Doenças Negligenciadas:
Transição epidemiológica e
desenvolvimento no Brasil
Carlos M. Morel
Centro de Desenvolvimento Tecnológico
em Saúde (CDTS)
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Kenneth Warren
• Kenneth S. Warren (11/6/1929
– 11/9/1996): cientista dos
EUA, médico, educador e
especialista em saúde pública,
com foco em doenças
tropicais, particularmente
esquistossomose.
• Criou e dirigiu o programa
“Great Neglected Diseases of
Mankind”, uma rede
internacional de pesquisa
focada em doenças dos países
em desenvolvimento, em
particular a malária
Fundação Rockefeller: The Great
Neglected Diseases of Mankind
In: Orphan Diseases and Orphan Drugs
(Fulbright Papers, Proceedings of
Colloquia, Vol 3), 1986
2000: MSF & DNDi: Doenças Globais,
Negligenciadas e Mais Negligenciadas
OMS 2001: Comissão Macroeconomia e Saúde
• Doenças Tipo I: afetam países ricos e pobres, com
grande número de populações vulneráveis em ambos
– Hepatites, diabetes
• Doenças Tipo II (negligenciadas): afetam países ricos e
pobres, mas a maior parte dos casos está nos países
em desenvolvimento
– Tuberculose
• Doenças do Tipo III (mais negligenciadas): incidem
exclusivamente ou majoritariamente nos países pobres
– Doença de Chagas, esquistossomose
WHO Commission on Macroeconomics and Health. Macroeconomics and Health:
Investing in Health for Economic Development. Report of the Commission
on Macroeconomics and Health. World Health Organization, 2001, 1-200
OMS, hoje: Doenças Tropicais
Negligenciadas
• “Neglected tropical diseases are a symptom of poverty
and disadvantage. Those most affected are the poorest
populations often living in remote, rural areas, urban
slums or in conflict zones. With little political voice,
neglected tropical diseases have a low profile and
status in public health priorities
• Although medically diverse, neglected tropical diseases
share features that allow them to persist in conditions
of poverty, where they cluster and frequently overlap.
Over 1 billion people – one sixth of the world's
population – suffer from one or more neglected
tropical diseases”
• PLoS Neglected Tropical Diseases é um periódico do
tipo “open access” que publica artigos em patologia,
epidemiologia, prevenção e controle da doenças
tropicais negligenciadas, assim como em políticas
públicas relevantes para este grupo de doenças.
– “The Neglected Tropical Diseases are defined as a group of
poverty-promoting chronic infectious diseases, which
primarily occur in rural areas and poor urban areas of lowincome and middle-income countries. They are povertypromoting because of their impact on child health and
development, pregnancy, and worker productivity, as well
as their stigmatizing features”
Evolução do conceito “Doenças
Negligenciadas”
• Conceito inicial: Rockfeller, TDR
– Recursos insuficientes para pesquisa (biomédica)
– Definidas globalmente ( = lista das doenças do TDR)
• Conceito MSF/DNDi & OMS
– Doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica e
prevalentes em países em desenvolvimento
– Resultantes da pobreza
• Conceito atual
– Doenças promotoras ou perpetuadoras da pobreza
– Cada país define suas prioridades
Worldmapper: área dos países proporcional ao
número de médicos em atividade
http://www.worldmapper.org/
Worldmapper: área dos países proporcional à
prevalência de HIV/AIDS
Worldmapper: área dos países proporcional ao
número de casos de malaria
Worldmapper: área dos países proporcional do
número de óbitos por doença de Chagas (2002)
Total, 2003-2009:
R$ 82,445 milhões
Doenças negligenciadas:
artigos na imprensa
Tânia Araújo-Jorge:
Correio Braziliense 17.01.2011
Carlos Morel:
Valor Econômico 01.02.2011
Doenças promotoras ou
perpetuadoras da pobreza
• Na área da saúde, uma das ações
visa combater o que o governo
chama de doenças da extrema
pobreza: esquistossomose,
hanseníase, helmintíase, malária,
tracoma e tuberculose
– “Além das questões gerais que
atingem a população brasileira
como um todo, existem doenças
que tanto são consequência da
pobreza, particularmente da
pobreza extrema, como são
perpetuadoras da miséria, na
medida em que pioram a exclusão
social e diminuem a inserção de
pessoas no mercado de trabalho”
Doenças promotoras ou
perpetuadoras da pobreza
Innovation Strategy Today 2(1):1-12, 2006.
www.biodevelopments.org/innovation/index.htm
• Inovações em saúde devem combater as maiores
“falhas” responsáveis por problemas nesta área:
– Falhas de ciência (hiato de conhecimento)
– Falhas de mercado (falta de recursos)
– Falhas de sistemas de saúde (não aderência a “boas
práticas)
Falhas de ciência
• Conhecimento insuficiente
• Exemplo: Vacinas inexistentes
– Virus: HIV/AIDS, dengue
– Bactérias: hanseníase
– Parasitos: leishmanioses, doença de Chagas, esquistossomose
• Necessidade: Pesquisa básica ou “inspirada no uso”;
“Modo 2” de produção de conhecimento (*)
• Modalidade de inovação
– Produtos novos opu melhorados
– Novas estratégias de P&D: Parcerias para o Desenvolvimento de
Produtos; Parcerias Público-Privadas (Brasil: Lei da Inovação)
(*) Gibbons M, Limoges C, Nowotny H, Schwartzman S, Scott P, Trow M: The new production of knowledge: the dynamics of science and
research in contemporary societies. London; Thousand Oaks; New Delhi: SAGE Publications; 1994
Falhas de mercado
• Alto custo previne o acesso a intervenções existentes ou
o desenvolvimento e produção de insumos mais baratos
• Exemplo: medicamentos antirretrovirais
• Necessidade: Processos de produção mais baratos, novas
estratégias de financiamento
• Modalidades de inovação
– Novos métodos/processos de produção
– Novas políticas de financiamento (Fundos Globais, PDPs)
– Novas políticas orçamentárias
• Aumento de orçamento (CPMF)
• Diminuição das despesas (negociações para baixar o preço de
antiretrovirais entre Governo e produtores privados; licenças
compulsórias ou “quebra de patentes”)
Falhas de sistemas de saúde
• Falta de boa governança ou de prioridades;
corrupção; crises, guerras, fatores culturais ou
religiosos previnem o acesso a intervenções baratas e disponíveis
• Exemplos
– Doenças infecciosas: vacinação, poliomielite (fatores religiosos / comunidades
Amish; boatos / vacina “é complô para esterilização de mulheres”); quimioterapia
da hanseníase (Brasil durante décadas: monoterapia em vez de poliquimioterapia)
– Doenças crônicas: obesidade, tabaco (lobby de indústrias)
• Necessidades: Educação, mobilização da sociedade civil, abordagem de
direitos humanos
• Modalidade de inovação: inovação de processos ou estratégias
– Dias Nacionais de Imunização; Convenção do Tabaco; campanhas educacionais pela
televisão (mensagens de saúde em novelas); experiência da Tanzania em
priorização de metas em sistemas de saúde (*)
(*) Savigny, Kasale, Mbuya, and Reid (2004) Fixing Health Systems
Matriz “falhas de saúde / inovações
necessárias / ações dos países”
Falhas de ciência
Hiato de conhecimento
Falhas de saúde
Falha de mercado
Falta de recursos
Falha de sistemas de saúde
Falta de boas práticas
Países
industrializados
Ações dos
Sistemas
Nacionais
de Inovação
Países em
desenvolvimento
inovadores
Países menos
desenvolvidos
Novos produtos ou
métodos
Novos processos
Novas estratégias ou
políticas
Inovações necessárias
Innovation Strategy Today 2(1):1-12, 2006.
www.biodevelopments.org/innovation/index.htm
Matriz “falhas de saúde / inovações
necessárias / ações dos países”
Falhas de ciência
Hiato de conhecimento
Países
industrializados
Projetos genoma
Países em
Rede de países produtores
desenvolvimento
de vacinas
inovadores
Países menos Plataformas colaborativas
desenvolvidos
de ensaios clínicos
Novos produtos ou
métodos
Falhas de saúde
Falha de mercado
Falta de recursos
Preços diferenciados (ex:
Coartem & Riamet)
Falha de sistemas de saúde
Falta de boas práticas
Programas de distribuição
gratuita de medicamentos;
Convenção do Tabaco
Negociações; licenças
compulsórias
Dias nacionais de
imunização
Fundo Global; GAVI
Melhor priorização de
metas (ex: Tanzania,
projeto TEHIP)
Novos processos
Novas estratégias ou
políticas
Inovações necessárias
Innovation Strategy Today 2(1):1-12, 2006.
www.biodevelopments.org/innovation/index.htm
Ações dos
Sistemas
Nacionais
de Inovação
Exemplo de matriz
Falhas de saúde/
inovações necessárias
versus
categoria de países
Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz)
Muito obrigado
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Apresentação Carlos Morel