A AVALIAÇÃO COMO UMA PODEROSA ALIADA DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM PARA SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Érika Aparecida Savarego (Faceq) RESUMO O presente trabalho apresenta uma análise sobre Avaliação da Aprendizagem, seus conceitos, histórico e função social. Com o intuito de investigar qual o conceito dos professores da rede municipal de ensino da cidade de Itapevi sobre a importância da avaliação nas séries iniciais do ensino fundamental, foi desenvolvida pesquisa de campo que contou com observações da prática docente nas salas de aula, questionários e entrevista com a Supervisora de Ensino do Núcleo de Apoio Pedagógico da Secretaria de Educação e Cultura de Itapevi. Apoiado em concepções teóricas de Jussara Hoffmann, Cipriano Carlos Luckesi, Regina Cazaux Haydt, entre outros, o trabalho propõe reflexões analíticas sobre as práticas docentes e a avaliação da aprendizagem, considerando formação adequada dos professores, o caráter disciplinador da avaliação e as exigências do sistema educacional. Palavras chave: Avaliação. Aprendizagem. Prática docente. ABSTRACT This study presents an analysis on the Assessment of Learning, its concepts, historical and social function. In order to investigate how the concept of teachers of municipal schools of the city of Itapevi about the importance of evaluation in the early grades of elementary education, field research was developed which included observations of teaching practice in classrooms, questionnaires and interview with the Supervisor of Education at the Center for Trabalho de conclusão do curso de Pedagogia da Faceq, orientado pela prof. Dra. Maria Clara Saboya. Pedagoga pela Faculdade Eça de Queirós. Email: [email protected] 1 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Educational Support of the Department of Education and Culture Itapevi. Supported by theoretical conceptions of Jussara Hoffmann, Cipriano Carlos Luckesi, Regina Cazaux Haydt, among others, the paper proposes analytical reflections on teaching practices and assessment of learning, given proper training of teachers, disciplinary assessment and the requirements of the educational system. Keywords: Evaluation. Learning. Teaching practices. INTRODUÇÃO O processo ensino-aprendizagem configura-se em algo intrigante e envolvente que há muito tempo desperta interesse dos pesquisadores da área da educação. Aprender é uma potencialidade do ser humano. Ensinar é propiciar o desenvolvimento desta potencialidade, intelectual, psicológica e moralmente, fornecendo aos aprendizes situações planejadas de modo que possam viver as experiências necessárias para produzir neles as modificações desejadas, de uma maneira, mais ou menos estável, porém crescente. Para tanto, o educador precisa utilizar-se de ferramentas que possibilitem um bom trabalho. A avaliação é uma destas ferramentas, senão a mais importante, pois através dela o professor consegue direcionar o processo ensino-aprendizagem de forma a alcançar os objetivos propostos. Durante estágio supervisionado nos módulos de observação e regência, realizado numa escola da Rede Municipal de Ensino de Itapevi, em março de 2010, acompanhei professores com mais de 10 anos de docência, sem atualização profissional, descrentes de uma educação inovadora, e pude perceber que a maioria apenas reproduz aquilo que aprendeu durante sua formação acadêmica e que não questionam o sistema por acreditarem na impossibilidade de mudanças, de melhorias, de crescimento. Com esta mentalidade, trabalham com uma avaliação classificatória, seletiva e excludente, sob a orientação de uma coordenação e direção pedagógica que compartilham desta mesma concepção tradicionalista. Este fato trouxe à tona uma grande preocupação: qual a concepção dos educadores sobre a função da avaliação para o processo ensino-aprendizagem? Desta, surgiram os seguintes problemas de pesquisa: a) Os professores apresentam uma formação adequada para trabalhar com a avaliação em prol da aprendizagem? ; b) A avaliação ainda é vista como 2 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br disciplinadora e classificatória? ; c) Os professores avaliam apenas para cumprir exigências do sistema educacional em conceituar o aprendiz e responder aos anseios da sociedade? Considerando a avaliação escolar de suma importância para a efetivação da aprendizagem, surge então a hipótese de que a avaliação pode ser uma poderosa aliada do processo ensino-aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental. Baseado nesta pressuposição, este trabalho apresenta-se em caráter investigativo da questão. CONCEITO DE AVALIAÇÃO A avaliação do rendimento escolar é um importante instrumento para o trabalho docente, através dela é possível verificar o desenvolvimento dos alunos e refletir sobre a eficácia do ensino. “Ensinar e aprender são dois verbos indissociáveis, duas faces da mesma moeda. Ao avaliar seus alunos, o professor está, também, avaliando seu próprio trabalho”. (Haydt, 2008, p. 07). Renomados teóricos do assunto definem o processo de avaliação de acordo com a postura filosófica adotadas por eles. Ralph Tyler (1978), diz que: O processo de avaliação consiste essencialmente em determinar em que medida os objetivos educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa do currículo e do ensino. Como os objetivos educacionais são essencialmente mudanças em seres humanos, a avaliação é o processo mediante o qual se determina o grau em que essas mudanças de comportamento estão realmente ocorrendo. (TYLER, 1978, p. 99) A esta definição de Tyler sobre o processo de avaliação, Jussara Hoffmann (2007) comenta em seu livro “Avaliação, mito & desafio”, sobre a influência dessa teoria educacional no Brasil na década de 60, que foi amplamente divulgada com a proposta conhecida como “avaliação por objetivos”, e que esta proposta passou a ser referencial teórico básico nos cursos de formação de professores, causando até hoje grande e duradoura repercussão nos meios educacionais. A autora classifica essa definição como “concepção reducionista do termo avaliação” e comenta: Embora esse enfoque tenha recebido sérias críticas de muitos outros teóricos da avaliação, o que se percebe é que essas críticas e os modelos contemporâneos não foram decisivos para a derrubada dessa concepção, sedimentada fortemente na ação das escolas e universidades, em documentos de órgãos oficiais da educação, em publicação na área de avaliação. (HOFFMANN, 2007. p. 33-34) 3 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br O que Jussara Hoffmann (2007) quis dizer com essa observação é que até hoje trabalhamos com a avaliação no enfoque de objetivos relacionados a conteúdos programáticos estabelecidos no início de cada etapa do processo educacional e assim utilizamo-nos de instrumentos avaliativos que nos servem de verificação de critérios de análise de desempenho final. Para Michael Scriven (1978), a avaliação é: Uma atividade metodológica que consiste na coleta e na combinação de dados relativos ao desempenho, usando um conjunto ponderado de escalas de critérios que leve a classificação comparativas ou numéricas, e na justificação: a) dos instrumentos e coleta de dados; b) das ponderações; c) da seleção de critérios. (SCRIVEN, 1978, p. 53). Daniel Stufflebeam (1978), diz que “a avaliação é o processo de delinear, obter e fornecer informações úteis para o julgamento de decisões alternativas”. (STUFFLEBEAM apud HAYDT, 2008, p. 12) Embora Scriven e Sttufflebeam (1978), tenham elaborado suas teorias em função da avaliação de currículo, seus conceitos podem ser entendidos à avaliação do processo ensinoaprendizagem. Benjamim S. Bloom, Thomas Hastings e George Madaus (1983) apresentam a avaliação numa concepção mais abrangente. No seu conceito, a avaliação é um método, um instrumento; portanto ela não tem um fim em si mesma, mas é sempre um meio, um recurso, e como tal deve ser usada. Nessa abordagem os autores dão ênfase especial à avaliação como forma de controle de qualidade, isto é, como um meio para aperfeiçoar o processo ensinoaprendizagem. Segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), o objetivo da avaliação é o de adquirir e processar evidências necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem, incluindo uma grande variedade de evidências que vão além do exame usual de papel e lápis. É ainda um auxílio para classificar os objetivos significativos e as metas educacionais, um processo para determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade, pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo ensino-aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em caso negativo, que mudanças devem ser feitas para garantir sua efetividade. A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou aptidões os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do ensino já atingiram num determinado ponto do percurso e que dificuldades estão a revelar relativamente a outros. Esta informação é necessária ao professor 4 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br para procurar meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver essas dificuldades e é necessária aos alunos se aperceberem delas (não podem os alunos identificar claramente as suas próprias dificuldades num campo que desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem uma intenção formativa. A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e características no campo da Psicologia, sendo que as duas primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo desenvolvimento de testes padronizados para medir as habilidades e aptidões dos alunos. De âmbito mais vasto e conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação indispensável em qualquer sistema escolar. Havendo sempre, no processo de ensinoaprendizagem, um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio errado. É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é necessária a professores e alunos. Para Haydt (2008) a avaliação apresenta basicamente três funções: diagnosticar (avaliação diagnóstica) controlar (avaliação formativa) e classificar (avaliação somativa). Essas três formas de avaliação estão intimamente vinculadas para garantir e eficiência do sistema de avaliação e a eficácia do processo ensino-aprendizagem. Nas concepções tradicionais, o ato de avaliar apresentava caráter seletivo, classificatório e excludente, uma vez que era vista apenas como uma forma de classificar e promov er o aluno de uma série para outra, de um grau a outro. Para Haydt (2008), atualmente, as concepções educacionais exigem que a avaliação seja fator indissociável do processo ensino-aprendizado e para tanto têm que acompanhar seus fundamentos e princípios. A avaliação hoje assume novas funções, de dimensões orientadoras, pois propõem diagnosticar e verificar em que medida os objetivos propostos estão sendo ou não atingidos. De acordo com a LDB 9394/96, artigo 24, inciso V, a verificação do rendimento escolar deve observar os seguintes critérios: a) a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre eventuais provas finais; 5 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus rendimentos. Apesar de tantos estudos a respeito da avaliação da aprendizagem e das leis que às parametram (mesmo que superficialmente), fica a critério da prática docente sua realização e aproveitamento. A avaliação continua apoiada em bases tradicionalistas fortemente enraizadas nas práticas educacionais, pois assim exige o nosso sistema educacional, pois é assim que dele exige nossa atual sociedade. Sobre este aspecto, Jussara Hoffmann (2004) comenta que ao avaliar os alunos, o professor ainda se sente muito compromissado em responder à sociedade, à escola, aos pais, ao próprio aluno e para ele próprio (professor), se o aluno aprende ou não. Juan Manuel Álvarez Ménzez (2005), em entrevista para a Revista Pátio, faz a seguinte observação sobre o ato de avaliar: “A avaliação é um processo natural, que nos permite ter consciência do que fazemos, da qualidade do que fazemos e das consequências que acarretam nossas ações”. (MÉNDEZ, 2005. p. 24) A QUESTÃO SÓCIO-CULTURAL ESCOLAR E A AVALIAÇÃO Considerando o ser humano como uma totalidade afetiva, cognitiva, social e motoracorporal, há de se pensar em uma avaliação que abranja todos estes aspectos. Uma avaliação que visa apenas classificar os alunos não contribui para o desenvolvimento e pouco ou quase nada auxilia na aprendizagem. O educando como sujeito humano é histórico; contudo, julgado e classificado, ele ficará, para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente definidos. (LUCKESI, 1996, p. 35) Não podemos negar a existência de uma expectativa social muito grande em torno do desenvolvimento dos alunos, que esperam sempre um rendimento escolar satisfatório. Porém esta satisfação tem que vir ao encontro dos parâmetros pré-estabelecidos pela sociedade: os 6 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br melhores alunos, aqueles que conseguem as melhores notas, as melhores classificações, os melhores rendimentos recebem como recompensa as melhores colocações nos vestibulares, os melhores empregos, as melhores oportunidades. A avaliação da aprendizagem no Brasil, de forma generalizada, serve a um modelo social dominante, denominado como modelo liberal conservador. Deste modelo liberal, surgiram três correntes pedagógicas distintas, mas relacionadas entre si por compartilharem de um mesmo objetivo: manter o modelo social dominante. Essas três pedagogias são: a Pedagogia Tradicional, que é centrada no intelecto, na transmissão de conteúdo e na pessoa do professor; a Pedagogia Escolanovista, centrada nos sentimentos, na espontaneidade da produção do conhecimento e no educando com suas diferenças individuais; e por último, a Pedagogia Tecnicista, centrada na exacerbação dos meios técnicos de transmissão e apreensão de conteúdos e no princípio do rendimento. Todas essas pedagogias são traduções do modelo liberal conservador de nossa sociedade, que tentam traduzir sem o conseguir, uma equalização social, onde os cidadãos são formalmente considerados como iguais e livres para alcançar seus objetivos. Nossa Constituição Federal prevê e garante aos cidadãos os direitos de igualdade e liberdade perante a lei. Todo e qualquer indivíduo pode e deve com seu próprio esforço, buscar sua auto-realização pessoal por meio da conquista e do usufruto da propriedade privada e de seus bens inclusive, os educacionais. A desejada e legalmente definida equalização social não pode ser atingida, porque o modelo social não o permite. A equalização social só poderia ocorrer num outro modelo social [...] O modelo social conservador e suas pedagogias respectivas permitem e procedem renovações internas ao sistema, mas não propõem e nem permitem propostas para sua superação, o que, de certa forma, seria um contra-senso. (LUCKESI, 2010, p. 30) Traduzindo, o modelo social dominante age de tal forma que através da educação, os modelos pedagógicos apresentam-se de maneira a manter inabalável esta estrutura social. No entanto, apesar destes contextos históricos culturais nortearem até hoje nossa estrutura educacional, podemos ainda apoiar nossas esperanças em visões inovadoras, que começam após anos de luta, ganhar força entre a classe social dominada. Estudos e trabalhos como os de Paulo Freire, nos trazem esta esperança e coragem de lutar por mudanças ainda mais significativas do que as que já conquistamos. Podemos contar com uma Pedagogia Libertadora, que consiste na emancipação das classes populares através de um processo de conscientização cultural e política que vão além dos muros da escola. 7 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Recentemente, está se formulando em nosso meio a chamada Pedagogia dos Conteúdos Sócioculturais, representada pelo grupo do Professor Demerval Saviani, centrada na ideia de igualdade, de oportunidade para todos no processo de educação e na compreensão de que a prática educacional se faz pela transmissão e assimilação de conteúdos de conhecimentos sistematizados pela humanidade e na aquisição de habilidades de assimilação e transformação desses conteúdos, no contexto de uma prática social (LUCKESI, 2010, p. 31) Comparando estas correntes pedagógicas, é possível selecioná-las em dois grupos: o primeiro pretende conservar o modelo social dominante que tem como objetivo “domesticar” os educandos e o segundo pretende modificar o modelo social, tendo como objetivo “humanizar” os educandos. Esses dois grupos de pedagogias exigem duas práticas diferentes de avaliação educacional e de avaliação de aprendizagem. Dentro do modelo liberal conservador, a prática da avaliação escolar: Será sempre autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa perspectiva de sociedade que exige controle e enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social. A avaliação educacional será, assim, um instrumento disciplinador não só das condutas cognitivas como também das sociais, no contexto da escola. (LUCKESI, 2010, p. 32) Ao contrário, a prática da avaliação nas pedagogias humanistas, será sempre preocupada com a transformação social, superando o autoritarismo e trabalhando em prol do desenvolvimento da autonomia do educando, pois este modelo de educação exige a participação democrática de todos os agentes envolvidos no processo. Nesse contexto a avaliação assume caráter diagnóstico da situação e tem em vista o avanço e o crescimento do aprendizado e não a estagnação disciplinadora. O que se pretende com a análise do quadro da questão sócio-cultural escolar e seus efeitos no ato de avaliar é propor reflexões construtivas sobre as ações pedagógicas cotidianas. No contexto escolar a questão sócio-cultural deve-se apresentar de forma mais ampla, tendo como objetivo não só os resultados alcançados pelos alunos como também, e principalmente, considerar o trajeto percorrido em relação à aprendizagem dos conteúdos programáticos. Para isso é necessário que se tenha consciência de que: A medida, em educação, deve resguardar o significado de um indicador de acertos e erros. Esse indicador passa a adquirir sentido, a partir da interpretação pelo professor do que ele verdadeiramente representa quanto à produção de conhecimento pelo aluno. A quantificação não é absolutamente indispensável e muito menos essencial à avaliação. Consiste em uma ferramenta de trabalho útil, somente, se assim for compreendida. (HOFFMANN, 1995, p.94) 8 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br A instituição escolar, seja ela pública ou privada, é responsável por grande parte da formação cidadã de um indivíduo, portanto responsável por inseri-lo socialmente, observando sempre que será ela também a grande responsável (ou a maior responsabilizada) pela exclusão social deste mesmo indivíduo. Com isso, se justifica a importância de se estabelecer nas escolas projetos e propostas pedagógicas coerentes com o contexto social onde estão inseridas com vistas em melhorias e/ou mudanças significativas que propiciem crescimento educacional, cultural e social. Todo projeto escolar deve estabelecer com clareza, uma proposta filosófica de educação; uma proposta pedagógica coerente com os pressupostos filosóficos; uma proposta metodológica que viabilize a consecução uma proposta curricular, que por sua vez, deve ser determinada, considerando os aspectos filosóficos, pedagógicos e metodológicos assumidos, para que, finalmente, seja possível estabelecer uma proposta de avaliação condizente com todo o projeto da escola. Sabemos, porém, que os programas de ensino escolares, principalmente os da rede pública de ensino, estão baseados em sugestões oficiais de Secretarias de Educação, mas que deveriam ser diferenciados pelas necessidades específicas de cada unidade escolar, considerando-se em primeiro lugar, o contexto sócio-político-cultural de onde se insere a escola. É nesse ponto que o Projeto Político Pedagógico Escolar se faz necessário e imprescindível e que, apesar de sua obrigatoriedade, nem todas as unidades escolares têm consciência de sua importância e não o desenvolvem, ficando muitas vezes presas às margens do conforto e da segurança apoiando-se apenas nos PDE’s (PLANOS DE DESENVOLVIMENTO ESCOLARES) concedidos pelas Secretarias de Ensino Municipais e/ou Estaduais para as quais respondem sobre suas ações. Agindo assim, essas unidades escolares somente comprovam que estão à mercê de modelos sociais pré-estabelecidos e que não se dão conta de sua responsabilidade para as tão necessárias e almejadas mudanças para o nosso atual quadro social. HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO A pedagogia jesuítica, em suas normas para orientação dos estudos das escolas, definiam com rigidez os procedimentos a serem levados em conta no ensino eficiente, preferenciando provas e exames. 9 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br A pedagogia Comeniana desenvolveu-se insistindo na atenção especial que se deve dar à educação como centro de interesse da ação do professor, mas não abstrai também do uso dos exames como meio de estimular os alunos ao trabalho intelectual da aprendizagem. Segundo Luckesi (2010), Comenius dizia que o aluno não deixaria de se preparar para os exames finais do curso superior se soubesse que o exame para colocação de grau seria “pra valer”. Nessa concepção o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos, então, os mesmos aprenderiam facilmente, sem fadiga, em menos tempo. Estamos mergulhados nos processos econômicos, sociais e políticos sob a hegemonia da pedagogia tradicional da sociedade burguesa que insurgiu e enraizou-se traduzindo a sua essência. Com o passar do tempo, a sociedade burguesa melhorou seus mecanismos de controle destacando a seletividade escolar e seus processos de formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche são mecanismos indispensáveis numa sociedade que opera nos subterfúgios. Para Luckesi (2010), ao longo da história de educação moderna e de nossa prática educativa, a avaliação da aprendizagem escolar por meio de exames e provas foi se tornando um fetiche ganhando foros de independência da relação professor-aluno. As provas e os exames são realizados conforme o sistema de ensino e o interesse do professor. Muitas vezes, não considerando o que foi ensinado como se nada tivesse a ver com a aprendizagem. O medo é um fator importante no processo de controle social, pois gera a dependência, modos permanentes e petrificação de ações. No Brasil a avaliação da aprendizagem está a serviço de uma pedagogia dominante que serve a um modelo social dominante, podendo ser identificado como social liberal conservador, originado da estratificação dos empreendimentos transformadores que culminou na Revolução Francesa. As pedagogias hegemônicas, que se definiram historicamente nos períodos subseqüentes à Revolução, estiveram e ainda estão a serviço desse modelo social. Concomitantemente, aprendizagem em a específico, avaliação contextualizada educacional dentro em dessas geral pedagogias e a estão instrumentalizadas pelo mesmo entendimento teórico-prático da sociedade. A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, obrigatoriamente será autoritária, exigindo controle dos indivíduos, seja pela utilização de coações explícitas ou por diversas propagandas de modalidades ideológicas. 10 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Com a intenção de melhorar o quadro atual da situação educacional brasileira, a nova reforma proposta a partir da Lei 9394/96 fundamenta-se num processo de avaliação como garantia de qualidade do ensino. O artigo 9º, Titulo IV da referida Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional diz que: A União incubuir-se-à de: Inciso VI – Assegurar processo nacional de avaliação de rendimento do Ensino Fundamental, Médio e Superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria de qualidade do ensino. Inciso VIII – Assegurar o processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidades sobre esse nível de ensino. (LDB, 2010. p. 13) Através de avaliações padronizadas no território nacional, a lei faz constar a necessidade de verificação da qualidade do ensino-aprendizagem, onde os dados obtidos apresentam-se como instrumentos importantes para repensar a prática pedagógica e orientar as políticas educacionais do país. Essas padronizações não se adéquam a realidade históricocultural da educação em nível nacional, considerando que existem vários “Brasis” dentro de um mesmo Brasil, avaliações como PROVÃO, SARESP, ENEM E SAEB comprovam essa falta de adequação a realidades regionais e culturais que deveriam ser respeitadas no ato avaliativo a que se destinam. A esse respeito, comenta Frank Carvalho Viana (2002) em artigo publicado na revista das Faculdades Hoyler de Pedagogia e Letras, que ao utilizar sistemas como SAEB, SARESP, ENEM e PROVÃO para definir parâmetros educacionais de avaliação e verificar a execução de seus objetivos, está se implantando, no Brasil, uma cultura avaliativa com muitos anos de atraso em relação ao que é uma tendência presente na Europa e nos Estados Unidos, desde o início do século XX. A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA AVALIATIVA Segundo Silva (1999), o primeiro curso superior de formação de docentes foi criado em 1935, quando a Escola de Professores, foi incorporada à Universidade do Distrito Federal. Esta Faculdade de Educação passou então, a conceder licença magistral para aqueles que obtivessem na universidade uma licença cultural. A partir desse evento, o curso de formação de docentes passou por quatro períodos de desenvolvimento até os dias de hoje. 11 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br O primeiro período que vai de 1939 a 1972, foi considerado período das regulamentações, pois nele o então Conselheiro Nacional da Educação Valnir Chagas, lança decretos na tentativa de definir o curso para os profissionais egressos. O segundo período, de 1973 a 1978, denominado período das indicações, segundo Silva (1999), desdobrava o curso em variadas alternativas de habilitações, que posteriormente passou a chamar de licenciaturas das áreas pedagógicas. O terceiro período é marcado por movimentos sociais em defesa do Pedagogo, acontece entre 1979 e 1998 e é denominado por Silva (1999) de período da identidade em discussão. Tal qual a denominação, este período pode ser considerado um dos mais importantes, uma vez que une professores e universitários numa luta em busca de uma definição de identidade para o curso de Pedagogia. Essa trajetória do curso de Pedagogia merece destaque, uma vez que professores e estudantes se organizam e passam a constituir um movimento para resistir às reformas em um contexto de luta contra a ditadura imposta pelo regime militar, em um primeiro momento e de elaboração de propostas no anúncio de redemocratização instalado, em um segundo momento, pelo fim daquele regime. Segundo Silva (1999), o quarto período é denominado período dos decretos: identidade outorgada, neste período as discussões se acirram em torno do decreto presidencial N° 3.276, de 6 de dezembro de 1999 que define que a formação de professores para Séries Iniciais deve ser realizada exclusivamente nos cursos normais superiores. Novamente a comunidade acadêmica se organiza para resistir a tal decreto, e o governo não vê outra saída se não colocar outro decreto para “consertar” o anterior, em agosto de 2000, vem, então, o decreto lei n. 3.554 que substitui o “exclusivamente” por “preferencialmente”. O curso de Pedagogia recuperou assim a sua função como licenciatura, mas de forma secundarizada. O estrago, no entanto já estava feito. As entidades já estavam se mobilizando para revogar as duas leis. Em fevereiro de 2001, é elaborado outro documento por uma nova Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia, em que a formação do pedagogo desdobrava-se em duas alternativas, com projetos acadêmicos distintos, sendo que em qualquer um deles a docência é indicada como base da organização curricular e, consequentemente, de sua identidade. Com a regulamentação das Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia através da Resolução CNE/SP Nº 01 de 16/05/2006 o conceito de docência foi ampliado, extingue-se 12 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br as habilitações e entra em vigor a Licenciatura Plena, e fica enfim, definida uma grade curricular para o curso: As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio de modalidade Normal e com cursos de Educação Profissional, na área de serviços de apoio escolar, bem como outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação oferecida abrangerá, integralmente a docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas de instituições de ensino geral, e a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas. (DCN, 2006, p. 6) Durante todo esse processo de luta pela identidade do curso de Pedagogia (mais de 70 anos), foram sendo formados muitos pedagogos que ficaram carentes de identidade e de especificações de suas funções. Neste ínterim, muitos professores ficaram defasados em relação às novas propostas e correntes pedagógicas que surgiram nos últimos anos. Justifica-se então a necessidade da formação continuada por todos aqueles que pretendem seguir ou seguem carreira docente. A AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DISCIPLINADOR A postura disciplinadora que muitos professores impõem à avaliação é um dos grandes medos e frustrações da vida escolar de muitos alunos. É comum observarmos o estado de nervosismo que os alunos ficam em época de provas. Este nervosismo justifica-se, pois já é uma cultura enraizada pelos educadores em usar a avaliação como instrumento de controle e disciplina. Quem nunca ouviu um professor dizer: “estudem, prestem atenção às explicações, no dia da prova eu quero ver, muitos vão se dar mal!”. Este tipo de postura é mais comum do que se possa imaginar, e mais antiga do que gostaríamos que fosse. A utilização das provas como ameaça aos alunos, por si, não tem nada a ver com o significado dos conteúdos escolares, mas sim, como disciplinamento social dos educandos sob a égide do medo. (LUCKESI, 2010, p. 21-22) Cipriano Carlos Luckesi (1990) define bem o caráter disciplinar que as provas e exames escolares assumem e explica que esses fatos não se dão por acaso. “Tais práticas já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, no processo de emergência e cristalização da sociedade burguesa, e perduram ainda hoje”. (LUCKESI, 1990, p. 22). 13 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br A avaliação da aprendizagem tem assumido papel ameaçador, através do medo que o educando sente em ser avaliado e não se sair bem, alguns educadores utilizam-se deste instrumento como objeto de castigo, de punição sutil e silenciosa, mas que causa danos psicológicos irreversíveis. A este respeito comenta Luckesi: O medo é um fator importante no processo de controle social. Internalizado, é um excelente freio às ações que são supostamente indesejáveis. Daí, o Estado, a Igreja, a família e a escola utilizarem-se dele de forma exacerbada. (LUCKESI, 2010, p. 24). Com esta definição do medo como controle social, o autor nos traz reflexões sobre o tipo de influência psicológica que exercemos sobre nossos alunos quando nos utilizamos deste tipo de ameaça. É necessário que o educador tenha claro em sua mente que, pelo simples fato dele ser o adulto, ser o condutor das atividades, o orientador do trabalho, ele já exerce uma posição hierárquica sobre o educando e que seu posicionamento, sua postura, suas atitudes é que irão determinar o nível de confiança e respeito neste relacionamento. A AVALIAÇÃO E AS EXIGÊNCIAS DO SISTEMA EDUCACIONAL A obrigatoriedade de mensuração de resultados é um dos grandes desafios impostos pelo sistema educacional à avaliação da aprendizagem. É muito comum que professores sintam-se frustrados ao terem de mensurar uma nota, um conceito, atribuir um valor à aprendizagem, já que este processo é fundamentalmente psicológico e, portanto, não mensurável. Entra aí a questão da dicotomia educação e avaliação onde, “os educadores percebem a ação de educar e a ação de avaliar como dois momentos distintos e não relacionados”. (HOFFMANN, 2007, p. 14). A teoria nos diz que o ato de avaliar é indissociável do ato de educar, porém a prática nos leva e contradizer totalmente esta afirmação. Somos obrigados a preencher formulários, quadros, esquemas com qualificações e quantificações que não representam o real desenvolvimento do aluno. Somos obrigados a assinar um boletim com uma representação quantitativa de um valor que não corresponde fielmente à realidade. Um exemplo claro dessa dicotomia acontece muito nos primeiros anos do ensino fundamental, na fase de alfabetização. Um aluno que chega ao 1° ano do ensino fundamental sem ter cursado a pré-escola, sem ter desenvolvido sua coordenação motora, enfim, sem os pré-requisitos básicos para a alfabetização, certamente não terá o mesmo desenvolvimento 14 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br que os alunos que tiveram esta preparação anterior. Porém, se traçarmos uma escala evolutiva de 0 a 10 e imaginarmos que esse aluno chegou com um nível 2 de conhecimento nessa escala no começo do ano e ao final alcançou um nível 9, e compararmos com um aluno que chegou com um nível 5 nessa mesma escala e ao final alcançou também um nível 9, poderemos concluir que o primeiro aluno teve um desempenho de quase 35% maior do que o segundo. Mas ao quantificarmos esta evolução o primeiro aluno recebe conceito plenamente satisfatório, pois já é capaz de ler e escrever algumas palavras, enquanto o segundo aluno recebe conceito satisfatório, pois ainda não lê e escreve conforme as expectativas de aprendizagem programadas para esta série. Avaliamos então se as expectativas foram alcançadas e não a evolução individual do aluno, quando deveria ser justamente o contrário. Por isso, o ato de avaliar não se enquadra no ato de educar. Dentro do sistema educacional, não avaliamos o que o aluno aprendeu, avaliamos se o aluno aprendeu o que pretendíamos (o sistema) que ele aprendesse. Esta é uma estranha lógica, já que este mesmo sistema educacional, apoiado nas Leis de Diretrizes e Bases e nos Parâmetros Curriculares Nacionais nos diz que devemos partir do conhecimento prévio do aluno, considerando sua estrutura sociocultural e promover o aprendizado, buscando integração e autonomia. Para quê, se isso não é considerado no ato de avaliar? Qual o rumo, a direção, que nós como educadores devemos tomar ao avaliar a aprendizagem? A estas reflexões Paulo Freire com suas constantes práticas de conscientização e teorias libertadoras comenta sabiamente: Não há ordem opressora que suporte que um dia todos os homens acordem perguntando: por quê? Por isso é necessário proibir o porquê, é necessário proibir o pensar. Por isso a escolarização é a proibição do pensar, é a adaptação dos homens ao não pensar. (FREIRE, 1979, p. 116) O educador consciente de seu papel perante a sociedade, deve se acostumar ao questionamento, à reflexão, a ação integradora com vistas a alcançar melhorias para seu trabalho e para a educação, caso contrário, não lhe será digno o encargo de educar. PROGRESSÃO CONTINUADA Uma das orientações do sistema educacional brasileiro à avaliação do Ensino Fundamental encontra-se no § 2º, do Artigo 32, Seção 3, Capítulo II, da Lei 9394/96, e dispõe que: 15 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. (LDB, 2010, p. 27) A Progressão Continuada, batizada como “Aprovação Automática” é um assunto muito debatido entre educadores de todo o país e sociedade em geral. A lei é clara em dizer que os estabelecimentos de ensino “podem” (observem que não diz, “devem”) adotar um regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensinoaprendizagem. A questão é que obrigatória ou não, a Progressão Continuada é a realidade de várias instituições de educação do ensino fundamental, e concordando ou não os professores são obrigados a considerá-la como parte integrante do processo. Sendo assim, nada mais indicado do que trabalhar de forma a garantir que o alunado complete os ciclos aptos a seguirem a próxima etapa. Recuperações paralelas e projetos que visem acelerar o alcance do aluno as atividade propostas, devem fazer parte dos projetos pedagógicos dos educadores comprometidos com a educação. A avaliação diagnóstica assume então importante papel para a verificação da aprendizagem, que somada a uma avaliação formativa garantem o progresso evolutivo do aluno. Cruzar os braços e dizer: “não adianta, esse aluno não aprende e será promovido de qualquer maneira!” se configura, no mínimo, numa atitude covarde daqueles que se consideram educadores e num descompromisso total com a educação no seu sentido mais amplo. Não no sentido de cumprimento da lei ou de orientações previamente estabelecidas, mas de um compromisso social, moral e ético, que só a consciência educadora pode alcançar. PESQUISA DE CAMPO Por meio de pesquisa de campo realizada em um Centro de Educação Municipal Básica de Itapevi, analisei o Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar, elaborei questionário com perguntas abertas e fechadas, e observei a prática docente durante 80 horas para cumprimento regulamentar de meu estágio supervisionado. Porém, nesta unidade escolar não obtive êxito com o questionário, pois somente 02 dos 22 professores que ali trabalham, colaboraram, respondendo-o. 16 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Como não tinha posse de uma pesquisa de campo consistente para dados comprobatórios, elaborei novo questionário, desta vez, somente com perguntas fechadas e de respostas objetivas e alternativas, e fui a campo novamente, desta vez em outra unidade escolar, também da rede municipal de ensino de Itapevi, onde fui prontamente recebida e meu questionário, respondido pelos 15 professores que lá trabalham. Com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Município de Itapevi, através do NAP (Núcleo de Apoio Pedagógico), realizei entrevista com a Supervisora de Ensino, Rosimeire Franco Severino, que durante todo o desenvolvimento deste trabalho se mostrou solicita, dedicando parte do seu tempo para me atender e colaborar com a pesquisa científica que aqui se apresenta. TABULAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O questionário realizado nesta segunda unidade escolar foi elaborado com intuito de verificar qual o conceito que professores tem sobre a avaliação da aprendizagem. Foram respondidos 15 questionários, sendo todos os entrevistados do sexo feminino, com idades entre 23 e 53 anos e com tempo de docência entre 01 a 24 anos. Não havendo relação entre idade, gênero sexual e tempo de docência que representassem modificações substanciais com as respostas obtidas pelo questionário, estes dados constam apenas como informação complementar, e não serão tabulados. Os resultados obtidos foram os seguintes: 1) O que é avaliar? ALTERNATIVAS N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL Avaliar é aplicar teste 00 0% Avaliar é medir conhecimentos 00 0% 10 66,7% 05 33,3 Avaliar é verificar se os objetivos foram alcançados Avaliar é verificar o conhecimento do aluno no dia a dia 2) Por que avaliar? ALTERNATIVAS N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 17 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br Porque a escola exige uma nota Para verificar se os objetivos foram alcançados Para acompanhar o desenvolvimento do aluno Para verificar o que é preciso retomar 00 0% 01 6,7% 06 40% 08 53,3% 3) Como avaliar? ALTERNATIVAS Apenas aplicando testes e trabalhos Apenas observando o aluno Observando o desenvolvimento e a participação do aluno, aplicando testes e trabalhos N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 00 00 0% 0% 15 100% 4) O que avaliar? ALTERNATIVAS Resultados finais de testes e trabalhos Participação, atenção e comprometimento do aluno Participação, resultados de testes e trabalhos, e desenvolvimento do aluno N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 00 0% 03 20% 12 80% 5) Quando avaliar? ALTERNATIVAS Ao final de cada etapa de ensino Todos os dias, observando a participação do aluno Em todos os momentos, contando também com resultados dos exames ao final de cada etapa N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 00 0% 05 33,3% 10 66,7% 18 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br 6) Quem avaliar? ALTERNATIVAS Os alunos Os alunos e professores Todos os agentes envolvidos no processo de aprendizagem N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 01 01 6,7% 6,7% 13 86,7% 7) Qual a função da avaliação? ALTERNATIVAS Manter a ordem e a disciplina Motivar o aluno ao estudo Direcionar o processo ensino-aprendizagem rumo aos objetivos propostos N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 00 0% 02 13,3% 13 86,7% 8) Ensinar e avaliar são: ALTERNATIVAS Atos totalmente distintos, sem nenhuma relação Funções de responsabilidade do professor Faces da mesma moeda, um ato complementa o outro N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 00 0% 04 25% 11 75% 9) A Progressão Continuada é: ALTERNATIVAS Ótima, porém mal compreendida por educadores e sociedade em geral Boa, mas deixa a desejar quanto a sua elaboração e função educacional Ruim, pois os alunos são N° RESPOSTAS PERCENTUAL TOTAL 01 6,7% 08 53,4% 19 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br promovidos mesmo sem estarem aptos 06 40% Observando os resultados acima tabulados é possível verificar, que a maioria dos professores, acredita que avaliar é verificar se os objetivos foram alcançados; avaliam para verificar o que é preciso retomar; utilizam recursos como observação, participação, provas e trabalhos para avaliar; não deixam para avaliar somente ao final de cada etapa de ensino; encaminham o processo de ensino-aprendizagem de acordo com os resultados das avaliações; compreendem a avaliação como indissociável da educação; e consideram a Progressão Continuada como boa, mas que deixa a desejar quanto sua elaboração e função educacional. Relacionando as respostas às teorias pedagógicas sobre avaliação, pode-se concluir que os professores estão atualizados quanto às novas tendências pedagógicas. “A avaliação assume atualmente novas funções, pois é um meio de diagnosticar e de verificar em que medida os objetivos propostos para o processo ensino-aprendizado estão sendo alcançados”. (HAYDT, 2008. p. 14) Vale salientar que, na primeira unidade escolar registrei o que observei e gostaria imensamente de poder comprovar (ou não) meus registros com resultado de questionários, que configurariam em dados comprobatórios, o que seria ideal para este trabalho, mas que infelizmente por motivos alheios a minha vontade e compreensão, esta correlação não foi possível. Na segunda unidade escolar só tive a oportunidade de observar os trabalhos do HTPC, porém tive boa impressão da escola pela maneira que fui recebida e pela prontidão dos professore em colaborarem com esta pesquisa científica, porém não posso afirmar que os professores desta segunda unidade vivenciam estas teorias nas suas práticas educacionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho oportunizou por meio de pesquisa de campo realizada por observação e questionários, caracterizar como os educadores da rede municipal de ensino de Itapevi concebem a avaliação da aprendizagem. A Avaliação como poderosa aliada do processo ensino-aprendizagem, começa a ganhar força entre as concepções pedagógicas e suas práticas entre o professorado da rede municipal de ensino de Itapevi. Porém, existe ainda muito que se fazer e melhorar para que a 20 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br avaliação realmente assuma seu papel fundamental na educação: subsidiar o processo de construção da aprendizagem. Partindo do pressuposto que a avaliação pode ser uma poderosa aliada para o processo ensino-aprendizagem, com foco nas séries iniciais do ensino fundamental, este trabalho baseou-se em teorias de renomados autores da avaliação como: Jussara Hoffmann, Cipriano Carlos Luckesi, Philippe Perrenoud entre outros. Verificou-se através das respostas obtidas pelo questionário, que os educadores em geral concebem a avaliação da aprendizagem nas suas mais amplas funções: diagnosticar as dificuldades de aprendizagem; determinar se os objetivos previstos foram ou não atingidos; aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem. Porém, por meio de observações das práticas docentes, pude perceber uma desconexão entre teoria e prática. Conclui-se então que, os educadores não estão carentes de uma formação docente adequada; que as limitações avaliativas impostas pelo sistema educacional não proporcionam aos educadores a oportunidade de colocarem em prática todos os seus conhecimentos e que, o caráter disciplinador da avaliação ainda é muito pessoal, o que se sugere é uma análise crítica para esse educador sobre sua a ética profissional. Através de análise e acompanhamento do desenvolvimento parcial do projeto “Aprender Mais”, foi possível confirmar a hipótese de que a avaliação pode e deve ser uma poderosa aliada do processo ensino-aprendizagem para séries iniciais, já que seus resultados até o presente momento, foram positivos e nos comprovam que o ato de avaliar é muito mais amplo do que quantificar ou qualificar, é em síntese, um instrumento orientador que norteia o trabalho pedagógico rumo a efetivação da aprendizagem. Este trabalho destina-se a motivar os educadores a refletirem sobre seus conceitos e concepções sobre a importância que a avaliação assume no processo ensino-aprendizagem e suas implicações futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGUSTO, Luciano. “O que pensa Jussara Hoffmann” – Folha de Londrina Unopar na Mídia. Disponível em: www.descobertasonline.blogspot.com. Acesso em: 01/10/11 às 16:40h BLOOM, Benjamin S.; HASTING, Thomas e MADAUS, George. Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado escolar. São Paulo: Editora Pioneira, 1983 21 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Editora Cortez, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979 HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2008. HOFFMANN, Jussara: Avaliação – mito e desafio. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005. Avaliação mediadora – uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Editora Mediação, 2007 LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília. Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. 5ª Edição, 2010. Disponível em: http//bd.camara.gov.br. Acesso em 20/10/11 às 09:15hs. LUCKESI, Cipriano Carlos: Avaliação da Aprendizagem Escolar. 21° Edição. São Paulo: Editora Cortez, 2010 (p. 17-26). MÉNDEZ, Manuel Álvarez. Entrevista Revista Pátio. Ano IX, n° 34. Porto Alegre: Editora Artimed, 2005 (p. 27-27) PERRENOUD, Philippe. Avaliação – Da Excelência à Regulação das Aprendizagens – Entre duas lógicas. Porto Alegre: Editora Artmed, 1999 SILVA, Carmem Silvia Bissoli da. Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. SãoPaulo: Autores Associados, 1999. VIANA, Frank Carvalho – Artigo: Devemos usar notas na avaliação do ensino? Revista das Faculdades Hoyler de Pedagogia e Letras. Ano I, nº 01, agosto/dezembro de 2002. Páginas 06 a 12. VGP, São Paulo, 2002. 22 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br 23 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queiros, ISNN 2238-8605, Ano 1, numero 1, Agosto de 2012. e-faceq.blogspot.com.br