março/2015 H á anos, lutamos para que a Petrobras ponha em prática algumas propostas simples que facilitariam os cuidados com os filhos. Duas idéias que defendemos são: 1) o direito à redução de duas horas na jornada para as mães lactantes, desde o momento em que retornam da licençamaternidade até a criança completar um ano, para incentivar e facilitar a amamentação, tão importante para as crianças e as mães (e, conseqüentemente, para as famílias e toda a sociedade), tanto em termos físicos quanto em termos psicológicos, com benefícios para toda a vida (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204824097 272811&set=p.10204824097272811&type=1); e 2) o direito a acompanhar os filhos menores internados, cuidar deles em casa quando estiverem doentes, leválos ao médico e ao dentista, assim como ao posto de vacinação, tendo esses horários abonados no acerto de freqüência, com a apresentação de atestado médico. Pedimos que esse direito seja igualmente válido para os homens, uma vez que zelar pela saúde dos filhos é um dever de ambos os pais, não apenas das mulheres. Além disso, defendemos que sejam válidos também para as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, por meio de cláusulas em todos os contratos, enquanto existir terceirização. Elaboramos uma cláusula e um trecho de uma outra cláusula com essas propostas, que conseguimos incluir na pauta de reivindicações para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) assinada pelo Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro, além de apoiarmos a cláusula já existente na proposta do Sindipetro-RJ referente ao aumento da licença-paternidade para além dos dez dias do ACT vigente. Fizemos materiais de divulgação (http://cartola.org/inimigosdorei/wpcontent/uploads/2015/02/pra-facilitar-os-cuidados-com-osfilhos-panfleto.pdf), nos quais explicamos detalhadamente as propostas e como elas são importantes para a eqüidade de gêneros, que a Petrobras diz valorizar. Realizamos manifestações em diversos locais de trabalho. Participamos de reuniões de “negociação” do ACT em 2013 e em 2014, nas quais defendemos essas reivindicações. Em 2013, após várias reuniões em que o RH não respondia nada, insistimos na pergunta “por que a Petrobras não implementa o direito à redução da jornada para as mães desde o retorno da licença-maternidade até a criança completar um ano, para facilitar a amamentação, ainda mais que esse direito existe no ACT da Petrobras Distribuidora, a BR?”. Ouvimos como “resposta” do RH: “A resposta é que não tem resposta”. Essa resposta, quase um deboche, é uma síntese de como a hierarquia da empresa não se dispõe a fazer uma verdadeira e respeitosa negociação com os trabalhadores e de como questões relativas à situação das mulheres na empresa não é uma prioridade e não é tratada com o devido respeito. Uma verdadeira negociação pressupõe, entre outros aspectos, que haja argumentação. Não responder, debochar ou simplesmente negar algo não é negociar. É desrespeitar os trabalhadores – nesse caso especifico as trabalhadoras. Em 2014, fizemos um abaixo-assinado, para o qual, com a ajuda de algumas trabalhadoras, conseguimos 1138 assinaturas. Entregamos esse documento ao gerente executivo do RH, Antônio Sergio Oliveira Santana, numa reunião de “negociação” no dia 24 de setembro do ano passado, quando ele disse que ia estudar o assunto. Até hoje, no entanto, ele não deu qualquer retorno. Recentemente, incentivamos trabalhadores a colocarem essas duas reivindicações no campo para comentários na pesquisa de ambiência (http://cartola.org/inimigosdorei/wpcontent/uploads/2015/03/sobre-a-pesquisa-de-ambiencia27-02-2015.pdf). Vamos continuar nessa luta, valorizando a argumentação e buscando envolver diretamente cada vez mais trabalhadores. As propostas que apresentamos buscam que haja eqüidade de gêneros na Petrobras. A eqüidade é diferente da igualdade. Também podemos dizer que é a verdadeira igualdade ou a igualdade justa, pois leva em consideração as diferenças, com o objetivo de realmente equilibrar as realidades das pessoas. Atualmente, ainda é bastante difícil para as mães de crianças pequenas conciliarem carreira e maternidade. A extensão da licença-maternidade para 180 dias (ainda falta estar como cláusula em todos os contratos para as trabalhadoras terceirizadas) e as salas de apoio à amamentação, ambas conquistas pelas quais lutamos, são importantes, mas insuficientes. A licença de 180 dias foi uma conquista fundamental para possibilitar a amamentação exclusiva até os seis meses do bebê, entre outros benefícios. As salas de apoio à amamentação são importantes para situações esporádicas e para ordenhas de alívio (que precisam ser feitas quando, devido ao afastamento prolongado e repentino do bebê, sobretudo em situações de mudança de rotina, como o retorno ao trabalho, as mamas se tornam dolorosamente cheias de leite, podendo levar a complicações maiores como mastites). Entretanto, tais iniciativas ainda são insuficientes para garantir equilíbrio profissional e pessoal para mulheres que são mães. A jornada de trabalho média hoje na Petrobras é de 8 horas, mas o tempo diário em torno do trabalho chega facilmente a mais de 11 horas, levando em consideração a hora de almoço, as horas extras adicionadas à jornada em função de recessos impostos, e uma média de 2 horas de deslocamento casa-trabalhocasa. A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam que as crianças recebam exclusivamente leite materno até os seis meses e que continuem a mamar até pelo menos dois anos. Durante todo o primeiro ano de vida da criança, mesmo após a introdução de outros alimentos na dieta da criança, aos seis meses, o leite materno é a principal fonte nutricional do bebê. Leites maternizados, embora sejam boas opções na impossibilidade de amamentação ou quando a mãe escolhe não amamentar, apresentam diversas desvantagens de ordem nutricional e econômica e devem ser tratados como uma escolha da família e não como a única alternativa para a mãe que trabalha. A redução da jornada ajudaria ainda a evitar o desmame precoce, que muitas vezes acontece quando a mãe retorna ao trabalho, como consequência da utilização de bicos artificias, sobretudo mamadeiras, ainda que contendo o leite da mãe – razão pela qual as salas de amamentação são uma medida insuficiente para manter o aleitamento após o retorno da mãe ao trabalho. Se a Petrobras implementar essas propostas, os benefícios para as trabalhadoras serão enormes, enquanto os custos para a empresa serão insignificantes. No Dia Internacional da Mulher (8 de março) do ano passado, houve setor da Petrobras que d e u p a r a a s trabalhadoras uma flor com um bilhete com os dizeres “Mulher. Fonte de inspiração de poetas, músicos, escritores...”. Não somos contra as flores em si, mas a poesia que queremos é mais concreta. As mulheres não são um vaso de flores em cima da mesa para serem meramente admiradas. Mulheres também são poetas, musicistas, escritoras. São também empregadas da Petrobras e precisam ser ouvidas e respeitadas em suas reivindicações. A mulher no mercado de trabalho é uma realidade no mundo e uma realidade na Petrobras. A necessidade de se conciliar a realidade profissional com a realidade da vida doméstica - seja através de medidas que permitam às mulheres maior equilíbrio no dia-a-dia seja através de medidas que permitam aos homens se inserirem no espaço doméstico, até pouco tempo ocupado quase que exclusivamente pelas mulheres – é urgente e fundamental para uma sociedade mais justa. Não há dúvidas do quão importantes foram as conquistas femininas até aqui, que permitiram às mulheres estudar e ingressar no mundo do trabalho, tal como qualquer homem. Muitas mulheres devem a essas conquistas significativos avanços na sua independência. IGUALDADE EQÜIDADE Mas não podemos ignorar o vácuo deixado para trás, na vida doméstica, quando isso ocorreu. Nossas crianças precisam ser cuidadas, nossos idosos precisam ser cuidados, nossos doentes precisam ser cuidados. E isso precisa ocorrer sem que mulheres sejam postas em desvantagem profissional; afinal, isso não é um “problema” da mulher ou da família, é uma questão social pela qual nosso empregador também deve se responsabilizar. Solução há, mas temos que lutar e exigir que elas sejam implementadas na companhia. Em uma empresa do porte da Petrobras, medidas como as aqui sugeridas em nada alteram a produtividade e bom desempenho da empresa, apenas tornam a força de trabalho mais motivada e conseqüentemente mais produtiva, além de contribuir para uma atuação socialmente responsável e de mãos dadas com a equidade de gêneros. Lívia de Figueiredo Torres – integrante do grupo de trabalhadores petroleiros Inimigos do Rei Antony Devalle – integrante do Inimigos do Rei e atual coordenador da secretaria de política e formação sindical do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro