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Iniciação Científica
PUCRS
Sustentabilidade Social na Arquitetura: Redes de Solidariedade no
Condomínio dos Anjos
César Renato Canova¹, Anaclaudia Gurian de Arruda Mayorga¹, Bruna Cerutti Franciscatto¹, Fábio
de Medeiros Albano¹, Marcelo Rubin Lima², Prof. Adão Clóvis Martins dos Santos², Prof. Flávio
Escobar Nogueira da Gama¹, Prof. Maria Alice Medeiros Dias¹, Prof. Marcos Pereira Diligenti¹
(orientador)
1
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, PUCRS, 2 Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS
Resumo
A habitação de interesse social é um equipamento urbano de grande importância no
cenário das cidades contemporâneas. As medidas públicas para o suprimento das necessidades
de populações de baixa renda são historicamente impositivas com relação às características
culturais e espaciais apresentadas pelas comunidades. Nesse sentido, propusemos com esta
pesquisa associar a conquista do espaço urbano da Comunidade do Condomínio dos Anjos,
em Porto Alegre, ao viés social da sustentabilidade, enfatizando a atuação das redes de
solidariedade intrínsecas nessa evolução urbana.
Introdução
A pesquisa aqui apresentada tem por objetivo analisar os aspectos arquitetônicos da
avaliação pós-ocupacional nas habitações do espaço urbano intitulado Condomínio dos Anjos,
em Porto Alegre, e as demandas atuais para uma maior estruturação do espaço comunitário,
aliados à abordagem social, considerando os movimentos articulados sob a categoria de
“redes de solidariedade” (MELUCCI, 1996).
Utilizamos como referencial comparativo de análise o trabalho de pesquisa
desenvolvido pelos professores Marcos Diligenti e Carmen Brunel junto a essa comunidade
no período compreendido entre 1998 e 2001, intitulado “Condomínio dos Anjos: a história de
uma conquista” e o artigo “Uma proposta Popular: Tempo, Espaço e Sociedade” (2002), de
mesma autoria. Esses documentos retratam a transição das antigas moradias, em situação de
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extrema precariedade, até a entrega das atuais edificações, a qual se concretizou a partir do
trabalho comunitário no Orçamento Participativo da cidade de Porto Alegre.
A proposta deste estudo é investigar se os objetivos que permearam o movimento
comunitário foram alcançados e de que forma os movimentos sociais continuam se
articulando na luta da comunidade pela conquista de outros espaços que qualifiquem a etapa
inicial, conferindo à pesquisa uma perspectiva integral de sustentabilidade, coerente com a
concepção de ciência na atualidade.
Metodologia
Consideramos que a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o
conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo
do pesquisador (MINAYO, 2000). Assim, aliamos os métodos propostos inicialmente aos
resultados parciais do desenvolvimento do trabalho, resultando no seguinte programa:
- Pesquisa Bibliográfica: buscamos uma abordagem que unisse os aspectos
arquitetônicos de uma habitação às vertentes sociais intrínsecas no ato de morar, através de
textos relacionados também à sociologia. O enfoque inicial se deu sobre os escritos de Alberto
Melucci, através dos quais pudemos associar a sustentabilidade à habitação de interesse
social, por meio do conceito de “redes de solidariedade”.
- Pesquisa Empírica: a etapa de empiria será o principal meio de comparação entre a
situação em que viviam os moradores da “Vila das Placas” e a atual. Inicialmente, a pesquisa
empírica realizar-se-á de maneira informal, através de conversas com os líder da ONG
Integração dos Anjos e da Associação de Moradores, para uma primeira obtenção de dados
referenciais, e com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS e da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, para a elaboração de questionários. Após,
aplicaremos às famílias de moradores questionários quantitativos, que abordarão aspectos
sociais, e qualitativos, a respeito também de questões arquitetônicas. Para a análise da atuação
dos movimentos sociais urbanos imbricados na Comunidade do Condomínio, elaboraremos
roteiros para entrevistas semi-estruturadas, as quais serão aplicadas aos líderes comunitários e
membros das “redes de solidariedade”.
A interdisciplinaridade do conhecimento é contemplada nessa pesquisa, por unir
alunos e professores das Ciências Sociais e de Arquitetura e Urbanismo, permitindo assim que
possamos fazer uma análise complexa e radical da habitação de interesse social e dos
movimentos sociais urbanos, sob a ótica da sustentabilidade.
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Resultados
- Difusão dos aspectos sociais da sustentabilidade;
- Aproximação do meio acadêmico ao seu contexto regional (Porto Alegre);
- Avaliação da relação entre participação popular e melhoria da qualidade de vida;
- Caracterização de um panorama qualificativo do espaço das habitações de interesse
social do Condomínio dos Anjos, com a finalidade de atender a atuais e futuras demandas da
Comunidade;
- Abertura de canais de interlocução entre outras comunidades e a Academia, tomando
como base o projeto aqui apresentado.
Conclusão
A nova cidadania tanto se constitui na obrigação política vertical entre os
cidadãos e o Estado, como na obrigação política horizontal entre os
cidadãos. Com isso, revaloriza-se o princípio da comunidade e, com ele, a
idéia da igualdade sem mesmidade, a idéia de autonomia e a idéia de
solidariedade.
(SANTOS, 1997, p.277)
O trabalho, de característica eminentemente interdisciplinar, procurou analisar os
movimentos sociais relacionados com aspectos técnicos arquitetônicos em habitações de
interesse social, tomando como estudo de caso o Condomínio dos Anjos, em Porto Alegre.
Essa experiência de atividade, em que o conhecimento acadêmico se insere
diretamente na comunidade, propiciou diversas reflexões acerca da importância no
estabelecimento de um diálogo entre a técnica produzida nas universidades e a percepção
deflagrada na constatação do senso comum observado na comunidade pesquisada. Cabe
ressaltar aqui que o senso comum, neste caso, não adquire de forma alguma uma conotação
que muitas vezes dele se utiliza como pejorativa, e sim é contemplado como um elemento
cada vez mais necessário para o aprofundamento dos estudos da técnica na universidade.
É nesse contexto que uma técnica asséptica é ultrapassada por uma técnica impregnada
de fatores subjetivos e humanitários, que realizam, portanto, seu objetivo maior:
instrumentalizar o conhecimento científico nas dimensões técnica, estética, política e ética de
sua concepção.
A relação dialógica experimentada por professores, estudantes e membros da
comunidade pesquisada permite-nos considerar que a possibilidade da utilização do
conhecimento como forma de emancipação do ser é fundamental na evolução para uma
sociedade mais humanitária e justa.
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Referências
BRUNEL, C. e DILIGENTI, M., Uma proposta popular: tempo espaço e sociedade. Retos de la razón
práctica. Barcelona: UB, 2002.
BRUNEL, C. e DILIGENTI, M., Condomínio dos Anjos: a história de uma conquista In: ANPED/SUL,
Porto Alegre. ANAIS ANPED/SUL 2000. Porto Alegre: UFRGS, 2000.
MELUCCI, A., A experiência individual na sociedade planetária. Lua Nova, revista de cultura e política nº38,
1996.
MELUCCI, A., A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Rio de Janeiro:
Vozes, 2001.
MINAYO, M. C., O desafio do conhecimento. São Paulo: HUCITEC, 2000.
SANTOS, B. S., Pela mão de Alice: o Social e o Político na Pós-Modernidade. São Paulo: CORTEZ, 1997.
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