Ciência Animal, 12(1):35-45, 2002
RESISTÊNCIA ANTI-HELMÍNTICA EM NEMATÓIDES DE PEQUENOS
RUMINANTES: UMA REVISÃO
(Anthelmintic resistance in nematodes of small ruminants: a review)
Ana Carolina Fonseca Lindoso MELO* & Claudia Maria Leal BEVILAQUA
LABODOPAR/Faculdade de Veterinária/Universidade Estadual do Ceará
RESUMO
Uma revisão é apresentada sobre resistência anti-helmíntica em nematóides de ovinos e caprinos.
Particular atenção é dada às drogas anti-helmínticas, desenvolvimento de resistência anti-helmíntica,
métodos de detecção e prevenção da resistência anti-helmíntica incluindo esquemas de controle.
PALAVRAS-CHAVE: ruminantes, ovino, caprino, resistência, anti-helmíntico.
ABSTRACT
A review is presented on anthelmintic resistance in nematodes of sheep and goats. Particular focus is
given to anthelmintic drugs, anthelmintic resistance development, mechanisms of resistance, methods
of detection, and prevention of anthelmintic resistance and including control schemes.
KEY-WORDS: ruminants, sheep, goat, resistance, anthelmintic.
INTRODUÇÃO
O rebanho ovino brasileiro encontra-se
distribuído principalmente na região nordeste que
engloba 93% dos ovinos deslanados e na região
sul que detém 95% dos ovinos lanados. Enquanto
o rebanho caprino está concentrado na região
nordeste.
O parasitismo por
nematóides gastrintestinais é um dos fatores
limitantes da ovinocaprinocultura pois causa
diminuição na produção de carne, leite, além de
elevada mortalidade do rebanho no período
chuvoso (PINHEIRO et al., 2000).
O controle de nematóides gastrintestinais
é baseado quase exclusivamente na utilização de
anti-helmínticos (CHARLES, 1989). Falhas no
controle são o primeiro sinal do aparecimento
de resistência anti-helmíntica (SANGSTER,
2001). Define-se como resistência anti-helmíntica
o aumento do número de indivíduos em uma
população, capazes de suportar doses de um
composto químico que tenha comprovado ser
letal à maioria de uma população normalmente
sensível, da mesma espécie. O aumento do
número de indivíduos resistentes numa
população é o resultado de trocas na frequência
gênica causada pelo cruzamento daqueles
indivíduos que tenham sobrevivido à exposições
da droga. A mais importante característica da
resistência é hereditariedade (ECHEVARRIA,
1996a).
Para melhor entendimento do assunto,
são apresentados, a seguir, tópicos a respeito das
classes, modo e espectro de ação de antihelmínticos afetados por este problema,
ocorrência e os fatores que levam ao seu
* Autor para correspondência
Favet/UECE
Av. Paranjana,1700
60740-000 Fortaleza
e-mail: [email protected]
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desenvolvimento, mecanismos de resistência,
métodos de detecção, esquemas de tratamento e
prevenção da resistência anti-helmíntica em
nematódeos de ovinos e caprinos.
Anti-helmínticos e seus mecanismos de ação
Os anti-helmínticos utilizados em ovinos
e caprinos classificam-se nos seguintes grupos:
benzimidazóis e pró-benzimidazóis; imidotiazóis;
tetrahidropirimidinas;
salicilanilidas;
avermectinas e milbemicinas, e organofosforados
(LANUSSE, 1996; AYRES & ALMEIDA,
1996).
Benzimidazóis e Pró-Benzimidazóis
Os benzimidazóis (tiabendazol,
albendazol, febendazol, mebendazol, oxfendazol,
oxibendazol) e pró-benzimidazóis (febantel,
tiofanato, netobimim) pertencem a mesma classe
pois os pró-benzimidazóis sofrem transformação
para benzimidazóis através do rúmen e do
metabolismo hepático (BOGAN & ARMOUR,
1987). Essas drogas têm ação contra helmintos
(HENNON, 1993), tendo como mecanismo de
ação principal uma potente inibição da formação
de microtúbulos do parasito (MARTIN, 1997),
causando alterações ultraestruturais nas células
intestinais de nematóides, em particular na
redistribuição de vesículas que é interrompida
causando mudanças celulares (JASMER et al,
2000; BRUCE, 1987). Devido ao papel crucial
desempenhado pelos microtúbulos em alguns
processos celulares, essa destruição induzida pela
droga levará à morte desse organismo
(KÖHLER, 2001). Secundariamente pode inibir
a enzima fumarato redutase no transporte de
glicose, alterando os mecanismos energéticos do
parasito (LANUSSE, 1996). Foi observado ainda
que ocorre interrupção e/ou diminuição da
produção de ovos dos nematóides (MARTIN et
al., 1997).
Imidotiazóis e Tetrahidropirimidinas
Os imidotiazóis, tetramisol e levamisol,
provocam uma paralisia espástica nos
nematóides, determinando uma contração
muscular estável, o que facilita a eliminação do
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parasito (LANUSSE, 1996; MARTIN, 1997;
KÖHLER, 2001). O levamisol é a forma
levógera do tetramisol que é uma mistura
racêmica. O índice terapêutico desses compostos
é relativamente baixo. Esses anti-helmínticos têm
ação somente contra nematóides sendo que o
levamisol tem boa atividade contra adultos e
estádios larvares em desenvolvimento, mas não
contra larvas em hipobiose. Contrastando com
os benzimidazóis, não são ovicidas. (BOGAN
& ARMOUR, 1987).
Assim como os imidotiazóis, as
tetrahidropirimidinas, pirantel e morantel,
também atuam como agonistas colinérgicos e têm
o mesmo mecanismo de ação (LANUSSE, 1996;
MARTIN, 1997; KÖHLER, 2001). O pirantel é
um metil análogo ao morantel sendo que o
morantel é mais potente requerendo uma menor
dose. Estes fármacos têm alta eficácia sobre
estádios adultos, menor atividade contra estádios
larvares, mínima atividade contra larvas em
hipobiose de nematóides e não são ovicidas
(BOGAN & ARMOUR, 1987).
Salicilanilidas
A maioria das salicilanilidas, rafoxanida,
oxiclozamida e closantel, são trematodicidas e
atuam desacoplando a fosforilação oxidativa,
influenciando no mecanismo de geração de
energia dos parasitos (MARTIN, 1997). Contudo
o closantel tem alta eficácia contra cepas de
Haemonchus contortus resistentes aos
benzimidazóis e ao levamisol (PRICHARD,
1987; ROTHWELL & SANGSTER, 1996;
DORNY et al., 1994) sendo utilizado como uma
alternativa de controle desses parasitos. A sua
ação estende-se por quatro a seis semanas após
tratamento (HALL, et al., 1981) devido a sua
longa meia-vida (PRICHARD, 1987; KÖHLER,
2001)
Lactonas macrocíclicas
Os fármacos classificados como
endectocidas pertencem a família das
avermectinas, composta pela abamectina,
ivermectina e doramectina, e milbemicinas, da
qual fazem parte a nemadectina e moxidectina
(LANUSSE & PRICHARD, 1993). Estes
compostos são fármacos anti-parasitários de
amplo espectro com alta eficácia contra
nematóides (MCKELLAR, 1994). São ativos
contra adultos, estádios imaturos e larvas
hipobióticas (BOGAN & ARMOUR, 1987). Os
anti-helmínticos desse grupo possuem o mesmo
modo de ação e causam uma paralisia deletéria
ao abrir os canais de cloro com portão glutamato
(MARTIN, 1997; MARTIN et al., 1997;
SANGSTER, 1999a). Outro efeito observado é
a supressão dos processos reprodutivos
(CAMPBELL et al., 1983). No entanto, sugerese que a interrupção da ingestão de alimentos e
morte do nematóide é a real ação nematodicida
desses compostos (SANGSTER & GILL, 1999).
Organofosforados
Essas drogas foram introduzidas como
ectoparasiticidas e posteriormente empregados
como
anti-helmínticos.
Dentre
os
organofosforados, o triclorfon e haloxon, são
utilizados no controle de nematóideos
gastrintestinais de ovinos (AYRES &
ALMEIDA, 1996). Seu modo de ação é a
inibição da acetilcolinesterase do parasito,
evitando a hidrólise da acetilcolina. Isso resulta
em paralisia espástica e eliminação do nematóide
do trato gastrintestinal do hospedeiro. Com o
surgimento de drogas mais seletivas e seguras,
os organofosforados têm sido usados com menor
frequência (MARTIN, 1997).
Resistência anti-helmíntica
Histórico
A resistência a anti-helmínticos ocorre em
todas as classes de drogas utilizadas no controle
dos nematóides de ovinos e caprinos (CRAIG,
1993). O primeiro relato de resistência a antihelmínticos utilizados atualmente em nematóides
gastrintestinais de ovinos no mundo foi com o
tiabendazol (DRUDGE et al., 1964). Este
problema disseminou-se pelo mundo inteiro.
Contudo, ocorre geralmente em áreas com verões
chuvosos e onde o parasito do abomaso H.
contortus é endêmico, principalmente, a
Austrália, África do Sul e América do Sul
(WALLER et al.,1995).
No Brasil, o primeiro relato de resistência
a anti-helmínticos benzimidazóis foi no Rio
Grande do Sul (DOS SANTOS &
GONÇALVES, 1967). Nesta região também foi
feito o primeiro relato de nematóides resistentes
à ivermectina (ECHEVARRIA & TRINDADE,
1989). Esse estado necessita de estratégias
urgentes no sentido de reestruturações no controle
dos parasitos, devido a baixa eficácia dos antihelmínticos de largo espectro utilizados. Cerca
de 97% das propriedades dessa região
apresentam resistência anti-helmíntica
(ECHEVARRIA et al., 1996).
No nordeste brasileiro, a resistência em
nematóides de caprinos foi relatada no semi-árido
pernambucano aos anti-helmínticos levamisol,
albendazol e parbendazol (CHARLES et al.,
1989), no estado da Bahia aos anti-helmínticos
albendazol e ivermectina (BARRETO & SILVA,
1999). No Ceará, a literatura cita relatos de
resistência em caprinos utilizando o oxfendazol
e levamisol (VIEIRA & CAVALCANTE, 1999),
no município de Pentecoste, em ovinos e caprinos
ao closantel, oxfendazol e ivermectina (MELO
et al., 1998), e nos municípios de Maranguape e
Pecém, relatou-se nematóides gastrintestinais de
ovinos resistentes ao oxfendazol (BEVILAQUA
& MELO, 1999).
Desenvolvimento
O aparecimento de cepas de parasitos
resistentes a anti-helmínticos pode ser explicado
pela teoria da evolução onde a população original
de parasitos continha alguns indivíduos com
capacidade genética de sobreviver ao tratamento.
Os genes envolvidos não conferem vantagem
biológica, caso contrário, eles teriam se
propagado através da população e uma nova
droga não teria sido eficaz na primeira exposição.
Como a droga elimina todos os indivíduos
sensíveis, a próxima geração consistirá da
progênie daqueles poucos parasitos que
sobreviveram ao tratamento e muitos destes terão
herdado a capacidade de sobreviver à exposição
anti-helmíntica (ECHEVARRIA, 1996a).
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O efeito da seleção na frequência dos
alelos resistentes na população é influenciada por
alguns fatores (MARTIN, 1987), causando uma
maior pressão de seleção que é determinada pela
dosagem do anti-helmíntico e pela proporção da
população exposta à droga (WALLER, 1986).
Os principais fatores que levam a uma
maior ou menor disseminação da resistência são
operacionais, genéticos, biológicos e ecológicos
(HENNON, 1993; MARTIN, 1987).
Subdosagem, frequência de tratamentos
e rotação rápida de princípio ativo, são alguns
exemplos de fatores operacionais que levam a
uma maior disseminação da resistência
(HENNON, 1993; CRAIG, 1993, MARTIN,
1987; ECHEVARRIA, 1996a). A subdosagem
ocorre quando os animais são tratados com dose
inferior àquela recomendada. A droga atingirá
somente os indivíduos sensíveis da população
parasitária e os indivíduos resistentes sobrevivem
dando origem a novas gerações (CRAIG, 1993).
A extrapolação de uma espécie animal para outra,
exemplifica outra forma de subdosagem e assim
ocorre desenvolvimento de resistência antihelmíntica principalmente em rebanhos mistos de
ovinos e caprinos. Em geral, as indicações de
posologia do fabricante dirigem-se aos ovinos e
é realizada a extrapolação para os caprinos.
Vários experimentos demonstram diferenças na
farmacocinética de certas drogas utilizadas em
ovinos e caprinos (GILHAM & OBENDORF,
1985; BOGAN & ARMOUR, 1987). Os
pequenos ruminantes diferem na absorção e
tempo de eliminação das drogas (MCKENNA,
1984; LANUSSE & PRICHARD, 1993),
consequentemente os resultados terapêuticos são
diferentes.
A grande frequência de tratamentos
seleciona para resistência diminuindo a vida útil
do fármaco. Tratamentos supressivos produzem
altos níveis de resistência em um curto período
de tempo. A rápida rotação de princípio ativo
seleciona nematóides resistentes a todas as drogas
utilizadas nessa rotação (BARNES & DOBSON,
1990).
Em isolados de H. contortus, observouse que a resistência à ivermectina nesse parasito
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é largamente controlada por apenas um gene (LE
JAMBRE et al., 2000), enquanto que em
Trichostrongylus colubriformis parece ser
determinada poligenicamente (GILL & LACEY,
1998). O número de alelos resistentes, a
frequência, a dominância e o grau de integração
com o genoma, influenciam na rapidez do
desenvolvimento da resistência (LE JAMBRE
et al., 1979). A resistência tem distribuição mais
ampla entre os benzimidazóis e próbenzimidazóis, onde os genes para resistência
estavam presentes antes de serem lançados no
mercado (ROOS et al., 1990).
O fator bioecológico que influencia no
desenvolvimento da resistência é a quantidade
de população de nematóides em refúgio, isto é,
os estágios de vida livre na pastagem, escapando
à exposição do anti-helmíntico e em algumas
circunstâncias a pressão de seleção pode ser
menor (PRICHARD, 1990; JACKSON, 1993).
Quando 10% da população estava em refúgio, a
resistência desenvolvia-se muito rapidamente,
mas quando 30 a 75% estava em refúgio, o
desenvolvimento da resistência era
significativamente retardado (MARTIN et al.,
1981).
Mecanismos de resistência
Benzimidazóis
A resistência aos anti-helmínticos
benzimidazóis tem sido associada com
modificações relacionadas à tubulina
(GUTTERIDGE, 1993). Os parasitos resistentes
caracterizam-se pela diminuição dos sítios de alta
afinidade à droga nas subunidades protéicas dos
microtúbulos (LACEY, 1988). Microtúbulos são
organelas citoplasmáticas que movimentam o
cromossomo durante a divisão celular, formam
o citoesqueleto da célula, e fazem a
movimentação de partículas celulares (MARTIN,
1997). Estudos genéticos moleculares têm
mostrado que a resistência aos benzimidazóis em
helmintos está associada com a seleção de alelos
específicos de um ou dois isótipos diferentes da
ß-tubulina (KWA et al., 1993). Ocorre uma
mutação que causa a troca do aminoácido
fenilanina pela tirosina na posição 200 do gene
da ß-tubulina em vários isolados de H. contortus
(KWA et al., 1994; GEARY et al., 1999). Os
parasitos Teladorsagia circumcincta e
Trichostrongylus colubriformis desenvolvem o
mesmo mecanismo de resistência descrito para
H. contortus (ELARD et al., 1996).
Imidotiazóis
Estudos in vitro com levamisol e com os
nematóides H. contortus e T. colubriformis
concluíram que a resistência aos imidotiazóis
ocorre devido à alteração farmacológica dos
receptores de acetilcolina (SANGSTER, 1999b).
A extensão de sítios de ligação de alta afinidade
do receptor da droga é similar entre isolados de
H. contortus resistentes e sensíveis, mas existem
diferenças entre os sítios de baixa-afinidade
(SANGSTER et al., 1998). Nesses sítios, os
parasitos resistentes têm menor afinidade à droga
e mais sítios ligantes, o que possivelmente reflete
um aumento na propensão para a
dessensibilização do receptor para o levamisol.
O tempo que o canal encontra-se aberto e a
probabilidade que este canal esteja aberto está
reduzida em isolados resistentes, indicando que
a resposta contrátil produzida pelos receptores
do levamisol em cepas resistentes é menor que
em sensíveis (KÖHLER, 2001). Existem
evidências que sugerem que a base bioquímica
da resistência a outros agonistas nicotínicos em
nematóides é similar à observada para o levamisol
(ROBERTSON et al., 2000).
Lactonas macrocíclicas
Existem associações entre alelos que
codificam o canal cloro com portão glutamato e
resistência às lactonas macrocíclicas em H.
contortus (BLACKHALL et al., 1998). Um dos
modos de ação da ivermectina é a inibição da
bomba faringeal (KÖHLER, 2001). Existem
diferenças entre cepas de H. contortus resistentes
e sensíveis à ivermectina, indicando que a
resistência pode estar associada à mudanças
fisiológicas no sítio de ligação desta droga no
músculo faringeal (SANGSTER & GILL, 1999).
Outros estudos moleculares evidenciam
o envolvimento de outro alvo bioquímico ligado
à resistência às lactonas macrocíclicas, as Pglicoproteínas. Essas moléculas são proteínas
transmembranárias que têm um papel no
transporte de compostos, incluindo drogas,
através das membranas celulares (BLACKHALL
et al., 1998; SANGSTER et al., 1999; LE
JAMBRE et al., 2000). A eficácia da ivermectina
e moxidectina contra parasitos selecionados
resistentes à essas duas drogas foi
substancialmente aumentada, em animais
experimentalmente infectados, após utilização de
anti-helmínticos associados com agentes
reversores de resistência múltipla, assim sendo
o efluxo da droga mediada pela P-glicoprotéina
pode ter um papel na resistência às lactonas
macrocíclicas (MOLENTO & PRICHARD,
1999).
A natureza dos genes e a importância dos
mesmos para o estabelecimento da resistência,
não está clara, mas esses genes parecem codificar
subunidades específicas faringeais e nãofaringeais dos canais cloro com portão glutamato,
P-glicoproteínas e outros produtos. Esta situação
pode explicar porque somente casos isolados de
resistência à ivermectina tem sido reportado em
rebanhos, possivelmente porque os helmintos
podem ter adquirido mutações múltiplas para
desenvolver altos níveis de resistência
(KÖHLER, 2001).
Ensaios in vitro têm mostrado que
parasitos resistentes às avermectinas são também
resistentes às milbemicinas sugerindo modo de
ação comum (SANGSTER & GILL, 1999).
Contudo foi relatado que a moxidectina foi
efetiva contra H. contortus resistente à
ivermectina (COLES et al., 1994).
Testes para avaliação de resistência
Devido ao aumento do desenvolvimento
de resistência anti-helmíntica, foram
desenvolvidos testes in vivo e in vitro para sua
detecção (CRAVEN et al., 1999). Afim de
escolher o melhor, deve-se observar o custo,
aplicabilidade e interpretação dos achados
(VÁRADY & CORBA, 1999).
Os testes in vivo são largamente
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utilizados para monitorar resistência em
nematóides. Porém esses testes são onerosos e
geralmente se caracterizam por baixa qualidade
devido à variação interanimal e a
farmacodinâmica da droga (CRAVEN et al.,
1999). O teste in vivo mais utilizado é o de
redução na contagem de ovos nas fezes
(TRCOF). Esse teste consiste em comparar a
redução do número de ovos nas fezes num grupo
tratado com anti-helmíntico, com a de um grupo
não tratado, controle. Sendo necessário, no
mínimo, dez animais para cada grupo, para
permitir interpretação confiável dos resultados
(COLES et al., 1992).
Dentre os testes in vitro, os mais
utilizados são os de eclosão de ovos (TEO) e de
desenvolvimento larvar (TDL) (CRAVEN et al.,
1999). Esses testes tornaram-se uma alternativa
para detecção de resistência devido à
possibilidade de mensuração dos efeitos dos antihelmínticos nos processos fisiológicos dos
nematóides (VÁRADY & CORBA, 1999).
O TEO baseia-se na atividade ovicida dos
benzimidazóis servindo de modelo para o
desenvolvimento dos outros testes in vitro. O
tiabendazol é o composto padrão classicamente
utilizado por ser mais solúvel que os demais
compostos benzimidazóis (COLES et al., 1992).
O TDL apresenta como vantagem sobre o TEO
a possibilidade de testar várias drogas
principalmente as classes de anti-helmínticos de
amplo espectro (HUBERT & KERBOEUF,
1992).
Novas técnicas vêm sendo desenvolvidas
utilizando a reação em cadeia de polimerase
(PCR) para o diagnóstico da resistência aos
benzimidazóis (ELARD et al, 1999;
SILVESTRE & HUMBERT, 2000). Estas
técnicas apresentam uma série de vantagens em
relação aos métodos clássicos in vivo e in vitro.
É citada a possibilidade de imediata estimativa
da resistência aos benzimidazóis, além de
verificar a frequência dos alelos para resistência
nas espécies T. colubriformis, T. circumcincta e
H. contortus (SILVESTRE & HUMBERT,
2000). Os métodos clássicos são eficientes mas
só podem detectar nematóides resistentes quando
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representam mais do que 25% da população de
parasitos (ROOS et al., 1995), ou seja, quando
a resistência aos benzimidazóis encontra-se bem
estabelecida e consequentemente os alelos de
resistência na população dos nematóides estão
altamente prevalentes. A real vantagem dos
métodos de diagnóstico com técnicas
moleculares é a possibilidade de detecção do
primeiro indivíduo resistente, por isso essas
técnicas podem ser uma boa alternativa de
diagnóstico (ELARD et al, 1999) e
monitoramento da resistência (SANGSTER,
1999b). Apesar do alto custo impedir sua
utilização como rotina laboratorial, os métodos
moleculares são ideais para detecção precoce da
resistência a anti-helmínticos benzimidazóis
(SILVESTRE & HUMBERT, 2000).
Esquemas de tratamento anti-helmíntico
versus resistência anti-helmíntica
Os diferentes esquemas de tratamentos
são utilizados afim de reduzir ou eliminar os
efeitos adversos do parasitismo. No controle
curativo, os animais são tratados somente quando
ocorrem os sintomas clínicos evidentes ou
mesmo morte pelo parasitismo. O controle tático
é utilizado sempre que as condições ambientais
favoreçam o surgimento de verminose
(PINHEIRO, 1983). Neste caso o
desenvolvimento de resistência é retardado, mas
existe uma importante perda de produção além
de alta contaminação do meio ambiente.
O tratamento supressivo consta de
vermifugar os animais a cada 2 ou 4 semanas. É
empregado em animais jovens de grande valor
genético ou econômico (PINHEIRO, 1983).
Embora seja eficiente no controle do parasitismo,
precipita o rápido aparecimento da resistência
anti-helmíntica (ECHEVARRIA, 1996b).
Dos esquemas de controle, o estratégico
é o mais utilizado. São aplicados tratamentos
estratégicos antes que ocorra um aumento
significativo da população de parasitos em
épocas do ano predeterminadas (PINHEIRO,
1983).
Os tratamentos estratégicos devem ser
realizados com um anti-helmíntico de alta
eficácia (EMBRAPA, 1994). Um dos grandes
riscos deste controle refere-se à uma pequena ou
nenhuma população de nematóides em refúgio
durante a época seca. Este fato aliado a utilização
de tratamentos anti-helmínticos nestes períodos
possibilita que a resistência anti-helmíntica
desenvolva-se rapidamente (SANGSTER, 2001).
O nordeste brasileiro caracteriza-se por
apresentar duas estações bem distintas, seca e
chuvosa (IBGE, 1993). Assim são indicados
quatro tratamentos anuais, dos quais três são
realizados no período seco e um no chuvoso
assim distribuídos: início da estação seca (junho/
julho); dois meses após o primeiro tratamento
(agosto/setembro); final do período seco
(novembro); e meados do período chuvoso
(março) (EMBRAPA, 1994).
No período seco existe pouca ou
nenhuma larva na pastagem (AROSEMENA et
al., 1999), por isso, os tratamentos realizados
durante esta época visam interromper o ciclo de
desenvolvimento
das
nematodioses
gastrintestinais e, consequentemente, reduzir a
contaminação da pastagem durante o período
chuvoso (BERNE et al.,1989).
No sul do Brasil, onde as chuvas são mais
bem distribuídas durante o ano, adota-se um
controle diferenciado de acordo com o sexo e
fase de desenvolvimento do animal. Para ovinos
lanados desmamados, recomenda-se a utilização
de tratamentos estratégicos com drogas de poder
residual contra H. contortus, como o closantel,
no final do verão e novamente oito semanas
depois, geralmente março. Integrado à estes
tratamentos, deve-se utilizar pastagens com baixo
risco de contaminação, ou seja, aquelas
pastejadas por bovinos adultos por no mínimo
três meses antes da época de desmame. Após a
dosificação, deve-se acompanhar o rebanho com
exames de contagens de ovos na fezes (OPG) de
8 a 10% dos animais e cultura de larvas. Quando
as contagens ultrapassarem 500 OPG o
tratamento é recomendado (ECHEVARRIA et
al., 1988)
Em ovelhas de cria, recomenda-se o uso
de três tratamentos anti-helmínticos assim
distribuídos: desmame dos animais; pré-
acasalamento e pré-parto. Este último tratamento
deve ser associado com troca de piquete para
área de baixo risco de contaminação afim de
eliminar a necessidade da dosificação no
momento da assinalação (ECHEVARRIA et al.,
1985).
Existem ainda métodos alternativos de
controle, como o método FAMACHA,
idealizado para identificar, através da coloração
da membrana conjuntiva, animais capazes de
suportar uma infecção por H. contortus. Logo,
torna-se possível tratar somente os animais que
sofrem de parasitismo severo, deixando sem
tratamento aqueles que não apresentam anemia
clínica. Desta forma a pressão de seleção para a
resistência aos anti-helmínticos será menos
intensa (VAN WYK et al. 1997; VATTA et al.
2001).
Prevenção da resistência anti-helmíntica
A necessidade de diminuição de custos
sem que haja perdas na produtividade e a
exigência de redução de resíduos químicos tem
levado a busca de uso racional dos produtos
existentes, desenvolvimento de vacinas e/ou
produtos biológicos além da adoção de normas
de manejo que reduzam a frequência de
tratamentos anti-helmínticos (ECHEVARRIA,
1996b).
Portanto,
indicam-se
alguns
procedimentos que devem ser utilizados afim de
aumentar a vida útil do fármaco e controlar o
desenvolvimento da resistência anti-helmíntica.
Métodos Operacionais
As subdosagens devem ser evitadas
através do cálculo da dose de um grupo, de
acordo com o animal mais pesado; verificando
se a pistola dosificadora está devidamente
calibrada; no caso de dosificação por via oral,
depositando o anti-helmíntico sobre a parte
posterior da língua do animal e assim evita-se o
fechamento da goteira esofagiana, o que reduz a
biodisponibilidade do fármaco (WALLER,
1997).
Dosificação dos animais que serão
introduzidos no rebanho e restrição de áreas de
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pastejo até que seja confirmada a eliminação total
dos parasitos (WALLER, 1993) é uma medida
indicada para evitar a importação de nematóides
resistentes.
Manejo de pastagens e dos animais
Com o intuito de reduzir o número de
tratamentos anti-helmínticos, deve-se adotar a
rotação de pastagens (WALLER, 1997);
utilização de pastejo alternado entre bovinos e
ovinos (ECHEVARRIA, 1996b); exploração de
raças naturalmente resistentes aos nematóides
gastrintestinais (WALLER, 1997) e, utilização
de áreas de restevas, que tem baixo risco
parasitário, para a alimentação dos ruminantes,
principalmente animais jovens e sensíveis ao
parasitismo (ECHEVARRIA, 1996b).
Utilização racional dos anti-helmínticos
Afim de aumentar a vida útil dos fármacos
disponíveis, indica-se a utilização de antihelmínticos mais eficazes contra H. contortus,
principalmente quando esse parasito está
causando perdas no rebanho (COLES &
ROUSH, 1992); rotação anual de antihelmínticos com princípios ativos diferentes
(WALLER, 1993) e, principalmente, verificar
regularmente a eficácia das drogas utilizadas no
controle do parasitismo através de testes de
detecção de resistência anti-helmíntica (COLES
& ROUSH, 1992).
CONCLUSÃO
O desenvolvimento e a ocorrência da
resistência anti-helmíntica pode ser a causa de
grandes perdas econômicas no setor da
ovinocaprinocultura. A disseminação desse
problema poderá inviabilizar esta atividade,
portanto deve-se adotar o monitoramento
rotineiro da eficácia dos fármacos utilizados
como medida básica de prevenção da resistência
anti-helmíntica.
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Recebido para publicação em : 11.10.2001
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4. Anthelmintic resistance in nematodes of small ruminants: a review