Cidade Nutrição Os alimentos que mais causam alergia Leite de vaca, ovo, trigo, frutos do mar e amendoim são algumas das comidas que mais desencadeiam reações alérgicas Veja Saúde A alergia alimentar é uma reação anormal do nosso organismo a alguma proteína presente na comida. O problema ocorre quando o corpo identifica como uma ameaça substâncias que, na verdade, não causam doenças, iniciando uma resposta imune para combatê-las. Segundo uma revisão de estudos publicada em 2014 no periódico Current Opinion in Pediatrics, leite de vaca, soja, amendoim, ovo, castanhas, trigo, peixes e frutos do mar são os alimentos responsáveis por 90% das alergias. Em contato com o agente agressor, o organismo cria um processo inflamatório que produz quantidades excessivas de anticorpos do tipo IgE. As reações mais comuns desencadeadas pelos anticorpos acontecem na pele e se manifestam como coceiras, urticária (manchas vermelhas na pele) e angioedema (inchaço das partes moles). Também podem aparecer sintomas gastrointestinais, como vômito, dor abdominal e diarreia ou sintomas respiratórios, caracterizados por coceira no nariz, espirro, tosse, falta de ar e chiado no peito. Ariana Yang, diretora da Regional São Paulo da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) explica que quando há manifestação clínica de reação alérgica em dois sistemas simultaneamente, por exemplo, urticária e vômito, isso é considerada uma reação grave ou anafilática e exige uma ida ao hospital ou a aplicação de adrenalina. “Os sintomas respiratórios também são um alerta para uma reação alérgica grave, pois não são comuns em alergias alimentares, e demandam uma ação imediata”. “As alergias alimentares da infância tendem a desaparecer conforme a criança cresce. Já aquelas que aparecem na fase adulta tendem a ser mais graves e irreversíveis”, afirma o nutrólogo Celso Cukier, presidente do Instituto de Metabolismo e Nutrição. De acordo com Cukier, o único modo de saber se uma pessoa é alérgica a um alimento é observar os sintomas que manifestados quando a comida é ingerida. Exames sanguíneos que apontam alimentos aos quais uma pessoa pode ter sensibilidade são dispensáveis, pois não indicam que, necessariamente, o indivíduo desenvolverá uma alergia. “Nosso corpo tem mecanismos de defesa, principalmente no trato gastrintestinal, que impedem a penetração do agente alérgeno”, diz. A melhor forma de tratar uma alergia alimentar é, uma vez constatado o quadro alérgico, não voltar a ingerir o alimento e seus derivados. Em caso de reação simples, como manifestações cutâneas, o alérgico pode tomar um anti-histamínico, popularmente conhecido como antialérgico. Se a reação for grave - anafilática, manifestações clínicas do sistema respiratório, cardiovascular (tontura e desmaio) ou fechamento da glote - o paciente deve ser imediatamente levado ao hospital. Mudança de hábitos De acordo com José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, nos últimos quatro anos houve uma mudança no perfil da prevalência das alergias alimentares no Brasil. Aumentaram os casos de pessoas alérgicas a aditivos alimentares (compostos presentes em alimentos industrializados), amendoim, milho, gergelim e frutas tropicais (banana, mamão, kiwi), que não eram muito comuns no país. “Ainda não existem motivos comprovados que expliquem essa mudanças, mas supõe-se que se deva a mudanças nos hábitos alimentares, dietas repetitivas ou muito restritivas, menor contato com a natureza e maior ingestão de alimentos industrializados”. Leite A alergia à caseína, proteína do leite, é mais comum em crianças e, nestes casos, tende a desaparecer com o passar dos anos. Quem tem alergia ao leite de vaca também terá reação a seus derivados, como iogurte, queijo ou a qualquer produto que leve este item em sua composição, como o chocolate. Ariana Yang, diretora da Regional São Paulo da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, ressalta que a falta do leite pode causar um déficit nutricional de cálcio, podendo afetar ossos e dentes. Por isso, os alérgicos a leite precisam ingerir outros alimentos ricos em cálcio como tofu e brócolis, além de tomar suplementos do mineral. José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, lembra que é importante não confundir a alergia ao leite (à proteína caseína) com a intolerância à lactose, o açúcar do leite. “Intolerância é um fenômeno metabólico, no qual o corpo não digere determinados alimentos e que acompanhará a pessoa por toda sua vida. Pessoas intolerantes à lactose não possuem a lactase, enzima que digere a lactose”, explica. Os sintomas da intolerância à lactose são: distensão abdominal, gases, cólicas, vômito e diarreia. Para evitar que uma reação ocorra basta que a pessoa não consuma alimentos com essa substância. Ovo A alergia ao ovo é o segundo tipo mais comum. O problema deste alimento são duas proteínas: a ovalbumina e a ovomucoide, presentes na clara. Ariana ressalta que o alérgico não pode ingerir nenhuma parte do ovo, já que no alimento há um contato direto entre a gema e clara. Também é importante estar atento ao rótulo e à composição dos alimentos, pois a albumina é frequentemente usada isoladamente em marshmallows, comidas congeladas e outras misturas para alimentos. Frutos do mar, crustáceos e moluscos Estes alimentos são a principal causa de alergia alimentar em adultos. Isso acontece porque estes alimentos contêm muitas proteínas diferentes que podem desencadear as reações do organismo. No entanto, acredita-se que a principal responsável pelas reações alérgicas a crustáceos e frutos do mar é a tropomiosina. No Brasil, esse tipo de alergia é comum em regiões litorâneas, pois são itens da dieta de quem mora nesses lugares. De acordo com Ariana, o camarão é a principal causa de reação alérgica grave (anafilática) no Brasil. As pessoas que têm alergia confirmada a algum destes alimentos, como camarão, precisam tomar cuidado ao ingerir outros crustáceos (caranguejo, lagosta) e moluscos (ostra, polvo, mexilhão), pois há uma grande probabilidade de ser alérgica também a eles, devido à presença da mesma proteína em todos esses animais. Amendoim O amendoim é um alimento rico em proteína — a cada 100 gramas de amendoim, 27 gramas são de proteína. Por esse motivo, causa muitas alergias. Estudos apontam que a cupina e a conglutinina são as principais proteínas do amendoim responsáveis pelasreações alérgicas. A alergia ao amendoim é a mais incidente nos Estados Unidos, principalmente em crianças, pois este alimento está muito presente na dieta dos americanos. No entanto, nos últimos três anos, sua prevalência tem aumentado também no Brasil. Perini atribui este fato à mudança nos hábitos alimentares da população, que tem ingerido maiores quantidades dessa oleaginosa. Um estudo divulgado neste ano no periódico ‘New England Journal of Medicine’ afirma que, ao contrário do que se acredita, se você quer que seu filho não desenvolva alergia a amendoim, é preciso começar a dar o alimento a ele a partir dos onze meses de idade. Crianças que comem amendoim com frequência são as que menos desenvolvem alergia. Ser alérgico ao amendoim não significa ser alérgico a outras oleaginosas como castanhas, nozes e amêndoas. Entretanto, por também possuírem altas quantidades de proteínas, estes frutos precisam ser consumidos com atenção, principalmente por quem tem predisposição a ter reações alérgicas a algum desses alimentos. Trigo Ao contrário do que se acredita, a alergia ao trigo não está relacionada ao glúten. O sistema imunológico dos alérgicos ao trigo identifica a proteína gliadina como o componente que poderia prejudicá-lo e passa a enviar anticorpos para combatê-la. Por isso, é preciso estar atento ao rótulo e aos ingredientes dos alimentos, pois pães, bolos, cereais, macarrão, farinha, entre outros contêm o grão. Quem é alérgico ao trigo não apresentará, necessariamente, reação à cevada, à aveia ou ao centeio. São os celíacos, que apresentam intolerância ao glúten, uma proteína de difícil digestão presente nesses alimentos, que não podem ingeri-los. Anápolis, de 10 a 16 de abril de 2015 17