Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 BLOGS SOBRE ENSINO DE INGLÊS PARA CRIANÇAS: REPRESENTAÇÃO E PRÁTICAS IDENTITÁRIAS DE APRENDIZES E PROFESSORES Patrícia Oraggio1 Maria de Fátima Silva Amarante2 Resumo: Esta comunicação reporta resultados de pesquisa de Iniciação Científica, apoiada pela FAPESP, que visou a refletir sobre as práticas identitárias constituídas por representações de crianças aprendizes e professores, inscritas no discurso produzido em blogs alocados em sites que tratam de ensino de inglês para criança. Esses sites foram selecionados a partir do endereço eletrônico: http:/www.inglesonline.com.br/category/ingles-paracriancas/P5/. Valendo-nos de base teórica e metodológica da Análise do Discurso (AD) de Linha Francesa, foi realizada uma pesquisa qualitativointerpretativista em que se analisou a materialidade lingüística do discurso à luz de suas condições de produção, com uso de instrumento de análise que contemplou os procedimentos de ancoragem e delegação próprios da representação. Os resultados obtidos contribuem, a nosso ver, para o melhor entendimento dos sujeitos educacionais e de seus discursos no contexto virtual, o que é essencial para que se possa agir sobre os regimes de governamentalidade instituídos. professores marcadas no discurso de e sobre o ensino de inglês para crianças (EIC) veiculado em blogs na Internet. Com o advento da Internet, dissemina-se a educação a distância, e os discursos que a apontam como meio de inclusão social, com argumentação baseada, sobretudo, na assincronicidade temporal e espacial e, em decorrência, na autonomia, propiciando maior alcance às iniciativas educacionais que se configurassem no ciberespaço. Assim, passamos a encontrar na Internet, tanto discursos educacionais (os discursos sobre), quanto discursos pedagógicos (os discursos do) relacionados ao ensino-aprendizagem de línguas. Vem juntar-se a isso o contexto sócio-histórico que constitui o inglês como língua de comunicação internacional, que tem como um de seus efeitos a configuração de um quadro em que o conhecimento de inglês é tomado como pré-condição para uma participação mais efetiva na sociedade contemporânea em que relações de toda a ordem passam, cada vez mais, a ser mediadas pelos computadores. Além disso, com a popularização do uso dos computadores nas duas últimas décadas, temos assistido à configuração de uma geração que com eles vem lidando desde tenra idade. Esta conjunção de fatores acaba por determinar uma situação em que passa a ser desejável que crianças passem a aprender inglês cada vez mais cedo. Observa-se, então, mudança na situação que vigorou no século XX, em que apenas crianças oriundas de famílias de alto poder aquisitivo eram inseridas em processos de aprendizagem de inglês como língua estrangeira em escolas de idiomas ou esco- Faculdade de Letras Centro de Linguagem e Comunicação [email protected] Palavras-chave:discurso, representação, identidade, ensino de inglês para crianças. Área do Conhecimento: Linguística, Letras e Artes - Linguística – Linguística Aplicada. 1. INTRODUÇÃO Trazemos, neste resumo expandido, os resultados de pesquisa que se insere na linha “Discurso e Identidade: representações de gênero e de poder”, do Grupo de pesquisa “Estudos do Discurso” e que tem como foco a análise das práticas identitárias constituídas pelas representações de crianças aprendizes e Grupo de Pesquisa Estudos do Discurso Centro de Linguagem e Comunicação [email protected] 2 1 Aluna do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras: Português/Inglês; bolsista de Iniciação Científica da FAPESP. Graduada e Mestre em Letras pela PUC-Campinas; Doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP; interessada em questões de discurso, ensino/ aprendizagem de línguas e poder. Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 las bilíngües, pois este conteúdo passa a ser incluído em instituições de educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, especialmente nas escolas particulares da rede de ensino. De outra parte, constata-se que a quase totalidade dos cursos de licenciatura em línguas estrangeiras não prepara o professor para o EIC, pois se dedicam a formar professores para atuarem no ensino de inglês, a partir da 5ª série do Ensino Fundamental, isto é, para indivíduos com idade a partir de 11 anos. É neste quadro que ocorre a proliferação de sites de ensino de inglês como língua estrangeira. Estes podem tanto visar a apoiar professores (e familiares) na condução de processos de ensino/ aprendizagem de inglês como língua estrangeira para crianças, como a promover processos de aprendizagem autônomos. Assim, por um lado, configuramse como prestação de serviço educacional e, por outro, remetem à autonomia, características tão próprias à Internet. Entendemos que o quadro que acabamos de delinear é constituído e constitui práticas identitárias de aprendizes e professores que, pressupomos, diferenciam-se daquelas que se encontram em contextos presenciais. Estas práticas identitárias podem ser analisadas a partir das representações de poder que afloram nos blogs que estão inseridos nos sites de EIC, pois estes blogs, novo gênero discursivo de natureza essencialmente interacional, são lugares de manifestação de identidades dos atores educacionais – professores e aprendizes. Portanto, considerando a representação como campo atravessado por relações de poder, entendemos que a proliferação do uso da Internet como meio de informação e comunicação na área do EIC tem como um de seus efeitos a instalação de práticas discursivas que afetariam os modos como se pode pensar e dizer os atores educacionais. Daí a relevância de examinarmos os discursos dos blogs inseridos nos sites de EIC, que, de nosso ponto de vista, configuram espaço novo e privilegiado para o embate de forças que caracterizam o jogo discursivo que se trava no ciberespaço educacional. Nossa intenção, ao estudarmos as representações de poder neste discurso parcelar da educação, que vem ocupando cada vez maior espaço no quadro da educação a distância, é contribuir, ainda que modestamente, para a produção de conhecimento que possa concorrer para constituir discursos e sujeitos mais comprometidos com a transformação social por meio da atuação nos regimes de governamentalidade instituídos. Neste resumo, apresentamos, brevemente, os subsídios teórico-metodológicos de que nos valemos bem como a análise das condições de produção e a materialidade linguística de excertos representativos retirados do blog (em inglês) do site http:\\www.mingoville.com.pt/blog.html e do blog http://criancasaprendemingles.blogspot.com. 2. SUBSÍDIOS TEÓRICOS Tratando-se de um trabalho realizado da perspectiva a Análise do Discurso de Linha Francesa, tomamos Orlandi [1] que nos ensina: “Análise de Discurso considera que a linguagem não é transparente. Desse modo ela não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. A questão que ela coloca é: como este texto significa?” A autora faz uma análise minuciosa de como formamos o nosso discurso e chega à conclusão de que, quando nascemos, os discursos já estão em processo, assim, o que fazemos não é dar origem e ele, e sim retomar sentidos pré-existentes. Temos que considerar, então, que a memória discursiva tem papel importante nas representações de aprendizes-crianças e de seus professores, no discurso veiculado nos blogs que examinamos. Também nos apoiamos no artigo “Análise de Discurso: Em Busca de Uma Metodologia”, de Coracini [2], pois nele a autora apresenta e discute algumas das abordagens discursivas (definições de discurso) mais conhecidas. Claro deve estar que importa para nossa pesquisa a que aborda o discurso enquanto “processo em que o linguístico e o social se articulam”, conceito que, portanto, pressupõe a abordagem das condições de produção. A autora informa que esta é a concepção da Análise de Discurso de linha francesa, “que estuda a materialidade discursiva a partir das condições de produção”. Segundo ela: “... AD é uma teoria crítica que não se limita ao produto (texto), mas tenta “problematizar” e, portanto, compreender, a partir dos aparelhos sócio-ideológicos uma certa realização lingüística.” No que se refere à questão metodológica, acompanhamos a autora no que diz respeito ao fato de, na análise do discurso, propor-se primeiramente uma abordagem das condições de produção para depois partir para a compreensão do texto. Orientou-nos, ainda, o trabalho “Articulações entre poder e discurso em Michel Foucault”, de Francisco Paulo da Silva [3], em que é abordado o trabalho de Foucault, no que diz respeito ao “poder” do discur- Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 so. Isto porque o autor afirma que: “(...) o indivíduo é uma produção do poder, ou seja, o poder, na concepção foulcaultiana, é formador de uma verdade sobre o sujeito. Assim, o indivíduo é uma fabricação do poder e o elemento que torna possível um conhecimento sobre ele.” A partir disso, entendemos que toda representação é uma representação de poder. Já Hall [4] observa que o conceito de representação, “a produção de significados através da linguagem” está certamente relacionado à cultura e à linguagem. Segundo o autor, os significados são construídos e compartilhados em sociedade, em uma mesma cultura, e este processo de construção e compartilhamento só é possível por meio de uma linguagem em comum. Aponta, ainda, que se deve pensar na identidade como uma “produção, que não está nunca completa, que está sempre em processo, e é sempre constituída no interior, e não fora, da representação”, e assim, está sempre referida a um ‘outro’, implicando uma relação intrínseca entre identidade e alteridade, já que eu sou o que o outro não é e não sou o que o outro é. Portanto, tanto as relações de identidade quanto as de alteridade são intrinsecamente relações de poder construídas no interior dos processos de representação. Em outras palavras, identidade e, por conseguinte, alteridade são relações e posicionamentos de caráter dinâmico, pois historicamente construídas. Se considerarmos que a proliferação do EIC e de discursos de e sobre ele revelam uma mudança estrutural, havemos de compreender que novas identidades sociais devem daí e aí emergir, provocando deslocamentos, rupturas e crises de uma identidade hegemônica que aflorava na educação presencial e em seus discursos. Ao analisar a questão da representação em um discurso da contemporaneidade, podemos (re)conhecer o mundo em que vivemos. 3. ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO A expansão desregulada do EIC e, em sua esteira, a proliferação de sites de ensino de inglês na Internet, tem, segundo Amarante [5], como uma de suas condições de produção o fato de não haver em nosso país uma política explícita de ensino/aprendizagem de língua estrangeira para crianças em idade pré-escolar ou em idade escolar até os 11 anos. Em seu estudo, a autora aponta que a exclusão da criança como sujeito da aprendizagem de línguas estrangeiras inscreve no discurso político-educacional brasileiro, o caráter facultativo da língua estrangeira para a formação integral do ser humano, o que, somado ao fato de que compartilhamos uma representação de educação infantil como lócus diferenciado do contexto escolar, instaura um processo de naturalização das possibilidades de sucesso da aprendizagem de línguas estrangeiras por crianças que está ancorado neste caráter facultativo. Afirma Amarante [5] que, em decorrência, “o ensino de língua estrangeira para crianças pode se ancorar em representações de escolha que remetem, também, à ludicidade”. A pesquisadora faz ver que é “nos contrapontos “facultativo” versus “obrigatório”, “lúdico” versus ‘sério’ já está constituído discursivamente o sucesso do ensino/ aprendizagem de inglês para crianças até os 11 anos bem como o seu insucesso após esta idade.” Finalmente, ela observa que, como há carência de formação específica para o EIC (encontrou apenas três instituições de ensino superior brasileiras cujos currículos contemplam componente dedicado á metodologia de EIC), os professores que atuam nessa área tendem a buscar ‘receitas’ de sucesso para aplicá-las em suas aulas, daí decorrendo a proliferação de sites na Internet que se dedicam ao EIC ou a informar sobre ele. Dentre os vários recursos que podem ser usados na Internet, destacaremos principalmente os Blogs, que são o objeto de estudo desse trabalho. No entanto, Mendes [6] defende a ideia de que os Blogs são gêneros textuais ou digitais, pois se apresenta histórica e culturalmente sensível e, ainda tem ambiência e organização discursiva diferente de outros gêneros encontrados na Internet. Devemos atentar para o fato de que este gênero textual surge como ‘diário da web’ (web log), que pode se configurar como um site autônomo ou como uma ferramenta de comunicação dentro de um site. Sua estrutura permite atualização rápida por meio de ‘posts’ ou artigos que podem ser escritos por diferentes pessoas e que são organizados de forma cronológica inversa. Enquanto muitos blogs trazem comentários ou notícias sobre um assunto em particular; outros funcionam mais como diários online. O fato de permitirem que seus leitores deixem comentários de forma a interagir com o autor e outros leitores configura sua atuação na configuração de identidades, já que aí estão inscritas muitas representações. Em decorrência, da perspectiva foucaultiana que adotamos [7], diríamos que os blogs podem se constituir, a um só tempo, como ‘tecnologias de dominação’ e ‘tecnologias do eu’, pois, narrando-se Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 e aos outros, os enunciadores podem objetificar os sujeitos de que falam (inclusive eles mesmos) e, ao aceitarem e adotarem as representações marcadas no discurso, os sujeitos (enunciadores e enunciatários) constroem suas identidades. 4. ANÁLISE DA MATERIALIDADE LINGUÍSTICA O blog Mingoville está inserido no site que leva o mesmo nome e foi lançado em 2007 pelo DELC (Danish eLearning Center) – que, na posição de enunciador, proclama-se especializado na produção de conteúdos de e-learning desde 2002, ou seja, ancora a sua representação de poder no valor carismático da especialização aliada à experiência enunciada na expressão temporal. Vemos, então, operar neste blog um enunciador institucional, que atende ao princípio do anonimato, instaurado no discurso do contexto virtual. As representações encontradas a partir dos enunciados extraídos desse blog mostram-se muito favoráveis tanto ao professor quanto ao aprendiz. Por meio da ancoragem em valores carismáticos, as crianças-aprendizes são constituídas como novos magos sociais, habitantes dos mundos virtuais, portanto, constituídos como sujeitos sociais tecnológicos. De outra parte, ancorando a representação em valores racionais, enuncia-se esta constituição como estando em rápida expansão, criando sentidos de inevitabilidade. Não se encontram nos enunciados deste blog marcas que remetam a representações de gênero, etnia ou idade, já que recorrendo ao plural generalizante e ao tempo presente, homogeinizam-se os sujeitos. Assim, no discurso examinado encontra-se a criança-aprendiz cuja etnia é a emprestada pelo mundo virtual e cujo gênero, raça e idade não se encontram em questão. O que está em questão é sua representação como “milagre” tecnológico e sua natureza é essencialmente social, o que vai ao encontro das metanarrativas educacionais que propagam que a infância é o tempo da socialização. O sujeito social tecnológico é então enunciado como o sujeito aprendiz social tecnológico lúdico, que irá aprender inglês por meio de um jogo online cheio de flamingos de que participam múltiplos jogadores. Portanto, marca-se no enunciado o valor carismático da ludicidade, Assim, recorrendo a valores carismáticos e racionais, o blog empodera as crianças e, na mesma operação, empodera-se. Além disso, uma vez que conforme nos ensina Foucault [7], o discurso consti- tui relações de poder que constituem a identidade e a alteridade, assoma a constituição de um sujeito social tecnológico que se reconhece e é reconhecido por seus pares, em relação de perfeita simetria, apagando-se do cenário a figura do professor que é substituído pela instituição, bem como o trabalho pedagógico, pois este passa a ser diversão. Em suma, no discurso encontrado no blog inserido no site Mingoville, as representações de criançasaprendizes e de seus professores estão ancoradas, preferencialmente, em valores carismáticos de socialização, ludicidade e tecnologia, configurando práticas identitárias que constituem as criançasaprendizes como sujeitos tecno-sociais, jogadores/competidores, expectadores/torcedores e seus professores como sujeitos tecnológicos entretenedores. O blog http://criancasaprendemingles.blogspot.com foi criado por Michelle Passos, que informa ser pósgraduanda em Metodologia do Ensino de Inglês, graduada em Letras Inglês - Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2010, portanto sua representação de poder se ancora no valor tradicional da academia. Este blog também é direcionado a professores, que nele podem encontrar dicas de como proceder em sala de aula, por meio de modelos prontos de aulas para assuntos específicos e, até mesmo, modelos de avaliações. Essa divulgação de modelos pode, por um lado, parecer pertinente, já que é uma troca de experiências entre professores, mas, por outro lado, a procura de profissionais por modelos prontos pode sugerir a falta de preparo que possuem ou ainda a insegurança em preparar seu próprio material. Temos, então, marcas de autorepresentação, ou seja, o enunciador, objetificando-se, procede à sua própria subjetivação como já apontava Foucault [7]. Configurando-se como uma prática discursiva de confissão, os enunciados trazem significantes que constituem o professor como sujeito à deriva, que necessita ser salvo, pois não sabe como começar e como sujeito nervoso, ansioso, medroso, talvez incapaz, diante da tarefa de ensinar. A estas marcas vem se somar inscrições de espanto, de regozijo, de agradecimento e de congratulação, que servem a reiterar as práticas identitárias descritas. Este blog, além de apresentar dicas para aulas, também serve como veículo para troca de experiências entre os professores. Essas experiências são enunciadas como desabafos, queixas, constituindo-se o professor insatisfeito, mas também o professor solidário, pois se instaura um processo de Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 27 e 28 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 identificação entre enunciador e enunciatário, pois um é espelho do outro. É preciso apontar, no entanto, que esta identificação é formatada pela identidade compartilhada de professor insatisfeito. Já o aluno, constituído como o outro, é o sujeito indisciplinado, problema, dificuldade a ser superada. Constitui-se, então, como inimigo que impede a realização do potencial do professor que está marcado no enunciado como sujeito potencialmente excelente, ou seja, mais do que capaz. Há de se apontar, ainda, que também a ausência de tecnologia é inscrita como interdito ao professor excelente. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As diferenças entre as representações e as práticas identitárias nos blogs selecionados para análise foram configuradas principalmente pelas condições de produção de cada um deles. Devemos ter em mente que Mingoville é desenvolvido por uma companhia dinamarquesa que é especializada na produção de e-learning desde 2002, e embora atenda ao mundo todo, o contexto socioeconômico do seu país de origem é bem diferente daquele do Inglês para crianças, que foi criado por uma professora brasileira que na época de sua criação ainda não era graduada e que até o presente momento leciona na Cidade de Aracaju, Sergipe, Brasil. Além disso, nossa análise revelou que Mingoville usa o recurso do blog para que sugestões de atividades possam ser acessadas por professores, pais e alunos, enquanto que Inglês para crianças tem como seu interlocutor apenas professores e pais. Ademais, enquanto o primeiro apresenta atividades, em maioria quase absoluta, para contextos virtuais online, o segundo privilegia o contexto presencial. Parece-nos, também, que a configuração do discurso de blogs em que o enunciador é um professor, não favorece marcas de representação que remetam à constituição da criança-aprendiz como sujeito tecno-social, pois aqui assoma a constituição do sujeito indisciplinado. Também o professor não é o mesmo, prevalecendo o professor insatisfeito e incapaz. Assim, o lugar de que se fala sobressai em relação ao lugar de onde se fala. Em ambos os casos se fala a partir de um blog, mas em um se fala sobre contexto online e em outro sobre contexto presencial e, em decorrência, os sujeitos que aí estão representados são substancialmente diferentes. As identidades, que, como bem o informa Hall [4], são construídas no interior das representações, estão sempre em processo. De nosso ponto de vista, por serem construídas coletivamente e no interdiscurso, as representações não se alteram rapidamente, havendo a necessidade de uma grande mudança estrutural, como a ocasionada pelo advento da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação, para que se possam vislumbrar mudanças no quadro representacional. Embora, pelo que pudemos observar no discurso dos blogs analisados, possamos afirmar que as mudanças ainda são tímidas, cabe apontar que há marcas que constituem a criança-aprendiz como sujeito global tecno-social, o que pode revelar um processo de aculturação que assume, no imaginário social, um caráter positivo, esquecendo-se que dele decorre homogeneização. REFERÊNCIAS [1] Orlandi, E.P. (2000), Análise de discurso – Princípios & Procedimentos. 3ª ed., Pontes, Campinas, SP, p. 17/35. [2] Coracini, M. J. R. F. (1991), Análise do Discurso: Em Busca de uma Metodologia, D.E.L.T.A., vol. 7, n. 1, p. 333-355, p.337. [3] Silva, F. P. (2004), Articulações entre poder e discurso em Michel Foucault. In Sargentini, V. e Navarro, P. (orgs) Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder, subjetividade. São Carlos, Claraluz Editora, p. 159-179, p.172. [4] Hall, S. (org.), (1997), Representation. Cultural representations and signifying practices, Sage, London, p.222. [5] Amarante, M. F. S. (2009), Representações de poder em discursos político-educacionais e educacionais: em questão o ensino de inglês para crianças na Internet. Trabalhos de Linguística Aplicada, Campinas, v. 48, p. 217-227, p.220/221. [6] Mendes, W. A (2008), Construção de Sentidos no Blog: um estudo sobre multimodalidade, acessado online em 20 mai 2011 de http:// www.ufpe.br/nehte/simposio2008/anais/Wellingt on-Vieira-Mendes.pdf . Acesso em 20 Maio 2011. [7] Foucault, M. (1993), História da Sexualidade: A vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal