EDUCAÇÃO FÍSICA Dizer que belo e feio são relativos aos tempos e às culturas (ou até mesmo aos planetas) não significa, porém, que não se tentou, desde sempre, vê-los como padrões definidos em relação a um modelo estável. Pode-se sugerir também, como Nietzsche no Crepúsculo dos ídolos, que "no belo, o ser humano se coloca como medida da perfeição;" (...) "adora nele a si mesmo. (...) No fundo, o homem se espelha nas coisas, considera belo tudo o que lhe devolve a sua imagem. (...) o Feio é entendido como sinal e sintoma da degenerência (...) Cada indício de esgotamento, de peso, de senilidade, de cansaço, toda espécie de falta de liberdade, como a convulsão, como a paralisia, sobretudo o cheiro, a cor, a forma da dissolução, da decomposição (...) tudo provoca a mesma reação: o juízo de valor ‘ feio’ . (...) O que odeia aí o ser humano? Não há dúvida: o declínio de seu tipo". O argumento de Nietzsche é narcisicamente antropomórfico, mas nos diz, justamente, que beleza e feiúra são definidas em referência a um modelo "específico" - e a noção de espécie pode se estender dos homens a todos os entes, como fazia Platão na República, aceitando definir como bela uma panela construída segundo as justas regras artesanais, ou Tomás de Aquino, para quem o belo é dado, além de uma correta proporção e da luminosidade ou clareza, pela integridade e, portanto, uma coisa (seja ela um corpo humano, uma árvore ou um vaso) deve exibir todas as características que a sua forma deve impor à matéria. Neste sentido, não se considerava feio somente aquilo que fosse desproporcionado, como um ser humano com uma cabeça enorme e pernas curtíssimas, mas eram ditos feios também os seres que Tomás definia como "torpes", no sentido de "diminuídos", ou seja - como dirá Guilherme de Alvernia (Tratado do bem e do mal) -, aos quais falta um membro, que têm apenas um olho (ou até três, pois é possível apresentar um defeito de integridade também por excesso). Portanto, eram impiedosamente definidos como feios os erros da natureza, que os artistas tantas vezes retrataram sem nenhuma compaixão - e, para o mundo animal, os híbridos, que fundem inadequadamente os aspectos formais de duas espécies diversas. (...) O feio é também um fenômeno cultural. Os membros das classes "altas" sempre consideraram desagradáveis ou ridículos os gostos das classes "baixas". Poderíamos dizer, é certo, que os fatores econômicos sempre pesaram nestas discriminações, no sentido em que a elegância sempre foi associada ao uso de tecidos, cores e pedras caríssimos. Mas muitas vezes o fator discriminante não era econômico, mas cultural. É uma experiência habitual destacar a vulgaridade do novo-rico que, para ostentar sua riqueza, ultrapassa os limites que a sensibilidade estética dominante estabelece para o "bom gosto". ECO, Umberto. História da feiúra. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2007, pp.15-16; 394.