3 aula Janeiro de 2012 TEORIA DE ERROS II: Objetivos: Familiarizar o aluno com o tratamento estatístico de medidas e com a propagação de erros. 3.1 Introdução Nos laboratórios de física, as grandezas determinadas experimentalmente têm uma incerteza intrínseca que vem das diferentes fontes de erro. As fontes de erro fazem com que toda medida realizada, por mais cuidadosa que seja, seja afetada por um erro experimental. Esses erros podem ser classificados em dois grupos: os erros sistemáticos e os erros estatísticos. Os erros sistemáticos1 são aqueles causados por diferentes fatores e são classificados em: a) Instrumentais: Erros que resultam da calibração do instrumento de medida; b) Ambientais: Provenientes de fatores ambientais como temperatura, pressão, umidade, aceleração da gravidade, campo magnético terrestre, luz e ruídos. c) Observacionais: Aqueles devidos a pequenas falhas de procedimento ou às limitações do próprio observador. Um erro deste tipo é o de paralaxe, que ocorre devido a uma posição inadequada na leitura das escalas de instrumentos. d) Acidentais: Que ocorrem inevitavelmente. Por exemplo, erros de julgamento na estimativa da fração da menor divisão de uma escala. e) Grosseiros: Devidos à falta de atenção ou de prática do operador. Por exemplo, enganos na leitura de instrumentos, ao escrever 7248 ou 7428 quando o número é 7482. f) Teóricos: São erros que resultam do uso de fórmulas teóricas aproximadas para obtenção dos resultados. Os erros estatísticos, por sua vez, são aqueles causados por flutuações nas medidas das grandezas. 1 Observação – Uma das principais tarefas do experimentador é identificar e eliminar o maior número possível de erros sistemáticos. Caderno de Laboratório de Física 11 3.2 Tratamento Estatístico de Medidas 3.2.1 Valor Médio de uma Grandeza O valor médio é representado por um único valor e é calculado dividindo a soma de todos os valores medidos de uma grandeza pelo número de medidas que deu origem à soma, isto é, a média aritmética de uma série de medidas: 1 N X N Xi . (3.1) i 1 sendo: X i : o valor de cada medida; N : o número total de medidas; X : o valor médio das N medidas. 3.2.2 Desvio Padrão E A estatística indica que uma estimativa do desvio das medidas em relação ao valor médio é dada pelo cálculo do desvio padrão E , cuja expressão é a seguinte: E N 1 N 1 Xi 2 X . (3.2) i 1 É importante observar que uma grandeza medida é caracterizada pelo seu valor médio, e que esse valor médio deve sempre ser escrito com o seu respectivo desvio padrão, que representa um intervalo onde o valor verdadeiro pode se situar. Por exemplo, várias medidas da aceleração da gravidade g resultarão em um valor médio g e seu respectivo desvio padrão g . O verdadeiro valor da aceleração da gravidade provavelmente estará contido no intervalo [ g g , g g ] ou, resumidamente, g g . Note ainda que todo instrumento de medida possui uma incerteza, que chamaremos de M . Por exemplo, numa régua milimetrada o menor valor de leitura é 1 milímetro (mm), e uma grandeza cujo comprimento estiver compreendido entre uma e outra marca na escala dessa régua necessariamente terá uma incerteza M associada a ela. Essa incerteza geralmente é tomada como sendo a metade da menor escala do instrumento, ou seja, M 0,5 mm no exemplo da régua. Assim, 12 Caderno de Laboratório de Física associada à média, há a incerteza inerente ao instrumento de medida ( M ) e a incerteza estatística ( E ), dada pela Eq.(3.2). Em qualquer caso, a incerteza a considerar é sempre a maior delas, ou seja: a) Se o desvio padrão for maior que a incerteza instrumental, o valor X mais provável da medida estará compreendido no intervalo X b) E; X Se o desvio padrão for menor que a incerteza instrumental, o valor X mais provável da medida estará compreendido no intervalo X M . X 3.3 Propagação de Erros Certas grandezas físicas são calculadas a partir de outras obtidas através de medições diretas, por exemplo, a área de um retângulo. Se cada grandeza medida (lado do retângulo) vier acompanhada de um desvio, a grandeza calculada (área) também deverá ser representada com seu respectivo desvio. Para calcular este desvio, existem regras definidas pelo cálculo diferencial que fogem do enfoque deste curso. Existe, porém, uma forma simples que não exige conhecimento mais profundo do cálculo, mostrado no exemplo 1. Exemplo 1 Para se achar o desvio padrão A da área do retângulo associada ao produto dos lados a a e b b , calcula-se os valores máximos e mínimos da área: Amax (a Amin (a a) (b a) (b b) b) a b a b a b a b a b a b a b ; a b . O desvio A será então dado por: A Amax Amin 2 a b b a . O mesmo procedimento é adotado para as outras operações (divisão, subtração e soma) e o resultado mostrado abaixo: Soma: (a a) (b b) (a Subtração: (a a) (b b) (a b) b) (a (a b) b) (3.1) Caderno de Laboratório de Física Divisão: Multiplicação: (a 13 (a a) a) (b (b b) b) a b (a b) (a b ab ba b2 b a) 3.4 Erro Relativo Percentual Uma outra forma de avaliar o resultado da medida de uma grandeza é feita pela comparação deste resultado com um valor preestabelecido da mesma. Como valor de referência pode-se escolher o valor tabelado ou a média de um conjunto de medidas da grandeza. Esta comparação permite determinar o erro relativo percentual, que é dado por E% X X .100 X onde X é o valor medido e X é o valor de referência. Exercícios 1. A distância focal d (cm) de uma lente convergente foi determinada a partir das posições de um objeto luminoso e da imagem correspondente, formada pela lente. A medição é repetida 12 vezes. 204 206 208 227 229 230 237 237 238 240 241 243 Pede-se: a) O valor médio; b) O desvio padrão; c) O valor da medida com sua incerteza. 2. Efetue as operações: a) (2,345 0,005) + (1,824 0,003); b) (4,03 0,01) x (2,74 0,03); c) (2,345 0,005) – (1,824 0,003); d) (2,523 0,004) (5,121 0,006).