do aluno postula que “estudantes autônomos, estão em condições de decidir sobre seu estudo por iniciativa própria” (idem, ibidem, p.93). Peters (ibidem) considera tal postulado observando que a “autonomia do aluno” é uma medida que permite que seja o aluno e, não o professor, a determinar os seus objetivos de aprendizagem. Este era um ideal que deveria ser natural para o adulto, que constitui, na verdade, o tipo de pessoa, que já tem o seu próprio conceito de 35 independência. A autonomia do aluno tem a ver com a capacidade que este tem, perante os conteúdos programáticos do curso, de estabelecer os seus próprios objetivos, metodologias e materiais a utilizar. O aluno autônomo prefere programas bem estruturados, que depois vai gerir. Enquanto os não autônomos preferem programas menos estruturados e mais dialógicos, em que o professor vai adequando as metodologias e ritmos às suas necessidades. Peters (2003) argumenta que aquele que “quiser planejar e dirigir seus próprios estudos tem que, em princípio, ser capaz da metacognição”3 (idem, ibidem, p.95). Sendo assim, naturalmente, o estudo autônomo nesse sentido não tem importância determinante na educação à distância, mas desempenha um papel importante na formação complementar dos adultos e cresce em importância na formação profissional, considerando especialmente no momento atual, os desafios econômicos e sociais. 3.5. A EaD NAS UNIVERSIDADES: UMA PESQUISA DE PETERS Christine Von Prümmer e Ute Rossié descobriram em sua abrangente investigação empírica: “Comunicação no Ensino à distância. A grande maioria (93,8%) dos tele-estudantes expressam o desejo de diálogos pessoais” (PRÜMMER & ROSSIÉ apud PETERS, 2003, p.121). Na educação à distância, a aprendizagem dialógica tem métodos padronizados. No entanto, para Peters (2003), existem diferenças que podem ser explicadas, por culturas de ensino e aprendizagem acadêmicas divergentes, por diferentes concepções de um ensino acadêmico e pelo volume de recursos à disposição. Sendo assim, podem aparecer diferentes formas de ensino dialógico. Peters (ibidem) observou que no aconselhamento acadêmico, as universidades à distância dão importância ao atendimento de seus tele-estudantes, esforçando-se por oferecer-lhes um diálogo continuado, via telefone ou e-mail, com 3 “O termo metacognição foi introduzido na literatura a princípios dos anos 1970 por Flavell (1971), que define inicialmente a metacognição como o conhecimento que se adquire a partir dos conteúdos e dos processos da memória. Posteriormente, em 1999, admitirá que existem outros aspectos da mente humana, além da memória, que contribuem ao conhecimento, como por exemplo, a aprendizagem, a atenção, a linguagem, etc.”. Disponível em: <http://metacognicao.com.br/metacognicao.html>. Acesso em: 03 jan. 2012. 36 os professores e um tutor de estudo, que o acompanha durante os estudos. Esses elementos proporcionam aos estudantes a sensação de proximidade, principalmente nos momentos críticos. Ou seja, o tutor é um parceiro de diálogo à disposição. Esse diálogo se relaciona somente com o ensino e não com alguma situação de vida particular do estudante à distância. No centro de estudo, os tutores estão à disposição dos alunos para os diálogos que versam sobre conteúdos dos cursos trabalhados por eles. Para cada área, tema e ano de estudo, há um tutor específico. O tutor é muito solicitado para questões e interpretações difíceis, com isso o nível da conversação é elevado e o aproveitamento do próprio estudo por parte dos estudantes cresce. “Também variam as formas do diálogo. Os estudantes podem ser atendidos pela tutoria individualmente ou em grupos” (PETERS, 2003, p.109). Peters (ibidem) verificou que além da comunicação pessoal através do atendimento dialógico, os tutores ministram aulas, proferem miniconferências, dirigem seminários ou são moderadores de debates, gerando assim uma sobrecarga de responsabilidades. O autor observa que “a noção da necessidade da comunicação pessoal direta parece ter crescido nos últimos anos. Porém, isso é uma tarefa quase insolúvel em virtude de falta de recursos” (idem, ibidem, p.110). Quanto à aprendizagem estruturada, Peters (ibidem) observou que nas universidades à distância se desenvolvem cursos que estabelecem de forma mais ou menos detalhada o caminho da aprendizagem dos estudantes. O autor chama atenção para o fato de que os cursos deveriam ser planejados, adaptados, desenvolvidos e possivelmente experimentados, para depois sim, serem implantados. “Eles não deveriam apresentar apenas conteúdos, mas, sim, também uma grande quantidade de intervenções didáticas. Conteúdos e intervenções didáticas em conjunto estruturam a aprendizagem dos estudantes” (idem, ibidem, p.123). Contudo, na observação do pesquisador, na aprendizagem estruturada, o material impresso ainda continua sendo o meio que mais determina a estrutura do estudo à distância na maioria das teleuniversidades, onde os passos a serem seguidos no estudo estão preestabelecidos, ou mesmo, inclusive, programados. É com esse material caracterizado pela leitura, que os estudantes ocupam a maior parte de seu tempo. Essa concepção é reforçada, intensificada e diferenciada pela utilização de outros meios técnicos, tais como, videoconferência, vídeos tutoriais, 37 que podem ser interrompidos a qualquer momento, a fim de discutir o que se aprendeu. Na concepção do pesquisador o estudo autônomo é mais utilizado no ensino continuado onde o estudante já tem conhecimento técnico da sua área de atuação e deseja se aprimorar. Ele concede ao estudante a liberdade de planejamento, de organização, de tempo, intensidade, ordem e ritmo de estudo, ou seja, maior responsabilidade pelo seu estudo, do que outros estudantes. Essa independência é incomum no sistema da educação à distância. Para Peters (2003) a liberdade de escolher o lugar, o tempo e o ritmo de estudo é enaltecida pela maioria dos defensores da EaD como vantagem didática especial. Contudo, vê-se que muitas vezes a enaltecida autonomia dos teleestudantes está limitada institucionalmente segundo todas as regras, com vistas a seu comportamento exterior no estudo. O autor questiona o fato dessa independência organizacional ser reduzida para os tele-estudantes, como poderemos verificar a seguir: “Por que os telestudantes não podem iniciar seus estudos a qualquer época, estando limitados a fazê-lo no início de um semestre ou ano letivo? Por que têm que sujeitar-se a um ritmo rígido do estudo, predeterminado pelas datas para o envio dos materiais de estudo? Por que tarefas-resposta têm que ser enviadas dentro de um determinado prazo? Não deveriam os próprios estudantes determinar esses prazos, tanto mais quanto isso seria perfeitamente possível tecnicamente? Por que, afinal, seu estudo está engessado em regras, regulamentos, prescrições e sanções institucionais?”. (idem, ibidem, p.157). Os questionamentos de Peters (ibidem) demonstram o quanto as regulamentações do ensino presencial ainda influenciam a educação à distância. E a passagem de um determinado curso para o computador, está sofrendo a mesma influência do ensino presencial. Verifica-se assim, que ainda será necessário muito tempo para que a educação a distância chegue a ter a maioria das características do estudo autônomo. Börje Holmberg argumenta que “um sistema de ensino que tem respeito pela liberdade e autonomia dos estudantes não deveria prejudicá-los por meio de imposições exteriores” (HOLMBERG apud PETERS, 2003, p.158). 38 3.6. A EaD COMO FORMA INDUSTRIALIZADA DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM A discussão em torno da educação à distância como forma industrializada do ensino aprendizagem, surgiu após o impulso inicial ter sido lançado, em 1967, por Peters. Esta discussão foi intensificada pela contribuição de vários autores: Campion (1993), Farnes (1993), Raggatt (1993) e Rumble (1995). Para Peters (2003) essa discussão é de especial importância porque o ponto de vista da industrialização não aparece em parte alguma na literatura didática em relação a qualquer outra forma de ensino e aprendizagem. Essa discussão sublinha uma vez mais a peculiaridade da educação à distância. A finalidade de captar a peculiaridade própria da EaD levou Peters (ibidem) a observar sua estrutura heterogênea. Ao analisar a heterogeneidade estrutural da EaD, o autor se deparou com uma diferença fundamental: “No ensino a distância não se visava – como acontece geralmente no ensino público – buscar recursos financeiro, a fim de que pessoas pudessem formar-se e receber educação, mas, sim, queria-se que as pessoas estudassem algo para que a instituição que fornecia ensino pudesse ganhar dinheiro – portanto ter lucro” (idem, ibidem, p.200). Assim, a educação à distância visava quase que exclusivamente o lucro. Sua razão parecia ser eminentemente comercial. Um detalhe interessante apontado por Peters (ibidem), refere-se ao fato de que os empresários na época da industrialização incipiente, reconheceram a necessidade de aplicar os novos métodos da produção de bens industrializados ao processo de ensino e aprendizagem, nas escolas presenciais. Até então o processo de ensino estava na mão de uma única pessoa, o docente. A partir desse momento foi estabelecida uma divisão de trabalho, o planejamento, o desenvolvimento e a exposição do ensino, bem como a correção dos trabalhos, estavam agora nas mãos de diversas pessoas, permitindo que as tarefas fossem realizadas em épocas e lugares diferentes. O processo do ensino passou a ser uma produção industrial, correspondia ao planejamento do trabalho, feito por especialistas devidamente qualificados. Uma vez que, até o momento, o 39 ensino era altamente individualizado pela personalidade dos docentes, passou a ser padronizado, normatizado e formalizado. Segundo Peters (2003), essa concepção de ensino industrializado foi confirmada, de modo impressionante, pelo trabalho das universidades à distância fundadas a partir da década de 1970, em especial pela Open University inglesa, que chega a atender milhares de estudantes. Desse modo, colaboram no processo de transformação mundial, que possibilita o acesso ao ensino não mais apenas da elite social, mas a todos os que querem e podem estudar. A partir dos elementos expostos, verifica-se que para que a EaD seja integralmente implementada na sua essência, uma nova lógica para o ensino, gestão e aspectos político-administrativos, deverão ser elaboradas para não se aplicar os mesmos conceitos das aulas presenciais, na medida em que, atualmente, muito pouca coisa se alterou no processo de ensino, aplicado à EaD. Como relata Kenski (2010): “Em geral, as escolas permanecem com as mesmas propostas e grades curriculares; a mesma segmentação disciplinar dos conteúdos; a mesma carga horária dividida em “aulas”de 50 ou 100 minutos e a mesma divisão dos alunos em grandes turmas. Os professores, por sua vez, utilizam as formas mais viáveis de ensino nessas condições, que são aquelas fortemente baseadas na “fala’, na exposição oral do conteúdo, seja pelo professor ou pelos alunos, em intermináveis e enfadonhos seminários, debates ... Nessas condições, o uso do computador e da Internet no curto tempo da “aula” e para um número exorbitante de alunos é totalmente inviável. A repetição vista dessa situação em muitos espaços educacionais revela o despreparo generalizado com que essas novas tecnologias estão sendo encaminhadas às escolas”. (idem, ibidem, p.73). Quanto à sua aplicabilidade, a EaD é mais adequada na educação de adultos, principalmente para aqueles que já têm experiência consolidada de aprendizagem individual e de pesquisa, como acontece no ensino de pós-graduação e também no de graduação. Isso não quer dizer que a EaD seja indicada para qualquer pessoa que a deseje cursar. A principal diferença entre a EaD e o ensino presencial é o esforço exigido do aluno. Segundo vários autores, o aluno que pretende usufruir da EaD deve ser: ativo; motivado; disciplinado, para não se dispersar em navegação e chat não correlato na hora do estudo; organizado, dividindo o seu tempo de estudo entre 40 as disciplinas; ter gosto pela leitura tanto no computador como em livros. Para os que trabalham, é necessário conseguir conciliar trabalho e estudos. “De acordo com a Abed, 51% dos alunos que desistiram de seus cursos o fizeram porque ‘achavam que seria mais fácil’. A segunda causa citada (por 49%) foi a falta de tempo. O perfil do aluno a distância é diferente, conforme Holz chama atenção: Ele precisa ser mais organizado e disciplinado para tocar boa parte dos estudos sozinho” (GUIMARÃES; CORNACHIONE & BUSCATO, 2010, p.83). As exigências mencionadas anteriormente inviabilizam que a EaD seja usufruída por crianças. Estas necessitam de escola presencial, pela especificidade de suas necessidades de desenvolvimento e socialização. “A escola presencial é polifônica. Os sons se espalham pelos ambientes e dão sentido ao espaço educativo. Vozes se mesclam nos corredores e nas calçadas próximas. Ecos que provocam lembranças de imagens, cores e cheiros: uniformes, sorrisos, suor. Movimentos de corpos em um vaivém permanente: concentração e dispersão. Músicas. As vozes ora cantam raps ora cantam hinos cívicos. Misturam-se aos barulhos dos pés em marcha e aos gritos das torcidas nos jogos e competições. Às brigas. Mobilidades entre palavras e palavrões. Linguagens diferenciadas entre as gerações. Recuperações. Festas. Formaturas e férias. (...) A aura da escola depende de seus espaços e de seus atores. Professores e alunos parecem circular com suas presenças, mesmo nas suas ausências. O espaço da escola é mágico. Nele se realiza o milagre permanente do aprender e do abrir-se para o mundo” (KENSKI, 2010, p. 53). Assim, nos questionamos se a EaD seria uma ameaça para as aulas presenciais. Na nossa concepção sempre haverá lugar para as aulas presenciais. A EaD é apenas mais uma alternativa a ser utilizada, dependendo da área de conhecimento e das necessidades dos currículos. Contudo, já se pode verificar que muitos cursos que se utilizam da EaD já apresentam uma estrutura física bem reduzida. As edificações contêm poucas salas de aulas, laboratórios, salas de encontros e salas de interatividades. 3.7. A PROPAGAÇÃO DA EaD O foco dos investidores e governantes é o lucro, seja ele monetário ou político. Esse é um dos fatores que está levando a EaD a se propagar rapidamente. 41 Embora a sua implantação inicial tenha um custo elevado, a sua penetração gera um baixo custo. Melhor dizendo, a EaD atinge diversos pontos locais e distantes, ou seja, a partir de um único lugar. Contudo, alerta Kenski (2010): “Assumir o uso das tecnologias digitais no ensino pelas escolas requer que ela esteja preparada para realizar investimentos consideráveis em equipamentos e, sobretudo, na viabilização das condições de acesso e de uso dessas máquinas. No atual momento tecnológico, não basta às escolas a posse de computadores e softwares para o uso em atividades de ensino. É preciso também que esses computadores estejam interligados e em condições de acessar a Internet e todos os demais sistemas e serviços disponíveis nas redes” (idem, ibidem, p.70). No Brasil, a grande maioria das universidades utiliza somente o ensino presencial, poucas delas utilizam a educação à distância e raras fazem uso da correspondência. Ainda não existem, no nosso país, universidades que somente utilizam a EaD, como pode-se constatar, por exemplo, na Espanha e na Inglaterra. Centros de pesquisas como o CENPES (Centro de Pesquisas da PETROBRAS), a PETROBRAS (Petróleo Brasileiro S.A.), ou instituições científicas, como a FIOCRUZ, produzem conhecimentos científicos através de seus laboratórios, que são espaços de pesquisa e ensino, e são submetidos à presença normalizadora e reguladora de outras instituições do governo e/ou entidades de pesquisas. Estes atuam de forma integrada com o ensino, na formação de técnicos, estágios para a graduação e pós-graduação lato sensu e stricto senso. A diferença entre as universidades e os centros de pesquisa se baseia no fato de que os alunos dos centros de pesquisas participam das atividades científicas do laboratório no qual estão lotados e dispõem de acesso às tecnologias em equipamentos, coleções, processamentos de dados, informações relevantes através da assinatura de um documento de sigilo e ética, submetidos às normas, aos procedimentos operacionais padrão e assim por diante, elementos esses que não se encontram nas universidades. A FIOCRUZ, por exemplo, além de oferecer ensino presencial regular, no campus, também disponibiliza parte de seus cursos no formato a distância. Isso só se viabiliza porque grande parte das simulações são executadas através dos computadores. Um exemplo disso são as experiências desenvolvidas sobre o sequenciamento de deoxyribonucleic acid (DNA), genoma, cristalografia e outras. 42 Verifica-se, assim, a ocorrência do dual mode4: uma parte presencial e outra a distância. A atividade científica de pesquisa é dividida em etapas, tais como: planejamento, administração, desenvolvimento, ensino, comunicação e disseminação. E a crescente introdução de programas da qualidade no âmbito dos laboratórios explica a presença do POP (Procedimento Operacional Padrão). A etapa de desenvolvimento é a mais importante, na qual estão inseridos os cadernos de protocolo ou cadernos de laboratório que é um caderno de notas onde é anotado tudo sobre a pesquisa científica, particularmente, o trabalho cotidiano de experimentação. Nas atividades de pesquisa, pode-se utilizar equipamentos simples bem como os de alta complexidade, por exemplo, os microscópicos eletrônicos com microscopia confocal5 para imagens tridimensionais, coleções biológicas e acompanhamento da gestão da qualidade – Programa de Gestão da Qualidade em Pesquisa & Desenvolvimento Tecnológico. É neste ambiente que surge o POP do Livro de Registro, documento submetido a norma ou procedimento, que funciona como um caderno de protocolo para os projetos vinculados ao Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para a Saúde (PDTIS). A norma tem como objetivo orientar os experimentadores (pesquisadores, tecnologistas, técnicos, bolsistas, estudantes e estagiários) quanto ao uso e guarda dos livros de registro, para manutenção da rastreabilidade dos dados gerados nos trabalhos experimentais de laboratório na instituição. O livro de registro contém os relatos operacionais das atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Registram-se neste livro todos os experimentos, resultados e informações produzidas na pesquisa. O objetivo é permitir que, na ausência do pesquisador, o experimento científico possa ser refeito. Os livros de registro são considerados propriedade da FIOCRUZ e todos os experimentadores devem zelar por sua guarda e integridade. O caderno de protocolo é o registro da ciência experimental, no que se refere aos aspectos da produção e uso. Neste são descritos os experimentos. O caderno funciona como um 4 Dual Mode refere-se ao momento quando os alunos têm aulas presenciais e aulas mediadas pelo computador (EaD). 5 A Microscopia Confocal é uma técnica imagiológica desenvolvida primariamente por Marvin Minsky em 1955. É utilizado para aumentar o contraste da imagem microscópica e construir imagens tridimensionais. 43 diário e deve ter uma escrita clara que permita a repetição do procedimento. Ao mesmo tempo é necessário o registro sistemático de todas as etapas do experimento e as observações sobre os resultados obtidos. Ele deve ser auditado por um supervisor ou coordenador com o objetivo de assegurar a rastreabilidade, reprodução e a validação dos experimentos realizados; é considerado um documento de grande importância, que possui valor para guarda permanente, pois é um registro único de dados brutos. Outro fator importante para as pesquisas é o limite entre o institucional e o pessoal no que diz respeito à diferença, entre os documentos de caráter pessoal, que tratam de assuntos da vida privada, e os documentos de origem institucional, vinculados às ações da instituição a que pertence. Compreende-se que determinados documentos produzidos no âmbito da atividade científica são pessoais, por alcançarem um alto grau de vínculos com o seu produtor, o pesquisador. O pesquisador atua numa faixa de penumbra que permite sua individualização, mesmo no contexto coletivo e organizacional. Nos centros de pesquisas umas das funções mais relevantes são as de gerar relatórios e artigos. O relatório é um documento de registro das atividades intermediárias e da apresentação dos resultados finais que levam a publicação das descobertas científicas. A informação transmitida por processos formais de comunicação científica é denominada comumente pelos pesquisadores como produção científica. Os artigos estão mais associados ao produto final do trabalho científico, como parte dessa produção, sendo cada vez mais associados aos indicadores de produtividade e desempenho. Estes devem apresentar informações e relatar resultados de uma pesquisa de maneira clara e concisa, buscando cumprir algumas funções, tais como a divulgação científica entre a comunidade, o aumento do prestígio do(s) autor(es), o aumento do prestígio da instituição e o enriquecimento do currículo. Outro trabalho relevante dos centros de pesquisas e de algumas universidades, através do ensino são os mestrados e os doutorados. Na concepção dos pesquisadores, esses documentos valem como elementos de prova daquilo que se fez e se faz em um laboratório e, portanto, podem perpetuar uma determinada memória. Nos centros de pesquisa os alunos têm acesso à cadeia operacional de procedimentos técnicos e científicos, acessos a coleções científicas, domínio do 44 conhecimento especialista e se integrar a um trabalho coletivo, interdisciplinar e multiprofissional. Assim como é esperado que ele participe de feiras, congressos, centro de estudos, para que a difusão e popularização do conhecimento, além dos meios científicos, e a interação com diferentes estratégias e tecnologias. 3.7.1. A UNIVERSIDADE CORPORATIVA O conceito de Universidade Corporativa existe há mais de cinquenta anos, desde que a General Electric lançou a Crotonville Management Development Institute, em 1955. O verdadeiro interesse na criação de uma Universidade Corporativa, como complemento estratégico do gerenciamento do aprendizado e desenvolvimento dos funcionários de uma organização, ocorreu no final da década de 1980. O tema “Universidades Corporativas” vem despertando interesse nas grandes empresas, pois vem se revelando como eficazes veículos para o alinhamento e desenvolvimento dos talentos humanos às estratégias empresariais. As rápidas mudanças na atualidade levam muitas organizações a treinarem seus funcionários e colaboradores de acordo com as necessidades do mercado, mantendo-os num processo de aprendizado contínuo. Um exemplo de aprendizagem organizacional no Brasil é o da Universidade Corporativa (UC), criada pelos grupos Accor, Brahma e Algar, considerada referência para benchmarking no mercado nacional. Essas corporações multinacionais através de suas UC aplicam a maioria dos conceitos fundamentais de economia, administração e tecnologia, na aprendizagem organizacional e tiram proveito da teoria, adaptando de modo eficiente os conceitos ao seu ambiente operacional. A educação corporativa tem como objetivo formar sujeitos e desenvolver as competências profissionais e potenciais na gerência dos negócios, promovendo a gestão do conhecimento organizacional (incluindo geração, assimilação, difusão e aplicação), e serem capazes de refletir criticamente sobre a realidade organizacional da empresa, de construí-la e modificá-la continuamente em nome da competitividade e do sucesso. Ou seja, através dos talentos formados promovem o alto desempenho da organização em busca de resultados. 45 Segundo Eboli (1999), para implantar uma Universidade Corporativa (UC), é fundamental que a empresa identifique qual é a sua competência empresarial, ou seja, aquela competência que realmente constituirá seu diferencial competitivo e será responsável pelo seu sucesso. “Para que as Universidades Corporativas tenham sucesso no mercado global elas devem: oferecer oportunidades de aprendizagem que dêem sustentação às questões empresariais mais importantes da organização; considerar o modelo da Universidade Corporativa um processo e não um espaço físico destinado à aprendizagem; elaborar um currículo que incorpore os três Cs: Cidadania Corporativa, Estrutura Contextual e Competências Básicas; treinar a cadeia de valor e parceiros, inclusive clientes, distribuidores, fornecedores de produtos terceirizados, assim como universidades que possam fornecer os trabalhadores de amanhã; encorajar e facilitar o envolvimento dos líderes com o aprendizado; criar um sistema de avaliação dos resultados obtidos e também dos investimentos; passar do modelo de financiamento corporativo por alocação para o ‘autofinanciamento’ pelas unidades de negócio; assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de aprendizagem; utilizar a Universidade Corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em novos mercados” (EBOLI, 1999, p.90). Conforme afirma Meister (1999), “as empresas que aplicam os princípios evidentes nas Universidades Corporativas estão olhando além dos programas de educação de funcionários, à procura de uma população-alvo – funcionários internos – e criando sistemas de aprendizagem que reúnem clientes, funcionários e a cadeia de fornecimento em busca do aperfeiçoamento constante. O desafio é criar um ambiente de aprendizagem no qual todos funcionários da empresa compreendam a importância da aprendizagem contínua vinculada às metas empresariais” (idem, ibidem, p. 59). Eboli (1999) ressalta diferenças fundamentais entre as Universidades Tradicionais e as Universidades Corporativas: “Desenvolver competências essenciais para o mundo do trabalho Desenvolver competências essenciais para o sucesso do negócio Aprendizagem baseada em sólida formação conceitual e universal Aprendizagem baseada na prática dos negócios Sistema educacional formal Sistema do desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão por competências Ensinar crenças e valores universais Ensinar crenças e valores da empresa e do ambiente de negócios 46 Desenvolver cultura acadêmica Desenvolver cultura empresarial Formar cidadãos competentes para gerar o sucesso das instituições e da comunidade Formar cidadãos competentes para gerar o sucesso da empresa e dos clientes” (idem, ibidem, p.117) Pode-se verificar que essas universidades não são antagônicas, mas complementares. Para Meister (1999), “as Universidades Corporativas estão unindo forças com universidades tradicionais e conciliando os objetivos do empregado, da corporação e da instituição de ensino em uma parceria a três, benéfica para todas as partes envolvidas” (idem, ibidem, p. 59). Resumidamente pode-se dizer que a Universidade Corporativa personifica a filosofia de aprendizagem da organização, trazendo um modo de pensar que tem como meta oferecer a todos os níveis de funcionários o conhecimento, as qualificações e as competências necessárias para atingir os objetivos estratégicos da organização. Para o treinamento tradicional, o processo de aprendizagem é algo que tem começo e fim. Depois de certa frequência de treinamento, o serviço está completo. Nessa abordagem, o aluno forma-se e para de aprender, já a Universidade Corporativa se responsabiliza pelo aprendizado dessas novas qualificações e competências durante toda a vida profissional. Para Carvalho & Cruz (2001) é evidente que o modelo de Universidade Corporativa diferencia-se sob muitos aspectos do modelo de aprendizagem das universidades tradicionais. Não podemos comparar as Universidades Corporativas com os departamentos de treinamento das organizações, pois enquanto estes representam, na maioria dos casos, apenas uma área funcional nas organizações, o modelo de Universidade Corporativa trata de uma proposta estruturada para o desenvolvimento organizacional. Outro aspecto que chama atenção nas UC é a inexistência de um “campus físico” para realização dos eventos. Muitas Universidades Corporativas implantadas pelas empresas americanas no exterior e no Brasil não têm campus, nem instalações físicas definidas, elas são virtuais. Podese citar como exemplo a Algar Universidade de Negócios (UNIALGAR) e a Universidade AmBev (Companhia de Bebidas das Américas), ambas possuem centros de ensino virtuais. As UC fazem uso das tecnologias (computadores, internet, intranet e aprendizagem via multimídia, via satélite) e metodologias da educação à distância, 47 para atingir o seu público-alvo, exatamente por não possuírem um campus físico. A Universidade AmBev, por exemplo, criou a TV Universidade AmBev. Esta e a UNIALGAR, são as que mais se utilizam destas ferramentas. Tal preparação vai ao encontro do princípio que diz o seguinte: utilizar a Universidade Corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em novos mercados, através do treinamento da cadeia de valor, pois seu sucesso depende em parte do sucesso da sua rede de distribuidores. As UC estão de fato com o foco voltado para o atendimento de necessidades centrais dos negócios de suas respectivas empresas. Com isso, evitase muito desperdício de tempo e recursos em treinamentos não prioritários. Lévy (1996) acredita que “uma empresa virtual serve-se principalmente do teletrabalho. Tende a substituir a presença física de seus empregados nos mesmos locais pela participação numa rede de comunicação eletrônica e programas que favorecem a cooperação” (idem, ibidem, p.18). Sendo assim, o modelo de Universidade Corporativa veio agregar novos valores a serem pensados e aplicar, na prática, as teorias da Ciência da Administração e Tecnologia. O seu conteúdo inclui questões fundamentais e uma nova modelagem para o aprendizado organizacional por ser objetivo e prático. Afinal, a sociedade do conhecimento é marcada pelo uso da tecnologia e da informação, mas, acima de tudo, pela capacidade de pensar que só os seres humanos possuem. Carvalho & Cruz (2001) fazem também um alerta: “apesar da promessa de resultados promissores do modelo “Universidade Corporativa”, cuidados devem ser tomados, como: comprometimento da administração da empresa, recursos financeiros mínimos, contínuo sistema de comunicação do novo modelo, envolvimento das pessoas e adaptação à realidade da empresa”. (idem, ibidem). 3.8. O ENSINO PÓS-MODERNO O pós-modernismo se expande nos setores mais variados da teoria e do fenômeno social. A teoria educativa e da pedagogia, não poderiam escapar desse influxo, tendo em vista as novas realidades que resultam da ruptura ou do diálogo pós-moderno com o mundo cultural e social. Peters (2003) considera que a concepção de industrialização do ensino, demonstrada anteriormente, supõe influências no trabalho e na sociedade. O ensino 48 pós-moderno trata de um fenômeno mais geral da vida cultural, que muitos rejeitam por considerá-lo desconexo, heterogêneo e contraditório. Por essa razão, tentam ordená-lo e colocá-lo num sistema, justamente por não aceitarem a sua atitude lúdica, sua despreocupação e seu ecletismo. Para Kellner (apud PETERS, 2003) “esse comportamento se encontra em radical antagonismo com a seriedade da alta modernidade” (idem, ibidem, p.219). A pós-modernidade é um modo de pensar e uma atitude que se desenvolveu como a reação à modernidade, que atualmente penetra lentamente na consciência dos homens. No passado, ela acelerou modificações nas artes plásticas, arquitetura, literatura e outros, alcançando atualmente as ciências educacionais. Na concepção de Peters (2003), a pós-modernidade representa uma premissa para a mudança social e da individuação, “que leva os homens a pesquisarem sua identidade, a reconhecerem seus próprios objetivos e de persegui-los de sua própria maneira” (idem, ibidem, p. 220). O autor relata que nos EUA, William Doll, desenvolveu “A Post-modern Prespective on Curriculum, no qual conceitua a diferença fundamental entre sistemas fechados e abertos na educação, posicionando-se contra os currículos fechados da modernidade e defende firmemente os currículos abertos da pós-modernidade” (idem, ibidem, p.221). A pós-modernidade não definiu sua posição, que ainda é pautada numa forma crítica à ciência e à supervalorização da técnica da modernidade. A crença modernista na racionalidade acredita que utilizando a ciência e a técnica pode-se dirigir e controlar a sociedade racionalmente, transformar o homem através da educação e a ideia de um sujeito autônomo autodeterminante. Essa crítica atingirá também os pedagogos, porque fundamentos de pensamento e ação válidos, até agora, são interpretados como errados e sem-legitimidade. Essa concepção modificadora ainda está no começo. Existem posturas teóricas que se apoiam favoravelmente nos pressupostos pós-modernos. Há outras que os discutem e não os aceitam. Há também aquelas que matizam sua posição com relação à contribuição dessa teorização para a educação. Giroux (1993) faz uma contribuição ao enfoque pós-moderno para a educação: “A ênfase pós-moderna na rejeição da formas de conhecimento e pedagogia que venham envolvidas no discurso legitimador do sagrado e do consagrado, sua rejeição da razão universal como fundamento para as questões humanas, sua asserção de que todas 49 as narrativas são parciais e seu apelo para que se realize uma leitura crítica de todos os textos científicos, culturais e sociais como construções históricas e políticas, fornecem as bases pedagógicas para radicalizar as possibilidades emancipatórias do ensino e da aprendizagem como parte de uma luta mais ampla pela vida pública democrática e pela cidadania crítica. Nessa visão, a pedagogia não é reduzida ao frio imperativo metodológico de se ensinar interpretações conflitivas sobre o que conta como conhecimento” (idem, ibidem, p.65). McLaren (1993) considera que só recentemente se começou a tirar proveito desses debates para repensar a relação entre escola, cultura, linguagem e poder. Ele afirma que “há pouca precisão no uso do termo pós-modernismo, que também seria moda na academia; não obstante, indica que há um interesse crescente entre os educadores para a discussão da questão de se vivemos ou não numa conjuntura pós-moderna e suas implicações para a avaliação do legado da tradição iluminista moderna” (idem, ibidem, p.24). Outro ponto de debate da pós-modernidade são os cursos de formação que tendem a abandonar a função formadora das qualidades humanas para tornar-se o espaço da fabricação das capacidades, por exemplo, como parâmetro as Universidades Corporativas. Rouanet (apud ANDRÉ, 2008) aponta o problema da educação no modelo adotado, como equivocado, referindo-se ao modelo tecnicista. Sua proposta é resgatar os princípios do ato de educar moderno, que tem, por finalidade, a realização das qualidades humanas, crendo na neutralidade do ato de educar diante das “finalidades utilitárias”. “Proponho chamar de humanidades as disciplinas que contribuam para a formação do homem, independentemente de qualquer finalidade utilitária imediata, isto é, que não tenham necessariamente como objetivo transmitir um saber científico ou uma competência prática, mas estruturar uma personalidade segundo certa paidea, vale dizer, um ideal civilizatório e uma normatividade inscrita na tradição, ou simplesmente proporcionar um prazer lúdico” (ANDRÉ, 2008). Para Rouanet (apud ANDRÉ, 2008), o ensino escolar tem que contribuir para a formação do sujeito cidadão com base na realização de suas “qualidades” reflexivas e sensíveis, para qualquer sistema social vigente. Concluímos que a Pós-Modernidade surge pela invalidação histórica e cultural das grandes análises e seus decorrentes relatos de emancipação. Ou seja, é uma 50 ruptura com o antigo, com a modernidade e uma tentativa de colocar em seu lugar novas maneiras de ensinar e de pensar a sociedade, que ainda não estão de todo definidas histórica e socialmente. Tarouco6; Moro7 & Estabel8 (2003, p.29-44) realizaram um importante levantamento onde traçam um paralelo entre o professor tradicional e o professor educador através do seu perfil comportamental. As autoras também traçaram o paralelo entre o aluno tradicional e o aluno educador. Ambos são apresentados a seguir: Professor Tradicional Professor Educador - A apreensão do conteúdo trata o contexto escolar corno neutro, isento da manifestação de conflitos sociais; o conteúdo é fragmentado "das partes para o todo". - Ao ensinar os conteúdos oculta a razão de ser de muitos fatos e razões sociais. - E coerente com a sua concepção: o conteúdo é apresentado do "toda para as partes", para ter uma visão global dos fatos. - Ao ensinar os conteúdos não separa a necessária apreensão do conteúdo da "leitura crítica" da realidade e nem do "aprender a pensar certo" e desoculta a razão de ser dos problemas sociais. - Preocupações: menos coisas "aprendidas" e mais coisas descobertas; menos coisas sabidas e mais coisas investigadas. Menos "gênio" e mais engenhosidade. - Oportuniza situações interdisciplinares. - Preocupações: mais coisas aprendidas e menos coisas descobertas; mais coisas sabidas e menos coisas investigadas. Mais 'gênio" e menos engenhosidade. - Preocupação com a transmissão de conteúdos relacionados com a sua disciplina, sem oportunizar a inter-relação com as outras disciplinas. - Persegue os objetivos pré-estabelecidos, - Usa imaginação e criatividade própria e dos sem levar em consideração a alunos, com explosão de ideias e entusiasmo individualidade e a participação do aluno. para direcionar as atividades em torno dos objetivos coletivamente estabelecidos. - Não inova, busca modelos tradicionais - Não repete, tudo transforma. (prontos). 6 Doutora em Engenharia Elétrica-Sistemas Digitais (EPUSP). Diretora do Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação – CINTED/UFRGS. Pesquisadora e docente no Programa de PósGraduação Informática na Educação - UFRGS. Professora Titular do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected] 7 Especialista em Informática na Educação - Educação a Distância / UFRGS. Aluna Especial do Doutorado em Informática na Educação – PGIE/UFRGS. Professora do Curso de Biblioteconomia FABICO/UFRGS. E-mail: [email protected] 8 Especialista em Informática na Educação - Educação a Distância/UFRGS, Aluna Especial do Doutorado em Informática na Educação – PGIE/UFRGS. Bibliotecária do Colégio Mãe de Deus e do Instituto Santa Luzia. E-mail: [email protected] 51 Dissemina a informação, apresentando soluções prontas para os problemas, preocupado somente com a assimilação e aquisição do conhecimento do aluno. - Professor é o único protagonista e o aluno é visto como uma "tabula rasa" sem interagir no meio. - Organiza as interações do aluno com o meio e problematiza as situações estimulando o aluno a construir conhecimentos. - Coadjuvante ou protagonista o professor instigará o aluno a reconstruir coletivamente a sua história pessoal solidarizada com a de todos. - Usa a terminologia "assinalar" "responder", - Usa a terminologia: "classificar, "analisar", "marcar", "listar". "predizer", "criar", "distinguir", "refletir", "testar", "trocar". Avaliação: Aferição de nota e/ou conceito. - Avaliação: Parecer descritivo. Autoavaliação. - Avalia apenas por testes ou provas - Acompanha todo o processo de escritas. aprendizagem e construção do conhecimento do aluno. - Predomina o quantitativo sobre o - Predomina o qualitativo sobre o quantitativo. qualitativo. - "Definir é matar." (Mallarmé) - "Sugerir é criar." (Mallarmé) QUADRO 1: Paralelo entre o professor tradicional e o professor educador. FONTE: TAROUCO, MORO & ESTABEL, 2003, p.29-44. O professor da "era da informação" deveria ser o professor educador. Além do que foi colocado acima, deveria ainda apresentar o seguinte perfil comportamental: Ensinar o aluno a aprender a aprender. Perder o medo do computador. Perder a vergonha de dizer que não sabe. Inverter a lógica da escola tradicional e trabalhar a partir das questões dos alunos. Garantir o acesso do aluno à informação. Mostrar que a tecnologia está a serviço do homem, deve ser usada para a libertação e precisa ser operada com ética. Orientar o aluno na busca de conhecimento no mundo de informações aberto pela Internet. Compreender que o conhecimento é dinâmico e está em constante expansão. Saber que só se ensina aprendendo. Ensinar ao aluno que há diferentes caminhos e fórmulas para o mesmo problema, que é preciso testar soluções, cruzar conhecimentos, trocar experiências, expandir. Auxiliar o aluno a desenvolver a capacidade crítica, a distinguir a falsa informação da verdadeira. Estimular a curiosidade, a estranheza e o espanto e direcioná-los para busca do conhecimento. Valorizar ideias, sensibilidades e capacidades de criação. Valorizar, respeitar e proporcionar espaço para as diferenças. (TAROUCO, MORO & ESTABEL, 2003, p.29-44). 52 Saber ser o orientador da busca pelos caminhos e possibilidades de um mundo onde nada mais é estático, definitivo ou seguro. No entanto, o professor deve observar que uma turma de alunos não é homogênea, podendo apresentar a heterogeneidade por meio dos dois perfis: o aluno tradicional e o aluno aprendiz. Aluno Tradicional Aluno Aprendiz - Recebem passivamente as informações do - Explora possibilidades professor a partir do livro-texto - Procura a "resposta certa", segundo o método ensinado pelo professor. - Inventa soluções alternativas - Participação individual, sem estabelecer relação de trocas entre os colegas e o professor. - Colabora e coopera com o professor e com os colegas -Apresenta respostas prontas e memorizadas. (* "decoreba") - Revisa seus pensamentos e apresenta melhor solução encontrada - Lê e responde a ficha de leitura cobrada pelo professor. - Lê, critica, recria e reelabora textos - Avaliação: decora regras e/ou fórmulas - Prepara-se somente para memorizar informações Repete o que o professor diz. - Avaliação: busca novas respostas - Procura reconstruir o que aprendeu - Reconhece suas dificuldades e/ou falhas e procura superá-las: - Interage com o professor, às vezes superando-o. QUADRO 2: Paralelo entre o aluno tradicional e o aluno aprendiz. FONTE: TAROUCO, MORO & ESTABEL, 2003, p.29-44. O aluno aprendiz deve ser agente do seu processo de aprendizagem. O sucesso da EaD está na postura do aluno, no seu envolvimento, na sua responsabilidade diante do processo educacional. Cabe ao aluno sair da posição passiva de espectador e assumir o papel principal, interagindo, colaborando, cooperando, sendo o próprio diretor das suas atuações. Hoje, o professor interage com os alunos e ambos são emissores e receptores, estabelecendo uma relação de troca, de cooperação, de construção em comum. FREIRE (apud FRANCO, 1998) coloca esta questão dizendo que "não deve haver na sala de aula um professor que sabe e alunos que não sabem, mas um "educador-educando e educandos-educadores"” (idem, ibidem, p.151). 53 4. A INTERNET: TECNOLOGIAS Nesse capítulo tomaremos alguns textos de Kant (1999), Kenski (2010), Wiener (1954), Peters (2003), Veneziano (2007) e Lévy (1996; 1997; 1999) que abordam questões referentes à cibernética, à tecnologia, à internet, ao ciberespaço e outras. Isto com o objetivo de esclarecer termos e aplicabilidades na EaD. Os escritos mais conhecidos de Pierre Lévy são: O que é virtual? (1996), As tecnologias da inteligência: futuro do pensamento na era da informática (1997) e Cibercultura (1999). Apesar de serem da década de 1990, as ideias neles contidas são atemporais, permeando todo o tempo atual da sociedade em rede. Assim, Pierre Lévy se tornou um dos principais teóricos da Internet. 4.1. O ATUAL E O VIRTUAL Lévy (1996) em O que é virtual? procura nos esclarecer o sentido da palavra ‘virtual’, amplamente utilizada, pouco entendida, e o seu uso equivocado na atualidade para dizer que está em rede, tal como loja virtual, banco virtual, amizade virtual. Somos levados a pensar que a realidade virtual é irreal ou ilusória. Para Lévy (ibidem), o real seria da ordem do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização. No uso corrente, a palavra virtual é empregada com frequência para significar a pura e simples ausência de existência, enquanto a “realidade” é uma efetuação material, uma presença tangível. Como veremos mais adiante, essa abordagem possui uma parte de verdade interessante, mas é evidentemente demasiado grosseira para fundar uma teoria geral. Conforme comenta Lévy (ibidem): “A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente presente na semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes” (idem, ibidem, p.15). 54 Lévy (1996) introduziu também um conceito de Gilles Deleuze, em Différence et répétition, que faz uma clara distinção entre possível e virtual. “O possível já está todo constituído, mas permanece no limbo. O possível se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua natureza. É um real fantasmático, latente. O possível é exatamente como o real: só lhe falta a existência. A realização de um possível não é uma criação, no sentido pleno do termo, pois a criação implica também a produção inovadora de uma ideia ou de uma forma. A diferença entre possível e real é, portanto, puramente lógica”, (DELEUZE apud LÉVY, 1996, p.15). Assim sendo, Lévy (ibidem) diz: “Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização. Esse complexo problemático pertence à entidade considerada e constitui inclusive uma de suas dimensões maiores. O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar uma árvore. A semente "é" esse problema, mesmo que não seja somente isso. Isto significa que ela "conhece" exatamente a forma da árvore que expandirá finalmente sua folhagem acima dela. A partir das coerções que lhe são próprias, deverá inventá-la, co-produzi-la com as circunstâncias que encontrar” (idem, ibidem, p.15). Para Lévy (ibidem): “A entidade carrega e produz suas virtualidades: um acontecimento, por exemplo, reorganiza uma problemática anterior e é suscetível de receber interpretações variadas. Por outro lado, o virtual constitui a entidade: as virtualidades inerentes a um ser, sua problemática, o nó de tensões, de coerções e de projetos que o animam, as questões que o movem, são uma parte essencial de sua determinação” (idem, ibidem, p.16). Segundo Lévy (ibidem), o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Desse modo, existe algo virtual em ‘tudo’ que se atualiza, ou seja, deixa de ser virtual e torna-se algo que podemos perceber. Como por exemplo: a semente que se transformou em árvore. Para o autor, isso quer dizer que deixa de ser virtual e torna-se algo que podemos nos dar conta. Ou seja, perceber, mas somente através da palavra que existe de fato, assim como o virtual que existe sem estar presente, “o virtual só 55 eclode com a entrada da subjetividade humana no circuito” (LÉVY, 1996, p.40), isto é, através da linguagem. “A linguagem, em primeiro lugar, virtualiza em ‘tempo real’ que mantém aquilo que está vivo e prisioneiro do aqui e agora. Com isso, ela inaugura o passado, o futuro e, no geral, o Tempo como um reino em si, uma extensão provida de sua própria consistência. A partir da invenção da linguagem, nós, humanos, passamos a habitar o espaço virtual, o fluxo temporal tomado com um todo, que o imediato presente atualiza apenas parcialmente, fugazmente. Nós existimos”. (idem, ibidem, p.71). Deste modo, podemos entender que o atual é uma resposta ao virtual, mas nada tem a ver com ele. O virtual produz efeitos à medida que se atualiza, por exemplo, a semente vai se transformando em árvore, ou seja, a semente vai se atualizando e tornando-se uma árvore sem ser virtual. A atualização desfaz o caráter da virtualidade. Lévy (ibidem) nos diz que “o virtual é o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização” (idem, ibidem, p.16). Neste sentido, pode-se entender que o virtual é aquilo que existe enquanto potência, enquanto possibilidade de tornar-se atual e que permanece enquanto potência, numa espécie de contido para se atualizar. A virtualização para Lévy (ibidem) permite a duplicação do corpo, na medida em que é possível criarmos para nós mesmos organismos virtuais que ampliam o conhecimento de nós mesmos. Por exemplo, os equipamentos de visualização médicos, que tornaram transparentes nosso corpo virtual no qual os médicos manipulam; a multiplicação do corpo através das redes sociais e assim por diante. Ao se virtualizar, o corpo se multiplica. A virtualização não pode ser reduzida a um processo de desaparecimento ou de desmaterialização, mas de uma reencarnação, no sentido de reinvenção, de uma multiplicação, numa espécie de heterogênese do humano. A multiplicação do corpo através dos sistemas de realidade virtual que virtualizam os sentidos, criam novas percepções, que nos proporcionam uma integração dinâmica de diferentes modalidades perceptivas. A virtualização verso multiplicação do corpo tem uma relação direta com as relações pessoais e com o espaço verso tempo. A conceituação do espaço tempo pode-se dizer que acompanha a história do pensamento humano. O tempo é 56 enigmático até para os teóricos, Veneziano (2007) nos demonstra três aspectos de pensamentos: “Aristóteles, partidário do tempo sem início (eterno), invoca o princípio de que do nada, nada vem. Se o Universo não poderia nunca ter passado do não ser para o ser, deveria ter existido sempre. Por essa e outras razões, o tempo deve se expandir eternamente pelo passado e pelo futuro” (idem, ibidem, p.71). Os teólogos cristãos costumavam adotar o ponto de vista contrário. Santo Agostinho defende a existência de Deus fora do espaço e do tempo. Quando lhe perguntaram: “O que Deus estava fazendo antes de criar o Universo? Ele respondeu: Como o próprio tempo faz parte de Deus, simplesmente não existia antes” (idem, ibidem, p.71). A teoria da relatividade geral de Einstein afirma “que o espaço e o tempo são entidades maleáveis, flexíveis” (idem, ibidem, p.72). Kant (1781) em Crítica da razão pura, diz que o espaço e o tempo têm condições subjetivas do conhecimento. Para ele o espaço é uma representação a priori que subjaz a todas as sensações externas, ou seja, todo algo fora de mim e diz: “O espaço não é um conceito empírico abstraído de experiências externas. Pois a representação do espaço já tem de estar subjacente para certas sensações se referirem a algo fora de mim (isto é, a algo num lugar do espaço diverso daquele que me encontro), e igualmente para eu poder representá-las como fora de mim e uma ao lado da outra e, por conseguinte não simplesmente diferentes, mas situadas em lugares diferentes. Logo, a representação do espaço não pode ser tomada emprestada, mediante a experiência, das relações do fenômeno externo, mas esta própria experiência externa é primeiramente possível só mediante referida representação” (idem, ibidem, p.73). Para Kant (ibidem) o tempo é intuição e tem seu fundamento também a priori. Só nele é possível toda a realidade dos fenômenos. O que nos permite pressupor que há algo exista ao mesmo tempo (simultâneo) ou em tempos diferentes (sucessivos) e diz que: “O tempo nada mais é senão a forma do sentido interno, isto é, do intuir a nós mesmos e a nosso estado interno. Com efeito, o tempo não pode ser uma determinação de fenômenos externos; não 57 pertencem nem a uma figura ou posição etc., determinando ao contrário a relação das representações em nosso estado interno. É justamente porque essa intuição interna não fornece figura alguma, procuramos substituir essa carência por analogias e representamos a sequencia de tempo por uma linha (continua) que avançada ao infinito” (KANT, 1781, p.79). Para Kant (ibidem), o espaço e o tempo, não são conceitos discursivos, ou um conceito universal, mas sim uma intuição pura e que nos faz fazer a seguinte pergunta: Como o espaço e o tempo se constituem na rede de computadores? O livro de Michael Serres, Atlas, ilustra o tema virtual como “não-presença”. A imaginação, a intuição, a memória, o conhecimento, a religião são vetores de virtualização, que nos fizeram abandonar a presença muito antes da informatização e das redes digitais. Atualmente quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam “não-presentes”, se desterritorializam. Para Lévy (1996) é: “uma espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da temporalidade do relógio e do calendário. É verdade que não são totalmente independentes do espaço-tempo de referência, uma vez que devem sempre inserir em suportes físicos e se atualizar aqui ou alhures, agora ou mais tarde” (idem, ibidem, p.21). A virtualização submete a narrativa clássica a uma prova rude: unidade de tempo sem unidade de lugar (graças às interações em tempo real por redes eletrônicas). Novas fronteiras estão abertas à desterritorialização, ao ser/estar no espaço virtual, à encontrar pessoas, à navegar pelos sites que se encontram em diferentes tempos e espaços e ao não estar presente. Para Lévy (ibidem), “o senso comum faz do virtual, inapreensível, o complementar do real, tangível. Essa abordagem contém uma indicação que não se deve negligenciar: o virtual, com muita frequência, ‘não estar presente’” (idem, ibidem, p.19). Para ele a empresa virtual não pode mais ser situada precisamente. Seus elementos são nômades, dispersos e independentes de sua localização geográfica. Lévy (ibidem) questiona: “Estará o texto aqui, no papel, ocupando uma porção definida do espaço físico, ou em alguma organização abstrata que se atualiza numa 58 pluralidade de línguas, de versões, de edições, de tipografias? O texto está desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas versões, de suas cópias e de suas projeções, desprovido de inércia, habitante ubíquo do ciberespaço. Embora necessite de suportes físicos pesados para subsistir e atualizar-se, o imponderável hipertexto não possui um lugar” (LÉVY, 1996, p.21-20). Para Lévy (ibidem), o fato de não pertencer a nenhum lugar, de frequentar um espaço não designável (onde ocorre a conversação telefônica?), de ocorrer apenas entre coisas claramente situadas, ou de não estar somente “presente” (como todo ser pensante), nada disso impede a existência. Embora uma etimologia não prove nada, assinalemos que a palavra existir vem precisamente do latim sistere, estar colocado, e do prefixo ex, fora de. Existir é estar presente ou abandonar uma presença? Dasein ou existência? Tudo se passa como se o alemão sublinhasse a atualização e o latim a virtualização. Conforme Lévy (ibidem), uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos interesses ou pelos mesmos problemas: a geografia, não é mais um problema e nem uma imposição. Apesar de "não-presente", essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar de referência de localização ela está em toda parte ou em parte alguma. A virtualização reinventa uma cultura nômade e faz surgir um meio de interações sociais onde as relações se reconfiguram com um mínimo de inércia. Conforme Lévy (1996), “Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, eles se tornam ‘não-presentes’ e desterritorializam” (idem, ibidem, p.21). Mas, novamente, nem por isso o virtual é imaginário. Ele produz efeitos. Para o autor: “Era, portanto, previsível encontrar a desterritorialização, a saída de ‘presença’, do ‘agora’ e do ‘isto’ como uma das vias régias da virtualização” (idem, ibidem, p.21). Não estar presente não impede a existência e não significa mais ausência. Todos os elementos aqui descritos são importantes para a EaD, o tempo e a distância deixam de existir através da videoconferência e a virtualização deixa os conteúdos à disposição do aluno, independente do tempo. A não-presença do aluno, 59 não é impedimento nas aulas, pois ele está presentificado, pela virtualização da presença. 4.2. CIBERCULTURA Um dos mais prodigiosos pesquisadores do século XX, Nobert Wiener estudou a teoria da transmissão de mensagens desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Existe um campo de pesquisa que não só inclui o estudo da linguagem, mas também o estudo das mensagens como meios de dirigir as máquinas e a sociedade, o desenvolvimento das máquinas computadoras e autômatos, que envolvem certas reflexões acerca da psicologia e do sistema nervoso, e uma teoria conjetural do método científico. Esta teoria das mensagens é uma teoria probabilística e teve a sua origem em Willard Gibbs. Como não havia uma palavra para designar este complexo de ideias num único termo Wiener (1954) diz “daí que derivei da palavra grega ‘kubernetes’, ou ‘piloto’, a mesma palavra grega de que eventualmente derivamos nossa palavra ‘governador’” (idem, ibidem, p.15). Ele vai além e continua, “mais tarde descobri que essa palavra foi usada por Ampère como referência à ciência política” (idem, ibidem, loc.cit.). A partir daí tudo que se refere a controle, a governo e a informática utiliza-se esse pré-fixo Ciber. Por exemplo: ciberespaço, cibercultura, cibernética, etc. Wiener (ibidem) ao dar a definição da palavra “Cibernética” em seu livro O uso humano de seres humanos, de 1950, coloca a definição na mesma classe de comunicação e controle. E diz: “A tese deste livro é a de que a sociedade só pode ser compreendida através de um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha; e de que, no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre homens e as máquinas, entre máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina, estão destinadas a desempenhar papel cada vez mais importante”. (idem, ibidem, p.16). Para Wiener (ibidem), a ordem dada a uma máquina, não difere da ordem dada a uma pessoa. Ele diz: “Tanto quanto alcança minha consciência, estou ciente da ordem emitida e do sinal de aquiescência recebido de volta” (idem, ibidem, p.16). 60 Após 30 anos William Gibson, em 1984, criou o termo ciberespaço que foi usado em seu livro de ficção científica, Neuromancer. Este termo designa a interconexão das redes digitais, onde são travadas as batalhas entre as multinacionais, sendo que alguns heróis são capazes de entrar “fisicamente” nesse espaço de dados para viver todos os tipos de aventura. O ciberespaço é definido como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 1999, p.92). Trata-se de um novo meio de comunicação estruturado. Essa palavra foi logo incorporada pelos usuários e criadores de redes digitais. “Existe hoje no mundo uma profusão de correntes literárias, musicais, artísticas e talvez até políticas que se dizem parte da ‘cibercultura’”. (idem, ibidem, loc.cit.). Os elementos mais utilizados na cibercultura são os hipertextos, as correspondências e as comunicações online. Os hipertextos são os sites, que permitem uma variedade e diferentes leituras por estarem ligados e interligados uns nos outros, permitindo uma leitura totalmente particular. Uma leitura através do que é chamado de navegação, onde você está livre para ir em qualquer direção. As correspondências online, que são os e-mails, que permitem as pessoas se corresponderem a qualquer momento, enviando cartas eletrônicas sempre que desejarem. A comunicação online diz respeito aos chats, às salas de bate-papo e afins. Os blogs são verdadeiros diários virtuais onde as pessoas podem expor seus temas, suas fotos, suas ideias e uma variedade de assuntos, nos quais outras pessoas podem participar acrescentando comentários ou simplesmente lendo seus escritos. Na comunicação online podemos destacar duas: o Windows Live Messenger (MSN) e o Skype, que além da comunicação escrita, permite a comunicação por imagem e voz. É neste espaço que podemos trocar informações e construir laços sociais. Essa comunidade virtual é construída sobre afinidades e interesses, independente de sua pessoa e proximidades geográficas. Esses elementos da cirbercultura estão cada vez mais presentes em nossas vidas e nos conduzindo para a virtualização da informação e da comunicação. Para Lévy (1999): “O ciberespaço como suporte da inteligência coletiva é uma das principais condições de seu próprio desenvolvimento. Este é um fenômeno complexo e ambivalente” (idem, ibidem, p.29). 61 Para ele o crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a essa inteligência um ambiente propício. Para a EaD o ciberespaço com sua virtualidade é importante por permitir a conexão entre alunos, professores e a utilização de hipertextos virtualizados e desterritorializados. O virtual é obviamente uma dimensão importante da realidade. Para Lévy (1999) em geral acredita-se que uma coisa deva ser real ou virtual, que, portanto, ela não pode possuir as duas qualidades ao mesmo tempo. No entanto, a virtualidade e atualidade são apenas dois modos diferentes da realidade. Voltemos ao exemplo da árvore, “se a produção da árvore está na essência do grão, então a virtualidade da árvore é bastante real (sem que seja, ainda, atual)” (idem, ibidem, p.47). A forma de virtualização através da digitalização é importante para a EaD, uma vez que podemos transformar uma informação em números (0s e 1s) chamados de binários. Deste modo, quase todas as informações podem ser codificadas dessa forma: como texto, imagem e som. O texto pode ser digitalizado, uma imagem pode ser transformada em pixels (picture elements), significando que qualquer imagem pode ser traduzida numa sequencia de números. O som também pode ser digitalizado, que é feito através de amostragens das frequências que são posteriormente traduzidas em números. A importância da digitalização é que todos esses elementos (texto, imagem e som) podem ser digitalmente codificados, transmitidos e copiados indefinitivamente sem perda de informação e qualidade. Enquanto os sons e imagens gravadas analogicamente se degradam irremediavelmente a cada nova cópia ou transmissão. Os binários (um e zero) permitem o apagamento, substituição, separação, ordenação, desvio e endereçamento, mediante ao processo de controle e integridade, razão pela qual podemos obter rapidamente a reprodução em escala quantitativa. Estas informações codificadas como números são rapidamente recompostas através de cálculos feitos pelo computador. Lévy (ibidem) diz: “O computador, então, não é apenas uma ferramenta para produção de textos, sons e imagens, é antes de mais nada, um operador de virtualização da informação” (LÉVY, 1999, p.55). O computador com todas essas multimídias é o fator central da comunicação e da informação na EaD. Para a melhor compreensão da palavra 62 multimídia Lévy (1999), define algumas palavras-chave do universo da informação e da comunicação. O termo multimídia para ele significa: “em princípio, aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação. Infelizmente é raro que seja usado nesse sentido. Hoje a palavra refer-se geralmente a duas tendências principais dos sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração digital”. (idem, ibidem, p.63). A mídia é o suporte ou veículo da mensagem. O impresso, o rádio, a televisão, o cinema ou a internet, por exemplo, são mídias. Conforme o autor, a recepção de uma mensagem coloca em uso diversas modalidades perceptivas, por exemplo: o impresso coloca em ação principalmente a visão e em segundo lugar o tato, há texto e imagens. O cinema falado ou a televisão, a visão e audição. A realidade virtual coloca em ação a visão, a audição, o tato e a cinestesia (sentido interno do movimento do corpo). A codificação, analógica ou numérica, refere-se ao sistema fundamental da gravação e transmissão da informação, por exemplo, no disco de vinil a codificação é analógica e no CD de áudio a codificação é digital. As mídias rádio, televisão, o cinema e a fotografia, podem ser analógicos ou digitais. O dispositivo informacional qualifica a estrutura da mensagem ou o modo de relação dos elementos de informação. Segundo Lévy (ibidem), as mensagens podem ser lineares, como ocorre com a música, o cinema e textos ou em rede. Os hiperdocumentos codificados digitalmente não foram os criadores da estruturas em rede. Elas existem há tempos num dicionário (no qual cada palavra nos remete a outras), numa enciclopédia (com seus índices, tesauro e remissões múltiplas), em uma biblioteca (com seus fichários e referências cruzadas de um livro para outro) e já possuem uma estrutura reticulada. O ciberespaço fez com que surgissem dois novos dispositivos informacionais que são originais em relação às mídias precedentes. Para Lévy (1999) são: “o mundo virtual e a informação em fluxo” (idem, ibidem, p. 62). O mundo virtual dispõe as informações em um espaço continuo, e não em rede, e o faz em função da posição do explorador dentro desse mundo (princípio de imersão), por exemplo, nesse sentido o videogame já é um mundo virtual. A informação em fluxo designa dados em estado contínuo de modificação, dispersos entre memórias e canais interconectados que podem ser percorridos, filtrados e apresentados ao usuário 63 (cibernauta) de acordo com as instruções dos programas e outras ferramentas de auxílio à navegação, por exemplo, os navegadores Firefox, Explorer e as ferramentas de buscas Google, Yahoo, o Lycos, entre outras. Para Lévy (1999) “A noção de dispositivo informacional é, em princípio, independente da mídia, da modalidade perceptiva em jogo ou do tipo de representação transportada pelas mensagens” (idem, ibidem, p.63). Por último, o dispositivo comunicacional, designa a relação entre os participantes da comunicação e é o mais interessante para a EaD. Lévy (ibidem) distingue três grandes categorias de dispositivo comunicacionais: um-todos, um-um e todos-todos. Por exemplo, a impressa, o rádio e a televisão são estruturados de acordo com o princípio um-todos: um centro emissor e diversos receptores passivos e dispersos. O correio e o telefone organizam relações recíprocas entre interlocutores, mas apenas para contatos de indivíduo a indivíduo ou ponta a ponto, ou seja, dispositivo um-um. O ciberespaço torna disponível um dispositivo comunicacional original, já que para Lévy (ibidem), “ele permite que comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto comum (dispositivo todos-todos)” (idem, ibidem, p.63). Na EaD por exemplo, os alunos enviam mensagens para o professor que podem ser lidas por todos os outros alunos e às quais o professor responde a todos e os alunos podem também participar individualmente. Para o autor, os mundos virtuais para diversos participantes, os sistemas para ensino, o trabalho cooperativo, ou até mesmo, em uma escala maior a WWW, podem ser considerados sistemas de comunicação todos-todos. Mais uma vez, o dispositivo comunicacional independe dos sentidos implicados na recepção, e também do modo de representação da informação. Lévy (1999) insiste nesse ponto porque para ele: “são os novos dispositivos informacionais (mundos virtuais, informação em fluxo) e comunicacionais (comunicação todos-todos) que são os maiores portadores de mutação culturais, e não o fato de que se misture o texto, a imagem e o som, como parece subentendido na noção vaga de multimídia” (idem, ibidem, p.63). Desse modo, a EaD está expandido rapidamente para diversos cantos do mundo, por usar todo esse conceito de multimídia. E é através da ferramenta de videoconferência, que a EaD transmite o conhecimento. 64 4.3. TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA EAD Nas atividades cotidianas lidamos com vários tipos de tecnologias, uma das mais conhecidas atualmente é a internet com seus respectivos serviços. Algumas dessas tecnologias passam despercebidas no cotidiano, como por exemplo, a transmissão de luz e a distribuição de água nas grandes cidades, só a percebemos quando elas faltam. Outras, porém, se evidenciam, gerando, inclusive, intensos debates, como por exemplo, a energia nuclear, a biotecnologia entre outras. Kenski (2010) marca uma diferença entre a tecnologia e a técnica: “Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade nós chamamos de ‘tecnologia’. Às maneiras, aos jeitos ou às habilidades especiais de lidar com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, nós chamamos de ‘técnicas’” (idem, ibidem, p.18). As tecnologias sempre foram ameaçadoras para os humanos, porque, no passado, elas invadiram os pensamentos com tecnologias alienígenas que dominariam a terra, invadem atualmente com a robótica e com a tecnologia da informação, que dominarão o futuro como máquinas poderosas, com capacidades de subjugar os humanos. Os filmes de ficção científica sempre exploraram o confronto entre os humanos e as máquinas. Para Kenski (ibidem), “essa visão redutora sobre o conceito de tecnologia como algo negativo, ameaçador e perigoso deixa aflorar um sentimento de medo. As pessoas se assustam com a possibilidade de que se tornem realidade as tramas ficcionais sobre o domínio do homem e da Terra pelas “novas e inteligentes tecnologias”. (idem, ibidem, p.17). A tecnologia está presente em nosso cotidiano de tal forma que muitas vezes nem sequer nos damos conta delas. Isso só ocorre quando elas falham. Um exemplo disso é a água que corre nas torneiras, a luz elétrica que ilumina a nossa leitura e faz funcionar a rede de computadores. Na vida contemporânea pode-se dizer que existem duas tecnologias de grande importância. São elas: a televisão e o computador, conectado através da internet. 65 Essa interação entre o conteúdo veiculado pelas tecnologias midiáticas e as tecnologias da inteligência também é observada por Derrick Kerckhove (apud KENSKI, 2010) que nos diz que a: “TV fala ao corpo, não à mente. O corpo reage às imagens, aos movimentos e às informações que aparecem na tela. É impossível acompanhar racionalmente a velocidade do que é ali apresentado, mas há uma interação imediata com o nosso espaço físico corporal, nosso sistema nervoso e nossas emoções. Para Kerckhove, “perceber a cultura televisiva implica conhecer a razão e a forma como a televisão nos fascina para além do nosso consciente” (KERCKHOVE apud KENSKI, 2010, p.22). As tecnologias da informação e comunicação, as midiáticas, são inclusas na internet, elas interferem no nosso modo de relacionamentos sociais (e-mail, twitter, facebook), no modo de pensar, sentir, agir e adquirir conhecimentos (EaD, Google, Bing, canais para TV da Discovery). Criam uma nova cultura de saber e influenciam no modelo de sociedade. Na era da informação, comportamentos, práticas, informações e saberes se alteram com extrema velocidade. Um saber ampliado e mutante caracteriza o atual estágio do conhecimento na atualidade. Para Kenski (2010): “essas alterações refletem-se sobre as tradicionais formas de pensar e fazer educação. Abrir-se para novas educações – resultantes de mudanças estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilitadas pela atualidade tecnológica – é o desafio a ser assumido por toda a sociedade”. (idem, ibidem, p.26-27). Tradicionalmente, o ensino e o aprendizado de conceitos era tarefa exclusiva da escola, ou seja, para nos educarmos tínhamos que ir à escola. “O espaço e o tempo de ensinar eram determinados. ‘Ir à escola’ representava um movimento, um deslocamento até a instituição designada para a tarefa de ensinar e aprender. O ‘tempo da escola’, também determinado, era considerado como o tempo diário que, tradicionalmente, o homem dedicava à sua aprendizagem sistematizada. Correspondia, também, na sua história de vida à época que o homem dedicava à formação escolar” (idem, ibidem, p.30). 66 A dinâmica da sala de aula também se altera, alunos e professores agora estão fisicamente em lugares diferentes. O ensino privilegia o trabalho em equipe, em que o professor passa a ser um tutor. Para essas novas “escolas virtuais” nada é fixo, o tempo e o espaço são independentes, o espaço social das salas de aula são trocados pela interação, os diálogos e trocas sobre os conhecimentos são virtuais e a reciclagem deve ser permanente para poder acompanhar essa nova estrutura do saber. Nas palavras de Serres (apud KENSKI, 2010): “Outrora visíveis e construíveis em sólido, as escolas [nas redes] apagam as distâncias no espaço real e reúnem em lugares não-assinaláveis, grupos virtuais. Nas escolas virtuais, invisíveis, no espaço do mundo, o que há de mais normal do que partilhar números, histórias, línguas, receitas, endereços ou sutilezas ... dos quase-objetos ausentes? Que conteúdos se poderiam melhor adaptar às imagens, às associações, às instituições virtuais a não ser os do saber e da formação?” (SERRES apud KENSKI, 2010, p. 175-189). Na concepção de Serres as tecnologias aplicadas à escola virtual também são uma forma de libertação para o aluno: dos bullyings, do transporte, das roupas, do peso dos livros e cadernos e, muitas vezes, até de horários rígidos. O autor ressalta que a escola virtual não é polifônica. Elas são destinadas ao saber e a formação do aluno. Nesses ambientes virtuais os corpos não falam e não há a linguagem da sedução. Serres considera a escola virtual como uma forma de libertação do aluno “de ter que suportar as relações violentas e brutais dos pátios do recreio, e do sufoco dos vaivéns pendulares para e da escola, nas grandes cidades congestionadas” (SERRES apud KENSKI, 2010, p.191). Para Lévy (1999), “as escolas virtuais são pontos de encontro no ciberespaço, em que se apresenta um aqui e agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definíveis” (idem, ibidem, p.247). Com todos esses novos conceitos e tecnologia, na contemporaneidade, está surgindo uma nova modalidade de ensino, que é a combinação entre o ensino com auxilio da tecnologia e a educação à distância. Para tal combinação é usado o termo e-learning. Moraes (2010) ressalta que “o uso das tecnologias digitais e do chamado elearning ainda se mostra controverso, com vantagens e desvantagens. De um lado, 67 se ganha em produtividade àquilo que se perde em isolamento do estudante” (MORAES, 2010, p. 49). Com o acesso às redes, multiplicam-se as possibilidades educativas da escola. Pode-se acessar informações, bibliotecas, para se comunicar através de email, chat, facebook, twitter, para fazer divulgações, oferecer informações e serviços. Todas essas atividades poderão ser realizadas no âmbito da instituição por seus professores, alunos e funcionários. Estamos numa fase de transição da EaD. Para atender o problema exposto anteriormente, muitas universidades e organizações estão se especializando na tarefa de fornecer conteúdos específicos para a EaD, como: novos livros didáticos, manuais, testes, uso de iPad, para os seus cursos e para instituições conveniadas, atendendo essa demanda pode-se citar como exemplo, mais uma vez, a Open University, na Inglaterra, e a Universidade Nacional à Distância, na Espanha. Atualmente, o conteúdo é oferecido para grupos, provavelmente em um futuro próximo tais recursos serão utilizados individualmente. Neste processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos não estão no mesmo local físico, mas em diferentes locais, conectados através de tecnologias, o serviço mais utilizado atualmente, na EaD, é a videoconferência com o serviço de transmissão multimídia. A videoconferência é uma tecnologia que permite o contato visual e sonoro entre pessoas que estão em diferentes locais. As conexões podem ser feitas via internet ou conexões privadas de banda larga, como as utilizadas nas salas de videoconferências particulares, todas as opções devem ter equipamentos de transmissão multimídia. Para o serviço de videoconferência via internet está sendo utilizada a banda larga das TVs a cabo, o que permite a transmissão em tempo real de som e imagem (streaming), facilitando a interação entre duas ou mais pessoas. A integração entre TV e WEB, que gerou a iTV, permite que o professor e o aluno interajam com a aula apresentada, naveguem na rede e acessem informações, isso tudo simultaneamente. Com a implantação da banda larga utilizada pelas TVs a cabo, para a transmissão em alta definição High-definition (HD), abrem-se novas possibilidades para a Educação à Distância, devido a qualidade da transmissão em tempo real. Com todas essas tecnologias convergentes, uma nova modalidade de ensino foi iniciada pela EaD, que é o ensino continuado, um aprendizado constante. Essa 68 nova abordagem de aprendizado necessário às novas tecnologias estão acabando com o antigo termo de aprendizado long-life. Ou seja, os conhecimentos adquiridos durante o ensino médio e na faculdade perpetuariam durante a sua vida ativa para o trabalho. Com o aprendizado continuado o ensino deixa de ser fechado durante a juventude. No caso de uma tecnologia evoluir e necessitar de novos ensinamentos, pode-se utilizar a EaD para ter diversos professores especialistas numa determinada área, compartilhando seus conhecimentos específicos, visando o aprimoramento do aluno numa formação constante. A EaD também muda o conceito de aula, os horários e locais de estudo. Estes serão cada vez mais flexíveis, abrindo uma ampla oportunidade para indivíduos e grupos sociais que não podem comparecer às salas de aulas pelo seu ritmo de vida e de trabalho. O professor continuará “ministrando aula”, mas utilizando uma plataforma de desenvolvimento de interação entre ele e o aluno, por exemplo, podemos citar o Moodle, a plataforma mais utilizada atualmente na EaD. O Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (MOODLE) é uma plataforma aberta (GLP, open source) com tecnologias interativas embutidas, tais como: receber e responder e-mails dos alunos, criar listas de discussão, liberar textos de acordo com a necessidade, chats, links, páginas da internet, trocar experiências, esclarecer dúvidas e inferir resultados dentro ou fora de um horário específico. Outra noção que devemos ter é que na EaD, cada curso tem que ter um tutor responsável por um grupo de alunos. Ele deverá estar atento ao ritmo pessoal de cada aluno, sua interação com o grupo e com o comportamento do grupo. O tutor é um professor que atua como mediador no processo de aprendizagem, ele é quem estabelece a rede de comunicação e aprendizagem, sem se desvincular do sistema educacional e das funções pedagógicas. O tutor constrói o ambiente de aprendizagem multidirecional através dos recursos multimídias, visando vencer a distância física entre educador e o educando. Para Peters (2003), com os novos aplicativos produzidos para as tecnologias de informação e comunicação digitais, a didática da EaD obteve um desenvolvimento sem precedentes e que ultrapassa muito todas as inovações didáticas anteriores. Não se trata apenas de uma inovação, mas de uma série, que atualmente se converge e se potencia. Dentre essas tecnologias três se sobressaíram, são elas: os computadores, o melhoramento das telecomunicações e 69 a tecnologia multimídia. Devido esses avanços qualquer pessoa compreenderá as vantagens que a EaD poderá ter no futuro. Uma vez que o ambiente de estudo dos tele-estudantes esteja com os equipamentos adequados, com acessos à internet, com os meios de comunicação e banda larga, aparecerá a seguinte vantagem estrutural em termos gerais: a distância, que é intrínseca da EaD, se tornará, em determinadas fases, proximidade. As novas tecnologias ampliam as formas do ensino e da aprendizagem, o que pode tornar a aprendizagem mais atraente e eficiente. E para os docentes amplia-se o espaço para a didática. Agora com essa tecnologia disponível podem ser criados e desenvolvidos cursos que deixam para trás as limitações e os empecilhos existentes. Peters (2003) considera que: “a revolução digital não apenas modificará o EaD, mas também nossa vida em geral. Estão sendo reestruturadas especialmente as áreas do trabalho, da família e do lazer, através das redes de computadores que nos permite comunicar com pessoas em qualquer parte e permeiam nossas atividades com informação. Isso significaria para as teleuniversidades não somente o ensino a distância, mas também o ensino com presença será atingido pela revolução digital e terá que desenvolver novas formas de ensino e aprendizagem” (idem, ibidem, p. 233). Peters (ibidem) postula que os estudantes deverão adaptar-se ao novo método de aprendizagem. Primeiro, a liberdade de tomar decisões sobre o andamento de seus estudos. Segundo, eles mesmos têm que encontrar o seu próprio caminho, sendo obrigados a refletir constantemente até que ponto desejam chegar com os seus estudos, o que por vários motivos pode ser conflitante. Terceiro, os tele-estudantes podem construir um grupo no qual discutem entre si com a ajuda da videoconferência, enviando trabalhos digitados a todos os membros do grupo ou respondendo aos trabalhos recebidos. Peters (ibidem) lista uma série de vantagens e desvantagens do modelo de ensino mediado por computador. As vantagens são claras: o docente poderá praticar o ensino virtual, aula virtual, tutoria virtual, seminário virtual e outros. Esse tipo de ensino é capaz de compensar, em parte, evidentes carências do ensino tradicional. Através da EaD os estudantes podem trocar ideias, discutir entre si e resolver controvérsias. Desse modo, a interatividade do estudo é considerada elevada. E, o 70 mais importante, o seu isolamento social é rompido por determinado período de tempo, criando a proximidade. Naturalmente há desvantagens na EaD, tais como: “Os telestudantes podem ausentar-se por longos períodos sem que sua falta seja percebida. Perder o controle diante da grande quantidade de mensagens que entram e se sobrepõem, tornando-se supérfluas. O comportamento dos ‘outros colegas’ em relação ao estudo permanece ignorado. Se a discussão não for habilmente conduzida, é grande o perigo de cair em samll talk e conversa fiada. Existem ‘perturbadores’ notórios, que atrapalham o curso da discussão. Inversamente em virtude da fascinação do trabalho por computador, a atenção e a participação ativa podem degenerar em fixação no objeto em estudo – efeitos de um comportamento vicioso on-line”. (idem, ibidem, p. 248). Para Randy Garrison (apud PETERS, 2003), toda essa problemática pode ser resumida da seguinte forma: “a essência de todo processo de ensino e aprendizagem é a comunicação entre docentes e discentes, pois a eficiência do ensino depende do apoio adequado ao estudante, através da comunicação” (idem, ibidem, p.248). Verifica-se assim, que num futuro próximo, com a utilização das tecnologias caracterizadas como midiáticas, aliadas a um baixo custo dos equipamentos, os cursos superiores de determinadas áreas do conhecimento, utilizando a tecnologia EaD, poderão superar em números os cursos presenciais. Vale ressaltar que todas essas tecnologias mais avançadas, convergentes, ainda não substituíram o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o telefone e, principalmente, a presença física do professor nas salas de aulas do mundo todo. 71 5. PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO Nesse capítulo tomaremos alguns textos de Sigmund Freud que abordam questões referentes à educação e a transferência para interrogar: o que a psicanálise tem a dizer sobre a relação professor-aluno na educação à distância? Logo de início vale ressaltar que em 1925, no Prefácio para a juventude desorientada, de August Aichhorn, Freud postulou: “Aceitei o bon mot que estabelece existirem três profissões impossíveis – educar, analisar e governar (...)” (FREUD, 1925, p.341). Freud (ibidem) afirmava que era preciso incluir a psicanálise entre as profissões impossíveis, ao lado da educação e da arte de governar. As três repousam sobre os poderes que um homem pode exercer sobre outro mediante a palavra e as três encontram os limites de sua ação no fato de que não se submetem ao inconsciente, pois é ele que nos sujeita. Em 1937, em Análise terminável e interminável, Freud acrescenta: “(...) a análise, a terceira daquelas profissões impossíveis quanto às quais, de antemão, se pode estar seguro de chegar a resultados insatisfatórios (...)” (FREUD, 1937, p.282). Admitindo que a psicanálise é um saber, teremos de concordar que existe, pelo menos, um campo de saber que admite que há um impossível que sempre escapa. Faremos uso de um texto de Freud (1914b) intitulado Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar, para ressaltar a importância da relação professoraluno em sua concepção. Segundo as informações de James Strachey, esse texto foi escrito para um volume coletivo em comemoração ao 50º aniversário de fundação do colégio em que Freud estudou dos nove aos 17 anos de idade (1865-1873), Leopoldstädter Kommunal-read-und Obergymnasium, popularmente conhecido em Viena como o Sperlgymnasium. Na comemoração do jubileu de sua escola os pensamentos de Freud se dirigem aos seus professores. Freud inicia seu texto mencionando a sensação esquisita, quando, já na idade madura, se recebe uma ordem de fazer uma redação escolar aos 60 anos de idade. Diz que, talvez, há dez anos pudesse ter tido momentos em que, de repente, sentiase novamente jovem. Caminhando pelas ruas de Viena poderia encontrar inesperadamente algum cavaleiro idoso, bem conservado, ao qual saudasse porque o reconhecera como um de seus antigos professores. Porém, depois pararia e refletiria: “Seria realmente ele? Ou apenas alguém muito semelhante? Como parece 72 jovem! E como estou velho! Que idade poderá ter hoje? Será possível que os homens que costumavam representar para nós protótipos de adultos, sejam realmente tão pouco mais velhos que nós?” (Freud, 1914b, p.247). Freud (ibidem) observa que em momentos como esse, costumava achar que o tempo presente parecia mergulhar na obscuridade e os anos entre os dez e os dezoito surgiam dos escaninhos da memória, com todas as suas conjecturas e ilusões, suas deformações, dolorosas e seus incentivadores sucessos, seus primeiros vislumbres de uma civilização extinta, seus primeiros contatos com as ciências, entre as quais lhe parecia aberta a escolha daquela à qual ele dedicaria os seus inestimáveis serviços. Durante todo esse tempo ele tinha a premonição de uma tarefa futura, até que essa encontrou expressão manifesta na sua redação de despedida da escola, como um desejo de que pudesse, no decurso de sua vida, contribuir com algo para o conhecimento humano. Mais tarde tornou-se médico e pode criar uma nova disciplina, a psicanálise, que desperta um interesse excitado e é acolhida com louvores e ataques por médicos e investigadores de países vizinhos e terras distantes e estrangeiras. Como psicanalista, Freud está destinado a se interessar mais pelos processos psíquicos que pelos intelectuais, mais pela vida inconsciente que pela consciente. Sua emoção ao encontrar seu velho mestre da escola adverte-lhe que, antes de tudo, deve admitir uma coisa: “é difícil dizer se o que exerceu mais influência sobre nós e teve importância maior foi a nossa preocupação pelas ciências que nos eram ensinadas, ou pela personalidade de nossos mestres. É verdade, no mínimo, que esta segunda preocupação constituía uma corrente oculta e constante em todos nós e, para muitos, os caminhos das ciências passavam apenas através de nossos professores. Alguns detiveram-se a meio caminho dessa estrada e para uns poucos – porque não admitir outros tantos? – ela foi por causa disso definitivamente bloqueada” (idem, ibidem, p.248). Freud (ibidem) confessa: “Nós os cortejávamos ou lhe virávamos as costas; imaginávamos neles simpatias e antipatias que provavelmente não existiam; estudávamos seus caracteres e sobre estes formávamos ou deformávamos os nossos. Eles provocavam nossa mais enérgica oposição e forçavam-nos a uma submissão completa; bisbilhotávamos suas pequenas fraquezas e orgulhávamo-nos de sua excelência, seu conhecimento e sua justiça. No fundo, sentíamos 73 grande afeição por eles, se nos davam algum fundamento para ela, embora não possa dizer quantos se davam conta disso. Mas não se pode negar que nossa posição em relação a eles era notável, uma posição que bem pode ter tido suas inconveniências para os interessados. Estávamos igualmente inclinados a amá-los e a odiálos, a criticá-los e a respeitá-los. A psicanálise deu o nome de ‘ambivalência’ a essa facilidade para atitudes contraditórias e não tem dificuldade em indicar a fonte de sentimentos ambivalentes desse tipo” (FREUD, 1914b, p. 248). O autor observa que a psicanálise nos mostrou que as atitudes afetivas dos sujeitos para com outras pessoas, que são de extrema importância para seu comportamento posterior, já estão estabelecidas numa idade surpreendentemente precoce. A natureza e a qualidade das relações da criança com as pessoas do seu próprio sexo e do sexo oposto, já foi firmada nos primeiros seis anos de sua vida. Sendo assim, ela pode posteriormente desenvolvê-las e transformá-las em certas direções, mas não pode mais livrar-se delas. As pessoas a quem se acha ligadas são os pais e os irmãos e irmãs. Todos que vem a conhecer mais tarde tornam-se figuras substitutas desses primeiros objetos de seus sentimentos. Freud verifica que essas figuras substitutas podem classificar-se, do ponto de vista da criança, segundo provenham das ‘imagos’ do pai, da mãe, dos irmãos e das irmãs. Seus relacionamentos posteriores são obrigados a arcar com uma espécie de herança psíquica, defrontam-se com simpatias e antipatias para cuja produção esses próprios relacionamentos pouco contribuíram. Freud postula que todas as escolhas posteriores, de amizade e amor, seguem a base das lembranças deixadas por esses primeiros protótipos. Freud esclarece que de todas as imagens de uma infância que, via de regra, não é mais recordada, nenhuma é mais importante para um jovem ou para um homem que a do pai. A necessidade introduz, na relação de um homem com o pai, uma ambivalência que encontramos expressa de forma mais notável no mito Grego do rei Édipo. Um rapazinho está fadado a amar e admirar o pai, que lhe parece ser a mais poderosa, bondosa e sábia criatura do mundo. O próprio Deus é apenas uma exaltação dessa imagem do pai, tal como é representado na realidade psíquica durante a mais tenra infância. Cedo, porém, surge o outro lado da relação. O pai é identificado como o perturbador máximo da vida pulsional. Torna-se um modelo não apenas a ser imitado, mas também a ser eliminado para que possamos tomar seu lugar. A partir disso, os impulsos afetuosos e hostis para com ele persistem lado a 74 lado, muitas vezes, até o fim da vida, sem que nenhum deles seja capaz de anular o outro. É nessa existência concomitante de sentimentos contrários que reside o caráter essencial daquilo que a psicanálise chama de ambivalência. Freud (1914b) verifica que na segunda metade da infância, se dá uma mudança na relação do menino com o pai. Do seu quarto de criança, o menino começa a vislumbrar o mundo exterior e não pode deixar de fazer descobertas que solapam a opinião original que tinha sobre o pai e que apresentam o desligamento do seu primeiro ideal. Descobre que o pai não é o mais poderoso, sábio e rico dos seres. Fica insatisfeito com ele, aprende a criticá-lo, a avaliar o seu lugar na sociedade. E então, em regra, faz com que ele pague pesadamente pelo despontamento que lhe causou. Tudo que há de admirável, e de indesejável, na nova geração é determinado por esse desligamento do pai. Freud (ibidem) chama atenção para o fato de que é nessa fase do desenvolvimento de um jovem que ele entra em contato com os professores, de maneira que podemos entender a sua relação com eles. Estes homens, nem todos pais, na realidade tornam-se pais substitutos. É por essa razão que, embora ainda bastante jovens, impressionam como tão maduros e tão inatingivelmente adultos. Com o trabalho de Freud (ibidem) podemos concluir que a transferência se estabelece na relação aluno-professor: “Transferimos para eles o respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois começamos a tratá-los como tratávamos nossos pais em casa. Confrontâmo-los com a ambivalência que tínhamos adquirido em nossas próprias famílias e, ajudados por ela, lutamos como tínhamos o hábito de lutar com nossos pais de carne e osso. A menos que levemos em consideração nossos quartos de criança e nossos lares, nosso comportamento para com os professores seria não apenas incompreensível, mas também indesculpável” (idem, ibidem, p.249). 5.1. A TRANSFERÊNCIA Freud (1893-1895) mencionou o termo transferência pela primeira vez em Estudos sobre histeria. No decorrer das análises, Freud (1900) percebeu que a figura do analista funcionava como um resto diurno, sobre o qual o paciente “trabalhava”, transferindo para ele imagens que se relacionavam com antigas vivências do paciente com outras pessoas. Em momento algum a transferência era 75 percebida pelos seus pacientes. Assim, se deu conta de que estava diante de uma manifestação inconsciente, “que constitui, por isso mesmo, um bom instrumento de analise desse inconsciente” (KUPFER, 2007, p.88). Freud (1900) também observou que a transferência ocorria nas diferentes relações estabelecidas pelas pessoas no decorrer da vida. Entendida como “a repetição de protótipos infantis vivida com uma sensação de atualidade acentuada” (KUPFER, 2007, p.88), nada impede que a transferência se dirija ao analista ou a qualquer outra pessoa. “Freud chega a afirmar que ela está presente também na relação professor-aluno. Trata-se de um fenômeno que permeia qualquer relação humana, e é isso o que nos autoriza a substituir a expressão “relação analistapaciente” pela expressão “relação professor-aluno” (KUPFER, 2007, p.88). “Que são transferências? São reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como singularidade característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do analista. Em outras palavras: toda uma série de acontecimentos psíquicos ganha vida novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual com a pessoa do analista” (FREUD, 1905[1901], p.111). Os diversos argumentos de Freud, sobre o conceito de transferência, explicitam que um professor também pode tornar-se a pessoa a quem são endereçados os interesses de seu aluno porque é objeto de uma transferência. Essa formulação tem implicações tanto para o analista como para o professor, uma vez instalada a transferência ambos tornam-se depositários de algo que pertence ao analisante ou ao aluno. Em decorrência disso, tais pessoas ficam carregadas de uma importância especial. É dessa importância que emana o poder que o professor ou o analista tem sobre o aluno ou analisante. Em razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também uma manifestação de poder. “O problema é que, com esse poder em mãos, não é fácil usá-lo para libertar um “escravo” que se escravizou por livre e espontânea “vontade”. A história mostra que a tentação de abusar do poder é grande. No caso do professor, abusar do poder seria equivalente a usá-lo para subjugar o aluno, impor-lhe seus próprios valores e ideias. Em outras palavras, impor seu próprio desejo, fazendo-o sobrepor-se àquele que movia seu aluno a colocá-lo em destaque. O professor também é um sujeito marcado pelo desejo de seu inconsciente. É exatamente esse desejo que o impulsiona para a 76 função de mestre, e justifica que ele esteja ali. Mas, estando ali, ele precisa renunciar a esse desejo” (KUPFER, 2007, p.93-94). No texto A dinâmica da transferência, Freud (1912a) esclarece que manejar os fenômenos da transferência representa para o analista as maiores dificuldades. No entanto, ele não deve esquecer que são precisamente os fenômenos da transferência que prestam o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos ocultos e esquecidos do paciente. Freud (ibidem) observa que através dos impulsos libidinais e das influências sofridas durante os primeiros anos de vida, o sujeito consegue um método próprio para se conduzir na vida erótica. Os impulsos libidinais sofrem uma cisão. Uma parte passa por todo o processo do desenvolvimento psíquico e é dirigida para a realidade. Outra parte permanece ou é retida (recalcada), ou impedida de expansão no inconsciente. Dessa maneira, se a necessidade que alguém tem de amar não é inteiramente satisfeita pela realidade, ele tende a aproximar-se de cada nova pessoa que encontra, com ideias libidinais antecipadas. E é bastante provável que ambas as partes de sua libido, a consciente e a inconsciente, tenham sua cota na formação dessa atitude. Sendo assim, é perfeitamente normal e inteligível que o investimento libidinal do paciente parcialmente insatisfeito e com um investimento antecipado, dirija-se também para a figura do analista, que o incluirá numa das ‘séries’ psíquicas que já formou. Se a ‘imago paterna’, foi o fator decisivo no caso, o resultado concordará com as relações reais do sujeito com seu analista. Contudo, a transferência não se acha presa a este protótipo específico: pode surgir também semelhante à imago materna ou à imago fraterna. As observações de Freud (ibidem) mostram que num paciente, quando as associações cessam, esta falta pode ser removida pela garantia de que o paciente está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação com o analista ou com algo a este vinculado. Assim que esta explicação é fornecida, a interrupção é removida ou a situação se altera com as associações que faltam ou com as retidas. À primeira vista, parece ser uma imensa desvantagem, que o que era um fator de sucesso para a psicanálise se transforme no mais poderoso meio de resistência. Segundo Freud (ibidem), nas instituições em que doentes são tratados de modo não analítico, podemos observar que a transferência ocorre com maior intensidade e sob 77 as formas mais indignas, chegando à servidão psíquica e apresentando o mais claro colorido erótico. Essas características da transferência, portanto, não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim à própria neurose. Freud (ibidem) examina a razão pela qual a transferência aparece na psicanálise como resistência. Observa que, a introversão ou a regressão da libido se dá quando uma parte da libido, que pode se tornar consciente e dirigida para a realidade, tem sua força diminuída e a outra parte, inconsciente, que se dirige para longe da realidade e pode alimentar as fantasias do sujeito, é proporcionalmente aumentada. A libido (inteiramente ou em parte) entra em regressão e revive as representações inconscientes infantis do sujeito. Então o analista passa a rastrear a libido, torná-la acessível à consciência e útil à realidade. Quando a análise depara com a libido consciente exposta, está fadado a irromper um combate. Todas as forças que fizeram a libido regredir se erguerão como resistências ao trabalho da análise, a fim de conservar o novo estado de coisas. Se a introversão, ou regressão da libido, não fosse uma relação específica entre o sujeito e o mundo externo, ou seja, pela frustração da satisfação, a introversão não teria absolutamente ocorrido. Para Freud (ibidem) as resistências oriundas da regressão da libido, não são as únicas ou as mais poderosas. A libido está sempre sob a influência da atração do inconsciente. Quando a atração pela realidade diminui, ela entra num curso regressivo. O recalque é responsável pela maior parte da resistência, que faz a doença voltar repetidas vezes. A análise tem de lutar contra as resistências oriundas de ambas fontes. A resistência representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem. Ainda em A dinâmica da transferência, Freud (ibidem) relata o processo de um complexo patogênico desde sua representação no consciente sob a forma de um sintoma, até sua raiz no inconsciente. Para ele, é neste percurso que a resistência se faz sentir. A associação seguinte tende a aparecer como uma conciliação entre as exigências da resistência do sujeito e as do trabalho de investigação do analista. É neste ponto que a transferência aparece. Quando algo da fala serve para ser transferido para o analista, essa transferência é realizada. Ela produz a associação seguinte e se anuncia por sinais de resistências, por exemplo, através de uma interrupção. Freud (ibidem) assim explica que, a ideia transferencial penetrou na consciência à frente de quaisquer outras associações possíveis, porque ela satisfaz a resistência. Um evento deste tipo se repetirá inúmeras vezes no decurso da 78 análise. Reiteradamente, quando um analista se aproxima de um complexo patogênico de valor tático, parte desse complexo capaz de transferência é empurrado em primeiro lugar para a consciência e defendido com a maior obstinação. Depois que a resistência for vencida, a superação das outras partes do complexo quase não apresenta novas dificuldades. Quanto mais demora um tratamento analítico, mais claramente o paciente se dá conta de que as deformações do material patogênico produzidas, não oferecem qualquer proteção contra sua revelação. Mais sistematicamente faz uso da deformação para obter vantagens, a deformação mediante a transferência. Nessas circunstâncias, todo conflito tem que ser combatido na esfera da transferência. Freud (ibidem) chama a atenção para o fato de que a transferência, no tratamento analítico, aparece desde o início, como elemento mais forte da resistência. Por essa razão, o autor se indaga: “Como é possível que a transferência sirva tão admiravelmente de meio de resistência?” (idem, ibidem, p.116). Por que é difícil para o paciente admitir que qualquer impulso incomunicável do seu desejo, possa ser revelado ao mundo real? Mas o desejo do paciente é confessar o objeto de seus impulsos emocionais ao analista. Dado esse desejo, uma relação de dependência afetuosa e dedicada com o analista pode ajudar uma pessoa a superar todas as dificuldades de fazer uma confissão. Segundo Freud (1912a): “É comum em situações reais, as pessoas dizerem: ‘Na sua frente, não sinto vergonha: posso dizer-lhe qualquer coisa’. Assim, a transferência para o analista poderia servir para facilitar as confissões, e não fica claro, por que o paciente torna as coisas mais difíceis” (idem, ibidem, p.116). Quando Freud (ibidem) examinou as resistências transferenciais particulares que ocorrem durante o tratamento, percebeu que não se pode compreender o emprego da transferência como resistência enquanto se pensa simplesmente em uma única transferência. Isto porque existem dois tipos: uma transferência positiva, a transferência de sentimentos afetuosos, e a transferência negativa, a dos sentimentos hostis. A transferência positiva é dividida em transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, que são admissíveis à consciência, e de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente, os quais a análise demonstra que invariavelmente remontam a fontes eróticas. 79 “Assim descobrimos que todas as relações emocionais de simpatia, amizade, confiança e similares, das quais podemos tirar bom proveito em nossas vidas, acham-se geneticamente vinculadas à sexualidade e se desenvolveram a partir de desejos puramente sexuais, através da suavização de seu objetivo sexual. Originalmente, conhecemos apenas objetos sexuais, e a psicanálise demonstra-nos que pessoas em nossa vida real que são admiradas ou respeitadas, podem também ser objetos sexuais para nosso inconsciente” (idem, ibidem, p. 116-117). A solução do enigma é que a transferência para o analista é apropriada para a resistência ao tratamento apenas na medida em que se trata de transferência negativa ou positiva de impulsos eróticos recalcados. Se “removermos” a transferência por torná-la consciente, estaremos desligando, apenas da pessoa do analista, aqueles dois componentes do ato emocional. O outro componente admissível à consciência e irrepreensível, persiste, constituindo o veículo de sucesso na psicanálise. Freud (ibidem) levanta ainda outra questão: por que os fenômenos de resistência da transferência só aparecem na psicanálise e não em formas de tratamento (em instituições, por exemplo)? Para Freud (ibidem), eles também aparecem, mas têm de ser identificados como tal. A manifestação de uma transferência negativa é, na realidade, um acontecimento muito comum nas instituições. Quando um paciente cai sob o domínio da transferência negativa, ele deixa a instituição em estado inalterado ou agravado. Quando o paciente manifesta resistência ao restabelecimento, a instituição o retém para mantê-lo a certa distância da vida. Isto porque, é completamente indiferente que o paciente supere essa ou aquela angústia ou inibição na instituição. O que importa é que ele fique livre dela também na vida real. Quanto à transferência erótica, não possui efeito tão inibidor nas instituições, ela é encoberta ao invés de revelada. Freud verifica que a transferência negativa nas formas curáveis de psiconeurose é encontrada lado a lado com a transferência afetuosa. Observa ainda que Bleuler adotou o excelente termo “ambivalência” para descrever este fenômeno. A ambivalência nas tendências emocionais dos neuróticos é a melhor explicação para sua habilidade em colocar as transferências a serviço da resistência. Quando a transferência torna-se negativa, como é o caso dos paranóicos, deixa de haver qualquer possibilidade de influência ou cura. 80 Até agora Freud (1912a), em A dinâmica da transferência, descreveu apenas um dos lados do fenômeno da transferência. No entanto existe outro aspecto a ser abordado. Toda pessoa em análise, assim que entra sob o domínio da resistência transferencial considerável, é arremessada para fora de sua relação real com o analista. Como se sente em liberdade despreza a regra fundamental da psicanálise, esquece as intenções com que iniciou o tratamento e encara com indiferença argumentos e conclusões lógicas. Todo aquele que observou esses comportamentos no paciente, achará necessário uma explicação em outros fatores. E esses fatores não se acham longe. Originam-se, mais uma vez, da situação psicológica em que o tratamento coloca o paciente. Freud (ibidem) ressalta que no processo de procurar a libido, que fugira do consciente do paciente, o analista penetra no reino do inconsciente. As reações que o analista provoca revelam algumas das características do estudo dos sonhos. Os impulsos inconscientes não desejam ser recordados, mas o tratamento deseja, o inconsciente esforça-se por reproduzir-se de acordo com sua atemporalidade e sua capacidade de alucinação. O paciente encara os produtos de seus impulsos inconscientes como contemporâneos e reais. Procura colocar suas paixões em ação sem levar em conta a situação real. O analista tenta obrigá-lo a ajustar esses impulsos emocionais, para vinculá-los ao tratamento e história de sua vida, a submetê-los à consideração intelectual e a compreender seu valor psíquico. Este embate entre o analista e o paciente, entre o intelecto e a vida pulsional, entre a compreensão e a procura da ação, é travado, quase exclusivamente, nos fenômenos da transferência. É nesse campo que tem de ser conquistada a luta, pois é nesse campo que se dá a cura permanente da neurose. Dois anos mais tarde em um texto intitulado Observações sobre o amor transferencial: novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III, Freud (1915[1914]) chama atenção para o fato de que todo analista iniciante sente dificuldades de interpretar as associações do paciente e a lidar com a reprodução do recalcado, mas logo aprende a ver estas dificuldades como insignificantes, na medida em que as únicas dificuldades reais são no manejo da transferência. Freud (ibidem) adverte que o analista tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial, repeli-lo ou torná-lo desagradável para o paciente. No entanto deve recusar-lhe retribuição. O analista deve manter o domínio do amor transferencial e tratá-lo como algo irreal. O amor transferencial pode ajudar a trazer 81 do inconsciente, tudo que se acha profundamente oculto na vida erótica do paciente para sua consciência e, portanto, para debaixo de seu controle. O analista deve permitir que o paciente perceba que ele está à prova de qualquer tentação, pronto para extrair da situação seu conteúdo analítico. Com essa atitude, o paciente, cujo recalque sexual ainda não foi removido, mas empurrado para segundo plano, se sentiria seguro, para permitir que todas as suas precondições para amar, todas as fantasias que surgem de seus desejos sexuais, todas as características pormenorizadas de seu estado amoroso venham à luz. A partir destas, ele próprio abrirá o caminho para as raízes infantis de seu amor. Nesse mesmo texto, Freud (1915[1914]) se interroga: “podemos verdadeiramente dizer que o estado de enamoramento que se manifesta no tratamento analítico não é real?” (idem, ibidem, p.185). Para Freud (ibidem), o amor transferencial não parece ficar devendo nada a ninguém, na medida em que se tem a impressão de que se poderia obter dele qualquer coisa. “O estado amoroso que faz seu aparecimento no decurso do tratamento analítico tem o caráter de um amor “genuíno”; é desprovido de normalidade, isto é explicado pelo fato de que estar enamorado na vida comum, fora da análise, é também mais semelhante aos fenômenos psíquicos anormais que aos normais. O amor transferencial assegura uma posição especial. Em primeiro lugar, é provocado pela situação analítica; em segundo, é intensificado pela resistência, que domina a situação; e, em terceiro, falta-lhe consideração pela realidade, é menos sensato, menos interessado nas conseqüências e mais ego em sua avaliação da pessoa amada do que estamos preparados para admitir no caso do amor normal. Não devemos esquecer, contudo, que esses afastamentos da norma constituem precisamente aquilo que é essencial a respeito de estar enamorado” (idem, ibidem, p.185-186). Para melhor verificar os ensinamentos de Freud sobre esse tema recorrerei a obra de Quinet (2009), intitulada 4 + 1 Condições de análise, na qual o autor articula as obras de Freud e de Lacan, para enfatizar a importância da transferência no processo analítico. Tanto Freud quanto Lacan insistem em ressaltar que a transferência marca o início de uma análise. Sendo assim, pode-se dizer que o estabelecimento da transferência é necessário para que uma análise se inicie, mas a transferência não é condicionada ou motivada pelo analista. 82 “Ela está aí, diz Lacan na ‘Proposição’, por graça do analisante. A transferência não é, portanto, uma função do analista, mas do analisante. A função do analista é saber utilizá-la. A primeira formulação dessa questão pode ser encontrada no artigo de Lacan “Função e campo da fala e da linguagem” quando fala de transferência de saber. Trata-se de uma ilusão na qual o sujeito acredita que sua verdade encontra-se já dada no analista e que este a conhece de antemão. Esse ‘erro subjetivo’ é imanente à entrada em análise. A subjetividade em questão é correlata aos efeitos constituintes da transferência, que são distintos dos efeitos já constituídos antes desse momento. Essa subjetividade correlata ao saber como efeito constituinte da transferência é o que Lacan formulará como sujeito suposto saber. Cada vez, diz ele no Seminário XI, que para o sujeito essa função do sujeito suposto saber é encarnada por quem quer que seja, analista ou não, isso significa que a transferência já está estabelecida” (QUINET, 2009, p. 13). Quinet (ibidem) alerta para o fato de que: “se o analista empresta sua pessoa para encarnar esse sujeito suposto saber ele não deve de maneira alguma identificar-se com essa posição de saber, pois isso seria um erro, uma equivocação. O sujeito suposto saber é definido por Lacan, no início de seu ensino, como ‘aquele que é constituído pelo analisante na figura de seu analista’, e mais tarde o fará equivaler a Deus Pai” (idem, ibidem, p.20). Na Proposição de 9 de outubro de 1967, sobre o psicanalista da Escola, Lacan (1967) propõe um matema para análise: o algoritmo da transferência, no qual o significante do sujeito (S), se articula a um significante qualquer do analista (Sq), produzindo a associação livre (s (S1, S2,...Sn)). Em seu livro 4 + 1 Condições de análise, Quinet (2009) recorre aos ensinamentos de Lacan para melhor elucidar o algoritmo da transferência: “O (S) do numerador dessa fração é o chamado significante da transferência: um significante do analisante se dirige a um significante qualquer (Sq), que vem representar o analista. Este significante fabricado pelo analisante fará com que ele escolha aquele analista: pode ser o nome próprio ou algum traço particular. Essa escolha do analista é formalizada por Lacan como uma articulação de dois significantes que corresponde ao estabelecimento da transferência — transferência significante. O efeito dessa 83 transferência significante é um sujeito, representado na fórmula por s (significado), que está correlacionado aos significantes do saber inconsciente (estes significantes SI, S2 ...Sn, dispostos numa cadeia, que representam um conjunto de significantes do saber inconsciente). A articulação do significante da transferência com o significante qualquer do analista, escolhido pelo analisante tem como efeito a produção do sujeito: aquilo que um significante representa para outro significante” (QUINET, 2009, p.27-28). Qual o efeito do estabelecimento desse sujeito suposto saber? É o amor. Quinet (ibidem) esclarece que com o surgimento do amor se dá a transformação da demanda, uma demanda transitiva (demanda de algo, como por exemplo, livrar-se de seu sintoma) torna-se uma demanda intransitiva (demanda de amor, de presença, já que o amor demanda amor). Conforme Quinet (ibidem), Lacan também verificou, como Freud, que o amor é o efeito da transferência, mas efeito sob o aspecto de resistência ao desejo como desejo do Outro. Ao surgimento do desejo, sob a forma de questão, o analisante responde com amor, cabe ao analista fazer surgir nessa demanda à dimensão do desejo, que é também conectado ao estabelecimento do sujeito suposto saber. “O que quer esse amor de transferência? Ele quer saber. Lacan define a transferência como amor que se dirige ao saber” (idem, ibidem, p.29). Em O Seminário, livro 8: a transferência, Lacan (1960-1961) fez de O Banquete de Platão o texto central sobre a transferência. Sócrates aparecendo como aquele que nunca pretendeu saber nada além do que diz respeito a Eros. Para Lacan (ibidem), há uma identidade entre o algoritmo da transferência (onde só aparecem significantes) e o que é conotado como agalma, em O Banquete de Platão. Se na transferência há presentificação da realidade do inconsciente enquanto sexual é por causa desse objeto maravilhoso, o agalma. 5.2. A TRANSFERÊNCIA E O DISCURSO TÉCNICO- CIENTÍFICO Nesse ponto da pesquisa tomaremos um interessante texto de Doris Rinaldi9 (2011), apresentado no I CONLAPSA (Congresso Latino-Americano de Psicanálise 9 Profª. Drª. Doris Luz Rinaldi é Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ (1993); Professora Adjunta do DPC/UERJ; Pesquisadora do CNPq; Membro do PROCIÊNCIA; Psicanalista. 84 na Universidade), em 2011, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, intitulado Intervenções contemporâneas: proximidade, ética e gozo, no qual a autora traz à discussão alguns aspectos do laço social tal como se apresenta hoje, sob a vigência do discurso capitalista em sua copulação com o discurso técnico-científico, para retomar a nossa questão inicial sobre o uso da internet na EaD e interrogar: poderíamos considerar a possibilidade de que a transferência do aluno com o professor se estabeleça através da internet? No mencionado texto, Rinaldi (2011) observa que hoje vivemos sob o domínio da internet, das redes sociais, da comunicação imediata, que permite a conexão de pessoas nas partes mais distantes do mundo. A autora alerta para o fato de que grande parte da população urbana do planeta está on-line. Observa que as novas mídias multiplicam, de modo antes impensável, as possibilidades de contatos, a constituição de redes de amigos, as oportunidades de encontros, seja no campo amoroso, seja em outros campos. Rinaldi (ibidem) ressalta: “A invenção da internet, que revolucionou as tecnologias da informação na segunda metade do século XX, expandindo-se principalmente no final deste século, tornou o mundo, de certa forma, menor. Hoje temos dificuldade de imaginar como era antes viver sem esse recurso, ainda que esse passado não seja tão longínquo. Ao possibilitar a comunicação virtual para além dos meios convencionais, a internet tem se mostrado uma ferramenta fundamental na divulgação da informação e do conhecimento, na pesquisa, e também na cooperação e mobilização política. Como temos visto recentemente, o seu poder é inegável como se pode ver nos movimentos de protesto que explodiram em diversos países no chamado mundo árabe e que, há poucos dias, incendiaram Londres e outras cidades da Inglaterra” (idem, ibidem). Rinaldi (ibidem) observa que esta nova forma de comunicação, de um lado, possibilita a circulação livre da informação, aproximando o distante, e de outro, constrói-se basicamente a partir de “encontros” que se fazem na virtualidade. A autora interroga: “Quais os efeitos que isso pode ter nos sujeitos e no próprio laço social?” (idem, ibidem) e comenta que foi instigada a falar sobre esse tema a partir da releitura de um ensaio de Heidegger, intitulado A Coisa, no qual o filósofo introduz uma discussão de ordem ética: “todo distanciamento no tempo e todo afastamento no espaço estão encolhendo” (idem, ibidem). O autor refere-se às 85 invenções do avião, do rádio, do cinema e da televisão. Naquela época a internet ainda não existia. “O homem está superando as longitudes mais afastadas no menor espaço de tempo... E, no entanto, a supressão apressada de todo distanciamento não lhe traz proximidade. Proximidade não é pouca distância. O que acontece quando, na supressão dos grandes distanciamentos, tudo se torna igualmente próximo e igualmente distante? O que é essa igualdade em que tudo não fica nem distante nem próximo, como se fosse sem distância?” (HEIDEGGER, 2010, p. 143). Rinaldi (2011) afirma que essas indagações pareceram-lhe preciosas para discutir os novos modos de encontro, porque muito mais do que antes, com a invenção da internet, reina a falta de distância. Para a autora, a redução dos afastamentos traz, de fato, uma ilusão de proximidade, como exemplo cita as redes sociais, os facebooks, os tweeters. Contudo, interroga: “será que isso traz proximidade? O que é proximidade?” (idem, ibidem). Rinaldi (ibidem) menciona a metáfora schopenhaueriana dos porcos espinhos a que Freud (1921) se refere em Psicologia de grupo e análise do ego, como uma evidência brilhante de que há algo de intolerável na aproximação demasiada do outro, que impõe a necessidade de uma distância, ainda que íntima. Rinaldi (2011) se interroga: “no mundo atual, a partir das novas tecnologias, será que poderíamos falar em uma nova erótica onde reina o sem distância?” (idem, ibidem). Para a psicanalista a expansão das chamadas redes sociais, que proliferam nessa primeira década do século XXI, em especial as redes de relacionamento (facebook, orkut, myspace, twitter, etc,), impuseram um redimensionamento das tradicionais concepções sociológicas acerca das relações sociais. “Marcadas pela porosidade e pela efemeridade, podendo se fazer e desfazer rapidamente, elas ampliam o âmbito das possibilidades de contatos, interlocuções e formação de grupos, aproximando o distante. O que as caracteriza mais decisivamente, contudo, é que se constroem basicamente a partir de ‘encontros’ que se fazem na virtualidade e na subtração da presença” (idem, ibidem). A psicanalista questiona: “quais os efeitos que isso pode ter no encontro com o outro? Como pensar o espaço do próximo nesse caso?” (idem, ibidem). Na concepção de Rinaldi (ibidem), as redes sociais se articulam fundamentalmente pelo 86 princípio da identificação e as conexões se fazem entre semelhantes, que compartilham imagens e significantes. A autora sublinha que a primazia do imaginário deixa na sombra a dimensão simbólica e, principalmente, a dimensão real do outro, evidenciada no enigma que envolve a presença. Rinaldi (2011) relembra que não foi à toa que Freud articulou a presença do analista e Lacan explorou esse tema, acentuando a sua função na manutenção de uma posição conflitual necessária a qualquer análise. “A presença do analista é testemunha irredutível de uma perda. Perda de gozo” (LACAN apud RINALDI, 2011). A autora chama atenção para o fato de que se fala hoje de “presença virtual” possibilitada pelas novas tecnologias que associam imagem e voz em “tempo real”. “A instantaneidade da comunicação elimina a distância no tempo e simula a proximidade. Entretanto, presença não se resume ao significante nem a imagem, mas implica um “corpo-espinho” que goza e é isso que impõe uma distância íntima, de ordem ética, condição para o desejo” (RINALDI, 2011). No mundo atual, alerta a autora, os objetos tecnológicos, como os laptops, tablets, Ipads, Ipods, Iphones e outras “bugigangas”, assim como as novas mídias, ocupam no discurso capitalista o lugar de mais-de-gozar, como objetos condensadores de gozo. A psicanalista verifica que o discurso capitalista, em sua associação com o discurso da tecnologia: “Oferece como objetos descartáveis, que alimentam a falta de gozo de que se nutre a própria máquina capitalista, mas que trazem a promessa de um gozo garantido. Nas redes sociais, são esses objetos e o que se faz com eles que, como próteses, constituem os mediadores por excelência entre eu e o outro” (idem, ibidem). Rinaldi (ibidem) menciona que no filme Rede Social (EUA, 2010), que narra a história da criação do facebook, o que importa é conectar um número cada vez maior de “amigos”, que aumenta de forma exponencial e que pode chegar à escala mundial. A psicanalista considera que nesse caso: “o meio, encarnado em um objeto, se sobrepõe ao laço, subvertendo a concepção de laço social na medida em que este se funda justamente na falta de objeto” (idem, ibidem). Rinaldi (ibidem) questiona: “nessa nova conformação do laço social, como se constitui, então, o espaço do próximo? Poderíamos dizer que estamos em cheio naquilo que Heidegger aponta, isto é, na igualdade em que tudo fica sem distância?” 87 (RINALDI, 2011). A autora lembra Freud (1930[1929]) em seu texto O mal-estar na cultura, no qual o autor se refere ao homem como um “Deus de prótese” (idem, ibidem, p. 90) para pontuar que o homem parece prolongado por seus órgãos auxiliares – o Ipad, o Iphone, etc. Mas, apesar disso, se interroga a autora: “o que ele alcança? O outro como parceiro, em um feliz ou infeliz encontro? Ou o outro apenas como pré-texto para um gozo autista garantido pelos objetos tecnológicos? Quais as consequências desse processo para o laço social?” (RINALDI, 2011). Esse importante texto da Professora Doutora Doris Rinaldi (ibidem) me conduziu a formulação de uma hipótese para a questão que levantei anteriormente sobre o uso da internet na EaD: poderíamos considerar a possibilidade de que a transferência do aluno com o professor se estabeleça através da internet? O texto de Rinaldi (ibidem) me levou a verificação de que na internet, “a primazia do imaginário deixa na sobra a dimensão simbólica, evidenciada no enigma que envolve a presença” (idem, ibidem). Talvez tenha sido por essa razão que, baseando-se nos postulados de Freud e de Lacan, os psicanalistas contemporâneos não cessem de afirmar que não se faz análise pela internet, pois a presença do analista é fundamental para que uma análise se dê. Evidentemente, que não se pode comparar a EaD com o processo analítico. Contudo, não podemos desconsiderar a importância desse pressuposto psicanalítico. Se o tomarmos como base talvez possamos verificar melhor que a transferência do aluno com o professor só seja possível através de aulas presencias. 88 6. CONCLUSÃO Ao final dessa pesquisa foi possível verificar que esse estudo acabou por entrelaçar várias áreas de saber, tais como: a comunicação, a educação, a tecnologia e a psicanálise. Tal articulação imprimiu a essa dissertação um status de interdisciplinaridade. Ao longo desse estudo procuramos dialogar com esses saberes na expectativa de verificar pontos convergentes e divergentes entre eles. No primeiro capítulo, dedicado à comunicação, verificamos o quanto a comunicação evoluiu na história da humanidade. As mensagens, que nos primórdios da civilização, eram enviadas por meios de transportes – cavalos, navios, trens, aviões – ou até mesmo a pé, com a evolução da tecnologia na modernidade, passaram a ser enviadas através da internet. Contudo, apesar das valiosas evoluções na esfera da comunicação em geral, no que se refere à comunicação entre as pessoas, não houve grandes mudanças. O relacionamento entre os homens sempre causou e causará um mal-estar, Freud o verificou em 1930, em seu premiado texto intitulado Mal-estar na cultura. Nesse precioso escrito, Freud constatou que o sofrimento humano advém de três fontes: dos fenômenos da natureza, do corpo e dos relacionamentos entre os homens, este último foi considerado por Freud como a principal fonte sofrimento. Sadala (2003) retoma esse texto fundamental para ressaltar que: “Freud aponta fontes de constante sofrimento para o homem: a hiperpotência da natureza, a fragilidade de nosso corpo e a infelicidade provocada pelas relações que mantemos com os nossos semelhantes. Eis Freud antevendo um mal estar inerente à comunicação. Constatamos que a ciência, a tecnologia e o progresso não trouxeram a felicidade almejada”. (idem, ibidem, s/p). No segundo capítulo dessa pesquisa, nos dedicamos a trabalhar questões relativas à educação, mais especificamente, aquelas vinculadas à educação à distância. Trabalhamos modelos, conceitos, industrialização e a propagação da educação à distância, articulando dois saberes: a comunicação e as tecnologias da internet. Nesse capítulo, pudemos verificar que a educação contemporânea está cada vez mais dependente dos meios tecnológicos de comunicação. A tese de doutorado de Sadala (2001), intitulada No avesso da comum(ic)ação – Para uma ética do dizer, ressalta o fato de que o primeiro sentido da comunicação era o de 89 “fazer saber”. A autora considera que “para fazer saber”, não se pode excluir o sujeito de seu desejo. “É preciso lugar da fala, retornando a palavra não para apenas representar, mas para agir, fazer, fazer saber” (idem, ibidem, p.147). Essa constatação me levou a interrogar: estaria a comunicação contemporânea excluindo o sujeito do desejo? No terceiro capítulo, abordamos as tecnologias da internet utilizadas na educação à distância, destacando a videoconferência e a virtualização. Foi possível verificar que o virtual adquiriu novos contornos na sociedade dita pós-moderna. A imagem, por exemplo, se impôs no lugar do objeto. Esse fenômeno adquiriu tamanha intensidade na sociedade atual que chegou a ter como meta a recriação da realidade, transformando-a em outra realidade: a realidade virtual. Para Santos (1988) a pós-modernidade fabrica um “hiper-real”: “um real mais real e mais interessante do que a própria realidade [...] O hiper-real simulado nos fascina porque é o real intensificado na cor, na forma, no tamanho, nas suas propriedades [...] não nos informam sobre o mundo; eles o refazem à sua maneira,, hiper-realizam o mundo, transformando-o num espetáculo”. (idem, ibidem, p.12-13). Santos (ibidem) observa que na internet evocamos diversas formas de virtualização do conhecimento e da informação, “preferimos a imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro (a reprodução técnica) ao real” (idem, ibidem, loc.cit). As pesquisas sobre os avanços da internet nos conduziram a constatação de que esta oferece, à grande maioria das pessoas, a oportunidade de escapar do papel do observador passivo. Ao ler um livro, por exemplo, o leitor agora pode interagir com a obra ou com um espetáculo teatral que esteja sendo encenado. As informações contidas na internet podem ser acessadas e trabalhadas. A internet não é uma entidade concreta, ela é uma entidade virtual, com informações que foram armazenadas através da virtualização. As redes sociais são um exemplo dos avanços da internet. Verificam-se, atualmente, centenas de formadores de opiniões e seguidores que trocam informações entre si em tempo real e criam novos paradigmas a serem seguidos. Praticamente não há mais diferença de tempo entre o acontecido, o divulgado e o executado para esses sujeitos da atualidade. 90 As pesquisas que realizamos sobre a internet, nos permitiram verificar os inúmeros ganhos que a humanidade teve com seus avanços. No entanto, será que amalgamados a esses ganhos também se encontram perdas? Quais seriam as contra indicações da tecnologia moderna? Será que essa dimensão virtual traz algum perigo para o homem? Sadala (2001) considera que: “Se por um lado, a Internet representa no mundo moderno, uma comunicação rápida e eficiente, por outro, constitui-se como o paradigma do excesso no atual estágio da comunicação. Coloca-se como meta o máximo de usuários, sites, informação e dinheiro. A proposta é colocar tudo disponível para o sujeito que, no entanto, só pode navegar sozinho”. (idem, ibidem, p.141). A autora alerta para o fato de que o excesso de informação na comunicação contemporânea leva a considerar a quantidade como critério de sucesso. Como diz o ditado popular: “quanto mais... melhor”. Quanto mais e-mails, quanto mais acessos aos twitters, quanto mais acessos aos facebooks... O que estaria por trás disso? Haveria nesse “quanto mais ... melhor” algo referente a contabilização própria do discurso capitalista? A lógica da comunicação contemporânea parece ser: “Comunicar tudo a todos”. Essa parece ser a mesma lógica do discurso capitalista. Aquele que imprime a lógica do tudo, do todo, do para todos. Cabe aqui observar que o discurso psicanalítico se contrapõe a essa lógica do “tudo para todos”. A lógica da psicanálise, ao contrário da do discurso capitalista, baseia-se na singularidade e na falta. Nesse comunicar “tudo a todos”, que rege a comunicação na modernidade, não estaria impresso um rebaixamento do sujeito, uma desconsideração pelo desejo do sujeito? Estaria a mídia sendo regida pelos ditames do discurso do capitalista? Sadala (ibidem) verifica a antítese que se imprime entre a mídia e a psicanálise: “Mídia e psicanálise formam pares antiéticos, isto é, contém, mutuamente, a antítese um do outro. Mas justamente, por ignorar o que é próprio do sujeito e tentar enlaçá-lo na forma do consumo, a mídia garante o lugar da psicanálise no mundo moderno”. (idem, ibidem, p.201). Não iremos nos deter nesse ponto, pois ele mereceria um estudo mais pormenorizado e aprofundado que não caberia na conclusão dessa pesquisa. 91 Prosseguiremos mencionando aqui as demais conclusões a que chegamos com a evolução desse estudo. No quarto capítulo dessa dissertação, procuramos abordar, de forma prudente, é verdade, um conceito fundamental da psicanálise, a transferência, na expectativa de nos servirmos do saber psicanalítico adquirido sobre esse conceito na práxis clínica. A compreensão desse conceito nos levou a encontrar algumas respostas para as questões levantadas no início dessa pesquisa. Retomamos aqui tais questões: haveria uma diferença entre a relação professor-aluno no ensino tradicional e na educação à distância? O que a psicanálise tem a dizer sobre a relação professor-aluno na educação à distância? Poderíamos afirmar que há transferência, através da internet, na EaD? As expectativas referentes à relação professor-aluno no ensino tradicional não divergem das expectativas na educação à distância. Tanto o professor da “era da informação”, na educação à distância, quanto o professor no ensino tradicional, deveria ser um professor educador, orientador, que aceitasse uma turma não homogênea. O aluno, por sua vez, deveria ser agente do seu processo de aprendizagem, deveria se envolver, se responsabilizar pelo processo educacional, deveria sair da posição passiva de espectador e assumir o papel principal, interagindo, colaborando, cooperando, sendo o próprio diretor das suas atuações. Ambos, professor e aluno, deveriam estabelecer uma relação de troca, de cooperação, de construção em comum. Verifica-se que as expectativas não se alteram, elas se sobrepõem. Quanto à transferência na EaD, os textos de Freud nos levaram a concluir que esta poderá se estabelecer dentro ou fora do processo analítico. Contudo, existe algo a ser considerado. O tripé que constitui a formação do analista – a análise pessoal, o estudo teórico, e a supervisão clínica – possibilita ao analista identificar o estabelecimento da transferência e manejá-la. Ao contrário, na relação professoraluno, embora a transferência se estabeleça, nem sempre o educador consegue identificá-la e manejá-la. Quando chegamos ao final dessa pesquisa pudemos dar conta de que muitas questões ficaram sem resposta, como por exemplo: o ambiente na EaD propicia uma mudança no perfil do aluno e do professor? Percebemos que para responder a essa indagação faz-se necessário construir instrumentos que possibilitem uma 92 pesquisa de campo e um aprofundamento teórico. Sendo assim, propomos a endereçar essas questões a uma nova pesquisa acadêmica. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, C. M. O lugar do professor na pós-modernidade. In: Educação em Revista. v.9, n° 2, p. 37-50. São Paulo: jul.-dez. 2008. ASSIS, A. L. A. 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