UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA XIV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA KÁTIA DO VALE PEREIRA FLORES DA SILVA O PLANEJAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE MENTAL NO NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS/ SC FLORIANÓPOLIS (SC) 2012 2 KÁTIA DO VALE PEREIRA FLORES DA SILVA O PLANEJAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE MENTAL NO NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS/ SC Monografia apresentada ao XIV Curso de Especialização em Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Saúde Pública. Orientadora: Prof. Dra. Jane Maria de Souza Philippi. FLORIANÓPOLIS (SC) 2012 3 KÁTIA DO VALE PEREIRA FLORES DA SILVA. O planejamento das ações de saúde mental no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de Tijucas/ SC. Trabalho de Conclusão de Curso. (Especialista em Saúde Pública). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2012. 23 p. RESUMO O objetivo desta pesquisa foi construir o planejamento das ações em saúde mental competentes à psicologia no Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF no Municipio de Tijucas, SC, tendo como tema o planejamento em saúde das ações de saúde mental do NASF. A partir do levantamento de dados do Plano de Saúde do Município dos encaminhamentos para atendimento com a psicologia e da observação direta, foi possível a aproximação com a realidade local, reconhecendo os limites do campo de trabalho e tracejando estratégias de ação em saúde mental mais adequadas as necessidades locais. A operacionalização dos conceitos de território, clínica ampliada e matriciamento foi necessária para implantação de ações de saúde do NASF condizentes com as preconizadas pelo ideário da Reforma Sanitária e Psiquiátrica. Como resultados foram programadas atividades técnicas pedagógicas com as equipes da ESF (matriciamento e educação permanente) e ações de assistência direta à comunidade (grupos temáticos, interconsulta, visita e atendimento domiciliar, triagem individual, psicoterapia focal). Palavras-chave: planejamento em saúde, saúde mental, psicologia na Atenção Básica, NASF. 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA XIV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA O PLANEJAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE MENTAL NO NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS/ SC KÁTIA DO VALE PEREIRA FLORES DA SILVA Essa monografia foi analisada pelo professor orientador e aprovada para obtenção do grau de Especialista em Saúde Pública no Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, Abril de 2012. Profª Dra. Jane Maria de Souza Philippi. Coordenadora do Curso Prof. Dr. Jane Maria de Souza Philippi. Orientadora do trabalho 5 1 INTRODUÇÃO "Alice - Poderia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui? Gato - Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. Alice - Não me importa muito onde. Gato - Nesse caso, não importa por qual caminho você vá." O presente trabalho tem como tema o planejamento das ações de saúde mental no NASF. O planejamento é um poderoso instrumento de gestão que promove o desenvolvimento institucional e gerencia os processos de mudança. No âmbito da saúde, permite melhorar os serviços, otimizar o trabalho, aumentar a resolubilidade e elevar a eficácia e eficiência da rede de atenção à saúde da população. (BRASIL, 2002). Para planejar e direcionar as ações de saúde é necessário conhecer a realidade local da comunidade, como também a organização dos serviços e rotinas das unidades básicas de saúde e das Equipes de Saúde da Família – ESF. O diagnóstico situacional é um instrumento que auxilia a conhecer os dispositivos da rede de atenção à saúde, os recursos comunitários, tais como os problemas e as necessidades de saúde. Na saúde, o diagnóstico situacional é elaborado através da coleta de dados diversos, desde informações de massa tais como as demográficas, epidemiológicas, de capacidade instalada da rede SUS, fluxos de atendimentos; até questões não documentadas como as obtidas por meio da observação direta. Esta pesquisa visa construir o planejamento das ações de saúde mental concernentes à psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, a partir do levantamento de dados do Plano de Saúde de Tijucas, dos encaminhamentos e da observação direta. A convocação para participar como psicóloga do NASF despertou a curiosidade científica e o desejo de embasar a prática de acordo com as concepções teórico-políticas as quais se acredita que sejam os princípios da Reforma Sanitária, a força dos Movimentos Sociais e a ética da Reforma Psiquiátrica e dos Direitos Humanos. Confrontando com uma realidade bem distante daquela idealizada nas políticas de promoção à saúde, do NASF e de saúde mental, depara-se com a complexidade dos fenômenos humanos e sociais, que parecem ir mais além do tangível e previsível descrito nos papéis. Com intuito de superar as dificuldades encontradas no campo de pesquisa, foram revisadas literaturas sobre planejamento das ações de saúde, diagnóstico situacional de saúde, rede de atenção à saúde, noção de território, concepção ampliada do processo saúde-doença, NASF e as 6 atribuições do psicólogo na atenção primária à saúde, matriciamento e modelo de assistência à saúde. A Reforma Sanitária preconiza a mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, estabelecendo a saúde como direito. A lei n° 8080 de 1990 (BRASIL, 1990) que regula as ações e serviços de saúde no país, indica os princípios doutrinários da organização do Sistema Único de Saúde – SUS: a universalidade no acesso, a integralidade da assistência, a equidade no tratamento, a descentralização da gestão e a participação da comunidade. Contemporâneo da Reforma Sanitário, o processo da Reforma Psiquiátrica assume caráter de ruptura e reforma na concepção dos paradigmas de saúde/doença, modelos de atenção à saúde e nas práticas de gestão em saúde. O novo paradigma foi fruto do movimento popular de apelo à saúde como direito humano, em que todos, comunidade e trabalhadores da saúde, protagonizam sua gestão com equidade, transparência e integralidade na assistência. Advinda como crítica ao modelo de assistência centrada no hospital psiquiátrico e pela denuncia dos direitos dos pacientes psiquiátricos, Brasil (2005) destaca: “A Reforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública.” A Lei 10.216 de 2001, conhecida como Lei Paulo Delgado (BRASIL, 2001), dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, orientando o tratamento pela reinserção social e em serviços de base comunitária. A Atenção Básica é organizada no território por ações de promoção de saúde e prevenção que fortalecem o vínculo com a comunidade. Diariamente as Equipes de Saúde da Família – ESF se deparam com situações de saúde mental que transbordam o limite de sua competência, tal como violência, uso e abuso de drogas, conflitos familiares e com a lei, transtornos mentais severos. O Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, criado pela portaria n° 154 de 2008, tem objetivo de “ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade, apoiando a inserção da estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e 7 o processo de territorialização e regionalização a partir da atenção básica” (BRASIL, 2008). Dentre suas atribuições estão as atividades técnicas pedagógicas com as equipes da ESF (matriciamento e educação permanente) e a assistência direta à comunidade. As ações de saúde mental no NASF visam a abordagem de temas relacionados à cultura antimanicomial e segregação da loucura; medicalização de transtornos mentais severos e persistentes; uso abusivo de álcool e outras drogas; reabilitação psicossocial de pacientes egressos de internações psiquiátricas e/ou atendidos nos CAPS; tentativas de suicídio; situações de violência intrafamiliar e na comunidade; entre outros. O objetivo desta pesquisa foi construir o planejamento das ações em saúde mental competentes à psicologia no Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF. Seus objetivos específicos constituem em: estudar o Plano Municipal de Saúde (2010-2013) conhecendo a estrutura da rede de atenção à saúde (dispositivos, organização, serviços e dinâmica de funcionamento) e compreendendo os compromissos, prioridades e metas nele contidos; contextualizar a implantação do NASF e as ações de saúde mental no município; analisar as possíveis potencialidades e fragilidades encontradas com a transição do modelo de assistência à saúde no município de Tijucas/SC. Esse trabalho justificou-se pela ausência de ações de saúde mental no NASF no município, implicanda falta de treinamento dos profissionais da saúde e no desconhecimento da população sobre o tema. 8 2 METODOLOGIA Este estudo teve a finalidade de elaborar o planejamento das ações em saúde mental competentes à psicóloga do NASF de Tijucas, caracterizando-se como pesquisa aplicada uma vez que busca apresentar soluções para problemas específicos de uma realidade local (GIL, 1991). Como parte essencial e primordial para compreensão de todo e qualquer estudo, a pesquisa bibliográfica fez parte do suporte teórico, sendo necessária uma breve revisão acerca de temas como: saúde coletiva/pública, reforma sanitária e reforma psiquiátrica, planejamento em saúde, Política Nacional de Promoção de Saúde, NASF, a inserção do psicólogo na Atenção Básica, suas atribuições e ações de saúde mental no NASF. Na busca de artigos sobre o assunto no diretório da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e suas bases bibliográficas (LILACS e SCIELO) foram encontrados poucos estudos na pesquisa com os termos relacionando “planejamento” e “saúde mental”, e a maior parte dos artigos abordava o planejamento na atenção secundário (exclusivo para clientela do CAPS) e terciária (internações psiquiátrica). Nos artigos que relacionavam “saúde mental” e “atenção primária”, era abordado somente o matriciamento das equipes. Para construir as ações de saúde mental no território, com base no conhecimento da rede de atenção à saúde, foi preciso utilizar alguns materiais de referência para implantação do CAPS e do NASF, tratando os dados a luz do referencial ideológico da reforma sanitária e psiquiátrica. Observando-se, portanto, como tema de planejamento das ações ainda é pouco abordado na atenção básica à saúde mental. A pesquisa documental objetivou-se como ponto de partida de procedimentos de coleta de dados em que se analisou o Plano de Saúde (2010-2013) e as fichas de encaminhamento para atendimento psicológico no município, do período do mês de Janeiro de 2011 à Março de 2012. Os dados colhidos foram tratados a luz da concepção ampliada da clínica e dos princípios doutrinários da Reforma Sanitária e Psiquiátrica, configurando-se, portanto, em uma pesquisa iminentemente qualitativa e social. Como psicóloga do NASF, a observação como participante e a investigação no campo foram elementos essenciais para apreensão de dados objetivos (USB e ESF) e para compreensão do contexto local, aspectos históricos e culturais os quais enriqueceram qualitativamente os resultados. Todavia, há de se lembrar que como a pesquisadora é 9 integrante do local de pesquisa, a separação com o objeto de pesquisa pode deturpar a visão e as análises dos dados. 10 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em 2009 o município de Tijucas/SC firmou um compromisso com a sociedade civil através do Plano de Saúde (2010-2013), expressando uma série de mudanças estruturais e organizativas na Secretaria Municipal de Saúde – SMS e na rede de serviços prestados, elencando prioridades em saúde e estabelecendo metas. Dentre as prioridades encontrou-se a consolidação e qualificação da Estratégia da Saúde da Família – ESF como modelo de atenção à saúde; a implantação da nova estrutura organizacional da SMS; a readequação física e tecnológica das unidades de saúde existentes. Em consonância com os objetivos almejados no Plano de Saúde, a SMS realizou concurso para ampliação do quadro pessoal. No mês de agosto de 2011 foram admitidos profissionais de Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Educação Física e Nutrição para implantação do Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF no município. Com a contratação de uma psicóloga para compor a equipe esperava-se que acontecessem ações de promoção de saúde no território. No entanto, a atuação se restringiu a consultas individuais de psicoterapia em um ambulatório de saúde, reproduzindo o modelo de segregação da loucura e patologização do sofrimento psíquico. No NASF a inserção da psicologia aconteceu nos moldes da clínica tradicional privada, limitando seu trabalho à práticas isoladas dos demais profissionais, das ESF e da comunidade local. Com a convocação para substituir a psicóloga do NASF, vislumbrou-se a necessidade de rever as práticas até então implementadas e planejar ações que viessem ao encontro dos princípios que nortearam da reforma psiquiátrica no Brasil. 11 3.1 Análise e discussão dos dados O estudo do Plano Municipal de Saúde de Tijucas/SC – PMS (2010-2013) possibilitou conhecer dados populacionais e epidemiológicos, os recursos comunitários, a estruturação da Rede de Atenção à Saúde - RAS (seus dispositivos, área de abrangência, e os fluxos de atendimento), compreendendo o diagnóstico dos serviços em saúde, as áreas de prioridades e as metas da SMS. Com a observação direta e participante do local de trabalho, e em conversas informais com gestores e trabalhadores da saúde, pode-se compreender mais sobre os fatores que determinaram os modos de ser-fazer em saúde. O Plano Municipal de Saúde prevê diversas mudanças nas dimensões políticas, administrativas, humanas e organizativas da rede de atenção à saúde. Essas mudanças expressam transformação na cultura institucional de saúde do município. O gerenciamento da mudança em organização pública de saúde é incomensurável, pois implica pensar nos diferentes contextos sociais, territoriais, epidemiológicos, culturais locais, na capacidade instalada da rede, atuando em complexas variáveis humanas, sociais e culturais e operando com limitados equipamentos de saúde e recursos humanos, materiais e orçamentários. O Plano Municipal de Saúde (2010-2013) priorizou dados demográficos e epidemiológicos para as análises, carecendo considerar outros fatores desestabilizadores internos e externos que influenciam no desempenho institucional. Kissil e Pupo (1998) apresentam uma crítica a essa abordagem de análise no diagnóstico situacional da população e dos serviços de saúde: “Dados demográficos e epidemiológicos coletados rotineiramente pelos órgãos oficiais, como das secretarias estaduais de saúde e do IBGE, nos dão, simplesmente, uma ideia genérica do perfil demográfico e epidemiológico em relação ao total de indivíduos. A crítica que deve ser feita aos resultados dessas análises, base de cálculo dos coeficientes e indicadores de saúde, é em relação à aparente homogeneidade de condições que se imputa a uma dada população e igualmente em relação às necessidades demandadas aos serviços de saúde. Esse fato vem "mascarar as desigualdades às vezes gritantes nas condições de vida e saúde da população, obstruindo a identificação de objetivos operacionais e alvos bem específicos". 12 No setor da saúde, devemos considerar inúmeras forças desestabilizadoras externas e internas que condicionam o processo de mudança. Como fatores de influências externas Kissil e Pupo (1998) citam lobbies econômicos e do setor privado de assistência à saúde; políticos clientelistas que exercem pressão para a instalação de serviços desnecessários; redistribuição do poder; aumento da demanda; política tributária que não valoriza o papel do município; influência da mídia contrária ao SUS, entre outras. Em Tijucas observamos que esses fatores externos estão diretamente associados ao desempenho da instituição saúde pública, além dos interesses políticos dos gestores interferirem na lista de espera de atendimentos e nos serviços ofertados para população. Mencionando algumas forças internas referimos a cultura institucional das organizações públicas, falta de incorporação da missão, fragilidade do sistema de informações, despreparo dos recursos humanos, falta de gerenciamento participativo e descentralizado, falta de mecanismos de avaliação, controle e auditoria, necessidade de incorporação tecnológica. (KISSIL,PUPO, 1998) A falta de capacitação teórica e técnica dos trabalhadores em saúde pública, baixos salários e benefícios, carga horária de trabalho de 40 horas exaustiva, precariedade na estrutura física das UBS, falta de materiais e recursos humanos, falta de especialistas (não tem médico da família nem médico psiquiatra na rede pública) são fatores que condicionam o desempenho funcional e motivação do profissional na atenção básica em Tijucas. Mediante a observação direta e como participante da equipe do NASF, a investigação no campo de trabalho aconteceu através de conversas informais com gestores, coordenadores, trabalhadores da atenção básica à saúde (recepcionista, serviços gerais), profissionais da ESF (Enfermagem, Técnicas de Enfermagem e ACS) e do NASF. Com esse método foi possível ter acesso a valiosas informações sobre o histórico do modelo de atenção primária, o processo de implantação do NASF, a concepção dos seus profissionais sobre seu trabalho (foco na atenção curativista) e da inserção da psicologia. Em conversas informais com os profissionais, percebeu-se que a concepção do campo de trabalho ainda é iminentemente clínica-curativa e a lógica da promoção de saúde é incipiente no município. Desde sua implantação há oito meses, as práticas de parte dos profissionais do NASF e da rede estão voltadas para recuperação e reabilitação do dano. As dificuldades encontradas na sua efetiva implementação, como prevista nas metas do 13 Plano Municipal de Saúde, parecem estar diretamente relacionada ao momento de transição de modelo de assistência a saúde pela qual o município passa. O momento de transição do modelo de assistência à saúde apresenta diversos entraves na concretização das metas e objetivos almejados pela gestão municipal do SUS. A prática incipiente de ações de promoção e da própria concepção ampliada de saúde mostra-se como barreira ideológica e cultural na implantação do NASF. A resistência dos trabalhadores em aderir práticas coletivas e comunitárias de cuidado parece estar relacionado a formação clínica privatista imperante nas graduações de saúde, em que se entende que a saúde pública é um mercado alternativo na carreira clínica, há dificuldade de compreender o processo saúde doença de maneira ampliada. De acordo com as conclusões da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde (2004) a formação dos profissionais de saúde “não pode tomar como referência apenas a busca eficiente de evidências ao diagnóstico, cuidado, tratamento, prognóstico, etiologia e profilaxia das doenças e agravos, mas a busca do desenvolvimento de condições de atendimento às necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde, redimensionando o desenvolvimento da autonomia das pessoas até a condição de influência na formulação de políticas do cuidado” Para tanto, além de realizar um estudo do Plano Municipal de Saúde e observar diretamente o campo de pesquisa, foi preciso organizar a demanda da lista de espera, realizando o levantamento e a categorização dos encaminhamentos para atendimento psicológico. O levantamento e análise de dados referentes aos encaminhamentos permitiu perceber informações quantitativas e qualitativas. Os dados dos encaminhamentos foram classificados quanto ao motivo do encaminhamento, profissional que encaminhou, local do encaminhamento, local de origem – UBS, sexo e faixa etária. Vale aqui lembrar que se trata de um levantamento dos motivos do encaminhamento, realizado por profissionais não gabaritados na área da saúde mental (uma vez que não há psiquiatra na rede pública), não podendo portanto ser confundido com o diagnóstico psiquiátrico. Assim sendo, este levantamento tem objetivo de identificar os principais motivos que levam os profissionais da saúde a encaminhar pessoas para o atendimento psicológico. 14 Na classificação do “motivo” identificou-se oito agrupamentos segundo a descrição do encaminhamento: ansiedade, depressão, conflitos familiares ou conjugais, psicopedagógico, dependência química, condição médica e encaminhamento simples e outros. Compreende-se “ansiedade” as descrições de ansiedade, pânico, compulsão alimentar, nervosismo, insônia e outros sintomas ansiosos em geral. O grupo “depressão” abrange a sintomatologia de episódio depressivo: irritabilidade, humor deprimido, tristeza, choro, depressão, falta de prazer e vontade. Conflitos conjugais ou familiares são assim escritos nos encaminhamentos. Os encaminhamentos da escola ou da Secretaria da Educação geralmente descrevem a dificuldade de aprendizagem como motivo, portanto a demanda é de atendimento psicopedagógico. Em “dependência química” compreende-se alcoolismo/etilismo e a dependência de uma substância psicoativa específica. Condição médica é entendida como necessidade de atendimento psicológico devido ao adoecimento do corpo físico, tal como câncer, AIDS, vitiligo, entre outros. O Quadro 1 apresenta a classificação dos motivos segundo as descrições dos motivos dos encaminhamentos. Quadro 1. Classificação dos motivos segundo as descrições dos encaminhamentos: Classificação Ansiedade Descrição do motivo do Encaminhamento Ansiedade, fobias, estresse, tabagismo, insônia, pânico, TOC, TEPT Condição Médica e outros Vitiligo, câncer, paralisia cerebral, HIV, psoríase, eplepsia, prótese ocular, outros Conflitos familiares e distúrbios de Conflitos familiares e distúrbios de comportamento comportamento Dependência Química Dependência de cocaína, crack, álcool, etilismo Depressão Tristeza, choro, crises existenciais, depressão, luto, ideação suicida Encaminhamento simples Encaminhamento simples, a pedido do paciente, avaliação psicológica, psicoterapia Outros Psicopedagógico TOTAL Frequência 45 10 14 8 43 252 Bipolaridade, labilidade emocional, 21 esquizofrenia, isolamento, autismo, agitação Dificuldade de aprendizagem 12 405 Os dados do profissional que encaminhou e o local do encaminhamento demonstram os fluxos de atendimento, dessa forma, tem-se uma noção dos locais de referencia para atendimento em rede: clínicas particular no município e hospital universitário na região são referências para o atendimento em psiquiatria, tal como CRAS, 15 CREAS, Secretaria de Educação, Fórum de Justiça são exemplos de organizações que não fazem parte da atenção básica em saúde mas são dispositivos estratégicos da rede. Com os dados sobre a UBS de origem foi possível visualizar a quantidade de encaminhamentos, motivo e o perfil dos pacientes encaminhados (sexo, faixa etária), ainda que muitos (142) encaminhamentos não constarem os dados da UBS (127), motivo do encaminhamento (142) e/ou faixa etária (142). A tabela 1 (em apêndice) demonstra o perfil dos usuários (faixa etária e sexo) por UBS. A faixa etária foi divida da seguinte forma: Criança (0 – 12 anos); Adolescente (13 – 18 anos); Jovem (19 – 25 anos); Adulto (26 – 59 anos); Idoso (a partir de 60 anos). A análise dos dados dos encaminhamentos possibilitou visualizar a distribuição da demanda por atendimento em psicologia nas UBS, os motivos que levam diferentes profissionais a encaminhar, a faixa etária e sexo da clientela encaminhada. Cruzando esses dados com os referidos no plano de saúde e com a observação direta, conhecemos como a rede se organiza no município e, assim, reconhecendo os limites do campo de trabalho, podemos tracejar estratégias de ação mais adequadas à realidade local. Com auxílio das equipes de enfermagem da saúde da família foi possível pensar em território e construir coletivamente distritos sanitários de acordo com as características locais da população adstrita. Segundo Almeida e Castro (1998), território deve ser percebido para além dos espaços geográficos “como o local em que se dá o processo de vida da comunidade, a interação de distintos atores sociais com qualificações sociais, econômicas, culturais, políticas, epidemiológicas e históricas distintas”. A população adstrita foi agrupada de acordo com a noção de território da seguinte maneira, como consta no Quadro 2. Quadro 2. População adstrita agrupada de acordo com características locais: DISTRITO SANITÁRIO BAIRRO DA POPULAÇÃO ADSTRITA CARACTERÍSTICA CENTRO Centro, Universitário, XV de Novembro URBANO PRAÇA Praça, Santa Luzia URBANO JOAIA Joaia e Pernambuco URBANO JARDIM PROGRESSO Areias e Jardim Progresso URBANO ITINGA Itinga e Porto do Itinga INTERIOR TIMBÉ Timbé INTERIOR NOVA DESCOBERTA Nova Descoberta INTERIOR CAMPO NOVO Campo Novo, Oliveira e Terra Nova INTERIOR 16 MORRETES Morretes e Imacol INTERIOR SUL DO RIO Sul do Rio INTERIOR O planejamento das ações de atenção à saúde mental em Tijucas foi organizado em território, atendendo a diferentes grupos com demandas específicas de saúde. A atenção à saúde mental foi organizada em rede, articulando os serviços ou equipamentos de saúde com os recursos comunitários. Segundo Brasil, 2005: “É a articulação em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de saúde, que pode garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais. Para a organização desta rede, a noção de território é especialmente orientadora”. No plano de atividades da psicologia no NASF previram-se as ações de curto e médio prazo. Em médio prazo (6 meses à 1 ano) serão realizadas as seguintes ações: elaboração de um instrumento para levantamento de necessidades de capacitação e educação permanente em saúde mental para ACS e ESF; elaboração de um protocolo clínico de atendimento em saúde mental; elaboração roteiro para orientação sobre os fluxos de atenção em SM; elaboração da Cartilha de Atenção em Saúde Mental: Suicídio, Álcool, Drogas Ilícitas, Cidadania, Violência e abuso Familiar, Promoção, Políticas Publicas, Bem estar social; realização de atividades intersetoriais: oficinas nas escolas e palestras em centros comunitários; elaboração de um projeto integrado de saúde que envolvam todos profissionais do NASF e ESF. Nas atividades de curto prazo (em até 6 meses) foram programadas a implantação de ações técnicas pedagógicas com as equipes da ESF (matriciamento e educação permanente) e de assistência direta à comunidade (grupos temáticos, interconsulta, visita e atendimento domiciliar, triagem individual, psicoterapia focal). O apoio matricial é um acompanhamento técnico e assistencial às ESF, visando à ampliação da clínica tradicional e “superando a lógica de encaminhamentos indiscriminados para uma lógica de corresponsabilização entre as equipes de SF e SM, com a construção de vínculos entre profissionais e usuários, pretendendo uma maior resolutividade na assistência em saúde” (BRASIL, 2009). A corresponsabilização do cuidado entre a equipe de referência no território (ESF) e a equipe de apoio (NASF) guia a 17 lógica da atenção à saúde no modelo da clínica ampliada, prevendo uma teia de ações entre os dispositivos da saúde e os dispositivos comunitários. Segundo Brasil, 2008: “ A responsabilização compartilhada entre as ESF e a equipe do NASF na comunidade prevê a revisão da prática do encaminhamento com base nos processos de referência e contrareferências, ampliando-a para um processo de acompanhamento longitudinal de responsabilidade da equipe de Atenção Básica/Saúde da Família, atuando no fortalecimento de seus atributos e no papel de coordenação do cuidado no SUS”. Rompendo com a lógica dos encaminhamentos, o matriciamento propõe a capacitação técnica-assistencial para ampliação da clínica das ESF, sendo que a assistência direta à comunidade se dá nos moldes da corresponsabilização, e somente nos casos em que extrapolar as competências das equipes. Na implantação do NASF em 2011, a psicóloga reproduziu uma clínica de lógica individualista, elitista e psicologista, distante e indiferente às questões sociais e psicológicas que perpassam o cotidiano de vida das pessoas, incompatível com aquela defendida pela Reforma Sanitária. Segundo publicações do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2009), “os psicólogos tendem a reproduzir uma visão reducionista das questões psicológicas envolvidas nos processos de saúde-doença-cuidado” (p.54). No Brasil os Movimentos Sociais pela Democratização, que começaram na década de 70 e tiveram o auge nos anos 80, fizerem inúmeras críticas ao modelo assistencial de clínica privada em saúde, que, segundo olhar da psicologia social crítica e comunitária, é impregnado por um forte conteúdo ideológico individualista e elitista que reforça a segregação da loucura e as desigualdades sociais (DIMENSTEIN, 1998). Contrapondo o modelo tradicional acima explicitado, a planificação das ações de saúde mental em Tijucas seguiu os pilares das reformas psiquiátrica e sanitária, tendo em vista a compreensão ampliada do processo saúde-doença e a noção de território. Na saúde mental o cuidado integral articula ações de prevenção, promoção, tratamento e reabilitação psicossocial no território, partindo da concepção do adoecimento associado ao contexto familiar e comunitário. 18 Nesse cenário de importantes mudanças estruturais na rede de serviços da atenção básica, ampliação do quadro pessoal, implantação do NASF, predominância do modelo assistencialista individual na atenção aos usuários, falta recursos humanos capacitados, entre inúmeras outras transformações, é importante conhecer a configuração atual dos serviços e a situação de saúde para elaborar a planificação dos processos de mudança e o gerenciamento das ações em saúde mental competentes aos NASF. 19 3.2 Atividade Implementadas Do plano de ação em saúde mental no município foram implementadas algumas das atividades previstas. Nas atividades de assistência direta à comunidade foram projetados diferentes grupos que atendem às demandas específicas da população e que estão sendo realizados em caráter permanente. Pensou-se em um Grupo de Acolhimento Psicológico – GAP, Grupo de Mulheres, Grupo de Homens, Grupo de Pais, Oficina Terapêutica, Grupo de Convivência – Adolescentes, Dor Crônica. O primeiro grupo a iniciar foi o Grupo de Acolhimento Psicológico – GAP, um grupo aberto de demanda espontânea e tem como objetivo a criação de um espaço de escuta, acolhimento e orientação, e acontece semanalmente. Não é psicoterapia pois tem caráter focal no auxílio na resolução de conflitos psicológicos urgentes. Através desse primeiro contato com a psicologia, é feita a classificação do risco segundo o risco (BRASIL, 2004) e é agendada uma entrevista de triagem individual para os devidos encaminhamentos. Na triagem individual é feita uma anamnese simplificada, de uma à três entrevistas, que inclui a avaliação das funções psicológicas (pensamento, afeto, consciência, atenção, memória, comportamento, vontade) e do grau de comprometimento psicossocial, constelação familiar e rede de apoio, histórico da doença e contextualização da crise. Ao final do processo é feita a entrevista devolutiva, em que é construído o projeto terapêutico singular e fica acordado quais atividades a pessoa irá participar (grupos e/ou acompanhamento psicoterapêutico individual). Outros encaminhamentos são feitos tanto para os profissionais da saúde (nutricionista, educador físico, fisioterapeuta, fonodióloga, médico pediatra) quanto para os dispositivos da rede (CREAS, CRAS, APAE, HU, IPQ). De acordo com os dados levantados dos encaminhamentos, muitas pessoas buscam o atendimento com a psicologia por conta de sintomas depressivos e ansiosos leves e moderados, pensando nessa clientela foi criado o Grupo de Mulheres e o Grupo de Homens. Esses grupos são espaços de troca de experiência do sofrimento subjetivo, são fechados, tem estrutura de grupo operativo em que a tarefa é a cura. A opção pelo nome “mulheres” e “homens” e não pelo nome de uma doença “depressão” e “ansiedade” faz parte da estratégia de promoção de saúde, não focando apenas na doença, mas dando uma atenção à pessoa em sua integralidade. Marcondes (2004) lembra que “a ênfase na compreensão da saúde como um processo, no qual se prioriza a vida com qualidade ao 20 invés da ausência de doença, situa a promoção da saúde em oposição crítica à medicalização da vida social e em defesa do posicionamento político em torno de relações sociais mais eqüitativas.” Portanto, temas como sintomas depressivos e ansiosos são trabalhados no grupo, mas não somente isso. O Grupo de Pais objetiva dirimir a demanda de atendimentos infanto-juvenis, trabalhando temas comuns à família, como limites, educação, desenvolvimento infantil, inveja de irmãos, agressividade, drogas, entre outros. Este foi formado pela convocação telefônica dos pais das crianças e adolescentes que estavam na lista de espera. No grupo os casos em que haja negligência, violência, suspeita de maus tratos, tentativa de suicídio, morte recente de um ente querido, histórico de transtorno psiquiátrico severo ou outra situação de crise são agendados para avaliação da família. A Oficina Terapêutica vem atender pessoas com transtorno mental severo através expressão do mundo interior no mundo real e concreto. O processo criativo potencializa a autonomia da pessoa institucionalizada, estimulando a desenvolver as habilidades de comunicação e interação com outras pessoas. Esse grupo se faz de suma importância uma vez que o município carece de CAPS e os únicos recursos para o manejo da crise psicótica é a internação no IPQ ou em leitos psiquiátricos de hospitais gerais, que geralmente já estão ocupados. A imensa lista de espera para atendimento com a fisioterapia (cerca de 800 pessoas) revela a importância epidemiológica do grupo de Dor Crônica. A expectativa de vida da população é alta, aumentando a prevalência de doenças crônicas e degenerativas. Dados epidemiológicos do PMS também mostram o número de morte por causa em 2007 no município. Do total de 189, sendo neoplasias (35), doenças do aparelho circulatório (53) e respiratório (22) e causas externas (28, sendo 25 sexo masculino). O número de mortes por causas externas indica que acontecem muitos acidentes (de transito, de trabalho, vitimas de violência urbana), os que sobrevivem geralmente sofrem por conta das sequelas e precisam de uma reabilitação. Esses dados apontam a importância da atenção psicológica para essa população específica que convive diariamente com a dor. O Grupo de Convivência tem objetivo de juntar adolescentes e oportunizar um espaço de acolhimento, escuta e troca de experiências, aprendendo a lidar com as diferenças. A adolescência é um período de grandes mudanças na vida dos indivíduos. Constantes processos identitários acontecem sucessivamente, e muitas vezes a falta de 21 suporte familiar, escolar e comunitário pode desencadear um profundo sofrimento psíquico e sentimento de solidão e confusão. Existem grupos de alimentação saudável, grupo de obeso e grupo de gestantes coordenados pela nutrição. A proposta da psicologia é de integrar atividades psicoeducativas nesses grupos, participando em um encontro para trabalhar o sentido da alimentação para os obesos, trabalhar técnicas de diminuição da ansiedade; aspectos psicológicos do desenvolvimento e da maternidade, entre outros. Essas atividades foram pensadas de forma conjunta com os diferentes atores sociais envolvidos, tendo em mente que o planejamento é mais efetivo uma vez que todos participam de sua construção. O enquadre adequado para cada grupo é discutido no próprio grupo e com os demais profissionais responsáveis. 22 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Migrando do modelo assistencial para a compreensão ampliada, o município de Tijucas, SC, encontra barreiras físicas, orçamentárias, psicológicas, humanas, sociais e ideológicas na concretização das metas previstas no Plano de Saúde. O planejamento é um complexo instrumento de gestão que não deve ser reduzido a simples aspectos populacionais e a capacidade instalada da rede, pois envolve a vida de seres humanos, aqueles que planejam, os que trabalham diretamente na atenção à comunidade, e as pessoas que são atendidas. Portanto, é de extrema importância que essa ferramenta seja constantemente revista e rearranjada, modificada de acordo com as mudanças da comunidade e das necessidades de saúde. Com a implantação do NASF em agosto de 2011, o município passou por um momento de transição paradigmática do modelo de atenção à saúde. Evidencia-se que a prática dos profissionais ainda não acompanha o passo da reforma preconizada. Com recente inserção da psicologia na atenção básica municipal faz-se necessário pensar em novos referenciais teórico-metodológicos, atualizando conceitos, potencializando o vínculo com a comunidade, aproximando-se da realidade local do território, conhecendo profundamente a rede de atenção à saúde e o trabalho da ESF. O olhar clínico deve ser ampliado de forma a compreender os processos psicológicos dentro do contexto onde se formam. Os modelos teórico-metodológicos de atenção à saúde mental devem considerar o processo social de produção da saúde e não somente o do adoecimento. Pensar em saúde mental necessariamente implica considerar a rede de atenção à saúde como um emaranhado vivo de relações de poder, que envolvem diferentes interesses e atores sociais, para além do conjunto de serviços de saúde mental. Na Atenção Básica as ações de promoção de saúde se dão no cotidiano do trabalho, no acolhimento do sofrimento subjetivo, no espaço conquistado de discussões e reflexões inter-setoriais, no resgate da coletividade nas atividades de congregações na comunidade, no direito conquistado de saúde como cidadania; enfim, em toda e qualquer ação que, em última análise, vise autonomia, liberdade e respeito ao ser humano. É preciso conhecer os recursos comunitários, articular com associações, instituições, cooperativas e os demais espaços de produção de cidadania. “É a articulação em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de saúde, que pode garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais” (BRASIL, 2005). 23 Na construção da rede de saúde mental buscou-se aproximar da realidade, conhecer a história do setor saúde no município, os objetivos da gestão, os diferentes saber-fazer dos profissionais no seu dia a dia, a vivência do sofrimento subjetivo e os espaços de promoção de saúde na comunidade. Com a atuação na rede comunitária, a intervenção de saúde mental visou reduzir a estigmatização e segregação da loucura e do louco, dialogar na comunidade, empoderar grupos minoritários excluídos, promover saúde e cidadania para além do setor saúde, de forma a reaver o direito a cidadania e dignidade do ser humano, revisando as relações de poder inerentes às relações humanas, reforçando o poder de contratualidade rumo à autonomia e liberdade. 24 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Eurivaldo Sampaio de; CASTRO, Cláudio Gastão Junqueira de; LISBOA, Carlos Alberto. Distritos Sanitários: Concepção e Organização, Volume 1. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. (Série Saúde & Cidadania). BRASIL. Lei n° 8080, de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 1990. BRASIL. Lei n° 10.216, de 6 de Abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. 2001 BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 154, de 24 de Janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. 2008 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF. Cadernos de Atenção Básica, n. 27 Brasília : Ministério da Saúde, 160 p., 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilancia em Saúde. Departamento de análise de situação em saúde. Coordenação de doenças e agravos não transmissíveis. Manual de Orientações para formulação de propostas de ações. Ministério da Saúde: Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. HumanizaSUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde. Departamento de Educação em saúde.Aprender SUS: os cursos de graduação na área da saúde.SGTES, Brasília, DF, 2004. CNE. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de saúde. Acesso em 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA A prática da psicologia e o núcleo de apoio à saúde da família / Conselho Federal de Psicologia. – Brasília : CFP, 2009. p.172 DESCRITORES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (DeCS). Planejamento em Saúde. Acesso em 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://decs.bvs.br 25 DIMENSTEINS, Magda Diniz Bezerra. O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde: desafios para a formação e atuação profissionais. Estudos de Psicologia, n. 3. Fundação Municipal de Saúde de Teresina, 58-81p., 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n1/a04v03n1.pdf GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. KISIL, Marco; PUPO, Tânia Regina G. B. Gestão da Mudança Organizacional – Série Saúde & Cidadania, Volume 4. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. (Série Saúde & Cidadania). MARCONDES, Willer Baumgarten. A convergência de referências na Promoção da Saúde. Saúde e Sociedade v.13, n.1, p.5-13, jan-abr 2004. Site da prefeitura municipal de Tijucas/ SC. Acesso em 12 de Abril de 2012. Disponível em: http://www.tijucas.sc.gov.br