ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
ISSN 0102-6380
AÇÃO HEMATOTÓXICA DO SULFATO DE VINCRISTINA SOBRE A
CELULARIDADE SANGÜÍNEA CENTRAL E PERIFÉRICA EM CÃES
(HEMATOTOXIC ACTION OF VINCRISTINE SULPHATE ON THE PERIPHERAL
AND CENTRAL BLOOD CELLULARITY IN DOGS)
(ACCIÓN HEMATOTÓXICA DEL SULFATO DE VINCRISTINA SOBRE LA
CELULARIDAD SANGUÍNEA CENTRAL Y PERIFÉRICA EN CANINOS)
M. F. R. SOBREIRA1; A. E . SANTANA 2; M. A. DIAS 1;
L. F. R. SOBREIRA3; F. G. V. GAMA4; P. P. V. DINIZ5
RESUMO
No presente estudo foi utilizado o sulfato de vincristina, um agente antineoplásico amplamente empregado no
tratamento de tumores de células redondas, cuja ação citostática não seletiva pode induzir a um estado de anemia aplástica,
impedindo a formação de um fuso mitótico funcional e interrompendo, assim, a proliferação celular na metáfase. O referido
estudo teve como escopo principal avaliar os efeitos hematotóxicos do sulfato de vincristina , em cães sadios. Para tanto,
dez cães adultos, sem raça definida, machos ou fêmeas e clinicamente sadios foram divididos em dois grupos de tratamento
que receberam oito aplicações, a intervalos semanais, de dois diferentes níveis de dosagens de sulfato de vincristina:
grupo T1 (0,010mg/kg de peso corporal) e grupo T2 (0,025mg/kg de peso corporal). O estudo do quadro hematológico
periférico deu-se a cada 7 dias e do quadro hematológico central, no final de cada uma das três etapas experimentais, assim
caracterizadas: etapa 1 – obtenção dos valores controle (M0), etapa 2 – aplicação da droga (M1) e etapa 3 – avaliação da
reversibilidade das alterações durante 35 dias (M2). Os resultados obtidos, sob as condições experimentais testadas,
revelam que houve alterações hematológicas, central e periférica, especialmente nos animais submetidos à maior dosagem
de vincristina (0,025mg/kg de PC), evidenciando, portanto, que a droga tem ação hematotóxica. Além disso, que a menor
dosagem empregada (0,010mg/kg de PC) foi capaz de estimular a atividade trombopoética, quando em dosagem única ou
em duas aplicações. As alterações hematológicas induzidas pela administração de vincristina revelam-se dose e tempo
dependentes e de caráter reversível.
PALAVRAS-CHAVE: Sulfato de vincristina. Cães. Hematotoxicidade.
SUMMARY
Several cytostatic drugs used in the therapy of neoplasias, such as busulphan, doxorubicin, vincristine sulphate
(VCR) and methotrexate, have also been employed as causal agent for bone marrow aplasia models. All of these drugs are
characterized by an extraordinary non-seletive cytostatic effect. Their cytopenic actions can be pointed out with relation
to the rapid renewal cell system such as the hematopoietic and epithelial tissues. In the present study, VCR, antineoplastic
1
Médica Veterinária - Doutoranda - Unesp Jaboticabal - Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, km 5 - DCCV Jaboticabal (SP) - CEP 14884-900.
2
Médico Veterinário - Prof. Adjunto - Unesp Jaboticabal
3
Médica Veterinária - Prof. Doutora - Centro Universitário Moura Lacerda.
4
Médica Veterinária - Mestranda - Unesp Jaboticabal
5
Médico Veterinário - Residente Unesp Jaboticabal
169
M.F.R. SOBREIRA, A. E. SANTANA, M. A. DIAS, L. F. R. SOBREIRA, F. G. V. GAMA. Ação hematóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade sangüínea central e
periférica em cães. / Hematotoxic action of vincristine sulphate on the peripheral and central blood cellularity in dogs./ Acción hematotóxica del sulfato de vincristina
sobre la celularidad sanguínea central y periférica en caninos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
agent used in the treatment of round cell tumors, was used aiming at evaluating its cytostatic action, by monitoring central
and peripheral blood celularity. For such healthy mongrel adults dogs were divided into two treatment groups of five
animals, which were treated with eigth applications of two different levels of VCR, at weekly intervals: Group T1 (0.010 mg/
kg of weight) and Group T2 (0.025 mg/kg of weight). Studies of erythroid, leukocytic and thrombometric parameters from
peripheral and central levels were carried out. The results obtained for the peripheral and central features, under the tested
experimental conditions, showed that VCR produced hematotoxic effects in animals treated with the higher dose (0.025 mg/
kg). The lower dose of VCR (0.010 mg/kg) showed efficiency in the stimulation of thrombopoiesis, after one or two
applications. At least, 35 days after the discontinuation of the injections of VCR the average values obtained for the
hematological parameters reached basal levels, attesting the reversibility of the hematotoxic effects of the used cytostatic
drug.
KEY-WORDS: Vincristine sulphate. Dogs. Hematotoxicity.
RESUMEN
En el presente estudio fue utilizado el sulfato de vincristina, un agente antineoplásico ampliamente empleado en el
tratamiento de tumores de células redondas, cuya acción citostática no selectiva pode inducir un estado de anemia
aplástica, impidiendo la formación de un huso mitótico funcional e interrumpiendo la proliferación celular en la metafase.
O objetivo principal del estudio fue evaluar los efectos hematotóxicos del sulfato de vincristina en perros sanos. Para tal
fin, diez perros adultos, mestizos, machos o hembras y clínicamente sanos, fueron distribuidos en dos grupos de tratamiento,
que recibieron ocho aplicaciones, con intervalos semanales, de dos dosis diferentes de sulfato de vincristina: grupo T1
(0,010 mg/kg de peso corporal) y grupo T2 (0,025 mg/kg de peso corporal). El estudio del cuadro hematológico periférico
fue realizado a cada 7 días y el del cuadro hematológico central al final de cada una de las tres etapas experimentales
caracterizadas de la siguiente manera: etapa 1- obtención de los valores control (M0), etapa 2- aplicación del fármaco (M1)
y etapa 3- evaluación de la reversibilidad de las alteraciones durante 35 días (M2). Los resultados obtenidos con las
condiciones experimentales testadas revelan que hubo alteraciones hematológicas centrales y periféricas, especialmente
en los animales sometidos a la dosis mayor de vincristina (0,025 mg/kg). De esta forma se evidenció que el fármaco tiene
acción hematotóxica y, adicionalmente, que la menor dosis usada (0,010 mg/kg) fue capaz de estimular la actividad
trombopoyética, cuando usada en dosis única o en dos aplicaciones. Las alteraciones hematológicas inducidas por la
administración de vincristina se revelaron dosis y tiempo dependientes y de carácter reversible.
PALABRAS CLAVE: Sulfato de vincristina. Perros. Hematotoxicidad.
INTRODUÇÃO
Uma contribuição importante para o
desenvolvimento da hematologia veterinária vem sendo
obtida pelo estudo dos mecanismos fisiopatológicos
envolvidos nos distúrbios hematológicos, como anemia
aplástica, mielofibrose e leucemias. Sabe-se que tais
mecanismos estão relacionados com lesão das célulastronco (ou stem cells) hematopoéticas e/ou do
microambiente hematopoético indutivo (SANTANA,
1988). Recentemente, várias drogas citostáticas utilizadas
na terapia de diferentes modalidades de neoplasias, como
busulfan, doxorubicina, sulfato de vincristina e o
metotrexato, entre outras, estão sendo empregadas em
modelos de hipoplasia sangüínea quimicamente induzida
(SANTANA, 1988; DIAS, 1998). Tais drogas são
caracterizadas por apresentarem um extraordinário efeito
citostático não seletivo, sendo que suas ações citopênicas
ocorrem principalmente nos chamados sistemas celulares
de renovação rápida, como o hematopoético,
espermatogênico e tecido epitelial.
O sulfato de vincristina, alcalóide derivado da
planta Vinca rosea, é amplamente utilizado como droga
citostática e atua em células que se encontram no ciclo
celular, interrompendo sua divisão mitótica na metáfase
através da dissolução do fuso mitótico (ROSENTHAL,
1981). Clinicamente, o sulfato de vincristina possui um
amplo espectro de ação e induz poucas alterações na
medula óssea, sendo a trombocitose um dos seus
importantes efeitos (MADEL et al., 1977; WOLF, 1983).
Por outro lado, MORSE e STOHLMAN (1960) mostraram
o efeito supressivo da referida droga mais evidenciado
170
M.F.R. SOBREIRA, A. E. SANTANA, M. A. DIAS, L. F. R. SOBREIRA, F. G. V. GAMA. Ação hematóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade sangüínea central e
periférica em cães. / Hematotoxic action of vincristine sulphate on the peripheral and central blood cellularity in dogs./ Acción hematotóxica del sulfato de vincristina
sobre la celularidad sanguínea central y periférica en caninos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
nas populações de células eritróides do que em
granulócitos e no sistema megacariocitário. A dosagem, o
intervalo entre as aplicações e o tempo de exposição à
vincristina são fatores importantes em relação à ocorrência
de efeitos citopênicos indesejáveis, que podem repercutir
desfavoravelmente em sistemas celulares de renovação
rápida. CAMACHO e LAUS (1987) relatam a não ocorrência
de diferenças significativas entre os valores médios de
eritrogramas em cães portadores de tumor venéreo
transmissível (TVT), considerando-se as fases de pré e
pós-tratamento com monoquimioterapia de vincristina
(0,025 mg/kg de peso corpóreo), semanalmente, durante
quatro semanas. Os referidos autores verificaram
diminuição dos valores absolutos de leucócitos decorrente
de neutropenia no pré-tratamento e na quarta aplicação,
porém ainda dentro dos limites fisiológicos normais. Por
outro lado, a administração intravenosa (IV) de vincristina,
0,025 mg/kg de peso corpóreo, induziu alterações
citológicas mais notáveis, especialmente em relação à
linhagem de células eritróides (DINESH et al, 1993). Tais
anormalidades incluíam aumento no número de células
em mitose (primariamente na metáfase), configurações
nucleares anormais e núcleos fragmentados. Além disso,
12 a 24 horas após o tratamento, a relação M:E
(mielóide:eritróide) estava aumentada, cujo aumento
atribui-se à diminuição no número de células eritróides
(ALLEMAN & HARVEY, 1993). De acordo com O’keefe e
Harris (1990), doses mais elevadas de vincristina (0,06mg/
kg de peso corpóreo), em cães, levam ao aparecimento de
anemia, leucopenia e elevação das atividades séricas das
transaminases. Doses de 0,75mg/m2 induzem a ocorrência
de mielossupressão que declina em quatro dias. O regime
terapêutico fundamentado em dosagens pequenas e
repetidas de vincristina, a intervalos de nove dias,
geralmente não causa danos às células hemopoéticas e
permite sua regeneração e repovoamento (RICCARDI et
al., 1980; RICCARDI et al., 1981).
Deste ponto de vista, considerando-se que as
diferentes linhagens de células sangüíneas constituem
sistemas celulares de renovação rápida (turnover
acelerado) e considerando-se, de outra parte, que a extensa
família de drogas antineoplásicas (inclusive a vincristina)
exerce seus efeitos citostáticos de forma não seletiva, os
diferentes estágios desenvolvimentais replicantes e não
replicantes, das linhagens celulares leucocitária,
plaquetária e eritrocitária podem ser reversível ou
irreversivelmente lesados pela ação das drogas
antineoplásicas. Em decorrência do fato da magnitude do
efeito citostático da vincristina ser proporcional à atividade
proliferativa celular, os eritroblastos são mais afetados do
que as células mielóides e linfóides medulares (FREI et al.,
1964, RICCARDI et al., 1980; RICCARDI et al., 1981). Deve
ser relembrado que o grau de mielossupressão é afetado
por vários fatores, mas está diretamente relacionado a dose
empregada, bem como tempo de exposição à droga. A
vincristina, geralmente, não causa mielossupressão
irreversível quando usada em doses terapêuticas (DINESH
et al, 1993), pois as células-tronco pluripotenciais
encontram-se na fase de repouso (G0), fora do ciclo celular,
protegidas da ação citotóxica da vincristina, assim, o
recrutamento de tais células para dentro do ciclo celular
permite o repovoamento da medula óssea após a
suspensão da quimioterapia (O’KEEFE & HARRIS, 1990).
Ademais, o estado geral de cada paciente pode, também,
influenciar o grau de mielossupressão. Dessa forma,
animais submetidos a protocolos quimioterápicos prévios,
ou aqueles com neoplasias envolvendo a medula óssea,
podem desenvolver citopenias mais graves em resposta a
terapia anticâncer com vincristina. Além disso, a
incapacidade funcional e metabólica do paciente, com
conseqüente retardo na metabolização e excreção da
droga, podem, também, aumentar a sua ação tóxica geral
TABELA 1 – Valores médios obtidos para eritrócitos, hemoglobina, hematócrito e plaquetas em cães expostos a diferentes
doses de sulfato de vincristina (T1: 0,010mg/kg and T2: 0,025mg/kg), em oito aplicações a intervalos semanais.
Jaboticabal (SP).
-M0: Valores médios obtidos no período controle
-M1: Valores médios obtidos no período de administração da droga
-M2: Valores médios obtidos no período de avaliação da reversibilidade das alterações
(1): médias de uma mesma coluna seguidas por letras maiúsculas iguais não diferem entre si (p< 0,05).
171
M.F.R. SOBREIRA, A. E. SANTANA, M. A. DIAS, L. F. R. SOBREIRA, F. G. V. GAMA. Ação hematóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade sangüínea central e
periférica em cães. / Hematotoxic action of vincristine sulphate on the peripheral and central blood cellularity in dogs./ Acción hematotóxica del sulfato de vincristina
sobre la celularidad sanguínea central y periférica en caninos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
TABELA 2 – Valores médios obtidos para leucócitos, neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e monócitos em cães expostos a
diferentes doses de sulfato de vincristina (T1: 0,010mg/kg and T2: 0,025mg/kg), em oito aplicações a intervalos
semanais. Jaboticabal (SP).
-M0: Valores médios obtidos no período controle
-M1: Valores médios obtidos no período de administração da droga
-M2: Valores médios obtidos no período de avaliação da reversibilidade das alterações
(1): médias de uma mesma coluna seguidas por letras maiúsculas iguais não diferem entre si (p< 0,05).
TABELA 3 – Valores médios dos parâmetros do mielograma obtidos em cães expostos a diferentes doses de sulfato de
vincristina (T1: 0,010mg/kg and T2: 0,025mg/kg), em oito aplicações a intervalos semanais. Jaboticabal (SP).
-M0: Valores médios obtidos no período controle
-M1: Valores médios obtidos no período de administração da droga
-M2: Valores médios obtidos no período de avaliação da reversibilidade das alterações
(1): médias de uma mesma coluna seguidas por letras maiúsculas iguais não diferem entre si (p< 0,05).
(O’KEEFE & HARRIS, 1990).
No presente estudo, o sulfato de vincristina foi
empregado com o objetivo principal de avaliar seus efeitos
citostáticos nos elementos figurados do sangue.
MATERIALE MÉTODOS
Para tanto, dez cães adultos, sem raça definida,
machos ou fêmeas, com peso médio de 10kg e clinicamente
sadios foram divididos em dois grupos de tratamento, que
receberam oito aplicações, a intervalos semanais, de dois
diferentes níveis de dosagens de sulfato de vincristina:
Grupo T1 (0,010 mg/kg de peso corporal - PC) e Grupo T2
(0,025 mg/kg de PC). O estudo do quadro hematológico
periférico (hemograma e plaquetograma) deu-se a cada
sete dias, sendo as amostras obtidas por punção da veia
jugular, envasadas em frasco plástico contendo EDTA
(hemograma) ou citrato de sódio a 3,8% (plaquetograma)
e processadas logo após a colheita em contador
automático de células . Já as amostras de material medular
foram obtidas por punção biópsia aspirativa de crista ilíaca
sob anestesia geral de curta duração. Posteriormente,
foram confeccionados esfregaços de material medular e
corados com corante May-Grunwald-Giemsa. Assim, a
avaliação do quadro hematológico central (mielograma)
foi realizada no final de cada uma das três etapas
experimentais, assim caracterizadas: etapa 1– obtenção
dos valores controle com duração de 35 dias (M0-média
de seis colheitas), etapa 2– aplicação da droga (M1- média
de sete aplicações) e etapa 3– avaliação da reversibilidade
das alterações (M2 - média de seis colheitas).
Os resultados obtidos para as diferentes
características estudadas e para os diferentes grupos de
tratamento foram analisados estatisticamente de acordo
com o delineamento em parcelas subdivididas,
considerando-se como tratamentos principais os níveis
de dosagem e como tratamentos secundários os momentos
de colheita. As médias consideradas estatisticamente
significativas pelo teste F foram então comparadas pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade (PIMENTEL
GOMES, 1987).
172
M.F.R. SOBREIRA, A. E. SANTANA, M. A. DIAS, L. F. R. SOBREIRA, F. G. V. GAMA. Ação hematóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade sangüínea central e
periférica em cães. / Hematotoxic action of vincristine sulphate on the peripheral and central blood cellularity in dogs./ Acción hematotóxica del sulfato de vincristina
sobre la celularidad sanguínea central y periférica en caninos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos para os parâmetros
eritrocitários, leucocitários e trombométricos estão
configurados nas Tabelas 1 e 2 e aqueles obtidos para o
mielograma, na Tabela 3, a seguir.
Os achados, periféricos e centrais, obtidos no
presente experimento para a série eritrocitária revelam que
o sulfato de vincristina induz a diminuição da proliferação
celular da linhagem eritróide, mais evidente no grupo T2,
observada pelos valores médios obtidos para a contagem
global de eritrócitos, teor de hemoglobina e PCV (p<0,05)
que foram inferiores àqueles do momento controle (M0),
confirmando os achados de MORSE e STOHLMAN
(1960), FREI et al. (1964), ALLEMAN e HARVEY (1993) e
DINESH et al. (1993) e, por outro lado, contrariando
aqueles de CAMACHO e LAUS (1987), que não
observaram diferenças significativas nos valores médios
dos eritrogramas após a utilização da referida droga em
cães com TVT. A significante redução dos parâmetros
eritrocitários nos referidos animais reflete um estado de
anemia hipoplástica, confirmado pela hipocelularidade
relacionada aos estádios evolutivos dos compartimentos
eritróides medulares (eritroblasto basofílico e
policromatofílico) no grupo T2.
Por outro lado, com relação à série leucocitária,
verifica-se que houve uma diminuição estatisticamente
significativa (p<0,05) nas contagens globais de leucócitos,
mais acentuada no grupo T2, mas os achados referentes
aos precursores granulocitários medulares revelam uma
supressão reversível da atividade granulopoética. Tais
observações corroboram com aquelas relatadas por
CAMACHO e LAUS (1987) que verificaram diminuição
dos valores absolutos de leucócitos decorrente de
neutropenia no pré-tratamento e na quarta aplicação.
Os resultados obtidos no presente estudo
confirmam a ação distinta da VCR nos elementos do eixo
megacariócito-plaquetário relacionada à alteração
quantitativa de plaquetas. Como pode ser observado, a
VCR induz diminuição tanto de plaquetas como de
megacariócitos. Tais achados supressores da
megacariocitopoiese, concordam com os relatos de
CAMACHO et al. (1992) e WOLF (1983). Conforme nossos
resultados, a trombocitopenia induzida parece estar
relacionada a uma ação direta do fármaco em plaquetas e
megacariócitos. Dessa forma, podemos sugerir que a
trombocitopenia induzida pela VCR pode ser devida a dois
processos, por toxicidade direta em plaquetas circulantes,
diminuindo seu tempo de sobrevivência, e por diminuição
da produção plaquetária decorrente da ação da VCR em
megacariócitos, induzindo megacariocitopenia.
173
Como pode ser observado na Tabela 3, os valores
encontrados para a relação M:E mostraram-se
significativamente aumentados no grupo T2, decorrente
de uma supressão mais acentuada da eritropoese e não
do aumento das células mielóides, achado este também
relatado por ALLEMAN e HARVEY (1993).
É importante ressaltar que as alterações
quantitativas induzidas pela VCR nos elementos figurados
do sangue são reversíveis, como pode ser verificado nos
resultados apresentados. A recuperação aos números
iniciais provavelmente deveu-se ao repovoamento
medular por precursores que se encontravam fora do ciclo
celular e que, provavelmente, foram pouco afetados pela
VCR. Segundo O’KEEFE e HARRIS (1990) as célulastronco pluripotenciais encontram-se protegidas da ação
citostática da VCR por estarem fora do ciclo celular. Com
o repovoamento medular das linhagens celulares, há um
conseqüente restabelecimento da hematopoiese e do
volume dos elementos circulantes.
CONCLUSÕES
O sulfato de vincristina produz efeitos citostáticos
nos elementos figurados do sangue dose-dependentes
que se mostram reversíveis após a suspensão da droga.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES e a FAPESP pelo
auxílio financeiro e ao Hospital Veterinário “Governador
Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinária (FCAVJ – UNESP), em especial ao Laboratório
de Patologia Clínica “Prof. Dr. Joaquim Ferreira Neto”,
pelo auxílio técnico essencial e pela cessão das
instalações.
ARTIGO RECEBIDO: Julho/2002
APROVADO: Novembro/2003
REFERÊNCIAS
ALLEMAN, A.R.; HARVEY, J.W. The morphologic effects
of vincristine sulfate on canine bone marrow cells.
Veterinary Clinical Pathology, v.22, n.2, p. 36-41, 1993.
CAMACHO, A.A.; LAUS, J.L. Estudo sobre a eficiência
da Vincristina no tratamento de cães com tumor venéreo
transmissível. Ars Veterinaria, v.3, n.1, p.37-42, 1987.
M.F.R. SOBREIRA, A. E. SANTANA, M. A. DIAS, L. F. R. SOBREIRA, F. G. V. GAMA. Ação hematóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade sangüínea central e
periférica em cães. / Hematotoxic action of vincristine sulphate on the peripheral and central blood cellularity in dogs./ Acción hematotóxica del sulfato de vincristina
sobre la celularidad sanguínea central y periférica en caninos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 20, nº 2, 169-174, 2004.
DIAS, M.A. Estudo de um modelo animal de hipoplasia
sangüínea induzida pelo agente antineoplásico
doxorubicina (AdriblastinaÒ). Jaboticabal, SP. 1998. 106p.
Dissertação (Mestrado) Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista.
DINESH, N.M., FORST, D.; CRAMER, R. Effect of
vincristine sulphate on canine transmissible veneral
tumours - haematological and biochemical studies. Indian
Veterinary Journal, v.70, n.8, p.741-744, 1993.
FREI, E. 3rd; WHANG, J.; SCOGGINS, R. B.; VANSCOTT,
E. J.; RALL, D. P. The stathmokinetic effect of vincristine.
Cancer Research, v.24, p.1918-1925, 1964.
MADEL, M.; BESSLER, H.; DJALDETTI, M. Effect of low
dose vincristine on platelet production in mice.
Experimental Hematology, v.5, p.499-504, 1977.
MORSE, B.S.; STOHLMAN, F. Jr. Regulation of the
erythropoiesis XVIII. The effect of vincristine and
erythropoietin on bone marrow. Journal of Clinical
Investigation, v.45, p.1241-50, 1960.
O’KEEFE, D.A.; HARRIS, C.L. Toxicology of oncologic
drugs. Veterinary Clinics of North America. Small
Animal Practice, v.20, n.2, p.483-504, 1990.
PIMENTEL GOMES, F. Curso de estatística experimental.
12 ed. São Paulo: Livraria Nobel S.A., 1987. 467p.
RICCARDI, A.; MONTECUCCO, C. M.; CRESCI, R.;
TRAVERSI, E.; PERUGINI, S. Effect of Vincristine on the
Bone Marrow Cells of patients with multiple myeloma: a
cytomorphologic study. Tumori, v.66, p.319 - 329, 1980.
RICCARDI, A.; MARTINOTTI, A.; MONTECUCCO, C.
M.; MAZZINI, G.; GIORDANO, P. Effect of Vincristine on
Bone Marrow Cells of patients with multiple myeloma: a
cytokinetic study. Virchows Archieves B. Cell Pathology.,
v.35, p.239-48, 1981.
ROSENTHAL, R.C. Clinical applications of Vinca alkaloids.
Journal of the American Veterinary Medical Association,
v.179, n. 11, p.1084-1086, 1981.
SANTANA, A.E. Benzenismo experimental:
desenvolvimento da medula óssea ectópica. Ribeirão Preto,
SP. 1988. 46p. Tese (Doutorado) Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
WOLF, A.M. Vincristine therapy of chronic
thrombocytopenia in the dog. Southwestern
Veterinarian, v.35, n.3, p.209-215, 1983.
174
Download

ação hematotóxica do sulfato de vincristina sobre a celularidade