R E V I S T A
UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES
EM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL
EDIÇÃO 06 | MARÇO 2013
Pág 22
Pesquisa elaborada
para tese de doutorado
do professor Marcos
Paz abordou aspectos
da violência dentro da
comunidade escolar.
Aniversário
FETEMS completa 34 anos de história, lutas e conquistas. Pág. 10
Personalidade
Merendeira com orgulho, Dona
Cidinha, relata uma vida dedicada à escola pública. Pág. 20
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
1
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Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
3
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Presidente: Roberto Magno Botareli Cesar
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Dep. dos Trabalhadores em Educação em Assent. Rurais: Rodney C. da Silva Ferreira
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Conselho Fiscal da FETEMS: Fátima do Sul: Adair Luis Antoniete; Naviraí: José Luis dos Santos;
Dourados: Nilson Francisco da Silva; Miranda: Robelsi Pereira
Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Vilas Boas e Azael Júnior
Sarobá ..................................................................................................................................................07
Ação cultural leva para as ruas de Campo Grande as diversas expressões da arte
regional
FETEMS .................................................................................................................................................10
Maior entidade sindical do Estado completa 34 anos de história
Redação e Produção
Íris Comunicação Integrada
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Diretora de criação: Nanci Silva
Diretor de arte: Ivan Cardeal Nunes
Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)
Revisão: Vanda Escalante (DRT-MS 159), Mário Márcio Cabreira (DRT-MS 109)
Colaboraram nesta edição
Vanda Escalante
Carol Alencar
Fotos
Wilson Jr.
Elis Regina
Jefferson Ravedutti (SIMTED Ponta Porã)
Entrevista ...........................................................................................................................................16
Emmanuel Marinho deixou os grandes centros culturais do país, voltou às origens e
se tornou uma referência da cultura sul-mato-grossense
Capa .....................................................................................................................................................22
Pesquisa revela que maioria dos casos de violência na escola está ligada as
dificuldade de relações interpessoais
Especial Mulher ................................................................................................................................30
Tendências, estilos, comportamentos, sentimentos e aspirações: esses são os
elementos que compõem o perfil da mulher moderna
Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e
não representam, necessariamente, a opinião da revista.
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Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
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EDITORIAL
cultura
Escola é lugar de educação
e não de agressão
“A prática da compreensão é vital contra pestilências
humanas, como o desprezo e o ódio. Quem compreende
isso deixa de odiar”.
Edgar Morin
A sexta edição da Revista Atuação chama os leitores
para uma reflexão sobre um tema que afeta a sociedade
de um modo geral: a violência. Uma pandemia mundial
que adentra nossas vidas, nossas escolas e nossos lares,
roubando-nos o direito a uma convivência pacífica.
Quem, nos dias atuais, nunca presenciou ou foi alvo de
um ato de violência? Não importa como ela se manifesta
– corporal, verbal, emocional –, todos já sentiram, de
algum modo, seus efeitos, muitas vezes, devastadores e
irreparáveis.
Roberto Magno
Botareli Cesar
Presidente da Federação dos
Trabalhadores em Educação de
Mato Grosso do Sul
É impossível classificar em qual espaço da sociedade
a violência é mais prejudicial. Contudo, podemos afirmar
que a violência no ambiente escolar está ganhando
contornos de barbárie, com consequências imensuráveis.
Infelizmente, a mídia tem veiculado com frequência
casos de violência nas escolas de todo o mundo. Alunos
sem limites, pais sem autoridade e uma escola em meio a
transformações sociais efêmeras, buscando construir um
novo papel, uma nova identidade.
Nós, educadores, inseridos neste contexto, precisamos
refletir e agir. Como nos alerta o sociólogo Edgar Morin,
é necessário exercitar a compreensão. “Isso deveria
começar nas classes infantis, ensinando aos meninos e
meninas que brigam entre si, a sair do círculo vicioso no
qual a ofensa de um provoca a ofensa no outro”. Também
é fundamental e imprescindível investir na cultura da paz,
indo além dos muros da escola.
Escola é lugar de educação, e não de agressão. É na
escola que aprendemos que somos cidadãos, que temos
direitos e deveres. É, também, na escola que devem residir
os princípios de respeito, moral e ética. O estudo, aliado
à tríade respeito, moral e ética, garante a dignidade e a
liberdade do ser humano.
Para combater a violência, também é preciso combater
as desigualdades sociais, entre elas, a pobreza. Pobreza
gera exclusão, exclusão gera violência.
A reportagem de capa desta edição é uma
oportunidade para repensarmos nosso papel enquanto
educadores, cidadãos e formadores de opinião. Como
diria o eterno Paulo Freire, “se a educação sozinha não
pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a
sociedade muda”.
Boa leitura!
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Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
7
M
as o que é Sarobá? É o
que a maioria das pessoas, provavelmente,
deve se perguntar. Se você, também, quer saber como é o evento
de rua que ganhou adeptos e a
simpatia dos campo-grandenses,
venha com a gente redescobrir
ritmos, cores e sabores dos bairros e recantos da bela Cidade
Morena.
O Sarobá é uma ação cultural
de caráter coletivo e espontâneo.
Foi idealizado com o objetivo
de estreitar as relações humanas, criando um espaço onde as
pessoas possam contar suas experiências de vida, trocar ideias,
mostrar talentos, onde possam
esquecer seus medos e ser aceitas, sem preconceito ou discriminação. Pode-se dizer que o Sarobá começou parecido com um
sarau.
Os primeiros encontros do Sarobá aconteceram num bar, na
esquina das ruas da Imprensa e
Rui Barbosa, no São Francisco,
um dos bairros mais antigos da
capital sul-mato-grossense. No
São Francisco, o Sarobá ficou por
algum tempo, virou um ponto de
encontro de amigos e de pessoas
que se identificavam com a proposta.
Um dia, o bar que servia de
teto para as reuniões do Sarobá,
fechou. E para onde ir? Sem teto,
os idealizadores do Sarobá, que,
também, compunham o Teatro
Imaginário Maracangalha, decidiram ganhar as ruas da cidade
– unindo poesia, música, dança,
teatro, artesanato e todas as formas de expressão artístico-cultural. Com isso, o Sarobá se tornou
móvel, mutante, uma festa que
muda de lugar, mais ou menos
assim. Os itinerantes levam cultura, alegria e diversão para bares,
praças e pontos históricos da cidade.
E esse nome, Sarobá? Bom,
o nome foi inspirado na obra do
poeta corumbaense Lobivar Matos, publicada no ano de 1936. O
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poeta abordava a vida do bairro negro da Cidade Branca, vida
marcada pela miséria. O popular
e o social eram temáticas da literatura do autor.
A proposta do nome foi apresentada pelo ator e diretor de teatro Fernando Cruz, em um concurso realizado pelo proprietário
do bar no São Francisco, Edson
José. Na época, o bar também foi
batizado de Sarobá.
Agora, as edições do Sarobá
acontecem a cada dois meses,
e as atividades têm duração de
dois dias. O primeiro dia é dedicado ao seminário Arena Aberta,
com algumas palestras e alguns
debates com a plateia. No segundo dia, acontece a Festa-Sarau
com shows, sarau, teatro, dança,
poesia, artes visuais, artesanato,
bolicho e escambo.
A primeira edição de 2013 fez
menção ao Carnaval e aconteceu
no Bar Pingo de Ouro, popularmente conhecido como Bar da
Dona Carmem, também na região
do São Francisco.
Com o tema Sambas, Bambas e Cateretês (trecho de uma
das poesias de Lobivar), o Coletivo Sarobá deu movimento à
rua, à calçada e ao bar. A trupe
constituiu um cenário colorido,
misturando fantasia e realidade. Tambores, bumbas e versos
prenderam a atenção dos curiosos transeuntes.
Bar da
Dona Carmem
Aos 76 anos, Dona Carmem
vive há 53 no mesmo lugar. Lá,
ficou viúva de dois maridos, criou
filhos, netos e bisnetos. Dedicou-se dia a dia ao bar e à clientela.
O estabelecimento soma 50 anos
de tradição e é, até hoje, o sustento da família.
A música é a grande paixão
de Dona Carmem. Entre os intervalos de um cliente e outro, um
ensaio. Ela no violão e o genro,
Nilton Couto, na sanfona. A dupla
fundou o grupo Pingo de Ouro,
que apresenta um repertório voltado para o sertanejo de raiz ou,
como ela mesma diz, música caipira. “Nada me deixa triste, nem
cliente bebum. Quando alguma
coisa está para pegar, eu canto e
espanto essas energias”, revela.
Ícones como a pinga com guavira (genuinamente pantaneira),
o pastel de carne e os tapetes
feitos com retalhos, que Dona
Carmem customiza, revelaram a
contribuição à nossa cultura e fizeram parte do cenário da festa.
Artistas, produtores, estudantes,
amantes da arte e cultura, pensadores, poetas e pessoas que
apreciam uma boa música formaram o público do Sarobá.
A primeira edição de
2013 fez menção ao
carnaval e aconteceu
no Bar Pingo de Ouro,
popularmente conhecido como Bar da Dona
Carmem (...) Tambores,
bumbas e versos prenderam a atenção dos
curiosos transeuntes.
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
9
capa
FETEMS
completa
34 anos de
lutas e
conquistas
A maior entidade sindical
do Centro-Oeste representa
mais de 22 mil servidores
municipais e estaduais, o
que equivale a 45% do funcionalismo público de Mato
Grosso do Sul
10 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
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curso de remoção do magistério,
e a realização do concurso público para o magistério e para os
administrativos da educação, no
primeiro semestre de 2013.
A FETEMS comemora os 34
anos de fundação no dia 3 de
março de 2013 e reconhece que
ainda existe muita luta pela frente, mas se pauta nas conquistas
obtidas para continuar a batalha
pela educação pública de qualidade, uma educação que seja
mais justa, humana e igualitária.
A
história da maior entidade sindical de Mato
Grosso do Sul se confunde com a história do próprio
Estado. Os tempos eram de mudança e desafios e, para a categoria da educação, uma grande
luta era defender os interesses
dos trabalhadores, fazendo frente à prática das nomeações e
contratações pautadas pela influência política.
Na década de 1980, havia
muito a se fazer. A educação era
precária em todos os sentidos,
não havia condições estruturais, faltavam escolas, não existia concurso público, não havia
uma carreira estabelecida. Na
pauta de reivindicações, com as
questões salariais, sempre esteve a luta por uma educação de
qualidade, bem como pela valorização profissional da categoria,
tanto professores quanto administrativos.
A capacidade de organização foi determinante para consolidar o movimento e hoje, ao
completar 34 anos de fundação, a FETEMS já é a maior entidade de todo o Centro-Oeste
brasileiro: reúne 72 sindicatos
municipais filiados, mais de 22
mil trabalhadores na base e representa 45% do funcionalismo
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público de Mato Grosso do Sul.
Ao longo do tempo e somando avanços, o movimento sindical foi passando por grandes
transformações. Atualmente, já
não exige tanto uma postura de
enfrentamento, mas sim, de manutenção das conquistas e renovação das bandeiras de luta.
O ano de 2012 foi marco de
grandes vitórias para a FETEMS.
Em meio a protestos, reivindicações, muita luta e persistência,
foi possível garantir direitos e
efetivar conquistas. Entre elas, a
retomada de negociações com
o governador André Puccinelli,
que resultou na reformulação da
Lei Complementar 0087/2000.
A legislação unifica a carreira de
administrativos e professores,
acrescentando oito mil profissionais ao Estatuto da Educação
Básica, amplia a promoção funcional e regulamenta a implantação de 1/3 da hora-atividade,
a partir de 2014. A unificação da
carreira é uma reivindicação que
vinha sendo debatida por mais
de 20 anos.
Outros pontos conquistados
são a política salarial do magistério, contemplando a política
salarial nacional, a progressão
funcional dos administrativos da
educação, a realização do con-
Depoimentos
Personagens que ajudaram a construir a maior entidade sindical de Mato Grosso do Sul
“Nossa entidade nasceu com a criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Na época,
não tínhamos estrutura alguma. Negociávamos com os professores do interior e da
capital, até chegarmos num consenso, de que éramos todos responsáveis pela fundação da entidade que nos representaria. Levou um tempo, mas conseguimos. Começamos do zero e na labuta! Lembro-me do primeiro Estatuto do Magistério, que
foi elaborado por professores unicamente indicados pela FEPROSUL. Sinto-me feliz
e ciente de toda a minha contribuição como primeiro presidente da maior entidade
sindical do Estado. Ainda pretendo escrever um livro, contando na íntegra toda essa
história”.
Eusébio Garcia Barrio
Ex-presidente da FETEMS
1979 a 1980 e 1981 a 1982
“Ainda éramos Mato Grosso e a FETEMS era um movimento que vinha na esteira da
divisão do Estado para Mato Grosso do Sul. Nossa entidade nasce com a criação do
Estado. Foi um desafio enorme, porque era um momento propício para mudanças.
Foi um período de muita luta, de muito trabalho, porque não havia ninguém com
experiência, e nos identificamos para construir o que, atualmente, é de muita valia.
Tenho certeza, que todos que atuaram na fundação sentem-se honrados por este
legado. Nos dias atuais, a educação pública de Mato Grosso do Sul tem um nível
de desenvolvimento, de qualidade e, deve isso à organização sindical, porque os
líderes sindicais participaram dos grandes debates nacionais ao longo da história,
levaram propostas daqui e trouxeram outras propostas de melhorias para a educação local. Neste período, nós pudemos experimentar avanços que outros Estados
ainda não têm; portanto, isso nos torna referência.”
Antônio Carlos Biffi
Atual Deputado Federal
pelo PT e ex-presidente da
FETEMS por três mandatos
1983 a 1984; 1985 a 1986 e
1990 a 1992
“O período em que estive à frente da FEPROSUL, atual FETEMS, foi um período muito difícil para educação pública do Estado. A educação e os trabalhadores estavam
desamparados. Constantemente, realizávamos greves, mobilizações e protestos. Lutávamos pelo pagamento do salário em dia, pela eleição para diretor nas escolas,
pela criação do plano de cargos e carreira e pelo Piso Salarial – reivindicações que
se transformaram, ao longo dos anos, em direitos garantidos, frutos de muitas lutas
e união dos trabalhadores em educação. A FEPROSUL mudou a história do movimento sindical sul-mato-grossense. É muito gratificante ver os resultados de uma
história que teve início há décadas”.
Elza Maria Jorge
Ex-presidente da FETEMS
1987 a 1989
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
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“Lembro-me de que uma de nossas marcas era tentar manter os salários em
dia. Tinha época, que o governo pagava em dia, e outras, que em virtude das
dificuldades em caixa, efetuava o pagamento por regiões. Outra lembrança é a
luta pela eleição de diretor nas escolas. Conquistamos o direito de eleger nossos
diretores em 1991. Em determinada situação, eu havia me candidatado a diretor,
e nosso grupo foi eleito. Aquela eleição foi minha base para eu chegar à presidência da FETEMS – nossa campanha da Federação tinha um lema: 93, três outra
vez – que se referia aos três salários mínimos como Piso Salarial para a categoria.
Enfrentamos um governo avesso aos educadores, um período difícil. Porém, nossa luta não foi em vão. Estamos colhendo o que plantamos. É muito gratificante”!
François de Oliveira Vasconcelos
Ex-presidente da FETEMS
1993 a 1995
“O período em que estive na FETEMS como presidente foi uma época de muita
efervescência política em todo o Estado, marcada por total descaso com a sociedade sul-mato-grossense, em especial, com o funcionalismo público: salários
atrasados, carreiras desrespeitadas, corrupção e total desgovernação. Um caos, o
campo, a cidade e os movimentos sociais em pleno fervor de mobilizações e manifestações com muita criatividade e garra para mudar o que precisava ser mudado. Gostaria de citar o fórum dos servidores do Estado, que teve um papel muito
importante: a mobilização dos funcionários para garantir as jornada de seis horas
e a luta para receber os salários em dia. Foi uma época de tempos muitos difíceis,
mas, também, de garra e mobilizações. Nestes 34 anos, fomos protagonistas dos
momentos históricos de nosso Estado e do país. Foi uma honra muito grande fazer
parte desta história, sendo presidente da minha entidade profissional, ser protagonista de um momento histórico com mulheres e homens que seguem defendendo
a educação pública e valorização dos seus profissionais... seguimos com nossos
sonhos e nossas utopias”.
Fátima Aparecida da Silva
Atual secretária de Relações Internacionais da CNTE e ex-presidente da FETEMS
1996 a 1998 e 1999 a 2002
“Eu praticamente vivi essa história da FETEMS nas ruas, no dia a dia, no decorrer
da história, tenho um conhecimento amplo do que a FETEMS representa e o que
ela significa para a evolução das escolas de Mato Grosso do Sul. Quando a FETEMS
ampliou os interesses, passando a atender todos os trabalhadores da educação, foi
uma evolução, uma posição de vanguarda. Obtivemos uma plenitude na educação
no final dos anos 1990, mas nosso maior desafio, ainda hoje, está na modernização
das escolas, na universalização do acesso à Educação Infantil e na luta pelo Plano
Nacional de Educação. O movimento sindical está diferente, mais preparado tecnicamente, e estamos bastante ativos.”
Jaime Teixeira
Atual tesoureiro da FETEMS
e ex-presidente da entidade
2005 a 2008 e 2009 a 2012
“Ao falar dos 34 anos da FETEMS, confesso que fiquei emocionado. Relembrei
vários momentos da minha história no movimento sindical. Já tenho 20 anos de
militância, e minha história está entrelaçada à história da FETEMS. Revivi momentos ao lado de companheiros como o Biffi, o Jaime, a Fátima e outros que me
antecederam e foram de suma importância para que a FETEMS chegasse ao que
é hoje. Foram muitas lutas e muitas conquistas – ações que fizeram da FETEMS a
maior entidade sindical do Estado, com aproximadamente 25 mil filiados. Tenho
certeza que a cada passo dado, a nossa federação se torna mais forte e atuante.
Como diria o eterno Paulo Freire, não é no silêncio que os homens se fazem, mas
na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”.
Roberto Magno Botareli Cesar
Atual presidente da FETEMS
2012 a 2015
“Acredito que foi um período em que houve várias modificações. Conseguimos
trabalhar a liberdade sindical, e as várias correntes tinham vez e voz. Foi também
um período um tanto conturbado, por conta de que as correntes majoritárias lutavam para que a política se modificasse. Mas, foi de uma evolução muito grande,
tanto que hoje, nas eleições da FETEMS forma-se chapa única, o que demonstra
que todos aprenderam a conviver”.
Mara Eulália Carrara da Silva
Ex-presidente da FETEMS
2002 a 2004
14 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
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ENTREVISTA
Versatil
A
Música, teatro, educação, literatura e
artes visuais compõem o trabalho de
Emmanuel Marinho
16 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
os 56 anos, Emmanuel
Marinho é uma referência da cultura sul-mato-grossense. Poeta, ator e educador, Emmanuel deixou duas
décadas de vivência nos grandes
centros culturais brasileiros e retornou para suas origens na cidade de Dourados, onde coordena,
desde 1993, oficinas de leitura,
mostras culturais, festivais e uma
série de atividades que asseguram acesso à cultura e melhoram
a qualidade da educação.
Revista Atuação – Ao unir
poesia, teatro, música e literatura, você fez da versatilidade
uma das marcas do seu trabalho, que, também, é instrumento de arte-educação. Como
você próprio define a arte de
Emmanuel Marinho?
Emmanuel – Sou um “brincante”, que trabalha na fronteira das diferentes linguagens das
artes. A minha poesia está mais
próxima da música, das artes visuais e do teatro do que da literatura propriamente dita, e o teatro que faço é todo tecido pela
poesia. Este é o meu trabalho, um
cantador que brinca com as palavras, que canta a sua terra e as
cidades que nos habitam.
Revista Atuação – Durante
cinco anos, de 2006 a 2011, você
foi coordenador de Cultura da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Qual a sua
avaliação sobre esse período?
Que resultados você aponta?
Emmanuel – Foi um momento
muito importante em minha vida,
ali atuava o poeta-educador, um
momento inaugural, uma universidade que nascia, tudo para ser
criado. Na minha gestão, criamos a
sala de exposições, cineauditório,
cineclube, Festival Internacional
de Teatro, Mostra Sul-Americana
de Música, encontros de leitura,
oficinas de todas as artes, celebrações que aconteciam mensalmente, com shows de artistas da casa e
de grandes nomes da música po-
pular brasileira. A implantação do
curso de Artes Cênicas, que, em
2012, formou sua primeira turma.
Tudo foi uma grande conquista.
Ressalto, ainda, o trabalho sociocultural com a implantação de
vários pontos de leitura; pontos
de teatro; o resgate da tecelagem indígena; ponto de hip-hop
na aldeia indígena, que revelou o
grupo de rap indígena Brô Mc’s
e tantos outros projetos que fizeram a diferença em Dourados,
contribuindo, sobremaneira, com
o desenvolvimento cultural da cidade.
Revista Atuação – Entre os
diversos projetos que desenvolveu e coordenou, estão várias
atividades de incentivo à leitura
em Dourados. Que tipo de transformações projetos como os encontros de leitura e as oficinas de
contação de história são capazes
de provocar?
Emmanuel – A leitura é uma
ferramenta poderosa para se ler
o mundo, instrumento fundamental na construção de uma educação de qualidade, possibilita novos olhares sobre o mundo e para
o exercício pleno da cidadania.
“Como artista, sou um andante, recebo
convites de varios lugares e,
assim, vou contando historia
e cantando
minha terra por este
mundo”
No início dos anos 1990, fui
convidado pela Biblioteca Nacional, por meio do programa Nacional de Incentivo à Leitura [Proler], a ministrar oficinas de leitura
e palestras em diferentes regiões
do país, experiência valiosa de
trocas e aprendizagem. Esta vivência possibilitou que eu criasse
um comitê de leitura em Dourados para realizar esses encontros
também em minha cidade.
A cada encontro, recebíamos
mais de 600 educadores de todo
o Mato Grosso do Sul, oferecendo oficinas, palestras, workshops,
minicursos, seminários, lançamento de livro, assegurando o
acesso à cultura para diferentes
segmentos da sociedade, por
meio desses educadores, multiplicadores do conhecimento em
leitura. Vale ressaltar que significativos nomes da cultura brasileira e internacional participam desses encontros, como Bartolomeu
Campos Queirós, Frei Beto, Ezequiel Theodoro, Bartomeu Meliá,
Moacyr Scliar, Francisco Gregório, entre outros.
Revista Atuação – Como você
define os projetos desenvolvidos
junto à comunidade escolar e aos
grupos de terceira idade?
Emmanuel – O acesso à cultura deve ser propiciado a todas
as classes e grupos sociais. Só a
arte salva! Foi uma experiência
gratificante ter trabalhado com a
terceira idade, levando para este
grupo momentos de alegria e
de conhecimento. Quanto à comunidade escolar, é um trabalho
contínuo, que desenvolvo desde
1980, essencial por contribuir
para uma educação com mais
qualidade, voltada para a educação dos sentidos, possibilitando
a formação de alunos e educadores mais atuantes, criativos e
críticos.
Revista Atuação – A crítica
social e a defesa dos povos indígenas sempre foram marca de
seu trabalho e renderam, inclusive, prêmios a suas obras. Como
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
17
“O acesso a
cultura deve
ser propiciado a todas as
classes e grupos sociais. So a arte salva!”
você define sua ligação com essa
temática?
Emmanuel – É uma forma do
artista mostrar sua indignação
com esses cenários que a civilização nos apresenta, dar voz aos
oprimidos e denunciar os opressores através da arte.
Revista Atuação – Diferente
de outros artistas, mesmo com
trabalho e trajetória reconhecidos e fartamente premiados,
você continua vivendo e trabalhando em Dourados. Por que
essa opção?
Emmanuel – Durante 20 anos,
morei em São Paulo e Rio de Janeiro; em 1993, voltei para Dourados, que sempre foi meu porto
seguro, para ficar mais próximo
da família e dos amigos daqui.
Quanto ao trabalho, continuo
atuando em outros lugares, assim como em minha cidade.
Como artista, sou um andante,
recebo convites de vários lugares e assim vou contando história
e cantando minha terra por este
mundo.
Revista Atuação – Pela sua vivência junto às comunidades escolares, é possível fazer uma avaliação da educação brasileira?
Emmanuel – Sim, precisamos
de uma escola que trabalhe questões ligadas à educação do olhar
e dos sentidos, uma educação
voltada para as humanidades,
que incentive diferentes leituras
18 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
do mundo, o contato com a natureza e com a arte. Precisamos
de muita arte nas escolas, professores que sejam educadores e
criadores, que levem o conhecimento de forma lúdica, com alegria e encantamento para a sala
de aula. Uma escola que contribua para a sensibilidade, formando cidadãos críticos, criativos e
atuantes, fazendo da sala de aula
um ambiente propício para a geração de ideias e de práticas culturais.
Os educadores que atuam
hoje, na educação brasileira, são
frutos do que aconteceu nos
anos de 1960 e 1970, quando
eram alunos, no projeto MEC/
USAID, implantado em nosso
país pelo governo americano,
em parceria com a ditadura militar brasileira. Reformularam uma
educação que era voltada para
as humanidades, para uma educação tecnicista, dirigida para favorecer as grandes corporações
internacionais, nacionais, o capital e o consumo. Paisagem que a
gente assiste todos os dias, nos
mais diversos meios de comunicação do país. Precisamos estar
sempre atentos a nossa história,
a nossa memória e desvendar
esses e outros acontecimentos
que maculam a educação no Brasil. Só assim, poderemos criar novos caminhos e novas perspectivas de transformações efetivas e
afetivas na educação brasileira.
“Precisamos
de uma escola
que trabalhe
questoes
ligadas a educacao
do olhar e dos
sentidos”
Inquietações
e desafios na escola
Priscila Pereira Boy
148 páginas
Editora Wak
Fonte: Site Nova Escola; autor da Resenha:
AIRTON CARDOSO, mestre em Ciência da
Educação e consultor educacional
O livro conduz o leitor a questões fundamentais para a Educação no
século XXI. Ao longo das páginas, constata-se que o Brasil é grande, mas
os desafios e as inquietações dos nossos profissionais são comuns.
Para começar, a autora apresenta um breve histórico das correntes
pedagógicas, organizadas dentro de três grandes teorias: a liberal, a progressista e a evolucionária. Em cada uma delas, dados sobre seus pensadores, o papel a que a escola se propõe, os conteúdos abordados, o
método utilizado, a relação estabelecida entre o professor e os alunos, a
concepção de aprendizagem e os principais seguidores.
A função da escola no processo de inclusão de tantos excluídos (negros, mulheres e homossexuais, entre outros) é colocada de forma clara
e objetiva e acrescida das políticas públicas vigentes no país acerca do
tema. Já o vínculo entre a intolerância e a violência é abordado por meio
de pesquisas feitas em escolas de todo o Brasil. No conjunto, o livro demonstra a fragilidade das relações estabelecidas na escola, onde tudo se
entrelaça: a exclusão gera a violência, que causa dificuldades de aprendizagem e resulta em frustração, afetando, assim, a carreira docente.
Dicas para uma boa leitura
Atividades para o
desenvolvimento da
inteligência emocional
nas crianças
Textos Grop
Ilustrações Ana Zurita
192 páginas
Editora Ciranda Cultural
A Inteligência Emocional é um dos aspectos mais importante de uma
pessoa. Possuir inteligência emocional promove as relações com os demais e consigo mesmo, melhora a aprendizagem, facilita a resolução de
problemas e favorece o bem-estar pessoal e social.
Nesta obra, são trabalhados cinco blocos de competências emocionais,
um bloco por capítulo: consciência emocional, adequação emocional, autonomia emocional, habilidades socioemocionais e habilidades para a vida
e o bem-estar emocional.
Em cada capítulo, um grande número de atividades e exercícios é proposto para ajudar os educadores a desenvolver a inteligência emocional
das crianças.
Adquirir e ensinar inteligência emocional não são tarefas fáceis. É necessário treinamento e muita prática. Por isso, a obra é uma ferramenta
fundamental para os educadores e pais, que encontrarão nela exemplos
de como abordar e avançar esse tema nas crianças entre 8 e 12 anos.
Fonte: http://www.magiadaleitura.com.br
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
19
personalidade
Dona
Cidinha ..
orgulho
de ser merendeira e
amor à arte
de cozinhar
20 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
A
felicidade sempre esteve presente no ritmo de
vida de Maria Aparecida da Costa Souza, a dona Cidinha. Aos 48 anos, ela não mede
esforços para fazer sempre o
melhor para atender as pessoas,
principalmente as crianças da escola onde trabalha. Dona Cidinha
é merendeira, “com muito orgulho”, e, desde a hora que levanta,
às 4h45 da manhã, está disposta
a servir. “A cozinha é uma peça
importante na minha vida; faço
na cozinha da escola o que eu
faria em casa, porque o amor é
tudo na arte de cozinhar, e é com
amor que vivo”, exclama dona Cidinha. Atualmente, ela atende 325
alunos, no período da manhã, na
Escola Estadual Elvira Mathias de
Oliveira, no bairro Santo Eugênio,
em Campo Grande.
Nascida na área rural de Campo
Grande, dona Cidinha conta que
sempre teve o sonho de trabalhar
dentro de uma escola. Ela começou na faxina e, desde então, sentia-se privilegiada em estar onde
sempre quis estar. Depois que
prestou concurso público para o
administrativo escolar, ela ficou
na espera durante quatro anos,
até ingressar de vez na cozinha e
se tornar a merendeira mais conhecida do bairro. “Não gosto de
me gabar, mas até as mães de alunos me falam que sentem o cheiro
da minha comida do lado de fora
da escola, isso é demais de gratificante”, conta. E o reconhecimento
entre a comunidade também a faz
feliz. “Até conselhos para alunos e
mães eu dou, porque acho que, se
estou ali, é para ajudar. E a gente,
que fica o tempo todo na escola,
passa a fazer parte da família dos
alunos”, avalia.
Casada há mais de 30 anos,
Cidinha teve apenas uma filha e
tem uma paixão imensurável pelos três netos, Talisson (10), Renan
(7) e Juan (3), que estudam na
mesma escola em que ela trabalha. “Eles são minha alegria... mas
se tiver que corrigir, eu corrijo. E,
“Na minha época,
a gente tinha vergonha de o professor chamar a
atenção na frente
de todo mundo”
quando eles estão na escola, consigo separar bem, porque o tratamento é igual a todos os outros
alunos”, diz.
Cardápio
Para dona Cidinha, o segredo
para cozinhar com amor está associado à maneira de preparar as
coisas na cozinha. A merendeira
explica que o cardápio é definido
com antecedência e, de acordo
com ela, a preferência das crianças serve de inspiração.
“Como já fica definido o cardápio da semana, a gente sempre
chega inspirada para cozinhar. O
que as crianças mais gostam é do
arroz carreteiro”, conta.
Entre as outras receitas servidas nas cumbucas dos pequenos,
também fazem sucesso a macarronada com molho vermelho, as
saladas, o arroz com calabresa ou
linguiça e, esporadicamente, algum prato com sardinha.
Educação
Ativa em movimentos relacionados aos trabalhadores da educação, dona Cidinha é presença
assídua no movimento sindical
de Campo Grande e leva consigo
todas as experiências adquiridas
nos 20 anos dentro da escola. “Eu
sempre participo dos congressos
promovidos pela FETEMS, porque
acho importante estar a par desta
evolução. A sociedade fica melhor
se todos se envolverem e harmonizarem com o ambiente de trabalho e para o próximo”, conta a
merendeira, que já esteve em Coxim/MS, Jardim/MS, Três Lagoas/
MS e Brasília/DF, aprendendo e
partilhando experiências com representantes dos administrativos
da educação pública.
Sobre o ensino dos dias de
hoje, dona Cidinha enfatiza: “Na
minha época, a gente tinha vergonha de o professor chamar a
atenção na frente de todo mundo.
Hoje em dia, a criançada desafia o
professor. Acredito que boas atitudes têm que começar em casa,
com o respeito ao próximo e aos
pais; a base deve vir de casa e ser
estendida à escola”.
Dona Cidinha considera, ainda,
que muito desse “descaso” vem
dos pais, que “deixam as crianças na escola e não participam da
educação dos filhos”.
“Vejo muitas mães que largam a criança na escola e não se
empenham para a criação e até
mesmo para o futuro do filho e,
depois, vem culpar a escola por
conta da personalidade que o filho tem. Isso sim é errado, e se
você não souber dialogar, ele se
torna alvo das maledicências que
há no mundo”, conclui.
“A gente, que fica
o tempo todo na
escola, passa a fazer parte da família dos alunos”
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
21
capa
Pesquisa mostra a realidade cotidiana e aponta caminhos
para repensar a convivência no espaço escolar
22 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
23
Q
uando se fala em violência na escola, qual
a primeira imagem que
vem à cabeça? Vandalismo? Depredação do patrimônio? Agressões físicas? Franco-atiradores
fazendo vítimas na pré-escola?
Ou a morte do diretor de escola
em Nova Andradina no ano passado?
Ainda é recente na memória,
a tragédia de Realengo, no Rio
de Janeiro, em 2011, quando um
ex-aluno, de 23 anos, invadiu a
escola e matou a tiros 12 crianças,
ferindo outras dez. Em dezembro
passado, em Newport, Connecticut (EUA), 20 crianças e seis adultos foram mortos por um atirador
de apenas 20 anos.
Mas qual ou quais motivos levam crianças e jovens a cometerem atos de violência em um ambiente onde o respeito, a amizade,
a educação e a disciplina deveriam prevalecer?
A pesquisa desenvolvida pelo
professor Marcos Paz para sua
tese de doutorado em Educação
abordou o assunto. “Buscamos
identificar o que de fato é essa violência, como se dá, de que forma é
encarada, enfrentada ou incorporada no cotidiano escolar, com o
objetivo de promover o enfrentamento da questão. Não queremos
dar uma receita pronta, mas esse
diagnóstico é necessário no sentido de apontar caminhos”, explica.
Professor da rede pública estadual em São Gabriel do Oeste,
desde 2000, Marcos Paz já havia
trabalhado tema relacionado à
disciplina dentro da escola quando fez mestrado em Educação,
na Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS), em 2005.
Agora, para o doutorado, ainda
pela UFMS, escolheu o tema “Violências na Escola”. Como é também representante sindical, obteve a parceria da FETEMS para
realizar a pesquisa e optou pelo
tratamento dos dados a partir da
visão dos trabalhadores em educação.
24 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
De acordo com o professor,
a maioria dos casos registrados
nas escolas está ligada a dificuldades nas relações interpessoais
(de professor com aluno, aluno
com aluno, aluno com funcionário, com a comunidade de forma
geral) e com a própria rotina escolar.
“Repete-se muito o jargão de
que o pai tem que estar presente
na vida escolar do filho, mas não
é tão simples assim. O cotidiano
escolar é que está desconectado
da comunidade, não há uma vivência da comunidade com a rotina escolar, e isso foi identificado como causa das situações de
violência. Ficou muito claro que o
fundamental é a questão do convívio, da harmonia e da convivência no espaço escolar”, considera.
Além disso, o professor assinala que é preciso haver “um objetivo na educação”. “O projeto
pedagógico da escola tem que
ter uma ligação com a realidade
do aluno, porque a educação não
é uma coisa mecânica. Se a gente
não avançar nessa integração no
ambiente escolar, pode encher
de computador, pode encher de
estrutura material, que não vai
suprir a necessidade, que é o que
acaba gerando a situação de violência. A ação educacional dentro do espaço escolar precisa ter
sentido, não só para o trabalhador, mas também para o aluno.
O aluno tem que estar sabendo o
que ele está fazendo no espaço
escolar, para quê está ali, por que
é importante ele passar por esse
processo de educação formal
que a escola dá. Quando isso perde o sentido, o aluno questiona o
que é que ele está fazendo ali, e,
aí, começam os conflitos, xingamentos e agressões”, afirma.
tação e supervisão do professor
doutor Antônio Osório, da linha
de pesquisa em Educação e Trabalho, da UFMS, que elaborou
também o instrumento de coleta
de dados (questionário) aplicado
pelo Projeto Tosco (veja matéria
a seguir) nas escolas estaduais.
Universo
Os dados da pesquisa em parceria com a FETEMS foram coletados durante o último Congresso Estadual dos Trabalhadores
em Educação, realizado em 2011,
na cidade de Jardim. Dos 995 delegados participantes do evento,
que representavam sindicatos de
71 municípios, de todas as regiões do Estado, 891 responderam
o questionário.
Desse total, 78% são do sexo
feminino, e 65% têm idade entre
41 e 50 anos; sendo que 74% têm
vínculo com escolas da rede estadual; cerca de 90% delas localizadas na zona urbana (53% nos
bairros e 35% no centro).
Entre os pesquisados que atuam no magistério, 62% estão no
ensino Fundamental e 26% no
ensino Médio. Entre os administrativos, 40% estão em cargos
na secretaria ou na coordenação
escolar.
Característica da violência
76% dos entrevistados afirmaram haver ocorrências de
violência nas escolas onde atuam
75% das ocorrências acontecem entre os alunos
20% das ocorrências acontecem entre alunos e professores
15% das ocorrências acontecem entre alunos e familiares
Horário das ocorrências
36% dos entrevistados disseram que as ocorrências acontecem
em qualquer período
22% dos entrevistados disseram que as ocorrências acontecem
no período matutino
27% dos entrevistados disseram que as ocorrências acontecem
no período vespertino
47% das ocorrências acontecem na saída escola
43% das ocorrências acontecem na hora do intervalo/recreio
Idade dos agressores
87% dos casos envolvem alunos entre 11 e 16 anos
Tipo de violência
80% desrespeito aos colegas
58% xingamento e agressões verbais
54% agressões físicas
52% desrespeito ao professor
50% constrangimento pessoal
(apelidos e comentários negativos sobre o físico do aluno)
27% danificação do patrimônio escolar
Bullying, drogas e agressão
53% dos entrevistados convivem com alunos que são alvo de bullying
47% dos entrevistados convivem com alunos que praticam bullying
41% dos entrevistados têm conhecimento de alunos que usam drogas lícitas
(cigarro e álcool)
35% dos entrevistados têm conhecimento de alunos que usam drogas ilícitas
(maconha, cocaína, cola e crack)
39% dos entrevistados têm conhecimento de alunos que feriram a
integridade física do colega
Causa da violência
50% dos entrevistados responderam que a família desagregada e/ou
desestruturada é uma das principais causas que levam os alunos a atos de violência
24% família ausente no ambiente escolar
18% falta de limites e/ou respeito às pessoas
13% excesso de liberdade e ociosidade dos jovens
Pesquisa
A pesquisa do professor Marcos Paz, iniciada em 2009, teve a
participação de outras entidades
e foi desenvolvida sob a orien-
Resultados dos dados coletados durante o Congresso Estadual dos
Trabalhadores em Educação, em 2011.
Pesquisa “Violências na Escola” - Professor Marcos Paz
Professor Marcos Paz
891 trabalhadores em educação responderam o questionário da pesquisa
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
25
Medidas
Sobre quais instrumentos
a escola utiliza para resolver
as ocorrências de violência,
65% das respostas indicaram que a escola tem ficha
de ocorrência e o envolvido
é chamado para resolver o
problema; 59% responderam
que, quando há reincidência,
a família é convocada a tomar providências com rigor;
e 54% responderam que a
ocorrência é encaminhada ao
conselho tutelar.
O preenchimento de formulário específico para registro dos
casos de violência foi citado em
22% das respostas, seguido por
20% em que a ocorrência é registrada na delegacia de polícia
e 18% de que as ocorrências são
encaminhadas à promotoria pública.
Acionar a polícia, também,
aparece como ação corriqueira
no ambiente escolar: 61% afirmaram que a escola já acionou
a polícia para resolver questão
de aluno que praticou violência.
Entre esses, 51% afirmaram que
a polícia é acionada às vezes, e
33% responderam que a polícia é
acionada diversas vezes.
Soluções e consequências
Quanto à ação mais eficiente para o enfrentamento da violência escolar, a alternativa mais
abordada foi a de trazer a família
para uma maior participação na
escola e na vida escolar, resposta
presente em 31% dos formulários;
seguida de maior sensibilização e
conscientização de alunos e pais,
com 23%; promoção do diálogo/
conversas na comunidade escolar com 23%; estabelecimento
de disciplina e limites aos alunos
cumprindo leis e regras escolares
e penalizando os infratores obteve 18% de respostas; promoção
de palestras, projetos e cursos de
combate à violência escolar 16% e
conscientização e união da comunidade escolar para esse enfrentamento 13% das respostas.
Finalmente, na questão sobre
a violência escolar ter ou não relação com casos de problemas
de saúde do trabalhador em Educação, 30% afirmaram que não
existe relação da violência com a
saúde do trabalhador e 25% não
responderam. Dos formulários
que afirmaram que sim à questão, 39% citaram o estresse como
consequência do acometimento
da saúde; 34% a depressão, seguido de doenças e desgaste com
alterações psicológicas em 22%
das respostas; 14% com doenças
e desgaste com alterações físicas;
síndrome do pânico com 10%; e
sentimento de apatia, impotência
ou sensação de impunidade em
6% das respostas.
Marcos Paz já foi diretor de escola, presidente do SIMTED por dois mandatos, vice-presidente regional da FETEMS, delegado
de Base da FETEMS na CNTE, e exerce o terceiro mandato consecutivo como vereador pelo PT, sendo atualmente o Presidente da Câmara Municipal de São Gabriel do Oeste.
Sem limites
Em 2012, a Secretaria de
Estado da Educação de Mato
Grosso do Sul implantou nas
escolas públicas estaduais o
Projeto Tosco em Ação, desenvolvido pela Editora Alvorada.
O projeto consiste na capacitação dos professores, na aplicação de uma pesquisa e no
trabalho em sala com um livro
– intitulado Tosco – que conta
a história de um menino acostumado à violência e que, com
a ajuda de um professor, consegue superar a situação e mudar
26 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
o curso de sua história. Na fase
de pesquisa, em todo o Estado,
foram entrevistadas aproximadamente 45 mil pessoas, entre
alunos e professores das escolas públicas estaduais.
Entre os resultados obtidos,
ficou demonstrado que 67%
dos alunos haviam apresentado
comportamento agressivo nos
seis meses anteriores à pesquisa, e que 74,63% das manifestações de agressividade se dão
por meio de provocações verbais. Entre os professores entrevistados, 82% afirmaram já
ter presenciado agressões físicas, verbais ou psicológicas no
ambiente escolar, e 55,54% disseram que as agressões acontecem no mínimo uma vez na
semana.
Embora componham uma
amostragem significativa, os
números não conseguem traduzir a complexidade cada vez
maior das relações de crianças
e adolescentes com pais e professores. E em meio a pesquisas – embora poucas –, análises,
relatos e troca de experiências,
uma constatação é frequente e
comum: o grande problema é a
falta de limites. Mas, onde está
a raiz do problema?
O promotor da Infância e Ju-
ventude, Sérgio Fernando Harfouche, defende que se faça, de
forma “emergencial”, um “resgate à autoridade”. “O respeito dentro da sala de aula só vai
ser concretizado quando essa
autoridade do professor voltar
a valer. Hoje alunos humilham
zelador, desrespeitam o professor e até o diretor. É preciso
disciplinar o aluno – sujou, tem
que limpar; quebrou, conserte;
destratou, retrate-se”, diz.
Nesse sentido, desde 2009,
o promotor desenvolve um
projeto junto a diretores e professores da rede pública, centrado, justamente, na aplicação
de medidas disciplinares. Apesar de ter sido divulgado que
esse trabalho já teria reduzido
em 60% os casos de violência
nas escolas, a iniciativa não recebe apenas elogios, mas também tem críticas e questionamentos.
“Afinal, não se pode judicializar a educação”, resume
o professor Marcos Paz, que
tem pesquisa recente sobre o
tema. “A escola não está conseguindo resolver essa questão
e está chamando um suporte
de fora, que, num primeiro momento, talvez, dê a sensação
de que está solucionando, mas
nós estamos é tirando da rotina
escolar a capacidade de tentar mudar a realidade. A gente
está transferindo esse enfrentamento para outra instituição,
que, no caso, é a Promotoria”,
completa.
A psicóloga Gleice Taciana
Barbosa, que há cerca de 10
anos atende internos da Unei
Dom Bosco, em Campo Grande,
avalia, ainda, que é preciso restabelecer a ordem dos valores,
sobretudo dentro da família. A
psicóloga explica que os alunos
que apresentam comportamento agressivo ou violento dentro
da escola, geralmente, estão
repetindo padrões: “Por exemplo, a diretora chama a mãe por
“O respeito dentro
da sala de aula só
vai ser concretizado
quando essa autoridade do professor
voltar a valer”
Promotor Sérgio Harfouche
conta de um infração cometida
pelo aluno, e ela chega e espanca o filho na frente da diretora
ou da professora, e o humilha.
Isso faz parte da vivência dele
e, por isso, ele vai agir da mesma forma. Se ele apanha, ele
vai bater. A agressividade é um
aspecto do ser humano, todos
têm, e isso deve ser trabalhado”.
Gleice também aponta a
falta de limites como uma das
marcas dessa geração que desconhece a autoridade e vive
sob um regime de inversão de
valores. “Vivemos numa sociedade de consumo, onde o importante é ter. Ora, se os pais
estão ocupados trabalhando e
ficam ausentes a maior parte
do tempo, acabam dando tudo
para os filhos, como uma forma de compensar essa ausência. E, então, a criança aprende
que ela tem que ter tudo que
ela quer, não importa como. Ao
mesmo tempo, e também por
esse distanciamento imposto
pelo ritmo de vida, os pais acabam transferindo para a escola uma responsabilidade que
é deles, pais. A escola não é a
responsável pela educação da
criança, mas sim, pelo ensino,
pela instrução formal”.
O promotor Harfouche, também, compartilha dessa avaliação. “Os pais estão transferindo
a responsabilidade para o professor, e não é por aí. Pela lei,
os pais têm total responsabilidade pela formação do filho e
podem, inclusive, ser punidos
por abandono intelectual”, comenta.
De modo geral, a falta de limites, a desestruturação familiar, o contexto de violência e
agressividade, a falta de orientação e a ausência dos pais são
fatores que compõem o cenário
cotidiano da maioria dos alunos
que acabam se envolvendo nos
episódios de violência dentro
da escola, sobretudo nas escolas públicas. “São crianças
e adolescentes que não têm a
menor consciência ou o menor
discernimento do que é certo
ou errado, porque não aprenderam isso. Eles, simplesmente, fazem o que querem, o que
têm vontade, e não sabem que
é errado o que estão fazendo”,
relata a psicóloga Gleice.
E esse “fazer o que quer”
engloba situações das mais diversas, que vão desde a provocação verbal a colegas e professores, até aos extremos da
agressão física.
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
27
“Eles, simplesmente, fazem
o que querem,
o que têm vontade, e não sabem que é
errado o que
estão fazendo”
Psicóloga Gleice Barbosa
Violência extrema
Em junho de 2012, o diretor
da Escola Municipal Luiz Cláudio Josué, uma extensão da Escola Estadual Luiz Carlos Sampaio, no distrito de Nova Casa
Verde, em Nova Andradina, foi
morto a tiros na hora da saída da escola, por um aluno de
16 anos, que sequer sabia seu
nome. Delmiro Salvione Bonin
tinha 55 anos e fazia quatro
meses que havia assumido a direção.
O aluno, por sua vez, coleciona um histórico de problemas e violência, tanto na vida
escolar quanto na familiar.
Segundo noticiário da época,
o pai, acusado de homicídio,
era foragido da Justiça; a irmã
mais velha cumpria pena pelo
assassinato de uma mulher; e,
em março de 2012, ele próprio
chegou a ser expulso da escola, por ter ferido a facadas um
colega de 15 anos. Em sua ficha
de ocorrências constam brigas
dentro e fora da escola, desde
o ano de 2010.
A expulsão do adolescente teria sido revertida por uma
medida cautelar da Promotoria.
28 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
De volta à escola, ficou definido
que ele trocaria de turno, passando a frequentar as aulas no
período da tarde. Mas o rapaz,
segundo ele próprio contou à
polícia, estava contrariado porque o diretor o obrigava a entrar
na aula em horário diferente, 20
minutos depois do restante da
turma, que entrava às 11h40. Ele
contou ainda ao delegado que
estava muito zangado pelo fato
de o diretor “pegar no pé” dele,
“encher o saco” constantemente, e ter dito que ele “não tinhamais jeito”.
A arma utilizada no crime foi
comprada duas semanas antes,
por R$ 500. Depois de atirar
no diretor, o adolescente passou quatro dias escondido no
mato, para fugir do flagrante.
Contou à polícia que escolheu
antecipadamente o local do esconderijo e já havia deixado lá
uma garrafa pet com água para
beber. Disse que à noite dormia
em cima de uma árvore e que,
na fuga, perdeu a arma. Da delegacia de Nova Andradina, foi
transferido para a Unei de Dourados, onde permanece internado.
Para o presidente do Simted
de Nova Andradina, professor
Edson Granato, esse episódio
trágico foi o extremo de uma situação que denuncia a falta de
articulação entre as instituições.
“Quando a escola contatava o
conselho tutelar, a Promotoria
ou a própria família, não obtinha retorno. Ficou evidente que
é preciso trabalhar em parceria
para enfrentar esse tipo de situação. Houve diversas reuniões,
fizemos um planejamento para
um trabalho em conjunto, envolvendo escola, família e autoridades. Então, vamos ver este
ano se conseguimos bons resultados”, diz o diretor.
Experiências negativas que
geram situações positivas
Campo Grande, também,
registrou no ano passado um
caso emblemático, pela extrema violência, numa escola estadual. No dia 13 de abril de 2012,
um professor de Física, de 29
anos, foi esfaqueado e o diretor
da escola foi ameaçado com a
faca encostada no pescoço por
um adolescente de 17 anos, aluno do 1º ao do ensino Médio, no
período noturno. Foi na Escola
Estadual José Barbosa Rodrigues, no bairro Universitária II,
região Sul de Campo Grande.
Segundo o noticiário, o jovem conversava com uma adolescente fora da sala de aula,
quando o professor pediu para
que a aluna entrasse. Teria começado aí uma discussão, e foi
quando o rapaz tirou uma faca
da mochila. O professor foi ferido com duas facadas, uma
nas costas e outra no braço, foi
levado para o hospital e levou
sete pontos no total.
Ao fugir, o garoto se deparou com o diretor da escola no
portão, e o teria ameaçado então. Dali, o garoto correu para
casa, onde foi apreendido pela
Polícia Militar.
O adolescente não tinha histórico de indisciplina na escola,
nem registro de infrações na
polícia. Os pais, também, mostraram-se surpresos com a atitude do rapaz, que foi levado
para a Delegacia Especializada
de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij), para responder
por ato infracional análogo à lesão corporal dolosa e ameaça.
Na delegacia, disse que estava
de “cabeça quente”.
O professor ferido ficou
afastado do trabalho por uma
semana. Ao final da licença,
desligou-se da escola por pressão familiar. “Foi uma pena,
porque ele era muito querido
pelos alunos”, comenta o diretor da escola, Edvaldo Lourenço da Silva.
O diretor afirma que, na escola, não há histórico de violência entre alunos, ou entre alunos e professores, e que esse
foi um episódio isolado, extremo, que acabou modificando a
rotina e aproximando mais as
famílias da escola. “O clima ficou bastante tenso, todos ficamos assustados. Eu, por exemplo, passei vários meses vindo
trabalhar nos três turnos, porque nossa presença na escola
dá uma sensação de mais segurança aos alunos e aos pais. Os
pais também se aproximaram
mais, passaram a trazer e buscar os filhos. Então, de um fato
negativo, acabaram surgindo
várias situações positivas. E,
no geral, a comunidade, aqui, é
bastante parceira”, avalia.
“Os jovens de hoje estão per-
“Cabe à família
acompanhar e
ensinar valores
positivos(...) É
preciso trabalhar o resgate
dos valores familiares e socioculturais”
Professor Edvaldo Lourenço, diretor da Escola Estadual José Barbosa
Rodrigues
dendo os valores, que têm que
ser passados pela família. Cabe
à família acompanhar e ensinar valores positivos, mostrar o
que é negativo e que as coisas
negativas têm consequências.
É preciso trabalhar o resgate
dos valores familiares e socioculturais”, conclui o diretor.
“Ficou evidente que é preciso trabalhar em
parceria para
enfrentar esse
tipo de situação
(…) Vamos ver
se este ano conseguimos bons
resultados”
Professor Edson Granato, presidente do SIMTED de Nova Andradina
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
29
Especial mulher
30 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
31
Discutir “o papel da mulher”, ou “o comportamento
feminino” na atualidade, é
abrir um campo de infinitas
possibilidades e particularidades
“A
o separar o coito da
concepção, a pílula deflagrou um dos mais
monumentais movimentos dos
tempos recentes, o gradual divórcio entre sexo e reprodução”.
A frase foi dita pelo químico Carl
Djerassi, austríaco radicado nos
Estados Unidos, que, em 1951, integrava o grupo de responsáveis
pela primeira síntese de um contraceptivo oral.
A criação da pílula anticoncepcional marcou a conquista da
mulher ao pleno direito sobre o
próprio corpo, a possibilidade da
escolha de procriar ou não. Prazer e concepção passaram a ser
situações distintas.
O marco da liberdade sexual
e reprodutiva é, assim, inquestionavelmente, o mais visível entre
as conquistas femininas, depois
de aproximadamente cinco mil
anos de patriarcado. No entanto, na esteira dessa verdadeira
revolução, vêm outras várias discussões que envolvem questões
relativas ao gênero num contexto ainda mais amplo, que é o das
múltiplas e rápidas transformações da sociedade contemporânea.
Assim, discutir “o papel da
mulher”, ou “o comportamento
feminino” na atualidade, é abrir
um campo de infinitas possibilidades e particularidades. “Penso que existem duas vertentes
em relação ao comportamento.
Temos uma questão biológica
e a questão ambiental/cultural.
Na questão biológica, homens
e mulheres são completamente diferentes, com organismos
diferentes. Os homens sofrem
a influência da testosterona, e
as mulheres do estrogênio. Os
hormônios influenciam no comportamento. Sendo assim, existe uma grande diferença entre
comportamento masculino e
feminino. Além disso, temos a
questão cultural/ambiental. A
sociedade trata, desde o nascimento, homens e mulheres de
maneira diferente. Contudo, a
sociedade vem mudando”, pondera a psiquiatra Danusa Cespedes Guizzo Ayache.
As mulheres de hoje desfrutam conquistas que resultaram
de duras lutas históricas pela
igualdade de direitos, mas ainda
reservam-se ao direito de querer
fazer do casamento e da família
uma prioridade em suas vidas.
Ao mesmo tempo em que se
desdobram. E, muitas vezes, até
“reeducam” o companheiro para
que possam dividir obrigações
e responsabilidades domésticas,
ainda abrem mão de muita coisa,
em nome da profissão, num mercado de trabalho cada vez mais
disputado.
“A sociedade mudou, e os
valores também mudaram. Porém, vejo ainda um desejo das
mulheres em ter um companheiro. É evidente que, para manter
um casamento, elas não aceitam
mais o que aceitavam no passado. Hoje, não precisam mais se
submeter a uma relação infeliz.
São poucas as que aceitam tais
circunstâncias. Na minha vivência profissional, tenho visto mulheres emocionalmente dependentes. Penso que existe uma
independência emocional maior
do que existia no século passado. Entretanto, muitas mulheres
são ainda emocionalmente dependentes de um companheiro.
Essa dependência não é exclusividade feminina, ela é do ser
humano. Contudo, o desejo de
casar e de constituir família continua sendo mais evidente entre
as mulheres”, revela Danusa.
Já para a psicóloga social
Jacy Corrêa Curado (veja entrevista), a dependência emocional
é, na realidade, uma espécie de
sequela dos séculos de domina-
“para mim, o papel
social da mulher é a
causa, a luta”
ana Cláudia salomão Silva, jornalista
ção machista e patriarcal. “Esse é
um dos setores mais complexos,
porque, há milênios, as mulheres
se encontram em uma posição de
subordinação que deixou profundas marcas emocionais. Rose Marie Muraro, Heleieth Saffioti, entre
tantas outras feministas, apontaram que o patriarcado e o mito
do amor romântico foram devastadores para vivência emocional
das mulheres (…) No Brasil, os séculos de escravidão colaboraram
para estreitar a relação de ‘posse’
à relação afetiva. (…) Eu ainda sonho com uma sociedade em que
o gênero não deva importar e ser
motivo para desigualdade, exploração, mutilação e qualquer outro
tipo de violência ainda tão comuns
em nossa sociedade.” A análise de
Jacy pode servir, também, como
indicativo de que, mesmo com todas as transformações, ainda há
muito a superar.
Tudo ao mesmo tempo agora
“A sociedade trata,
desde o nascimento,
homens e mulheres de
maneira diferente”
Danusa Cespedes Guizzo Ayache, psiquiatra
32 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
Para definir a “mulher moderna”, então, é necessário fazer um
“mix” de tendências, estilos, comportamentos, sentimentos e aspirações. No geral, se fosse possível
traçar uma linha reta, ideal e imaginária, na história da humanidade, teríamos um período de total
dominação machista, seguido
pela reação revolucionária do feminismo e agora uma tendência a
compatibilizar tudo numa espécie
de síntese, ainda em curso.
E mesmo com toda a superação, com toda a cobrança e – ainda hoje – com toda a culpa que
acompanham as mulheres nas
transformações da sociedade, a
grande diferença é que as mulheres agora podem, sim, escolher. E
não têm medo ou vergonha de assumir e defender suas escolhas ou
sua condição.
Aos 48 anos, a jornalista Ana
Cláudia Salomão Silva pode ser
considerada uma espécie de
anti-heroína se quisermos buscar exemplos para um perfil da
mulher contemporânea. Solteira – não exatamente por opção,
mas por força das circunstâncias
– avessa aos padrões de “felicidade obrigatória” que a sociedade vem impondo com rigor cada
vez maior, ela conta que viveu
um grande amor, que pensou em
ser mãe, diz que se realiza com as
relações familiares, mas acredita
que o engajamento e a participação política são fundamentais
para sua satisfação pessoal e profissional.
Aos 22 anos, Ana Cláudia já era
militante do PCdoB e participava de vários movimentos sociais.
Trabalhava num banco e fazia faculdade de Letras. Foi presa por
ocasião de uma mobilização envolvendo questões sindicais, e foi
nesse contexto que encontrou o
amor e viveu um grande romance,
que durou quatro anos. O moço
era advogado de um sindicato
e a tirou da prisão. “Ele era dois
anos mais velho que eu, e foi um
relacionamento muito bacana.
Pensei até em ‘juntar os trapos’
com ele (não casar de véu e grinalda como minha mãe sonhava).
Nossos ideais eram semelhantes
e tínhamos as mesmas vontades
de vida”, lembra.
Mas um acidente de trânsito
mudou o curso dessa história e a
morte do namorado deixou marcas profundas. Superada a dor,
Ana Cláudia se declara avessa a
“padrões de relacionamento de
conto de fadas” e contra todos os
padrões de felicidade socialmente
impostos. Numa família com mais
três irmãs, sobrinhos e sobrinhos-netos, ela se diz realizada com relação aos laços familiares e conta
que superou até a cobrança para
que ela própria tivesse filhos.
“Aos 35 anos me questionei se
teria ou não uma produção independente. Optei por não ter. E já
que os caminhos da vida me levaram a não ter um casamento
e não ser mãe, eu me acomodei.
Hoje não consigo imaginar como
seria viver com outra pessoa dentro da privacidade da minha casa.
Sou bastante racional. Não acho
que maternidade e casamento sejam prioridades da forma como
as pessoas veem. Para mim, o
papel social da mulher é a causa,
a luta”, afirma.
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
33
Não basta ser mulher
para transformar!
Jacy Corrêa Curado, doutora em
Psicologia Social PUC/SP; Master of Arts in Gender and Development (ISS/ Holand); Mestre
em Psicologia (UCDB); Especialista em Metodologia de Pesquisa em Gênero (UERJ/ FIOCRUZ)
e professora Adjunta da UFGD. Especialista em Metodologia
de Pesquisa em Gênero, a psicóloga social Jacy Corrêa Curado
fala sobre as conquistas e os desafios das mulheres na sociedade atual
Como a sociedade encara a
posição que a mulher contemporânea vem representando, de
múltiplas funções?
Existem vários modos de
compreender as “múltiplas funções” da mulher, mas considero importante reconhecer que
elas não fazem parte de uma
essência ou um comportamento
estável e permanente, mas são
construídos em dadas circunstâncias, em que as mulheres são
cobradas a cuidar dos filhos, da
casa e do emprego, e, ainda,
participar da política, frequentar academia de ginástica etc..
Me parece um fenômeno bastante característico das mulheres ocidentais modernas do período pós-revolução feminista.
Contudo, assistimos, hoje, a um
uso nem sempre positivo desse
comportamento, o que tem servido para uma superexploração
das mulheres, pois, já que somos multifuncionais, então vão
se acumulando novas funções,
sem haver, no entanto, uma redistribuição mais equitativa.
A mulher atual é mais feliz?
Como ela vê a felicidade nos
dias de hoje?
É difícil medir um estado
subjetivo como a felicidade. No
entanto, se colocarmos alguns
critérios, como liberdade e autonomia, podemos dizer que sim.
Atualmente, posso ler muitos livros que, na época da ditadura,
eram proibidos. Não sei se isso
me faz mais feliz, mas com certeza, prefiro ter a liberdade de
34 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
lê-los. Assim funciona para as
mulheres. Se propusermos um
retorno à condição de apêndice,
ou a “outra” do ser integral “homem”, o qual era o único portador de projetos pessoais, como
dizia Simone de Beauvoir, acredito que ninguém vá querer. Porém, se, hoje, com os nossos inúmeros projetos e nossas funções,
estamos mais felizes, isso não saberia dizer. Só posso afirmar que
não queremos um “backlash”
(retornar às fases anteriores) e,
sim, ampliar as liberdades e autonomia para todas as mulheres!
Como tem sido, a seu ver, o
posicionamento dos homens
em relação às mulheres?
Acredito que vivemos em relação, e se uma das partes muda
de posição, a “outra” muda
também. Os homens, não todos, estão questionando os padrões rígidos de masculinidade,
e também estão se libertando
das amarras do machismo e do
sexismo. Mas há, ainda, aqueles
que preferem usufruir dos benefícios da condição subordinada
da mulher, principalmente em
relação ao trabalho doméstico e
nos empregos dos setores mais
conservadores. Acredito que devemos trabalhar as relações de
gênero em uma perspectiva da
transformação, porque não me
agrada essa escalada da mulher
ao poder pelo poder. Para mim, é
trocar seis por meia dúzia. Existem inúmeros exemplos que demonstram que não basta ser mulher para transformar!
A dependência emocional é
uma característica de todo ser
humano? Como ela é dividida
entre masculino e feminino?
Esse é um dos setores mais
complexos, porque há milênios
as mulheres se encontram em
uma posição de subordinação
que deixou profundas marcas
emocionais. Rose Marie Muraro,
Heleieth Saffioti, entre tantas outras feministas, apontaram que
o patriarcado e o mito do amor
romântico foram devastadores
para vivência emocional das mulheres. O sofrimento, a posse e
a culpa são componentes constitutivos do sentimento de amor
na sociedade judaico-cristã, e
para podermos nos livrar desses sentimentos necessitamos
“Para o homem,
amar significa dominar; e
para a mulher,
entregar-se é se
deixar dominar.
Essa relação
é difícil de ser
desfeita”
de um esforço de desconstrução muito grande. No Brasil, os
séculos de escravidão colaboraram para estreitar a relação de
“posse” à relação afetiva. Para o
homem, amar significa dominar;
e, para mulher, entregar-se é se
deixar dominar. Essa relação é
difícil de ser desfeita, e aí está
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
35
artigo
a raiz dos milhares de casos de
violência doméstica, por a mulher desobedecer essa posição.
Quando esse homem é punido
pela lei, a mulher se sente culpada, por não ter cumprido o papel
que lhe foi milenarmente concebido. São dependências mútuas,
das relações de dominação-subordinação, que ainda resistem
às mudanças. O Brasil possui a
melhor lei (Lei Maria da Penha)
do mundo para combater a violência doméstica, o que vem trazendo alterações positivas para
as relações emocionais entre homens e mulheres.
Qual a prioridade para a mulher moderna? Isso é relativo ou
faz parte de um conjunto?
As pesquisas indicam que as
mulheres estão priorizando o
projeto de vida profissional, o
que é uma mudança enorme em
se tratando de prioridade feminina, que até há poucas décadas,
era exclusivamente composta de
casamento e maternidade, quase
como um destino. As tendências
apontadas pelos estudos de gênero indicam um compartilhamento, a corresponsabilidade
das atividades domésticas, do
cuidado dos filhos, com o marido, a família, o Estado e as empresas. Não dá para pensar em
projeto emancipatório com essa
sobrecarga absurda de trabalho
das mulheres. O empoderamento político e econômico, também, são considerados prioritários, já que aí residem as maiores
iniquidades. Precisamos ampliar
as conquistas feministas, pois
ainda existem milhares de mulheres sem acesso à educação e
que vivem sob a tutela do Estado e/ou do marido, e sonham em
ser “uma” e não o complemento
inferior do “outro”. Eu ainda sonho com uma sociedade em que
o gênero não deva importar e ser
motivo para desigualdade, exploração, mutilação e qualquer
outro tipo de violência ainda tão
comuns em nossa sociedade.
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“Eu ainda sonho com uma sociedade em que o gênero não
deva importar e ser motivo
para desigualdade, exploração, mutilação e qualquer outro tipo de violência ainda tão
comuns em nossa sociedade”
Sindicatos de Educação da América Latina
Em busca da igualdade em todos os espaços
de poder e decisão
Ao longo da história, o movimento de mulheres organizadas no mundo tem obtido
avanços significativos em vários setores: participação no
mercado de trabalho, acesso à
educação e às universidades,
conquista de direitos sociais e
civis.
No entanto, nos espaços
institucionalizados da política
e do poder, as mulheres ainda
são subrepresentadas, apesar
de serem a metade da população mundial. Essa desvantagem também está presente no
movimento sindical. Isso não é
um problema apenas das mulheres, mas é um tema político,
exigindo que as organizações
repensem seus modelos de
participação e representação,
criando novas metodologias de
superação de práticas sexistas
e excludentes.
De acordo com levantamento da Internacional da
Educação (IE), no movimento
sindical da Educação na América Latina, cerca de 70% dos
membros das organizações são
mulheres. Porém, nas direções
sindicais, representam apenas
30%. Repensar as nossas organizações requer reconhecer
que o espaço de direção sindical continua sendo majoritariamente masculino e exige de
todos nós uma vontade política de modificar essa realidade.
A ausência das mulheres nos
espaços de poder e de decisão
significa um déficit na democracia e uma dívida que a sociedade ainda tem para com
todas nós. A nossa representação política e sindical é fundamental para se avançar na
construção de uma sociedade
mais democrática e com mais
igualdade. É fundamental que,
em todos os espaços políticos
e representativos, as mulheres
tenham uma inserção condizente com a sua presença no
conjunto da população, considerando sempre a diversidade
étnica, ou seja, a representatividade negra e indígena.
A luta das mulheres pela cidadania é histórica e foi, literalmente, de perder a cabeça.
Em 1793, em plena Revolução
Francesa, quando se transpiravam lemas de liberdade, igualdade e fraternidade, Olympe
de Gouges acabou decapitada
por defender os direitos das
mulheres e propor a “Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã”, em que afirmava que
as mulheres tinham os mesmos
direitos dos homens – eram,
portanto, iguais – e, também,
tinham necessidades específicas por serem mulheres, ou
seja, diferentes. É de Olympe
a célebre frase “se a mulher
pode subir ao cadafalso, pode
também subir à tribuna”.
Para compreender a nossa
sub-representação nos espaços de poder, devemos utilizar
o conceito de gênero, uma categoria que surgiu nas ciências
sociais, para dar conta dos símbolos, valores, das representações e práticas que cada cultura tem na relação entre um e
outro sexo. Essa reformulação
conceitual veio para mostrar
que as desigualdades entre homens e mulheres foram construídas histórica, social e politicamente. Portanto, acontecem
no campo político, cultural e relacional. Não foram dadas pela
natureza. O conceito de gênero
surgiu com o intuito de romper
com o conceito de “sexo”, que
Fátima Silva
Secretária de Relações Internacionais da CNTE e
Vice-Presidenta do Comitê Regional da
Internacional da Educação
analisa a relação entre homens
e mulheres a partir da biologia,
dos corpos sexuados. Portanto, gênero não é sinônimo de
mulher. Refere-se aos distintos
significados, social e político,
que existem numa sociedade,
ao se tratar do ser mulher e do
ser homem.
É necessário lembrar que as
desigualdades do presente têm
as suas raízes na divisão sexual
e social do trabalho, instituída
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
37
com o surgimento da sociedade patriarcal, quando o trabalho masculino passou a ser
supervalorizado, e o trabalho
feminino desvalorizado. Os espaços públicos e de poder foram dominados pelos homens.
E, deles, as mulheres foram excluídas.
A supremacia do poder
masculino estendeu-se pelos
mais diferentes períodos históricos e, ainda hoje, tem força
na sociedade contemporânea.
Porém, com outros contornos
e outras contradições.
E, até hoje, as barreiras culturais têm um peso muito importante na exclusão das mulheres dos espaços políticos.
Os padrões machistas a respeito da vida privada, o cuidado com os filhos e as tarefas
domésticas fazem com que as
mulheres tenham uma dupla
jornada de trabalho, dificultando a sua participação social.
Por isto, muitas mulheres que
participam em cargos de direção são solteiras, viúvas ou
divorciadas. E, quando têm filhos, são grandes, já criados.
Portanto, todos esses fatores
devem ser considerados na
construção de novas práticas e
cultura sindical. As demandas
da vida privada das mulheres
precisam ser consideradas na
agenda dos sindicatos.
A Internacional da Educação
tem reiterado que, sendo o Magistério um setor majoritariamente composto por mulheres,
é imprescindível a construção
de políticas eficazes de participação, formação política e empoderamento das mulheres.
Um passo importante foi a
elaboração e publicação de um
estudo que revela os obstácu-
ACOMPANHE
A FETEMS NAS
MÍDIAS SOCIAIS
los e as práticas que dificultam
a participação das mulheres na
vida sindical e apresenta uma
série de recomendações para o
fortalecimento da democracia
sindical e construção de uma
nova cultura.
Nesse aspecto, a política de
cotas tem se constituído num
importante caminho. As cotas alteram a composição dos
espaços de tomada de decisão, trazem diferentes pontos
de vista e favorecem um novo
aprendizado. No entanto, não
são uma solução mágica ou
automática. Mas, sua aplicação
rompe com a visão de que o
poder é somente masculino. A
aplicação das cotas não é um
fim em si mesmo, mas inaugura diferentes perspectivas. É
uma construção política que
tem como base novas configurações para a igualdade de
condições entre homens e mulheres.
Paridade nos sindicatos
Participar de direções sindicais é um direito político das
mulheres. A ausência de trabalhadoras nesses espaços tem
reflexos na organização sindical, nas pautas de negociações
que atingem diretamente a
vida das trabalhadoras.
É um desafio para o movimento sindical incorporar uma
nova concepção de trabalho
e de organização sindical, que
considere o trabalho reprodutivo realizado pelas mulheres
no âmbito familiar e doméstico, na definição da política sindical e que, portanto, leve em
consideração as desigualdades
de gênero e a divisão sexual do
trabalho.
facebook/fetems
38 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
twitter/fetems
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é, atualmente,
uma importante referência na
construção da igualdade no
movimento sindical. O seu 11º
congresso aprovou a paridade
de gênero na direção. Para o
movimento nacional dos trabalhadores em Educação da
CNTE, está colocado o desafio
de realizar esse debate e aprimorar os espaços de participação das educadoras nos cargos
de direção.
Para a Rede de Trabalhadoras da Educação da América
Latina da IE, as organizações
da categoria de educadores de
cada país precisam, além da
política de cota, investir na seguinte agenda:
• trabalhar mais a formação político-sindical das trabalhadoras;
• incorporar novas temáticas na formação, tais como:
conceito de gênero, vida pública e privada, direito e legislação, economia, análise conjuntural, entre outros;
• garantir
financiamento para o desenvolvimento de
uma política de gênero;
• incorporar cláusulas de
gênero nas negociações coletivas;
• realizar formação específica para os homens em temática de gênero, que permita
desenvolver uma nova masculinidade.
É assim que vamos rompendo os muros visíveis e invisíveis
da exclusão e da discriminação,
e engendrando a tão sonhada
igualdade entre homens e mulheres, em todos os espaços da
vida humana.
youtube/fetems
Revista ATUAÇÃO | Março 2013 |
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40 | Revista ATUAÇÃO | Março 2013
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