COMUNIDADE DE ABELHAS EUGLOSSINI (HYMENOPTERA, APIDAE) DE DOIS FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS EM LONDRINA, PR Bruno Reganin Ferrai (PIBIC/CNPq-UEL), Henrique Marques de Oliveira, Stéphany Watzel, Silvia Helena Sofia (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Biologia Geral/Londrina, PR. Área: Ciências Biológicas. Subárea: Ecologia Palavras-chave: Abelhas das orquídeas, fragmentos urbanos. Resumo: Apesar do grande impacto ambiental que sofrem, os fragmentos de mata urbanos representam potenciais refúgios para as espécies que tiveram seus habitats naturais destruídos. No presente trabalho, foram estudadas as comunidades de abelhas Euglossini (Hymenoptera, Apidae) de dois fragmentos urbanos da cidade de Londrina, PR. Ao todo foram coletados 150 indivíduos, sendo 39 no fragmento A (fragmento urbano de 10 ha) e 101 no local B (fragmento urbano de 18,5 ha). As espécies mais frequentes foram, respectivamente, Euglossa cordata (A = 48,7 e B = 52,5) e Euglossa truncata (A = 33,3 e B = 35,7), constituindo juntas: 82% da amostra total no fragmento A e, 88,2% das abelhas coletadas no fragmento B. Tal resultado sugere que estas duas espécies têm conseguido ocupar de forma mais eficiente que outras espécies de Euglossini os ambientes urbanos. Introdução De acordo com a literatura atual, a fragmentação de habitats, a exemplo do que acontece com a fragmentação de florestas, representa uma séria ameaça à biodiversidade. Tal fragmentação pode gerar uma queda na variabilidade genética das espécies presentes na região e também nas interações ecológicas entre os indivíduos de cada espécie, resultando em perda da biodiversidade através da extinção local de várias espécies (Galindo-Leal et al., 2005). Limitados aos pequenos remanescentes da floresta original, algumas espécies podem desaparecer sem ao menos terem sido conhecidas ou descritas. A conservação do que resta da Mata Atlântica é hoje uma necessidade que motiva tanto o governo brasileiro como a sociedade civil, instituições acadêmicas e o setor privado a buscar soluções e meios para preservar ao máximo o que ainda resta desse hotspot (ponto de grande importância) de vida mundial (Da-Silva, Casteleti, 2005). Um dos tipos de fragmento que merece especial atenção são os fragmentos localizados em áreas urbanizadas. Geralmente, tais ambientes Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. apresentam uma alta densidade de construções e são expostos a constate e intensa atividade humana (McIntyre et al., 2001). Mesmo com a má qualidade ambiental de alguns fragmentos e ameaças frequentes a que estes estão expostos, os fragmentos urbanos têm grande importância, servindo como refúgios para um grande número de espécies, que se encontram isoladas em suas áreas. O presente trabalho teve por objetivo estudar a comunidade de abelhas Euglossini, um grupo de abelhas neotropicais que têm suas comunidades em áreas urbanas ainda pouco estudadas. Para tanto, foram estudados dois fragmentos florestais localizados na cidade de Londrina, norte do Paraná. Materiais e métodos Ambos os fragmentos estudados consistem de vegetação do tipo secundária, representando remanescentes bastante modificados de floresta estacional semidecidual. Fragmento A: localizado sob as coordenadas 23°18'4311"S, 51°10'5851"W, consiste em uma mata ciliar de cerca de 19 ha, presente em um fundo de vale às margens do córrego Rubi, constituída de algumas espécies vegetais nativas, contudo, principalmente formada por espécies introduzidas. A área é cercada por bairros residenciais, na região sul da cidade. Fragmento B: também localizado no perímetro urbano do município de Londrina, PR (23°19'458"S, 51°10'2272"W). Consiste em uma mata ciliar de 18,5 ha, em um fundo de vale às margens do córrego Água Fresca constituída de algumas espécies vegetais nativas, contudo, na maior parte formada por espécies introduzidas, cercada por bairros residenciais, na região sul da cidade. Dista cerca de um quilômetro e 200 metros do fragmento A, sendo separados por um bairro residencial. A metodologia de coleta foi baseada em Sofia & Suzuki (2004), com modificações. As amostragens foram realizadas simultaneamente por dois coletores posicionados em dois pontos de coleta, separados entre si por uma distância de aproximadamente 400 m. As amostragens foram realizadas nos meses de março, abril, maio e outubro e novembro de 2009 e tiveram em média duas horas e meia de duração, sendo realizadas no horário entre 9:00 e 14:00 horas. Durante as coletas foram empregadas iscas-odores de cinco fragrâncias (eucaliptol, eugenol, vanilina, acetato de benzila e beta-ionona) e os machos atraídos às iscas-odores foram capturados com uma rede entomológica. Foram realizadas seis amostragens/área de estudo. As análises envolveram: 1) o cálculo da frequência observada (FO) para cada espécie em cada fragmento foi realizado segundo a fórmula: FO = Número de coletas com a espécie X no fragmento / Número total de coletas no fragmento; 2) a Dominância (Do) de cada espécie dentro de cada fragmento, calculada pela fórmula: Do = Abundância da espécie X no Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. fragmento / Abundância total do fragmento e, 3) o cálculo do índice de diversidade de Shannon (H’). Resultados e Discussão No total, foram coletados 150 machos de Euglossini, pertencente a dois gêneros, e cinco espécies diferentes. No fragmento A (córrego Rubi) foram coletados 39 indivíduos, sendo quatro as espécies: Euglossa cordata (19), Euglossa truncata (13), Euglossa pleosticta (3) e Eulaema nigrita (4). Já no fragmento B foram coletados 101 indivíduos de cinco espécies diferentes: Euglossa cordata (53), Euglossa truncata (36), Euglossa pleosticta (4), Euglossa fimbriata (1) e Eulaema nigrita (7). Apesar das coletas nesses dois fragmentos terem sido realizadas com o mesmo esforço amostral (seis coletas), e dos mesmos terem composição vegetal semelhante, serem localizados perto um do outro e serem praticamente do mesmo tamanho, os dados obtidos foram bastante discrepantes. Parte disso se deve provavelmente ao fato de que a maior parte das no fragmento B terem sido realizadas nos meses de abril e maio, enquanto que no fragmento A, as coletas foram todas realizadas em outubro e novembro. Apesar da utilização de cinco diferentes essências nas iscas odores (eucaliptol, eugenol, vanilina, acetato de benzila e beta-ionona), a que se mostrou mais eficaz foi a essência eucaliptol, atraindo 64% dos machos no fragmento A e 73% no fragmento B. As frequências observadas e dominância de cada espécie em cada fragmento, bem como o número total de animais coletados estão representadas na Tabela 1. Os índices de diversidade de Shannon (H’) foram bastante similares para ambas as áreas: 1,147 (fragmento A) e 1,065 (fragmento B). Tabela 1: Espécies de Euglossini coletadas, sua abundância, frequência observada e dominância. Fragmento A Fragmento B Espécie FO Do FO Do N N (%) (%) (%) (%) Euglossa cordata (Linneaus) 19 71 48,70 53 100 52,50 Euglossa truncata (Rebêlo & Moure) 13 71 33,30 36 84 35,70 Euglossa pleosticta (Dressler) 3 28 7,70 4 50 3,90 Euglossa fimbriata (Rebêlo & Moure) 0 0 0 1 17 1 Eulaema nigrita (Lepeletier) 4 42 10,20 7 67 6,90 Ao se observar as espécies ocorrentes em cada fragmento e as compararmos com as espécies comumente coletadas na região, nota-se que a numerosa ocorrência de Euglossa cordata e Euglossa truncata em áreas urbanas não é um dado a ser considerado pouco significativo. Outros trabalhos realizados na região, porém em fragmentos rurais, mostram que nesse tipo de fragmento tais espécies são pouco frequentes, como por Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. exemplo, em Sofia e Suzuki (2004), onde as duas espécies em questão apresentaram as menores abundâncias e em Watzel et al. (2009) onde as abundâncias das duas espécies em questão foram baixas em quatro fragmentos rurais diferentes. Conclusões A acentuada dominância e ocorrência das espécies Euglossa cordata e Euglossa truncata nas duas áreas urbanas estudadas sugere que estas duas espécies têm conseguido ocupar de forma mais eficiente que outras espécies de Euglossini os ambientes urbanos. Agradecimentos B.R. Ferrari agradece ao CNPq-PIBIC (UEL) pela bolsa de IC. Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro. Referências Da-Silva, J.M.C.; Casteleti, C.H.M. Estado da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira. In: Mata Atlântica: Biodiversidade, ameaças e perspectivas. 1ª ed. Galindo-Leal, C., Câmara, I.G. (Eds.) Belo Horizonte: Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional, 2005, 43-59. Galindo-Leal, C. et al. Estado dos hotspots: a dinâmica da perda de biodiversidade. In: Mata atlântica: Biodiversidade, ameaças e perspectivas. 1.ed. GALINDO-LEAL, C., CÂMARA, I.G. Belo Horizonte: Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional, 2005, 12-23. McIntyre, N.E. et al. Ground arthropod community structure in a heterogeneous urban environment. Landscape Urban Plan 2001, 52, 257– 274. Sofia, S.H.; Suzuki, K.M. Comunidades de machos de abelhas Euglossina (Hymenoptera: Apidae) em fragmentos florestais no sul do Brasil. Neotrop. Entomol. 2004, 33, 693-702. Watzel, S.; Ferrari, B.R.; Andrade, L.N.; Sofia, S.H. Comunidades de Euglossini (Hymenoptera, Apidae) de quatro fragmentos florestais no norte do Paraná. In: IX Congresso de Ecologia do Brasil, 2009, São Lourenço. Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, 2009. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.