ISSN 2182-0090 PR Dia Europeu dos Direitos dos Doentes ÉTICA EQUIDADE DIGNIDADE SOLIDARIEDADE RARAS | 1 Raríssimas | Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras | PÁGINAS Março 2011 Directora: Paula Brito e Costa | Edição 2 | Bimestral | Gratuita www.rarissimas.pt 2| PÁGINAS RARAS PR editorial Q uando olhamos a carta dos Março Direitos Europeus dos Doentes ficamos, no mínimo, felizes! Mas 4 6 8 Mundo Raro também... perplexos! Seria tão bom que esta mensagem tivesse aplicação Dia Mundial da Saúde Entrevista prática... Sentimos sempre que cartas como esta se fazem para “português” Jesús Devesa - Um Milagre de médico 10 Actual Medinterna aborda novas terapêuticas 12 ver, sem qualquer aplicação prática, ou implementação eficaz, caso decidamos pagar para tal. Por Direitos entende-se tudo o que é justo, íntegro, leal, sincero, imparcial... É assim que exigimos que os nossos filhos sejam tratados pelo Sistema! É por estes Direitos que a Raríssimas luta, e lutará, sempre! Para que um dia digamos: “Portugal respeita, integralmente, os direitos dos nossos filhos”! Viagens Lapónia, a Terra dos Sonhos 14 Capa Dia Europeu dos Direitos dos Doentes 21 SOS Ajudas Técnicas 22 Singularidades A doença de Batten 24 26 Flash Perfil Pedro Pita Barros Economista 30 Agenda Na próxima edição Ficha Técnica: Directora: Paula Brito e Costa | Redacção e Edição: Paula Simões | Design Gráfico | Paginação: Mariana Trigo | Propriedade: Raríssimas - Ass. Nacional de Deficiências Mentais e Raras | Morada: Rua das Açucenas, Lote 1, Loja Dta, 1300-003 Lisboa Número de Pessoa Colectiva: 506 027 244 | Impressão: Textype Artes Gráficas Lda | Tiragem: 3 000 exemplares | Distribuição: gratuita | Depósito legal: 320 723/10 | ISSN 2182-0090 © Publicação bimestral | Todos os direitos reservados. 06 08 14 26 A resistência antimicrobiana e o risco de epidemias mundiais fazem parte da agenda da OMS para o ano de 2011 Jesús Devesa fisiologista devolve a vida a centenas de doentes. Assinalado a 18 de Abril o Dia Europeu dos Direitos dos Doentes é uma chamada de atenção para as necessidades das negligênciadas. Especialista em economia da saúde Pedro Pita Barros aponta erros ao funcionamento do SNS. PÁGINAS RARAS | 3 Um Natal Raro Nanismo na Área de Projecto N o passado mês de Dezembro, O s alunos da Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, interessados pela temática Doen- a família Raríssi- ças Raras, solicitaram a ajuda da Associação para ma da região Nor- realizarem te organizou uma os seus tra- pequena festa de balhos in- Natal, que contou com a presença de cerca de 70 tegrados na pessoas, entre colaboradores, utentes, famílias e disciplina amigos que desde sempre abraçaram esta causa. de Área de Esta iniciativa só foi possível graças à colabora- Projecto. ção da Junta de Freguesia de Milheirós que, gen- Raquel Castro, responsável da helpline da Rarís- tilmente, nos cedeu o espaço para acolher estes simas - Linha Rara, Salomé de Almeida, bióloga e amigos, bem como de alguns voluntários que pro- Céu Seabra, psicóloga e portadora de nanismo, re- porcionaram momentos inesquecíveis aos nossos alizaram uma palestra sobre a temática, com vista tesouros raros… ao esclarecimento de dúvidas e prestação de infor- A todos, a Raríssimas agradece a solidariedade! mação sobre doenças raras. Cerca de uma centena de alunos participou activamente desta sessão de esclarecimento, incluída no plano de actividades da Raríssimas para o ano de 2011. Paixão, Amor e Romance A convite dos jornalistas guindo o mote dado por António Murteira da uma história romântica. Silva e Rui Costa a Raríssi- Parte dos lucros da mas associou-se ao projecto venda deste livro re- PAR. Trata-se de um livro verterão a favor da onde, 80 figuras da nossa so- Raríssimas. Os nossos ciedade sugerem músicas ro- agradecimentos a to- mânticas, receitas para jantares especiais a dois dos os que tornaram possível a realização deste e escapadinhas únicas em Portugal, todas elas se- livro romântico e solidário! 4| PÁGINAS RARAS Mundo Raro Coimbra debate doenças raras Tertúlia Singular A convite da Escola Secundária Quinta das Flores, em Coimbra, a associação Raríssi- mas, através da representante da sua helpline-Linha Rara, e de Jorge Nunes, membro da direcção da instituição, realizou uma sessão de esclarecimento sobre doenças raras. Cerca de uma centena de alunos do 12º ano tiveram a oportunidade de fidepartamento de investigação científica da O car a conhecer o trabalho desenvolvido pela Asso- Associação Nacional de Estudantes de Me- ciação, bem como os seus principais projectos. A dicina (ANEM) realizou uma noite dedicada às doença rara Espondilite Anquilosante foi retratada doenças raras. Com um ambiente informal, esta na primeira pessoa, esclarecendo todas as dúvidas reunião contou com a presença de meia centena de dos presentes sobre a convivência com este tipo alunos das associações de estudantes da Faculda- de patologia. de de Ciências Médicas de Lisboa (AEFCML) e da Faculdade de Medicina de Lisboa (AEFML). Luís Nunes, geneticista, António Vaz Carneiro, do CEMBE e Paula Brito e Costa, da Raríssimas alertaram os alunos para determinados temas, por vezes descurados no currículo médico, como é o caso das patologias raras. Raríssimas em Congresso A autoimunidade e as doenças raras foram o mote para uma palestra da autoria da gene- ticista Margarida Reis Lima, membro do Conselho Científico da Raríssimas, no Congresso Medinterna, realizado no passado mês de Janeiro, no Porto. A Associação marcou ainda presença através de um stand onde os profissionais de saúde tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho da instituição. Foram ainda entregues aos congressistas exemplares da revista Páginas Raras. PÁGINAS RARAS | 5 6| PÁGINAS RARAS DIA MUNDIAL DA SAÚDE gal está a um nível relativamente elevado aliás, apresenta-se mesmo como um dos maiores da Europa, mas também cabe referir que está A resistência antimicrobiana e a sua disseminação pelo mundo são o lema para as comemorações deste ano. a diminuir de incidência com uma consistência que ronda os seis a sete novos doentes, por cem mil habitantes por ano” revela Fonseca Antunes, Coordenador do Pro- A antimicro- ano uma campanha de conscien- grama Nacional de Luta Contra a biana ameaça a eficácia cialização pública, a nível mun- Tuberculose em Portugal. Já que de muitos medicamen- dial, com um enfoque especial no no se refere ao VIH/SIDA, Portu- tos, utilizados hoje para tratar os VIH/SIDA, tuberculose e malária. gal é o país da Europa Ocidental doentes e compromete todo o tra- Em Portugal, dados recentes so- e Central com o maior número de balho que tem vindo a ser desen- bre a tuberculose revelam que esta novos casos de infecção. volvido pelos técnicos de saúde, patologia, apesar de tratável, tem Para prevenir e combater o surgi- nomeadamente junto das popula- vindo a desenvolver multiresistên- mento de superbactérias, altamen- ções dos chamados países subde- cias, não só devido ao abandono te resistentes, a OMS vai reunir senvolvidos, no que se refere ao da terapêutica por parte dos do- com os governos e as partes inte- controlo de epidemias. Consciente entes, mas também em função do ressadas, com vista à implemen- deste flagelo, a Organização Mun- elevado número de toxicodepen- tação de políticas e práticas que dial da Saúde (OMS) lança este dentes. “A tuberculose em Portu- controlem estas situações. resistência Fonte: INE Taxa de mortalidade, standard por 100 000 habitantes < 65 anos, para causas de morte seleccionadas por região, 2008 SIDA Suicídio Álcool (relacionadas) Cancro do Colon e recto Doenças Cardiovasculares AVC Acidentes de viação Cancro da mama Cancro do útero PÁGINAS RARAS | 7 Jesús Devesa médico, pai e sinónimo de esperança Aos 65 anos, este médico, fazendo jús ao nome, é para os seus doentes um simbolismo dos milagres. Jesús Devesa amável mas determinantemente recusa a honra e diz que o mérito é da ciência. A verdade é que há quem volte a andar e filhos que voltam a comunicar com os pais. A 19 de Março de 1946 nasceu, em Vigo, Jesús Devesa Múgica. Quis o destino que Jesús, esse que nasceu no dia de José, fizesse o caminho até Santiago... de Compostela. Simbolismos biblícos à parte, Jesús converte-se à ciência e passa a honrar Hipócrates. Em 1970 concluiu o curso de Medicina e três anos volvidos é doutorado Cum Laude. Hoje, é catedrático de Fisiologia Humana, pela Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela – onde ainda dá aulas – tem a especialidade de Endocrinologia e Nutrição e, desde 1974, é o responsável pelo laboratório de bioquímica experimental do Hospital Universitário daquela cidade onde investiga, entre outros, as várias possibilidades de aplicação da hormona de crescimento. “É um tema que me fascina pois é uma das substâncias mais interessantes que temos no nosso corpo, sabemos da sua existência há décadas mas que ainda estamos aquém do seu potencial de utilização”, afirma. No ano 2000, o filho mais novo de Jesús – Pablo, então TxT: R.F 8| PÁGINAS RARAS com 22 anos, sofre um acidente de viação. Diagnóstico: Entrevista coma com traumatismo cranioencefálico e paralesia das funções de um dos lados do corpo e, por várias ocasiões, em perigo de vida. Vendo o filho naquela situação, Jesús não hesita e aplica no filho os conhecimentos de 30 anos. Como resultado de injecções quinzenais da hormona de crescimento e fisioterapia intensiva, ao fim de oito meses Pablo recupera totalmente. Concluiu em 2010 o mestrado em Engenharia Genética e Biologia Molecular, usando o seu próprio caso como tese. O homem da ciência, pai antes de tudo, sentiu-se grato e, em terra de peregrinos, enveredou numa viagem de retribuição. primero nome, entretêm-se com Hoje são mais de 700 os doen- Em 2005 abriu a clínica Foltra – as suas venturas e desventuras e tes, oriundos dos quatro cantos palavra sem nexo, a primeira que organizam, de forma dinâmica e do mundo, a serem tratados e/ o filho pronunciou quando saíu do autónoma, as filas de espera. Jesús ou aconselhados por Jesús Deve- coma. Hoje, o médico com nome Devesa sai do gabinete e limita-se sa. Quando indagado sobre o que biblíco é, para os seus doentes, a perguntar quem está a seguir. sente quando vê os seus pacientes, uma figura paternal, tratado por es- Apesar de toda a emoção de tratar antes votados a uma cadeira de tes pelo seu primeiro nome: Jesús. situações que, em muitos casos, rodas, ou crianças com paralesia Na simplicidade das grandes con- estavam vaticinadas a um beco cerebral que não reagiam aos pais, quistas, a vivenda onde funcio- sem saída, o médico é peremptó- a entrarem na clínica pelo seu pró- na o Centro Foltra, à entrada de rio: “aqui não há milagres. Trata-se prio pé ou os filhos a chamarem Santiago de Compostela, é des- de aplicar conhecimentos baseados pelos pais, humildemente respon- provida de luxos, não tem sala em estudos e no trabalho que mui- de: “sinto-me feliz por eles, por de espera ou recepção. Os doen- tos médicos e investigadores vêm poderem sentir o mesmo que eu tes conhecem-se, tratam-se pelo desenvolvendo há anos”. senti com o meu filho”! PÁGINAS RARAS | 9 Medicina Interna Especialistas apresentam novas terapêuticas L úpus e síndroma de Hughes, doenças autoimunes, têm agora novas opções de tratamento. A Associação Medinterna organizou um encontro sobre doenças autoimunes que reuniu algumas centenas de especialistas nesta área. Segundo Carlos Dias, presidente da associação, “as doenças autoimunes são as que mais desafiam a capacidade de diagnóstico e a estratégia terapêutica para a Medicina Interna”. A síndrome de Hughes, também chamada síndrome antifosfolípido (SAF), é um destes desafios já que, sendo rara, é pouco conhecida por alguns médicos. Esta patologia caracteriza-se pelo produção de anticorpos antifosfolípido, que provocam um excesso de coagulação do sangue e a ocorrência de tromboses. Durante o congresso David D`Cruz, reumatologista e director clínico da Unidade de Lúpus do St. Thomas Hospital, no Reino Unido, apresentou as novidades terapêuticas para o tratamento desta patologia que afecta centenas de pessoas em Portugal. Recorde-se que, actualmente, esta doença é tratada com a ajuda de 10 | PÁGINAS RARAS Actual heparina e varfarina, cuja principal função é a de tornar o sangue menos espesso. As novas opções terapêuticas incluem uma vastíssima panóplia de substâncias que visam colmatar os efeitos da doença. Clopidogrel é uma nova droga, semelhante à vulgar aspirina, mas que não provoca irritação no estômago. Já a imunoglobulina intravenosa consiste numa preparação intravenosa de proteínas (globulinas) obtidas a partir de dadores. A hidroxicloroquina, por outro lado, é especialmente David D’Cruz eficaz na prevenção das erupções, fadiga e dores. Reumatologista Por último, as estatinas, o rituximab e os novos outros. Os especialistas espanhóis alertaram para o anticoagulantes demonstraram já uma grande efi- facto de, nos últimos anos, o índice de mortalidade da cácia sobre a doença. A Síndrome de Hughes pode doença associada a arterosclorose precoce ter vindo a existir isolada (forma primária e mais frequente), aumentar de forma alarmante. O tratamento mais co- ou associada a outras doenças autoimunes como, mum nesta doença é à base de corticosteroides, com por exemplo, o Lúpus (forma secundária). Sobre dose ajustada a cada doente, de preferência, o mais esta última patologia, três dos maiores especia- baixo possível, já que os efeitos secundários da apli- listas em doenças autoimunes de Granada deram cação prolongada desta substância são imensos. Por o seu contributo para o conhecimento de novas esta razão, sempre que o doente não responde à dose abordagens da doença cuja incidência em mulhe- máxima recomendada (10 mg diários) o médico deve- res jovens é extremamente elevada (1 em cada 9). rá considerar a administração de imunosupressores. O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) tem causa Outra das substâncias fundamentais ao tratamento do desconhecida, embora muitos especialistas afir- LES é a hidroxicloroquina que exerce um efeito bené- mem que se trata de uma patologia do foro genéti- fico, sobretudo nas manifestações cutâneas e articula- co. A maioria dos genes responsáveis pela doença res e permite diminuir a dose de corticosteroides. Tem localiza-se no braço longo do cromossoma 1 e são também um efeito antitrombótico e melhora o perfil responsáveis pela actividade dos linfócitos B, re- lipídico do doente, bem como os níveis de glucose. A gulação da apoptose, processamento antigénico e introdução dos medicamentos biológicos revelou uma na formação de receptores e imunoglobulinas. boa eficácia, nomeadamente no que se refere ao tra- Esta doença caracteriza-se por cansaço, febre, tamento das forma mais graves da doença, resistentes perda de peso, dores articulares e musculares, ao tratamento habitual. fotosensibilidade, eritema, anemia, entre muitos PÁGINAS RARAS | 11 LAPONIA A terra dos sonhos A convite da Terra dos Sonhos, uma instituição de solidariedade social, a Ritinha e o Ricardo, dois dos nossos meninos raros, viajaram até à Escandinávia para conhecer um personagem que preenche os sonhos de todas as crianças: o Pai Natal. Este é o diário de bordo dos nossos pequenos sonhadores. Dia 01 Partimos às 09 horas. No avião, tirámos muitas fotos e fomos conhecer o cockepit. Dia 02 Parámos em Helsínquia. Agora temos de apanhar outro avião até à Lapónia Dia 03 Acordámos muito cedo e fomos visitar o xamã. Bebemos sumo quente. RRitinha Jantámos num iglô feito de gelo. Dia 04 Fizemos um boneco de neve e comprámos presentes para a família. avião para a Lapónia Andámos de trenó puxado por huskies e também de mota de neve. 12 | PÁGINAS PÁG ÁGINA ÁG INAS R RARAS ARAS d a Maria od Ri r a o b e ár io de do i D Ric a rd o Viagens t Carta de condução de trenó Rica rdo Bilhete da TA P Dia 05 Vimos ursos polares, corujas e muitos outros animais Dia 06 Finalmente, conhecemos o Pai Natal e ficámos muito felizes. Ele contou-nos que tinha 430 anos e o Elfo, que o acompanhava, tinha 130. Não parece nada, ele é tão novo! Nós achavamos que o pai natal era um personagem mas, afinal, ele existe mesmo e até nos ofereceu um rodolfo. Nós, pelo sim pelo não, puxámos-lhe as barbas devagarinho, só para comprovar se eram verdadeiras.... Dia 07 Chegou a hora da partida. Já em Lisboa, ficámos felizes por tornar a ver as nossas famílias. PÁGINAS PÁGIN NAS RAR RARAS A AS | 13 AR Direitos dos Doentes Uma luta diária 18 de Abril foi a data escolhida pela União Europeia para assinalar a luta dos doentes pela preservação dos seus direitos. P romovido pela Rede Ac- ou puro desconhecimento, o que para manter a criança viva. Nos tiva de Cidadania, o Dia é certo é que da teoria à prática, casos em que é diagnosticada, por Europeu dos Direitos do existe por vezes um fosso colos- exemplo, uma doença neuromus- sal. Vejamos alguns exemplos: cular degenerativa, não adianta Doente relembra à sociedade as suas responsabilidades na defesa dos interesses daqueles, a quem a saúde abandonou. submeter a criança a terapêuticas O doente tem direito a ser tratado no respeito pela dignidade humana Os Direitos do Doente, assentes invasivas, com benefício duvidoso e sofrimento seguro, uma vez que vamos adiar o momento da na Carta dos Direitos e Deveres do Esta questão, que se prende di- morte por algumas horas ou dias, Doente, consagrados na Base XIV, rectamente com a ética dos pro- com grande sofrimento e dor, quer da Lei de Bases da Saúde, cons- fissionais de saúde, é tão ambígua para o doente, quer para a famí- tituem um dos valores fundamen- que deixa muitas vezes médicos e lia. Devemos saber dizer adeus”, tais da nossa sociedade. Porém, os doentes de costas voltadas. Con- conclui. Apesar de ser uma lógica relatos diários demonstram que, forme explica a pediatra do Hos- defendida pela ética dos profissio- nem tudo o que é consagrado na pital da Estefânia, Maria do Car- nais de saúde, será que esta racio- lei é inteiramente cumprido. Seja mo Vale, “a maioria dos pais quer, nalidade é partilhada pelos pais por negligência, questões éticas obviamente, que tudo façamos destes doentes? Até que ponto o 14 | PÁGINAS RARAS Capa respeito pela dignidade humana se envelhecer e que não existem res- resume a “deixar” a doença seguir postas para os seus filhos, o que a sua progressão natural? lhes causa uma grande angústia”, acusa Isabel Melo, fisiatria e técni- O doente tem direito a receber os cuidados apropriados ao seu estado de saúde, no âmbito dos cuidados preventivos, curativos, de reabilitação e terminais ca de reabilitação pediátrica. Conforme explica a profissional, em Portugal investe-se muito nos bebés mas “depois abandonamo-los por volta dos quatro, cinco anos. Isabel Melo, Fisiatra e técnica de reabilitação Pediátrica Teoricamente, este é de facto um São então integrados em CERCIS direito inabalável porém, quando ou outros centros de reabilitação passamos à prática, esbarramos e abandona-se a terapia, porque a com uma série de dificuldades maioria destes centros tem pouco que se refere à prestação de cuida- logísticas e financeiras que di- pessoal e tratam mais da parte da dos de saúde. Segundo a nova le- ficultam o cumprimento destes sociabilização. O potencial que a gislação, a propósito dos cuidados mesmos direitos. E de nada adian- criança teria é, assim, subaprovei- de saúde transfronteiriços, todo o ta protestar já que, contra factos, tado”. A fisiatra lembra ainda que doente que não encontre em Por- não há argumentos. À escassez a falta de fundos em determinados tugal resposta para o seu proble- de recursos, nada mais resta que estabelecimentos de saúde condi- ma, em virtude das longas listas recorrer, tantas vezes, a institui- ciona, muitas vezes, os próprios de espera ou por falta de médicos ções particulares onde os doentes profissionais que, apesar de que- especializados, poderá procurar possam ver os seus direitos asse- rerem ajudar os doentes, esbarram respostas em qualquer outro Es- gurados. Isto, para os doentes cuja na falta de materiais para o exer- tado-Membro da União Europeia situação financeira o permita. Aos cício das suas funções. “A questão (UE). Segundo realçou a relatora outros, resta aguardar... “Existem das ajudas técnicas é fundamental, do Parlamento Europeu, Françoi- jovens adultos, que saíram dos porque não existe reabilitação sem se Grossetête, “a mobilidade dos circuitos habituais de tratamen- os materiais adequados”, diz Isa- doentes permite contornar as filas to e reabilitação e que estão em bel Melo que conclui afirmando de espera nacionais em condições casa. Os pais ficam aflitos porque que “os direitos dos doentes são completamente legítimas, dado não sabem o que fazer com eles e negligenciados em Portugal”. que se trata de tirar partido das deixam de investir, não acreditam Recentemente, uma luz ao fundo disponibilidades da oferta médica na melhoria. Sentem que estão a do túnel surgiu, nomeadamente no nos outros países europeus”. PÁGINAS RARAS | 15 A equipa O Centro RarÍSSIMO, na Ajuda, é um dos bons nada que Judite Reis descreve o trabalho reali- exemplos de respeito pelos direitos dos doentes. zado pelos profissionais que integram a equipa Através do apoio na reabilitação/habilitação de do Centro RarÍSSIMO. Tiago, o neto de quatro crianças e jovens portadores de doenças raras e anos, tem um défice cognitivo que impede a co- deficiências mentais, este ordenação de movimentos e de espaço conta já no seu cur- se expressar correctamente. Até rículo com inúmeras histó- Julho de 2010, o pequeno Tia- rias de sucesso. go andou perdido no sistema ”Tivemos jovens em ca- de saúde: “a minha filha foi por deira de rodas que come- diversas vezes com o Tiago ao çaram a andar.... Não se médico porque ele não andava e tratou de um milagre, mas tão somente de um tra- a resposta foi sempre a mesma – que era normal. balho intensivo!” refere, com orgulho, a directora Nunca nenhum médico o encaminhou para a fisio- clínica, Isabel Melo. terapia ou para qualquer centro de reabilitação”, “Foi Deus que caiu aqui”! É desta forma emocio- aponta a avó que acusa o Estado de nada fazer por 16 | PÁGINAS RARAS Capa Judite e o neto, Tiago estas crianças. “Não faz nadinha! forme explica Marcos Cardoso, Para se fazer alguma coisa, temos responsável pela área da Terapia de recorrer aos particulares”. Psicomotora: “o Tiago encontrou Neste momento, Tiago já recupe- uma salvação aqui neste centro. rou a sua capacidade de marcha, Encontrou uma equipa que lhe dá com a ajuda de um andarilho e já todas as respostas que ele neces- articula algumas palavras. Para sita. Este centro é, aliás, muito este sucesso contribuiu, de for- completo”, conclui o profissional ma decisiva, a equipa coesa deste cubano que defende que é graças centro terapêutico. “Ele adora to- ao trabalho intensivo com os do- dos os terapeutas. É uma loucura. entes que se conseguem resultados Até já me avisa da hora de vir para satisfatórios. “Estas crianças têm aqui...”, comenta a avó Judite. de ser acompanhadas precoce- Esta harmonia na equipa é a cha- mente e diariamente. Aquilo que ve do sucesso deste centro, con- existe em Cuba, o trabalho diário Fisioterapeuta André PÁGINAS RARAS | 17 e intensivo, é o que deverá ser cidade, psicoterapia, terapia da O Centro RarÍSSIMO, na Ajuda, feito aqui. Só assim é possível fala e apoio psicológico permite disponibiliza os seguintes serviços: obter resultados efectivos, num esta uniformidade. Isto explica tempo quase mínimo”, afiança. o sucesso dos nossos doentes”, • Reabilitação Pediátrica Isabel Melo partilha da opi- finaliza. Tiago é o exemplo per- • Psicomotricidade nião do colega adiantando que feito desta harmonia e trabalho • Terapia da Fala “temos a sorte de os terapeutas de equipa. “Só quem o viu há • Psicologia Clínica estarem muito entregues à cau- uns meses atrás é que percebe • Nutrição sa. Há uma troca permanente a evolução que ele teve”, asse- • Hidroterapia de informação. Habitualmente gura Judite com os olhos envol- é feita uma reunião com todo o tos em água e com a ternura de Equipa Técnica pessoal para fazer uma avalia- quem tem um agradecimento Directora Clínica/Médica de Reabili- ção global do doente e discutir profundo ao Centro RarÍSSI- tação Pediátrica: estratégias de intervenção. O MO, por todo o trabalho desen- Isabel Melo facto de existir aqui psicomotri- volvido com o Tiago. Psicologia Clínica: Maria do Céu Seabra REABILITAÇÃO Fisioterapia: André Santos Marcos Cardoso Terapia Psicomotora: Joana Martins Terapia da Fala: Andreia Bernardo Nutrição Tânia Martins Fisioterapeuta Marcos Cardoso 18 | PÁGINAS RARAS Informações: www.rarissimas.pt Capa O doente tem direito à prestação de cuidados continuados De acordo com a legislação de 8 de Novembro de 2003, “a criação de um modelo justo e solidário, designado por rede de prestação de cuidados de saúde... tem como objectivo fundamental a preocupação de dar às pessoas e aos doentes mais e melhores cuidados de saúde em tempo útil, com eficácia e com humanidade”. Neste sentido voltamos a confrontar a teoria com a realidade. Fala-se de qualidade de vida, conforto e bem-estar dos cidadãos e preconiza-se que a rede de prestação veria ser proporcional não apenas O doente tem direito a ser in- de cuidados possa ser integrada às necessidades dos doentes, mas formado sobre a sua situação por entidades públicas, sociais e ao reconhecido empenhamento de saúde acerca dos serviços de privadas, devidamente habilita- das famílias. Sabemos, do con- saúde existentes, suas competên- das, a intervir de forma qualita- tacto diário com doentes e seus cias e níveis de cuidados tivamente positiva na prestação cuidadores, que estes apoios não dos referidos cuidados. Porém, na chegam e que a estes familiares No que se refere a este direito, o realidade, muitos são os doentes nada mais resta que abandonarem caso dos doentes com patologia que são entregues exclusivamente os seus empregos, com tudo o que rara é flagrante e uma grave fa- ao cuidado dos familiares, porque isso implica, financeira e psico- lha no respeito dos seus direitos estas entidades têm longas listas logicamente, substituindo o Es- fundamentais. Segundo o relatório de espera que não se compadecem tado nas suas funções. Urge pois ENSERio, os doentes com este tipo com as verdadeiras necessida- encontrar um ponto de equilíbrio de patologias espera, em média, 5 des dos utentes. Paralelamente, o entre o que se pode exigir à famí- anos por um diagnóstico, de que apoio técnico a disponibilizar de- lia e o que ela pode realmente dar. resulta a falta de apoio e/ou de tra- PÁGINAS RARAS | 19 tamento (em 42% dos casos), tra- se, representar os próprios direitos de toda a comunidade. tamento inadequado (em 27% dos Afinal, nunca saberemos quando a doença nos virá “bater à porta!” casos) e agravamento da doença (em 28% dos casos). Já para não falar daqueles doentes que nunca chegam a ter diagnóstico e acabam por deambular pelo Sistema Direitos Europeus do Doente Nacional de Saúde. A informação sobre os serviços de saúde, competências e nível de cuidados, raramente é fornecida a estes doentes e os profissionais de saúde 1. Direito a Medidas Preventivas 2. Direito de Acesso lidam muitas vezes com a falta de conhecimentos sobre estas patologias, não conseguindo acompa- 3. Direito à Informação 4. Direito de Consentimento nhar, de forma correcta, os seus doentes. As associações de doentes têm 5. Direito de Livre Escolha 6. Direito de Privacidade e de Confidencialidade vindo a desempenhar um papel fundamental no que diz respeito ao acompanhamento e referenciação destas pessoas, substituindo 7. Direito ao Respeito pelo Tempo do Paciente 8. Direito à Observância/Cumprimento das Normas de Qualidade muitas vezes o papel das entidades estatais, em tantos casos negligente, por força não só do excesso de pedidos, como também da falta de profissionais devidamente certifi- 9. Direito à Segurança 10. Direito à Inovação 11. Direito de Evitar Sofrimento Desnecessário e Dor cados para acompanhar este tipo de casos. Cabe à sociedade, não só neste 12. Direito a Tratamento Personalizado 13. Direito de Queixa dia, mas nos restantes 364 dias do ano, lutar pelos direitos dos doentes que poderão, em última análi- 20 | PÁGINAS RARAS 14. Direito de Compensação SOS Ajudas Técnicas Deficiência e Tecnologias de Informação A sociedade do século XXI caracteriza-se pela enorme expansão da informação tecnológica. Se, para os leigos em informática, a execução de determinadas tarefas poderá não t/ ser fácil, o que dizer das pessoas com tec nic as. gov .p deficiência… Graças às novas tecnologias de acesso (Ajudas Técnicas), algumas delas já incor- as poradas nos Sistemas Operativos dos computadores, e às orientações para a concepção u .aj w w /w p:/ t t h de aplicações informáticas e conteúdos digitais coerentes hoje é possível, independente d da deficiência, movimentar-se de forma mais ou menos confortável neste mundo. Deficiência Auditiva A estratégia de acessibilidade passa pela dis- Deficiência motora ponibilização de texto ou legendagem de con- Um programa para simular teclas presas per- teúdos e instruções por voz, bem como sinali- mite às pessoas que não conseguem manter zação visual de avisos sonoros. premidas duas ou mais teclas ao mesmo tempo obter o mesmo resultado premindo uma te- Deficiência Visual cla de cada vez. Por outro lado, um software As pessoas com este tipo de deficiência utili- específico simula o estado dos botões e o mo- zam um programa, genericamente designado vimento do rato através do teclado numérico. por leitor de ecrã, que possibilita a interacção Também existem teclados de ecrã, como al- com o computador sem recurso à visão. ternativa. Em situações mais graves, um sim- O programador deverá assegurar o acesso à in- ples interruptor, activado por um movimento, formação, através de leitores de ecrã e opções som ou sopro pode ser suficiente para intera- de alto contraste, bem como a programas de gir com o computador. ampliação, para pessoas com visão reduzida. PÁGINAS RARAS | 21 A doença Saiba mais: OMIM, Online Mendelian Inheritance in Man www.ncbi.nlm.nih.gov/omim Batten disease Information Page – National Institute of Neurological Disorders and Stroke www.ninds.nih.gov/disorders/batten/batten.htm The Batten Disease Family Association – for families,professionals and facilitating research www.bdfa-uk.org.uk 22 | PÁGINAS RARAS Singularidades a de Batten A Doença de Batten é uma doença gené- mente, em dois tipos de meios complementares: a tica autossómica recessiva que pode realização de estudos de microscopia electrónica ser causada pela mutação em três ge- (ME) em amostras de sangue, pele ou conjuntiva e nes diferentes. A maioria dos casos (cerca de 70%) o doseamento de enzimas lisossomais em leucócitos resulta de mutações do gene Batenina (CLN3). Cer- ou fibroblastos. ca de 20% dos casos ocorrem em consequência de A genética molecular permite a identificação das mu- mutações do PPT1 (palmitoyl-protein-thioesterase), tações responsáveis pela doença de Batten, consti- sendo os restantes causados por mutações do gene tuindo um meio de diagnóstico. TPP-1 (tripeptydyl-peptidase-1). O tratamento da doença de Batten é sintomático e O quadro clínico tem início entre os quatro e os dez visa mitigar as complicações associadas: epilepsia, anos de idade. insónia, desnutrição, refluxo gastro-esofágico, sia- O primeiro sinal (por vezes único durante alguns lorreia, hiperactividade e agitação psico-motora, es- anos) é a rápida diminuição da acuidade visual que pasticidade e distonia. culmina em cegueira dois a quatro anos depois. Se- Existem ensaios terapêuticos em curso, ainda sem gue-se a deterioração da acuidade visual, o apareci- aplicação clínica, com transplante de células estami- mento de epilepsia com crise mioclónicas, tónico- nais, terapia génica usando um vector vírico e tera- -clónicas e parciais complexas. Aos sete/oito anos pêutica com cisteamina. e, em vários casos, mais tarde, inicia-se a deterio- Sendo a doença de Batten autossómica recessiva, ração intelectual com atingimento da linguagem, o risco de recorrência para um casal com um filho acompanhada de espasticidade. afectado é de 25%. Progressivamente, vão surgindo diversos tipos de O diagnóstico pré-natal, pré-implantatório, por am- anomalias comportamentais, acompanhadas de mo- niocentese ou por biópsia das vilosidades coriónicas, vimentos coreicos, ataxia e, também, diversas per- baseia-se na pesquisa de mutações previamente iden- turbações do sono. tificadas em indivíduos doentes. A confirmação do diagnóstico baseia-se, essencial- Texto retirado do livro: Doenças Raras de A a Z, Volume II PÁGINAS RARAS | 23 flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash Os cidadãos europeus podem agora escolher o país da União Europeia onde querem ser tratados. A nova Lei, agora aprovada, deverá estar implementada até 2013 e prevê que os cidadãos da UE seja reembolsados, sem requerimento prévio, por tratamentos médicos recebidos em outro país-membro do bloco, desde que o tipo de tratamento e os custos também tenham cobertura no país de origem. A lei contempla ainda os doentes com patologia rara, que passarão a ter acesso às redes de referência europeias para o tratamento das suas patologias, além de terem possibilidade de receber informações sobre tratamentos, centros especializados e níveis de reembolso. A Fundação de Pesquisa da Pro- poderá travar a evolução da doença. A ggeria, nos EUA, anunciou re- britânica Hayley Okines é a prova viva ccentemente que os esforços en- do sucesso deste tratamento. Graças a ccetados na procura de uma cura ele, Hayley conseguiu comemorar este ppara esta doença fatal estão, fi- ano o seu 13º aniversário. Recorde-se nnalmente, a dar os seus frutos. que esta patologia caracteriza-se por O Os investigadores deste centro um processo de envelhecimento celu- eespecializado identificaram uma lar rápido, que provoca a morte prema- ssubstância denominada inibidores tura nos seus portadores. dda farnesiltransferase (IFTs), que www.progeriaresearch.org Os doentes com Fibrose Pulmonar da introdução no tratamento standart de Idiopática têm uma nova respos- uma enzima que funciona como antioxita terapêutica que poderá ajudar, dante, denominada acetilcisteína. De sasubstancialmente, a função pulmo- lientar que, até agora, cerca de 70% dos nar. Conforme artigo publicado no doentes com Fibrose Pulmonar IdiopátiThe New England Journal of Me- ca sucumbia à doença, cinco anos após o dicine estes doentes beneficiarão seu diagnóstico. 24 | PÁGINAS RARAS clínico que pretende avaliar a eficácia de uma nova substância para o tratamento de crianças com Distrofia Muscular de Duchene, com deficiência no exão 51. Os exões são pequenas sequências do código genético e codificam os aminoácidos de uma proteína. Actualmente, não existe tratamento para esta patologia que causa deficiência na mobilidade dos seus portadores e morte prematura. Os investigadores do Hospital Car- as células nervosas. Desde Nolos Haya e da Fundación Imabis, vembro que trinta doentes estão em Málaga, descobriram uma te- a participar num ensaio clínico rapêutica que poderá tratar a Sín- para provar a eficácia do tratadrome X Frágil, uma doença rara, mento. Os resultados foram encaracterizada por défice cognitivo tretanto publicados no Neurope que, até à data, não tinha trata- sychopharmacology e no Journal mento. A terapêutica consiste na of Pineal Research. administracão oral de antioxidantes neuroprotectores que protegem Os investigadores do Instituto de las foram então forçadas a tornar-- Tecnologia de Israel criaram um -se células do músculo cardíaco,, novo tipo de células mãe que pode- revelando padrões anormais dee rão ajudar a perceber a evolução da actividade eléctrica, caracterís-- síndrome QT-longo, um tipo de ar- ticas da síndrome. Os investi-- ritmia cardíaca associada a um ele- gadores testaram então diversoss vado risco de morte súbita. fármacos sobre estas células, paraa A equipa médica retirou a um doente perceberm a reacção das mesmass com a patologia, fibroblastos e usa- às diferentes drogas. Esta investi-- ram-nos para gerar células-tronco gação tem por objectivo encontrarr pluripotentes induzidas. Essas célu- a cura para a doença. flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash flash Foi recentemente iniciada a Fase III de um estudo PÁGINAS RARAS | 25 Pedro Pita Barros “A não aprovação de certos medicamentos órfãos é uma falha ética da nossa sociedade” Doutorado em Economia, Professor Catedrático diversas obras editadas, o título atribuído pela da Faculdade de Economia e Presidente da As- Presidência da República de Grande-Oficial da sociação Portuguesa de Economia da Saúde são Ordem do Infante D. Henrique faz, certamente, alguns dos títulos que fazem dele um dos maiores jus à carreira deste jovem promissor. experts portugueses em Economia da Saúde. Com 26 | PÁGINAS RARAS Perfil “Os cortes no orçamento do Serviço Nacional de Saúde criarão mais dívidas a serem pagas no futuro” D ívidas no Sistema Nacional de Saúde, cor- existência de desperdícios diversos, nomeadamente tes no financiamento e médicos obrigados no que se refere à utilização excessiva de recursos, a dar anos de serviço ao Estado, são apenas prescrição excessiva de medicamentos, referenciação algumas das achas nesta fogueira pública onde todos excessiva de casos dos cuidados de saúde primários somos peritos. Numa tentativa de elucidar o leitor, para os hospitais, diferenças acentuadas de prática a revista Páginas Raras aproveitou a visita de Pedro clínica entre médicos e/ou unidades de prestação de Pita Barros à sede da Raríssimas e procurou saber cuidados, entre muitas outras situações onde a falta a opinião daquele que muitos consideram como o de organização levou ao caos em que se encontra nes- maior perito em economia da saúde. “O buraco finan- te momento o SNS. Mas há mais... “o próprio siste- ceiro do Sistema Nacional de Saúde (SNS) decorre ma de pagamento por orçamento, que supostamente de várias disfuncionalidades”, começa por esclare- significa que não se gasta mais do que o previsto, es- cer o catedrático que, rapidamente, aponta algumas barra no princípio de que ninguém deve ficar privado destas incongruências: “o recurso às urgências hos- dos cuidados de saúde de que necessita - logo se não pitalares, que além do custo directo que implicam, há orçamento, cria-se divida que no futuro alguém contribuem para a desorganização do trabalho dentro (leia-se o Estado, leia-se todos nós) pagará”, dispa- do hospital, a procura de tecnologia e de acesso a ra Pita Barros. E se riqueza gera riqueza, segundo o especialistas quando tal não se justifica clinicamen- ditado o popular, o mesmo sucede em relação à dí- te”. Por outro lado, segundo o especialista a organi- vida uma vez que quem vende produtos ou serviços zação da prestação de cuidados de saúde propicia a ao Serviço Nacional de Saúde procura cobrar preços PÁGINAS RARAS | 27 mais caros, prevendo desde logo os eventuais atrasos que os pagamentos vão ter e os eventuais futuros descontos, supostamente solicitados no momento do pagamento. Face a esta imagem de gestão pouco eficiente e organização desorganizada, o futuro do SNS poderá passar por cortes sucessivos na despesa e rectificações de orçamentos, conforme explica Pita Barros: “se seguirmos o padrão passado, deixar-se-à primeiro de pagar à industria farmacêutica e depois a outros fornecedores. Todos protestarão com os atrasos de pagamento e surgirá então um orçamento rectificativo para a saúde. Este é, para mim, o cenário mais provável”. Doenças raras: da filosofia à estatística Seguindo o raciocínio de Pita Barros, que não augura grandes progressos na gestão do SNS, o que acontecerá então, no futuro, no que se refere aos investimentos na investigação científica e no acesso a novas respostas terapêuticas, tão necessárias áqueles que, por terem uma patologia rara, acabam por estar, tantas vezes no fundo da cadeia do SNS? Segundo o economista a questão é bastante simples e resume-se ao binómio acção/lucro. Primeiro procurou-se tratar doenças que afectavam um elevado número de pessoas e onde os potenciais ganhos eram bastante elevados e, agora passamos a uma fase onde “com o “A organização da prestação de cuidados de saúde progresso realizado, deixou se ter esses ganhos nas propicia a existência doenças mais comuns, e começou a ganhar peso a importância dos ganhos terapêuticos em doenças até de desperdícios aqui mais negligenciadas”, refere. Numa visão com- diversos” pletamente economicista, aparentemente os respon- 28 | PÁGINAS RARAS Perfil sáveis pela área da saúde atribuiram um valor à vida ter sempre a atitude crítica de ir verificar e confirmar humana que não é, certamente, aquele que os cuida- (ou não)”, conclui. dores e familiares de doentes têm e que se resume às Foi justamente com esta atitude crítica que Pita palavras “sem preço”. Pita Barros desdramatiza a si- Barros apontou a sociedade como grande respon- tuação dizendo que “para escapar dos dilemas éticos sável pela não aprovação de medicamentos órfãos envolvidos na definição do valor de uma vida huma- essenciais à sobrevivência e/ou qualidade de vida na, recorremos normalmente ao conceito de valor de de alguns doentes com patologia rara “mais do que uma vida estatística: quanto se está disposto a pagar negligência médica será uma falha ética da nossa so- por salvar uma vida, reduzindo uma taxa de mortali- ciedade”, conclui com firmeza. dade de 4 por 100,000 para 3 por 100,000, desconhecendo-se quem será essa vida salva? Diversos estudos que adoptam esta via colocam as estimativas, de “Para escapar aos dilemas forma relativamente consistente, entre os 8 e os 10 milhões de euros para o valor de uma vida estatística. éticos envolvidos na Num cálculo rápido, pouco rigoroso, mas ilustrativo definição do valor de uma da ordem de magnitude, para uma esperança de vida à nascença de cerca de 80 anos, estar-se-á a falar à volta de 100,000 euros por ano de vida com qualidade. Compreendo que possa chocar esta frieza, mas só assim poderemos equacionar de alguma forma os benefícios com os custos na escolha de onde aplicar os recursos disponíveis”. No entanto, e apesar da vida humana, recorremos normalmente ao conceito de valor de uma vida estatística” aparente indiferença de quem lida com números, o que é certo é que existem questões cuja análise tem necessariamente de recorrer a dados estatísticos. A este propósito, Pita Barros criou recentemente um “teorema” que tem por objectivo, justamente, aliar a estatística à realidade dos factos – o Teorema de Barros, como ironicamente lhe chamou: “o “teorema” consiste em uma pessoa apresentar um número, uma segunda repete-o e a terceira que vê esse valor como uma verdade, sem ir verificar. No entanto, devemos PÁGINAS RARAS | 29 CADIN 2011 Congresso Internacional do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil 25 e 28 de Março, no Centro de Congressos do Estoril. Agenda Agenda Agenda http://www.cadin.net/ Por Cá 8th European Lupus Meeting XII Congresso da Sociedade 6 e 9 de Abril, no Centro de Portuguesa de Medicina Física e Congressos da Alfândega do Porto Lá Fora de Reabilitação http://www.lupus2011.org/ Genomic Disorders 2011 10 a 12 de Março, no Palácio de The Genomics of Rare Diseases Congressos do Algarve II 23 a 26 Março, no Wellcome http://www.spmfr.org do Centro de Investigação do Trust Conference Centre, em Jornadas Internacionais Núcleo de Estudos e Intervenção Cambridge, UK. 28º https://registration.hinxton. Clínica Geral (Cineicc) wellcome.ac.uk/display_info. 16 a 19 de Março, em Vilamoura 28, 29 e 30 de Abril, em Coimbra asp?id=204 [email protected] [email protected] A Espondilite lite Anquilosante An é uma doença reumática S Encontro Nacional de aiba todas as novidades oviidad sobre o principal projecto da Raríssimas, Cognitivo-Comportamental A doença de Bechet foi alvo de reflexão durante inflamatória crónica que afecta as a Casa dos Marcos, um modelo o congresso MedInterna que se articulações da coluna vertebral. assistencial, único no mundo, que realizou no Porto. conheça os Dia 08 de Maio celebra-se o Dia estará concluído durante o segundo avanços terapêuticos alcançados. Mundial da doença. Conheça os semestre deste ano. principais avanços da Medicina, nesta patologia que afecta milhares de pessoas em todo o mundo. 30 | PÁGINAS RARAS Na próxima edição Doações Raras | A Raríssimas agradece às seguintes pessoas/entidades o gesto solidário: Celeste Maria Moisés Ribeiro, Liliana Santos Silva, António Carvalho, Ana Pinto, Hugo Moises Silva Lindo, Hugo Soares Gonçalves, Teresa Inacia Francisco, Eduardo Miguel Neves, Sirius Viagens e Turismo, Lda, Filipa Andreia Ramos Miranda, Vera Mónica Alvez Bernardo, Carla Alexandra Rebelo dos Santos, José Manuel Coelho Inácio, Henrique Pereira, Existência Real, Lda, Amgen - Biofarmacêutica, Lda, Vitri, Lda, Americo Duarte Alves, Alexandra Cristina Freitas Sepúlveda, Rute Isabel Cabral de Almeida, Biomarin Europe Limited, Câmara Municipal da Moita, Silvestre António Balão Prudêncio, Maria Inês Baptista Leite, António Jorge Sousa Ferreira, Ruben Filipe Salgueiro Aleixo, Sonia Margarida Marques Afonso Alves, Elisabete Serrão, Carlos Alberto Almeida, Sara Maria Correia Nascimento, Pedro Filipe Alves de Sousa, Lucília Romeiro, Joaquim Páscoa Martins, Belina Neves Oliveira Duarte, Bernardo Matos, Irene Gomes, Ipsen Portugal, SA, Octapharma, Moisés Teixeira Vidal, Solaminas Sistemas de Construção, Lda, Maria do Carmo Vieira, Alexion Pharma International, SARL, Shire, Lusoponte - Concessionára Travessia do Tejo SA, Bernardino Manuel Mendes de Castro, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, Lda, Pedro José Simões Claro, Hugo Manuel de Sá Santos Coutinho, BPI - Gestão de Activo - Soc. Ges.F.Inv.Mobiliário SA, Carlos Rodrigues Bernardo Silva. Apoios: io arin Europe Ltd. PÁGINAS RARAS | 31 32 | PÁGINAS RARAS