A fome e o amor
Augusto dos Anjos*
A um monstro
Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!
Amor! E a satiríases sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!
Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois
Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!
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*Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de
1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro,
identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Todavia, muitos críticos,
como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois
encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas.
É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua
obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários. (WIKIPÈDIA)
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A fome e o amor.Augusto dos Anjos