A ORDEM DO DISCURSO Michel Foucault Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 5 de dezembro de 1970 O discurso é socialmente construído e socialmente legitimado. O discurso é aquilo pelo que se luta; é o poder pelo qual nós queremos nos apoderar! (p.10) Discurso é igual a poder: todos querem ter domínio do discurso e dominar o discurso do outro. Isso pode ser pensado em âmbito político. Controlar e delimitar o discurso do adversário é crucial para conseguir e se manter no poder. Outra maneira de controlar o discurso trata-se de dominar as condições do seu funcionamento e não permitir que todo mundo tenha acesso a ele. Proibir que as pessoas tenham acesso a certo tipo de informação também é controlar o discurso. Separação entre o verdadeiro e o falso, loucura e sanidade. Quem pode dizer o que é certo? As ciências monopolizam o discurso sobre sua área, assim tudo o que é dito deve ser aprovado pelos detentores do discurso vigente. Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade. P. 8\9 São as relações de poder que permeiam o discurso. Em todas as sociedades, as coisas são ditas de certa maneira, sob certa ótica, e essa maneira que é culturalmente selecionada. Como a ordem do discurso manifesta os interesses de tal grupo sob determinado assunto, o que é dito e maneira como isso se faz, é de suma importância. Falar sobre sexualidade ou política gera uma série de impactos de ordem moral que implicam na ordem como tal discurso é vinculado. Quem domina o discurso numa sociedade detém o poder político e consequentemente o ideológico e o poder sobre os meios de produção Como o discurso era vinculado na Idade Média, na Modernidade e na Pós-modernidade? E mais: quem legitima o discurso, quais são as instituições que decretam o que é ciência e quem pode falar em nome dela Cada época teve suas instituições hegemônicas e que disseminaram discursos em prol do que consideravam certo e compatível com seus interesses. Foucault debate sobre o poder que esse artifício (inventado pelo homem) tem. Em várias áreas como na produção do conhecimento científico, discursos de ordem moral, religiosa, política e ideológica interfere no trabalho do cientista, seja na produção, metodologia e divulgação de pesquisas realizadas. A sociedade julga o que é moral, certo ou legítimo. Isso é um discurso. Mas quais são os fatores que formam tal discurso? Penso ainda na maneira como um conjunto tão prescritivo quanto o sistema penal procurou seus suportes ou sua justificação, primeiro, é certo, em uma teoria do direito, depois, a partir do século XIX, em um saber sociológico, psicológico, ético, psiquiátrico: como se a própria palavra da lei não pudesse mais ser autorizada, em nossa sociedade, senão por um discurso de verdade. (pág. 18 e 19) A disciplina ( ex: sociologia, medicina, antropologia) é um princípio de controle da produção do discurso. Ela lhe fixa os limites pelo jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras. (pág. 36) Todas as disciplinas são um princípio de controle de discurso. Elas fixam regras conforme um jogo de poder e diz o que pode e não ser feito, dito e afirmado, o que é ou não verdade. O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos e quando tudo pode, enfim, tomar a forma do discurso, quando tudo pode ser dito e o discurso pode ser dito a propósito de tudo, isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado e intercambiado seu sentido, podem voltar à interioridade silenciosa da consciência de si. (pág. 49) Método do discurso: Podem-se exigir certas exigências que o método implica: um princípio de inversão, Um princípio de descontinuidade que os discursos devem ser tratados como práticas descontínuas, que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem Um princípio de especificidade: não transformar o discurso em um jogo de significações prévias. Deve-se conceber o discurso como uma violência que fazemos às coisas, como uma prática que lhes impomos em todo o caso. Quer seja, portanto, em uma filosofia do sujeito fundante, quer em uma filosofia da experiência originária ou em uma filosofia da mediação universal, o discurso nada mais é do que um jogo, de escritura, no primeiro caso, de leitura, no segundo, de troca, no terceiro, e essa troca, essa leitura e essa escritura jamais põem em jogo senão os signos. O discurso se anula, assim, em sua realidade, inscrevendose na ordem do significante. (pág. 49) As análises que me proponho fazer se dispõem segundo dois conjuntos. De uma parte, o conjunto "crítico", que põe em prática o princípio da inversão: procurar cercar as formas da exclusão, da limitação, da apropriação de que falava há pouco; mostrar como se formaram, para responder a que necessidades, como se modificaram e se deslocaram, que força exerceram efetivamente, em que medida foram contornadas (p.60) De outra parte, o conjunto "genealógico" que põe em prática os três outros princípios: como se formaram, com o apoio desses sistemas de coerção, séries de discursos; qual foi a norma específica de cada uma e quais foram suas condições de aparição, de crescimento, de variação. Ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfazer a certas exigências e ou se não for qualificado para faze-lo. (p.37) Lizandro Lui Antropologia C Drª. Profª. Débora